Aero Clube do Rio Grande do Norte
O Aero Club do Rio Grande do Norte foi inaugurado em 29 de dezembro de 1928, no bairro de Cidade Nova (Tirol e Petrópolis), reunindo o charme dos salões, as aventuras da aviação e a competitividade dos esportes. A sua fundação visava à integração da cidade ao desenvolvimento da aviação comercial no Brasil. O governo do estado do Rio Grande do Norte cedeu o prédio, situado na Avenida Hermes da Fonseca, para ser a sede do clube. A aviação foi a grande novidade do Aero Club do Rio Grande do Norte.
O governo de Juvenal Lamartine coincidiu com a organização da aviação civil brasileira. O histórico de Natal nesse período é glorioso. Devido à sua privilegiada posição geográfica, Natal teve um papel fundamental nas travessias transoceânicas. Procurando desenvolver esse espírito aventureiro, foi criado o Aero-Clube de Natal e, no mesmo local, uma Escola de Aviação, chefiada por Djalma Petit, além de campos de pouso em vários municípios do estado.
Lamartine era um homem em harmonia com as mudanças de seu tempo, vestiase elegantemente, era amante dos esportes, mostrava-se fascinado por aviação, aparecia costumeiramente em revistas em fotografia com situações que traduziam a imagem do homem moderno. Em seu governo fundou o Aero-Club, construiu o estádio que levou seu nome e deu destaque as melhorias na infra-estrutura de serviços urbanos da capital. Tais ações refletem sua personalidade entusiasta com o progresso técnico.
A inauguração do Aero Clube de Natal, com dois aviões, pistas para pouso e uma escola de pilotagem, iniciou um período áureo na história da aviação para Natal. O governador Juvenal Lamartine ofereceu à nascente instituição um edifício do Estado para servir de sede, um crédito de 200 contos de réis para a sua organização inicial e um terreno bastante amplo, na avenida Hermes da Fonseca, destinado a ser campo de decolagem e de pouso da referida entidade.
Ali foi criada a Escola de Aviação, dirigida pelo comandante Djalma Petit, Diretor Técnico do citado Aero Club, que preparou cinco pilotos de turismo. (…) O Aero Club de Natal foi inaugurado oficialmente no dia 29 de dezembro de 1929 (SOUSA, 1989, p. 252).
ANTECEDENTES
Em 1916 Natal tinha 26. 000 habitantes, os bondes puxados por burros ainda estavam sendo utilizados e integravam os Bairros da Ribeira e Cidade Alta, se estendendo até as imediações do atual Aero Clube e depois ao “Monte” de Petrópolis.
O primeiro “plano” de ocupação da cidade do Natal foi o projeto de Cidade Nova (atuais bairros de Tirol e Petrópolis), época de mudanças e modernização. O traço do novo bairro com lotes e ruas largas, foi executado pelo agrimensor Antonio Polidrelli.
Com o apoio do governador Pedro Velho, o Presidente da Intendência de Natal, Joaquim Manuel Teixeira de Moura seguiu em frente com o projeto da Cidade Nova, enfrentando as críticas dos opositores (NATAL, 2007). A elite republicana capitaneada pelo chefe do executivo estadual, Pedro Velho, redesenhava o espaço urbano de Natal, buscava definir lugares de habitação para os novos donos do poder. A cidade velha representava o antigo regime monárquico. Neste sentido, era necessário realizar uma intervenção urbana que expressasse o novo momento político vivido no país.
Esta região era formada por sítios e “casas de campo” da elite republicana. O Dr. Alberto Maranhão, por exemplo, construiu uma linda casa de veraneio, onde hoje funciona o Aero Clube. Com a chegada da linha do bond, na atual Avenida Hermes da Fonseca, consolida-se o processo de ocupação, do atual, Tirol. O nome é referente a região da Áustria.
Nesse contexto, foi elaborado o Plano Geral de Sistematização por meio da Resolução no. 304, de 22 de abril de 1929, de autoria do arquiteto Giacomo Palumbo, pensado para uma cidade com aproximadamente 100 mil habitantes (DANTAS, 1929c, p.01). Esse Plano, dentre outras ações, previa o zoneamento da cidade em “(…) quarteirões administrativo, commercial, industrial, a cidade recreio [bairro-jardim] e os bairros residencial e operario (…)” (PREFEITURA…, 1981a), a exemplo das proposições corbusianas formuladas no IV CIAM (Figura 61). Segundo a engenheira Carmem Portinho (1930c, p.02), colaboradora na formulação do Plano, o bairro residencial compreenderia a Cidade Nova – Petrópolis e Tirol – e a construção de um estádio de futebol, de um parque de corridas, de praças, áreas de recreação e do Aero-Club.
O actual bairro residencial de Natal, denominado Petropolis-Tyrol, localisado na cidade alta já está cortado por largas avenidas e nelle se encontram as mais bellas residencias de Natal. Estão terminados, de accordo com o Plano de remodelação o stadium Juvenal Lamartine, o maior do Norte do Brasil. O prado de corridas e o Aero-Club do RN, com campo de pouso e escola de aviação civil. Foram reservados espaços livres nos quaes serão construídos recreios activos e praças publicas. Os jardins destinados aos recreios activos para crianças, serão apparelhados de accordo com a orientação moderna com balanços, gangorras, jogos, tanques de vadesção, etc (PORTINHO, Carmem V. A remodelação de Natal. A República, n.160, Natal, p.02, 13 jul. 1930).
Lugar de memória, o bairro Tirol, ainda preserva na sua paisagem, resistindo a expansão urbana, dois lugares de sociabilidade: o Aero Clube e o Estádio de Futebol Juvenal Lamartine. Patrimônios Históricos da capital potiguar.
O crescimento da ocupação desses bairros tendia a torná-los dependentes do centro da cidade. Segundo Cascudo (1999), desde sua origem, Tirol e Petrópolis estavam envolvidos pela Cidade Alta, como se fossem uma extensão da sua área residencial. Em 1939, ainda possuíam pouca infra-estrutura, da qual se destacavam os clubes esportivos – Aero Clube e Associação Feminina de Atletismo (AFA) –, o parque infantil e as quadras esportivas na Praça Pedro Velho.
A falta de espaços públicos para as atividades de lazer na Cidade Alta possibilitou, inclusive, a revitalização do Aero Clube. Este existia desde o final da década de 20 e estava localizado às margens da Avenida Hermes da Fonseca, na extremidade leste do bairro do Tirol. Sua fundação fora estimulada pelo início das atividades aeronáuticas na cidade, quando abrigou a escola de pilotos, que foi fechada logo após a Revolução de 30. Durante quase toda a década de 1930, o edifício ficou esquecido e, nesse período, voltou ao centro da vida social das elites políticas da cidade como um clube esportivo e de lazer.
Em 1939, o Aero Clube era um lugar de acesso restrito a poucos frequentadores e estava sob a presidência do Prefeito Gentil Ferreira. Suas instalações haviam sido reformadas e os caminhos que lhe davam acesso haviam sido adaptados aos automóveis que, naquele período, transportavam um público em torno de seiscentas pessoas a cada festa. Seus frequentadores, estimulados pelo clima de modernização por que a cidade passava, envolviam-se na adoção da sofisticação e da elegância de um novo estilo de vida.
INAUGURAÇÕES
“A Solidão, Tirol, é bairro de gente rica e que sabe viver. Lá no cimo está o Aéro Clube, que não é mais Aéro e sim Clube, mas suas festas não dão saudades às do Tijuca Clube”, Câmara Cascudo.
A sessão inaugural:
No dia 17 de fevereiro de 1928, sexta-feira, foi realizada com início às 19:00hs no Teatro CARLOS GOMES (hoje Teatro ALBERTO MARANHÃO), a sessão inaugural do Aeroclube. Antes de iniciar a sessão, um grupo de sócios fundadores composta de FERNANDO PEDROSA, CÍCERO ARANHA, CRISTÓVÃO BEZERRA DANTAS, ADAUTO CÂMRA, NESTOR DOS SANTOS LIMA e Cmte. (Aviação Naval) MANOEL DE VASCONCELOS, convidou o Presidente (como era chamado o Governador antigamente) do Estado JUVENAL LAMARTINE para presidir a referida sessão.
Após a solenidade e encerrando a sessão, JUVENAL LAMARTINE “agradeceu a boa acolhida que o clube teve por parte dos elementos mais representativos de nosso meio, augurando-lhe brilhante porvir”. No dia 19 de fevereiro de 1928, “A República” publicou um longo editorial, na primeira página, acerca do evento.
