Do escotismo ao clube de tiro: a reação natalense a I Guerra Mundial

As preocupações das elites natalenses com a saúde dos corpos e mentes da mocidade são expostas regularmente em artigos de jornais. Em 1916, A Republica publicou a seguinte
nota:

É sabido que a educação physica preoccupa tambem seriamente, hoje, os dirigentes das grandes potencias. A pratica dos sports, por meio dos quaes tem-se a certeza d’uma raça forte no futuro, é seguida e amparada efficazmente pelos poderes publicos dos paizes adiantados.(…) têm elles ministrada nas escolas ou em outros estabelecimentos uma educação physica capaz de tornal-os sadios, aptos portanto a poder ser verdadeiros soldados. Para essa educaçào physica, procedente e observada nas nações adiantadas, a pratica de sports é o principal factor. (NOTAS sportivas, A Republica, Natal, 19 set. 1916.).

Quando não se duvidava mais dos poderes regeneradores do esporte e da sua importância na formação do caráter do indivíduo, o ensino da educação física passou a ser incluído nos programas das escolas públicas como disciplina regular, especialmente nos cursos primários. A implementação da educação física nas escolas demonstra uma atenção e uma preocupação do Estado em usar o esporte como complemento da formação dos cidadãos norte-riograndenses. (MENSAGEM do Presidente de Província 1894, S 5-4.).

Escotismo

Essa atenção especial para com os futuros cidadãos republicanos seria intensificada com o surgimento do primeiro grupo de escoteiros de
Natal. O escotismo, aliado aos ideais de saúde e disciplina dos corpos, difundidos pelas associações esportivas, seria responsável pelo desenvolvimento de cidadãos patrióticos e saudáveis, aptos a servir a sociedade desde a infância.

Fundada em 24 de junho de 1917, por um grupo de idealistas (Luís Soares Correia de Araújo, Elói de Souza, Meira e Sá, Henrique Castriciano, Moisés Soares e Monteiro Chaves). A Associação Escoteira do Alecrim foi dirigida durante 54 anos pelo professor Luiz Soares, que acumulava com a função de diretor do Grupo Escolar Frei Miguelinho. Sendo reconhecido como um dos mais brilhantes educadores do Estado.
Fotografia no dia do encerramento do ano letivo em 30 de novembro de 1913.
O açuense Luiz Correia Soares de Araújo (1888-1967) foi o orador da primeira turma de diplomados pela Escola Normal de Natal (1910). Uma notável vocação de educador, que se projetou pela vida toda. Homem simples e austero, perseverante e dinâmico, digno chefe de família, tornou-se, principalmente, o paladino insuperável do escotismo na terra potiguar. Combateu tenazmente o jogo, o alcoolismo, o fumo e todos os males que podem comprometer o futuro da juventude.

A idéia de se criar em Natal uma
associação de escoteiros no Estado surgiu em 1916. À frente dessa idéia, estavam intelectuais como Henrique Castriciano, Luiz Soares e Manuel Dantas.

O escotismo deveria proporcionar aos membros mais jovens das elites uma educação moral, física e cívica. Com a criação do primeiro grupo de escoteiros da cidade, a Associação de Escoteiros do Alecrim, em 1917, respondeu-se a alguns anseios das elites natalenses, que demonstrava preocupação com o futuro da nação, caso o Brasil se envolvesse em uma guerra. Portanto, o envolvimento do Brasil na Primeira Guerra Mundial causou alvoroço na imprensa local, multiplicando-se os apelos pela educação moral e física dos jovens natalenses.

A instalação do Grupo de Escoteiros do Liceu Industrial ocorreu durante a gestão de Jeremias Pinheiro da Câmara Filho, em dezembro de 1939 tendo contado com o incentivo do Professor Luis Soares, chefe da Associação dos Escoteiros do Alecrim. O objetivo da prática do escotismo na escola era a formação do caráter da juventude de então.

Tiro de Guerra

Em 1917, quando o país entrou oficialmente no conflito, um grupo de jovens natalenses reuniu-se no Atheneu no intuito de montar um clube de tiro. O Tiro de Guerra foi bem recebido pela sociedade, que considerava a fundação do clube uma “patrictica idéa [que] tem encontrado a solidariedade dos nossos jovens conterraneos que, comprehendendo a gravidade do momento que atravessa paiz, irão alistar se no batalhão de atiradores dispostos a um cuidadoso preparo no manejo das armas.” ( A REPUBLICA, Natal, 10 nov. 1917.).

Em 1º de março de 1859, o Atheneu foi instalado no edifício da rua Junqueira Ayres e permaneceu lá até 1954.

A criação da associação de escoteiros em 1916 e a fundação do Tiro de Guerra natalense em 1917 refletem as preocupações das elites com  a segurança nacional. A formação do homem moral e fisicamente forte era uma preocupação que motivava as associações esportivas e as elites. Porém, outros motivos também 
impulsionavam a prática de atividades físicas na cidade.

O esporte, nesse período, ainda era 
uma prática amadora e a reunião de sócios nos treinos e competições era mais uma forma de lazer oferecida às elites. A competitividade dos jogos e a disputa entre os times não ficavam restritas apenas aos sócios e esportistas. As emoções do jogo expandiam as fronteiras dos clubes e se espalhavam pelas torcidas da cidade.

AO MAR GENTE MOÇA!: O ESPORTE COMO MEIO DE INSERÇÃO DA MODERNIDADE NA CIDADE DE NATAL por Márcia Maria Fonseca Marinho.

Loja Virtual do Fatos e Fotos de Natal Antiga

administrador

O Fatos e Fotos de Natal Antiga é uma empresa de direito privado dedicada ao desenvolvimento da pesquisa e a divulgação histórica da Cidade de Natal. Para tanto é mantida através de seus sócios apoiadores/assinantes seja pelo pagamento de anuidades, pela compra de seus produtos vendidos em sua loja virtual ou serviços na realização de eventos. Temos como diferencial o contato e a utilização das mais diversas referências como fontes de pesquisa, sejam elas historiadores, escritores e professores, bem como pessoas comuns com suas histórias de vida, com as suas respectivas publicações e registros orais. Diante da diversidade de assuntos no mais restrito compromisso com os fatos históricos conforme se apresentam em pouco mais de um ano conquistamos mais de 26 mil seguidores em nossas redes sociais o que atesta nossa seriedade, compromisso e zelo com o conteúdo divulgado e com o nosso público.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *