Mercado público da Cidade Alta
A atual Avenida Rio Branco era conhecida no século XIX, como a Rua Nova. A referida avenida corta todo bairro da Cidade Alta, no trecho compreendido entre o Baldo e a Ribeira.
Em 28 de outubro de 1826, Antônio José de Souza Caldas requeria terras “na Rua Nova (atual Rio Branco), junto ao curral do açougue’, o que indicava a existência de um local de comercialização o de carnes. Naquela rua ainda existiu a Praça do Peixe, local onde posteriormente foi construído o Mercado Público da Cidade Alta. O Curral do Açougue, a Praça do Peixe e as quitandas espalhadas pela antiga rua Nova, indicavam a vocação comercial daquele logradouro público.
Até 1845, a antiga rua Nova servia de limite leste da Cidade, com suas casas ocupando apenas o lado voltado para o nascente. A partir dali existia um espesso matagal. Naquela rua existiu a praça do Peixe, local onde posteriormente foi construído o Mercado Público da Cidade Alta. No século XIX, erguia-se naquele local, hoje ocupado pela agência Centro do Banco Brasil, a forca destinada à aplicação da pena de morte.
A FEIRA DA TATAJUBEIRA
Na primeira metade do século XIX, as feiras eram denominadas pela Câmara Municipal de ‘mercados’ . Na cidade Alta, a feira ficava na Rua Nova, (atual Rio Branco) em baixo de uma gameleira e, na Ribeira ficava em uma velha tajubeira, na rua Frei Miguelinho. A feira da Cidade Alta foi criada com a resolução provincial n° 74, de 11 de novembro de 1841, para o consumo das mercadorias e venda de gêneros; porém tal resolução só foi cumprida a 06 de setembro de 1853, por iniciativa do Presidente da Província – Dr. Antônio Francisco Pereira de Carvalho. (NOBRE; Ferreira, apud. CAMARA, Lindolfo./íreve história sobre a Província do Rio Grande do Norte, p. 16, 38.).
Existia na Rua Frei Miguelinho uma feira muito concorrida. Tinôco (1992, p. 51), em suas memórias, lembra que: “Havia uma feirinha mais para o fim da Rua Frei Miguelinho chamada a feira da Tatajubeira. Tinha este nome porque existia uma grande tatajuba, a sombra da qual, sentavam-se os vendedores, homens e mulheres que procuravam aquele local com o fim de venderem suas mercadorias; […] era assim uma espécie de feirinha de emergência, por sinal bem concorrida”.
Um decreto municipal mudou, em 1888, a antiga denominação de rua da Palha para Vigário Bartolomeu, no seu trecho compreendido entre o antigo Quartel da Tropa de Linha (espaço atualmente ocupado pelo Colégio Winston Churchill) até os alicerces do mercado que existia na atual praça Padre João Maria). O trecho seguinte, em direção ao Baldo e que também pertencia à antiga rua da Palha, recebeu a denominação de rua 21 de Março, correspondente à atual Gonçalves Ledo.
Até 1845, a antiga rua Nova servia de limite leste da Cidade, com suas casas ocupando apenas o lado voltado para o nascente. A partir dali existia um espesso matagal. Naquela rua existiu a praça do Peixe, local onde posteriormente foi construído o Mercado Público da Cidade Alta. No século XIX, erguia-se naquele local, hoje ocupado pela agência Centro do Banco Brasil, a forca destinada à aplicação da pena de morte.
Em 1860, na gestão do presidente José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, foi iniciada a construção do Mercado Público da Cidade Alta, localizado na atual avenida Rio Branco, no mesmo local anteriormente ocupado pela praça do Peixe. Devido à escassez de recursos, o prédio demorou 32 anos para ser erguido.
Os dois mercados existentes eram precários: o da Ribeira funcionava debaixo de uma velha Tatajubeira. O da Cidade Alta, à Rua Nova, sob “frondosas gameleiras”. As medidas e pesos usados na época eram a cuia, a vara e a libra. As moedas eram o xenxém de 10 réis; dobrões de cobre de 20 e 40 réis; notas de 1$000 e 2$000; sendo que unidade era pataca, equivalente a dezesseis vinténs. Lindolpho Câmara faz uma afirmação importante do ponto de vista financeiro: “Naquele tempo, tudo era barato, menos o dinheiro”. É que a desgraçada da inflação ainda não tinha sido inventada pelos economistas…
RIVALIDADE DA CIDADE ALTA E RIBEIRA
A Coleção de Leis Provinciais do Rio Grande do Norte cita o aluguel de uma casa que servia de mercado da Cidade Alta já em 1870 (COLEÇÃO DE LEIS PROVÍNCIAS DO RIO GRANDE DO NORTE, 1870, p.40).
Em 1878, o Passo da Pátria foi palco de uma contenda que demonstrou a rivalidade entre o bairro baixo e o bairro alto da Capital. Na verdade, esses locais funcionavam praticamente como duas cidades, com funções e valores bem distintos. A cidade alta, núcleo original da cidade e centro do poder administrativo e religioso da Capital, reivindica para o Passo da Pátria o novo local da “Passagem do Salgado”, já que o antigo Aterro do Salgado estava bastante deteriorado e estava sendo construído um novo aterro, também na margem esquerda do rio, mas dessa vez “á partir do rio de fora até a cambóa do achado -, confronte ao Passo da Patria” (Relatorio do Presidente Manuel Januário Bezerra de 4 de dezembro de 1878. Obras Publicas, p. 14).
A passagem, que partia do lado esquerdo do rio em direção ao Cais da Tavares de Lyra, trazia movimento para o bairro baixo e, conseqüentemente, lucros consideráveis para os comerciantes ali residentes. Os principais comerciantes da Ribeira logo manifestaram seu descontentamento com a mudança, enviando um abaixo-assinado (com 22 assinaturas) para o presidente Manuel Januário Bezerra. Na falta de um engenheiro o presidente pediu um parecer da Câmara Municipal do Natal, que foi categórica em dar razão à cidade alta. Os argumentos da Câmara a favor da transferência da passagem para o Passo da Pátria são convincentes. Segundo o parecer do documento, os comerciantes do interior que vêm vender os seus produtos (gêneros de abastecimento interno) na capital não encontram um local fixo e com as devidas acomodações para expor seus produtos na Ribeira. Sabendo-se que já havia um mercado público na cidade alta e um telheiro com uma feira já estabelecida no Passo da Pátria, e na impossibilidade financeira da província construir outro mercado na Ribeira, era mais viável transferir a passagem para o local com estrutura mais adequada.
Em 1860, na gestão do presidente José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, foi iniciada a construção do Mercado Público da Cidade Alta, localizado na atual avenida Rio Branco, no mesmo local anteriormente ocupado pela praça do Peixe. Devido à escassez de recursos, o prédio demorou 32 anos para ser erguido. Foi concluído e inaugurado, no dia 7 de fevereiro de 1892, durante o regime republicano. O local onde funcionou o referido mercado, corresponde ao mesmo hoje ocupado pela agência Centro do Banco do Brasil.
O MERCADO DA RUA CONCEIÇÃO
Segundo Rocha POMBO, “o primeiro Mercado Público surgiu em meados do século XIX, e foi concluído na gestão do Dr. Rodrigo Lobato Marcondes Machado, em 1880 (ROCHA POMBO .História do Rio Grande do Norte, p.372). Na legislatura de agosto de 1839, com o objetivo de suprir a falta do mercado foi feita uma petição à Assembléia Provincial por Joaquim Inácio Pereira, pois, “excitado pelo amor do aumento e progressivo engrandecimento desta capital” (CASCUDO, Luis da Câmara. História da Cidade do Natal, p. 139) dirigiu-se à Câmara Municipal oferecendo:
“para aliviar o ônus pecuniário imposto às pessoas que para a extração dos seus gêneros a Casa do Mercado e Açougue Público deste Município, uma parte do edifício de sua propriedade que está acabando de construir na rua da Conceição para Mercado e Talho Público, independente de estipêndio algum do Cofre Municipal ou dos povos e ainda se obrigava a fornecer balanças de capacidade, pesos aferidos, e mais arranjos necessários aos misteres para que se destina a parte da casa”. (CASCUDO, Luis da Câmara. História da Cidade do Natal, p. 139).
Contudo, em sessão ordinária de 18 de agosto de 1840, a Câmara Municipal aceitou a proposta com a seguinte condição: “todos os concorrentes pagariam o imposto previsto, acima citado, no orçamento de 1840/41” (CASCUDO, Luis da Câmara. História da Cidade do Natal, p. 139). Todavia, Joaquim Inácio escreveu um oficio a Câmara Municipal, anulando a sua proposta. Novamente, ele insistiu em querer renovar o seu pedido de dispensa dos impostos àqueles negociantes que porventura fixassem o seu comércio nos seus respectivos estabelecimentos. Finalmente, sua proposta foi aceita pela Assembléia Provincial no artigo 27, no orçamento para 1841/42. O Mercado ficou na rua da Conceição, em sua casa que foi demolida para a construção da praça 07 de setembro em 1904.
A CONSTRUÇÃO DO MERCADO
Em 1889 foi publicado no jornal A República o edital de concorrência pública para a conclusão das obras do mercado público de Natal (A REPÚBLICA, 31/12/1889, p.4).
Em 16/04/1890 foi aberto um crédito na quantia de 4 contos de réis da verba dos socorros públicos do ministério do interior, para o pagamento da 2ª prestação a que tinha direito o cidadão Antônio Minervino de Moura Soares, como contratante das obras da casa do mercado público da capital (A REPÚBLICA, 16/04/1890, p.4).
No relatório do governador Adolfo Afonso da Silva Gordo o mesmo escreveu que: “mandei continuar as obras do mercado desta capital, em que já se gastaram dezenas de contos de réis, e que se iam deteriorando com as chuvas completamente” (A REPÚBLICA, 01/07/1890, p.1).
Em 26/07/1890 foi nomeada uma comissão composta por Augusto Carlos de Melo L’Eraistre, procurador fiscal da tesouraria da fazenda e Jonh Morant, engenheiro chefe da Estrada de Ferro Natal a Nova Cruz, para examinar e declarar se as obras do mercado público da capital foram ou não executadas de conformidade com o seu contrato e respectivo orçamento, a fim de ter lugar a entrega do mesmo mercado à referida tesouraria pelo contratante Antônio Minervino de Moura Soares (A REPÚBLICA, 26/07/1890, p.1).
Em 13/10/1890 foi autorizado o recebimento provisoriamente o prédio do mercado público de Natal com as alterações que, em face do contrato, notou nas obras do mesmo a comissão encarregada de examinar (A REPÚBLICA, 13/10/1890, p.1).
Em 23/11/1890 foi nomeada uma comissão composto por Augusto Leopoldo Raposo da Câmara, 1º tenente Afrodizio Fernandes Barros e Angelo Roseli, para se encarregar da conclusão das obras do mercado público da capital potiguar, ficando a referida comissão autorizada a nomear um administrador para dirigir os respectivos trabalhos (A REPÚBLICA, 23/11/1890, p.1).
A 05/02/1891 seriam abertas as propostas a fim de ser contratada a conclusão das obras do mercado público de Natal, de acordo com o orçamento do município (A REPÚBLICA, 01/02/1891, p.4).
Não tendo a comissão encarregada da conclusão das obras do mercado público da capital, encetado os trabalhos da casa do referido mercado dentro do prazo, a intendência resolveu abrir nova concorrência, a fim de que em hasta pública fosse contratada com melhores vantagens oferecesse a conclusão das referidas obras (A REPÚBLICA, 26/02/1891, p.1).
Em 21/01/1892 foi realizado leilão público dos quartos do mercado de Natal por quem mais desse e maior lance oferecesse, sob a base de 10$000 réis mensais por cada um dos quartos (A REPÚBLICA, 16/01/1892, p.4).
A inauguração do mercado público de Natal ocorreu em 07/02/1892.
Mesmo tendo sido inaugurado o mercado se ressentia de alguns defeitos de condições higiênicas que poderiam facilmente ser remediados abrindo-se válvulas a entrada de maior quantidade de ar “feito isto, estará muito bom” escreveu o citado jornal ( A REPÚBLICA, 13/02/1892, p.2).
Conforme o jornal A República em presença da Junta Governativa, de representantes de todas as classes sociais e crescida massa popular, o vice-presidente da Intendência declarou aberto ao comércio e concorrência pública o mercado cuja utilidade e importância salientou concluindo por felicitar o povo riograndense e a Junta Governativa , cujo presidente saudou a Intendência municipal e ao povo natalense, lavrando-se de tudo uma ata que foi assinada pelos membros da Intendência e da Junta Governativa, pelo major comandante do 34º Batalhão de Infantaria e oficiais, médicos, militares, oficiais de marinha, representantes da magistratura federal e local, comandante da policia, inspetores da tesouraria e do Tesouro e os demais cidadãos presentes( A REPÚBLICA, 13/02/1892, p.2).
Seguiu-se um copo d’água, durante o qual trocaram-se diversos brindes, cada um dos quais solenizado pela banda de música do 34º Batalhão de Infantaria, que estava postada no salão do edifício. Boa e aprazível foi aquela festa que terminou por volta das 14h00.A noite houve música e iluminação no edifício e grande concorrência de famílias das mais distintas da capital.
Até que enfim desencantou-se o mercado que felizmente estava aberto a concorrência da população natalense e dotado o município de um melhoramento transcendental, de há muito reclamado e longamente esperado por todos que se interessavam pelo bem comum, escreveu ainda o referido jornal ( A REPÚBLICA, 13/02/1892, p.2). O edifício tinha proporções adaptadas a comportar as mercadorias que ofereciam diariamente ao mercado.
Mesmo tendo sido inaugurado o mercado se ressentia de alguns defeitos de condições higiênicas que poderiam facilmente ser remediados abrindo-se válvulas a entrada de maior quantidade de ar “feito isto, estará muito bom” escreveu o citado jornal ( A REPÚBLICA, 13/02/1892, p.2).
A primeira pedra de edificação do Mercado Público foi colocada na Cidade Alta, ao lado do Quartel da Tropa de Linha, no dia 07 de junho de 1860 demorando trinta e dois anos, para ser construída, finalmente, a 07 de fevereiro de 1892, , durante o regime republicano, com a Junta Governativa, composta pelos Doutores Manuel do Nascimento Castro e Silva e Joaquim Ferreira Chaves Filho. O local onde funcionou o referido mercado, corresponde ao mesmo hoje ocupado pela agência Centro do Banco do Brasil.