O prédio onde o Aero Clube funcionou estava situado na Avenida Hermes da Fonseca, onde anteriormente estava a casa de veraneio do Dr. Alberto Maranhão, e contou com um crédito de 200 contos de réis para a organização inicial. A sede do Aero foi construída em terreno doado pelo Governo do Estado, onde ainda permanece. Ao seu lado, dois campos de aviação, que não existem mais.
No mês de março de 1928 intensificaram-se os serviços de reconstrução e adaptação da nova sede social, assim como os trabalhos de arrancamento dentocos e a limpeza do terreno destinado ao campo de pouso.
Paulo Viveiros em seu livro da Aviação no Rio Grande do Norte, conta: “A nova instituição visava despertar o interesse pela aviação, mantendo para esse fim, uma escola de pilotagem para qual adquiriu aviões em que pudessem os interessados realizar os seus estudos práticos e teóricos”.
O Cmte. PETIT chegou à Natal em 21 de março de 1928, tendo visitado além do Presidente do Estado, a redação do jornal “A República”, em companhia do Cmte. NEREU CORREIA e do Sr. ERIC GORDON, representante da CGA – Compangnie Générale Aèropostale. O Cmte. PETIT foi incumbido pelo Governo Federal de viajar a Natal a fim de “estudar a construção do campo e do aeroporto da Capital”. Ele foi o 1º instrutor de vôo do Aeroclube do Rio Grande do Norte.
Dentro do Aero Clube foi criada, também, uma escola de aviação dirigida por Djalma Petit, que preparou cinco pilotos de início. Estes jovens receberam brevês outorgados pelo Aero Clube Brasileiro, por intermédio da delegação da Federation Aeronautique Internacionale. A esta primeira turma formada seguiram-se outras.
A 26 de setembro de 1928, o Aeroclube do Rio Grande do Norte ficou oficialmente filiado ao Aeroclube Brasileiro, com sede no Rio de Janeiro. O Aeroclube Brasileiro, posteriormente, mudou sua denominação para Aeroclube do Brasil.
No dia 09 de dezembro de 1928, decolou de Natal com destino a Recife, o avião CURTISS de propriedade da S/A WHARTON PEDROSA, tendo como piloto o Cmte. DJALMA PETIT e como passageiro FERNANDO GOMES PEDROSA, diretor daquela firma comercial. Eles foram ultimar as providências para a remessa à Natal do avião “BLUE BIRD”, adquirido pelo Aeroclube do Rio Grande do Norte, e que se encontrava na capital pernambucana, procedente da Inglaterra.
O Aero-Club do Rio Grande do Norte, que o dr. Juvenal Lamartine preside, é uma instituição capaz de ser assemelhada aos grandes clubs aereos norte-americanos, que além de funcções technicas, cumpre a missão social de estabelecer o contacto entre a aviação e a vida diaria da população (PORTINHO, Carmem V. Os progressos constantes da aviação. A República, Natal, n.85, p.01, 16 abril 1929 (publicado inicialmente no Jornal do Brasil, Rio de Janeiro).
Percepção que baseava na maior dinâmica da vida urbana, da obrigação social do footing, das danças modernas – como o charleston, o rag-time, o two-step – de ritmo sincopado, cuja vibração parecia corresponder à agitação e a velocidade atribuída à cidade moderna; na introdução do automóvel na vida cotidiana, o que implicaria inclusive na mudança do carnaval – evento que se deslocaria para as avenidas estruturadas a receber um corso de veículos –, substituindo paulatinamente o popular “entrudo patuscador”; na vida social noturna mais diversificada, dos bailes elegantes no Natal-Club ou, a partir de 1928, no Aero-Club; na constância da passagem e pouso dos aviões e hidro-aviões que cruzavam os ares da cidade devido às aventuras dos raids aéreos ou à incipiente rota comercial que se estruturava ao longo da costa atlântica das Américas; na diretriz “progressista” do governo estadual, que incentivava a difusão do feminismo e possibilitara o voto feminino nas eleições de 1928. Entretanto, essa percepção vinculava-se principalmente às transformações urbanas empreendidas pela administração municipal de O´Grady desde o final de 1924, quando assumiu a vaga deixada em aberto depois do falecimento de Manoel Dantas.
Em outubro de 1928, foi inaugurado, pelo então governador Juvenal Lamartine, o primeiro estádio de futebol de Natal. O campo da Liga de Desportos Terrestres de Natal era localizado no bairro do Tirol, que segundo o médico Januário Cicco era “o bairro mais saudável da cidade”, ficava na Oitava Avenida, atual Hermes da Fonseca, próximo às famosas chácaras construídas pela elite natalense naquelas imediações, ao campo de aviação do aeroclube e, especialmente, às dunas cobertas de vegetação que existiam no lado Sul da cidade.
As elites locais sonharam em reformular a cidade para colocá-la nos rumos da civilização, integrado-a ao mundo. O rádio também foi um desses objetos que materializaram a modernização da vida e que dependiam de energia elétrica, um dos principais meios de divulgação dos novos hábitos, das novas formas de viver, vestir, agir, pensar. Foi um objeto muito responsável pela sofisticação dos costumes, por mudanças de comportamento (Antes do desenvolvimento dos meios de comunicação televisionados) , objeto que fazia circular as novidades do mundo.
De acordo com matéria d’A Republica, pelo rádio logo as novidades chegavam também em Natal: É estupendo que as novidades mais recentes de Nova York e Paris sejam conhecidas logo nos meios elegantes do mundo. Uma chronista de putins explicava há pouco tempo de que modo são importadas as elegâncias. Pelo milagre do rádio as nossas elegantes poderiam agora mesmo solicitar os desenhos (…) mais recentes na galeria de Marliau e Armand. Poderiam comparecer ás reuniões brilhantes do Aero-club, embrulhadas nas suas capas de veludo ‘ivoire’, vestidas assim á maneira parisiense (VIDA social – a moda pelo rádio. A Republica. Natal, 05 de maio de 1929, p.02.).
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A inauguração oficial
Precisamente às 16:00 horas do Sábado, 29 de dezembro de 1928, o Presidente do Estado JUVENAL LAMARTINE e sua Sra., acompanhados pelo Ajudante de Ordens, chegaram à sede do Aeroclube, sendo recebidos pela Diretoria do Clube. À entrada, no salão, JUVENAL LAMARTINE foi saudado com uma prolongada salva de palmas.
Na presença de elevado número de pessoas, o Dr. DÉCIO FONSECA, 2º Vice-presidente do Aeroclube, dirigindo-se ao Presidente LAMARTINE, agradeceu “a honra de sua visita solicitando-lhe que declarasse por inaugurado o Aeroclube”.
O Chefe do Governo potiguar discursou então, dizendo em certo trecho: “Não conheço no momento que vamos vencendo, agente mais poderoso da identidade de alma e de ideal brasileiros do que a AERONAVE, a serviço dos propósitos magnos da nacionalidade que, bem compreendidos e interpretados, são de própria humanidade, tal a consonância do espírito brasileiro, pacifista e universalizado, com o próprio espírito humano.”
Em seguida, o Dr. ADAUTO CÂMARA, 1º Secretário do Aeroclube, procedeu à leitura da ata relativa à sua inauguração, a qual foi assinada pelo Presidente LAMARTINE, Secretários de Estado, representante do Ministro da Viação, representantes de quase todos os presidentes de Estados do País, representantes do Aeroclube do Rio de Janeiro e São Paulo (recém fundado) e autoridades federais, estaduais, eclesiásticas, etc.
Depois, compacta massa popular postada nas imediações do clube, aguardou a vinda dos aviões, decolados às 16:30 horas do Campo de Parnamirim. Surgiram, logo, no horizonte, dois aviões: o “BLUE BIRD” do Aeroclube, pilotado pelo seu Diretor Técnico DJALMA PETIT, trazendo a bordo FERNANDO PEDROSA, e uma aeronave da C.G.A., pilotada por DEPECKER, conduzindo J. PIRON e dois mecânicos da empresa.
Ambos os aviões executaram algumas acrobacias perante a grande massa popular e pousaram, em seguida. Foi então levado a efeito a cerimônia de batismo do avião do Aeroclube, dando-se-lhe o nome de NATAL. Foram madrinhas as Senhoras JUVENAL LAMARTINE e FERNANDO PEDROSA.
Às 21:00 horas foi iniciado o baile, encontrando-se a sede profusamente decorada, terminando as danças às 03:00 horas de Domingo. O traje foi a rigor. À tarde, tocou a Banda de Música da Polícia Militar. O comércio natalense fechou às 15:00 horas para que todos pudessem assistir as festividades da inauguração, correndo “bondes extras” na linha do Tirol, entre o Natal Clube (no centro da cidade) e o Aeroclube.
