A Cidade de Natal no Século XVIII
A Cidade de Natal nasceu num platô de colina. Hoje é a praça Jerônimo de Albuquerque. Outrora foi a Rua Grande, a praça da Matriz. Aí residia Deus no altar da capelinha de palha e barro e, posteriormente, nas alturas do século XVIII, os capitães-mores, chefes do executivo. Apesar do nome, a “cidade” ia devagar. O Janvier de 1782, chama-a Natal los Reys ou Rio Grande. O Zurniri, de 1709, registra Natal los reys.
De relance constata-se a existência, em Natal, de dois núcleos urbanos: os bairros da Cidade Alta e da Ribeira. Aos poucos foram instalando-se casas paralelas voltadas para o Rio Potengi, avizinhando-se à Igreja, num total de 12 residências no ano de 1614 e de 118, em 1719 (SOUZA, 29/07/1943). Passou-se quase um século de crescimento ínfimo e poucas famílias se instalaram na cidade e em seus arredores, em granjas e sítios (CASCUDO, 1999). As residências datadas desse período eram construídas em taipa e assim o foi durante um significativo espaço de tempo diante das dificuldades na fabricação de tijolos e telhas, não só por falta de argila apropriada no perímetro da cidade nascente, mas também pela ausência de oleiros, que somente anos depois vieram diretamente de Portugal ou das capitanias limítrofes (SOUZA, 25/07/1943, p.04).
Aos poucos o traçado urbano vai se delineando, a urbe caminha com seu passo lento, mas firme, banhada pelo Potengi e protegida pelas dunas. Uma Natal em transformação, que não aceita a frase dita pelo bispo de Olinda Dom Frei Luiz de Santa Tereza, em 1746: “Da cidade de Natal não-há-tal”.
O sétimo bispo de Olinda, D. Antonio Frei Luiz de Santa Tereza, reportaria em ofício à Santa Sé de fins do século XVIII: A civitate Natali, seu non tali (ut attenta ejus ternuitate per jocum dicitur). Tradução do Cônego Estevam Dantas: “Da cidade do Natal, ou não tal, como em vista do seu tamanho por graça se diz” (apud Cascudo, 1942, nota 12 ao cap. V, p.116).
No dia 7 de abril, 1722, em carta a El-Rei, o capitão-mor José Pereira Fonseca, cujo antecessor, Luiz Ferreira Freire, tinha sido assassinado e ele próprio atacado a tiros por um mascate, diz que Natal tem apenas trinta casas e os arredores eram mato fechado10. Menos do que em 1627.
Cinco anos mais tarde, deixando o Governo do Maranhão, João da Maia da Gama recebeu a incumbência de inspecionar as capitanias, descendo por terra. O relatório que apresentou é minucioso e interessante. Empreendendo a viagem, abril de 1729, ano de inverno rigoroso, está em Natal, hóspede do jovem capitão-mor Domingos de Morais Navarro, que o foi esperar em Extremoz. Ficou vários dias e passou a Semana Santa. De Natal, escreveu Maia da Gama:
Dom Frei Luiz de Santa Tereza, bispo de Olinda, no relatório da visita pastoral que apresentou à Santa Sé, 1746, diz que Natal é “tão pequena que além do título de cidade, igreja paroquial e poucas casas, nada tem que represente a forma de cidade”. E faz o trocadilho: “Da cidade de Natal não – há-tal, como por brincadeira se diz”.
Ainda no século XVIII, datada de 27 de junho de 1777, Domingos Monteiro da Rocha, Ouvidor da Paraíba, informa que a cidade de Natal, tinha então de povoado quatrocentas braças de comprido por cinquenta de largo, com 118 casas.
“A cidade he fundada em hum alto e ainda que mto. ariento, comtudo com terreno mto. capaz, e lavado dos ventos, e tem cincoenta para 60 casas e mtas mais perto da cidade a mais gente vive nas suas fazendas”.
Domingos Monteiro da Rocha, relaçam de toda a extensão desta Capª do Rio Grande do Norte e sua divisão, Freguezias, Povoaçoins, Rios assim navegáveis, como inavegáveis, que ela se contêm, texto em A. T. de Lira – Vicente S. Pereira de Lemos, Apontamentos sobre a questão de Limites entre os Estados do Ceará e Rio Grande do Norte. Natal, Tip. de “A República”, e de “O Século”, 1904, vol. II, págs. 114-118.
Repetia e atualizava, assim, e de forma mais elaborada, os relatos de vários outros viajantes ou funcionários da administração colonial que passaram por Natal entre os séculos XVII e XVIII e que deram conta de sua condição precária de cidade.
