O bairro de Mãe Luiza
Assim como são escassos os dados sobre a origem do bairro, imprecisas são as informações acerca de sua denominação, aparecendo múltiplas versões.
Segundo documento intitulado “Conheça melhor o seu bairro” elaborado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMURB), o senhor Nenéo um dos primeiros morados da localidade, indicava que esta área onde hoje situa o Bairro Mãe Luiza, era chamada de Novo Mundo, depois os moradores reuniram-se e decidiram chamar de Mãe Luiza. Outro nome dado ao bairro foi Mata do Bode, devido alguns moradores de outras localidades levarem seus animais para pastarem no local (NATAL, 2007a).
Alguns moradores do Bairro Mãe Luiza relataram que havia uma divisão: a localidade de Mãe Luiza correspondia a um espaço, onde hoje situa-se a atual avenida Papa João XXIII, e a localidade de Aparecida era onde se encontra atualmente arua Guanabara. Mãe Luiza também era chamada por moradoresde outras áreas da cidade como Morro da favela.
Há uma atmosfera mística e lendária em torno do nome Mãe Luiza. Para a maioria das pessoas que moraram e moram no bairro, Luiza Pirangi foi uma das primeirasa habitar a localidade, sendo considerada uma referência pelos serviços que exercia comoparteira e lavadeira. Diante desse reconhecimento, possivelmente, foi dado o nome de Mãe Luiza a localidade, depois de sua morte.
Mãe Luiza nasceu como periferia, na década de 1940, em uma região até então desabitada, próxima à praia de Areia Preta, à época frequentada apenas por banhistas e ocupada por uns poucos casebres de pescadores, construídos em palha.
Entre as décadas de 1940 e 1950, o morro de Mãe Luiza passa a ser habitado por uns poucos barracos, inicialmente nas ruas hoje denominadas Guanabara e Atalaia.
No curso da ocupação do espaço que deu origem ao Bairro Mãe Luiza, o ano de 1951 foi marcado pela inauguração do farol, de domínio da Marinha do Brasil. Este evento contribuiu para atrair pessoas para a área, as quais constituíram as primeiras habitações. Assim, ocorreu com o farolinstalado pela Marinha em Natal, que passou a ser conhecido pelo nome da comunidade Farol de Mãe Luiza.
As dunas, também chamadas de mata ou morro pelos moradores mais antigos, sempre representaram uma forte referência para a população de Mãe Luiza. Como relata Aparecida Fernandes, nos moradores mais antigos do bairro, que ocuparam inicialmente a Rua Guanabara, está impregnado um forte sentimento de pertencimento. Tiveram que dominar as matas e vencer os morros, morando em habitações construídas de palha de coqueiro, tábuas ou barro, convivendo com a escuridão, a falta d’água e o desemprego.
Além disso, viviam sob o permanente risco de expulsão, com os barracos levantados à noite e derrubados durante o dia por funcionários do município. Essa situação perdurou até a década de 1950, quando o então prefeito de Natal,Djalma Maranhão, realizou as primeiras doações oficiais de terras e a área foi transformada em bairro, através da Lei nº 794, de 23 de janeiro de 1958. A década de 1950 também foi marcada pela construção do Farol, em 1951, primeira ocupação oficial das dunas.
Ao se criar a estrada de acesso ao Farol, a expansão da ocupação foi conduzida para essa direção.Nesse período, Mãe Luiza constava no plano administrativo do prefeito Djalma Maranhão, em um projeto de lei visando à elaboração de um plano de loteamento para a região. Interessante perceber que nesse Projeto de Lei Nº 92/51 de 22 de agosto de 1951, no seu Art. 2º, constava que o loteamento deveria respeitar a faixa de morros e sem nenhum prejuízo para o sistema de fixação das dunas. Nesse artigo, percebe-se a preocupação, já na década de 1950, coma proteção das dunas, muito antes da vigência do primeiro Código Florestal (Lei Federal nº 4.771/65), que data de 1965.
No final dos anos 1970 e início dos anos 1980 inaugura-se um novo contexto na relação dos moradores de Mãe Luizacom as dunas e a praia. O Projeto Parque das Dunas/Via Costeira, entre as praias de Areia Preta e Ponta Negra, tinha como objetivo criar um distrito hoteleiro na orla marítima de Natal e, para tanto, propôs a construção de uma via litorânea no limite leste do bairro, a Via Costeira. O Projeto também definiu a criação do Parque das Dunas e a realização de melhorias na infraestrutura de Mãe Luiza, visando conter a expansão do assentamento sobre as dunas e promover a melhoria de suas condições de urbanização.