Durante a tarde, JUVENAL LAMARTINE teve a oportunidade de realizar um vôo sobre a cidade do “Natal”, pilotado por DJALMA PETIT, ocasião em que foram feitas diversas acrobacias, “caindo a aeronave em parafusos, loopings e vôos rasantes”.
Os clubes eram espaços de sociabilidade com grande importância no cenário da vida social da cidade de Natal. Nas duas primeiras décadas do século XX, as principais festas aconteciam nos salões dos clubes da Cidade Alta, a exemplo do Natal Club, inaugurado no dia 9 de outubro de 1909, na Avenida Rio Branco.
A criação de outros clubes, como a Associação dos professores e o Aero Club do Rio Grande do Norte, permitiu a expansão de espaços de sociabilidade para o bairro de Cidade Nova (Tirol e Petrópolis). O Aero Club do Rio Grande do Norte foi inaugurado em 29 de dezembro de 1928, no bairro de Cidade Nova, reunindo o ―charme dos salões, as aventuras da aviação e a competitividade dos esportes (MARINHO, 2011, p. 106.). A sua fundação visava à integração da cidade ao desenvolvimento da aviação comercial no Brasil. O governo do estado do Rio Grande do Norte cedeu o prédio, situado na Avenida Hermes da Fonseca, para ser a sede do clube. A aviação foi a grande novidade do Aero Club do Rio Grande do Norte.
A amplitude dos terrenos de Tyrol e Petrópolis facilitou a construção de quadras esportivas, como podemos constatar no mapa da Cidade Nova, lá estavam localizados o campo de treinamento do ABC, o ground da praça Pedro Velho, o Natal Tennis Club, o Aero-Club e o Estadio Juvenal Lamartine.
No seu primeiro ano de funcionamento, o Aero Club já passava pelo mesmo inconveniente, que levou um dos integrantes da diretoria do clube, o Sr. Ulysses de Medeiros, nas vésperas do carnaval de 1929, a disponibilizar aos sócios um posto da tesouraria do clube no guichê do cinema Polytheama, facilitando assim o pagamento das mensalidades, dispensando a necessidade do longo
deslocamento dos sócios habitantes do centro ao bairro do Tyrol. E justifica a ação argumentando que “esta providencia impõe-se em virtude da deliberação da Directoria de só ser permittido o ingresso nos bailes de Carnaval, aos sócios quites com a Thesouraria” (AERO- Club do Rio Grande do Norte. A Repubilica, Natal, 7 fev. 1929.). A inconstância no pagamento leva a crer que não apenas os mais abastados se associavam aos estabelecimentos recreativos, mas também muitos membros de uma classe média urbana, que tentava fazer parte das mesmas atividades sociais dos grupos mais abonados.
O Aero Club em pouco tempo se tornara a menina dos olhos da sociedade natalense. Em seus ornamentados salões, desfilavam dames e demoiselles, em vestidos leves, com as pernas à mostra e cabelos à la garçone, quase sempre encobertos por seus chapéus cloche. O novo clube era a sensação das elites locais, e o escol social que frequentava os seus salões era acompanhado de perto pela revista Cigarra, que cobria com fotos e comentários os principais eventos que lá tomavam lugar.
O conjunto de atrativos oferecidos pelo Aero Club fez com que seu nome fosse anunciado com frequência no jornal A Republica. A influência do clube sobre a sociedade era intensa ao ponto de influenciar uma fábrica de cigarros que funcionava em Mossoró a nomear o seu produto de Aero Club em homenagem ao clube. Segundo o redator d’A Republica “A ideia da referida fabrica não poderia ser mais feliz, dada a acceitação que têm tido em nosso commercio os seus productos” (UMA HOMENAGEM ao Aero-Club. A Republica, Natal, 10 jan. 1929.) Relacionar o cigarro ao nome do clube era uma forma estratégica de induzir o consumidor a conectar a marca de cigarro ao prestígio e elegância do Aero Club.
OS PRIMEIROS VOOS
A 20 de janeiro de 1929, foi noticiado que a Diretoria do Aeroclube “decidiu que a todos os sócios desejosos de efetuarem vôos sobre a nossa Capital, fossem facilitados os meios necessários.” Ficou encarregado do relacionamento dos candidatos aos vôos populares, o 2º Secretário do Clube, ANÍBAL CALMON COSTAS. Os vôos passaram a ser efetivados somente aos domingos, com início pela manhã, às 07:00 horas e à tarde, às 16:00 horas. Os vôos foram também autorizados para as senhoras e irmãs solteiras dos sócios da agremiação.
Primeira viagem do “NATAL”:
Às 06:00 horas de 22 de janeiro de 1929, o Presidente LAMARTINE viajou para a cidade de Mossoró, no avião “NATAL”, pilotado por DJALMA PETIT. O deslocamento da aeronave do Aeroclube foi acompanhado pelo avião “Laté 25”.
Primeiro pouso de emergência do “NATAL”:
A 05 de fevereiro de 1929, viajou à cidade de Angicos, em visita ao Campo Ararinha, o capitalista argentino ENRIQUE DE BENEDETTI, um dos financiadores do reide Buenos Aires – Servilha, o qual foi cumprido no mês de março do mesmo ano.
O referido cidadão foi passageiro do “NATAL”, pilotado por DJALMA PETIT. A viagem de ida foi de 01:20 horas, não tendo ocorrido qualquer anormalidade.
No regresso, devido ao mau tempo e chuvas pesados, PETIT foi obrigado a fazer um pouso de emergência num terreno de declive, com obstáculos e de pequenas dimensões, na fazenda do Sr. JÚLIO TEXEIRA DE VASCONCELOS, não conseguindo parar o avião, o mesmo penetrou num bosque de juremas, rasgando a tela em diversos pontos das asas.
Devido aos danos causados e às pequenas dimensões do terreno, não houve qualquer possibilidade do avião decolar, sendo transportado posteriormente por caminhão para Natal.
Primeiras missões de salvamento:
Às 04:00 horas do dia 17 de dezembro de 1929, acidentou-se na cidade de Santo Antônio, um avião uruguaio tripulado por LARRE BORGES e CHALE, os quais estavam realizando um reide Sevilha – Montevidéo. Os mesmos foram transportados para Natal no avião do Aeroclube, pilotado por DJALMA PETIT. Por se encontrar levemente ferido, CHALLE foi o primeiro a ser conduzido, no mesmo dia do acidente. No dia imediato, 18 de dezembro, LARRE BORGES foi levado para Natal.
Os primeiros curativos foram feitos pelo médico da C.G.A., Dr. RICARDO BARRETO e, em Natal, pelo Dr. JOSÉ TAVARES DA SILVA que fez uma pequena cirurgia sobre a vista esquerda de CHALLE.
Às 11:30 horas de 21 do mesmo mês, os dois uruguaios embarcaram no avião da “Latecoère” com destino ao Rio de Janeiro. O avião, bastante danificado, foi transportado do local do acidente até Parnamirim e, após encaixotado, remetido através de navio para o Uruguai.
Essas foram, portanto, as primeiras missões de busca e salvamento realizadas por avião do Aeroclube do Rio Grande do Norte.
A opinião do mestre Cascudo:
Estando em Recife, em fevereiro de 1930, o escritor LUÍS DA CÂMARA CASCUDO concedeu uma entrevista ao jornal “A Notícia”, editado naquela cidade.
Extraímos o seguinte trecho: “O avião é ave familiar nos céus potiguares. A propaganda de Natal, cidade do avião, é feita pelos aviadores. O Ministro VICTOR KONDER (da Viação), chamou-a de “cais da Europa”. O Aeroclube tem sua finalidade lógica. Não é um clube de jogo, nem exclusivamente de danças. Visa a divulgação do avião como elemento de aproximação econômica do ligamento diplomático e comercial, de anulador das distâncias. O Aeroclube tem cumprido seu dever social. A sua Escola de Aviação é uma afirmativa moderna.”
Os primeiros “solos” no Aeroclube :
No dia 27 de fevereiro de 1930, ocorreu o primeiro solo da turma que cursava a Escola de Vôo do Aeroclube. Coube ao aluno EDGAR DANTAS essa primazia. Depois de voar 09:20 horas de instrução, o seu “solo” foi de 30 minutos.
Em regozijo, após o vôo EDGAR DANTAS ofereceu uma aça de champanhe ao Cmte. PETIT e aos seus colegas de turma, seguindo-se o tradicional batismo à champanhe (hoje, com óleo de motor…) EDGAR DANTAS conseguiu alcançar essa marca em pouco mais de um mês. No dia 1º de março, foi a vez de FERNANDO PEDROSA, um antigo entusiasta da aviação. Às primeiras horas da manhã ele sobrevoou a cidade pilotando o “NATAL II” do Aeroclube.