Após nove anos, o Mercado encontrava-se em péssimas condições de instalações. O governador Alberto Maranhão em parceria com a Intendência Municipal tendo à frente, Joaquim Manuel Teixeira, reforma ou reconstitui o prédio, sendo sua nova inauguração em 24 de novembro de 1901, Foi novamente demolido. Media até então dezesseis por dezesseis metros de área, sendo o maior e mais adequado da cidade (CASCUDO, Luis da Câmara. História da Cidade do Natal, p. 40)
Nas proximidades da praça do Mercado existia uma grande gameleira, conhecida como uma das tradicionais árvores da Cidade. No dia 9 de julho de 1899, ela amanheceu serrada pelo tronco, não tendo sido possível apurar o nome do autor do ato de vandalismo.
Anteriormente, a função de mercado público era exercida por casas alugadas na Cidade Alta e Ribeira. Existia também uma outra de comercialização dos produtos agrícolas e víveres dos quais a população urbana necessitava era as chamadas; “quitandas”. Funcionava nos espaços urbanos improvisados para esta função. Notória era a que existia no cruzamento das atuais ruas João Pessoa e Avenida Rio Branco.
O prédio do mercado teve uma existência efêmera, pois apenas 9 anos depois de sua inauguração, ele já estava em ruínas. Sofreu então uma restauração, sendo reinaugurado, em 24 de novembro de 1901.
Tendo consciência de que esse estado de coisas era prejudicial ao desenvolvimento das atividades da Edilidade, os intendentes elaboraram uma resolução, segundo consta no relatório citado, aprovando a compra de uma casa que servisse como sede para o poder municipal. Um prédio, em mau estado, foi comprado no início da avenida Junqueira Ayres, na Cidade Alta. Aconteceu, porém, que a Intendência teve de se desfazer da propriedade em curto espaço de tempo, transferindo-a ao governo do Estado, em virtude de dívida contraída para a reconstrução do mercado público, em 1901. Joaquim Manoel revela-se, contudo, otimista em relação à aquisição de um novo prédio para o governo municipal, afirmando que o malogro da primeira tentativa não deveria causar desânimo nos intendentes.
A urbe era suja, tinha um mercado com péssima estrutura, precisava de um novo hospital. Mas os governantes insistiam em fazer de Natal uma Paris, pondo chapa nos ganhadores de rua, para controlar seus passos na cidade e cobrar-lhes tributos, e proibindo os donos de estábulos de criarem seus animais na cidade (Sobre essas ações da Intendência, ver A REPUBLICA, Natal, 14 mar. 1908).
Depois, surgiram as feiras do ‘Passo da Pátria’ hoje, extinta; a do ‘Alecrim’, e das ‘Rocas’. A indústria alimentícia foi incentivada pela Lei n° 275, de 24 de novembro de 1909, (privilégios de fiscais para indústrias de açúcar, pesca, laticínios e doces que viessem a se estabelecer no Estado) e Lei 287, de 23 de novembro de 1910 (os mesmos privilégios para indústrias de vinhos, licores, vinagres e conservas de frutas e legumes).
De acordo com Souza, a Natal em fins do século XIX e no início do século XX teria crescido rapidamente em termos geográficos e em todos os setores da vida urbana. A implantação da República teria despertado a autonomia das elites regionais para tomar iniciativas em prol da modernização das diferentes cidades, essa modernização incluía também um disciplinamento do espaço urbano por meio de iniciativas como a prisão de animais soltos nas ruas, o controle dos carregadores de mercadorias, o controle sobre o abastecimento de carnes e peixes, o controle sobre o embarque e o desembarque de mercadorias.
Visando efetivar formas de enquadramento disciplinar no cotidiano da cidade em processo de modernização, o poder público da Administração Municipal da Capitania do Rio Grande do Norte,
“durante o século XVIII, eslava entregue as Câmaras, que regtdavam a polícia das feiras, dos mercados e do trânsito; geriam os bens do conselho e suas rendas; proviam a construção, reparo e conservação das estradas, pontes, chafarizes e calçadas; providenciavam sobre a arborização das ruas, praças e lugares baldios; estabeleciam condições para a construção dos edifícios; taxavam os preços dos ofícios mecânicos e as recompensas aos jornaleiros e criados; cuidavam do abastecimento de víveres; promoviam a cultura das terras; ordenavam as despesas e [caloteavam], [socorrendo-se] às obras extraordinárias; enfim publicavam posturas sobre tudo que interessasse ao bem comum” (LIRA, Tavares. História do Rio Grande do Norte, p. 165 -166).
Além dos espaços de sociabilidade a cidade crescia economicamente promovendo também melhorias em relação às vias de comunicação com outras localidades, essas vias é que possibilitavam uma maior intercomunicação de Natal com outros centros, fazendo com que se intensificasse a entrada de mercadorias.
Para o aformoseamento da cidade e melhoramento nas condições de vida da população, verificou-se o calçamento de ruas, construção de igrejas, Biblioteca Pública, Escolas, Mercados Públicos, Hospitais, juntamente com as vias rodo – ferroviárias e marítimas, facilitando o acesso a Natal.
Na noite de 5 para 6 de março de 1893 houve no mercado público de Natal um começo de incêndio, que danificou completamente um dos quartos do estabelecimento. O fogo só foi descoberto depois de fechado o mercado (A REPÚBLICA, 11/03/1893, p.3).Seria um presságio do triste final que viria a ter o mercado público da Cidade Alta anos depois?
Na mensagem enviada ao Congresso Estadual em 1900 escreveu o governador Alberto Maranhão que a reconstrução do mercado estava também tornando-se cada dia mais urgente, atentas às más condições daquele edifício, que, pela completa ausência de higiene, era considerado um iminente perigo para a salubridade pública, podendo torna-se um foco deletério da maior gravidade caso tivesse o infortúnio de visitar a Capital potiguar a peste (MENSAGEM…, 1900, p.9).
Foi então que levar a efeito essa medida, cuja realização requeria um dispêndio superior às forças atuais do erário da Intendência, que segundo o governador Alberto Maranhão, ele foi forçado a autorizar que as obras fossem custeadas pelo Tesouro, obrigando-se a Intendência a indenizar o Estado (quando pudesse).
Na mensagem a Assembleia Legislativa em 25/03/1904 o governador Alberto Maranhão escreveu que durante os 4 anos do seu mandato foi reedificado em ótimas condições higiênicas o mercado público de Natal (MENSAGEM…, 1904, p.12).
Consta nos relatórios do governador Alberto Maranhão que o mesmo reconstruiu o mercado público da capital em condições de torná-lo digno de uma capital adiantada (A REPÚBLICA, 24/03/1902, p.1).
NATAL CLUB
Em 30 de agosto de 1909, o Natal-Club teve que mudar a sua sede. O motivo da mudança justifica-se pelas exigências feitas pelo Club Carlos Gomes para a utilização do espaço cedido pelo clube musical. Para que a instituição continuasse usando a sede do Carlos Gomes, foi exigido que o Natal-Club passasse a pagar não apenas os aluguéis mensais do ambiente, como também pagamentos relativos a qualquer reunião dançante, ensaios, saraus, bailes promovidos pelo clube.
Como o número de eventos promovidos pelo Natal-Club aumentava gradativamente, foi impossível a permanência da instituição na sede do Club Carlos Gomes. Portanto, no dia 2 de setembro, os dirigentes do Natal-Club entregaram a chave ao Club Carlos Gomes (SOARES, Moysés. Op. Cit. p. 7.). A nova sede foi obtida com a ajuda de Alberto Maranhão, que ocupava o cargo de governador do estado nessa época. Na presidência da instituição recreativa de José Pinto, foi cedido o edifício estadual para uso do clube (MARINHO, Márcia. Op. Cit. p. 114.). O edifício cedido por Alberto Maranhão já tinha abrigado Tesouraria Provincial, escola primária, quartel de polícia, templo protestante, mercado público, Intendência, hospedaria de imigrantes, Instituto Histórico, Liga de Ensino, Escola de Artífices e sede de várias outras sociedades (SOARES, Moysés, Op. Cit. p. 13.).
O clube instalou sua nova sede na Avenida Rio Branco, uma das principais ruas da cidade. Após a reforma realizada pelos sócios, o Natal-Club abriu suas portas promovendo um baile inaugural no dia 9 de outubro de 1909 (NATAL-CLUB. A Republica. Natal, 10 out. 1909.). Desse modo, o Natal-Club ofereceu novas formas de divertimento e, sobretudo, associação aos habitantes da cidade do Natal.
COMER E BEBER
Parece oportuno verificar o que comia e bebia o natalense há mais de cem há anos passados: as frutas, os peixes, os doces, as bebidas, os pratos típicos.
Nos dois mercados, além da feira no Passo da Pátria, encontravam-se várias frutas apanhadas nos sítios e matas em redor da cidade. Umas abundantes ainda hoje. Outras, já raras. Por exemplo: eram e continuam abundantes, a mangaba, os cajus, cajaranas. Mas já não é fácil, nos mercados, frutas como a massaranduba, guabiraba, camboins, oitis, ingás de corda, como ele chamava. E outras que até desconhecemos, como as ubais e os guajerus. Todavia, para colher essas frutas, havia que enfrentar os inimigos traçoeiros dos matos: as formigas de fogo, cobras nas moitas e vespas na galhada. As caças mais abundantes na época eram os jacus, inhambus, cotias e tatus.
Diz Lindolpho Câmara que não havia terra com maior abundância de peixes e crustáceos do que Natal daquela época. Trazidos pelas jangadas dos pescadores, enumeravam-se a cavala, o dentão, a cioba, o pargo, a pescada, a bicuda, o dourado, a corvina, o beijupirá e o cação. Nas praias, através dos currais ou da pesca de arrastão, com tresmalhos ou tarrafas, estavam as tainhas, sardinhas, espadas, palombetas, galos, carapebas, carapicus, bagre, baiacu, agulhas e agulhões. Pescados nos mangues e recifes da Fortaleza, lembra os camarões, lagostas, lagostins, caranguejos, siris e aratus. Outras variedades eram os ouriços, ostras, mariscos, unhas de velho e polvos. De Ponta Negra, apesar da “longitude da travessia”, vinham os xaréus. Quanto à carne verde, o autor informa que eram abatidas duas rezes nos dias comuns e três, do sábado para o domingo e dias festivos, para toda população.
A venda dos peixes, nos mercados, era feita tradicionalmente anunciada pelo eco de um grande búzio, “soprado por sujeito de fôlego e que estrondava pela cidade silenciosa até os seus confins”.
Os pratos típicos mais famosos parecem que eram as “dobradinhas”, “cobiça dos gastrônomos”, diz o autor, feitas com “livros” ou “folhoso”. A propósito desses “livros”, conta uma anedota de certo tipo popular, o negro Moisés, servente ou oficial de justiça, que andava sempre de sobrecasaca e cartola. Ao cruzar com o juiz de direito, sobraçando um “livro” (estômago de boi), indagou a autoridade:
O que levas aí, é a Bíblia?
Resposta rápida do negro: Não senhor, é o Código Penal
O autor faz referências a outros pratos cuja fama chegou até nós: os mocotós, para as mãos-de-vaca ou panelada; os miolos, para as fritadas; as tripas e lingüiças.
Das bebidas, só há registro da cachaça de Papari, que ele chama “a deusa dos ébrios”, e a “laranjinha”. Para as pessoas de categoria, havia a “genebra de Holanda”, importada em botijas de barro vidrado.
Já há cem anos certas bebidas se confundiam com remédios poderosos: a genebra era receitada também para cólicas intestinais, defluxeiras, espinhela caída, maus-olhados, sarampo e bexiga recolhida… Hoje, a cachaça corta resfriado e o uísque é bom para o coração…
Em matéria de fumo, o melhor cigarro era o de fumo picado em papel de milho. Só o nome depreciativo chegou até nós: Era o mata-rato…
FISCALIZAÇÃO
Se o clima local não condenava a saúde da cidade a priori, seria o exame minucioso, a partir da ótica do pensamento higienista, de todos os elementos naturais – lagoas, fontes, ribeiras – e aqueles construídos pelo homem – matadouros, mercados, cemitérios, etc. –, assim como das próprias condições de vida e habitação da população, que apontaria as razões do “desequilíbrio do estado sanitário” da cidade.
“Esta Cidade tambem se ressente de um mal gravissimo, que fere muito de perto a saude publica, o qual é a falta de Policia Medica, que fiscalise o mercado do peixe, o consumo das carnes verdes, e a venda de todos os generos de primeira necessidade entregue a discrição de quem quer especular, abusando da credulidade de uns, da necessidade de muitos, e do bom senso de todos; mas em fim ainda não; e este o maior dos males: o mais horroroso, por atacar de frente a saude publica, a moral, e a civilisação é haverem ainda expostas à venda em algumas tavernas, onde o pobre povo paga caro as embaçadellas, que recebe, substancias medicamentosas, panacéas e, com que especulão aquelles mesmos que ja tem a consciencia calejada no habito de mentir e tudo falsificar?? Cabe aqui informar-vos que, a despeito das diligencias, e esforços que empregou o meu antecessor para levar a effeito a construcção da casa de caridade, decretada pela Lei n.132 de 1 de Novembro de 1845, não lhe foi possivel realisar tão religioso e patriotico empenho, ja pela deficiencia de fundos para isso indispensaveis, e ja por outras causas, que igualmente me tem retardado em lançar os fundamentos de uma obra tão util e necessaria”. (Wanderley, 1851, p. 13-14; grifos nossos.)
A Câmara Municipal previa no artigo 6o, que se o
“fiscal ou guardas da municipalidade, verificasse pelo exame, de dois ou mais peritos a putrefação dos gêneros alimentícios de primeira necessidade expostos à venda seriam obrigados a lançá-las fora do mercado ou do lugar da venda, fazendo-as enterrar ou precipitar no rio Salgado. Caso contrário, os conlraventores sofriam a pena do artigo 20 do código de posturas“. (ARTIGOS Adicionais da Câmara Municipal do Natal – 1885 . Pasta 119).
