O “aformoseamento” de Natal
Em Natal, as primeiras décadas do século XX marcam uma intensificação de ações sistematizadas do Estado na produção do espaço urbano. Tais ações, influenciadas por princípios de racionalidade, associados ao higienismo difundido na época, promoveram
melhoramentos pontuais e a criação de normas e prescrições legais que visavam modernizar a estrutura física da cidade e ainda incentivar novas práticas, novos usos dos espaços.
Raimundo Arrais explica que intervenções públicas na cidade “no século XIX receberam o nome de ‘melhoramentos’, numa alusão otimista à capacidade humana de corrigir os ‘males da natureza’ pelo emprego da técnica”.
Essas intervenções resultaram em melhorias do espaço urbano, em criação de áreas de expansão e em uma constante manifestação dos meios de comunicação e documentos oficiais que evidenciavam o contraste entre a cidade herdada de um período anterior e a tão almejada cidade moderna idealizada pela elite local. Elite que ao longo desse século usou o discurso da modernização como justificativa de ações governamentais. Nesse contexto a cidade recebeu equipamentos urbanos e um conjunto de reformas.
A modernização desejada foi marcada, entre outros aspectos, pelas obras de aterramento, pela rede de distribuição de água e esgoto, as construções de praças e jardins públicos, o teatro, a chegada do bonde e da energia elétrica, a abertura de clubes, cinemas, cafés e balneários, a construção de estrada para o tráfego de automóveis, melhoramentos no porto, abertura e alargamento de ruas, “aformoseamento” do espaço urbano, construção da ponte sobre o rio Potengi, introdução da cidade na rota da aviação, construção de uma nova sede para o governo em estilo eclético (o ecletismo importado da Europa vai predominar nas novas edificações), elaboração de propostas urbanísticas, chegada da ferrovia.
Planos urbanísticos foram propostos com intuito de racionalizar o espaço e controlar o crescimento da cidade. Engenheiros e arquitetos, como Henrique de Novais, Giacomo Palumbo e o Escritório Saturnino de Brito, realizaram propostas para a capital norte-rio-grandense.
A natureza era um empecilho a este projeto; buscou-se emancipar o homem dominando a natureza. A escuridão era a natureza que precisava ser dominada. Ela resguardava tudo que o homem tinha de natural, seus sonhos, desejos, fantasias e temores noturnos. A luz elétrica venceria a escuridão, demarcando o triunfo dos homens sobre a natureza, o triunfo da ciência e da técnica sobre a escuridão. Refletindo sobre essas mudanças se chega a uma história das sensibilidades, tendo em vista a necessidade de
articular as percepções e sensações às mudanças de valores da sociedade.
Legenda: Aspecto do novo calçamento da avenida Junqueira Aires (atual Câmara Cascudo) em 1927. Fonte: relatório da intendência municipal de 1928.
Fonte: A eletricidade chega à cidade: inovação técnica e a vida urbana em Natal (1911-1940) / Alenuska Kelly Guimarães Andrade. – 2009.