Volto ao livro de Paulo Viveiros. Escreveu assim:
“ Em março de 1930, o conhecido acrobata Charles Astor proporcionou aos associados do clube um espetáculo inédito, com uma série de números de acrobacias aéreas.” E mais adiante: “O aviador argentino Aubone Queiroga, entrevistado no Rio, pelo jornal O Globo, depois de seu regresso de Natal, disse: “O Aero Clube do Rio Grande do Norte é um brinco e, de certo, o melhor da América do Sul.”
Edgar Dantas – o primeiro civil a morrer pilotando um avião no Brasil
Era uma manhã de sexta feira, dia 23 de maio de 1930. Cedo havia um movimento no campo de pouso do Aeroclube do Rio Grande do Norte. Circulavam os membros do curso de pilotagem da Escola de Voo do Aeroclube. Eles estavam no hangar da entidade, se preparando para uma costumeira seção de voos na “periferia” da pequena Natal, na região do atualmente populoso e verticalizado bairro do Tirol.
Esta turma de futuros pilotos, que em dezembro de 1929 haviam se matriculado para o curso, era formada por filhos da elite local. Faziam parte Otávio Lamartine, Fernando Pedroza, Aldo Carielo, Eloy Caldas, Plínio Saraiva e Edgar Dantas. O Aeroclube do Rio Grande do Norte havia sido fundado em 29 de dezembro de 1928, possuía uma boa infraestrutura de ensino aeronáutico, com sede, hangar e duas aeronaves modelos “Blue Bird”. Eram as aeronaves Natal I e II.
Naquela tranquila manhã, segundo a edição de 24 de maio de 1930, do jornal A República, o aluno Plínio Saraiva não se encontrava, mas estavam presentes o mecânico Abel de Oliveira e o instrutor de voo Djalma Fontes Cordovil Petit. Este era carioca, militar da Marinha do Brasil, com o patente de capitão-tenente, que havia realizado seu curso de aviador na Escola de Aviação Naval, no Rio de Janeiro e era muito hábil com um avião nas mãos. Foi o primeiro instrutor da entidade e estava em Natal desde o primeiro semestre de 1928.
Primeiramente fizeram voos solo no avião Natal I, os alunos Otávio Lamartine e Eloy Caldas. Na continuidade subiria Edgar Dantas. O exercício do dia consistia que cada aluno decolasse, dessem duas voltas no campo do clube e depois deveriam proceder a aterrissagem. Tudo indica que a pista de pouso do Aeroclube cruzava as atuais pistas da Avenida Hermes da Fonseca, uma das principais de Natal.
Consta que a decolagem foi tranquila, mas, segundo as páginas de A República, o jovem Edgar Dantas, com apenas 21 anos, realizou uma manobra imprudente, efetuando uma curva fechada para realizar a aterrissagem, a apenas 20 metros do solo. Mas devido à baixa velocidade e altitude, o avião foi de encontro ao solo. A aeronave, conforme podemos ver na foto, caiu quase na vertical. O piloto foi atingido por uma estaca de uma cerca, que fraturou seu crânio no frontoparietal, provocando forte sangramento. Esta cerca pertencia a um curral da propriedade do Sr. Fausto Amaral.
Segundo o escritor Paulo Pinheiro de Viveiros, autor livro “História da aviação no Rio Grande do Norte”, publicado pela Editora Universitária, de Natal, em Setembro de 1974, do hangar do Aeroclube o instrutor Petit pronunciou “-Vejam como se morre em plena mocidade!”.
Após o impacto, a turma correu desesperada para o local. O inglês Eric Gordon, que jogava “tennis” em uma área do Aeroclube, pegou seu carro para levar o rapaz para o Hospital Jovino Barreto, atual Onofre Lopes, mas era tarde.
A cidade parou. Várias pessoas foram à casa de sua família amparar sua mãe, viúva do ilustre Manoel Dantas. Outra multidão seguiu para ver o avião no solo. Às quatro e meia da tarde ocorreu o sepultamento, com grande acompanhamento da população local.
Faltava pouco tempo para Edgar receber o seu “brevet” de pilotagem, já tinha voado dez horas solo sem nenhum problema. Bem, antes que os especialistas em aviação afirmem que o titulo deste texto é uma mentira, ou que errei, sugiro que deem uma passada na página 153, do cujo autor é Paulo Pinheiro de Viveiros. Nesta página lemos que Dantas “Foi o primeiro civil que se sacrificava no Brasil” (em um avião). Se assim foi, ou não, o que importa foi como aconteceu.
A ESCOLA PARA AVIADORES
As intenções do novo clube iam muito além de apenas movimentar a vida mundana da cidade. O Aero Club, juntamente com a escola para pilotos aviadores, que funcionava no mesmo endereço, fazia parte de uma política de integração econômica do Estado. A aviação parecia a mais promissora solução para os problemas de comunicação de Natal com o interior do Estado. Assim, o governo estadual investiu na construção de 28 pistas de pouso nos principais entrepostos comerciais do Rio Grande do Norte. As ambições do governo, em especial do governador Juvenal Lamartine, no que diz respeito à aviação no Estado, iam além. Era projeto do governo a construção “de uma base de aviação que deveria ser a mais importante da América do Sul” (LAMARTINE, Juvenal. Meu governo. v. 807. Mossoró: Coleção Mossoroense, 1992. p. 50-51.).
As iniciativas do governo em prol da aviação eram euforicamente comentadas, com uma forte dose de orgulho ufanista, pelo jornal A Republica e pela Revista Cigarra, que não cansavam de exibir imagens de aviões em pousos e decolagem, sempre cercados por uma curiosa platéia. A inauguração da pista de vôo do Aero Club trouxe a Natal os serviços da Aeropostale, companhiafrancesa de correis aéreos. Dessa forma, as correspondências particulares dos natalenses conseguiriam atravessar o Atlântico em seis dias, ou aterrissar nas praças do sul em poucas horas. Para muitos contemporâneos a inclusão do correio aéreo em Natal seria o princípio do processo de internacionalização do estado. O fato de as aeronaves não conseguirem percorrer grandes distância sem escalas, fazia de Natal uma parada estratégica nas rotas sul-americanas que seguiam rumo a Europa, razão pela qual o ministro da aviação apelidara Natal de “cais da Europa.” (AVIAÇÃO commercial no estado. Cigarra, Natal, ano 2, n. 3, p. 35, abr. 1929.).
A aviação sem dúvida foi o grande destaque do clube, e o sucesso da aviação no Estado merecia evidência na imprensa local. Além de gerar uma perspectiva de inserção do Estado no mercado internacional, a aviação inaugura um novo olhar sobre o céu da cidade, como nos mostra a reportagem d’A Republica:
A directoria do Aero-Club, querendo proporcionar aos seus associados e familiares horas de distração encantadora, lhes está facilitando passeios aéreos sobre esta capital, no exellente apparelho “Natal”, de propriedade do Club. Domingo ultimo realizaram-se os primeiros vôos, que a directoria do Aero-Club mantera regularmente todos os domingos pela manhã e pela tarde. (TARDES de avião de domingo. A Republica, Natal, 22 jan. 1929).
O olhar panorâmico, a cidade vista do alto, ordenada, organizada era uma nova interpretação do espaço urbano. Essa excitação causada pelo Aero Club se revela nas imagens cotidianas, como a capa da primeira edição da revista A Cigarra, que mostra um céu coberto de aeroplanos. As máquinas voadoras fascinavam não apenas os natalenses, mas toda a civilização ocidental que passara a vestir a figura do aviador com um manto de bravura e heroísmo. Esses heróis de asas cruzavam os céus, arriscando suas vidas em perigosas travessias, quebrando recordes, diminuindo distâncias, unindo as nações. (EKSTEINS, Modris. A sagração da primavera: a grande guerra e o nascimento da era moderna. Rio de Janeiro:
Rocco, 1991. p. 311-322.).
Mulheres – Bertha Lutz
Há um detalhe muito importante nessa história do Aero Clube. Entre seus fundadores há uma mulher, das mais importantes líderes feministas do Brasil, a paulista Bertha Lutz (1894-1976), que organizou o I Congresso Feminista do Brasil (1922), tendo antes, em 1919, fundado a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, no Rio de Janeiro. Bertha Lutz, que também foi política tendo sido deputada federal pelo Rio der Janeiro, era amiga do doutor Juvenal Lamartine, um dos pioneiros do projeto que concedeu a mulher direito ao voto no Rio Grande do Norte. Isso em foi em 1927.
