A Praça André de Albuquerque

Símbolo da colonização portuguesa, a Fortaleza dos Reis Magos é, atualmente, nosso principal monumento histórico e recebe anualmente milhares de visitantes. Entretanto, o desenvolvimento da cidade ocorreu em uma área relativamente distante da Fortaleza. Segundo os historiadores, o plano elevado onde atualmente encontra-se a Praça André de Albuquerque, no centro da Cidade Alta, é o núcleo do sítio histórico urbano de Natal.

A Fortaleza dos Reis Magos, construção iniciada em 6 de janeiro de 1598, significou o marco definitivo do domínio Português. Vencidos os confrontos iniciais com os Potiguara, foi fundada a Cidade de Natal, no dia 25 de dezembro de 1599. Nasceu no alto, onde hoje se localiza a Praça André de Albuquerque. Nesse sentido, existe relativo consenso na historiografia norte-rio-grandense acerca de que a região elevada onde atualmente encontra-se a Praça André de Albuquerque, no centro do bairro Cidade Alta, corresponde ao núcleo do sítio histórico de Natal (CASCUDO, 1999).

A história da Praça Vermelha é praticamente uma extensão da história da cidade do Natal, afinal, na medida em que a cidade ia se desenvolvendo, a praça também ia crescendo e tomando forma. Ela, obviamente, não começa com o atual nome, era ainda conhecida como Praça da Matriz quando ganha o nome em 1888 de André de Albuquerque.

Com o advento da República, as capitais e cidades mais avançadas econômica e politicamente ganharam um novo status dentro do processo conturbado de passagem de uma sociedade agrária para uma urbana no Brasil. O serviço de correios, por exemplo, não poderia continuar funcionando baseado apenas nos topônimos locais de uso tradicional.

Não havia mais espaço para denominações como rua estrada nova, rua da palha, beco novo, rua capoeira, rua atrás da cadeia, rua da luz onde mora Pereira, descida do Rosário ou mesmo a rua Grande, largo em torno da qual se dispuseram as primeiras casas e prédios públicos da cidade, o poder religioso e o secular. Agora seriam, respectivamente, ruas José de Alencar, 21 de Março, Voluntários da Pátria, Gonçalves Dias, 11 de Junho, Felipe Camarão, Sete de Setembro e Praça André de Albuquerque. Proposta, depois efetivada, da Câmara municipal de Natal publicada na Gazeta do Natal, Natal, n.40, p.03, 16 maio 1888.

Primórdios coloniais

O Rio Grande. recorte ampliado (1640). Fonte: Atlas da costa do Brasil. Biblioteca Nacional de Portugal (BNP).

Em cumprimento à política urbanizadora de Portugal, do século XVI, os donatários e seus seguidores assentaram numerosas povoações, vilas e cidades ao longo da costa atlântica brasileira (SOUSA, 1976; CASCUDO, 1999):

“A cidade começava à margem direita do rio Potengi, extendia-se até a atual Praça André de Albuquerque e caminhava em direção à Praça Pedro Velho (atual Praça Cívica). Incluía, ainda, nas suas dimensões primitivas, os atuais bairros de Petrópolis e Tirol” (SOUSA, 1976, p. 16).

O centro da Natal do período colonial era a atual Praça André de Albuquerque. Segundo Cascudo (1999, p. 51-52), o local onde a cidade foi construída já havia sido escolhido bem antes da realização das pazes com os potiguares. O padre Francisco Pinto, o amanajara (senhor da chuva), informava que seria “relativamente fácil conservar os indígenas batizados ‘residindo em algumas partes, como será fazendo uma boa residência na nova cidade, que agora se há de fundar, obra de meia légua do forte do Rio Grande’”.

Natal “nasceu” no dia 25 de dezembro de 1599, no alto onde hoje se localiza a Praça André de Albuquerque. O folclorista potiguar Câmara Cascudo em seu livro “História da Cidade do Natal”, descreve os limites iniciais da cidade: “O chão elevado e firme à margem direita do rio que os portugueses chamavam Rio Grande e os potiguares o Potengi compreende o pequeno platô da colina que sobe pela rua Junqueira Aires e desce pela avenida Rio Branco até o Baldo, praça Carlos Gomes. A demarcação foi feita com os cruzeiros de posse tão comuns. Uma cruz no monte […] A cruz ficara chantada no lado esquerdo da elevação […] [atual Praça das Mães] A Cruz do Sul fincou-se no declive do Baldo, margem de um córrego […] o velho Rio da Bica, Rio de Beber […]”. Fonte: arquivo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.

Frei Vicente do Salvador, Diogo de Campos Moreno, Diogo da Beiga e um autor desconhecido confirmaram essa informação cartográfica, embora as distâncias mudem de um quarto a uma légua entre os diferentes relatos. A distância mais frequente, tal qual aparece aqui e em documentos posteriores, é meia légua, cerca de 3 quilômetros, o que condiz perfeitamente, aliás, com a distância atual em linha reta da Fortaleza dos Reis Magos à Praça André de Albuquerque, o marco zero da cidade. Essa distância entre os primeiros núcleos urbanos litorâneos recuados em relação ao mar e suas fortificações à beira-mar era, aliás, uma das estratégias de defesa contra os ataques provenientes do mar.

A Fortaleza dos Reis Magos, a barra do Rio Grande e “a cidade dos Reis” (Natal) – c. 1640. Mapa completo e recorte ampliado. Fonte: ALBERNAZ I, João Teixeira (o Velho). Descrição de todo o marítimo da Terra de Santa Cruz chamado vulgarmente, o Brasil. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. (PT/TT/CART/162). Imagem cedida
pela ANTT.

A regularidade x a irregularidade do núcleo urbano Este é certamente um dos pontos mais obscuros. Ainda que as Figuras (1640) indiquem visivelmente um espaço central regular, livre de construções, as três Figuras anteriores analisadas não confirmam essa informação, embora as cinco Figuras em questão apontem claramente para algum espaço central, destituído de construções.

Alguns historiadores clássicos de Natal afirmam que o sítio da cidade foi demarcado no ato de sua fundação. Rocha Pombo, por exemplo, menciona que, após escolhido o sítio da cidade, em lugar elevado, à margem direita do Rio Potengi, “ali demarcou Jerônimo o perímetro urbano, onde se começou logo a construir uma pequena igreja para servir de matriz” (POMBO, 1921, p. 47).

Câmara Cascudo também menciona que cruzeiros foram utilizados para demarcar a área urbana da cidade (CASCUDO, 1999, p. 52). Mesmo que não citem qualquer fonte que fundamente essa ação, é muito provável que isso tenha ocorrido. Contudo, tal demarcação significou, porventura, algum “plano urbanístico” inicial, regular, para a cidade?

Na ausência de uma documentação comprobatória, o máximo que podemos fazer é especular sobre o assunto. A esse respeito, e em trabalho anterior (TEIXEIRA, 2009, p. 235-236), discorremos sobre alguns indícios que podem indicar a regularidade, senão da cidade como um todo, pelo menos de sua praça central, a atual Praça André de Albuquerque.

Entre outros argumentos apresentados, está o de que Natal já surgiu com o título de cidade (TEIXEIRA, 2019) e, por mais precária que fosse, deve ter recebido, em razão desse status, alguma atenção quanto a um desenho urbano regular, pelo menos em sua praça central. Assim, mesmo que essa questão continue em aberto, tendemos a acreditar que não somente o sítio urbano da cidade foi demarcado, mas que foi imposto um formato regular para a sua praça central, que surgiu juntamente com a cidade, como parecem demonstrar alguns mapas.

Natal em 1599: 1 – Praça André de Albuquerque, 1599 ; – Antiga Catedral, 1694; 3 – Igreja do Rosário, 1714; 4 – Casa da Camara e Cadeia, 1722; 5 – Igreja de Santo Antonio, 1766; 6 – Erário Publico, 1817;
7 – Palácio do Governo, 1868; 8 – Palácio Felipe Camarão, 1922.
Detalhe de um mapa elaborado por João Teixeira Albernaz, incluído no “Livro que dá razão do Estado do Brasil (1612)

Natal do Rio Grande de 1614 num mapa raro de Albernaz no local adjacente à Praça André de Albuquerque, acha-se representada a CIDADE, na qual havia 14 edificações. Já se tem uma idéia da futura Rua Santo Antônio (antigamente o Caminho do Rio de Beber Água), àquela época com 4 casas. A primitiva igreja, ocupando o mesmo local da atual Matriz de N. S. da Apresentação, tinha como vizinhas 2 casas, que se lhe seguiam em direção àquele rio de beber. Defronte à matriz, já havia o início de um dos lados da atual raça André de Albuquerque, com apenas 4 edificações, uma delas certamente, a Casa da Câmara e Cadeia. Tal rua receberia o nome de Rua da Cadeia. Por detrás da mesma, na atual Rua Presidente Passos, duas casas. Finalmente, ocupando terreno hoje correspondente à Rua Passo da Pátria, uma casa isolada.

Mapa intitulado Rio Grande, publicado em 1631, de autoria de João Teixeira Albernaz

João Teixeira ALBERNAZ, o velho, “cosmógrafo do Rei de Portugal com carta patente para exercer o ofício de mestre construtor de cartas de marear e de instrumentos astronômicos”, viveu no período de 1602 a 1666. É de sua autoria um mapa intitulado RIO GRANDE, publicado em 1631, o qual se encontra na mapoteca do Itamaraty, no Rio de Janeiro.

Certamente o mapa foi baseado em um rascunho, de autoria de desenhista anônimo, elaborado por volta do ano de 1614. No mapa de Albernaz acham-se representados diversos aspectos natalenses, compreendendo a área que vai da barra do Rio Grande ao atual Rio do Baldo.

Berço da cidade de Natal, a área escolhida para fundação da cidade foi o local elevado, longe dos alagadiços da parte baixa, que hoje constitui a Praça André de Albuquerque (LIMA, 2002). Cascudo (1999) relata que em até 1631 existia cerca de 60 casas em Natal, cujo núcleo formava um retângulo na área da referida praça que tinha como referência a capela matriz, no local onde se encontra a antiga catedral de Natal.

Como informa Medeiros Filho (1991, p. 70): Até o ano de 1700, parece ter havido apenas duas ruas em Natal; a primeira corresponde à que fica defronte à Matriz, na atual Praça André de Albuquerque; a segunda o caminho do rio de beber água, às atuais ruas Santo Antônio e da Conceição.

André de Albuquerque

André de Albuquerque Maranhão: desenho e pintura.

