Augusto Severo realiza experiência com o dirigível “Bartholomeu de Gusmão”
Em 6 de março de 1894, o inventor brasileiro Augusto Severo de Albuquerque Maranhão realizou, em um galpão em Realengo (RJ), experiência de ascensão com o balão dirigível Bartholomeu de Gusmão, na qual o dirigível levantou do assoalho sete sacos de areia, num total de 142 kg.
No dia seguinte (7 de março), Augusto Severo realizou, em Realengo (RJ), a segunda ascensão cativa do dirigível Bartholomeu de Gusmão, em que a aeronave subiu a 8 m de altura, com 560 kg de lastro.
Características do Dirigível
O balão confeccionado na França tinha o volume de 2.000m³, media 60m de comprimento e possuía duas hélices. Foi feito por encomenda do Presidente da República, o Marechal Floriano Peixoto. Chegou ao Brasil em março de 1893. A estrutura em treliça, inicialmente projetada para ser executada em alumínio, foi construída em um hangar, entre o prédio da Escola Militar de Realengo e a “linha do trem”, na cidade do Rio de Janeiro, assim como a montagem de uma usina para a produção de hidrogênio.
Naqueles dias Augusto Severo e seu principal colaborador e administrador, Domingos de Barros trouxeram para orientar nos trabalhos de construção o engenheiro Lachambre, um dos maiores construtores de balões da França. Lachambre permaneceu no Rio de Janeiro por mais de seis meses.
A falta do material previsto para construção da estrutura fez com que Severo alterasse o projeto, construindo a parte rígida do aparelho em bambu. Tratava-se de uma estrutura complexa que deveria suportar o motor elétrico com as baterias e os tripulantes e, além disso, apresentar resistência suficiente para aguentar os esforços durante o voo.
Teste de Voo
Só em 1894, o Bartolomeu de Gusmão realizou as primeiras ascensões ainda como balão cativo e mostrou-se estável e equilibrado, demonstrando que a concepção proposta por Severo era adequada para o voo.
A introdução de uma estrutura semi-rígida integrada ao balão permitia que a hélice propulsora ficasse alinhada ao eixo longitudinal do invólucro, evitando assim que o aparelho apresentasse uma tendência de levantar o nariz quando o motor fosse acionado.
O problema, conhecido como tangagem, comprometia o equilíbrio e reduzia substancialmente a velocidade, mas antes do dirigível ser testado livre das amarras, uma tempestade destruiu o hangar e a aeronave.
Antecedentes
Em 6 de setembro de 1893 teve início a Revolta da Armada, sob o comando do almirante Custódio José de Melo (1840-1902) e, mais tarde, do almirante Luís Filipe Saldanha da Gama (1846-1895), com o objetivo de derrubar o governo do marechal Floriano Peixoto (1839-1895). A capital federal foi bombardeada pelos navios revoltosos, e no início de 1894 parte deles se dirigiu para o Sul do país, onde estava em curso a Revolução Federalista, alcançando a cidade de Desterro, hoje Florianópolis. Houve a ameaça de os revoltosos da Marinha se juntarem ao movimento federalista gaúcho.
Diante desse quadro, Severo apresentou a ideia de construir seu dirigível para ser usado no conflito como observador aéreo. O projeto foi submetido para análise ao Clube de Engenharia, que deu parecer favorável. Com o apoio do governo, teve início a construção do dirigível Bartolomeu de Gusmão no quartel do Realengo.
Porém, só em 14 de fevereiro de 1894, o Bartholomeu de Gusmão realizou as primeiras ascensões ainda como balão cativo e mostrou-se estável e equilibrado, demonstrando que a concepção proposta por Severo era adequada para o voo. A introdução de uma estrutura semirrígida integrada ao balão permitia que a hélice propulsora ficasse alinhada ao eixo longitudinal do invólucro, evitando assim que o aparelho apresentasse uma tendência de levantar a frente quando o motor fosse acionado. Este problema, que tem o nome técnico de cabragem, já havia sido experimentado em outros inventos e se constituía numa grande limitação de equilíbrio, além de reduzir substancialmente a velocidade.
