Natal, cidade polo industrial dos anos 1960-1970
Com a implantação de projetos industriais na cidade, como por exemplo, o DIN (Distrito Industrial de Natal), localizado no bairro de Igapó, na Zona Norte da cidade, em 1970, Natal passou a participar da política de industrialização nacional, desenvolvida no âmbito regional, através da SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste).
“Em face dos incentivos fiscais e financeiros, Natal passou a atrair empresas de capitais nacionais e estrangeiros de diversos ramos, para a sua área. Entre as indústrias atraídas pelos benefícios dados pelo Estado, destacam-se as seguintes: White Martins; Sanbra Sociedade Algodoeira Nordeste do Brasil S.A., Anderson Clayton Indústria e Comércio; Seridó Fiação Tecelagem e Confecções, além de outras como Matarazzo Indústrias Reunidas, Purina Alimentos Balanceados, Alpargatas Confecções, Soriedem Confecções, etc.” (CUNHA, Gersonete Sotero de. Natal: expansão territorial urbana. Natal: UFRN, 1991, p. 30).
Com os incentivos para a indústria, Natal passou a ter mais um grande atrativo para a população migrante. O incentivo industrial também foi muito importante para a urbanização da cidade, uma vez que “uma série de políticas públicas foram implementadas, contribuindo para que a cidade passasse a oferecer, aos seus moradores, uma série de serviços como habitação, calçamento e drenagem, até então bastante precário”. (CLEMENTINO, Maria do Livramento Miranda. Economia e Urbanização: o Rio Grande do Norte nos anos 70. Natal: UFRN – CCHLA, 1995. 371 p., p. 100). Esse dinamismo econômico levou a expansão horizontal da cidade em direção ao norte.
O desenvolvimento do setor industrial, ainda que modesto, possibilitou uma política habitacional direcionada para a reprodução da força de trabalho, “desta forma, assiste-se à construção de inúmeros conjuntos populares na Zona Norte da cidade, com a finalidade de lá fixar os trabalhadores que iriam fornecer a mão-de-obra nas diversas indústrias do Distrito Industrial” (PETIT, Aljacyra Maria Correia de Melo. A produção de moradias na cidade de Natal no período de 1977 a 1981. Rio de Janeiro, p. 26).
A Petrobras chegou a Natal, nos anos 1970-1980, proporcionando o estabelecimento de muitas empresas, concessionárias e prestadoras de serviços, e trazendo para a cidade um grande número de técnicos qualificados, com nível salarial mais alto do que a média existente. Para o desenvolvimento econômico da cidade, contam, ainda, a permanência dos militares – além dos agrupamentos já existentes, é criado o III Distrito Naval, o Comando Aéreo de Treinamento (CATRE) e o Centro de Lançamento de Foguetes da Barreira do Inferno – e o desabrochar para as atividades turísticas (FERREIRA, Ângela Lucia de Araújo. A Produção do espaço urbano em Natal. Incorporadores. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE. Estado e movimentos sociais urbanos. Natal 1991. Relatório II).
A partir de 1985, Natal intensificou sua participação no processo de urbanização brasileira, com a implementação da infra-estrutura que não possuía até então. A categoria rural das terras e a frágil legislação contribuíram para uma rápida apropriação do solo, com o loteamento de diversas propriedades, que denunciavam a correlação entre os latifundiários rurais e os novos empreendedores imobiliários da cidade (FERREIRA, Ângela L. de A.; MEDEIROS, Anita A. de; QUEIROZ, Luiz Alessandro.
Momentos Históricos da produção e da configuração do espaço construído em Natal. Vivência, v. 5, n. 1, p. 63-74. jan./jun. 1992). No período de crescente urbanização da cidade de Natal, as economias de base do estado (algodão, sal e mineração) estavam em crise, passando a ocorrer uma migração do capital que antes era investido nessas economias para o setor imobiliário.
Na década de 1970, houve também um grande surto migratório de origem nitidamente rural, que foi intensificado, na década de 1980, com a redução da utilização de mão-de-obra na agricultura, tanto por ocorrência da seca, como pela mecanização e sazonalidade do trabalho nas áreas que se especializaram para o setor exportador (ANDRADE, Ilza Araújo Leão de et al. Mapeamento e análise dos conflitos urbanos em Natal 1976/1978. Natal, 1987. Relatório de Pesquisa.(mimeo)).
Ferreira (1991) aponta para uma capitalização do setor da construção civil. A autora, usando números do Cadastro Industrial de 1988, “demonstra o crescimento deste setor: das 266 empresas existentes, 18.4% surgiram na década de 70 e 74.9% na de 80”. Ela atribui esse crescimento a obras promovidas pelo Estado, principalmente no setor habitacional, favorecendo a realização de capital por parte das empresas construtoras: “Em torno de 50 construtoras estiveram envolvidas diretamente nesta atividade.
Este número aumenta se for levado em consideração que as grandes construtoras subempreitavam, para determinadas atividades, empresas de menor porte” (FERREIRA, 1991, s.p). Tal fato é exemplificado por Petit (1990): “Com a explosão no ramo da construção civil, ocorre o surgimento de indústrias subsidiárias de pequeno e médio porte, como as de blocos de concreto, vigas e cerâmicas em geral, que contribuíam para aumentar o mercado de trabalho Ferreira (1991) também acusa essas empresas de cometerem superfaturamento e agirem através de articulações políticas.
Segundo a autora, 14 empresas foram privilegiadas, principalmente por influência política: “criaram uma
estrutura empresarial de grande porte que as coloca entre as 100 maiores empresas do estado do Rio Grande do Norte; quanto ao capital social, destas, 12 construtoras atuaram como incorporadoras” (FIERN apud FERREIRA, 1991). A autora lembra o dinamismo desse setor. Quando, a partir de 1985, diminuiram as obras do setor da habitação e foi intensificada a participação nas atividades turísticas, com a construção de hotéis, a indústria da construção civil migrou da habitação para o turismo.
A CASA PRÓPRIA: SONHO OU REALIDADE? Um olhar sobre os conjuntos habitacionais em Natal. NATAL – RN 2007. SARA RAQUEL FERNANDES QUEIROZ DE MEDEIROS.