Um evento marcante na história de Mãe Luiza, que demarca a segunda fase de sua evolução histórico-geográfica, foi o reconhecimento da comunidade como bairro da Cidade do Natal, o que se deu por meio da Lei nº 794 de 23 de
janeiro de 1958, na gestão do então Prefeito Djalma Maranhão.
A ascensão à condição de bairro tornou-se fundamental para a implementação de melhorias na comunidade, tendo em vista que este espaço ao passar a ser legalmente reconhecido como parte integrante da cidade assume a condição de alvo de políticas públicas urbanas.
Em decorrência de sua nova condição política enquanto bairro oficialmente reconhecido, Mãe Luiza, na década de 1960, passou por um crescimento populacional que se refletiu na expansão de sua área, assumindo uma dinâmica distinta de épocas passadas.
Dentre os eventos que ocorreram em 1958 e que também contribuírampara o crescimento habitacional nesta área, destaca-se o fenômeno da seca que assolou o Nordeste. A grande seca de 1958 estimulou o deslocamento de pessoas da zona rural para os centros urbanos em busca de moradia e trabalho e Mãe Luiza foi uma das áreas onde parte considerável dos migrantes que vieram para Natal se instalou.
Na década de 1960, uma série de serviços urbanos foram instalados no bairro, o que contribuiu para a melhoria de sua infraestrutura e, consequentemente, da qualidade de vida dos seus moradores. Dentre essas iniciativas, segundo o ano em que foram desenvolvidas, destacam-se:
> 1962 – construção do Acampamento Escolar de Aparecida;
> 1963 – Foram abertos poços tubulares e construído um chafariz;
> 1965 – instituíndo um âmbito do programa “Frente de Trabalho”;
> 1966 a 1969 – período em que foi realizado o calçamento da Rua Papa João XXIII;
> 1967 – instalação da energia elétrica no bairro.
A terceira fase da evolução histórica e espacial de Mãe Luiza, conforme Leitão (1978) ocorre a partir da década de 1970, quando houve um crescimento violento e desordenado do bairro, paralelamente a ocorrência do fenômeno de urbanização que a Cidade de Natal estava passando. Segundo Costa (2000),neste período, a expansão urbana de Natal estava atrelada, principalmente, a política habitacional que se instaurou no país nos anos de ditadura militar; acriação do Distrito Industrial de Natal, o que provocou um grande fluxo migratório para a cidade; além do crescimento do setor terciário.
Ainda na década de 1970, surgiu outra ocupação na parte sul do bairro, mais precisamente nas proximidades da praia, atualmente a Via Costeira, cuja localidade é conhecida como “Barro Duro”. Com isso, teve início à construção de mais um espaço inserido aos limites do bairro, o qual passou a ser ocupadocom mais intensidade a partir da construção da Via Costeira no ano de 1980.
A emergência desses núcleos de ocupação dispersos, sem nenhuma intervenção do poder público, denota a falta de planejamento urbano da gestão municipal. Essa ausência do poder público contribuiu para o ordenamento urbano do bairro da forma como se apresenta hoje, com ruas estreitas, becos, vielas, o que se traduz em problemas porque impedem a circulação de veículos de maior porte, como exemplo, os caminhões da coleta do lixo e de guarnições.
Fontes:
ANUÁRIO NATAL 2013 / Organizado por: Carlos Eduardo Pereira da Hora, Fernando Antonio Carneiro de Medeiros, Luciano Fábio Dantas Capistrano. – Natal : SEMURB, 2013.
Bairro Mãe Luiza: uma abordagem “legal” sobre a realidade local / Ozenildo Gil Silva de Souza. – 2013.
SILVANA FERRACCIÚ MAMERI – PROJETO URBANO EM ASSENTAMENTOS DE ORIGEM INFORMAL: FORMA, AMBIENTE E INSTRUMENTOS DE ACESSO À TERRA URBANIZADA NO COTIDIANO DE MÃE LUIZA, NATAL/RN
SOUSA, Francisco Carlos Oliveira de. Histórico da SEMURB. In: NATAL. Prefeitura Municipal. Secretaria Especial de Meio Ambiente e Urbanismo. Relatório: atividades desenvolvidas no período 2003/2004. Natal: SEMURB, 2004.
Natal RN nasci e vivi até os 25 anos em Mae luiza..