O nome da praça é devido ao André de Albuquerque Maranhão, que lutou na Revolução Pernambucana de 1817, que teve como principal objetivo a instalação de um sistema republicano e a separação das províncias de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande da colônia portuguesa na América. André era o bisneto de Jerônimo de Albuquerque, que ao lado de Manuel Mascarenhas Homem fundaram a cidade. Inclusive a estrela de bronze, de 1999, localizada na lateral da praça representa o ponto zero da cidade, onde Natal nasceu.

André de Albuquerque Maranhão, também conhecido como Andrezinho de Cunhaú, nasceu no Engenho Cunhaú, no atual município de Canguaretama (RN). Seu pai tinha o mesmo nome, e sua mãe se chamava D. Antônia Josefa do Espírito Santo Ribeiro; eram uma das famílias mais ilustres do Rio Grande do Norte.

André de Albuquerque era membro da elite colonial. Segundo Cascudo (1999, p.177), André de Albuquerque é um herói ritual de nossa história, fazendeiro rico dono de Cunhaú, faustoso, senhor de centos escravos. Contra o poder colonial português participou do movimento de 1817, na defesa da independência de Capitanias do Nordeste (MONTEIRO, 2000).

O curioso é que a maioria das pessoas pensam que a praça é conhecida como “Praça Vermelha’’ apenas atualmente, mas o seu apelido foi dado devido aos acontecimentos de 28 de março de 1817. André tinha um pensamento revolucionário, comandava a Cavalaria que guardava as fronteiras entre Rio Grande e Paraíba, e simpatizava com as revoluções de libertação da coroa

André de Albuquerque Maranhão, juntamente com alguns combatentes, e apoiados pela Companhia de Linha, fizeram uma entrada solene na cidade em 28 de março de 1817 juntamente com sua tropa, parentes e oficiais. Albuquerque Maranhão chegou a tomar o poder da cidade de Natal e da província do Rio Grande do Norte por um breve período que foi de 29 de março a 25 de abril de 1817, quando derrubou o então governador da capitania, José Inácio Borges.

Posteriormente reuniu pessoas influentes da época, como famílias tradicionais e autoridades religiosas e constituíram um governo republicano provisório na cidade, separando o Rio Grande do Brasil. Esse acontecimento se chamou “Revolução Republicana de 1817, e ele foi o líder.

No entanto, após a derrota dos revolucionários em Pernambuco, o movimento perdeu sua força nos outros estados da região. Dias depois, se organizou uma contra-revolução. O comandante da tropa de linha Monarquista Antônio Germano, e seus soldados, invadiram no dia 25 de abril de 1817 o palácio do governo aos gritos de “Viva o Senhor Dom João VI” , e encontram André de Albuquerque. Ele negou sua rendição, sofreu um golpe de espada em sua região inguinal, e ainda teve os dedos cortados provavelmente por tentar segurar a espada.

Foi então jogado pela janela do palácio e preso sozinho em uma cela na Fortaleza dos Reis Magos. Sem qualquer assistência médica, com ferimentos abertos e órgãos dilacerados, sangrou até morrer no dia 26 de abril de 1817.

O seu corpo, no entanto, foi arrastado totalmente sem roupa pela cidade e humilhado na praça, antes de seu enterro, na Igreja de Nossa Senhora da Apresentação. É por causa do martírio de Albuquerque na praça que ela ganhou o nome de Praça Vermelha em defesa do herói republicano.

A Igreja de Nossa Senhora de Apresentação, a primeira igreja do Rio Grande do Norte, e marco zero da cidade. Hoje a praça onde se encontra a Igreja Matriz ganhou o nome dele.

Em torno da atual Praça André de Albuquerque – a chamada Cidade Alta. Nela se situavam, além da Igreja Matriz, as outras únicas quatro construções importantes da cidade, que abrigavam o Senado da Câmara de Natal, o Palácio do Governo, a Fazenda Pública e o Quartel Militar (MONTEIRO, 2000, p. 122).

A praça em 1864

Mapa da cidade do Natal elaborado em 1864 – Atlas do Império do Brasil – Cândido Mendes de Almeida, 1868. Primeiro mapa conhecido de Natal (em que deixa de ser mero apenso gráfico à descrição da costa e da barra de entrada), elaborado em 1864 e presente no Atlas do Império do Brasil, de Candido Mendes de Almeida (1868). À esquerda a Cidade Alta (o vazio era a chamada Rua Grande, depois Praça André de Albuquerque) e à direita a Ribeira; a separar os dois bairros, a miasmática Campina da Ribeira. Fonte: Acervo Olavo de Medeiros Filho.

Em 1864, no tocante aos Largos e Praças existentes em Natal, o ATLAS DO IMPÉRIO DO BRASIL, de autoria de Cândido Mendes de Almeida, no qual consta um mapa relativo à então província do Rio Grande do Norte nos dá conta dos seguintes: a Praça da Matriz, mais conhecida como Praça da Alegria, hoje Praça Padre João Maria; a Praça de Santo Antônio, defronte à igreja do mesmo nome; a Praça do Palácio, hoje denominada de Praça André de Albuquerque; o Largo do Quartel, por detrás do atual Colégio Winston Churchill, estendendo-se até a Avenida Junqueira Aires de hoje; o Largo do Rosário, ao lado direito da Igreja do mesmo nome.

As igrejas apresentadas no mapa correspondem às de Nossa Senhora da Apresentação, de Nossa Senhora do Rosário, de Santo Antônio, e do Bom Jesus, todas elas ainda existentes e em pleno funcionamento.

O mapa de 1864 também focaliza os prédios públicos, em número de onze: o Palácio do Governo, na Rua da Conceição, demolido em 1914 para ceder espaço à atual Praça Sete de Setembro; 2 – a Assembléia Provincial, que ocupava o 1º andar de um edifício (demolido em 1865), também na Rua da Conceição, no ponto hoje ocupado pelo Palácio Potengi; 3 – a Câmara Municipal, cujo prédio foi derrubado em 1911, localizada no terreno hoje correspondente à casa nº 604 da Praça André de Albuquerque; 4 – a Tesouraria da Fazenda, cujo edifício foi demolido em 1875. Ficava no local onde hoje existe o Memorial Câmara Cascudo; 5 – a Tesouraria Provincial, ocupando o andar térreo do edifício da então Assembléia Legislativa; 6 – a Alfândega, na atual Rua Chile, no local onde se encontra a Capitania dos Portos; 7 – o Atheneu, no mesmo ponto onde hoje existe a Secretaria Municipal de Finanças, na Avenida Junqueira Aires; 8 – o Quartel de Linha, demolido para construção do Colégio Winston Churchill, na atual Avenida Rio Branco; 9 – o Quartel do Corpo Policial, no mesmo terreno onde funcionou o Banco Nacional, na esquina da Rio Branco com a Rua João Pessoa; 10 – o Hospital Militar, onde hoje fica a Casa do Estudante, na antiga Rua Presidente Passos, atualmente Praça Cel. Lins Caldas; 11 – a Cadeia, que ocupava o andar térreo da então Câmara Municipal.

Acesso ao Rio Potengi

Os acessos da praça ao rio são em geral difíceis, seja pelas características do próprio processo histórico de crescimento da cidade, como vimos, seja por causa de algumas características naturais do rio, com seus mangues e vegetação densa em alguns locais que impedem sua visualização adequada. A topografia da cidade também não contribui para essa apreciação.

Um local que poderia ser explorado nesse sentido, por se situar em terreno alto, é o marco zero da cidade, a atual Praça André de Albuquerque, de onde seria possível uma bela visualização do Rio Potengi, como deve ter sido no passado. Contudo, um paredão de edificações impede a sua visualização adequada. As áreas ribeirinhas, pobres e em geral esquecidas pelo poder público, a linha férrea que continua separando o rio da cidade, a falta de um plano de manejo das margens do rio, que incluísse, por exemplo, calçadões e passeios públicos em trechos específicos e convenientes, além de uma conscientização da importância histórica e ambiental do Rio Potengi, são todos fatores que exacerbam a invisibilidade do rio.

Construções públicas

No ano de 1896, numa matéria sobre a Praça André de Albuquerque, um articulista dizia que era a Praça de Republica vasta e belíssima, mas que não era aproveitada para recreação dos habitantes, pois, somente tinha servido até então para pastagens dos brutos. Era um lugar muito bucólico e que traduzia os hábitos atrasados das pessoas que viviam na cidade (Praça André de Albuquerque. A República, 15 de abril de 1896).

Localizada no bairro Cidade Alta, caracteriza-se por ser o ponto central da cidade. Esta no corredor cultural, tem na sua vizinhança várias edificações de grande valor histórico. Berço da cidade, foi Rua Grande e Praça da Matriz. Com sua planta retangular, abriga além de passeios e árvores centenários, um coreto que relembra os tempos de outrora.

Câmara Cascudo, em seu livro História da Cidade do Natal, fala que a mais antiga descrição sobre a praça é de 1897. Ela tinha, a essa época, 35 casas, com 179 moradores. Suas primeiras construções públicas foram a Igreja Matriz, ainda em 1599, e a Casa de Câmara e Cadeia, somente 1770, junto ao Pelourinho, veja:

“Não é difícil de imaginar o que seria o Natal do começo do século XVIII, com a sua igreja, a cadeia, a forca, o pelourinho, a casa da câmara e as moradas esparsas pelo areal dos bairros, entaipadas umas, outras, e eram o maior número, tecidas de ramos e cobertas com as folhas das diferentes palmeiras indígenas; todas afogadas no mata-pasto embatido e defendidas pelos viçosos urtigões.”

Adaptado de SOUZA MIRANDA, 1999:55

A praça ganhou monumentos diversos durante sua história. O monumento aos mártires de 1817 foi inaugurado em 12 de junho de 1917, no centanário da revolução. Sua primeira reforma se deu no governo de Gentil Ferreira, que implantou uma nova arborização em fileiras, seguindo inspiração francesa, e instalando um novo calçamento.

Descampado

A praça André de Albuquerque antes do projeto do Herculano Ramos. Fonte: Arquivos do HCUrb.

A manutenção dos jardins e a preservação das árvores existentes nas praças e ruas da cidade era, por vezes, uma preocupação expressa por muitas pessoas. Em agosto de 1904, foi reclamado pelos articulistas do Jornal “A República” a presença de animais soltos pela cidade, ocupando os mais variados espaços em todos os recantos da cidade. Segundo os jornalistas, “a Praça André de Albuquerque, a mais frequentada desta cidade, também é honrada com a presença de gados de toda a espécie”.

Em outubro de 1903, foi denunciada a existência de animais mortos em avançado estado de putrefação na Praça André de Albuquerque, segundo a pessoa que fazia a denúncia, os habitantes que moravam no local pediam a atenção das autoridades “para o facto de haver constantemente na dita praça animaes mortos em adiantado estado de putrefação. Como agora mesmo se está observando, o que como sabeis é altamente prejudicial a hygiene e salubridade publicas” (Escrevem-nos. A República, 15 de outubro de 1903).