Conforme o Artigo 9o
— “os gêneros, inclusive aguardente, transportadas para a capital pela ferrovia [estavam] sujeitas ao pagamento do imposto respectivo, conforme sua qualidade e quantidade nos termos especificados nos parágrafos 8-9- 11 -12-13 – 14 e 15 do artigo 117 do código de posturas ” (ARTIGOS adicionais da Câmara Municipal de Natal: 1885, Pasta 119.).
Os equipamentos considerados insalubres foram construídos ou removidos para áreas periféricas, como o cemitério público do Alecrim (1856) – rompendo com a prática das inumações em “solo sagrado”, nas igrejas, seus arredores ou em torno dos cruzeiros, que se tornavam impraticáveis com o grande número de óbitos ocasionados pelas epidemias; o “Hospital da Caridade” (1855), o Lazareto da Piedade (1882) e o Mercado Público (1888); em 1882 foi organizado um serviço de abastecimento d’água, com a cessão dos direitos de exploração ao dinamarquês Phelippe Leinhardt; introduziu-se o hábito do banho de mar como prática medicinal, e começou-se a montar um aparato estatal de controle e disciplina social, com legislação e instrumentos repressores próprios, a partir da organização da “Inspectoria de Hygiene Publica” estadual, em 1892. (Ferreira et al., 2003, cap.2.)
Havia outros problemas para o urbanista, como o local para abate e comercialização da carne de gado e os pontos de vendas de alimentação ao público. Para resolver o problema, o Intendente abriu concorrência para a construção de um Matadouro Público e de um Mercado.
O primeiro passo na organização da saúde pública foi dado pelo governador Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, médico, criando no Estado, a Inspetoria de Higiene Pública, mediante a execução da Lei n° 14, do dia 11 de Junho de 1892, conforme o enunciado de um Regulamento de Higiene, que dizia:
Artigo 1°
“O serviço sanitário do Estado ficará sob a direção de uma repartição denominada de Inspetoria de Hygiene. Artigo 3o – A Inspetoria constará do seguinte pessoal: 1 inspetor; 1 médico ajudante, 1 amanuense – secretário; 1 contenuo – correio; 36 delegados de Hygiene “.
Além da resistência da população, o descumprimento das leis municipais era facilitado pela dificuldade de fiscalização. Durante boa parte do século XX a Intendência de Natal possuía apenas dois fiscais. Um devia fiscalizar o 1º distrito da cidade, o bairro Cidade Alta, além de atuar na área suburbana e na Cidade Nova, e o outro fiscalizava o 2º distrito, o bairro Ribeira (Várias matérias do periódico A Republica destacaram que o fiscal da Cidade Alta tinha que atender também o bairro Cidade Nova. Ver: TIROS. A Republica, Natal, 13 out. 1902. p.1.).
Não que se pudesse comerciar de tudo em qualquer lugar. Nenhum outro tema esteve tão presente nas resoluções municipais quanto o do comércio, indústria e profissões. A Intendência buscava um rígido controle do comércio local, regulamentando as profissões, exigindo licenças para os mais variados estabelecimentos comerciais, realizando, com alguma frequência, a aferição de pesos e medidas nos mercados e feiras e, é claro, cobrando os impostos que lhe eram devidos. A resolução nº 92/1904, por exemplo, aprovada por Fortunato Aranha e os demais Intendentes do Conselho desse período, estabelece que cada tipo de estabelecimento comercial deveria ter uma licença específica para funcionar, o que, a princípio, impedia que livrarias vendessem remédios e farmácias vendessem livros. A princípio.
Denúncias outras serão feitas no jornal A República, relacionadas a diferentes campos que deveriam ser fiscalizados pela Intendência, tais como o mercado público, lotado de açambarcadores de mercadoria; o serviço de limpeza, que muito deixava a desejar, cobrindo apenas de tempos em tempos um curto espaço da cidade; além das já citadas sobre a parca iluminação pública da capital.Sobre denúncias acerca de práticas ilícitas dos comerciantes no mercado público, ver MERCADO Publico, A Republica, Natal, 16 mar. 1904; 06 abr. Sobre críticas relacionadas ao serviço de limpeza pública, ver LIXO. A Republica, Natal, 07 mar. 1904; BILHETE Postal. A Republica, 06 maio 1904.
Em 1911 o A Republica ressaltou a dificuldade no processo de fiscalização do funcionamento do Mercado Público da capital, destacando as constantes reclamações da população, sobretudo no tocante à falta de carne e ao “mau serviço dos carniceiros” (NOTAS esparsas. A Republica, Natal, 31 mar. 1911.). O jornal destacava que “numa terra como a nossa, onde não é fácil recorrer a outros gêneros alimentícios, tal abuso […] causa verdadeiro transtorno” (Idem.). O redatores também enfatizavam a importância das denúncias veiculadas no periódico, ressaltando que o presidente da Intendência não tinha “o dom da ubiquidade” (NOTAS esparsas. A Republica, Natal, 03 abr. 1911.) para fiscalizar todos os serviços que se achavam a cargo da Intendência municipal, uma vez que “em todas as organizações de municípios, há funcionários com atribuições definidas para dirigirem os diversos serviços, Pela falta desses funcionários, é que deve ser responsável o Presidente, nunca por abusos que não chegam ao conhecimento do Chefe do Executivo” (Idem). De acordo com os articulistas do A Republica, as denúncias publicadas eram fundamentais para informar o chefe do Executivo municipal que, diante das mesmas, atendia “imediatamente ao que dissemos, (…) tomou varias providencias de grande alcance para os interesses da população” (Idem.).
A interferência do poder estadual no âmbito municipal era expressiva, a ponto de ser difícil distinguir totalmente quando uma determinada ação era atribuição da Intendência ou do governo estadual. As próprias leis ajudavam a perpetuar essas imprecisões em relação a determinadas atribuições. Assim, em muitos casos era difícil saber de que instância as iniciativas e os recursos para as intervenções públicas eram provenientes. Essa falta de definição a respeito da responsabilidade pela fiscalização de determinados serviços, fazia que a população solicitasse a atenção dos inspetores da Inspetoria de Higiene para solucionar problemas que envolviam a questão da salubridade nas regiões próximas de suas residências, mostrando uma indefinição em relação a quem de fato cabia a atividade de fiscalização a respeito dos serviços de higiene pública antes mesmo do ano de 1910. Para mais informações sobre essa questão, ver artigo de minha autoria: SIQUEIRA, Gabriela Fernandes de. A questão da salubridade em Natal nas primeiras décadas do século XX na ótica dos periódicos A Republica e Diario do Natal. Clio, Revista de pesquisa histórica, n. 36.2, jul.- dez. 2018. Disponível em: . Acesso em: 18 abr. 2019.
Observa-se como o jornal A Republica preservava a imagem do então presidente da Intendência, mesmo reconhecendo que a falta de funcionários responsáveis pela fiscalização era de responsabilidade do então presidente. Muito provavelmente Joaquim Moura deveria ter conhecimento dos problemas enfrentados no Mercado Público, uma vez que denúncias sobre a gestão do mesmo foram publicadas desde o início do século XX, conforme destacava a matéria Mercado Público que circulou em 1904. A referida matéria denunciava os abusos diários praticados no Mercado pelos que vendiam gêneros de primeira necessidade, que “elevam os preços da mercadoria ao DUPLO com prejuízo do pobre povo!” (MERCADO público. A Republica, Natal, 16 mar. 1904.). Sendo assim, pode-se conjecturar que a Intendência de Natal tinha conhecimento das irregularidades que perpassavam o Mercado Público e outras instâncias de sua competência, contudo, diante do reduzido número de funcionários e das dificuldades de fazer cumprir as resoluções, bem como dos interesses simbólicos que permeavam a gestão, apenas tomava atitudes mais pontuais quando a situação se tornava pública e aparecia com frequência nos periódicos (São exemplos de matérias que indicam ações da Intendência após denúncias publicadas no A Republica referentes a aspectos de limpeza pública, reforma de calçadas, instalações públicas, etc.: A REPUBLICA, Natal, 05 set. 1905; VARIAS, A Republica, Natal, 11 maio 1909; VARIAS. A Republica, Natal, 04 dez. 1909; VARIAS, A Republica, Natal, 28 mar. 1910; VARIAS, A Republica, 10 out. 1910; A REPUBLICA, Natal, 18 dez. 1911; VARIAS. A Republica, Natal, 17 maio 1912; entre outras.).
Apesar do descumprimento de muitas resoluções em decorrência da falta de fiscalização e dos interesses simbólicos dos que compunham a Intendência, é necessário frisar que muitas leis eram descumpridas em decorrência da atuação dos moradores, das táticas, das práticas desses sujeitos na cidade que enfrentava um processo de modernização excludente. A matéria intitulada Perigo iminente, publicada no A Republica em 1904, pode exemplificar algumas dessas práticas:
Por mais de uma vez temos pedido providencias aos poderes públicos no sentido de conter as areias do morro situado em frente á cidade nova, que ameaçam correr, devido á falta de vegetação daquele morro. A intendência municipal tem sido solicita em atender a esses reclamos, decretando medidas no sentido de fixar as areias, porem o povo é que não quer atender a essas considerações. Hontem, á tarde, um grupo de mais de cincoenta pessoas entregava-se ao sport muito fatigante e nada divertido, de subir o morro, preparando um caminho por onde as areias, levadas pelo vento, cahirão sobre a cidade, com a sua grande forma invasora (PERIGO iminente. A Republica, Natal, 12 set. 1904.).
O bairro de Cidade Alta, em que se situa a Avenida Rio Branco, além das construções residenciais, sediava também os órgãos da administração, como Palácios do Governo Estadual e municipal, o Quartel da Força Federal, o Quartel da Polícia Militar, o mercado público, a Catedral, a Capitania dos Portos, o Tribunal de Justiça e o Atheneu Norte-Riograndende (CLEMENTINO, 1995).
Essa noção poderia referir-se tanto ao sentimento de não acomodação, de insatisfação, às vezes mesmo de impotência, frente às dificuldades em acalentar o sonho de construção de uma cidade moderna, como repetiria um cronista anônimo, ainda em 1912, que não conseguia se conformar:
“Com o monte de lixo feito diariamente no pé da calçada do mercado do lado do quartel general, pelos respectivos negociantes. Com a innundação na Ribeira, quando cai qualquer chuvada. Com immundicie na rua Gonçalves Dias; […]. Com o bond de burro que ainda funciona para o extinto prado. […] Com o Polytheama, sem ventiladores, não obstante seja uma casa tão decente”. (“Não posso me conformar”, O Martelo, Natal, s/n, p.2, 02 jun. 1912.).
Em dezembro de 1918, a Intendência Municipal de Natal publicava o orçamento que vigoraria no ano de 1919. Segundo a previsão, a Intendência gastaria nesse ano um total aproximado de 115 contos de réis (pouco mais de um terço do que o governo do Estado gastava anualmente com o pagamento dos empréstimos franceses), sendo destes, 18 contos destinados a obras públicas, pouco mais de 15% do total da despesa da municipalidade. A maior parte dos gastos era realizada com o pagamento do funcionalismo público e com a manutenção dos serviços no mercado, matadouro e cemitério públicos, além dos gastos com conservação de praças, jardins, estradas, entre outras despesas de menor porte.
Nos jornais, as críticas e pedidos feitos à gestão municipal revelam essa inoperância da Intendência, que encontrava dificuldades para resolver os problemas mais corriqueiros enfrentados pela população da cidade, como os de coleta de lixo, abastecimento do mercado e açougue, iluminação, entre outros aqui apontados. Para alcançar o tão desejado progresso, havia um longo caminho a ser percorrido. Vagarosamente, contudo, o Conselho de Intendência dava sinais de mudanças que mantinham a crença no progresso.
É nessa perspectiva que o governador Juvenal Lamartine, em 1928, informou orgulhoso que o Rio Grande do Norte era o “Estado que, em relação á sua receita, mais fundos públicos dispende com a saúde de suas populações”, gestão bem mais complexa que necessitava de toda uma organização estratégica. RIO GRANDE DO NORTE. Mensagem apresentada pelo presidente do Estado do Rio Grande do Norte Juvenal Lamartine á Assembléa Legislativa e lida na abertura da primeira sessão da 14º Legislatura em 1º out. 1928. p.27. O crescimento das modalidades de intervenção do Estado na sociedade requer o reordenamento permanente da administração. Assim, o decreto n.239, de junho de 1924, diante de um emaranhado de funções do Departamento de Saúde Pública, reorganizou seus serviços criando três inspetorias e uma sub-Inspetoria Sanitária, cada uma chefiada por um médico, e com atividades específicas a desempenhar: Da 3ª Inspetoria: a verificação de óbitos, a hygiene do matadouro, mercado e feiras-livres.
O contrato celebrado em 22 abril de 1929, de acordo com a resolução municipal de 6 de abril do mesmo ano, entre a municipalidade – com o apoio do governo estadual – e o arquiteto Giacomo Palumbo, apontava para a necessidade de consubstanciar todas as obras e propostas empreendidas até então em um plano que, a partir daí, permitisse a coordenação e o controle efetivo do processo de crescimento da cidade.
Seria “… um plano geral e definitivo da cidade de Natal, de accôrdo com os ultimos preceitos de urbanismo para uma população até cem mil habitantes [Natal tinha aproximadamente 35 mil em 1930] e em condições de ser o mesmo desenvolvido ou irradiado de modo a poder acompanhar o futuro progresso da cidade”. (“Relatório apresentado à Intendência Municipal de Natal, em 30 de janeiro de 1930, pelo prefeito Omar O’Grady”. Natal: Imprensa Official, 1930.)
Delimitava, também, a abrangência do projeto, utilizando o zoneamento como imperativo ao controle do espaço urbano; a planta teria:
“… projecções de sombra, compreendendo os quarteirões administrativos, commercial, industrial, a cidade recreio e os bairros residencial e operario. […] serão indicadas a localização da iluminação publica, viação urbana, arborização, passeios, monumentos, abrigos, jardins, e praças publicas, locaes para feiras, mercados,
matadouros, cemiterios e demais estabelecimentos municipaes”. (idem)
FLAGELADOS DA SECA
Em Natal, cidade ainda muito acanhada no século XIX, sabemos por meio de uma nota intitulada “Correio”, do jornal A Republica, que um jovem órfão e desvalido, de nome João Gonçalves Germano, após ter sido preso pela prática de roubo no mercado público da cidade, foi entregue ao capitão do Porto de Natal, que deveria fazê-lo seguir para a Escola de Aprendizes Marinheiros do Rio de Janeiro (“Correio”, 02 fev. 1899).
