Canto do Mangue
O Canto do Mangue é uma central de venda de peixes e frutos do mar administrado pelos próprios pescadores. O Canto do Mangue movimenta cerca de 300 pescadores e mais algumas dezenas de pessoas que trabalham no tratamento e na venda do pescado. Os pescadores trazem peixes, lagostas, camarões e variados frutos do mar em cerca de 50 barcos, que atracam na região portuária distribuída entre a Ribeira e as Rocas.
PORTO
O projeto inicial do Porto foi aprovado em 14 de dezembro de 1922, através de decreto. No entanto, só dez anos depois, em 1932, o decreto de número 21.995, assinado pelo presidente Getúlio Vargas, cria o Porto de Natal. A obra foi gerenciada pelo engenheiro Hildebrando de Góis que na época chefiava a extinta Inspetoria Fiscal dos Portos, Rios e Canais com sede no Rio de Janeiro. O engenheiro Décio Fonseca foi o primeiro administrador do Porto de Natal. Tem como grande destaque a exportação de frutas, sendo 30% da movimentação do terminal.
O Rio Potengi é o principal do estado do RN. Sua nascente está localizada no município de Cerro Corá e sua foz no município de Natal, desembocando no Oceano Atlântico. Descoberto pelos colonizadores, seu nome ficou conhecido como “Rio Grande”, pelo seu vasto leito e extensão. Após alguns anos passou a ser chamado por Rio Potengi, que na língua dos índios que aqui viviam, significa rio dos camarões.
CONTOS E ENCANTOS
Localizado nos limites entre os bairros Rocas e Ribeira, tradicional reduto de comercialização de pescados, de encontros de poetas e de admiradores do lindo pôr-do-sol às margens do Rio Potengi. No antigo Canto do Mangue entre as diversas peixarias, antes existentes, pode, ao som das águas, ouvir a boa poesia de Ferreira Itajubá:
Mestres barqueiros, que viveis cantando,
Marujos tristes de país estranho,
Moças alegres que voltais do banho
E jangadeiros que passais em bando,
Rolas caboclas que viveis gemendo,
Nas tardes claras, que não tem chuviscos,
Crianças lindas que passais correndo,
Águas rebeldes que abrigais mariscos (…)
(apud GURGEL, 2001, p. 183)
Canto do Mangue Nelson Freire
In O Potiguar, 25
No canto do porto,
O encanto do rio.
No espaço vazio,
O refúgio do mar
Empana-se a vela.
No barco, o dono,
Refeito do sono
Está indo pescar.
Mercado do Peixe,
Guaiuba, Cioba
Inteira, em posta
Para se escolher.
Encontros furtivos
Nas casas vizinhas.
O sol à tardinha
Vai desaparecer
Olhares, sorrisos
No canto da praça.
O tempo não passa
E o jeito é viver
No canto do mangue,
Olhando a paisagem,
Sentado na margem
Do rio a correr.
EVOCAÇÃO DA CIDADE DO NATAL
José Bezerra Gomes
Cidade do já teve, de boêmios seresteiros, que não alcançei…
Lourival Açucena (Lorênio),
o poeta Ferreira Itajubá,
regressando, de manhã, cedinho,
das últimas noitadas,
cheias de serenatas,
lapinhas e pastoris,
vestido de fraque, segundo dizem,
com uma enfieira de caranguejo
dependurada no dedo da mão,
ali na antiga feira da Tatajubeira…
Onde estão os teus vendedores de
vendagens?
-rolete de cana…
-tapioca de côco…
-cuscuz de milho…
-bolo de pé de moleque…
E os teus turcos prestamistas?
que se foram das Rocas e do
Alecrim,
com os seus baús de miudeza,
para a Rua das Lojas
da Ribeira, Cidade Alta…
Cadê o teu Porto do Padre?
de-frente do Paço da Pátria,
com os teus canoeiros,
com os teus boteiros,
com as tuas negras louceiras
lá de Barreiros…
-urinóis…
-xícaras…
-mealheiros…
tudo era feito de barro…
Em todas as bodegas,
para todos os paladares,
bastavam dois vinténs de
meladinha,
com parede de camarão…
Nos domingos, dias santos,
apanhava-se caju, madurinho,
no tempo das matas ensombradas
das Quintas e do Goitizeiro
com muita fartura de
-cajá…
-mangaba…
-pitomba…
Do Canto do Mangue,
das salsas águas do Potengi amado,
abriam velas os teus Jangadeiros,
para, lá fora da costa, em alto mar,
ferrarem os peixes de linha:
-xaréu…
-cioba…
-cavala…
E os teus becos, Natal, tão teus?