Dia a dia – Um jornal indecente. O Diário do Natal, 11 de agosto de 1904 (O texto foi transcrito do jornal A República dos dias 8 e 9 de agosto do mesmo anos. A intenção do jornalista Elias Souto era atingir a oligarquia Maranhão a quem atribuía a propriedade do gado e que por se portar como órgão oficial da dita oligarquia o jornal A República agia indecentemente ao apontar o gado e deixar de apontar os proprietários dos animais).

Em um artigo intitulado “Pela mocidade”, o mesmo jornal narrava um episódio no qual um grupo de estudantes houvera realizado uma manifestação em favor das causas defendidas pelo senador Lauro Sodré e por Barbosa Lima, essa manifestação ocorrida na Praça André de Albuquerque, em um dia de festa da padroeira da cidade, onde a banda do batalhão estava tocando, foi, segundo o jornal, reprimida pelo governador Tavares de Lyra, gerando posteriormente retaliações por parte do governo aos estudantes que promoveram a tal manifestação. (Pela mocidade. O Diário do Natal, 17 de novembro de 1904.).

Como chegou o foot-ball em Natal

Ao fundo Igreja do Rosário, provavelmente construída em 1714. Vê-se o grande campo, que de acordo com Cascudo, foi o primeiro lugar onde se jogou o “foot-ball”, sem o ajardinamento, só iniciado após 1906.

A primeira bola de “Foot Ball” trazida para a cidade do Natal e aqui inaugurada veio na bagagem dos Pedrozas, filhos de Fabrício Gomes Pedroza, Fernando, Fabrício, Raul e Ramiro, chegados da Europa em novembro de 1903.Era uma novidade estonteante e só se conhecia bola de palha de milho para bater com a palma da mão. Ou então bola de borracha para menino. Como motivo de divertimento de gente grande, ninguém imaginava a existência e função.

Alberto Roselli, educado na Suíça onde fizera um curso de Comércio voltara para Natal um pouco antes dos Pedrozas. Desembarcou em setembro de 1903. Foi a primeira vez que noticiou haver visto um jogo para adultos constando de bater numa bola de couro, cheia de ar numa série de ponta-pés dirigidos em certas direções. Alberto Roselli fizera um pouco de “Sport” na Suíça e os natalenses amigos do Coronel Angelo Roselli abriam a boca num pasmo ao saber do “Foot-Ball” e dos desportos de inverno.

Quando Fernando, Fabrício, Raul e Ramiro Pedroza desmancharam as malas, a bola de couro inglesa, entrou em uso, com Alberto Roselli e outros rapazes de permeio.

Naturalmente não havia combinação e menos ainda forma dispositiva para o jogo pebolístico. Era o BATE BOLA atirando patadas furiosas que faziam a esfera de couro subir quase as nuvens, com admiração da molecagem ao derredor e dos moradores vizinhos, surpreendidos.

Qual foi o primeiro lugar em natal onde se jogou o FOOT-BALL ou em boa verdade bateu-se bola?

Foi na Praça André de Albuquerque, que não tinha ainda ajardinado e a conheciam como PRAÇA DA MATRIZ. Ali, de tarde, nestas tardes de verão de novembro-dezembro de 1903, a bola sacudia-se na vertical atrevida, alta e garbosa. Tanto mais alta, melhor e maior sucesso.

Iluminação

Vias atendidas pelo serviço de iluminação pública a acetileno nos bairros da Cidade Alta (direita) e Ribeira (esquerda), em 1905. Fonte: base cartográfica de 1924, editado pelos autores (baseado em Araújo, 2010).

No dia 02 de janeiro de 1902 foi a vez dos lampiões das ruas Visconde do Rio Branco, Rua da Palha e da Praça André de Albuquerque, lugares em que os lampiões só foram acesos depois das 9 horas da noite. ILLUMINAÇÃO publica. A Republica, 03 de janeiro de 1902, p 1.

As reinvindicações para a introdução de um novo sistema de iluminação surtiram efeito. Em 1905, Augusto Tavares de Lyra, então governador do Rio Grande do Norte, anunciou a inauguração da iluminação publica a gás acetileno no trecho compreendido entre o Batalhão de Segurança e a Praça André de Albuquerque.

De acordo com o contrato, a iluminação (tanto pública quanto particular) compreenderia o trecho entre a Praça André de Albuquerque e o Quartel de Segurança, abrangendo a Rua Treze de Maio, Praça da República, Rua Doutor Barata, Praça Augusto Severo, Avenida Junqueira Aires, Rua da Conceição, Praça Municipal, travessa do Congresso e da matriz e a Praça Andre de Albuquerque. Os postes, de acordo com o contrato, guardariam a distância máxima de 30 metros uns dos outros e cada bico de luz teria a força de 15 velas.

A inauguração desse sistema de iluminação pública a gás acetileno em Natal realizou-se em 29 de junho de 1905. Nessa data a empresa de Francisco Gomes Valle Miranda deu início a sua trajetória a frente dos serviços urbanos da capital. A primeira exposição pública mundial do gás luminoso deu-se em Londres em 1802. No Brasil, a primeira cidade a utilizar o gás acetileno na iluminação foi o Rio de Janeiro, Corte à época, sob encomenda de Dom Pedro I em 1828. In: MEMÓRIA da eletricidade. Reflexos da Cidade. Rio de janeiro, 1999. p. 21.

O desempenho da empresa logo passou por críticas, em especial pelos opositores do governo. Se os velhos lampiões a querosene não eram acesos, a partir de 1905 os modernos combustores permaneciam apagados durante longos períodos de tempo. A mudança de sistema não diminuiu os problemas enfrentados em decorrência da intermitência da iluminação, como se pode observar na notícia veiculada no jornal O Diário de Natal, em outubro de 1908: “O serviço de iluminação pública precisa ser fiscalizado, pois raro é a rua em que durante a noite não se encontram combustores apagados. Na praça André de Albuquerque isto se nota constantemente.

Durante a noite, com a eletricidade iluminando festas, bailes dançantes, apresentações de dança e teatro, sessões de filmes e conferência, praças e jardins, as pessoas ganharam o espaço e o tempo da noite. A exemplo, em 1937, na praça André de Albuquerque foram se “armando os mecanismos de varios divertimentos: roda gigante, carrousseis, barcos venezianos, chicotes ou montanha russa, aeroplanos e outros brinquedos para gente grande de ambos os sexos e meninos que não gostem de ficar em casa… Todas as noites a praça ficará illuminada, feericamente illuminada, para que a gente veja os sorrisos das no indiscretos, ou as malícias que escapam por entre as perolas da bocca vermelha…” (DANILO. Sociaes. A Republica. 21 de março de 1937, p.12.).

Herculano Ramos

A república RN 09 de Janeiro de 1907,
edição 00007 Pagamento pelo jardim da
praça André de Albuquerque

No jornal a República RN de 1907, aparece o trabalho do referido arquiteto para embelezamento da praça desta capital. A nota é na sessão de prestação de contas onde consta o pagamento pela construção do Jardim da Praça André de Albuquerque.

A Natal de 1908, encontrada pelo fotografo suíço Bruno Bougard, tinha pouco mais de 20.000 habitantes, era uma cidade ainda com características coloniais, com ruas estreitas, casas conjugadas e erguidas em um enorme areal. Sua situação geográfica dificultava a locomoção de pessoas, o “caminho” do rio e do mar, eram talvez as melhores opções para os viajantes que aqui aportavam.

Nos primeiros anos do século XX, as praças existentes em Natal mais pareciam terrenos desocupados, eram praças porque assim eram denominadas, mas não conseguiam cumprir efetivamente com a clássica função de passeio público e de lugar para ver e ser visto. Exemplo disso era a Praça André de Albuquerque que não era mais do que o lugar de passagem quando as pessoas iam de um lado para o outro do bairro da Cidade Alta. Antiga Rua Grande, atual Praça André de Albuquerque (1908). Foto: Bruno Bougard (Acervo IHG/RN). LOCAL ONDE A CIDADE FOI FUNDADA.
O local onde se encontra a Praça André de Albuquerque era um descampado. Sem urbanização aparente. Pelo registro fotográfico nota-se ao fundo a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e o Porto de Natal mais adiante. Recorte do registro fotográfico anterior foi realizado por Bruno Bougard a partir da torre do sino da Igreja Matriz em 1906.
Esboço para o projeto de intervenção no bairro da Cidade Alta, localizando os novos prédios do centro administrativo e alterando a configuração da Praça André de Albuquerque. Fonte: CSN, 1924.

A solução para as redes de saneamento não são entendidas desvinculadas da reforma da cidade existente e da previsão de seu futuro crescimento: “as obras de saneamento não se limitam somente ao abastecimento de agua e esgotos”, afirmaria Novaes; (CSN, 1924, p.12.) incluiriam também o traçado de novas ruas, o aproveitamento dos terrenos alagados, a crítica e a reforma da cidade existente, pensada numa concepção de plano geral.

Mais ainda, faria dos elementos técnicos do sistema partes a compor, ordenar e transformar a paisagem natural e urbana. Nesse sentido, são muito significativas as propostas de transformação da Praça André de Albuquerque em um centro administrativo, destruindo a
configuração do sítio primeiro de ocupação da cidade para a introdução dos edifícios do Palácio da Justiça, do Congresso do Estado e do Palácio da Higiene e Agricultura; de aproveitamento de um coreto na praça Leão XIII, na Ribeira, como uma estação elevatória; de
construção de uma Avenida do Saneamento para receber o coletor geral dos esgotos; e de construção do reservatório central (que exigiria a demolição de um quarteirão inteiro) como o principal marco visual da cidade, com sua torre de quase vinte metros de altura.

A preocupação com o aformoseamento da praça surgiu apenas no início do século XX, em que houve a tentativa da população de arrecadação de dinheiro para construção de um jardim, contudo o projeto não saiu do papel (NESI, 1997).

Existia ali, um descampado sem projeto específico, utilizado para festas religiosas, festas folclóricas entre outros (NESI, 1997). Observa-se na imagem acima, que de fato no local havia apenas um grande terreiro, sem qualquer aproveitamento possível da área. Do seu entorno podemos notar algumas edificações construídas com estilo colonial, apresentando telhado com duas águas, esquadrias simétricas e alinhadas com a rua.

Além da importante comprovação que até então não se tinham encontrado registros que provassem que a autoria da praça André de Albuquerque é do Herculano Estas obras que o próprio Herculano nos revela ter realizado no Recife, dão novas pistas sobre sua vasta produção arquitetônica e urbanística pelo Brasil. Produção esta, por vezes, ainda desconhecidas, como é o caso da usina Beltrão e da Associação Comercial do Recife, cuja informação não tinha sido publicada em bibliografias existentes até o momento.

