As origens das torcidas de futebol em Natal

Em Natal, a articulação dos clubes, que se deu na década de 1920, já indiciava uma mudança de comportamento dos esportistas. O crescente número de competições, a busca por melhorias estruturais das sedes e campos dava aos clubes um ar profissional, status que só definiu os clubes de Natal, de fato, em meados dos anos de 1930. E seria justamente na década de 1920 que veríamos surgir uma nova relação da cidade com os esportes. Despontavam as primeiras ações do esporte de massa em Natal.

O crescente envolvimento das torcidas nas competições de remo e, especialmente, nas partidas de futebol, era uma das notáveis mudanças na década de 1920. Assistir aos jogos que antes era uma simples diversão de fim de tarde começou a ganhar proporções cada vez mais sérias, a começar pelo envolvimento do torcedor com o seu clube. As torcidas, que a princípio eram constituídas pelos sócios dos clubes e seus familiares, expandiram-se, envolvendo pessoas não associadas.

Os clubes, com suas bandeiras, hinos e dizeres, inebriavam as torcidas com um sentimento de pertencimento, de modo que se construía uma identificação do torcedor com a sua associação esportiva preferida. Esse sentimento de pertencimento, que se irradiava pelos habitantes da cidade, era o responsável pela formação de uma identidade coletiva que ia além da partida de futebol, ou da disputa de remo. Muitas vezes, o sentimento de pertencimento do clube estava atrelado a uma identidade espacial. Torcer pelo time do Alecrim era, também, torcer pelo representante do bairro do Alecrim. Desta mesma maneira, quando um time norte-riograndense jogava com um time de fora, ele estava disputando não apenas em honra de sua camisa, ele jogava, também, em defesa do Estado.

Outro indício de um despontar da profissionalização do esporte estaria na mercantilização do esporte. Enquanto as partidas de futebol agregavam cada vez mais torcedores, alguns comerciantes, e os próprios clubes, enxergavam aí uma oportunidade de ganhar dinheiro. Essa visão comercial do esporte foi explorada pelo proprietário da Casa dos Reis, ao anunciar a chegada de novas camisas listradas, nas cores preto e branco, aos torcedores e atletas do ABC e Centro Náutico Potengy (ANNUNCIOS. A Republica, Natal, 25 out. 1916.).

A cobrança de entrada nos jogos de futebol era uma nova maneira de complementar a renda do clube, que passava a não depender apenas das mensalidades dos sócios. A comercialização dos ingressos não beneficiava apenas os clubes: anunciar a venda de entradas em estabelecimentos comerciais seria atrair clientes em potencial para as lojas. Assim, alguns proprietários de lojas e cafés, já nos anos de 1920, visualizavam a potencialidade comercial escondida por trás de uma partida de futebol. Foi a proposta do sr. Anaximandro, um comerciante, dono do café Cova da Onça, localizado na Avenida Tavares de Lyra, que anunciava no jornal, em 1927, a venda de ingressos esportivos (A REPUBLICA, Natal, 15 nov. 1927.).

Torcida do ABC recepcionando o time na Rua Tavares de Lyra. Fonte: A BRILHANTE victoria. Cigarra, Natal, ano 2, n. 4, p. 57, ago. 1929. il..
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