A dirigibilidade de balões ainda não tinha sido resolvida, e a proposta de Severo se apresentou como inovadora e altamente promissora. Mas, no único voo do dirigível livre das amarras, a estrutura em bambu não aguentou os esforços e partiu-se. Sua recuperação não teve o apoio do governo de Floriano Peixoto, uma vez que o governo federal havia comprado uma frota de navios novos, e a Revolta da Armada já estava perdendo a força. O dirigível Bartolomeu de Gusmão simplesmente se deteriorou.
O inventor
Nascido em Macaíba (interior do Rio Grande do Norte) em 11 de janeiro de 1864, Augusto Severo de Albuquerque Maranhão é considerado o “Mártir da Tecnologia Aeronáutica”, por ser um dos pioneiros nessa atividade e ter falecido em um acidente aéreo em Paris, em 12 de maio de 1902.
Era filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e Feliciana Maria da Silva de Albuquerque Maranhão, tendo 12 irmãos, destacando-se Pedro Velho (que proclamou a república no Rio Grande do Norte, estado de que foi o primeiro governador) e Alberto Maranhão (presidente desse estado de 1900 a 1904 e deputado federal de 1927 a 1929). O próprio Augusto também foi deputado federal, e conseguiu no Congresso que o governo concedesse uma verba de cem contos de réis para apoiar as experiências de Alberto Santos Dumont.
Embora aos 25 anos de idade tivesse projetado o aeróstato Potyguarania, seu primeiro dirigível foi de fato o Bartholomeu de Gusmão (nome em homenagem ao pioneiro santista), construído em 1893 em Paris pela casa Lachambre & Machuron, a mesma que produziu vários balões para Santos Dumont. Tinha estrutura de bambu (por falta de recursos para fazê-la em alumínio), e estrutura rígida, antecedendo de 14 anos a experiência do conde Zepellin no lago Constança (na Suíça). Em 14 de fevereiro de 1894, foram feitos os primeiros testes de ascensão, mas a barca se partiu, danificando a estrutura. O insucesso e o fim da Revolta da Armada, no qual o governo brasileiro pretendia empregar o aparelho, levaram ao abandono do mesmo.
Augusto Severo voltou a Paris em 1902 para acompanhar a construção de um novo dirigível, o Pax, que se elevou no ar pela primeira vez em 12 de maio daquele ano, em testes com o aparelho preso ao solo, no parque aerostático parisiense de Vaugirard. Após dez minutos de evoluções, a 400 m de altura, uma explosão rapidamente destruiu o aparelho, causando a morte imediata do aeronauta e do mecânico Sachê. No local da queda, na Avenue du Maine, existe uma placa de mármore em memória de ambos.
Investigações posteriores indicaram que a falta de recursos financeiros para o projeto levara a algumas substituições que o próprio Augusto Severo considerava perigosas. A barca, projetada originalmente em alumínio, foi feita em bambu, mais pesado, o que tornou necessário aumentar a quantidade de hidrogênio no balão. Uma das válvulas de segurança para compensar o aquecimento do hidrogênio estava sobre o motor, que por sua vez era movido a petróleo, em lugar do motor elétrico previsto no projeto. O hidrogênio comprimido, saindo em jato sobre o motor aquecido, teria causado a explosão fatal.
Fontes:
Augusto Severo de Albuquerque Maranhão: vida, obra e legado – Fatos e Fotos de Natal Antiga – https://fatosefotosdenatalantiga.com/augusto-severo-de-albuquerque-maranhao-vida-obra-e-legado/
Testes de Ascensão do dirigível ” Bartolomeu de Gusmão” – FAB – https://www2.fab.mil.br/musal/index.php/curiosidades-historicas-item-de-menu/893-testes-de-ascensao-do-dirigivel-bartholomeu-de-gusmao – Acesso em 06/03/2022.
Uma homenagem a Augusto Severo – Novo Milênio – https://www.novomilenio.inf.br/santos/h0058q.htm Acesso em 06/03/2022.