Bertha Lutz deve ter vindo ao Rio Grande do Norte para a posse da primeira prefeita eleita do Brasil, Alzira Soriano, prefeita de Lajes. E aí, Juvenal Lamartine homenageou a amiga como fundadora do Aero Clube. No livro de Paulo Viveiros está a lista completa dos fundadores, nesta ordem: Juvenal Lamartine de Faria, D. Bertha Lutz, Octavio Lamartine, Olavo Lamartine, Cícero Aranha, Adaucto Câmara, Cristovão Dantas, Fernando Pedrosa, Manuel Augusto Pereira de Vasconcelos, Nestor Lima, Omar O’Grady e Eric Gordon.
A esta lista, segundo Paulo Viveiros, foram “posteriormente, acrescentados em folha de papel datilografada, os seguintes nomes”: José Augusto Bezerra de Medeiros, Dr. Januário Cicco, Des. Felipe Guerra, dr. Antônio de Souza, Coronel Aureliano Medeiros, dr. Décio Fonseca, Coronel João Augusto, João Galvão Filho, Des. Antônio Soares, dr. Luiz Antônio, dr. José Chaves, dr. Ernesto Fonseca.
Mulheres – Lucy Garcia Maia
“Era o sonho de Ícaro vestindo saias. Atendia pelo nome de Lucy Garcia Maia e aos 24 anos ela decidiu frequentar o curso de pilotos promovido pelo Aero Clube de Natal e se tornou a PRIMEIRA AVIADORA POTIGUAR. Filha de tradicional família natalense, desportista, aviadora pioneira, Lucy Garcia Maia nasceu em Natal em 1918.
Educada na Escola Doméstica, que formava gentis senhoritas da sociedade local em administração do lar, Lucy Garcia preferiu seguir sua irresistível vocação para os esportes. Jogou tênis, vôlei, basquete e praticou até mesmo um esporte exclusivo para homens: o remo. Foi uma das fundadoras do Centro Desportivo Feminino, que incentivou a prática do esporte às mulheres natalenses.
Destemida e audaciosa, enfrentou tabus e discriminações e, em 1942, conseguiu o feito de se tornar a primeira mulher norte-rio-grandense brevetada no Aero Clube. Assim como o remo, a aviação civil era um esporte exclusivamente masculino. Mas isso não intimidou Lucy Garcia que, com o apoio do pai, foi adiante no seu sonho de voar.
Iniciou a instrução de vôo, em julho de 1942, cercada de homens, seus colegas e instrutores. Após treze horas de instrução de vôo, ela recebeu o comando da aeronave, um Piper Cub J-3, para fazer o solo.
Pelo regulamento do curso, Lucy Garcia dispunha de quinze minutos para fazer seu primeiro voo. Decolou da Base Aérea de Natal, atravessou a cidade no sentido norte, cruzou o rio Potengi, fez voos rasantes sobre a praia da Redinha, as dunas, o azul-turquesa das lagoas. Mais por encantamento do que por rebeldia, a aviadora de 24 anos rompia os limites impostos e extasiava-se nas alturas. Na volta à base, os colegas e seu instrutor a esperavam muito apreensivos.
Voou por cinco anos, chegando, inclusive, a fazer viagens para Fortaleza, Recife e João Pessoa. Repetia por aqui a audácia da norte-americano Amélia Earhart, que 10 anos antes – 1932 – tornou-se a primeira mulher a atravessar o Atlântico, pilotando um avião, em voo solo, proeza, até então, realizada por um homem: Charles Lindbergh, em 1927. Amélia desapareceu no Pacífico, em 1937, quando tentava ser também a primeira a completar uma volta em redor da Terra.
Em 25 de outubro de 1942, com um acervo de aproximadamente oitocentas horas Lucy recebeu a carta do brevê, com autorização para pilotar aviões dos tipos Piper J-3, Culver e PT-19. Em 1947, casou-se com Evaldo Lira Maia, com quem teve quatro filhos homens.
Foi a maternidade, em 1947, que a fez desistir do sonho de trabalhar em companhias aéreas. “Eu olhava aquela criancinha no berço e ficava imaginando se alguma coisa me acontecesse durante um vôo; ela ficaria sem os meus cuidados maternos”, ponderou à época.
Em agosto de 2000, em depoimento à pesquisadora Ana Amélia Fernandes, Lucy Garcia declarou: “Sentia-me maravilhosamente dona do mundo, do espaço, e segura na arte de voar. Medo? Nunca. Nunca passou por mim esse sentimento em relação à aviação. O meu interesse mesmo era continuar a carreira e transformar-me em piloto dos aviões comerciais”.
Ao contrário de Amélia Earhart, Lucy Garcia não morreu no ar, mas em terra firme, em sua própria casa no bairro do Morro Branco. Em outubro de 200, um câncer a sepultou no cemitério do Alecrim. Contava 83 anos de idade”.Texto e foto enviados por seu filho Marcos Maia
ESPORTES
O aeroplano não foi a única febre que se espalhou a partir do clube. Já a construção do Aero-Club afetou diretamente os esportistas amadores, que se associaram a esse novo clube, beneficiados com uma nova quadra de tênis, piscina e salões de dança.
Algumas práticas esportivas foram inauguradas em Natal pelo Aero Club. Sobre a nova prática esportiva implementada em Natal, segue o comentário do colunista das páginas esportivas d’A Cigarra: “Iniciamos, agora com o Aero Club, a nossa predileção pelo tennis. É um esporte francez, que passou a Mancha. Dos mais elegantes e apreciaveis.” (ESPORTIVAS, A Cigarra, Natal, ano 2, n.3, p. 36, abr. 1929.) A revista também trazia imagens descontraídas de jovens, de ambos os sexos, em trajes de banho na área da piscina do clube. Pela junção dos esportes, aviação e eventos sociais, o Aero Club marca um novo momento da vida social das elites natalenses.
Os bailes e confraternizações tinham lugar tanto na sede social do clube quanto em outros espaços de sociabilidade, dependendo da importância do evento. A chegada do time de remo do Sport Club do Recife em Natal foi motivo para uma grande soirée, promovida pelo Centro Náutico no Aero Club. (VARIAS. A Republica, Natal, 7 maio 1929.).
Além dos pic-nics, outras formas de lazer traziam os sócios dos clubes para fora das associações. Uma dessas festas dava-se principalmente no verão, entre o Natal e a primeira semana de janeiro, era o banho à fantasia. O Aero Club inaugura essa tradição na cidade, que em outros momentos foi adotada em outras ocasiões. A festa à fantasia consistia de um animado banho de mar com fantasia e tudo, contando com a presença de uma banda de música. Os banhos à fantasia fizeram sucesso na quinta edição d’A Cigarra em 1930. (6CIGARRA, Natal, ano 3, n. 5, p. 39, mar. 1930).
Esculpir músculos, colecionar virtudes, superar limites: o esporte moldava não apenas os corpos, mas as mentes da juventude. Ser um esportista passou a ser um predicado fundamental dos jovens citadinos. Eram os mais musculosos, os mais ágeis que se destacavam nas festas esportivas, nos banhos de mar. Eram eles os alvos dos olhares apaixonados das moças nos bailes do Natal-Club e do Aero-Club.
Dentre os novos espaços que passaram a ser ocupados, estava o mar e o ar (onde se exibiam orgulhosos os pilotos formados pela escola de aviação do Aero-Club), sem mencionar o rio Potengi, onde se davam as regatas, competições esportivas que se transformavam em verdadeiras festas, contagiando uma multidão de torcedores apertados à beira do cais Tavares de Lyra, ou em lanchas particulares.
RECITAIS
O pianista Waldemar de Almeida decidiu se tornar professor em Natal: o “Curso Waldemar de Almeida” foi fundado a 29 de agosto de 1929, havendo ele chegado de Paris a 25 – quatro dias antes. Tal notícia não foi vinculada nos jornais da cidade e somente pode ser encontrada no primeiro número da revista Som, por ele fundada, não podendo, então, haver dúvidas a respeito. É muito provável que, enquanto repousava durante seus períodos de férias na vida lenta da velha Natal, certamente recebia apelos dos musicistas e pais de estudantes de piano para que dividisse com eles os conhecimentos que obtivera na Europa, abrindo um curso de piano na cidade. Assim, com um pouco mais que cinco meses de sua chegada, o pianista apresentava à cidade a primeira audição do “Curso Waldemar de Almeida”, a 13 de fevereiro de 1930, no Aero Clube.