Em 1904 denúncias de saques no mercado público e às mercadorias que chegavam no cais da alfândega explodiam na imprensa, alertando o poder público para a ameaça dos flagelados da seca. Muitos desses morriam próximos ao cais ou adoeciam nas proximidades do prédio da comissão de melhoramentos do porto. Um deles, foi socorrido próximo ao cais da Alfândega pelos empregados da comissão de melhoramentos do porto, após ter desmaiado em frente ao cais.
Denúncias outras serão feitas no mesmo jornal, relacionadas a diferentes campos que deveriam ser fiscalizados pela Intendência, tais como o mercado público, lotado de açambarcadores de mercadoria; o serviço de limpeza, que muito deixava a desejar, cobrindo apenas de tempos em tempos um curto espaço da cidade; além da parca iluminação pública da capital. Sobre denúncias acerca de práticas ilícitas dos comerciantes no mercado público, ver MERCADO Publico, A Republica, Natal, 16 mar. 1904; 06 abr. 1904. Sobre críticas relacionadas ao serviço de limpeza pública, ver LIXO. A Republica, Natal, 07 mar. 1904; BILHETE Postal. A Republica, 06 maio 1904.
Mas o caso agora era mais sério. Urinar na praça do mercado municipal parecia mexer mais com os brios de alguém que desejasse à sua cidade, capital do Estado, reitere-se, o grau de cidade civilizada. Na expressão do denunciante, era ato “bárbaro” e só podia fazer parte dos hábitos de uma “pobre gentalha”. Além disso, a atitude contrariava o estabelecido no § 1º do Art.º 54 da Resolução nº 92, recém-publicada, que proibia que se urinasse no interior do mercado público ou em qualquer dependência sua sob pena de prisão por 24 horas. E se a norma existia, certamente o ato que ela desejava punir era recorrente.
Uma reflexão merece ser feita sobre essa relação entre o conteúdo da lei e a complexa realidade da cidade e dos grupos sociais que nela habitam. Apontamos, acima, que o analfabetismo era uma barreira entre o conteúdo da lei e os grupos populares, e isto nos parece ser verdadeiro. É preciso que se diga, porém, que há outros fatores mais significativos que tornam complexa a reforma de costumes que algumas leis desejavam implementar.
Vemos, ainda, uma reclamação sobre o matagal que tomava conta de várias ruas da Cidade Nova; uma outra sobre as condições de higiene no mercado público, sugerindo precauções por conta da epidemia de varíola que atingia a cidade (Ver, respectivamente, A REPUBLICA, Natal, 11 abr. 1905; 25 abr. 1905.); e, como de costume, as reclamações sobre iluminação e, principalmente, limpeza pública.
Ao integrar outras regiões da cidade às teias de poder da Intendência, os membros dessa instituição, liderados por O’Grady, desejavam também civilizar aquele “populacho” indesejado (DANTAS, 1917, p. 1; 1918, p. 1). Para tanto, algo além das obras materiais era necessário. O já referido Cascudo, o educador/político Henrique Castriciano, seu irmão Eloy de Souza, entre outros, viam um significativo descompasso entre as mudanças materiais percebidas nas formas da cidade e o comportamento ainda atrasado, de antanho, de parte da população local, explicado por variadas vezes pela falta de educação dos mais humildes, impossibilitados de entender os avanços realizados pelo novo regime em sua cidade e incapazes de usar de maneira adequada aparelhos urbanos, tais como praças, o mercado público e o bonde, por exemplo (SANTOS, 2012, p. 249-250).
Mas a cidade parecia falhar nesse processo de ensino–aprendizagem. Insistia, em seguidas leis municipais, em mudar comportamentos como o de urinar no chão do mercado público ou o de levar animais para pastarem nas praças da cidade (SANTOS, 2012). Não adiantava; não era suficiente. A urbe não conseguia, aparentemente, se comunicar com todos. Entre a cidade e os desafortunados os ruídos eram constantes, impedindo a transmissão da mensagem da “ordem e progresso”.
O MERCADO DA CARNE VERDE
O jornal “A República”, de 01 de abril de 1902, trazia um artigo cujo título era “transporte de carnes verdes”, nele o jornal denuncia que muitos comerciantes da Rua Doutor Barata, no bairro da Ribeira, uma das mais importantes ruas comerciais da cidade, estavam reclamando do “systema de se transportar para o mercado a carne das rezes abatidas na Ribeira, passando por aquella rua, em costas de burro, escorrendo sangue sem o menor amparo” (Transporte de carne verde. A República 01 de abril de 1902) e continuam, segundo o articulista, a reclamar os comerciantes, afirmando que “além do espectaculo repugnante que isto causa aos moradores daquella rua, uma das de maior movimento desta cidade, accresce que os pingos de sangue sujam as calçadas e os produtos expostos nos mostradores da loja” (Idem) Por fim, o articulista do jornal sentencia: “o fiscal deve intervir, ou para prohibir a passagem da carne verde pelas ruas de grande movimento ou, o que seria melhor, para obrigar os marchantes a envolverem a carne em saccos de lona” (Idem).
Percebe-se com esse texto que o transporte da carne era realizado, até então, sem uma grande fiscalização por parte dos órgãos públicos da higiene, e também a existência de práticas arcaicas no manuseio da carne e no transporte da mesma para os pontos de comercialização. No entanto, tais atos eram alvos de crítica tanto da população quanto da imprensa.
No dia 26 de abril de 1902, atendendo aos apelos que se faziam a respeito do manuseio e da condução da carne, a Intendência Municipal edita a seguinte resolução, sob o título “Conducção de carne verde”:
De ordem do sr. Presidente da Intendencia municipal desta cidade, faço publico para sciencia e conhecimento dos donos de rezes abatidas para consumo publico nesta capital, que fica marcado o praso de quinze dias a contar da data deste, para se munirem de caixas apropriadas à condução de carnes verdes para o mercado público, conforme o modelo que se acha no posto municipal do referido mercado, sob pena de não o fazendo, será feito à custa dos mesmos donos, a razão de oito cento reis por cabeça, a conducção das alludidas rezes. (Condução de carne verde. A República, 28 de abril de 1902).
No mês de julho do ano de 1902, a Intendência Municipal ratifica a resolução de abril, editando a Resolução 66, nela o poder público municipal reconhecia que: “o modo pelo qual se está fazendo a conducção de carnes verdes do matadouro publico para o ‘mercado’ é prejudicial à saúde publica e contra prescripções da hygiene” (Intendência Municipal – Resolução 66. A República, 01 de agosto de 1902.). Nessa resolução, a Intendência obrigava aos marchantes a transportar a carne do matadouro para o mercado em carroças apropriadas para esse transporte, o não cumprimento da resolução acarretaria em uma pesada multa de (1$000) mil reis por rês apreendida.
Mesmo havendo uma resolução tratando do manuseio, do transporte e da comercialização da carne, datada de abril de 1902, que previa multas e sanções àqueles que descumprissem o estatuto legal, percebe-se que, com o correr do tempo, poucas mudanças são introduzidas no lidar com a carne na cidade de Natal. No ano de 1920, uma pequena nota trata do assunto, e expõe:
O sr dr Calistrato Carrilho, inspector de hygiene, officiou hoje ao sr presidente da Intendencia Municipal pedindo providencias no sentido de ser a carne verde destinada ao consumo publico transportada em vehiculos appropriados e não em costas de animais, como está acontecendo (Várias. A República, 30 de janeiro de 1920).
A nota retrata bem a continuidade das práticas pouco higiênicas no lidar com o transporte da carne destinada ao consumo da população da cidade, no entanto é importante registrar que, nesse momento, a denúncia parte do inspetor de higiene, Calistrato Carrilho, que, no sentido de procurar desenvolver a sua função, exige por parte do poder municipal uma maior fiscalização sobre o transporte do produto.
Januário Cicco também retrata a situação da falta de cuidados higiênicos no trato com a carne. Segundo ele Não deveria “ficar esquecido o modo por que se faz o transporte da carne verde do Matadouro ao Mercado, que é levado em costas de animaes, exposta às poeiras, às moscas e ao nosso olhar de condemnados à tolerancia criminosa da nossa Edilidade, permitindo tão feio espectaculo, attentatorio tembem à nossa saúde (CICCO, Januário. Op.cit. p. 30).
O problema do matadouro público aliado às práticas arcaicas de manuseio da carne foi durante aqueles primeiros anos do século XX uma preocupação constante, sem, no entanto obter uma resposta satisfatória por parte do poder público, que preocupado muito mais com as questões do desenvolvimento econômico e com o desenvolvimento material, não efetivou uma política pública no sentido de evitar um espetáculo atentatório à saúde pública, como dizia Januário Cicco, mas também atentatório ao estado de civilidade tão enaltecido pela elite burguesa natalense àquela época.
Esse diálogo continua presente em 1909. Destacamos três comunicações realizadas no final daquele ano acerca do mercado público. Na primeira delas, um cidadão pede que A Republica solicite do presidente da Intendência atenção nas atividades dos talhadores de carne naquele estabelecimento, os quais, além de serem grosseiros e mal-educados, vinham cometendo abusos na hora de pesar a carne. A resposta, neste caso, é quase que imediata (Ver, respectivamente, A REPUBLICA, Natal, 01 dez. 1909; 04 dez. 1909): três dias depois da publicação da queixa, o coronel Joaquim Manoel informa ao jornal haver tomado as providências devidas, corrigindo as irregularidades verificadas no mercado. Mas não se passa muito tempo e o mercado volta a ser alvo de queixa. Desta feita, o problema era a maneira como a carne verde estava sendo conduzida para esse espaço: “nas costas de animaes lazarentos, cobertos por immundos pannos de fazenda inclassificavel (A REPUBLICA, Natal, 14 dez. 1909.)”. Não vemos qualquer resposta à reclamação nas edições seguintes.
O controle sobre os mercados públicos é um dos elementos que integra um projeto de modernização, na medida em que ele se liga ao ideal de construção de uma cidade sã, salubre, e também ao desejo de manutenção de uma ordem e moralidade públicas, e de controle da circulação, ideais que são desejados pela gestão municipal e compartilhados por aqueles que, através de suas denúncias, mostram o descontentamento com essa gestão pela sua incapacidade de controlar o mercado da cidade, não conseguindo impedir que as leis que criara para dar ordem a esse espaço fossem burladas.
As resoluções municipais nos ajudam a conhecer que caminhos tomou a gestão da cidade nos anos de 1911 e 1912. No primeiro ano, a maioria das resoluções se destina à tarefa de renomear alguns logradouros da cidade, nos bairros de Cidade Nova, Cidade Alta e Alecrim. Foram publicadas, entre 1911 e 1912, as resoluções de nº 143 a 167. As que tratam de alteração no nome de logradouros no ano de 1911, são as de nº 143 (A REPUBLICA, Natal, 06 mar. 1911); 147 (A REPUBLICA, Natal, 04 maio 1911); e 149 (A REPUBLICA, Natal, 06 maio 1911).
Afora estas, merece destaque ainda a resolução de nº 145, de 17 de abril, que autoriza a Intendência a contratar, com quem melhores vantagens oferecesse, a construção e exploração de mais cinco mercados públicos na cidade, devendo dois deles localizar-se na Ribeira, bairro comercial por excelência; um no bairro de Cidade Nova; um no do Alecrim e outro no Passo da Pátria (área pertencente à Cidade Alta). (A REPUBLICA, Natal, 17 abr. 1911.) Os mercados, pelo que conhecemos, nunca chegaram a ser construídos (exceção feita a um na Ribeira, edificado na gestão de Romualdo Galvão, entre 1914 e 1916), de modo que a cidade permaneceu sendo atendida, por alguns anos ainda, por um único mercado público, inaugurado em 1901 (Com informações de CASCUDO, L. da C. História da cidade do Natal, p. 140-141. Sobre esse mercado construído em 1911, ver matérias d’A Republica entre os dias 12 e 25 de novembro, especialmente a edição desta última data, que trata de sua inauguração.).
Ironicamente, o gado que sobrava nas ruas da cidade faltava no mercado público. Nenhum outro tema é tão recorrente no primeiro semestre de 1911 quanto o da falta de carnes verdes no mercado da cidade. São diversas as matérias nesse período reclamando sobre o não cumprimento do contrato estabelecido entre a Intendência e os fornecedores do produto e pedindo maior fiscalização dessa instituição no mercado e nas feiras da cidade. Em uma dessas matérias, A Republica, com algum tom de indignação, cobra medidas mais enérgicas do coronel Joaquim Manoel:
Decididamente, continuamos mal com o contracto de carnes verdes. Raro é o dia em que não nos chega uma reclamação contra elle. Ora é a falta de carne, ora é o mau serviço dos carniceiros. Debalde, surgem os protestos dos consumidores. Ninguem se move, não ha nada que faça cessar os constantes abusos. Queremos crêr que o laborioso Presidente da Intendencia, a quem incumbe zelar pela bôa execução das clausulas do contracto, ainda não se dignou de lançar as suas vistas para o Mercado Publico, nestes ultimos dias. Só assim se comprehende a desordem que reina alli nos diversos talhos de carne verde. […] (A REPUBLICA, Natal, 31 mar. 1911.).
SANEAMENTO
É válido ressaltar que os serviços de abastecimento de água, iluminação, asseio, higiene e salubridade públicas eram atribuições da Intendência Municipal, que em determinados momentos firmava contrato com empresas para a regularização de tais atividades. Apesar da parceria com o setor privado, uma das atribuições dos fiscais da Intendência era a fiscalização desses serviços. Mesmo a partir do ano de 1910, quando os serviços de limpeza pública, esgoto, tração, abastecimento de água e iluminação ficaram a cargo do governo estadual, conforme previsto na Lei n. 291 de 24 de novembro de 1910, a atribuição dos fiscais da Intendência de zelarem pelo cumprimento adequado das atividades listadas era mantida, uma vez que a Intendência também auxiliava o custeio da limpeza pública e dos demais serviços que passaram à responsabilidade do estado em 1910. Todavia, desde a sua criação, a Inspetoria de Higiene, órgão estadual, também possuía como uma de suas funções a fiscalização do saneamento das localidades e das habitações (públicas e privadas), conforme pode ser atestado pelo conteúdo de seus editais publicados.