-O Beco da Tatajuba,
ali pertinho do velho Cais da
Praticagem,
ali pertinho do velho cais Tavares de
Lyra
(com um ipsilon)
lembrando velhos embarcadiços,
um dia ancorados no teu porto…
-O Beco do Engole, de nome tão
gozado,
sem falar no Beco da Lama, o maior
do mundo,
tão grande que parece mais uma
rua…
Natal, cidade do já teve,
te-queremos assim mesma,
com um palácio que já foi
presidencial,
onde passou a funcionar o Wander
Bar,
em plena Rua do Comércio…
Natal, te-queremos com todos os
teus recantos:
a Areia Preta, o Areal, a Limpa.
com a Fortaleza dos Três Reis
Magos…
Lagoa Seca,
a Bica da Telha, a Baixa da Coruja…
O Carrasco,
o Cemitério Novo,
transformado, até bem pouco
tempo,
num grande campo de futebol…
Segundo o pesquisador Onofre Jr. (2002, p. 65-66), a magia do antigo Canto do Mangue, esta em ser:
(…) recanto cantado em verso e prosa, enfeitado de barcos, sempre cheio de pescadores. [Lugar ideal para] se debruçar na balaustrada sobre o rio e comer peixe frito com tapioca, especialidade que se vende ali, em barraquinhas humildes.
NA FORMAÇÃO DE NATAL
Lugar de história, existem registros datados do século XVI que apontam esta região como sendo o local de desembarque dos portugueses, chefiados por Mascarenhas Homem. Informação confirmada pelo historiador Olavo de Medeiros Filho:
(…) o desembarque das tropas, ao que tudo indica no porto hoje denominado Canto do Mangue, marchando os soldados para o local próximo àquele onde pretendiam erigir uma fortaleza. (MEDEIROS FILHO, 1997, p. 23).
O historiador maior da cidade, Câmara Cascudo diz terem sido os primeiros 34 anos da cidade “lentos, difíceis, paupérrimos”. Ao rei interessava “a situação estratégica, o ponto militar de defensão territorial”. Natal era cidade “apenas no nome”, com uma “capelinha de taipa forrada de frutos nos tabuleiros, pouca criação de gado que se desenvolveria vertiginosamente a ponto de ter 20.000 cabeças em 1633, e as pescarias, de anzol, rede e curral” (1999, p. 58). Medeiros Filho, baseando-se no mapa elaborado por João Teixeira Albernaz, cosmógrafo do rei de Portugal, faz uma descrição detalhada de Natal no início do século XVII.
Segundo ele, nas proximidades do médão principal, erguiam-se outeiros de areia, no local hoje ocupado pelo quartel do 17º G. A. C. Ainda no terreno daquele quartel, à margem do Potengi, existiam em número de três, as “casas de um pescador francês”. Mais acima no rio, já perto do Canto do Mangue, encontravam-se as quatro casas de Gaspar de Magalhães. Depois do riacho que provinha da atual Lagoa do Jacó, cujo despejo ocorre no chamado Canto do Mangue, há referências a “Casas de Mangues”. O espaço hoje correspondente à Praça Augusto Severo, no bairro da Ribeira, aparece sob a denominação de “Campina Rasa”, limitado por dois riachos paralelos, afluentes do Potengi.
Em uma das gravuras vêem-se alguns navios holandeses fundeados no oceano, ao nascente da fortaleza. À altura do rio da Redinha, então navegável (Versche Riever), aparecem duas caravelas portuguesas, aprisionadas, subindo o Potengi rebocadas por duas canoas flamengas movidas a remo. À frente das duas canoas, segue uma outra embarcação similar. O grosso da esquadra flamenga achava-se ancorada em um ponto, à margem direita do Potengi, no local onde desembocava um certo riacho provindo da atual lagoa do Jacó, no porto hoje denominado de Canto do Mangue.
Outro documento precioso, que também lança luz sobre o aspecto geral da cidade do Natal nos seus primeiros anos de existência, é um mapa intitulado Rio Grande, publicado em 1631, de autoria do famoso “cosmógrafo do Rei”, João Teixeira Albernaz, o velho (1602-1666). O mapa, por sua vez, se baseia num rascunho de desenhista anônimo, feito por volta de 1614, segundo Olavo de Medeiros Filho, que estudou o mapa. Esse autor descreve, a partir dele, diversos aspectos do sítio urbano de Natal e redondezas. Por exemplo, ele identifica e localiza algumas casas que se espalhavam nas imediações da cidade, como era de se esperar. Assim, ele identifica três “casas de um pescador francês”, no terreno onde hoje se localiza o quartel militar do 17° G.A.C – Grupo de Artilharia de Campanha – que fica nas proximidades da Fortaleza dos Reis Magos; quatro casas de Gaspar de Magalhães perto do atual Canto do Mangue; e “casas de mangues”, situadas após um riacho que desembocava na atual Lagoa do Jacó. Enfim, ele compara as edificações que aparecem no mapa de Albernaz com as informações disponíveis no auto da repartição ((MEDEIROS FILHO, 2007, p. 30-31). Cabe ressaltar que essa tentativa de localizar na cidade atual as casas e prédios da cidade naquele longínquo ano de 1614 não deixa de ter fundamento, mas ainda assim, consideramos bastante ousada, pois carece, talvez, de outros elementos que pudessem fornecer maior suporte a suas conclusões.