Tocaram obras Chopin, Grieg e Beethoven os alunos Branca Pedroza, Fernando e Elza Pedroza (filhos de Branca Pedroza), Anadyl Roseli, Yolanda Galvão, Zilda Ferreira, Dulce Cicco. Terminou com Waldemar de Almeida tocando uma sua composição. É possível imaginar-se a repercussão causada nos meios musicais da cidade, principalmente ao se considerar a realização da segunda audição, com um pouco de um mês após a anterior. Essa audição teve lugar a 17 de março, no Aero Club, e dessa vez é possível, conhecendo-se o programa, avaliar o nível dos executantes.
Esteve em visita a Natal para ministrar conferências a escritora Maria Eugênia Celso, divulgadora do movimento feminista que se desenvolvia no país e que, no Rio Grande do Norte, vinha obtendo grande êxito com o apoio dos Governadores José Augusto e Juvenal Lamartine. Em Natal visitou instituições públicas e apresentou uma conferência no salão nobre do Palácio da Presidência, sob o título “O ecletismo”. Foi-lhe até proporcionado um voo panorâmico sobre a cidade a bordo de um avião do Aero Clube.
O “Curso Waldemar de Almeida” apresentou, em homenagem à visitante, a terceira audição de seus alunos, no dia 21 de abril de 1930, realizada no Aero Clube. Continuando seu projeto de apresentar uma audição de alunos por mês, o professor Waldemar de Almeida reuniu os aficionados da música e a sociedade natalense para mais uma tarde festiva; a quarta audição teve lugar no Aero Clube, às 15h30 do dia 15 de junho. O programa, bem mais longo que os anteriores, realizou-se em homenagem a Sra. Branca Pedroza, apresentando dezessete de seus alunos.
Interessante observar que as audições do “Curso Waldemar de Almeida” haveriam de se verificar, em geral, nos salões do Aero Clube e só excepcionalmente em outros ambientes. A solene sessão inaugural do Aero Club do Rio Grande do Norte teve lugar no Teatro Carlos Gomes a 17 de fevereiro de 1928, e a inauguração propriamente a 29 de dezembro daquele ano, dessa vez em suas próprias instalações. A nova entidade apresentava boas condições para esses eventos, malgrado a “longa distância” em que se encontrava em relação ao centro da cidade, servida por uma linha de bondes e ônibus que percorriam a Avenida Hermes da Fonseca, pouco habitada e sem pavimentação.
Festas
Com início às 21:00 horas do dia 06 de novembro de 1928, transcorreu a “Festa da Amizade em homenagem ao Dr. JANUÁRIO CICCO pelo seu regresso da Capital Federal” (Rio de Janeiro). A festa constou de uma parte lítero-musical e de um baile.
O clube funcionou por quase três décadas e foi, desde a sua concepção, “um dos melhores clubes sociais da cidade”, de acordo com o historiador Itamar de Souza. Durante décadas foi o principal clube social do Estado, hoje transformou-se num complexo esportivo.
Não tem mais dança, não tem mais show musical, não tem mais desfile de miss, não tem mais Baile de Réveillon, com o presidente Gentil Ferreira de Souza, na entrada do clube, de smoking, recebendo e cumprimentando os associados. As damas, elegantemente vestidas. Natal dos anos 50.
BONDES
Após os bondes puxados a burro que circularam em Natal a partir de 1908 no trecho que ia da rua dr. Barata até a Praça Padre João Maria, na Cidade Alta, o próximo transporte coletivo de Natal foi o bonde elétrico. Enquanto o bonde puxado a burro durou pouco mais de dois anos, o bonde elétrico circulo nas ruas de Natal, um total de 50 anos.
Em 1910 foram iniciados os estudos para instalação dos bondes elétricos. A empresa de melhoramentos de Natal, Vale Miranda&Domingos Barros contratou com a municipalidade o empreendimento, mediante empréstimo externo da França. Um ano depois, no dia 2 de outubro de 1911, são inaugurados com as mesmas solenidades, os serviços de bondes elétricos na cidade de Natal.
Em 1911, o conforto dos potiguares multiplicara, com o empréstimo externo de 4.214:274$830 feito na França, e os trilhos dos bondes elétricos chegavam até o Alecrim. Já em meados de 1913, estendiam-se, da Avenida Rio Branco até o bairro do Tirol, onde está o Aeroclube (CASCUDO, Luis da Câmara, História da Cidade do Natal, p. 291)
O progresso foi notável e as linhas começaram a se estender: em novembro de 1911, inaugura-se a linha para o Alecrim; em agosto de 1912 os bondes chegam a Petrópolis. Em agosto de 1913 inaugura-se nova linha que, partindo da avenida Rio Branco chegava ao Tirol onde está o Aero Clube e em 1º de fevereiro de 1915 à Praia de Areia Preta.
Infelizmente, aí parou o progresso da Companhia com a desfeita da sociedade Vale Miranda & Barros. O serviço de viação urbana passou para a Empresa de Tração Força e Luz que, desinteressando-se pelo empreendimento, relegou o serviço de bondes a segundo plano, tornando-se deplorável.
Aos poucos, os bondes foram diminuindo, piorando, caindo a sua utilidade em meio a tantas reclamações. A Companhia não atendia às reclamações populares, chegando ao ponto de, em 1920, o governador mandar executar judicialmente a companhia concessionária, tendo o gerente alegado falta de recursos, abandonando a empresa que ficou paralisada por cerca de dois anos.
Houve intervenção, quando recomeçaram os trabalhos, precariamente, em 14 de setembro de 1923. Em agosto de 1927, a Prefeitura Municipal recebe e põe em tráfego novos bondes elétricos importados.
O natalense podia pegar o bond e ir de um lugar ao outro, encontrava com o chauffeur, que podia levá-lo ao Natal club ou Aero Club ou, ainda, quem sabe ao Café Tyrol para escutar jazz-band, onde poderia encontrar a “rapaziada” para saber os resultados dos jogos entre ABC Foot-ball Club e América Foot-ball Club no Stadium Juvenal Lamartine. Os termos estrangeiros citados estão presentes em matérias do jornal A Republica; conferir as referências (COM, 1932: 4), (CAFE’, 1924) na lista de fontes ao final do texto. E ainda, em MARINHO, Márcia M. F. Natal civiliza-se: sociabilidades e representações espaciais da elite (1900-1929). In: Anais do XXIV Simpósio Nacional de História: História e multidisciplinaridade: territórios e deslocamentos. São Leopoldo: Unisinos/Associação Nacional de História – ANPUH, 2007.
Apesar disso, algumas posições ainda defendiam que a culpa não seria da Companhia, mas sim “da cidade, que está progredindo damnadamente! […]” (ARAUJO, 1935).
[…] Quanto ao movimento de bondes, nem é bom falar. A linha que vai do Natal Club ao Aero está e tal forma arruinada que, em certas occasiões, os vehiculos mais parecem embarcações no mar alto, balanceadas pela força das ondas. Ademais, succedem-se os descarrilamentos nas curvas da praça Pio X e avenida Hermes da Fonseca, dando lugar a que o transporte fique prejudicado por longas horas, como já hontem aconteceu, e a que, em consequencia, os menos abastados venham a pé até o centro da cidade, em epoca de chuvas constantes.
Em outubro de 1930, o governo entregou esses serviços às empresas elétricas brasileiras, que os manteve até sua extinção em 1960.
BASE
Natal sempre foi uma “base” da aviação mundial. Na década de 20, inúmeros aviadores desbravavam o cruzamento do atlântico e tenham em nossa cidade, passagem obrigatória. Passagem marcante da aviação da época, foi o vôo recorde dos italianos Ferrarin e Del Petre no Savoia-Marchetti S-64. Alça vôo no dia 3 de julho de 1928, ás 18:51 h. de Roma, no horário local e sobrevoaram Natal às 16:10 h do dia 05 de julho de 1928, mas pela precárias condições de tempo, procuraram o litoral em direção a TOUROS, onde fizeram um pouso forçado. Voaram por 9.540 km, por cerca de 49 horas.
Na estadia em Natal, os heróis italianos foram recebidos pelo então Governador e Presidente do Aeroclube do RN, Juvenal Lamartine, onde foram agraciados com o título de cidadãos natalenses. Primeiros pilotos estrangeiros a receberem este título. Após este feito, O presidente Italiano Mussolini doou a Natal uma coluna captolina com mais de 2000 anos, que se encontra no Instituto Histórico de Natal.