Em setembro de 1910, foi um dos canos do mercado público que estourou gerando um grande transtorno devido ao lançamento para a rua das águas servidas daquele estabelecimento. (Varias. A República, 17 de setembro de 1910).
O relatório do Intendente Coronel Romualdo Lopes Galvão acerca da sua gestão dos anos de 1914, 1915 e 1916 ilustra bem esse desenvolvimento (A REPÚBLICA, 1917a). Nele, o coronel afirma que recebeu a Intendência com um déficit de mais de cinco contos de réis e faz um relato sobre a conformação geral da cidade, sua divisão administrativa e sobre distribuição de residências nos diversos bairros.
S.s. ultimou a demarcação do patrimônio municipal que cuja área ficou fixada com 43,560 km subdividida nos 4 bairros denominados: Ribeira, Cidade Alta, Cidade Nova e Alecrim. No primeiro se encontram 17 ruas e 7 travessas com o total de 631 casas. Na Cidade Alta estão encravadas 30 ruas, 12 travessas e 10 praças, sendo 1575 o número de casas. No bairro da Cidade Nova há 10 avenidas e 14 ruas com 556 casas, contando finalmente, o bairro do Alecrim, 11 ruas, 4 travessas e 583 casas. Assim, o total de habitações de Natal é de 4811 casas. No referido triennio foram realizados vários melhoramentos materiaes na Cidade, constantes do calçamento em differentes ruas, reconstrução de esgotos do mercado da Cidade Alta, da rua Voluntários da Pátria e ampliação do Cemitério do Alecrim. O melhoramento de maior vulto, porém, foi a construcção do mercado da Ribeira, todo elle de ferro com venezianas circulares para conveniente arejamento (A REPÚBLICA, 1917a, p. 01).
O tom da reclamação parece até ter espantado o Diario, que se refere à matéria d’A Republica como uma “acusação solene” ao presidente da Intendência (DIARIO DO NATAL, Natal, 01 abr. 1911.). O fato é que a cobrança realizada por este periódico surtiu algum efeito, tendo em vista que, no dia seguinte ao de sua publicação, o coronel Joaquim Manoel, acompanhado de seu secretário, Arthur D. Mangabeira, e do fiscal geral, compareceu ao mercado público para verificar se a quantidade de carne com a qual o estabelecimento vinha sendo abastecido estava em acordo com o previsto no contrato, bem como tomar as devidas providências para que os consumidores fossem atendidos com a máxima presteza pelos talhadores.
AMBIENTE
Já nessa época, sucedera meu irmão mais na tarefa de fazer todos os dias as compras no mercado público. Um novo mundo se apresentou às minhas vistas. No pátio do mercado ficava a grande feira ao ar livre e dentro do casarão em forma de quadrado, ocupando os quatro lados do grande prédio, os “locais” onde cada comerciante expunha quantidades de mercadorias diversas.
Bem no centro, formando duas quadras menores, com os aventais sujos de sangue, os açougueiros serravam, limpavam, cortavam, pesavam, carne de boi, carneiro ou porco, quando não estavam amolando grandes e largas facas.
O afã de vender mais que o outro era fácil de notar. Ali, imperava a lei do mais ativo. Nunca havia visto assim tão de perto o “cada um por si”. A concorrência fazia esquecer a camaradagem. Cada locatário oferecia a mercadoria como a melhor, como sendo a mais barata e não titubeavam em atrair para o seu local um ou outro freguês que parasse no vizinho esperando ser despachado.
Depois das nove horas, quando a fluência de compradores era bem menor, voltava o clima de cordialidade, de atenção mútua entre os locatários, agora trocando palavras de amizade entre si. No dia seguinte, a partir da seis horas da manhã, a comédia recomeçava…
Cenário idêntico oferecia a feira do lado de fora do grande quadrado de tijolo e cal. Era muito difícil fugir-se à tentação de fazer o “pinto”. Nenhum menino do mundo poderia deixar de ser tentado a não ficar com alguns vinténs no final das compras. O rol era obedecido na íntegra. Ia-se comprando e riscando. Um ou dois vinténs que sobravam do regateio jamais representavam troco. Dias havia em que se discutindo os preços a féria aumentava, chegando às vezes a dois tostões.
Grande verdade era que a gente não sentia remorso. Chegando em casa e prestando conta das mercadorias compradas, tudo dava certo. Não podia haver reclamações. O que havia era simples de explicar. Se uma determinada mercadoria custava oitocentos réis e a gente com regateio conseguia por setecentos e oitenta réis, vinte réis eram o “nosso lucro”. De especulação em especulação surgia o nosso “autossalário”. Às sobras do regateio, “nosso lucro” ou “autossalário”, dava-se o nome pouco recomendável de “pinto”.
O trabalho era tão honesto que não havia porque se envergonhar. Muitas vezes, minha mãe, depois de verificar as mercadorias, somar os preços das mesmas recebendo o troco dizia rindo: “Quanto foi o “pinto” de hoje?”.
Minha avó também gostava de perguntar se tinha dinheiro do “pinto” que desse para trocar duzentos réis. Quase sempre a resposta era afirmativa.
A incumbência de fazer as compras no mercado público representava uma espécie de cargo de confiança e de direito sucessivo. Eu já vinha substituindo Cussy Júnior há dois anos. Estava chegando a vez de Clovis assumir o cargo. Raymundo, que teve a honra de receber o nome de meu avô paterno, sucedeu a Clovis nas suas funções. O primeiro cuidado foi estudar a possibilidade de, sem prejudicar o comprador, conseguir do vendedor maiores abatimentos e aumentar o “pinto”… talvez pensasse em “galo”…
Otávio, o caçula, foi o último dos “comissários”. Jamais usufruiu vantagens com a indústria do “pinto”. Antes de fazê-lo, já o tinha gasto. O homem do caldo de cana, assim que o via chegar, iniciava os gritos: “está geladinho de doer”, “garapa feita na hora”, “é de cana caiana”.
Não podendo sofrear o desejo, o caçula toma o primeiro copo por conta de um pedaço do “pinto”. Quando termina as compras já tem tomado sorvete e comprado maçaranduba. Deixando o cargo de fazedor de feira, fui trabalhar na loja como balconista.
Memórias de Waldemar de Almeida escritas por Cláudio Galvão.
REFORMA
Em outubro de 1935, o Engenheiro Gentil Ferreira de Souza foi convidado pelo Interventor Rafael Gurjão para assumir a prefeitura da cidade, cargo que o experiente burgo mestre já havia exercido entre junho de 1930 a junho de 1931. Ao assumir o governo da cidade, o chefe da municipalidade natalense tornou emblemático o período de sua administração pela realização de obras como o Mercado Público da Cidade Alta (hoje localizado o Banco do Brasil); a construção do novo Matadouro, retirando a matança anti-higiênica que existia na Rua da Misericórdia; Inauguração em 11 de julho de 1936 da Praça Carlos Gomes, e tantas outras obras que testemunham esta gestão que transformou a cidade do Natal em um local agradável para se viver.
As administrações do Intendente Municipal, Gentil Ferreira, e do Governador do Estado, Rafael Fernandes Gurjão, resultariam em diversos melhoramentos
materiais em Natal, porém, não em relação à infraestrutura dos bondes. Três importantes melhorias, no entanto, marcam esse período: as obras de abastecimento e saneamento da capital – de responsabilidade do Escritório Saturnino de Brito –, a construção do Grande Hotel de Natal e do novo Mercado Público.
Na gestão do prefeito Gentil Ferreira de Souza, o velho mercado foi demolido, sendo construído um outro prédio, mais amplo, no mesmo local. A população de Natal, que ainda não contava com os modernos recursos da “era da máquina”, no campo da conservação de alimentos, era conduzida a adquirir diariamente os gêneros alimentícios.
A cidade cresce e se moderniza. Em 1937, as obras de abastecimento e esgotamento sanitário se encontram em pleno desenvolvimento e são inaugurados diversos novos edifícios pela administração Rafael Fernandes, tais como o da Repartição de Saneamento de Natal, o Mercado Público da Cidade Alta, a Delegacia de Polícia do 1º Distrito, bem como, são efetuadas reformas em edifícios públicos como o Quartel da Força Pública Militar.
O prefeito Gentil Ferreira de Souza, na Interventoria Rafael Fernandes, também muito fez nesse sentido, como se constata dos seguintes informes, além do que realizou no triênio anterior: Dois grandes e excelentes mercados públicos foram, igualmente, construídos: um na Cidade Alta e o outro no Alecrim.
O prefeito Gentil Ferreira marcou a inauguração do novo mercado da Cidade Alta para 01/05/1937, que de acordo com o Diário de Pernambuco: “há mais de seis anos que não se realiza neste Estado, inauguração de prédio público, nas condições do atual edifício, cujo ato vai ser revestido de grande solenidade” (DIÁRIO DE PERNAMBUCO,14/04/1937,p.12).
O novo mercado abrangia uma área de 4.200m² compreendidos entre a Av. rio Branco, rua Auta de Souza e praça João Tibúrcio e do Mercado.Na área interna seriam alocados cerca de 250 comerciantes permanentes, existindo uma área para feira diária e instalações de frigorifico. A inauguração contou com a presença do governado do Estado, do prefeito da Capital, outras autoridades, representantes da imprensa e grande número de pessoas.
Sobre a inauguração do novo mercado da Cidade Alta escreveu o jornal A Ordem que o prédio recém-inaugurado era verdadeiramente uma obra notável que se construía em Natal, com as próprias rendas municipais, sem auxílios estranhos nem apelo a empréstimos (A ORDEM, 01/06/1937, p.1).Poucas eram as capitais que se podiam orgulhar de possuir um mercado como o da Cidade Alta em Natal dizia ainda o mesmo jornal.
A frente das obras de construção do novo mercado da Cidade Alta estava o engenheiro Otávio Tavares, diretor de obras da prefeitura. O prédio foi construído com 54 metros de frente por 81 metros de fundo.A parte concluída e a ser posta à disposição do público abrangia uma área de 2.185 m², ou seja, 2 1/5 vezes maior que o antigo mercado.
A área interna estava dividida em ruas e avenidas, sendo 28 locais para carne verde, 22 para carnes secas, queijos e vísceras, 10 para cafés e pequenos restaurantes, 6 para aves, 70 para cereais, 12 para miudezas, 37 para frutas e verduras e 2 grandes locais para feiras livres. O serviço de saneamento era subterrâneo, onde se achavam instalados 9 aparelhos, 2 mictórios e 2 pias para asseio.
O edifício era coberto com telhas belgas, de amianto. O piso era de paralelépidos, reajuntado e sobre base de concreto. Nos locais de peixe e carne o piso era de mosaico branco e os balcões e colunas de marmorito. Os portões era de ferro, de enrolar, e davam passagem a automóveis e caminhões.
Todas as seções eram providas de instalações de água, sendo que nos locais para a venda de peixe foram postas 18 torneiras. Foram instaladas 24 lâmpadas para a iluminação interna. O custo total da parte inaugurada custou a prefeitura 393.660$000 (DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 08/06/1937, p.3).
A coluna “Sociais” do “A República”, com o título de “Quantos habitantes tem Natal?”, questionou o pós recenseamento do Rio Grande do Norte em setembro de 1940, com então 54 000 mil habitantes, sendo o 17º menos populoso do Brasil, o que fez despertar tão questão sobre Natal:
O nosso território deve ter ganho muita gente. O movimento está visível a olho nú. Não é necessário esmiuçar por inquéritos nem métodos científicos. Uma prova desse andamento demográfico é a inferiodade crescente das coisas que se serve a população e ficaram estacionadas. O exemplo mais á vontade é o de serviço de transporte urbanos e depois, si não parecesse instável, o de hospedagem. Outros surgem á primeira observação o do abastamento, com preços aumentado dia a dia, juros que só são percebidos pelos ganham pouco, a capacidade, em plenitude dos Mercados Públicos, feitos para um futuro longinquo, e aumento das construções residenciais, o desenvolvimento progressivo dos bairros, a fração adventícia que se avoluma. (A REPÙBLICA, 1942).
A cidade do Natal, no ano de 1959, estava longe de ser a “metrópole do Oriente da América” que Manoel Dantas (1867-1924) previu na sua histórica conferência Natal daqui a cinqüenta anos, proferida no salão nobre do palácio do Governo do Estado, no dia 21 de março de 1909, e que segundo o poeta Jota Medeiros constitui o marco do Futurismo, antecedendo o manifesto de Marinetti. “A inexistência de supermercado forçava a população a fazer suas compras nos quatro mercados (Cidade Alta, Alecrim, Quintas e Ribeira) e nas mercearias e bodegas”.
O Mercado Público tornou-se então um ponto de encontro, um local onde eram divulgados os acontecimentos da Cidade, em primeira mão. Ali comentavam-se os assuntos mais diversos, políticos, sociais e, até mesmo, “os ridículos enredos provincianos”.
No pátio do mercado ficava a grande feira ao ar livre e dentro do casarão em forma de quadrado, ocupando os quatro lados do grande prédio, os “locais” onde cada comerciante expunha quantidades de mercadorias diversas.
Na década de 50 o foco central desponta com o Grande Ponto de dentro para fora em uma visualidade ampla, um dar a ver as paralelas que cruzam a cidade como elemento de percepção que não se encerra em si mesmo. O ponto no centro da foto, nesse período era a artéria da cidade, um espaço subjetivo que existe para a população local enquanto espaço imaginário, localizado na Avenida Rio Branco – com seu calçamento de paralelepípedo – próximo ao mercado público (hoje Banco do Brasil), cinema Rex e ao comércio de cigarreiras que ficou conhecido por Zepelin, recortado pela Rua João Pessoa. A Vista área da Cidade Alta, ponto máximo da economia da cidade, do movimento, do comércio é abarcada em seu conjunto.
