Uma das mais flagrantes mudanças estabelecidas pela população local em relação à natureza foi um novo lidar com o mar e com as praias da capital. Nas primeiras décadas do século XX, o banho de mar tornou-se cada vez mais presente no gosto da população, que passou a frequentar as praias com uma maior assiduidade.
Grupos de famílias, de jovens, de amigos, costumavam ir à praia com o intuito de divertir-se, banhar-se, fazer “pic-nic’s”, passar o tempo, passear e, até mesmo, usar o mar como um instrumento terapêutico, tal como pregava a medicina da época. O médico Januário Cicco, ao tratar da topografia e da geografia médica de Natal, escrevia que a cidade de Natal “é batida pelo vento este-sudeste contante e moderado, trazendo à cidade as riquesas de um ar marinho, leve, puro e tonificador”.
Já em março de 1902, um articulista, que usava o codinome de “Lulu Capeta”, escreve uma pequena nota cujo sugestivo título é “Tudo é febre”, nela o jornalista fala sobre a criação do bairro da Cidade Nova e do desejo que os natalenses tinham de ir morar no novo recanto da cidade. No texto, ele descreve as modas pelas quais passou o natalense, sendo a “febre dos banhos salgados” aquela que marcaria os primeiros anos do século XX.
Na imagem abaixo, percebemos a pouca ocupação da praia de Areia Preta, uma das praias onde o banho de mar era mais frequente. Outro local bem frequentado era a localidade próxima a ponta do morcego. Nela percebemos pequenas choupanas ocupadas por pescadores, a presença de jangadas num dos focos principais da imagem estabelece a relação que o natalense que vivia naquela porção da cidade tinha com aquele espaço. Naquele começo do século XX as faixas de praia da cidade era o lugar de morada de famílias de pescadores, que viviam próximos ao mar, tão somente devido a sua atividade de trabalho.
“A febre dos banhos salgados” se estabeleceu, pouco a pouco, em Natal numa perspectiva de sociabilidade burguesa, favorecendo a ocupação de um espaço até então considerado inóspito. Entretanto, foram muitas as queixas no sentido do mau uso por parte da população dessa dádiva natural. Uma série de denúncias sobre esse “mau uso” foi publicada no jornal “A República”, tais como a utilização das cabanas para vestiário e outras “necessidades”, bem como a prática de tomar banho “sem roupas apropriadas nas altas horas do dia”.
No início do século XX, o modismo do banho de mar trouxe a vontade de morar próximo às praias da cidade ou, no mínimo, de viver bons momentos de frente ao mar. É nesse período que começam a ser construídas as primeiras casas próximas à praia, se não para morar, as casas serviam para passar os finais de semana ou para as férias e veraneio.
Modificações
A cidade de Natal, ao longo de sua história, vem passando por diversas modificações em seu ordenamento espacial e consequentemente, na paisagem costeira. Nesse sentido, se faz necessário remetermos a alguns períodos cronológicos da história da cidade e citarmos como forma de situar a modificação estrutural pela qual a cidade está passando.
A cidade de Natal passou por vários momentos de desenvolvimento, e o que mais se destacou ocorreu durante a 2ª Guerra Mundial, onde Parnamirim sediava a base militar e que servia como ponto estratégico para os aliados, principalmente os Estados Unidos. Nesse momento, a população da cidade de Natal aumentou significativamente, em relação aos demais períodos.
Os militares que aqui se instalaram foram os primeiros a descobrir e aproveitar as belezas desta cidade, que antes eram apenas frequentadas por pescadores e pessoas com baixo poder aquisitivo, que moravam no entorno da área. Com o término da Segunda Guerra Mundial, em menos de um ano, a cidade entrou em decadência econômica e social (de 1945 a 1952), porém a sua população continuou a crescer.
No período de 1950 a 1960, o potencial turístico de Natal continuava a ser incipiente. Nas décadas seguintes, esse quadro iria mudar definitivamente, em virtude dos investimentos públicos e privados que estavam sendo oferecidos pelo governo federal, estadual e municipal.
Nas últimas décadas do século XX, a cidade de Natal passou por um processo de urbanização sendo acompanhado por uma gama de investimentos, trazendo alguns pontos positivos. Um deles foi à atividade turística, mesmo que incipiente em Natal dá início aos primeiros passos rumo ao desenvolvimento econômico.
Com o surgimento dessa atividade, a economia da cidade é marcada pelas políticas implementadas por intermédio da Empresa de Turismo do Rio Grande do Norte (EMPROTURN), que foi criada para dinamizar o setor que estava em expansão na cidade e em especial a zona costeira (FURTADO, 2008). Com a expansão do turismo foi possível a realização de algumas modificações estruturais no entorno da cidade, expandindo este setor com os incentivos da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), que na época (meados da década de 1960), estava em plena atividade.
Modernização
Um momento modernizador para a cidade, um marco para a cidade que antes crescia com suas edificações de costas para a beira-mar, foi a construção da Avenida Circular. Está via se insere ainda a cidade na lógica nacional de valorização do Sol e Mar, principalmente por causa da atividade turística. O prefeito de Natal, Sylvio Pedroza, articulou a construção de um hotel de grande porte para a cidade. De acordo com as reportagens do período, o projeto foi encomendado.