VIDA SOCIAL
Costumes moldados em uma vida social sem atrativos, em um espaço urbano precário, “com a sua igreja, a cadeia, a forca, o pelourinho, a casa da câmara e as moradas esparsas pelo areal dos dois bairros, entaipadas umas, outras, e eram o maior número, tecidas de ramos e cobertas com as folhas das diferentes palmeiras indígenas”, tudo isso contribuía para compor um quadro de estagnação e atraso (Souza, E., 1909, p.08-11.).
A conferência inicial aconteceu no dia 20 de fevereiro de 1909, sendo Eloy de Souza o primeiro conferencista, que de forma brilhante falou dos costumes de uma Natal do passado:
As construções foram feitas numa elevação a pequena distância do rio, formando a cidade propriamente dita porque contém a igreja Matriz. Consiste n`uma praça cercada de residências tendo apenas o pavimento térreo, as igrejas que são três, o Palácio, a Câmara e a prisão. Três ruas desembocam nesta quadra mas elas não possuem senão algumas casas de cada lado. A cidade não é calçada em parte alguma e anda-se sobre uma areia solta, o que obrigou alguns habitantes a fazerem calçadas de tijolos ante suas moradas. Esse lugar conterá seiscentos ou setecentos habitantes (CASCUDO, 1999, p. 144).
Não é difícil imaginar o que seria Natal do começo do século XVIII, com a sua igreja, a cadeia, a forca, o pelourinho, a casa da câmara e as moradas esparsas pelo areal dos dois bairros, entaipadas umas, outras, e eram o maior número, tecidas de ramos e cobertos com as folhas das diferentes palmeiras indígenas; todas afogadas no mata-pasto embastido e defendidas pelos viçosos urtigais (SOUZA, 1999, p. 11).
“Dois séculos após a fundação da cidade e criação da capitania, ainda vivíamos quase tão primitivamente como os naturais, contra os quais havíamos cruamente pelejado, e, por ventura, nos encontrávamos em atraso maior e pobreza mais generalizada do que ao tempo da ocupação holandesa, quando se construíram os primeiros engenhos de açúcar, e a vida agrícola atravessou uma fase de atividade desconhecida”. (Ibidem, p.13.).
O QUE ERA NATAL EM 1746
(Do relatório de Frei Luís de Santa Tereza à Santa Sé)
Descrevendo as três cidades da Diocese de Olinda, a saber: Olinda, Paraíba e Natal, diz a respeito desta última o seguinte.
“A terceira chama-se Natal, tão pequena, que além do título de cidade, Igreja paroquial e poucas casas, nada tem que represente a forma de cidade”.
Referindo-se às diversas paróquias da Diocese, do Sul para o Norte, diz com relação às do Rio Grande do Norte:
“Segue-se a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, situada no lugar chamado Goianinha, paróquia paupérrima, tendo anexos três oratórios (capelas filiais), em todos os quais apenas se encontra o necessário”. A seguir, informa o dito missionário: “Dista e está situada a 55 léguas da Catedral (Olinda) a cidade de Natal, de que acima falei. A igreja paroquial tem o título de Nossa Senhora da Apresentação, pobremente ornamentada, como já disse das igrejas pobres, tendo sob a sua jurisdição nove capelas filiais anexas para administração dos sacramentos, nos quais além da pobreza nada resta a notar”. Da cidade de Natal, ou não tal (como em vista do seu tamanho, por graça se diz) na distância de 30 léguas e a 113 da Catedral (Olinda) foi criada a paróquia de São João Batista no lugar chamado Assu, cuja igreja de tamanho suficiente, construída de madeira e barro, tendo apenas um paramento encarnado e um branco, não possue objeto algum de prata: não tem nenhum oratório filial e carece de muitas coisas, como bem se compreende pela sua extensão, que é de 40 léguas de longitude e 20 de latitude.
Natal, 18 de maio de 1929
Cônego Estevão Dantas
Nota: A Diocese de Olinda foi criada pela Bula do Papa Inocêncio XI “Ad Sacram Beati Petri Sedem”, em 16 de novembro de1626.
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
Nesse período, a Coroa concentrava sua atenção apenas nos núcleos mais importantes, como Salvador, política semelhante, aliás, à dos holandeses no Brasil. No entanto, em fins do século XVII e principalmente no século XVIII, a Coroa impõe um controle cada vez mais rígido à sua Colônia Americana, que implicava no fortalecimento da classe administrativa, judicial e militar sobre o território e, consequentemente, no fortalecimento das aglomerações urbanas. Nesse período, em especial a partir de meados do século XVIII, as vilas que surgem resultam diretamente de ordens reais ou de seus ministros, na grande maioria dos casos.
Outra mudança administrativa importante é que a Capitania do Rio Grande, antes subordinada ao governo central da Bahia, ficou, a partir de 1701,
subordinada à Capitania de Pernambuco, e assim permanecerá durante todo o século XVIII, tornando-se independente somente em 1817.