Outro vôo histórico fez o francês Jean Mermoz que amerrissava no Rio Potengi no dia 13 de maio de 1930, a bordo do “Laté 28″, após voar por cerca de 3.100 km de São Luiz do Senegal (África) a Natal. Voou por 20 horas sem escala e foi criada uma comissão do Aeroclube do RN, nomeada pela Diretoria que concluiu: Mermoz bateu o recorde mundial de vôo em linha reta, em um hidroavião.
O ano de 1931 inicia-se festivamente em Natal. A 7 de janeiro chegavam à cidade onze aviões de uma esquadrilha italiana comandada por Italo Balbo. O feito extraordinário do cruzamento do oceano Atlântico e o êxito do pouso no rio Potengi movimentaram a pequena cidade.
Seria importante lembrar que Natal, pela sua posição geográfica e sendo ponto avançado em direção à África e Europa, vinha recebendo, desde a década passada, a visita dos primeiros aviadores que buscavam a formidável façanha de atravessar o Atlântico. O Aero Clube assumiu o empreendimento de divulgar a aviação, através da aquisição de aviões e a oferta de cursos de pilotagem. Considere-se, ainda, o estímulo propiciado pelo governo do Estado, especialmente na gestão de Juvenal Lamartine.
Entre as inúmeras homenagens prestadas aos aviadores italianos destacou-se a sétima audição dos alunos do “Curso Waldemar de Almeida” realizado na noite do mesmo 7 de janeiro, nos salões do Aero Clube.
O evento teve a presença dos Interventores federais da Paraíba e Rio Grande do Norte, bem como dos representantes do Embaixador da Itália e do Ministro do Interior.
O programa foi iniciado pelos alunos da Escola Normal e Cursos Complementares anexos cantando o “Hino Fascista”, cuja letra havia sido publicada no dia 7 por A República Esse acontecimento indicava a situação política vivida no momento.
O Brasil estava em pleno governo ditatorial sob o comando de Getúlio Vargas. O mesmo acontecia na Europa, com Alemanha e Itália, principalmente. Governava a Alemanha o ditador Adolf Hitler e a Itália o “Duce” – condutor – Benito Mussolini. Era intenção desses ditadores conquistar a amizade e simpatia dos outros países e a semelhança política com o governo brasileiro atraía as atenções de muitos brasileiros. Na verdade, aqueles dois países viviam um período de recuperação e progresso econômico, muito diferente do que ali haveria de acontecer alguns anos mais tarde que detonaria o início da Segunda Guerra Mundial.
A visita da esquadrilha italiana teve a clara missão de aproximação com o povo brasileiro. Considere-se que, antes da chegada da esquadrilha, já um navio italiano trazia para Natal, como doação de Mussolini, uma antiga coluna que pertencera a um templo romano. A “coluna capitolina” foi inaugurada solenemente e passou por diversos lugares até ser instalada nos jardins do Instituto Histórico e Geográfico.
A atividade do Clube esteve “adormecida” após o golpe militar de 1930, quando Juvenal Lamartine foi exilado na Europa e com a ida para o Rio de Janeiro de Fernando Pedroza.
RELAÇÃO COM O HOSPITAL VARELA SANTIAGO
A preocupação com uma casa de maternidade para as mulheres parturientes extrapolava os círculos do Estado e ganhava incentivadores nas muitas festas filantrópicas realizadas para a construção do sonhado espaço. Em agosto de 1929, o jornal A República anunciava para 1º de setembro uma grande festa no Aero Club visando divulgar os interesses dos “circulos sociaes natalenses” na edificação de uma maternidade para o Estado. As senhoras responsáveis pelo evento se reuniram na residência do coronel Fernando Pedroza, dividindo-se em comissões para preparar a festividade.
Em realizou-se a 4 de junho de 1932, a 14a audição do “Curso Waldemar de Almeida”. O evento ocorreu nos salões do Aero Clube, tendo a renda dos ingressos revertida em benefício do Instituto de Proteção e Assistência à Infância.
Com o nome de Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio Grande do Norte, o atual Hospital Infantil Varela Santiago foi criado em 1917, quando o médico Manoel Varela Santiago Sobrinho (Touros, RN, 28/04/1885-Natal, 15/07/1977) passou a atender gratuitamente a crianças carentes, em uma sala de sua residência, na Rua da Conceição, onde tinha seu consultório. Trecho hoje ocupado pela Assembleia Legislativa do Estado. GALVÃO, Claudio. Varela Santiago – um apóstolo entre nós. Natal, 2017.Constaria, também, de uma conferência de Eloi de Souza (“A música e os animais”). Na ocasião, foi considerada fundada a Sociedade de Cultura Musical do Rio Grande do Norte, para o que já contava com 80 adesões.
A Sociedade de Cultura Musical deveria prestar os melhores serviços ao movimento musical da cidade. Os jornais da época a que se teve acesso, entretanto, não noticiaram detalhes da criação da nova instituição nem do recital. Uma crônica de Luís da Câmara Cascudo, publicada dois anos depois, confirma a data da fundação, vislumbra o caminho de realizações que a instituição teria a empreender e informa que foram considerados sócios-fundadores cinquenta e oito pessoas ilustres.
CARNAVAL
Na opinião do colunista da Cigarra, o Aero-Club era uma “aggremiação que reúne actualmente sob a sua bandeira os ideaes da elite da sociedade natalense, no que representa de melhor em esforço, devotamento á terra commum e espirito progressista” (A AVIAÇÃO no estado. Cigarra, Natal, ano 2, n.3, p. 24, abr. 1929.) O glamour do tradicional baile de carnaval, em 1929, foi transferido da Cidade Alta, onde estava localizada a sede social do Natal-Club, para o novo bairro do Tyrol, onde estava instalado o Aero Club. Em nota sobre o mesmo carnaval, o redator da Cigarra afirma em 1929 que “O Aero Club já se vae tornando indispensável á alegria natalense, e á sociedade da capital. Os seus salões cheios de distincção fidalgas terrão sempre o prestigio de nossas demoiselles” (COMMENTARIOS. Cigarra, Natal, ano 2. n. 3. p. 2, abr. 1929.).
O Carnaval entre os anos 20 e 1930, são as décadas consideradas de “ouro” para a folia com seus grandes bailes, blocos de rua e aditivos como a lança-perfume, usados a princípio de forma inocente. A trilha sonora, adereços e indumentárias chegavam de navio, via Vapor Brasil, vindo de Recife ou Rio de Janeiro. A elite, antes alheia, passou aos pouco a integrar-se à festa aproveitando o surgimento dos bailes como o Natal Club, Teatro Carlos Gomes, Grande Hotel e Aero Clube. Entre Pierrôs, colombinas, russas, carmens, marinheiros, baianas e homens vestidos de mulher, o carnaval se tornava a festa mais libertária da cidade.
Eramo Xavier no baile de 1929, no Aero Clube; os primeiros fotógrafos que cobriram o carnaval e os jornais alternativos, pois na época ainda era discriminado.
Entre as décadas de 40 e 50, a capital potiguar viveu o auge de seus tradicionais bailes de carnaval. Os chamados baile de máscaras eram sediados em espaços como o teatro Alberto Maranhão; o antigo Natal Clube, onde hoje fica o CCAB-Norte; além do Clube de Radioamadores e do Aeroclube. Essa tradição também é mantida viva até hoje, celebrada, por exemplo, no baile máscara do largo do Atheneu, que abre oficialmente a programação do carnaval em Natal.
E foi das ruas que surgiram os principais elementos de toda essa festa. Os blocos, em toda sua diversidade, começam a ganhar destaque a partir dos anos 60, quando Natal recebe massiva influência dos frevos e marchinhas pernambucanas. Após um grande hiato carnavalesco nos anos 80 e 90, a festa de momo retornou às ruas natalenses que hoje em dia conta com uma vasta programação cultural no chamado carnaval multicultural de Natal. São vários blocos e shows que se estendem por todos os dias de folia e arrastam um bom público pelas ruas da cidade, mantendo acesa a tradição carnavalesca.
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
O desenvolvimento da Cidade de Natal ocorreu de forma inexpressiva, ao ponto de durante muito tempo, ser correto afirmar “Natal não há tal”.
Cleantho Homem de Siqueira, ex-combatente da FEB, em entrevista (2002) na cidade de Natal à historiadora Pedreira (2015), diz:
Nossa cidade em 1939, quando iniciou a guerra, terminava no Aero Clube, pra lá não havia absolutamente nada, nada… Era mato. O quartel do 16º. RI [Regimento de Infantaria] foi inaugurado em 42, em 39 não tinha nada. O começo de tudo foi em 1942. O aspecto físico da cidade mudou, foi se expandido lá pros lados do Tirol em princípio […]. Houve uma mudança muito grande em Natal.