No aspecto religioso o bairro da Ribeira também teve sua importância; assim como qualquer povoamento tinha sua capela. A Matriz Bom Jesus, que possui documentos datados de 1772. E como acontece sempre a igreja católica disseminou e desenvolveu ao seu redor a fé cristã. Mas outros pontos do bairro também possuem sua importância religiosa, como a Pedra do Rosário que possui uma história: os pescadores do Rio Pontegi, encontraram próximo ao Canto do Mangue uma santa na água e desde então ela se tornou seu ponto de apoio espiritual. Só que um bairro tão populoso e com tantas influências não possuía apenas uma vertente religiosa.
Em Natal, a cidade apresentou um grande espalhamento da sua população depois da grande seca no início do século XX. Toda a extensão de terra do Canto do Mangue até a Campina do Forte, chamava-se vulgarmente de Limpa. Depois, devido à montagem de peças de ferro pelo Ministério de Viação e Obras Públicas, o lugar passou a se chamar Montagem (Melquíades, 1999).
Os nomes de logradouros e ruas foram quase todos mudados, o que é lamentável, pois eram muito mais bonitos do que os atuais. O Canto do Mangue, por exemplo, era chamado o Canto das Jangadas. E as ruas principais eram a da Tatajubeira, das Virgens, das Laranjeiras, do Fogo, Rua Grande, Praça da Alegria, Rua da Palha, Rua Nova, Rua dos Tocos, Uruguaiana, Beco Novo. Os logradouros mais famosos eram o Baldo, a grande piscina pública, e o cais do Passo da Pátria, onde ancoravam as embarcações vindas do interior. A única devoção popular conhecida era a da Santa Cruz da Bica, hoje decadente. Há referência a uma lagoa de José ou João Felipe, e que deve ser a atual lagoa de Manoel Felipe.
Parte importante da memória de Natal, em 2007, na administração do prefeito Carlos Eduardo Alves, o antigo Canto do Mangue é revitalizado com a construção do Mercado do Peixe e a reurbanização da Praça do Pôr-do-Sol. Continua como lugar de pescadores e poetas. É um convite à natalenses e visitantes, que buscam
alimentar o corpo e a alma.
DÉCIMA URBANA
Ao longo da República Velha, o município dependia significativamente da intervenção do Estado para viabilizar as principais reformas urbanas e viárias da capital, apesar da autonomia na definição da arrecadação dos impostos municipais, como a Décima Urbana, e da cobrança das taxas relativas ao aforamento no patrimônio municipal. Essas receitas, entretanto, não eram suficientes para a realização das principais melhorias urbanísticas e muitas vezes o município recorria ao âmbito estadual, que emitia apólices da dívida pública e realizava empréstimos como forma de subsidiar tais melhoramentos.
A Décima Urbana era um imposto predial que tomava por base o rendimento líquido dos prédios alocados e, no caso dos habitados pelos proprietários, a renda presumida em arbitramento. Já para os imóveis aforados, o imposto seria calculado utilizando-se o foro anual. Essa questão é muito importante, uma vez que diversos valores de foro, em várias cartas analisadas pela pesquisa, não correspondiam aos valores delimitados pela legislação vigente no período. Cf. Memória da Administração Pública Brasileira. Disponível em: http://linux.an.gov.br/mapa/?p=9416.
A composição do Conselho da Intendência em julho de 1897 possuía a mesma presidência do período anterior, com João Avelino como presidente e Olympio Tavares como vice. Os demais membros do Conselho eram: Pedro Avelino, Theodósio Paiva, Miguel Seabra de Melo, Raimundo Bezerra da Costa, Fortunato Rufino Aranha e Joaquim Soares Raposo da Câmara. O imposto predial logo seria regularizado, ainda em 1897, com a publicação da Resolução nº 32, que determinava o perímetro onde seria cobrado a Décima Urbana.
O Conselho da Intendência Municipal do Natal. Resolve: Art. 1º – O perímetro para demarcação da décima urbana será: De Norte a Sul – da Camboa de João da Costinha ao Lazareto da Piedade; e do Poente a Nascente do rio Potengi à ponta do cercado de José Alipio de Menezes, e daí em direção à Lagoa de Manoel Felipe.
Art. 2 º – Revogam-se as disposições em contrário. Sala das sessões da Intendência Municipal do Natal, 23 de Julho de 1897 (ARRAIS et al. 2012, p. 71).
Os elementos geográficos definiam o perímetro legal da cobrança do imposto. Essa área era demarcada por elementos naturais na direção Leste-Oeste – Rio Potengi e Lagoa Manoel Felipe –, enquanto que na direção Norte-Sul esses limites eram determinados pelas referências socioespaciais – Camboa de João da Costinha, onde hoje é o Canto do Mangue – e o Lazareto da Piedade – localizado nos limites urbanos, nas proximidades do Refoles e Alecrim – que constituía um dos chamados “programas insalubres” para onde eram dirigidos os mendigos e enfermos e que se situava longe da zona central.
PRAIA DA LIMPA / MONTAGEM
Bairro de muitas histórias, antes de ser Santos Reis foi Praia da Limpa e Praia da Montagem. Na verdade estes dois topônimos se confundem, quando nos referimos a limites. Conforme Melquíades (1999, p.117), “toda a extensão de terra do Canto do Mangue até a Campina do Forte chamavase vulgarmente Limpa”. Sobre a origem destes nomes prossegue o pesquisador, “o local onde se construiu a residência do engenheiro chefe (do Ministério de Viação e Obras Públicas), passou a se chamar Montagem”.