No jornal a República RN de 1907, aparece o trabalho do arquiteto Herculano Ramos para embelezamento de outra praça desta capital. A nota é na sessão de prestação de contas onde consta o pagamento pela construção do Jardim da Praça André de Albuquerque. No dia 15 de junho de 1907, H. Ramos publica uma notícia no jornal, em forma de justificativa, sobre os melhoramentos na praça André de Albuquerque, na qual seu nome foi envolvido numa edição do diário de Natal com relação aos serviços do governo do Estado. Como forma de responder ao questionamento feito no outro jornal sobre os serviços inacabados da praça, Ramos escreve esclarecendo a toda população, respaldando a competência do seu serviço e ainda exemplificando algumas obras que realizou simultaneamente no Recife, sem trazer prejuízo no andamento de nenhuma delas. LOCAL ONDE A CIDADE FOI FUNDADA (RUA GRANDE, 1908).

Nesi (1997) relata que neste mesmo ano, foram executados “aterros, aplainamentos de terra, construção do largo passeio de contorno e um pavilhão central, construído de ferro batido com porão para depósito de material. ” Segundo Paiva (apud SOUSA, A., 2013), o tal embelezamento da praça seria de autoria de Herculano Ramos.

Praça André de Albuquerque – 1920 (fonte: Como se higienizaria Natal.)
A praça André de Albuquerque depois do projeto. Fonte: Arquivos do HCUrb.

Na figura acima vemos esta nova configuração da praça. Percebemos uma praça completamente urbanizada, com inserção de vegetação de todos os portes, definição de ruas e de passeio público. Em relação ao seu entorno, as edificações já aparecem diferentes estilos, com platibandas na cobertura e não predominantemente em estilo chalé.

Vista da Praça André de Albuquerque, onde nasceu a cidade do Natal, início do século XX. A foto é de 1911, pois se vê o prédio da Casa de Câmara e Cadeia de Natal (à esquerda) ainda com seu telhado intacto. A Praça André de Albuquerque é o mais antigo logradouro público da cidade, local de sua fundação a 25 de dezembro de 1599. Em 1888 assumiu este nome em homenagem ao líder e mártir da Revolução de 1817, André de Albuquerque Maranhão. Na imagem, do lado direito, vê-se o coreto de ferro batido construído em 1907, como parte de um projeto paisagístico elaborado pelo arquiteto Herculano Ramos para a cidade. Acervo documental do @institutocascudo.

As “retretas” da banda de música do batalhão de segurança se tornaram, nos anos de 1910, um fato corriqueiro e todos os domingos o coreto existente no centro da Praça André de Albuquerque, ou o coreto da Praça Augusto Severo, era ocupado pela
banda, que tocava músicas conhecidas de autores consagrados como Wagner, Mozart, Verdi, dentre outros.

Nesta imagem acima ainda se vê a casa de câmara e cadeia que fora demolida em 1911 para dar espaço ao alargamento da rua lateral, permitindo assim a visão e conexão com rio Potengi (NESI, 1997).

PRAÇA ANDRÉ DE ALBUQUERQUE (Vendo-se à direita a Igreja do Rosário dos Pretos – Bairro Cidade Alta) Foto: Dr. Manoel Dantas (fotógrafo viveu em Natal no período de 1900 até sua morte, em junho de 1924). Conhecida como Praça Vermelha, a Praça André de Albuquerque guarda o chamado “Marco Zero” da nossa cidade. Ela marca o local de nascimento de Natal e está situada em um dos nossos principais pontos históricos.
Praça André de Albuquerque nas primeiras décadas do século XX. Local absolutamente belo, arborizado e bem preservado. Destaco a linha do bonde e o coreto na praça. Distante da nossa realidade em tempo e espaço. Autor desconhecido.
Na foto (extraída do site da Associação Nacional de História) (acervo de Nazinha Saboya), tirada em 1924 na Praça André de Albuquerque, os jovens estão vestidos a caráter para assistir a sessão de domingo do Royal Cinema.

A distância entre Natal e o Rio era muito grande. Gastava-se muito mais tempo do que hoje se gasta para ir à lua. Às tardes, pouco tempo antes do sol se esconder nos mangues da margem esquerda do rio Potengi, alguns rapazes vinham sentar-se nos bancos da Praça André de Albuquerque, para olhar as namoradas que ficavam nas janelas bem distantes. Nem nas calçadas podia ficar.

Aquele que quisesse ver a namorada mais de perto, ficasse no átrio da catedral aos domingos, na missa das oito horas, quando ela passasse ao lado do pai, da mãe e irmãos. Manoel Reis, sócio da Casa Reis, com comércio exclusivo de sapatos, namorava uma filha de um comerciante que morava num dos lados da André de Albuquerque.

Todas as tardes ocupava um banco e ficava contemplando de longe a sua eleita. Um dia, pensando ocupar definitivamente aquela distância, toma coragem, marca o dia para a visita do pedido. Foi um acontecimento. Todos os moradores da praça repetiam: “Manoel Reis pediu moça”.

O pedido de casamento ocorreu num domingo. Na segunda-feira imediata, Manoel Reis voltava a ocupar o mesmo banco, agora para olhar a noiva, que ficava na mesma distância. O futuro sogro impôs ao futuro genro duas visitas por semana. Uma aos domingos e outras nas quintas-feiras. Não era necessário mais. E assim, o Manoel Reis continuava noivando do longe…

Registro feito por autor desconhecido a partir da torre da Igreja Matriz. Em primeiro plano vemos a praça André de Albuquerque. Notem o belo coreto ao centro da praça. Logo a baixo a Igreja do Rosário dos Pretos, segunda igreja mais antiga de Natal. Ao fundo o Rio Potengi e o Porto de Natal. Do outro lado da margem do Rio, no lado esquerdo, vemos a estação ferroviária do Padre. Este era ponto de final da via férrea antes da construção da ponte metálica. Dali por diante o transporte de mercadorias e pessoas era feito por barcos até a cidade. O registro foi feito em 1922. Foto: Livro História do estado do Rio Grande do Norte. Rocha Pombo. Natal: Edufrn, 2019. P. 34.
Esta febre das praças ajardinadas aportava na cidade do Natal no final do século XIX e começo do XX. E a iniciativa não provinha somente do Estado, mas a própria população se engajava na construção desses jardins, mostrando o quanto esta “sensibilidade” estava difundida entre os habitantes da cidade:
Ainda no final do século, alguns moradores das vizinhanças da Praça
André de Albuquerque, na Cidade Alta, estavam reunindo recursos
para construir um jardim que deveria dispor de bancos e de um
caramanchão. O governador prometia ao público ‘uma boa praça,
formosa e saneada’. O jardim foi concluído em 1909, com projeto do
arquiteto Herculano Ramos, incluindo um pavilhão central e um
coreto de ferro, além de uma fonte encomendada da Europa, ‘toda em
ferro fundido e de alto valor artístico’. ARRAIS, R. Op. cit., p.164-165.
A república RN 15 de Junho de 1907,
edição 00126 Sobre os melhoramentos da
praça André de Albuquerque e algumas
obras realizadas no Recife

Na mensagem do governo de 01 de novembro de 1910, o Gov. Alberto Maranhão proferiu o seguinte:

Sobre as Obras Públicas na capital (p.17-20): Para sanear e melhorar a capital foram feitas as seguintes obras: […] Conclusão dos jardins publicos da praça Augusto Severo e Andre de Albuquerque e reconstrucção quase por completo do theatro Carlos Gomes, sob projecto e administração do architecto Herculano Ramos, consultor technico do thesouro do estado. (MARANHÃO, Alberto. Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo em 01 de Novembro de Natal: Typographia d’A Republica, 1910).

No dia 15 de junho de 1907, H. Ramos publica uma notícia no jornal, em forma de justificativa, sobre os melhoramentos na praça André de Albuquerque, na qual seu nome foi envolvido numa edição do diário de Natal com relação aos serviços do governo do Estado. Como forma de responder ao questionamento feito no outro jornal sobre os serviços inacabados da praça, Ramos escreve esclarecendo a toda população, respaldando a competência do seu serviço e ainda exemplificando algumas obras que realizou simultaneamente no Recife, sem trazer prejuízo no andamento de nenhuma delas.

Conforme Oliveira (2000), a partir de meados do século XIX a cidade vai ganhando forma. Porém, somente no início do século XX é que de fato se intensificam as obras de melhoramento e aformoseamento da capital.

Na mensagem do governo de 1910, o governador Alberto Maranhão profere acerca da
conclusão de algumas obras do Herculano em Natal:

MARANHÃO, Alberto. Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo em 01 de Novembro de 1910. Natal: Typographia d’A Republica, 1910. Sobre as Obras Públicas na capital (p.17-20): Alem destas obras, mandei construir mais as seguintes: calçamento a granito nos principaes trechos da cidade; […] conclusão dos jardins publicos da praça Augusto Severo e Andre de Albuquerque e reconstrucção quase por completo do theatro Carlos Gomes, sob projecto e administração do architecto Herculano Ramos, consultor technico do thesouro do estado. (Mensagem de Governo – 01 de Novembro de 1910).

O bonde e a cidade – Praça André de Albuquerque, Cidade Alta Fonte: Acervo Diário de Natal.

Outro ponto que se refere as iniciativas para o desenvolvimento da capital, foi à primeira linha de bondes da cidade que entrou em funcionamento em 1908, cujo percurso se iniciava na Praça Padre João Maria que era ponto final dos bondes, passava pela Praça André de Albuquerque (NESI, 1997) e continuava em direção à Praça Sete de Setembro descendo pela Avenida Junqueira Aires e finalizando seu trajeto na Praça das Mães (NESI apud SOUSA, A., 2013).

O serviço é inaugurado no dia 07 de setembro de 1908, pelo governador Alberto Maranhão, e é comemorado pelos periódicos em circulação à época como um importante melhoramento, imprescindível ao desenvolvimento da cidade. Essa primeira linha percorria um trajeto entre a Ribeira e a Cidade Alta: partia de frente da estação da Great Western, na Praça Augusto Severo, e subia a Avenida Junqueira Aires até a Praça André de Albuquerque.

Desde então as reclamações se tornam mais frequentes. O periódico “A República”, por exemplo, protesta contra as mudanças de itinerário sem aviso prévio, como a variação na subida dos tramways pelo lado da Praça André de Albuquerque, descendo pela Avenida Rio Branco, enquanto que, anteriormente, a subida se dava pela própria Rio Branco, com ponto na Igreja Matriz (REPAROS, 1912d)

Nota-se que esse percurso serviu para fortalecer ainda mais o papel da construção de uma praça naquele local, que serviria tanto como opção de lazer quanto para ir dando forma a configuração urbana da cidade.

