A defesa de Natal em caso de ataque aéreo durante a Segunda Guerra Mundial

Embora Natal/RN estivesse muito longe das principais batalhas da Segunda Guerra Mundial, a cidade se preparou para um eventual ataque aéreo das forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Não era para menos uma vez que a capital potiguar sediava várias instalações militares americanas e brasileiras.

O que não se sabia ou preferia omitir para colocar a população em contante alerta contra sabotagens era que não havia naquela época um avião militar com autonomia para cruzar Atlântico realizar a tal missão e voltar a sua base de origem. Mesmo assim, diante da eventualidade, houveram vários preparativos, entre os quais, a execução de exercícios simulados e a construção de abrigos antiaéreos.

Vista aérea do bairro de Petrópolis. Acervo: Diário de Natal

INSTRUÇÕES DE DEFESA DA POPULAÇÃO DE NATAL NA II GUERRA

Regras indispensáveis a boa execução da extinção e disciplina de luzes

Em todos os jornais que circulavam em Natal eram publicadas as orientações repassadas a população de Natal sobre a execução da extinção e disciplina de luzes (ou black-out como eram chamados os apagões gerais em caso de ataque a cidade).Eis a seguir as referidas orientações :

  1. Lembra-te que uma pequena fresta de luz, pode ocasionar dezenas de vitimas. Veda bem tuas janelas, tuas portas e os faróis de teu carro.
  2. Cuida dos faróis, colocando sobre eles papel espesso ou pano preto com abertura de meio centímetro de largura por cinco centímetros de comprimento.
  3. Conserva-te a noite em tua casa. Só saias quando tiveres urgente necessidade.
  4. Ao tocar a sirene anunciando a aproximação de aviões verifica se estão bem vedadas as luzes da tua casa. Recolhe-te ao abrigo com merenda e água.
  5. Para teu carro ao lado direito da rua, bem encostado a calçada.Apaga as luzes.Encolha-te ao abrigo.
  6. Se estiveres numa casa de diversões ou num bonde coopera para evitar pânico. A saída deve ser sem atropelo em demanda do abrigo mais próximo.
  7. Não fumes, coopera pela higiene e não lance boatos alarmantes no abrigo. Lembra-te que as autoridades castigam severamente os “boateiros”.
  8. Se não tiveres tempo de alcançar o abrigo, coloca-te a parede. Minorarás os perigos que corres.
  9. Não saias do abrigo antes do sinal de fim de alarme. Os estilhaços das granadas antiaéreas costumam fazer vitimas entre aquelas que não obedecem esta prescrição.
  10. Procura cooperar em todos os sentidos com as autoridades militares e civis, principalmente obedecendo as ordens que receberes sem discussão.
  11. Mantêm-te de animo forte. Confia nos chefes militares e na tropa. E lembra-te que enquanto está abrigado eles estão arriscando a vida para te defender.(DIÁRIO DE NATAL, 20/03/1942,p.1).
    Como já dito as orientações tinham a finalidade de instruir a população em caso de soarem as sirenes de alarme que indicavam ataque sobre a capital potiguar.

Aviso a população de Natal

Ao Governo do Estado cabia a função de orientação da população sobre a a realização dos exercícios de apagamento das luzes em Natal.A seguir um aviso do governo do estado sobre o mesmo.

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A antiga Praça Pio X (atual Catedral Metropolitana) possuiu um abrigo antiaéreo.

Exercício de extinção e disciplina de luzes

O interventor e o Comandante da Guarnição já fizeram recomendações ao povo de Natal de como deve proceder relativamente a iluminação e ocupação de abrigos no caso de bombardeio aéreo. Torna-se agora necessário seja realizado um exercício afim de que todos tomem parte num treinamento que nos torne mais aptos a agir no momento preciso.

Para isso dentro de poucos dias realizaremos um exercício com o fim de verificar se estão compreendidas as providencias a serem tomadas em relação as luzes. Contamos com o mais decidido apoio da população que assim estará colaborando da maneira mais eficiente para a defesa do Brasil. (DIÁRIO DE NATAL, 23/02/1942, p.1).

Segundo o Diário de Natal em 03/03/1942 foi realizada a noite a primeira experiência de defesa antiaérea. Conforme havia esclarecido minuciosamente o comando da Brigada de Infantaria tratava-se da extinção das luzes da cidade durante algum tempo, e da verificação por meio de uma esquadrilha de aviões do trânsito e da iluminação das casas particulares.

“Mais uma vez acentuamos que esse exercício nenhum mal fará a população. Ao contrário, isso o instrui sobre perigoso que poderiam acontecer contra a nossa capital” (DIÁRIO DE NATAL, 03/03/1942, p.1), dizia o citado jornal para tranquilizar a população natalense.

A experiência começaria as 20h00, mais ou menos, prolongando-se até cerca de meia-noite a fim de que fossem devidamente observadas pelas autoridades militares a situação da cidade. A população deveria acompanhar tranquilamente essa manobra de defesa e confiar nas providências que o Governo e o Comando da Brigada tomaria em casos de perturbação da ordem ou de pânico. O inicio seria assinalado pelo alarme das sirenes, seguido das projeções luminosas e localização. Uma esquadrilha de aviões sobrevoaria a cidade.

A leitura atenta das instruções que estavam sendo divulgadas nos jornais facilitaria a maneira de serem cumpridas as determinações oficiais
Foram convidados também todos os médicos que faziam parte da equipe organizada pelo capitão Aníbal de Azevedo, a comparecerem a seus postos, por ocasião dos exercícios das luzes. (DIÁRIO DE NATAL, 03/03/1942, p.1).

Inauguração do primeiro abrigo antiaéreo da capital

Segundo o jornal Diário de Natal realizou-se em 02/03/1942 as 10h00 a inauguração do primeiro abrigo antiaéreo construído em Natal. “Esse acontecimento corresponde ao apelo do governo e das autoridades militares desta capital como recurso de segurança individual e coletiva em casos de ataques aéreos contra a cidade, em vista da ruptura das relações diplomáticas entre Brasil e as potencia do Eixo e da situação geográfica em que se encontra a capital do Rio Grande do Norte”(DIÁRIO DE NATAL,03/03/1942, p.1).

O abrigo era de propriedade do Sr. Amaro Mesquita, chefe da firma Galvão, Mesquita & Cia, comerciante respeitado na capital potiguar e ficava no terreno da sua residência na Av. Hermes da Fonseca, no Tirol e foi construído de acordo com a planta fornecida pelo major Domingos Moreira e por este administrada a construção.

O abrigo oferecia todas as condições de segurança e constituía mais um serviço que o major Domingo Moreira prestava a capitão. O Sr. Amaro Mesquita, era um comerciante muito conceituado e conforme o Diário de Natal “demonstrou por sua vez, a mais perfeita compreensão da utilidade dos conselhos e instruções sobre as eventualidades do momento, dando a sua família a certeza de um ponto certo de defesa contra qualquer perigo” . (DIÁRIO DE NATAL, 03/03/1942, p.1).

Imagens ilustrativas de abrigos antiaéreos da II Guerra.
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