Se durante décadas sem conta a “cidade pequenina” nem era tal na Cidade Alta, o que dizer da Limpa?
Na Limpa, defronte à Fortaleza que nem era ainda, o primeiro acampamento. Casario rústico que se forma: Povoamento dos Reis, homenagem aos padroeiros, data católica dos Reis Magos, seguidores da estrela que os levaria ao menino santo, filho de Deus: 06 de Janeiro de 1598, início da construção do Forte.
Povoamento de los Reis arrasado com a invasão holandesa, a cidade agora é Nova Amsterdã. No pontal da Limpa, boca da barra do Potengi, o forte toma o nome de Castelo Keulen. A Limpa, que viria a ser parte do bairro de Santos Reis, era o palco principal da cidade na Natal dos primeiros tempos: o movimento maior de gente estava ali, nas cercanias da fortaleza.
Pelos 1700, a paz. Natal, dorminhoca, nem ainda descendo às ribeiras de São Thomé, maré chegando às beiradas da duna, antes da campina da Ribeira, dos manguezais e areal que levavam à Fortaleza, a Limpa era vigilante, atalaieira, no pontal da barra, anos e anos, décadas, a sinalizar a movimentação da barra: navio que entrava, navio que saía, navio que passava vindo de norte ou do sul. Semáforo para os poucos que habitavam o Alto.
Limpa deserta e a cidadezinha do alto vencem os anos 1800 sem muitas novidades. Hibernam. Raros pescadores com suas embarcações diminutas habitam as fronteiras do que viria a ser Rocas e Santos Reis, praça das Jangadas, depois Canto do Mangue. Com a proclamação da República em 1889, é instalado o Estado laico e chega exigência de se retirar as imagens católicas dos Reis Magos da capelinha da fortaleza: um próprio do governo não podia mais ostentar vínculos com qualquer religião.
No ano de 1901, elas são transferidas para a Igreja do Bom Jesus das Dores, na Ribeira, para só voltarem à Limpa, nas proximidades do Forte, quando da inauguração da capelinha dos Santos Reis, em 1910. (FOTO BAIXO)
Ali, em distante solidão, isoladas do mundo, permanecem até 1936, quando templo definitivo é erguido para elas no topo da duna da Montagem. Grande procissão traz as imagens da capelinha da Limpa ao novo Santuário construído, e a tradição da procissão se consolida ali, em torno dele, em reverência aos santos de maior devoção da cidade.
Santos Reis, foi oficializado bairro, em 17 de agosto de 1946, através de Decreto-lei nº 211. Natal, nesta época, era administrada pelo prefeito Sylvio Pedroza, responsável por muitas obras estruturantes, que até hoje beneficiam os moradores deste bairro. Segundo Souza (2008), destacam-se as seguintes ações: a abertura de logradouros interligando o bairro de Santos Reis a Rocas, e, também, a ligação com a antiga Avenida Circular (Atual Avenida Café Filho). Lugar de
memória, no dia 6 de janeiro, acontece uma das festas mais tradicionais de Natal, a festa de Santos Reis, homenagem aos santos, Gaspar, Belchior e Baltazar, padroeiros do bairro.
PLANOS DE URBANIZAÇÃO
O plano elaborado em 1924 pela Comissão de Saneamento de Natal não foi colocado em prática em sua totalidade, devido, principalmente, às dificuldades financeiras enfrentadas pela CSN. Segundo Dantas, apenas o saneamento da área conhecida como Oitizeiro e a perfuração de alguns poços foram executados. O sistema de abastecimento de água e de esgotos foi estabelecido apenas nos anos posteriores, ver: DANTAS, George. Linhas convulsas e tortuosas retificações: transformações urbanas em natal nos anos 1920. Op. cit., p.112.
O Plano Geral das Obras de Saneamento foi utilizado como base para o Plano Geral de Sistematização elaborado por Palumbo no final da década de 1920 e para o Plano Geral de Obras do Escritório Saturnino de Brito, elaborado na década de 1930. Foi utilizando a planta topográfica elaborada em 1924 que Palumbo construiu as bases de seu planejamento para a capital norte-rio-grandense, DANTAS, George. Linhas convulsas e tortuosas retificações: transformações urbanas em natal nos anos 1920. Op. cit., p.112.
De acordo com o Plano Geral, a Ribeira deveria ser o bairro comercial. O plano previa a uniformização e abertura de ruas, entre outras soluções para melhorar o tráfego do bairro. Além desse, haveria um bairro jardim de fato, “em moldes semelhantes aos ingleses”, diria a jovem engenheira, que esfarelaria os arruados das Rocas, Areial, Limpa, Canto do Mangue, Chama-maré e outros assentamentos populares na área delimitada pelo rio Potengi e pelo oceano Atlântico. Nesse bairro, chamado por Câmara Cascudo de “Cidade das Dunas” – Cascudo, 1929b. – uma recriação de apelo mais envolvente ao imaginário local, da mesma forma que o jardim o era para o inglês–, seria “feito o ‘zoning’ moderno, sendo evitada a superlotação e sendo os habitantes convidados a se pronunciarem sobre a administração do seu bairro, fixando o número e a localização de lojas e armazéns. Largas avenidas serão rasgadas, indo terminar no Boulevard de contorno que parte do cais do porto, margina o rio e o Oceano” – Portinho, 1930.