Na década de 1960, na Rua Ulisses Caldas outros pontos que marcaram: a Loja da Borracha (na esquina com Princesa Isabel) e, na diagonal dessa, as “Casas Araújo”, loja de tecidos dos meus tios Afrânio, Adauziro e Agenino Araújo. Seguindo até a Avenida Rio Branco, além do Mercado Central, e da Mercearia de seu Militão Chaves, existiam algumas lojas interessantes: Casa Tic Tac, Casa Rubi, Cantina Lettieri, O Bazar Doméstico, Casa das Máquinas, Casa Rio, Loja 4.400, Casa Régio e outras. Mas, o ponto preferido da turma era uma banca de revistas (ainda hoje existente) na esquina da Rio Branco com Ulisses Caldas, lá vendia revistas da Ebal e era o local preferido de compra e troca de figurinhas.
INCÊNDIO
O mercado da Cidade Alta foi destruído por um incêndio, e nunca mais ali foi construído um novo mercado. Todavia, aquela área da avenida Rio Branco nunca perdeu a sua vocação primitiva. Até hoje os vendedores ambulantes insistem em expor à venda gêneros alimentícios e artigos dos mais diversos, em suas calçadas.
A primeira localização do Sebo de Cazuza era no Mercado Central, mas ele perdeu milhares de livros no incêndio que o destruiu. Passou então a comercializar na Rua Ulisses Caldas com o que restou, colocando os livros no chão ou sobre caixotes protegidos com uma sombrinha de praia.
As revistas HQ, principalmente as da Editora EBAL, eram adquiridas na Agência Pernambucana de seu Luis Romão, na Ribeira, ou então no Sebo de Cazuza. Cazuza era José Fidelis Coutinho, ex-feirante do Mercado de Agnelo. Ele havia perdido tudo que tinha quando o mercado central pegou fogo e recomeçara como ambulante na Rua Ulisses Caldas, bem perto do cruzamento com a Avenida Rio Branco. Era um sujeito magro, cordial, tímido, meio sarará, com um alto grau de miopia, sempre estava sentado num tamborete e precisava encostar as revistas nos óculos para conseguir ler alguma coisa. Foi no Sebo de Cazuza que comprei o primeiro número da “Revista Saci Pererê”, criação de Ziraldo que representou a transição dos musculosos heróis americanos para os raquíticos heróis tupiniquins.
O jornalista Luiz Gonzaga Cortez relembra, em seu blog, do incêndio que destruiu o mercado público de Natal, há 45 anos, no carnaval de 1967. Fato que marcou a vida comercial da capital do Estado, com a falência de alguns comerciantes e por sua vez o crescimento de outros, como os futuros donos do supermercado Nordestão, empreendimento que se estabeleceu na principal rede local do ramo e ainda em expansão, mesmo com a chegada na cidade de grande cadeia nacional, e multinacional, de lojas de supermercados. Só para lembrar, nessa época do grande incêndio do mercado, o prefeito era o hoje deputado estadual, o jornalista Agnelo Alves. Confira, abaixo, o que disse Cortez:
Foto feita por João Maria Cortez Gomes, na manhã do domingo de carnaval de 1967, após o grande incêndio que destruiu o Mercado Público Municipal, localizado no terreno onde hoje é a agência do Banco do Brasil da Cidade Alta, centro de Natal. O incêndio começou no inicio da noite de sábado, por volta das 19 horas, quando este redator estava caminhando na avenida Rio Branco, em direção à antiga Escola Industrial, esquina com a rua Professor Zuza.
O incêndio destruiu totalmente o prédio que abrigava mais de 100 pontos comerciais no seu interior, além de levar a falência diversos comerciantes. A Prefeitura vendeu o terreno ao Banco do Brasil e o comércio em mercados públicos entrou em decadência. Quase quatro anos depois surgiu o primeiro supermercado em Natal, o Nordestão, na avenida Dois, no Alecrim.
No carnaval de 1967 o Mercado da Cidade Alta foi queimado. Programado? No local hoje funciona o Banco do Brasil. Ainda lembro das labaredas vistas de toda a cidade. Explodia um bujão de gás e era aquela chama alta. Um triste espetáculo “criminoso?”
Toda a cidade ficou perplexa e não entendeu aquele sinistro acontecimento. O que fazer? Muitos pais de família ficaram na rua da amargura. Perderam o sustento e razão de viver. Muitos deles eu conhecia, já que meu pai foi comerciante ambulante. O mercado era uma festa permanente. Vendia de tudo no coração da cidade. O poder público pode destruir uma cultura, mas não destruirá jamais as lembranças, cheiros e emoções que só um mercado pode transmitir e ensinar.
Um dos proprietários era o sr. Leôncio Etelvino de Medeiros , dono de cinco pontos comerciais, incluindo o denominado ” União”, de estivas e cereais. Na época ele residia na Rua Gonçalves Ledo, onde montou um pequeno comércio no 1⁰ andar da casa, que não progrediu. Em 1968 entrava em funcionamento o “Armazém Medeiros” na Avenida Presidente Quaresma, no bairro do Alecrim. Com o sucesso do empreendimento, foi inaugurado o Supermercado Nordestão na Avenida Presidente Bandeira em 15 de setembro de 1972 ( Memória do Comércio do Rio Grande do Norte. Natal: RN Econômico, 2007). Na ocasião eu morava perto na Avenida 7.
Depois o triste escombro eu via ao passar em frente ao antigo mercado. Ao lado do mercado trabalhou muito tempo o saudoso Cazuza vendendo livros usados. Tudo acabou e ficou aquela chama que não me sai da memória voando pela ribanceira de uma cidade triste e sem referenciais.
João da Mata Costa – Cronista
O Museu Virtual dos Bombeiros de Aeródromo do Brasil produziu um importante documentário sobre o grande incêndio ocorrido em 1967 que destruiu o Mercado Público Municipal, localizado no terreno onde hoje é a agência do Banco do Brasil da Cidade Alta, centro de Natal.
O combate as chamas ficou a cargo dos bombeiros do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Norte com o apoio dos bombeiros da Base Aérea e da Base Naval de Natal, tendo como referência o livro Guerreiros da Paz escrito por Flademir, um bombeiro de Natal. Ele fala de muitos incêndios em que os bombeiros da base aérea aturam na cidade do Natal. E um deles é o do mercado Municipal da cidade alta.
Procurado por Henrique, bombeiro da aeronáutica aposentado e coordenador do Museu Virtual dos Bombeiros de Aeródromo do Brasil, o sócio fundador do Fatos e Fotos de Natal Antiga, Jornalista Adriano Medeiros, ajudou a resgatar a história de desta atividade com imagens do mercado.
Material inédito que vale apena assistir e compartilhar entre amigos e familiares sobre o importante papel de resgate, registro e valorização da história da atividade de salvamento e combate a incêndio nos aeródromos brasileiros.
MERCADO DO PASSO DA PÁTRIA
Em 1866, o Presidente da Província José Meira resolve calçar o Caminho Novo do Dr. Sarmento, antiga Ladeira da Cadeia, visto a extrema importância desta para a integração da cidade com o rio. Só que decide investir em outra ladeira, que passava ao lado do Hospital de Caridade, 15 segundo o presidente um local mais próximo e com maiores vantagens. O local foi rebatizado como Passo da Pátria, 16 destinando-se 3:399$000 para o melhoramento da ladeira. O contratado, Roberto Francisco da Silva Barros devia encarregar-se de calçar a ladeira para que melhorasse o trânsito da cidade alta para o rio. Segundo o presidente, essa obra não era apenas um simples embelezamento, era uma importante obra de integração da cidade com o rio:
O calçamento desta ladeira não é uma commodidade só para os habitantes da Capital, não importa um simples aformoseamento, é a continuação por assim dizer, da via fluvial por onde chegão em grande parte os generos alimenticios do mercado publico. E’ pois uma obra de interesse para o commercio e de utilidade incontroversa, como geralmente se reconhece. (Exposição do Presidente José Meira de 01 de outubro de 1866. p. 14-15.).
Em 1878, o Passo da Pátria foi palco de uma contenda que demonstrou a rivalidade entre o bairro baixo e o bairro alto da Capital. Na verdade, esses locais funcionavam praticamente como duas cidades, com funções e valores bem distintos. A cidade alta, núcleo original da cidade e centro do poder administrativo e religioso da Capital, reivindica para o Passo da Pátria o novo local da “Passagem do Salgado”, já que o antigo Aterro do Salgado estava bastante deteriorado e estava sendo construído um novo aterro, também na margem esquerda do rio, mas dessa vez “á partir do rio de fora até a cambóa do achado -, confronte ao Passo da Patria” (Relatorio do Presidente Manuel Januário Bezerra de 4 de dezembro de 1878. Obras Publicas, p. 14).
Os argumentos da Câmara a favor da transferência da passagem para o Passo da Pátria são convincentes. Segundo o parecer do documento, os comerciantes do interior que vêm vender os seus produtos (gêneros de abastecimento interno) na capital não encontram um local fixo e com as devidas acomodações para expor seus produtos na Ribeira. Sabendo-se que jáhavia um mercado público na cidade alta e um telheiro com uma feira já estabelecida no Passo da Pátria, e na impossibilidade financeira da província construir outro mercado na Ribeira, era mais viável transferir a passagem para o local com estrutura mais adequada.
O MERCADO DA RIBEIRA
A área em questão recebeu vários nomes, tais como: aterro, ladeira, subida da ladeira e rua da cruz. O mais relevante aqui é perceber a intensificação do interesse na construção de habitações (mesmo que de forma vernacular) e o crescente número de habitantes a partir do final do século XVIII e início do XIX. Outra preocupação, tanto por parte das elites governantes quanto por parte da população, seria o espaço alagadiço que dividia os bairros da Cidade Alta e da Ribeira.
É um dos primeiros indícios de regulamentação urbana, pautado em desapropriações e controle de construções privadas em prol de um espaço público. Sugere então uma lei “que véde a edificação naquelle lugar, e mesmo que o destine para um passeio publico, entendo ser de summa utilidade.” (Falla do Presidente Pereira de Carvalho, 1853).
Ao que parece, a lei é aprovada logo em seguida, mas em 9 de dezembro de 1859 é revogada por ofício do presidente Oliveira Junqueira. Em 1861, o presidente Figueiredo Junior retira a revogação e volta a proibir construções particulares no local. Ele faz a primeira intervenção concreta no espaço, construindo um muro entre o alagadiço e o rio. O “Caes do Salgado” racionalizava e delimitava o espaço, que antes confundia-se com a terra e a água. Ainda é feito um aterro entre o terreno e o muro, para preservá-lo da força das águas e permitir mais uma comunicação entre a Cidade Alta e a Ribeira. A retificação da ambígua fronteira entre a cidade e o rio entrava em consonância com os ideais de civilidade e racionalidade.
É relevante o fato que no decorrer do século XIX foram instituídas diversas leis que proibiam a construção privada no local, devido ao interesse governamental de aterrá-lo e nele construir. Figueiredo Júnior, sucessor de Pereira Carvalho, também esboçou diversas medidas que vieram a reforçar seus planos de que, pela localização geográfica, o alagado deveria ser o centro comercial da capital. Figueiredo Júnior, em 1861, foi o primeiro que realizou de fato obras no local, construindo um muro que dividia o alagadiço e aterrando entre o terreno e o rio (RODRIGUES, 2006). Sobre os planos, o relatório do Presidente Fiqueiredo Júnior, de 6 de abril de 1861, dizia que:
Já dei ordem ao engenheiro para levantar a planta da praça e ruas adjacentes, reservando nas extremidades dela, do lado do rio, os espaços necessários para a construção de dois edifícios, um dos quais deverá ser o mercado público. A construção de uma rampa para embarque e desembarque na parte mais central da muralha é um dos melhoramentos que prestando utilidade concorreria para aformosear uma das mais importantes localidades desta capital.
Esses discursos transparecem o ideário da elite governante com relação ao bairro Ribeira, evidenciando o caráter comercial que o recorte desenvolvia no contexto urbano da Cidade de Natal. Mesmo que muitos desses planos não tenham sido realizados, manteve-se vivo o desejo latente de efetivação, o que mais tarde realizou-se.
No ano de 1915, A Republica deixa de publicar o material de expediente da Intendência. Em consequência, vemos poucas matérias desse periódico sobre a gestão municipal. De destaque mesmo, notamos apenas a cobertura da inauguração do novo mercado da Ribeira, melhoramento reclamado a tempo pelo bairro comercial da cidade, que não mais podia suportar, segundo o jornal, o desagradável aspecto da feira da Tatajubeira, que ocorria em suas ruas. A obra parece ter sido a mais importante realizada pela Intendência nesse ano. Por outro lado, a rotina de reclamações a respeito dos serviços urbanos, em especial da coleta de lixo, continuava intensa.
Em janeiro de 1917, a presidência do Conselho de Intendência é entregue ao major Theodósio Paiva. Em matéria publicada n’A Republica sobre a gestão do coronel Romualdo Galvão, elogia-se a capacidade do ex-presidente de reorganizar as finanças municipais, mesmo tendo encontrado a Intendência com um deficit aproximado de seis contos de réis e em dívida com o funcionalismo público. O texto publicado no órgão oficial do PRF ressaltava ainda que o antigo gestor, não obstante as dificuldades financeiras vividas pela municipalidade, havia feito importantes investimentos no setor das obras públicas, gastando, ao longo dos três anos à frente da Intendência, aproximadamente 77 contos em diversos serviços pela cidade, tais como o calçamento de ruas, a reconstrução dos esgotos do mercado da Cidade Alta, a ampliação do cemitério do Alecrim e a construção do mercado da Ribeira (A REPUBLICA, Natal, 20 jan. 1917.), maior feito de sua gestão.
A ampliação do Mercado Público da Ribeira pode ser considerada como um dos indicativos do crescimento demográfico, hora em que “a população da Ribeira, pelo seu crescimento estava reclamando um mercado bem mais amplo” (A República, Natal, 1 jan. 1941). As reclamações foram atendidas durante a Administração de Gentil Ferreira. O novo mercado público foi entregue à população em 1º de janeiro de 1941.
o Governo Estadual e a Prefeitura da cidade reformaram o Mercado Público da Ribeira, calçaram com paralelepípedo a ladeira da Praia do Meio, e revitalizaram a Praça André de Albuquerque e a Praça em frente ao Cais do Porto. No centro da cidade, ainda foi dado seguimento ao calçamento de todas as ruas afetadas pela instalação do saneamento, ao mesmo tempo em que os proprietários de residências foram estimulados a reformar suas edificações, assim como a adaptarem-nas para que se instalassem estabelecimentos comerciais e de lazer (MELHORAMENTOS públicos. A República, Natal, 28 set. 1941).