É o que nos relata uma crônica escrita, em agosto de 1914 no jornal “Gazeta da semana”, por um articulista que assinava pelo nome de Amphion. E a supor pela fala do cronista o passeio pelos jardins da Praça André de Albuquerque, o deleite da convivência com a “natureza domada” do espaço, em uma tarde de domingo, era algo que se poderia chamar de extasiante. Narrando um episodio de uma tarde de domingo nos relata o tal Amphion:

Domingo passado o povo elegante de Natal affluiu extraordinariamente ao jardim da praça André de albuquerque. Ali vimos, o que havia de melhor na nossa sociedade: desde o rapaz smart e maneiroso à mademoiselli garrulla e encantadora. Foi portanto aquella a reunião, chic da fleur fine de nosso meio social.

Crônica mundana. Gazeta da semana, 14 de agosto de 1914

“No lado da Praça André de Albuquerque onde morávamos em 1914, havia umas três casas, juntas umas das outras. Não eram conjugadas. Eram separadas por muros. Do lado direito ficava a residência do desembargador Hemetério Fernandes, cuja esposa sabia tocar piano. Na casa do lado esquerdo, morava o Dr. Augusto Leopoldo da Câmara. Sua senhora era também pianista. Não deixava de ser divertido. Quem passasse pela praça, em determinadas horas, ouvia fatalmente três pianos, cada um tentando vencer o outro por meio da sonoridade forte ou fortíssimo. O piano lá de casa não parava. Quando Júnior o deixava, Alice iniciava; quando esta deixava, eu começava. A outra Alice, a Alice tia, sentindo que o piano não queria nada com ela, resolveu não estudar mais.”

Maestro Waldemar de Almeida

Em momentos posteriores, como no ano de 1924, busca-se atenuar essa condição a partir de alguns investimentos públicos, como aqueles efetuados na gestão do coronel Joaquim Manoel Teixeira de Moura da Intendência de Natal. Durante esse período, foram realizados investimentos como a construção de um novo prédio para a Intendência, do novo matadouro – a se situar no Porto do Padre, estação da Central no outro lado do rio, e da pavimentação da Rua Cabugi, que interligava a Praça André de Albuquerque, na Cidade Alta, com o Passo da Pátria.

A última notícia que encontramos do Ramos em Natal foi a reforma do teatro Carlos Gomes reinaugurado em 1912. Concomitantemente ao trabalho realizado no teatro em Natal, segundo relatos encontrados em textos extraoficiais, ele também participa da construção do teatro José de Alencar em Fortaleza – CE. Neste, o arquiteto fica responsável pela decoração e pela pintura do pano de boca do teatro (COSTA, 1994). Herculano Ramos faleceu aos 74 anos, em Belo Horizonte no dia 14 de janeiro de 1928.

Numa matéria, publicada em 1936, são feitos relatos sobre as reformas que estavam sendo iniciadas no ‘square’ Pedro Velho, na praça 7 de setembro, no Jardim Augusto Severo e na praça André de Albuquerque, afirmando-se que a prefeitura contava com “o povo para zelar o que é seu” e trazendo reclamações de que “desocupados guerreiem os nossos jardins, quebrando os bancos, arrancando criminosamente as roseiras, pisando a grama e devastando as árvores” (A Republica. Natal e os seus problemas urbanos. 22 de março de 1936, p. 01 e 02.).

Ruas adjacentes

No sentido paralelo ao curso do Rio Potengi, verificamos a existência de algumas ruas. A Rua do Fogo, hoje chamada de Padre Pinto, que se estendia da atual Rua Interventor Rafael Fernandes até a travessa existente no oitão esquerdo da Igreja de Santo Antônio. A atual Praça André de Albuquerque também era conhecida como Rua Grande.

As casas que formavam o lado Oeste da praça, estendiam-se até a Igreja do Rosário. Entre a Rua Grande e a Rua do Fogo, já se nota um trecho ocupado por casas, embrião da atual Praça João Tibúrcio. Paralela à Rua do Fogo, ficava-lhe ao Nascente a Rua Santo Antônio, que se prolongava desde o Rio do Baldo até a Praça da Alegria.

A continuação da Rua Santo Antônio, em direção à Ribeira, era representada pela Rua da Conceição, que principiava na Praça da Alegria, findando-se na atual Rua Ulisses Caldas. Descendo da Rua da Conceição para a Ribeira, havia a Rua do Aterro, também chamada de Rua da Cruz, a atual Avenida Junqueira Aires.

Esquina da atual praça André de Albuquerque com a praça João Tibúrcio, ao fundo o Rio Potengi. Foto Bruno Bougard. Acervo IHG/RN.
“Os meus olhos ainda não viram nada mais encantador que o nosso Potengi, descendo para o mar, nas horas de vazante, sereno e calmo, conduzindo nas águas mansas uma porção de barcos leves, que vão e vem, que aparece me desaparecem nas curvas dos rios dando a perspectiva, uns tons suaves de mágica, de tela polychroma…”
(Henrique Castriciano).
VISTA PARCIAL DA PRAÇA ANDRÉ DE ALBUQUERQUE (Vendo-se ao fundo a Praça da Laranjeira e o rio Potengi, no bairro da Cidade Alta) Foto: CD Rom Natal 400 Anos.
ESSA BELA CASA DA ESQUINA SOBREVIVEU ATÉ O INICIO DOS ANOS 70 HOJE EM SEU LUGAR TEM UM MONSTRENGO, CULPA DO GOVERNO MUNICIPAL. E A VIZINHA TRANSFORMOU-SE NO CRF.
Essa era a casa de esquina, no canto direito da foto principal. Hoje ( 2020 ) nada restou.
Vista para a atual praça André de Albuquerque para o rio Potengi.
Vista para a atual praça André de Albuquerque para o rio Potengi.
Vista aérea da praça André de Albuquerque.

A primeira reforma

A praça depois das reformas. Fonte: Sousa (2013).

Em 1942, Joaquim Inácio de Carvalho Filho foi empossado como prefeito de Natal. Seu mandato se estendeu de 3 de janeiro de 1942 a 19 de julho de 1943, e foi responsável por novos melhoramentos na praça.

Várias obras já haviam sido iniciadas pelo seu antecessor, Gentil Ferreira, que além de ter iniciado a remoção do calçamento antigo, também implantou uma arborização composta de fileiras paralelas de arbustos. Carvalho Filho continuou as obras instalando novos bancos, um coreto moderno, um novo padrão de arborização e uma nova pavimentação do espaço, que acabou por se ligar à Praça 7 de Setembro através da Igreja de Nossa Senhora do Rosário.

A inauguração da praça reformada se deu em 7 de setembro de 1942, quando Carvalho Filho pronunciou um discurso sobre a importância e a utilidade daquele local.

“ A Praça André de Albuquerque serve a uma particular utilização tendo, por isso, propositadamente, largos espaços de piso alvo e cômodo. Muitas árvores desordenadamente plantadas foram derrubadas. Outras foram plantadas sem sacrificar-se a finalidade imposta a este recanto ― a de servir para as nossas construções cívicas e escolares, podendo o povo por ela livremente distender-se, como faz agora… ”

Como tantas outras, esta praça encontra-se totalmente descaracterizada. Souza descreve que na década de 1930 foram colocados 12 novos bancos de cimento armado.

Em 1942, Joaquim Inácio de Carvalho Filho, continuou as reformas de Gentil Ferreira, instalando novos bancos e um moderno coreto. Outra modificação foi feita no logradouro “cujo desenho foi modificado drasticamente, dando lugar a um traçado mais simétrico, com uma rearborização, troca de mobiliário e troca do coreto por outro sobre a mesma base, mas todo em alvenaria” (SOUZA apud SOUSA, A., 2013).

Praça André de Albuquerque. Autor: Jablonsky, Tibor. Ano: 1957. Série: Acervo dos trabalhos geográficos de campo. Notas: Pça e ao fundo a Rua da Conceição.

Durante o mandato de Sílvio Pedroza, em homenagem ao 350º aniversário da cidade, foi erigido o Monumento à Cidade, de 1946, que recolocou o pelourinho na praça, sob orientação de Câmara Cascudo (que era o assessor de assuntos culturais da prefeitura). O monumento tratava-se do pelourinho rodeado por canhões retirados do Forte dos Reis Magos.

O retorno do pelourinho desagradou boa parte da população da cidade. Cartas foram recebidas pelo prefeito e a Câmara Municipal fez uma sessão em desagrado ao monumento. O argumento era que o pelourinho era um símbolo de poder colonial, que era contrário aos princípios republicanos, por isso, não deveria estar de pé no centro da cidade. Câmara Cascudo, em resposta, escreveu uma série de artigos nos jornais da cidade, defendendo o monumento e explicando o simbolismo do pelourinho como instituição administrativa.

O pelourinho natalense ficava nos arredores da praça André de Albuquerque. E foi motivo de grandes discussões. Durante os primeiros anos da república, ele foi retirado por representar o poder colonial e “escondido” num sala no Forte dos Reis Magos.

Estava no meio da rua, em frente à antiga Cadeia. Segundo Cascudo (2002, p. 135):

O pelourinho era uma coluna de dois metros de altura, feita de madeira ou pedra e tijolo, encimada por uma esfera de caliça nalguma partes em vez de esfera havia uma placa com as armas reais de Portugal […] O pelourinho significava a existência da justiça do reino, a materialização das “ordenações”, a ação imediata e repressiva do poder Majestático.

Eram as peças mais antigas da história potiguar e, segundo Cascudo, isso deveria ser visto pelos natalenses. Porém na década de 1950, nova reforma, retirou o monumento da praça e foi substituído por uma estela em homenagem aos Mártires de 1817, os mártires da república. O pelourinho potiguar acabou sendo destruído nesta remoção e um monumento em homenagem a libertação de escravos foi colocada no seu lugar original ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.

A segunda reforma

A segunda grande reforma da praça foi levada a cabo em 1963 pelo prefeito Djalma Maranhão, que governou Natal entre 3 de outubro de 1960 e 2 de abril de 1964.

A principal consequência da sua ação reformadora foi a remoção do Monumento à Cidade. O pelourinho hoje está localizado à entrada do Instituto Histórico e Geográfico. Símbolo da autoridade real localizava-se, originalmente, na Rua Grande atual Praça André de Albuquerque. Por sua vez, os canhões da praça foram devolvidos para o Fortaleza dos Reis Magos.

Em seu lugar, foi construída uma Concha Acústica que compreendia um bar e uma biblioteca. Além disso, na área mais próxima ao Tribunal de Justiça, o prefeito ergueu uma fonte luminosa e uma galeria de arte. Foi bastante utilizada por artistas locais na década de 1960. Sua inauguração se deu no dia 8 de março de 1963, com festividades e exposições.