A Silva Jardim vai até a cota 5 e se confundirá com o prolongamento da Deodoro. Uma “reserva” dará o futuro mercado do bairro-baixo. A Silva Jardim é rua-grande na cidade novissima que fará esfarelar-se os arruados das Roccas, Areial, Limpa, Canto do Mangue, Chama-maré, etc – CASCUDO, Luís da Câmara. O Novo plano da Cidade – II – A Ribeira no ‘Master Plan. A República, Natal, n.252, p.01, 07 nov. 1929.
Portinho ainda destacou que na região entre o rio Potengi e o oceano Atlântico seria criado um novo bairro jardim, que deveria assemelhar-se aos bairros ingleses, seria feito o “’zoning’ moderno, sendo evitada a super lotação e os habitantes seriam convidados a se pronunciarem sobre a administração do seu bairro, fixando ainda o número e a localização de lojas e armazéns” (PORTINHO, Carmen V. A remodelação de Natal. A Republica, Natal, 13 jul. 1930.). Esse bairro abrangeria as regiões de Rocas, Areial, Limpa, Canto do Mangue, Chama-maré e outros assentamentos considerados populares nessa área (Idem). No novo bairro também seriam abertas largas avenidas. As casas de operários existentes nas proximidades do cais na entrada da cidade e em terrenos baldios seriam demolidas, e um “bairro operário inteiramente novo, um pouco afastado do centro” (DANTAS, George. Linhas convulsas e tortuosas retificações. Op. cit., p.132.) seria construído. Os indivíduos que tivessem seus casebres derrubados em decorrência da aplicação do plano receberiam um lote de terreno e uma planta para edificação no novo bairro. Esse bairro operário também seria planejado seguindo o modelo de bairro jardim. É possível constatar, portanto, que o planejamento encomendado pelo prefeito incluía uma espécie de novo “bota abaixo”, desapropriando famílias, derrubando casas que não seguissem os novos padrões e realocandoos para o novo bairro popular criado.
RAMPA
Em 1930, surgem a Rádio Farol próxima à Fortaleza e, nas proximidades da antiga Praça das Jangadas, Canto do Mangue, o prédio da hidrobase e o declive que trazia, do rio à terra, os hidroaviões nele pousados, a Rampa. Instalam-se ali, no limite entre Rocas e Santos Reis, em terras de Santos Reis, as companhias aéreas Pan Air do Brasil e Lufthansa.
A Rampa é um prédio que foi construído em 1930, na localidade denominada de Limpa, hoje limite dos bairros das Rocas e Santos Reis, em Natal. Era um ponto de embarque de passageiros e de transportes que recebia hidroaviões e onde atuavam algumas empresas aéreas.
Essas estações radiotelegráficas tiveram papel importante na radiocomunicação potiguar, mas, como Natal se tornou um importante centro de movimentação aérea, era natural a criação de uma estação radiogoniométrica de localização e direcionamento aeronáutico. O local escolhido foi próximo ao estuário do Rio Potengi, e da Fortaleza do Reis Magos, em uma área de dunas elevadas, não muito distante das margens do rio, em um setor conhecido como Praia da Limpa. Ali próximo ficavam as bases de hidroaviões do Sindicato Condor e PANAIR.
Atualmente, esse local é ocupado pelas dependências do 17º Grupamento de Artilharia de Campanha, do Iate Clube de Natal, do Comando do Terceiro Distrito Naval e pelo prédio histórico da Rampa. Já a toponímia Praia da Limpa, hoje, é conhecida apenas pelos moradores mais idosos dos bairros das Rocas e Santos Reis e pelos historiadores.
Anos depois, estima-se que em 1934, a Panair – subsidiária Pan Am no Brasil – melhora a estrutura de flutuadores, evoluindo para uma atracação fixa, erguida num terreno cedido pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte. O local da construção era conhecido como montagem por estar numa área de apoio para a construção do Porto de Natal e montagem de embarcações. Primeiro, fizeram uma pequena estação, entre a rua e o rio, com um píer de concreto que ainda resiste nos dias de hoje. Este local servia como sala de embarque e desembarque, com o letreiro Panair na fachada.
A Rampa foi transformada pelos americanos, com a construção de uma base para hidroaviões pelo Airport Development Program, entre março de 1941 e março de Para Melo (s/d, p. 93), a demora na construção deveu-se às constantes alterações no desenrolar da guerra e ao torpedeamento de navios que transportavam da Venezuela o asfalto que seria usado para o término das obras. Na Rampa da Limpa, ficavam abrigadas as “patrulhas dos hidroaviões da Marinha, os “catalinas” tão populares como os imensos B-29, bombardeadores de Tóquio, guardados nos ninhos altos de Parnamirim Field. Da Rampa, além dos 24 PBY de patrulha, corriam erguendo vôo para o salto atlântico os clippers de 75 passageiros.” (CASCUDO, 1999, p. 424).