.
MERCADO LITERÁRIO
No que diz respeito à comercialização de periódicos norte-rio-grandenses, colhemos informações sobre a venda da Revista do Rio Grande do Norte, periódico veiculado pelo grêmio Polymathico (A REPUBLICA. Natal, 11 jan.1898.). Afora a venda de revistas em números avulsos, a livraria Cosmopolita também foi ponto de assinaturas da mencionada revista da agremiação literária. E, ainda que não tenhamos encontrado menções específicas, acreditamos que a livraria disponibilizava as assinaturas de outras revistas que circularam pela cidade do Natal. Acreditamos que as assinaturas e as compras dos periódicos potiguares não eram exclusivas às redações dos periódicos, já que as livrarias, como outros locais da capital norte riograndense, eram utilizados como pontos destinados à comercialização de revistas e jornais. A loja de sortimentos O Novo Século, de propriedade do coronel Francisco R. Vianna, também comercializava a venda e assinatura da Revista de Moda (“a revista chic”). Consultar anúncio em: A REPUBLICA. Natal, 05 out. 1906.
Ao sortimento de livros e revistas somava-se ainda a comercialização de bilhetes de loterias e a venda de remédios e de emulsões. Em 24 de julho de 1906, a livraria Cosmopolita anunciou, no jornal A Republica, a venda da emulsão dr. Humphereys. Em outubro, do mesmo ano, também foi anunciado no mesmo jornal a venda de outros produtos farmacêuticos como, por exemplo, as pílulas de vida do doutor Ross (Idem). A rentabilidade da livraria, anteriormente, identificada, pode ser corroborada pela instalação de uma nova filial da Cosmopolita, na Cidade Alta, localizada na “travessa Ulysses Caldas [praça do mercado], onde serão encontrados todos os artigos de negócios por preços rigorosamente honestos” (VARIAS. A Republica. Natal, 03 ago. 1900.).
Além da importância dos trabalhos tipográficos nas oficinas do jornal A Republica, de Augusto Leite e do atelier de M. Vitorino, a cidade do Natal, entre os anos de 1889-1930, possuiu outros estabelecimentos tipográficos, como a Tipografia de O Século Oásis (depois de 1900) que reproduziu A Tribuna (1897 – 1904), Revista do
Instituto Histórico e Geográfico (1903-1908); O Potiguar (1904-1908) e PAX (1907-1908). Estava localizado na Rua 28 de Setembro, S/N (posteriormente mudou-se para Praça do Mercado, nº 4).
OS CAFÉS POTIGUARÂNIA E MAGESTIC
Os cafés Potiguarânia e Magestic representam, na história dos homens de letras da cidade do Natal, dois recintos exíguos onde os literatos da cidade se reuniam. Dois ambientes sucessores, uma vez que a Potiguarânia deu origem ao Magestic a partir do ano de 1919. Ambos podem ser identificados como ambientes que formaram redes literárias. As rodas literárias dos dois cafés foram indispensáveis, portanto, ao cotidiano dinâmico das sociabilidades entre os homens de letras de Natal.
No ano de 1919, o proprietário Ezequiel Wanderley encerrou as atividades do café Potiguarânia. O literato vendeu o estabelecimento para Urbano Benjamim Simonete. Simonete, por sua vez, transformou a Potiguarânia em Magestic. A fachada do café da família natalense deu lugar às cores vivas do nome Magestic. Não sabemos o que motivou a mudança do nome do café, contudo, o novo negócio não deu certo. No ano seguinte, o Magestic foi vendido a uma sociedade comercial composta por Jorge Fernandes, Deolindo Lima, Barôncio Guerra, Aurélio Flávio e Pedro Lagreca: um grupo de escritores.
De Potiguarânia ao Magestic, é certo que o café continuava na direção de homens de letras da capital norte-rio-grandense. Característica que, a nosso ver, foi essencial às atividades que o café Magestic passou a abrigar. Daí por diante o Magestic passou a ser exclusivamente café e bar, extinguindo as atividades de bilhares e jogos de outrora realizados no Potiguarânia. Houve outras modificações. O café passou a ocupar quase um quarteirão inteiro composto pela Ulisses Caldas, 21 de março e a Praça do Mercado. Na imagem abaixo podemos visualizar a Rua Vigário Bartolomeu e, no lado esquerdo, parte do café Magestic na esquina da rua:
MERCADO DO ALECRIM
Em Natal, quando se pensa em comércio popular, a maioria das pessoas imagina o bairro Alecrim. Contando com lojas, camelódromos, barracas instaladas nas ruas e calçadas, mercados e a popular feira livre, o comércio do Alecrim é referência para o norte-riograndense.
A praça Gentil Ferreira foi inaugurada em 1939 pelo então prefeito Gentil Ferreira de Souza (1931-1932 /1935-1940) e teve também o nome de “praça da República”. Foi considerada uma das obras de melhoramento urbano que constavam no plano geral da Cidade. A inauguração foi esperada, ao que parece, com muito entusiasmo pela população, e era notícia frequente nos jornais da época:
As festas do Alecrim nos dias 23 e 24. Inauguração da praça e jardim daquele bairro:
O Dr. Gentil Ferreira, prefeito da capital, fez no bairro do Alecrim, melhoramentos que determinaram a merecida gratidão de seus habitantes ao administrador de iniciativas proveitosas à cidade. Justificase, pois, a alegria dos alecrinenses a propósito da inauguração da praça ajardinada em frente ao mercado público, benefício este por si só bastante para evidenciar o carinho do Dr. Gentil Ferreira pelo Alecrim. (A República, 1939 )
O bairro quase não era frequentado pelas elites locais, a não ser nas ocasiões em que compareciam ao Cemitério Público da cidade. Este tinha uma dinâmica própria que se desenvolveu independente da área central da cidade, As notícias nas páginas do Jornal A República quase não davam repercussão ao que acontecia no bairro. Os investimentos públicos eram tratados como concessões e não como uma demanda necessária, exigida pelo próprio crescimento do bairro. A imprensa local sequer considerava a existência de pressões políticas ou reivindicações. O que se sabe, efetivamente, é que poucas obras do Plano Geral foram executadas no bairro do Alecrim e que este recebeu alguns investimentos mais significativos somente no ano de 1939, quando foram construídos o Mercado Público e a Praça Gentil Ferreira, assim como pavimentadas ruas e instalados serviços de infra-estrutura, como energia elétrica em determinadas regiões mais densamente habitadas:
Trata-se de um acontecimento de grande significação para a vida daquele populoso e adiantado subúrbio natalense, que é, sem dúvida, dos pontos afastados da cidade, o que mais se tem desenvolvido, não apenas quanto ao coeficiente de casas e de habitantes, mas também no que diz respeito ao comércio e ao movimento social. Esse desenvolvimento, que é em grande parte fruto da iniciativa particular, encontrou no poder público um dos seus mais fortes impulsionadores, do qual recebeu benefícios de vulto do Mercado que ali se vê (INAUGURADOS os melhoramentos do bairro do Alecrim. A República, Natal, 24 jun. 1939., p.3).
Neste aspecto o Alecrim ganhou uma dinâmica própria, transformando-se numa espécie de “bairro mercado”, aproveitando a vocação da região e também o seu traçado urbano que permitia uma maior ligação com outras regiões de Natal e do interior.
Em “O bairro do Alecrim Prospera” (15/09/1940), esta área da cidade, que havia sido regulamentada como bairro desde 1911, parecia estar consquistando sua autonomia, ascedendo à infra-estrutura urbana de maneira uniforme, água, energia elétrica, hospital, mercado público, feira, cinema e comércio diversificado.
Magno Vila recorda que eram poucas as linhas de transporte. Ele pegava o ônibus na Amaro Barreto para ir até Petrópolis. O ônibus deixava- na Avenida Rio Branco, onde estava localizado o mercado, e dali dirigia ao Ateneu, onde estudava. O percurso da casa para a escola ficou na memória, representando um mundo de sensações ricas de descobertas e de aventuras dentro da cidade. O deslocamento é uma das formas de encher a memória com as imagens e sensações das ruas.
Com a ampliação da praça Gentil Ferreira em 1973, foram demolidos um velho mercado que existia na outra extremidade da praça e o bar Quitandinha. Dizem que posteriormente foi construído um novo Quitandinha na praça, mas ele não manteve a mesma relação que existira anteriormente, por isso veio a fechar. Essa ampliação, gestão do prefeito Jorge Ivan (1972-1975), modificou a praça aumentando seu espaço. No entanto, essa reforma fez com que o bar Quitandinha desaparecesse do bairro para sempre.
No jornal Diário de Natal é possível observar bem o ambiente da praça nas décadas de 1970 e 1980:
GENTIL FERREIRA, MERCADO EM EXPANSÃO
Relógios, ferramentas, pincéis, bicicletas, motos, rádios, televisores, peças eletrônicas, fios, cassinos e até motéis. Tudo se vende na praça Gentil Ferreira, do tradicional caldo de cana com pão doce ou bolo de ovos, até o próprio corpo. Antigo reduto de gigantescos comícios, com inflamados discursos políticos, estimulando a esperança com mensagens de mudanças, hoje a praça abriga marginais, prostitutas, trambiqueiros e pequenos comerciantes. Os barracos de madeira, tristes e escuros, enfeiam o ambiente, somando-se a sujeira espalhada na praça. (Diário de Natal, p 10, 20/12/1987)
“A pensão era um projeto de hotel, em que você tinha onde dormir e tomar banho, mesmo em condições precárias. De lá também partiam os mistos e os caminhões para o interior. Naquela não época existia linha de ônibus, mas existiam empresas de ônibus fazendo a linha do interior, que era feita por caminhões ou por mistos. Os mistos paravam próximos à Pensão Caiana, que, na época da minha infância, era o único lugar do Alecrim que você poderia se hospedar [depoente tosse]. Ela ficava próxima ao mercado do Alecrim, que funcionava aqui onde hoje é a Praça Gentil Ferreira”.
Magno Fernando Vila
“Nome? Não tem. Para os moradores do Alecrim nome de rua não existe. Existe assim: Fábio Rino, porque não existe um número. Mas, as avenidas principais, para a gente, é número. É Avenida 1; se você me perguntar qual o nome dela eu não vou saber lhe dizer, mesmo tendo nascido lá. Eu sempre escutei Avenida 1. A Avenida 2, Presidente Bandeira, eu acho, mas é Avenida 2; a 3; a 4, a 5, a 6, a 7, a 8, a 9… Quando alguém chega lá, de fora, e pergunta, eu não sei dizer; ‘qual o número?’, se ele não souber, ficam os dois sem saber; ‘próximo a quê?’. Porque, para a gente que mora lá, é número. Aí, algumas ruazinhas tem apelidos. Por exemplo, de frente a minha rua eu moro na Dr. Eloy de Sousa hoje, e, de frente ao Mercado da 6, tem uma travessa, uma ruinha pequena: Beco da Cachorra”.
Samya Maria Queiroz Maia.
MERCADO DA REDINHA
A procura por casas nas praias para comprar e alugar também era grande. A Redinha entrou no rol da especulação imobiliária. A praia oferecia boa estrutura, tais como um novo clube social que proporcionava bailes aos veranistas, construído sobre o prédio antigo em 1943, e um mercado público, esse inaugurado em 6 de fevereiro de 1944 pelo prefeito José Augusto Varela.
O mercado público foi construído em 1949, localizado às margens do Rio Potengi, próximo ao Redinha Clube e a Capelinha. Local de comercialização de peixes e outros “frutos do mar”, o Mercado da Redinha é parada obrigatória a todos e todas que visitam aquela praia. O mercado é lugar de degustação de diversas iguarias, entre elas, destaca-se a ginga, peixe frito com tapioca.
Lugar de comer, beber e de memória, este é o Mercado da Redinha, espaço público que conta um pouco da história da ocupação, da praia, local de encontro de veranistas e pescadores. Comer uma ginga e olhar o encontro do mar com o Rio Potengi é um convite irresistível.
Segundo pesquisadores, a construção do Templo de Pedra está inserida no contexto da terceira fase de ocupação da Redinha, caracterizada pela expansão na direção noroeste e pela edificação do Mercado Público (ARIMATÉIA, 2001). Nesse período, a Redinha já tinha consolidado sua condição de praia de veraneio preferida por muitos natalenses (NATAL, 2003). A partir de então, os frequentadores da Redinha passaram a deliciarem-se com as belezas naturais desta praia e degustarem a tradicional Ginga com Tapioca.
ANTIGO CANTO DO MANGUE
Parte importante da memória de Natal, em 2007, na administração do prefeito Carlos Eduardo Alves, o antigo Canto do Mangue é revitalizado com a construção do Mercado do Peixe e a reurbanização da Praça do Pôr-do-Sol. Continua como lugar de pescadores e poetas. É um convite à natalenses e visitantes, que buscam alimentar o corpo e a alma.
Parte importante da memória de Natal, em 2007 o antigo Canto do Mangue é revitalizado com a construção do Mercado do Peixe e a reurbanização da Praça do Pôr-do-Sol. Continua como lugar de pescadores e poetas. É um convite a natalenses e visitantes, que buscam alimentar o corpo e a alma.
MERCADO DO PLANALTO
Criado em 1998, sob o manto da Lei nº 151, publicada no Diário Oficial do Estado, no ano citado, o Planalto é portanto um dos bairros mais novos de Natal. Antes esta região era constituída de pequenas granjas, onde praticava atividades agropecuárias, fornecendo deste modo produtos para feiras e mercados da cidade.
A antiga proprietária de grande parte do hoje Planalto, era a senhora Amélia Duarte Machado, a viúva Machado. A viúva Machado foi dona de grande parte dos terrenos da Região Administrativa Oeste.
Seu esposo, comerciante português, Manoel Duarte Machado, deixou como herança imensos latifúndios. Eram vastas terras, que chegavam a pertencer aos municípios de Parnamirim, Macaíba e Natal. Na década de 1960, com a venda das terras pertencentes a viúva Machado, surgem diversos loteamentos, sendo o principal o loteamento Reforma. A partir de então intensificou a ocupação demográfica, transformando o bairro Planalto, em uma região bastante populosa.