Na década de 1950, o sol que brilhava na cidade de Natal, não foi conveniente só para alimentar a “indústria da seca”, os que não eram vitimados pelas paisagens de miséria encenadas pelo astro –, paisagens historicamente construídas, que serviu como benefício estratégico a certos grupos políticos –, já eram capazes de percebê-lo como um aliado aos prazeres das viagens. Foram novas percepções sendo impostas, novas visualidades, novos discursos que construíam uma nova imagem para a cidade. As transformações na paisagem que contém o sol, aliada as ideias de turismo, começam a surgir para o espaço de Natal como agradável aos olhos, um elemento que na relação com os sentidos humanos deixa de ser somente natural e transforma-se em elemento cultural.
A escrita de Heron Domingues, no jornal A Republica, de 11 de junho de 1956, é esclarecedora dessa percepção em relação à paisagem natural do sol e mar que começa a ser construída interligada ao turismo. O relato de Heron revela que a paisagem é antes de tudo um imaginário, dotado por percepções e sentidos a ser desfrutado, antes experimenta-se os espaços, por meio das imagens discursadas, pré-visualizadas. Uma cidade para oferecer a experiência turística é preciso ter esses espaços idealizados, planejados e materializados.
Construção que começa sendo internalizada, primeiro por meio de discursos que organizam um roteiro imaginário, pré-concebido. A exaltação ao sol de junho, ao clima privilegiado, a paisagem surpreendente, revelam juntamente grandes contradições como: Natal cidade moderna/cadeiras na calçada; por instantes tenho a ilusão de estar no Rio de Janeiro/ falta hospedagem que permita o turismo. De acordo com o relato de Heron, as transformações na cidade começam a ocorrer paulatinamente, podendo por meio do turismo, vir a elevá-la a uma categoria de destaque frente às demais capitais do país.
Transformações
No final dos anos 1970 e início de 1980, Natal passou por enormes transformações. Nesse momento, a cidade já possuía uma configuração espacial moderna, com o traçado de amplas avenidas, mas as mudanças continuaram. A princípio, Natal já possuía o produto essencial para o desenvolvimento, que era a beleza e as paisagens aprazíveis (zona costeira – praias).
Logo em seguida, a antiga EMPROTURN, atualmente Secretaria do Comércio e Turismo (SECTUR), buscava atrair investimentos para a capital e reverter-los em melhorias em infraestrutura urbana (transporte urbanos, melhorias de vias, drenagem de áreas, desenvolvimento de artesanato, entre outros), especialmente nas áreas potencialmente turística, como era o caso do bairro de Ponta Negra. Com o boom turístico que ocorreu a partir dos anos 1980, quando a cidade promoveu vários projetos, dando destaque ao Projeto das Dunas / Via Costeira (hoje denominada de Via Costeira).
O megaprojeto da Via Costeira constituiu na construção de uma imensa avenida que ligaria as praias urbanas de Areia Preta (praias do centro) à Ponta Negra, com aproximadamente 8,5 km de extensão. Esta foi inaugurada em 1983, e passou a ser o marco mais importante na expansão do turismo e também da transformação da paisagem costeira de Natal.
O objetivo do projeto era dotar a área com uma infraestrutura hoteleira, até então insuficiente, para lançar a capital no cenário nacional do turismo. Esse é o início das primeiras ações no estabelecimento de políticas públicas de cunho federal, estadual e/ou municipal direcionadas para a implantação e ampliação da atividade turística regional e local. Com a atração dos investimentos públicos e privados para a construção de conjuntos habitacionais e de empreendimentos econômicos, possibilitou o desenvolvimento e mudanças na paisagem no entorno dessa área, dando destaque ao bairro de Ponta Negra.
A partir desse momento, podemos afirmar que o bairro de Ponta Negra passou a ter grandes modificações, tais como: construção do viaduto de Ponta Negra (1974); asfaltamento da estrada de Ponta Negra (quase 7 km de extensão); urbanização das praias de Natal; construção do Centro de Convenções da Via Costeira (1983); duplicação do trecho Via Costeira / Ponta Negra / Praia de Pirangi (1988), Furtado (2008).
Com o passar dos anos, a cidade de Natal não foge a regra das cidades litorâneas brasileiras, seguindo o modelo voltado para o binômio sol/mar, constituindo-se e/ou construindo espaços objetivamente destinados para a atividade turística. A cidade, no século XXI, incorpora o turismo, transformando as imagens e modificando as paisagens.
Sendo assim, a atividade turística se concretiza cada vez mais no bairro de Ponta Negra, associada a uma intensa transformação socioespacial, devido à construção e ampliação dos equipamentos turísticos pelos agentes do mercado turístico e pelo poder público, intervenções espaciais essas que se revertem no crescimento do número do fluxo e da receita turística. Dessa forma, o turismo possibilita inúmeras melhorias, porém provoca consequências, desde o âmbito social ao ambiental.
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