Em Natal, no ano de 1942, o governo americano inicia as obras de sua Base Naval de Hidroaviões, utilizando o espaço da Pan Am e o ocupado pelos alemães na década de 30 e que, atualmente, faz parte do 17º Grupo de Artilharia de Campanha do Exército Brasileiro (17º GAC). A obra compreendiam um hangar de nariz, cinema, vários prédios de alojamentos, enfermaria, comando, entre outros similares aos existentes no Parnamirim Field. Embora o rompimento de relações com os países do Eixo só tenha ocorrido em 28 de Janeiro e a decretação do “Estado de Guerra” em 22 de agosto de 1942, o Governo Brasileiro permitiu que um esquadrão ocupasse, a partir de dezembro de 1941, a área até bem pouco utilizada pela companhia alemã e sua coligada brasileira.
Neste período é construída a edificação com arcos e torre de controle que marcam este local histórico. Paralelo a esta situação são construídas rampas de acesso para a retirada dos hidroaviões da água e manutenção em terra. Por esta razão o lugar passou a ser conhecida pelos natalenses simplesmente como Rampa.
NEWTON NAVARRO
Aqui desenvolvemos a ideia de uma boemia perambulante, por meio das experiências boemias de Newton Navarro e suas andanças pelos bares e casas de meretrício da capital potiguar. É possível atingir esse objetivo através da análise de suas crônicas, publicadas no jornal A República na segunda metade da década de 1950. Newton Navarro assemelha-se à típica figura de boêmio natalense. Uma pessoa que desejasse falar com ele, durante o horário comercial, deveria procurá-lo em muitos lugares, podendo encontrá-lo em um bar no Grande Ponto, em um boteco da Ribeira, em uma peixada no Canto do Mangue ou ainda em sua residência. Tem-se a ideia de mobilidade em contraposição ao que é fixo. A vida boemia antagônica ao mundo do trabalho. As andanças do cronista pelos principais bares, restaurantes e praias da cidade de Natal, a qualquer hora de um dia da semana, garante a ideia de contravenção à ordem do trabalho, defendida pelos grupos conservadores.
As crônicas escritas por Newton Navarro e publicadas no jornal A República permitiram uma análise sobre a boemia vivenciada pelo cronista, que percorria as ruas da cidade de Natal, principalmente as ruas do bairro da Ribeira, em busca de bares abertos durante a madrugada. Ao mesmo tempo em que experimentava a boemia, ele escrevia as crônicas publicadas nos periódicos da capital potiguar. Seus textos indicam seu profundo descontentamento com o estilo de vida burguês, por isso ele preferia vivenciar o cotidiano dos subúrbios da cidade de Natal (Rocas, Canto do Mangue, o cais da Avenida Tavares de Lira) e as ruas escuras do bairro da Ribeira nas noites de boemia. No livro Do outro lado do rio, entre os morros (1974), Navarro rejeita as transformações pelas quais passava a Praia da Redinha na década de 1950, resultado da expansão imobiliária. Preferia a praia que vivenciara na juventude, beira-mar de pescadores e poucos veranistas. A boemia dele era a da tradição, saboreando o peixe frito no dendê, observando os folguedos e as noites de lua cheia.
Em nota publicada no livro Do outro lado do rio, entre os morros (1974), de Newton Navarro, o jornalista Nilo Pereira referiu-se ao autor: ―onde está Newton, com sua esplêndida inteligência, a sua arte e a sua sensibilidade, aí está a ausência de ordem, no melhor sentido da palavra. Ordem burguesa. Ordem convencional (NAVARRO, 1974, s/p.). Nesse texto, Nilo Pereira refere-se às crônicas de Navarro que priorizam, nos seus escritos, os subúrbios e as pessoas simples do Cais do Porto, do Canto do Mangue e da Praia da Redinha, individualizando-as na medida em que dava nomes às pessoas e relatava suas características particulares. As transformações urbanas que se iniciaram em Natal, a partir da segunda metade dos anos de 1940, ignoravam as aspirações das populações que viviam à margem do rio Potengi e no litoral natalense. Navarro posicionava-se contra essas transformações. Nas suas crônicas sobre a Praia da Redinha, o escritor afirmou sua preferência por esta nas décadas de 1930 e início da década de 40, período anterior às transformações. Para ele, as mudanças ocorridas nesse trecho do litoral potiguar tiraram a beleza da praia.
No jornal A República, Newton Navarro escreveu acerca do cotidiano de bares e restaurantes de Natal, associando a sua vivência nesses lugares ao cotidiano da cidade. O autor era frequentador de praias e de bares dos bairros da Ribeira, de Santos Reis e das Rocas, por isso os principais temas de suas crônicas eram os logradouros da Ribeira e de Santos Reis, o rio Potengi, o Cais do Porto na Avenida Tavares de Lira (Ribeira), o Canto do Mangue (Rocas) e as praias da Redinha e de Ponta Negra. Esses espaços eram, ao mesmo tempo, objeto de suas crônicas e os lugares de sua boemia. Navarro experimentou esses espaços na presença de amigos e no contato com os pescadores e trabalhadores dos barcos que faziam a travessia com destino à Praia da Redinha. Nos bares, o cronista bebia com seus companheiros, partilhando ideias, sentimentos e valores. Os textos de Navarro eram ricos em informações, permitindo-nos elaborar uma representação da boemia na cidade de Natal através de sua experiência boemia. As crônicas não apenas forneceram dados para localizar os espaços da boemia, mas foram essenciais para a compreensão da dinâmica da mesma na cidade de Natal.