A Galeria de Arte inaugurada por Djalma Maranhão na Praça André de Albuquerque. Lá estavam sempre expostos quadros de artistas locais, havia escolinhas gratuitas para introduzir jovens na pintura, no desenho ou na interpretação teatral e uma biblioteca onde se destacavam livros e publicações na linha socialista.

A Concha Acústica, por sua vez, foi inaugurada na véspera do natal de 1963, com a apresentação da peça Natal na Praça, do grupo de Teatro Experimental de Amadores. Anteriormente, nesse mesmo dia, o pelourinho foi efetivamente devolvido ao Instituto Histórico e Geográfico, onde permanece até hoje.

Na década de 1960 funcionava na praça a “Galeria do Povo”, espaço aberto, destinado a divulgação de novos artistas plásticos, democratizando o acesso de todos a cultura. Logo após o golpe militar de 1964, a Galeria do Povo foi fachada.

Argumentaram que as construções do século XX destoava do conjunto colonial da praça; também falava-se que uma biblioteca e uma galeria de arte eram comunistas demais. A concha acústica foi substituída por um novo coreto, inaugurado em 1977.

Essas obras de Djalma Maranhão foram destruídas por causa da posição do prefeito contra a Ditadura Militar.

A terceira reforma

No período de 1967 a 1974, a Casa do Povo voltou a funcionar na praça André de Albuquerque, n°4, Cidade Alta, precisamente no sobrado do Sindicato dos Contabilistas do Estado do Rio Grande do Norte. Foto e Fonte: Memorial da Câmara Municipal de Natal.

Uma década mais tarde, a terceira reforma do logradouro foi realizada por iniciativa do arquiteto Luís Nazário, que trabalhou para a prefeitura de Natal durante o mandato de Vauban Bezerra. A justificativa para as modificações previstas no novo projeto eram o destoamento do caráter colonial da arquitetura do centro da cidade criado com a reforma anterior.

A Concha Acústica foi destruída, bem como a biblioteca e a galeria de arte também foram, e em seus respectivos lugares foram construídos um novo coreto e uma varanda colonial com bancos e lampiões. A obra foi inaugurada solenemente em 25 de março de 1977, tanto pelo prefeito Vauban Bezerra quanto pelo governador Tarcísio Maia, que se fez presente na ocasião.

A quarta reforma

ANTIGO CORETO DEMOLIDO EM 1995. O CORRETO É NOVO FOI CONSTRUÍDO APOS A DERRUBADA DA CONCHA ACÚSTICA E BIBLIOTECA MUNICIPAL FEITO POR DJALMA MARANHÃO. O CORRETO DOS ANOS 50 QUE TINHAM CANHÕES QUE SUMIRAM.

A última das reformas realizadas na Praça André de Albuquerque foi efetivada por iniciativa da prefeita Wilma de Faria, que durante o 400º aniversário de fundação da cidade mudou todo o piso da praça e a dotou de luminárias e bancos (tanto de madeira quanto de cimento) novos. Além disso, nas proximidades do Palácio Potengi, foi erguida uma pequena estrela de bronze que simboliza o nascimento da cidade.

Com o passar dos anos, o equipamento público da praça foi novamente se deteriorando. Pichações, falta de lixeiras e bancos quebrados foram alguns dos problemas relatados em reportagem de 2009 do jornal Diário de Natal, que ainda ressaltou a insegurança vivida no local, apesar dos esforços policiais.

Além disso, a dissertação “A Praça André de Albuquerque na visão de seus freqüentadores”, apresentada ao Dpto. de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte apontou que esta insegurança acabava sendo redobrada pelo fato de que “de tanto ouvirem falar que aconteceu algo de estranho ali, [as pessoas] já formavam uma opinião de que a praça era bastante perigosa”.

Em 2010, a prefeitura iniciou a construção de um box turístico na praça para atender aos turistas que visitam o centro histórico.

Nova reforma, antigos problemas

DECEPÇÃO: essa é a ” nova” praça André de Albuquerque. Nem grama colocaram, imagine um coreto.

A Praça André de Albuquerque e a Praça Padre João Maria estiveram de 2019 a 2021 fechadas para uma reforma. A obra demorada, custosa e descabida sob o ponto histórico e arquitetônico é uma vergonha para a população e a memória da cidade de Natal.

Pouco se nota de alterações estruturais ou mesmo de melhorias. Não foi feito alguma reforma, apenas a troca de alguns bancos.

A praça está incluída entre os oito dos 14 logradouros públicos que estão sendo reformados através do programa PAC Cidades Históricas em Natal. inicialmente estavam previstos para serem entregues à administração municipal em dezembro de 2020. A Secretaria do Estado de Infraestrutura (SIN) justifica o atraso em virtude da pandemia.

Os representantes do Governo Estadual na gestão Fátima Bezerra , da Prefeitura de Natal na gestão de Álvaro Dias e do Instituto do Patrimônio Histórico e Geográfico (IPHAN) devem reavaliar se todos as parâmetros da entrega das obras estão de acordo com o projeto inicial. As praças Padre João Maria e André de Albuquerque, ambas na Cidade Alta, e a praça Augusto Severo, na Ribeira, receberam vultuosos investimentos públicos sem no entanto a população receber ou perceber qualquer benfeitoria nestes logradouros.

O Jeronymo Tinôco, por exemplo, disse em um dos grupos, o “Gestores do Centro Histórico de Natal”, que esteve decepcionado e “fotografou as possíveis “mudanças” no local.

Uma vez que as praças sejam entregues, a Secretaria vai dar continuidade ao cronograma de requalificação dos espaços que tinham sido pensados. Os estudos para as obras das praças João Tibúrcio a da praça Dom Vital , na Cidade Alta, não dão prosseguimento as obras. O mesmo acontece com os trabalhos de requalificação da praça Santa Cruz da Bica, no Baldo e nos espaços próximos à Casa do Estudante e da Parada Metropolitana. A previsão era que as obras fossem iniciadas em janeiro e entregues em março de 2021.

A reforma das praças é um dos 10 projetos aprovados pelo PAC Cidades Históricas para Natal em 2013. Desses, 8 são projetos de restauração, um é de reabilitação e outro de requalificação. Esse último contempla as 14 praças e monumentos que estão sendo concluídos. Ao todo, o investimento foi de R$ 8.920.993,21, com recursos enviados pelo Ministério do Turismo e alocados na Caixa Econômica Federal.

Culpar a burocracia, pandemia ou as mudanças na execução do projeto é a receita da descrição da incompetência ou da inoperância do poder público na gestão do patrimônio histórico de Natal.

O atributo alt desta imagem está vazio. O nome do arquivo é praca_andre_de_albuquerque_016-1024x755.jpg
Praça André de Albuquerque. Obra do arquiteto Haroldo Maranhão em memória da Galeria Metropolitana (demolida). 18 SET 2021
Praça André de Albuquerque. MARCO DE FUNDAÇÃO DA CIDADE DO NATAL. 18 SET 2021

Casa de Câmara e Cadeia

Bruno Bougard tirada da torre da Matriz,1904. Desde 1988 o local é oficialmente chamado de Praça André de Albuquerque, porém, não havia a praça, mas um largo
“ […] temos a informar que o último edifício da Câmara e Cadeia de Natal foi demolido no ano de 1911, quando ocorreu a inauguração de uma nova cadeia construída no bairro de Petrópolis. O vetusto edifício foi derrubado com a finalidade de alargar-se a via de acesso, entre a Praça André de Albuquerque e o Rio Potengi, hoje representada pela Rua João da Mata”.
(Olavo de Medeiros Filho). Acervo IHG/RN Foto: Bourgard Casa de Câmara e Cadeia.

Este prédio foi inaugurado em 7 de maio de 1770, tendo sido o quarto (4o.) prédio que abrigou a Casa de Câmara e Cadeia de Natal, nele funcionando o Senado da Câmara e a Cadeia.

O arquiteto urbanista João Maurício Fernandes de Miranda em Evolução Urbana de Natal em seus 400 anos, p.53, anota: “Data de 1722 a construção do edifício da cadeia pública, com o andar superior destinado às reuniões do Senado da Câmara”.

Ao longo de sua história a Câmara Municipal de Natal funcionou em diversos locais da cidade. Há que se notar o seu constante deslocamento físico, pois ela não tem uma sede própria desde os primórdios administrativos da cidade.
Fonte: Memorial da Câmara Municipal de Natal.
Fotos do acervo de Adriano Medeiros via Fatos e Fotos de Natal Antiga

Situava-se na Rua Grande (atual Rua João da Mata), onde é hoje a praça André de Albuquerque Maranhão, vizinho ao prédio ainda existente nº 594. No livro Aconteceu na Capitania do Rio Grande (Natal, IHGRN, 1997), Olavo de Medeiros Filho também historia: “Reportando-se aos locais de funcionamento do Senado da Câmara o mesmo funcionou em outros lugares, sendo eles em número de quatro: a primeira casa, contemporânea a fundação de Natal, desabou em 1974; a segunda, edificada no período de 1675 a fevereiro de 1676, era situada na rua fronteira à igreja matriz de Natal: a terceira, começou a ser construída em julho de 1719, sendo concluída só em 1721, localizada onde hoje é a praça André de Albuquerque Maranhão. Em 1755, perante os oficiais da Câmara, o Capitão de Infantaria Antônio José de Lima vem a Natal tratar da ereção de uma nova Câmara, que seria a quarta. Um novo prédio iniciado em 1767 só veio a ser concluído em 1770”.

Pelo Brasil

Casa da Câmara e Cadeia ou Casa de Câmara e Cadeia era o edifício no período do Brasil Colônia e parte do período imperial onde estavam instaladas os órgãos da administração pública municipal.

Abrigava em geral a Câmara Municipal e os órgãos a ela ligadas , como a Câmara dos Vereadores, o juiz de fora, o presidente da Câmara, o procurador, o juiz de Direito e o tribunal, a guarda policial (chamada de “milícia”) e a cadeia pública.

“ […] temos a informar que o último edifício da Câmara e Cadeia de Natal foi demolido no dia 08 de dezembro de 1911, quando ocorreu a inauguração de uma nova cadeia construída no bairro de Petrópolis. O vetusto edifício foi derrubado com a finalidade de alargar-se a via de acesso, entre a Praça André de Albuquerque e o Rio Potengi, hoje representada pela Rua João da Mata”. (Olavo de Medeiros Filho)

Os edifícios da Casa da Câmara e Cadeia ficavam no centro da vila ou cidade, no largo do pelourinho, ou no chamado “rossio”. O prédio continha na maioria das vezes, dois pavimentos, várias salas e um plenário para reuniões dos vereadores e para julgamentos (sempre no segundo andar), sendo que no primeiro pavimento ficava a cadeia e a guarda. Em vários casos, as Casas de Câmara e Cadeia eram a única edificação pública na vila, funcionando assim como símbolo do poder público.