Neste sentido a instalação da base aérea norte-americana é responsável por um grande crescimento da expansão urbana da Capital Potiguar. Segundo Mariz e Suassuna (2002, p. 327), Natal:
Mesmo sendo uma cidade pequena, contava com entidades científicas como o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, localizado na Rua da Conceição, 622, a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, o Aero-Club do Rio Grande do Norte, localizado na Av. Hermes da Fonseca, onze clubes esportivos, três jornais – A República, A Ordem e o Diário (18-09-1939) – e o Grande Hotel, único hotel em Natal na época, que pertencia ao Estado mas fora arrendado a Theodorico Bezerra.
A única rádio existente na capital potiguar era a Rádio Educadora de Natal (REN) (Cf. OLIVEIRA, 2008, p. 44-52.), fundada nos salões do Aero Club do Rio Grande do Norte, considerado o melhor clube social da cidade.
Em 1941, Fabrício Gomes Pedroza, assume a presidência do Clube, recuperando o novo ciclo de Desenvolvimento do Aero. Após Juvenal Lamartine assumem vários presidentes: Fernando Pedroza, Fabrício Gomes Pedroza, Fernando Gomes Pedroza (filho), Gentil Ferreira, Sérgio Severo, Wellignton Xavier, Comandante Graco Magalhães, Coronel Campelo, Graco Magalhães, Dal Santos, Flávio Mousinho, Marcondes Pinheiro, Moab Rodrigues, Luiz Alberto Rocha.
Os grandes clubes da cidade como Aeroclube e Hípico reuniam as confraternizações de oficiais e civis graduados da Base, dançava-se de tudo, de afoxés a jazz (MELO, 2015). Quanto aos festejos carnavalescos, no período havia uma preocupação em manter as especificidades potiguares, desde fantasias como a dos grupos papangus e as modinhas genuinamente regionais (PEDREIRA, 2012).
O policiamento da cidade, por incrível que pareça, era feito por apenas dois jeeps com 4 homens em cada um. Era a Polícia do Exército, os famosos M.P’s. Um jeep ficava no Grande Ponto, com telefone pronto para atender e outro no Grande Hotel, na Ribeira.
Havia uma obediência total dos soldados soltos pela cidade e nunca se ouviu falar em qualquer incidente entre eles. Assisti uma vez, um exemplo da sua eficiência. Num dia de festa no Aéro-clube, como membro da diretoria, sou chamado ao bar, onde estava havendo uma “confusão”. Um oficial da Marinha, estava embriagado, quebrando copos e chamando nome feio ao dono do bar. Cheguei, vi o tamanho da “fera” – uns 2 metros de altura e, calmamente telefonei para o Grande Hotel. Dentro de exatamente 10 minutos, os M.P’s chegaram, falaram baixinho no ouvido do militar e tudo foi resolvido sem barulho.
Aos 27 dias de Junho de 1943, o “A República” já noticiava as boas-vindas ao General Antônio Fernandes Dantas, recebido pelos militares com festas e corso pela cidade, até mesmo o Aero Clube sediou festa ao novo interventor, enquanto salientavam o árduo trabalho ao longo de oito anos de administração do interventor Rafael Fernandes, conhecido por ter feito parte de todo o processo de tornar o Rio Grande do Norte uma rota militar efetiva.
Esse foi o caminho político construído entre as esferas de sociabilidade da Primeira e Segunda República na cidade e no estado. A criação de ambientes propícios, que desmistificou o fato da cidade ter entrado para o progresso e para o novo só a partir da convivência com os norte-americanos na década de 1940 (PEDREIRA, 2012), esse acaba por ser um contato que criou míticas vivências diferenciadas como explicitado por Melo (2015), já que se aprofundou o contato com o American Way of Life – estilo de vida americano.
A conquista de Berlim ocorreu em 2 de maio de 1945 e a semana seguinte foi toda de festas. A organização ficou a cargo da Liga da Defesa Nacional (LDN), presidida pelo Monsenhor João da Matha Paiva, que compôs uma comissão híbrida, contando com políticos, militares e operários.
Assim, em Natal, a programação constou de passeatas, cartazes e comícios em várias praças, bandas de músicas, festas dançantes, bailes públicos com orquestras, etc. A LDN encerrou suas comemorações com missa campal, sobrevôos de aviões, lançando boletins alusivos à vitória e à memória dos soldados mortos. Também se organizou uma visita aostúmulos dos soldados norte-americanos no cemitério do Alecrim, além de uma reunião solene no Teatro Carlos Gomes. A interventoria também patrocinou uma programação com desfiles das forças militares, de escolas, de associações esportivas, escoteiros e trabalhadores. Mas, as festas não se restringiram à Natal. Em Mossoró, a concentração popular foi em frente à Rádio Amplificadora, com sinos anunciando a “liberdade na Europa”. O comício contou com grande participação popular e com vários oradores. O comércio foi fechado, houve hasteamento de bandeira e, mais uma vez, desfile de militares, escoteiros, ginastas, alunos de escolas primárias e associações classistas. Aviões do Aero Clube sobrevoaram a cidade, jogando bandeiras brasileiras e flores. À noite ocorreu um grande baile no clube Ipiranga. (5 Solenizada festivamente em Mossoró a vitória das Nações Unidas. A República, Natal, p. 3, 15 maio 1945.).
ORQUESTRA TABAJARA EM NATAL
A Orquestra Tabajara foi uma famosa banda de shows populares criada na vizinha capital paraibana, João Pessoa em 1937.
Uma das mais antigas apresentações dessa orquestra em Natal deu-se no Aero Clube e no festival do dia 07/03/1942 no Carlos Gomes.
Pelo horário da Central chegou em 06/03/1942 novamente á Natal a orquestra Tabajara da Paraíba, que realizaria alguns festivais a convite da Rádio Educadora de Natal. Esse conjunto vinha conquistando a maior simpatia na capital paraibana e congregava os elementos mais distinguidos do meio artístico local.
Segundo o jornal Diário de Natal a visita da Orquestra Tabajara era “motivo para satisfação da nossa parte” (DIÁRIO DE NATAL, 07/03/1942, p.4).A chegada da referida orquestra, que estava sob a direção do Sr. Aberlado Jurema, foi muito concorrida, achando-se, o diretor do DEIP e do jornal A República os Srs. Carlos Lamas e Carlos Farache, diretor e representante da REN. Acompanhava a orquestra o jornalista redator do jornal paraibano A União.
A primeira apresentação seria na noite do dia 07/03/1942 no baile do Aero Clube. Já o festival do dia 08/03/1942 no teatro Carlos Gomes em homenagem ao interventor federal Rafael Fernandes contou também com a presença da orquestra Tabajara. Para esse festival estava despertando o maior interesse no seio da população natalense e foi organizado um curioso programa “cuja execução certamente será levada a efeito com grande sucesso” (DIÁRIO DE NATAL, 07/03/1942, p.4), disse o jornal Diário de Natal.
Através do microfone da Rádio Educadora de Natal a orquestra Tabajara se apresentaria também aos radiouvintes, durante o tempo da sua permanência na capital potiguar, participando de vários programas da emissora organizados com o fim de homenagear a população conforme explicava o referido jornal.
ANOS 50
Segundo Edmilson Andrade, locutor da Rádio Poty na década de 1950, Natal era uma típica cidade de meados do século XX. No final do dia, os natalenses costumavam reunir-se com os amigos nos bares, cafés e sorveterias do Grande Ponto, no bairro de Cidade Alta. Os clubes, sendo os principais o Aero Club, o América e o Alecrim, atraíam grande parte da população natalense.
No início dos anos 1950 surgiu em Natal uma nova modalidade de prática esportiva, o futebol mirim. Conforme escreveu Invoncísio Medeiros no livro “História e Desporto” (post mortem de Tarcísio Medeiros) os primeiros jogos ocorreram nas quadras de basquete do América e do Aero Clube.
Justiça
A diretoria do Aeroclube do Rio Grande do Norte pediu ao governo do estado um prazo de seis meses para continuar usando a área onde o clube está instalado há décadas, no bairro Tirol, zona Leste de Natal. A posse do terreno é alvo de disputa judicial entre o clube e o Estado desde 2004. A decisão mais recente determinou a reintegração de posse ao governo, semana passada. As atividades do Aeroclube estão suspensas e apenas as aulas de tênis e beachtenis continuam no espaço.
O pedido é que o governo ceda o espaço, gratuitamente ou cobrando aluguel, até dezembro. As condições ainda seriam discutidas. A intensão do poder público é transferir para o local a estrutura da Secretaria de Esportes e Lazer e parte da Secretaria de Educação.
FONTE:
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