Muitos bares do bairro da Ribeira ou das áreas suburbana diferiam bastante de ambientes mais sofisticados, como por exemplo, da Confeitaria Cisne e da Confeitaria Delícia. A categoria social, dependente das condições físicas ou da qualidade das mercadorias comercializadas, constituía uma variável de diferenciação das casas de bebidas. Os fregueses do botequim estavam diariamente no lugar consumindo bebidas e comidas, possuíam um baixo nível de instrução e de poder aquisitivo. O botequim é a casa de bebida que apresenta maior número de fregueses assíduos, como mostra a seguinte citação: ―No botequim, a assiduidade dos fregueses é de tal ordem, que em muitos casos o botequim depende deles para sobreviver, tal é sua participação na renda do estabelecimento (SILVA, 1978, p. 84). O botequim é o bar frequentado pela população pobre, trabalhadores do cais do porto, biscateiros ou moradores de rua, que compareciam ao lugar quase diariamente para beber e fazer suas refeições. As fontes não nos permitiram avançar numa discussão a respeito da boemia das camadas populares, que ocorria nas zonas de baixo meretrício (Ribeira), nos bares do Beco da Lama (Cidade Alta), nos botequins do Canto do Mangue (Rocas) e nos botecos situados no Cais da Avenida Tavares de Lira e nos bairros da Ribeira e do Alecrim.
Outro espaço da boemia na Ribeira foi o Taboleiro da Baiana, que funcionou nas décadas de 1940 e 50, na Praça Augusto Severo. O bar não possuía portas, permanecendo aberto vinte e quatro horas do dia. Os fregueses procuravam o bar para beber e conversar acerca dos mais variados assuntos. As meretrizes, após o encerramento de seu expediente, compareciam aos bares abertos durante a madrugada com a finalidade de fazer um lanche ou uma última refeição. Na Peixada Potengi, situada na Avenida Tavares de Lira, os boêmios chegavam para comer e tomar uma cerveja, uma dose de conhaque, umas taças de vinho ou algumas doses de uísque. A casa ficava aberta 24 horas por dia. Na madrugada, recebia homens e meretrizes dispostas a fazerem a última refeição antes do descanso. Bares que permaneciam abertos 24 horas por dia eram, muito provavelmente, o último ponto de parada dos boêmios que saíam de bar em bar, até amanhecer, em busca de bebidas, conversas e diversão.
PEIXADA DA COMADRE
Newton Navarro escreveu no jornal A República, em 23 de agosto de 1956, a crônica Peixe, descrevendo um restaurante e afirmando ter sentado em uma mesa com um amigo para apreciar um delicioso peixe, ter bebido algumas taças de vinho, observando poeticamente o rio Potengi, o mar, o vento, as moças, os cheiros e os sabores, elementos sempre presentes em suas crônicas (FRANÇA, A República, Natal, 22 ago. 1946, s/p.). Tratava-se da Peixada da Comadre, aberta em 1931, por Isaura Pereira da Silva, à Rua São João 1, no Canto do Mangue, bairro das Rocas. Na década de 1950, o estabelecimento funcionava das 18 às 22 horas e era frequentado por políticos, empresários, funcionários públicos, jornalistas, intelectuais e integrantes de outros segmentos da sociedade natalense. A especialidade da casa era o peixe cozido com pirão, mas comercializavam-se bebidas alcoólicas, como vinho, cachaça, cervejas e uísques.
SAINT-EXUPÉRY e CÂMARA CASCUDO
Por João da Mata Costa
O Autor de Voo Noturno nunca esteve em Natal em Missão Oficial, nem está comprovado que ele se inspirou no nosso Baobá para escrever o Pequeno Príncipe. Saint-Exupéry passou em Natal em direção à Argentina.
“Saint-Exupéry passou várias vezes em Natal quando se dirigia à Argentina, para retornar seu posto. Dr Túlio Fernandes e Dr Osório Dantas são testemunhas de sua passagem, como também Luís da Câmara Cascudo, na casa do qual o piloto francês ia consultar a biblioteca ( Bernard Alléguède, Os Franceses no Rio Grande do Norte)
O dia 29 de junho é o Dia Internacional do Pequeno Príncipe, um clássico eterno. Por lei Municipal de Natal existe o Dia do Baobá, que vai ser comemorado no dia 20 de julho, no Baobá do Poeta, na avenida São José.
“Aqueles que passam por Nós,
Não vão sós,
Deixam um pouco de Si.
Levam um pouco de Nós.”