No período imperial, as Casas de Câmara e Cadeia foram se esvaziando, com a Constituição de 1824, o Código Criminal e o Ato Adicional, pois a autoridade municipal perdia competências judiciais e de polícia repassadas as Províncias, fazendo que abrigassem apenas a Câmara dos Vereadores e o presidente da Câmara, fazendo com que nas cidades ganhassem novos prédios públicos, que rivalizassem com ela, como os fóruns e a delegacias de polícias.

Foto: SEMURB. Local da antiga Casa de Câmara e Cadeia.

É importante acrescentar que, várias casas de Câmara e Cadeia passaram a se chamar Paço Municipal, abrigando simultaneamente o legislativo municipal e o executivo, ou Prédio da Câmara ou Casa dos Vereadores, quando abrigassem apenas o legislativo.

Ainda ao longo do período imperial e no início do período republicano foram reformadas ou derrubadas para construir em seu lugar novos prédios públicos para sede das Câmara dos Vereadores, ou das prefeituras, como foi o caso de Niterói, que se construiu em 1914, sobre a demolida Casa de Câmara e Cadeia, de 1824, o Paço Municipal de Niterói. Em várias cidades brasileiras anteriores a República, vários prédios públicos centrais, são resultados de reformas ou herdeiros de Casas de Câmara e Cadeia, como o caso na cidade do Rio de Janeiro, do Palácio Tiradentes, antiga Câmara dos Deputados, atual Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, e do Palácio do Conde dos Arcos, antigo Senado Imperial, atual Faculdade Nacional de Direito da UFRJ.

Foto aérea da antiga Casa de Câmara e Cadeia.
PELOURINHO. Natal / RN. Símbolo da autoridade real localizava-se , originalmente , na Rua Grande , atual Praça André de Albuquerque. Estava no meio da rua , em frente a antiga Cadeia , segundo o nosso grande Câmara Cascudo . Ele conta muito da História da Cidade de Natal e , hoje , está guardado na entrada do Instituto Histórico e Geográfico do nosso Estado .

Memorial Câmara Cascudo

O Memorial Câmara Cascudo é um ponto turístico da cidade de Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte. Fica localizado próximo à antiga catedral na Praça André de Albuquerque , no bairro da Cidade Alta.

O prédio é do fim do século XVIII e foi construído para sede dos serviços administrativos e fazendários da Coroa, o Real Erário, e posteriormente a Tesouraria da Fazenda. Em 1817, foi palco de um relevante fato histórico : a instalação do Governo Republicano do Rio Grande do Norte , no período de 9 de março a 25 de abril, presidido por André de Albuquerque Maranhão.

De sua construção até 1955, o edifício foi sede da Delegacia Fiscal, órgão do Ministério da Fazenda. Entre 1955 e 1982, o prédio abrigou o Quartel General do Exército e em sequência o recente Memorial. A partir de 10 de fevereiro de 1987 se transformou no Memorial Câmara Cascudo (por iniciativa do jornalista Paulo Macedo), que é, desde então, um dos locais mais visitados pelos turistas na cidade.

O Memorial tem como objetivo preservar e divulgar a vida e a obra de Luís da Câmara Cascudo, abordando diversos aspectos, com destaque a biblioteca particular de Câmara Cascudo, com cerca de 10 mil volumes de diversos assuntos como folclore, religião, história, biografias e romances, conta ainda com quadros que retratam momentos marcantes da vida de Câmara Cascudo. A biblioteca é considerada “rara” por possuir obras do início do século passado e livros em diversos idiomas. Grande parte dos livros tem anotações de próprio punho de Cascudo e dedicatórias dos autores.

A estátua de Câmara Cascudo, em tamanho natural, foi executada em bronze pela Fundição Zanini. O pedestal é uma mão estilizada, projetada pelo arquiteto Sami Eulália e executada pelo artista plástico Dorian Gray. O conjunto foi inaugurado em 10 de fevereiro de 1987 em frente ao memorial do grande intelectual.

Visa homenagear o maior historiador e folclorista do estado do Rio Grande do Norte e um dos maiores do país. E esse monumento foi a melhor forma encontrada para homenagear Câmara Cascudo e de fazer as pessoas conhecerem mais sobre esse grande artista do Rio Grande do Norte.

Palácio Potengi

Palácio Potengi. Fonte: CD Natal, ontem e hoje (Arquivo HCUrb).

Em meados do século XIX, funcionava naquele local a Assembleia Legislativa juntamente com a Tesouraria Provincial. Depois da proposta do Diretor de Obras públicas de demolir o sótão deste prédio e amplia-lo até a rua grande (hoje Praça André de Albuquerque), em 1866 o presidente Olintho José Meira resolveu destruí-lo para que fosse erguido um novo imóvel a fim de abrigar outros órgãos públicos (NESI, 2012).

A obra do atual Palácio Potengi, foi concluída em 17 de março de 1873, mesmo dia da sua inauguração. Em 10 de março de 1902, o mesmo prédio que serviu como sede ao Palácio do Tesouro, se tornou a nova sede do Governo (CASCUDO, 1999).

O prédio apresenta estilo neoclássico, contendo dois pavimentos com o partido e planta retangular, possui telhado de quatro águas, arrematado por platibanda corrida. Sua fachada contém uma simetria perfeita. Possui portada central, com três vãos em arcos plenos emoldurados por colunas e cunhais, ladeada por janelas de vergas retas. O Pavimento superior apresenta janelas rasgadas, com guarda- corpos de ferro, e na parede central uma sacada corrida, frontão triangular com brasão no tímpano. Atualmente o prédio funciona como Pinacoteca do Estado.

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação (Catedral Velha)

Esta edificação está localizada na Praça André de Albuquerque, na Cidade Alta, na área da antiga capela erguida em 1599 por ocasião da fundação da cidade, cuja conclusão só ocorreu em 1619. Durante o domínio holandês sobre a Capitania do Rio Grande, que perdurou de dezembro de 1633 a fevereiro de 1654, a igreja foi transformada em templo calvinista e, quando da fuga dos batavos, foi destruída (CASCUDO, 1999).

Igreja Matriz Nossa Senhora da Apresentação em meados do século XX. Localizada na Praça André de Albuquerque, foi a 1a. Igreja de Natal tendo sua construção iniciada por ocasião da fundação da cidade (1599). Constituída inicialmente apenas da capela mor, passou por sucessivas ampliações, sendo concluída em 1862, quando da edificação da sua torre. A partir do final do século XIX sofreu modificações e acréscimos na sua arquitetura original, adquirindo feições neoclássicas vistas na foto. Em 1995, passou por uma cuidadosa restauração que lhe devolveu as características coloniais de origem. Acervo do Memorial Câmara Cascudo. Enviada por Daliana Cascudo. Legenda: Daliana Cascudo com colaboração de Jeanne Nesi.
Foto da antiga igreja matriz de Nossa Senhora da Apresentação, na Praça André de Albuquerque, centro de Natal. No início do século XX era normal que escoteiros ficassem no alto da torre e desfraldassem bandeiras quando um barco era visto se dirigindo para o porto da cidade. Estas bandeiras possuíam cores distintas para diferenciar se os barcos vinham do norte, ou do sul. Durante anos este foi o local mais elevado da cidade, de onde fotógrafos registraram a evolução da cidade.

Desde a sua construção, o templo passou por diversas reformas que deram à antiga capelinha elementos para a sua atual configuração. Entre essas, Cascudo (1999, p.100) destaca a reconstrução ocorrida após a expulsão dos holandeses, as reformas de 1672-1694 e a remodelação geral de 1786, que “retiraram da matriz todos os característicos”.

Em 1995, foram realizadas obras na antiga Catedral Metropolitana de Natal com o intuito de reconstituir as suas formas originais. Foram descobertas antigas sepulturas – até o século XIX não existia cemitério em Natal – detalhes no piso, paredes, forros e altares que atestam a herança deixada por gerações passadas.

No mês de novembro de 1910, época em que se realiza as festas da padroeira da cidade, as atividades da igreja matriz de Nossa Senhora da Apresentação eram transferidas para a Praça André de Albuquerque, onde eram realizadas as quermesses, as novenas, os leilões em prol da paróquia e os folguedos populares em homenagem à padroeira.

Embora descaracterizado em relação às suas origens, este templo possui valor histórico indiscutível. Segundo Nesi (1994), seu tombamento a nível estadual ocorreu em 30 de julho de 1992.

Uma comemoração na década de 1920 diante da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação , na Praça André de Albuquerque, no Centro de Natal.

Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo

A Igreja de Nossa Senhora do Rosário possui Localização privilegiada. Está situada no Largo do Rosário, Cidade Alta, nas proximidades da Pedra do Rosário e da Praça André de Albuquerque. “Acha-se ela implantada em um platô, de onde se descortina toda a paisagem do estuário do Rio Potengi” (NESI, 1994).

A data de sua fundação não é definida com exatidão. Segundo Cascudo (1999, p.102), “A igreja é, salvo documento em contrário, de 1713 ou 1714 […]. É a nossa segunda igreja. A mais antiga, depois da matriz”. É também a menor e mais simples das primeiras igrejas construídas em Natal. As origens do templo explicam as razões dessa singeleza. Sua construção, realizada por escravos, foi direcionada para o atendimento aos segmentos sociais desfavorecidos: “era o local sagrado dos casamentos, dos batizados, das festas dos que nada possuíam” (CASCUDO, 1999, p. 102). Apesar de sua simplicidade, “trata-se de uma edificação de relevante interesse histórico e arquitetônico” (NESI, 1994), tombada no âmbito estadual em 30 de novembro de 1987.

Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte

Instituto Histórico e Geográfico do RN. Foto: Esdras Rebouças.
“Dois velhos becos da Cidade Alta ficaram famosos nos anais da literatura oral natalense. Podiam ter nome de beco do Buscapé. O primeiro, entre a Catedral e o Instituto Histórico, o segundo à esquerda da Delegacia Fiscal, ambos na antiga rua Grande, largo da Matriz ou praça André d’Albuquerque atual, têm crônica espaventosa de barulhos e correrias. Ninguém os atravessava sem preocupações e desconfianças de um encontro sonoro e luminoso.” Luís da Câmara Cascudo. (CASCUDO, 1999, p. 130). Instituto Histórico e Geográfico do RN Foto: Autor Desconhecido. Fonte: Acervo IHG/RN.