MERCADO DA CIDADE DA ESPERANÇA
A Cidade da Esperança foi projetada como um conjunto de casas em que os equipamentos coletivos eram tidos como uma extensão das moradias. Os equipamentos coletivos propostos para o conjunto seriam instalados nas duas superquadras e equivaliam basicamente às escolas de primeiro grau, igreja, mercado público, áreas de comércio, campos de futebol e quadras de esporte, ginásio de esportes, delegacia de polícia, clube social, clube das mães, centro comunitário e posto de saúde. No entanto, a falta de infra-estrutura marcou a implantação do Conjunto Cidade da Esperança desde 1963. A distribuição de água entre os moradores se dava por meio de um único chafariz.
Somente na primeira fase da segunda etapa começou a ser implementada a infra-estrutura (transporte, distribuição de água e coleta de esgotos). Por volta de 1970, as redes de água e esgotos já haviam sido instaladas pela Companhia de Água e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN), porém, os problemas referentes à distribuição ainda eram constantes. A pavimentação das ruas do Conjunto teve início apenas no ano de 1982.
Não havia transporte público que assistisse à população. Dos equipamentos comunitários previstos no projeto urbanístico, apenas a Igreja Católica, o mercado público e a Escola Estadual Raimundo Soares foram edificados na primeira etapa. Na primeira fase da segunda etapa, foi construída uma escola primária (Escola Municipal Celestino Pimentel) e um posto de saúde. Na segunda fase da segunda etapa foram edificados o centro comunitário e o clube das mães, e na terceira fase, o horto público e quadras de esportes.
MERCADO PERSA
Espaço de disputa entre lojistas e camelôs, é com esses contornos que o espaço do centro da cidade é delineado por diferentes notícias em jornais do final dos anos 1970 e na década de 1980. A cidade que teve crescimento acelerado teve também seu contingente populacional aumentado e consequentemente o crescimento do comércio informal. Se por um lado grande parcela da população tinha como fonte de sobrevivência o comércio ambulante, por outro, esse tipo de comércio dificultava a passagem dos transeuntes, as vendas disputavam com as lojas e o ambiente em frente às lojas ficava insalubres pelo acúmulo de sujeira de itens vendidos de diversas ordens, inclusive de origem alimentícia, além da poluição visual e sonora. Os camelôs desejavam permanecer nas ruas e avenidas principais do centro da cidade, no trecho conhecido como Grande Ponto, a Prefeitura realizava fiscalização e atuava muitas vezes arbitrariamente com os ambulantes. Por sua vez os lojistas desejavam a implantação de um local específico para o comércio ambulante, com a condição de que fosse distante das calçadas das principais ruas e avenidas. Essas disputas pelo espaço se materializaram pelas discussões do projeto de um calçadão no centro. Os lojistas argumentavam que o calçadão melhoraria o trânsito dos pedestres, mas que a Prefeitura deveria intensificar a fiscalização em relação aos camelôs, e, estes em contrapartida, não desejam se deslocar dos trechos principais do bairro com receio de diminuição das vendas.
Muitos textos expressavam insatisfação em relação ao comércio ambulante instalado no centro de Natal, muitas vezes utilizando a expressão “mercado persa” para se referir ao bairro ou aos locais que faziam parte do mesmo. Em texto de junho de 1983 a Praça Padre João Maria na Rua João Pessoa aparece tomada por vendedores e pela poluição visual e acústica, dificultando inclusive o acesso dos fiéis ao busto do padre. Além dos vendedores de velas e santinhos, a praça foi tomada por veículos, barracas, tabuleiros e carrocinhas carregadas dos mais variados objetos de consumo, artesanato, perfume, alimentos dentre outros objetos. “Vendedores de literatura de cordel, camelôs, prostitutas, viciados em maconha, traficantes, ventríloquos e palhaços misturam-se, diariamente, aos simples transeuntes” (DIÁRIO, 02.06.1983: 6). Em outro texto o centro da cidade aparece como um mercado, assemelhando-se a um “mercado persa” pela profusão de camelôs e também de lojistas que armam suas mercadorias em frente às suas lojas, estrangulando ainda mais o trânsito dos pedestres.
O texto acompanha fotografias feitas em pontos de destaque da Cidade Alta tais como a Avenida Rio Branco em que apresenta a profusão de camelôs e mercadorias. O texto culpa o desemprego pelo caos que estava instalado no bairro, fazendo com que o comércio informal e ambulante fosse a única alternativa para muitos moradores de Natal. Esses moradores vinham muitas vezes de bairros periféricos para vender seus produtos na Cidade Alta (DIÁRIO, 30.10.1985: 7).
O receio em relação à invasão dos camelôs no calçadão que seria construído pela Prefeitura, fez com que muitos comerciantes se posicionassem contra a obra. Os
comerciantes da Rua Princesa Isabel acreditavam que a implantação do calçadão iria atrair os camelôs com o aumento da área destinada aos pedestres, levando consigo “a sujeira, o lixo, a falta de higiene e a desordem”. Eles também alegavam que o fechamento das ruas iria sobrecarregar o trânsito que desaguaria na Avenida Deodoro. Os lojistas também se posicionavam contra por não haver mais vias para a descarga das mercadorias das lojas (O POTI, 27.01.1985: 7).
Além dos textos produzidos por jornalistas, os jornais da época traziam cartas de leitores. O jornal Tribuna do Norte publicou cartas em que os leitores estavam
insatisfeitos com a Prefeitura de Marcos Formiga e com o projeto do calçadão. Para um dos leitores a configuração do centro da cidade era “cartão postal invertido para a cidade” (TRIBUNA 01.07.1986: 4).
Apesar de todas as discussões, o calçadão foi finalizado em 28 de outubro de 1988, durante a gestão do Prefeito Garibaldi Alves Filho. O espaço contava com caixas para a instalação de engraxates, telefones públicos, ajardinamento, bancos e boxes para informações turísticas (SOUZA, 2008: 186-187). O calçadão foi finalizado, com o passar dos anos ocorreu o que muitos temiam, a invasão do espaço pelo comércio informal. Mais importante que discutir a invasão ou não do espaço foi perceber as articulações em torno da obra, fazendo emergir disputas e conjectura física e social pelo qual o bairro da Cidade Alta estava passando na década de 1980, além disso, essas mobilizações permitem compreender os significados que estavam associados ao bairro, antes um espaço destinado aos sujeitos de relevo social da cidade e que estava a caminho de tornar-se um bairro que se assemelhava a outros bairros da cidade como o Alecrim, tomado pelo comércio informal e ambulante.
FONTES SECUNDÁRIAS:
ARIMATÈIA, Emanuella Campos. A Redinha e o redesenho de sua orla. Natal: UFRN, 2001.
CLEMENTINO, Maria do Livramento Miranda. Economia e urbanização: o Rio Grande do Norte nos anos 70. Natal: UFRN/CCHLA, 1995.
DANTAS, G. Crise urbana em Natal na virada para os anos 1920: impasses da modernização e saberes técnicos. In: Revista Risco, n. 1, p. 66-85. 2006.
FERREIRA, Angela L. A., EDUARDO, Anna R. B., DANTAS, Ana C. C. L., DANTAS, George A. F. Uma cidade sã e bela: a trajetória do saneamento em Natal. 1850-1969. Natal: CAERN, 2003. (aguarda publicação).
NATAL, Prefeitura Municipal do. Circuito histórico, turístico e cultural de Natal. Natal: Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, 2003. MARINHO, Márcia Maria da Fonseca. Natal também civiliza-se: lazer e sociabilidade. Natal/RN: EDUFRN, 2011.
RODRIGUES, Wagner do Nascimento. Dos caminhos de água aos caminhos de terra: a hegemonia de Natal através das vias de comunicação 1820-1920. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2006.
SANTOS, R. M. B. Natal, outra cidade!: o papel da Intendência Municipal no desenvolvimento de uma nova ordem urbana na cidade de Natal (1904-1929). Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil. 2012.
SOARES, Moysés. O Natal-Club e as suas primeiras décadas (Conferência realizada no salão nobre do Natal-Club, em 22 de junho de 1916). Natal: Tipografia do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, 1916.
TEIXEIRA, Rubenilson Brazão. Da cidade de Deus à cidade dos homens: a secularização do uso, da forma e da função urbana. Natal: EDUFRN, 2009.
TINÔCO, Lair. Tempo de saudade. Natal: Fundação José Augusto, 1992.
WANDERLEY, João C. Relatorio apresentado a Assemblea Legislativa Provincial do Rio Grande do Norte. Pernambuco: Typographia de M. F. de Faria, 1851. 27 p.
REFEERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
A CIDADE E A GUERRA: A VISÃO DAS ELITES SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO DA CIDADE DO NATAL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL / GIOVANA PAIVA DE OLIVEIRA. – 2008, RECIFE – PE.
A CONSTRUÇÃO DA NATUREZA SAUDÁVEL: NATAL 1900-1930 / ENOQUE GONÇALVES VIEIRA. – NATAL / 2008.
A trajetória da Escola de Aprendizes Artífices de Natal: República, Trabalho e Educação (1909–1942) / Rita Diana de Freitas Gurgel. – Natal, 2007.
Além das xícaras: a construção do Café São Luiz como lugar de memória em Natal (1950-1980)/ Augusto Bernardino de Medeiros – Natal, RN, 2013.
Amélia Duarte Machado, a Viúva Machado: a esposa, a viúva e a lenda na Cidade do Natal (1900-1930). / Ariane Liliam da Silva Rodrigues Medeiros – Natal, RN, 2014.
Anuário Natal 2007 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2008.
Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.
ANUÁRIO NATAL 2013 / Organizado por: Carlos Eduardo Pereira da Hora, Fernando Antonio Carneiro de Medeiros, Luciano Fábio Dantas Capistrano. – Natal : SEMURB, 2013.
Caminhos de Natal / Jeanne Fonseca Leite Nesi ; ilustrações, Urban Sketchers Natal. – Dados eletrônicos (1 arquivo PDF). – 2. ed. – Natal, RN : IPHAN, 2020
Caminhos que estruturam cidades: redes técnicas de transporte sobre trilhos e a conformação intra-urbana de Natal / Gabriel Leopoldino Paulo de Medeiros. – Natal, RN, 2011.
Cantos de bar: sociabilidades e boemia na cidade de Natal (1946-1960) /Viltany Oliveira Freitas. – 2013.
Centelhas de uma cidade turística nos cartões-postais de Jaeci Galvão (1940-1980) / Sylvana Kelly Marques da Silva. – Natal, RN, 2013.
CIDADE, TERRA E JOGO SOCIAL: APROPRIAÇÃO E USO DO PATRIMÔNIO FUNDIÁRIO NATALENSE E SEU IMPACTO NAS REDES DE PODER LOCAIS (1903-1929) / GABRIELA FERNANDES DE SIQUEIRA. – 2019.
Do ancoradouro à sala de espera: as obras de melhoramento do porto e a construção de uma Natal moderna (1893-1913) – Natal, 2015.
Dos bondes ao Hippie Drive-in [recurso eletrônico]: fragmentos do cotidiano da cidade do Natal/ Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro. – Natal, RN: EDUFRN, 2017.
Dos caminhos de água aos caminhos de ferro: a construção da hegemonia de Natal através das vias de transporte (1820-1920) / Wagner do Nascimento Rodrigues. – Natal, RN, 2006. 180 f.
“Em cada esquina um poeta, em cada rua um jornal”: a vida intelectual natalense (1889-1930) / Maiara Juliana Gonçalves da Silva. – Natal, RN, 2014.
Entre a ordem e o progresso: a escola de aprendizes artífices de Natal e a formação de cidadãos uteis (1909-1937) / Renato Marinho Brandão Santos. – João Pessoa/PB : IFPB, 2019.
HABITAÇÃO SOCIAL: ORIGENS E PRODUÇÃO. (NATAL, 1889-1964) / CALIANE CHRISTIE OLIVEIRA DE ALMEIDA. – SÃO CARLOS, SETEMBRO, 2007.
História do estado do Rio Grande do Norte / Rocha Pombo. – Natal: Eduefrn, 2019.
Linhas convulsas e tortuosas retificações Transformações urbanas em Natal nos anos 1920 / George Alexandre Ferreira Dantas. – São Carlos – SP, Outubro de 2003.
Memória minha comunidade: Alecrim / Carmen M. O. Alveal, Raimundo P. A. Arrais, Luciano F. D. Capistrano, Gabriela F. de Siqueira, Gustavo G. de L. Silva e Thaiany S. Silva – Natal: SEMURB, 2011.
Natal: história, cultura e turismo / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal: DIPE – SEMURB, 2008.
Natal Não-Há-Tal: Aspectos da História da Cidade do Natal/ Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo; organização de João. Gothardo Dantas Emerenciano. _ Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2007.
Natal, outra cidade! [recurso eletrônico] : o papel da Intendência Municipal no desenvolvimento de uma nova ordem urbana na cidade de Natal (1904-1929) / Renato Marinho Brandão Santos. – Natal, RN : EDUFRN, 2018.
Natal ontem e hoje / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal (RN): Departamento de Informação Pesquisa e Estatística, 2006
O BAIRRO DA RIBEIRA COMO UM PALIMPSESTO: dinâmicas urbanas na Cidade de Natal (1920-1960) / Anna Gabriella de Souza Cordeiro. – Natal-RN, Julho de 2012.
O Estado Novo no controle da informação cotidiana: o caso da cidade de Natal (1941-1943) a partir do jornal “A República” / Fernanda Carla da Silva Costa. – João Pessoa, 2019.
O MERCADO DA CIDADE ALTA. Crônicas taipuenses. https://cronicastaipuenses.blogspot.com/2021/06/o-mercado-da-cidade-alta.html. Acesso em 16/11/2023.
O nosso maestro: biografia de Waldemar de Almeida / Cláudio Galvão. – Natal: EDUFRN, 2019.
SAIR CURADO PARA A VIDA E PARA O BEM: diagramas, linhas e dispersão de forças no complexus nosoespacial do Hospital de Caridade Juvino Barreto (1909-1927) / RODRIGO OTÁVIO DA SILVA.- NATAL, 2012.
Um espaço pioneiro de modernidade educacional: Grupo Escolar “Augusto Severo” – Natal/RN (1908-13). Ana Zélia Maria Moreira. – Natal, RN, 2005.