(Antoine de Saint-Exupéry)
I- A Prisão de Cascudo
O pôr-do-sol no Canto do Mangue é um dos mais belos de Natal. Lugar mágico de muitas histórias e lendas, pescador adora contar causos. É um lugar ótimo para pesquisar a vida no mar e seus segredos. Câmara Cascudo descia de sua casa na Ribeira, e durante décadas ia pescar histórias e estórias nessa universidade popular. Levava uma aguardente de cabeça para os pescadores e estava feita a festa. A conversava ficava animada e os homens do mar soltavam a voz e a verve. Numa das vezes que Cascudo foi pesquisar, a conversa com os pescadores esquentou, houve acirramento de ânimos entre eles, que foi preciso chamar a polícia. Todo mundo preso. O delegado de cabeça baixa chama um por um, pergunta o nome, e manda recolher ao xadrez. Chega a vez de Cascudo, o delegado sem olhar nos olhos, pergunta. – Seu nome: Luis da Câmara Cascudo. O delegado assustado disse, deve tá havendo um erro muito grave aqui. Como pode, o comendador preso. Cascudo muito calmo disse que obedece a lei. O delegado, manda soltá- lo e pede mil desculpas. Os pescadores ficam. Cascudo disse, não. Eles são meus amigos e eu fico com eles. Solto todos, voltaram para continuar a pesquisa. Cascudo escreveu dos belos belos livros com a temática de pescadores; Jangada e Jangadeiros
II – A Estátua de Saint-Exupéry
Em 2008 foi colocada uma estátua do escritor francês Saint- Exupéry sentada num banco, na praça Pôr do Sol, no Canto do Mangue. O Escritor contemplava o rio Potengi . De repente apareceu ali algo que não estava no cenário marinho de ar salobre. Um menino vem e dá-lhe uma paulada arremessando o dedo de gesso para longe. Outra paulada e vai embora a cabeça que veria o pôr-do-sol. Num fica uma semana.
– Pergunto ao colega Valério se aquela cena não seria um protesto contra aquele homem colocado em plena praça dos pescadores. Ao que Valério responde:
– que nada… ninguém sabe do que se trata e muito menos o que representa aquele monumento engessado. Tento levar a discussão para o tema da educação, mas o meu colega de canto de mangue diz que é complicado se for utilizar desse viés. O caso é que ninguém foi informado. E ninguém sabe quem é, pouco interessado se ele veio a Natal. Tava incomodando, vá pousar noutro terreiro.
Pescador tem muitos segredos e a branquinha aquece o coração de marear. O mar é para poucos e destemidos homens curtidos de espuma e sal que protege a vida. Valério entende tudo de peixe, mas não vai pescar.
Até a volta! Adeus Pernambuco
REDINHA
Antigos veranistas contam que a imagem de N. S. dos Navegantes, antes situada na capelinha, foi levada à Igreja, ocasionando revolta por parte dos moradores. “Durante os dois primeiros anos a Igreja de Pedra não celebrou missas em função do desaparecimento da imagem, que segundo a comunidade, teria sido roubada pelos pescadores. Em 1956, a imagem de Nossa Senhora foi encontrada no Canto do Mangue. Numa trégua entre as duas partes, foram doadas duas imagens, dando assim, origem a Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes”.(Sérgio Vilar -Diário do tempo redinha Velha 3).
BAR PERNAMBUCO
Quem conhece o “Bar do Pernambuco?” Pescador que aprendeu a cozinhar por necessidade e ofício, Edson Ferreira Machado é o famoso “Seu” Pernambuco, autoridade da culinária praieira no Canto do Mangue há mais de 60 anos. No espaço público onde atracam as embarcações de pesca à beira do rio Potengi, ele comanda o Bar do Pernambuco, famoso pelo preparo de variados pescados e iguarias do mar. Nascido há 96 anos em Goiana, zona litorânea pernambucana, o cozinheiro traz no sangue as histórias e o conhecimento de culinária.
AUSÊNCIAS
A ausência de uma política de valorização tanto histórico-paisagística quanto ambiental do próprio rio é, ao mesmo tempo, causa e efeito do processo de crescimento da cidade nos moldes que ela vem ocorrendo. Com efeito, o rio pode ser visualizado pelo habitante de Natal em alguns raros pontos privilegiados da cidade, como na Pedra do Rosário, no Canto do Mangue, nas imediações da Fortaleza dos Reis Magos ou na Rampa – neste último quase sempre por pessoas de maior poder aquisitivo, por ser um espaço fechado.
Mais recentemente, ele também pode ser espetacularmente visualizado na nova ponte Newton Navarro, inaugurada em 2007, de onde se vislumbra não somente o estuário do rio, mas também o mar e a cidade do Natal. Contudo, o fato é que, no dia-a-dia da cidade, ele não é normalmente visto. Cantado em verso e prosa e com um “dos mais belos pores-do-sol do mundo”, como costuma afirmar orgulhosamente o natalense, o rio não é apreciado realmente, não faz parte da paisagem, como acontecem em tantas outras cidades.
FONTES SECUNDÁRIAS:
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TERRA, CASA E PRODUÇÃO. REPARTIÇÃO DE TERRAS DA CAPITANIA DO RIO GRANDE (1614) / Rubenilson Brazão Teixeira. Mercator (Fortaleza) vol.13 no.2 Fortaleza May/Aug. 2014