Localizado na Rua da Conceição, ao lado da antiga instituição cultural da cidade e do estado. De acordo com Jeanne Nesi (1999), sua construção data de 1906 e sua inauguração se deu em 1908. Além de abrigas o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, entre 1908 e 1933, também funcionou com sede do tribunal de justiça (GOSSON, 1998).

Tombado, como Patrimônio Histórico, a nível estadual desde 1984 esta edificação é guardiã da memória potiguar. Em seu acervo, encontram-se coleções de jornais, revistas e mapas e uma biblioteca com cerca de 25.000 volumes. Dentre as obras ali existentes destacando-se uma edição de Os Lusíadas (1720), uma coleção do Diário das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa (9º vol. De 1821-1823) e o único exemplar ainda existente da 1ª historia do Rio Grande do Norte, de Ferreira Nobre, edição de 1877.

Foto Aérea do Instituto Histórico e Geográfico/RN

A coluna dos Mártires

Diante da face virada para a Igreja Matriz (que não por acaso exibe o medalhão mais importante, aquele que homenageia os heróis norte-rio-grandenses), esses homens bem trajados se perfilam aos pés do monumento, cada qual empunhando as ferramentas que representam seu respectivo ofício.À estrema esquerda, o construtor italiano Miguel Micussi, que se notabilizaria nos anos seguintes por importantes construções.

Localizada na Praça André de Albuquerque marco zero da cidade, este monumento foi erguido em homenagem aos potiguares, Padre Miguelinho e André de Albuquerque, que tiveram destacada participação na chamada Revolução Pernambucana de 1817.

No dia 12 de junho de 1917, na cidade do Natal, na principal praça de então (denominada, desde 1888, de Praça André de Albuquerque), onde localizavam os principais prédios públicos, e que outrora se constituíra no largo onde a cidade teria sido fundada, um evento mobilizou a população. Muitas pessoas se reuniram na praça, vindas em sua maior parte conduzidas por um cortejo cívico que parecia ali findar sua procissão.

Segundo o programa que foi elaborado, o evento teria início com uma missa campal à porta da Igreja Matriz, na Praça André de Albuquerque, depois da qual dali sairia o préstito cívico, que se organizaria em grupos, da seguinte maneira: à frente, uma bandeira ou estandarte era empunhado por um sócio do Instituto, guardado em seguida por um corpo militar ou outro tipo de grupo, seguidos estes, por fim, por uma banda de música. Na verdade a única bandeira era a da Revolução de 1817. Os estandartes são um determinado tipo de bandeira, ricamente ornamentadas, que não se prestam para ser hasteadas, mas para servir como “guias” das tropas.

Toda essa mobilização se dava em torno e, em grande medida, em função desse objeto – o Obelisco –, pois todo o préstito cívico fora organizado para que findasse diante desse monumento, que se encontrava coberto por uma cortina e envolto por uma bandeira da Revolução de 1817; indicando que o momento mais esperado seria, precisamente, o de sua inauguração. É à sua base que o intelectual Henrique Castriciano, membro do Instituto e da comissão que organizou o evento, profere seu discurso. Foi por esse objeto que hinos foram entoados.

Os projetos do monumento a ser construído no jardim da Praça André de
Albuquerque, teriam sido organizados pelos engenheiros André Rebouças e Willy Fischer, sendo aprovado aquele que pareceu mais exeqüível e prático, que seria executado pelo construtor italiano Miguel Micussi. A Revista do Instituto se limita a essas informações. Infelizmente, as atas do ano de 1916, não foram publicadas em nenhumas das Revistas posteriores, e não tive acesso ao arquivo administrativo da instituição. Miguel Micussi, natural de Udine, na Itália, nasceu em 1870. Emigrou ainda jovem para o Brasil, primeiro para Minas Gerais, onde se casou, e depois para Natal, onde exerceu o ofício de empreiteiro e construtor, realizando diversas obras, sendo a primeira de destaque o Obelisco aos heróis de 1817 (PAIVA, Diego Souza de. Dossiê Micussi: notas e documentos. Natal: Acervo da ACIBRA (Associação Ítalo-Brasileira do Rio Grande do Norte), 2011.

Eram três horas e trinta minutos quando o carro triunfal chegou em frete ao Obelisco, ou ao que foi chamado de “monumento Miguelinho”, que ia ser inaugurado na presença do Governador do Estado, do IHGRN, do presidente da Intendência de Natal,
das autoridades e das escolas e comissões do préstito – estas últimas ocupando as alamedas do jardim da Praça, cheia, como registrou a Revista, “de uma das maiores aglomerações de povo que temos visto nesta cidade […]” (REV. IHGRN, 1917a,1917b, p. 83-84). No detalhe do carro triunfal nessa foto (talvez a mais emblemática delas), podemos o de forma mais precisa tanto o barrete frígio, sobre a cabeça da referida senhorita Nena Lustosa, como as bandeiras, os adornos, e a inscrição, no globo, dos mapas dos Estados que tomaram parte na Revolução Pernambucana de 1817, mais especificamente do mapa da então província do Ceará, que se encontra precisamente na parte posterior da esfera.

Outra nota que merece destaque nessa edição do jornal do dia 4 de junho é a referência ao vapor “Ibiapaba”, que esperado do sul do país no próximo dia 6 daquele mês, traria os medalhões de bronze que haviam sido mandados fundir no Rio de Janeiro, para serem colocados “no monumento a erigir-se na Praça André de Albuquerque por iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico deste Estado, para perpetuar a memória dos heroes de 1817” (A República 04 de junho de 1917. Ano, XXIX N° 124, p.1). Assim, temos presente aqui dois elementos destacáveis e importantes da organização das comemorações do centenário; a adesão da sociedade e a construção do monumento.

Esforço encarnado no próprio cortejo, expressão da mobilização de recursos, pessoas e objetos, que, saindo do ponto referencial da casa de Miguelinho, vai dando sentido ao percurso que traça pela cidade até sua chegada à Praça André de Albuquerque, onde o monumento seria inaugurado – sendo também nesse percurso que o próprio préstito adquiri o seu sentido.

O cortejo, organizado na esplanada da Rua Silva Jardim, partira assim, com uma missa, da casa onde Miguelinho teria nascido, seguindo toda a extensão da rua (desde 1906, nomeada de “Frei Miguelinho”), em seguida, percorreu a Av. Tavares de Lira, tomando a Avenida Duque de Caxias, a Avenida Sanchet, seguindo, por fim, após contornar a Praça Augusto severo, para a Avenida Junqueira Aires, a caminho da
Cidade Alta, passando em frente ao Palácio do Governo, contornando-o em direção à Praça André de Albuquerque.

As comemorações do dia 12 de junho de 1917 ainda se estendem à sessão solene do Instituto Histórico e Geográfico, realizada às sete horas, no Teatro Carlos Gomes, na qual discursou Manoel Dantas (Rev.IHGRN, vol. XV, n° 1 e 2, 1917; 94), e ao cinema público, com extensa programação, exibido na Praça André de Albuquerque.

Tratava-se de um obelisco de 5,10 metros de altura, (feito de granito das minas do município de Lages) sob um pedestal que, segundo a descrição presente na Revista do Instituto Histórico, trazia em suas faces quadro medalhões de bronze (de 88 X 65 cm), com os seguintes dizeres (respectivamente, na face diante da Catedral, no lado direito, no lado oposto e no lado esquerdo):

A Miguel J. de Almeida Castro e André de Albuquerque Maranhão/Que muito soffreram pela liberdade pátria/ A qual, morrendo valorosamente, exaltaram/ Seus concidadãos Erigiram este monumento para Ser venerado pela posteridade […].

O escudo do Rio Grande do Norte. […]17 de Dezembro de 1597 – Aqui aportou a expedição dos exploradores que, guiados por M. Mascarenhas Homem, primeiro occuparam esta região. […]

As bandeiras da Revolução de 17 e da Republica Brazileira, entrelaçadas, com as legendas; 6. III. 1817 – 15. XI. 1889 (Rev. IHGRN, N°. 1, v. XV, ano 1917; N°. 2, v. XV, ano 1917; 85-86).

CHEGADA DO CARRO TRIUNFAL (DETALHE)
Em 1984, na ocasião do 385º aniversário de Natal, os governos estadual e municipal, aliados à Igreja Católica, incluíram uma nova placa de bronze no Monumento dos Mártires de 1817. As seguintes palavras estão afixadas na placa:
“ Aqui, a 25 de dezembro de 1599, foi realizada a Missa de Fundação da Cidade do Natal. A aposição desta placa ocorre aos 385 anos após, sendo prefeito o Exmo. Sr. Marcos Formiga, governador o Exmo. Sr. José Agripino e arcebispo o Exmo. e Revmo. Sr. Dom Nivaldo Monte. Natal, 25 de dezembro de 1984.
Localizada na Praça André de Albuquerque , este monumento foi erguido em homenagem aos potiguares Padre Miguelinho e André de Albuquerque que tiveram destacada participação na chamada Revolução Pernambucana de 1817 . Foi entregue a população em 12 de junho de 1917 .
Constituído de uma coluna de granito sobre um pedestal, com inscrições em latim feitas pelo cônego Estevão Dantas . O projeto coube ao engenheiro Willy Fisher e execução de Miguel Micussi .
Nosso ponto de referência é essa agulha de pedra, situada em uma grande praça,
composta por um bloco de granito de 5,10 metros de altura, sobre um pedestal de pedra lavrada. Em cada uma das suas quatro faces um grande medalhão de bronze (88×65 cm) com inscrições em latim.

Fontes:

A CASA PRÓPRIA: SONHO OU REALIDADE? Um olhar sobre os conjuntos habitacionais em Natal. Prof. Dr. Márcio Moraes Valença
Orientador. NATAL – RN. 2007

A Praça André de Albuquerque – Por Prof. Dr. Lenin Campos Soares e Karla Barbosa – Natal das Antigas – https://www.nataldasantigas.com.br/blog/praca-andre-de-albuquerque – Acesso em 25/11/2021.

Anuário Natal 2007 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2008.

Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.

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Casa de Câmara e Cadeia – Casa de Câmara e Cadeia – https://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_de_C%C3%A2mara_e_Cadeia – Acesso em 25/11/2021.

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História do estado do Rio Grande do Norte. Rocha Pombo. Natal: Edufrn, 2019.

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Linhas convulsas e tortuosas retificações Transformações urbanas em Natal nos anos 1920. George Alexandre Ferreira Dantas. São Carlos – SP. Outubro de 2003.

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Um artífice mineiro pelo país: formação, trajetória e produção do arquiteto Herculano Ramos em Natal. Um artífice mineiro pelo país: formação, trajetória e produção do arquiteto Herculano Ramos em Natal. DÉBORA YOUCHOUBEL PEREIRA DE ARAÚJO LUNA. Natal / RN. 2016.

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