Quanto à Capitania do Rio Grande, atual Estado do Rio Grande do Norte, o poder municipal seguiu o mesmo modelo rapidamente descrito acima, adotado em Portugal e em suas Colônias de um modo geral. O processo de organização político-administrativa se desenvolveu, porém, muito lentamente.
Nome oficial da capitania até 1750, ainda que na primeira metade do século XVIII o nome “do Norte” apareça em alguns documentos. Nesse ano, como resultado do Tratado de Madrid entre Espanha e Portugal que definiu a fronteira dos territórios coloniais respectivos na América do Sul, a Capitania do Rio Grande passou oficialmente a ser “do Norte”, para distingui-la do Rio Grande do Sul, que foi anexado ao território do Brasil Colonial.
No que diz respeito especificamente ao poder municipal, isso é fácil de compreender na medida em que nossa formação urbana foi inexpressiva durante séculos, apesar do fato de que Natal, a capital, teve instituído o seu Conselho Municipal desde sua fundação em fins do século XVI. Natal representou, no entanto, uma exceção à regra, uma vez que as primeiras aglomerações que foram surgindo na região se tornaram sede de município – dotado, portanto, de seu respectivo poder municipal – somente no século XVIII, multiplicando-se nos dois séculos seguintes.
O processo de formação urbana começou tardiamente no Rio Grande do Norte. Excetuando-se a cidade do Natal, as demais localidades a terem um status urbano de vila ou de cidade só o foram em data bem posterior. As primeiras sete vilas somente surgiram no Rio Grande do Norte a partir da segunda metade do século XVIII.
Após a criação das primeiras vilas em meados do século XVIII, elas ficaram subordinadas politicamente a Natal, a única cidade até então. Em termos populacionais, por exemplo, a povoação de Assu e o aldeamento de Guajiru, atual cidade de Extremoz, eram muito provavelmente maiores do que a cidade do Natal, em meados do século XVIII, segundo dados disponíveis.
Durante todo o século XVIII e no início do século seguinte, o Rio Grande do Norte reivindicava “a liberdade de comércio interno e externo e a isenção de impostos de exportação e importação”, pleito que significava na prática a autonomia “em relação a Pernambuco”, objetivo só conquistado, como veremos, “no contexto do Movimento de 1817”, quando aqui “foi instalado o órgão encarregado de armazenar, registrar e fiscalizar as mercadorias exportadas e importadas, arrecadando os impostos devidos: a ‘Alfândega’ de Natal” (MONTEIRO, 2000, p. 105).
Por sua vez em Natal, visando efetivar formas de enquadramento disciplinar no cotidiano da cidade em processo de modernização, o poder público da Administração Municipal da Capitania do Rio Grande do Norte,
“durante o século XVIII, eslava entregue as Câmaras, que regtdavam a polícia das feiras, dos mercados e do trânsito; geriam os bens do conselho e suas rendas; proviam a construção, reparo e conservação das estradas, pontes, chafarizes e calçadas; providenciavam sobre a arborização das ruas, praças e lugares baldios; estabeleciam condições para a construção dos edifícios; taxavam os preços dos ofícios mecânicos e as recompensas aos jornaleiros e criados; cuidavam do abastecimento de víveres; promoviam a cultura das terras; ordenavam as despesas e [caloteavam], [socorrendo-se] às obras extraordinárias; enfim publicavam posturas sobre tudo que interessasse ao bem comum” (LIRA, Tavares. História do Rio Grande do Norte, p. 165 -166).
O RIO E A CIDADE
A continuidade das relações de aproximação da cidade do Natal com o Rio Grande permanece ao longo do século XVIII. Ela pode ser detectada a partir de alguns episódios que revelam que o rio continuava a ser fonte de exploração dos moradores da cidade.
Uma carta do Provedor da Fazenda Real, Teotônio Fernandes Telmudo, datada de 08 de junho de 1741, começa informando que “(…) o rio que dá nome a esta capitania é navegável e só se atravessa em embarcações”. Ao vir morar na cidade, o Provedor se deu conta de que havia uma taxa que os moradores pagavam para a travessia do rio, e que, ao invés de ser recolhida pela Provedoria da Fazenda, que tinha legalmente o direito sobre esse imposto.
Os colonos, donos de datas na ribeira do Rio Grande ou não, também disputavam o direito dessa exploração, como demonstra um dos documentos que fazem parte dos autos, datado de 14 de julho de 1744.
O debate também demonstra a importância estratégica das terras doadas na cidade e em particular às margens do Rio Grande, que facilitavam essa exploração. As doações ficavam a cargo do Senado, que era questionado sobre esse direito por não dispor do foral, documento que, entre outras funções, o autorizava a isso.
Outro episódio que revela a exploração do Rio Grande e do litoral em geral se encontra na carta que o Senado da Câmara de Natal escreveu a dona Maria I, em 05 de outubro de 1799, solicitando-lhe a emancipação da capitania do Rio Grande do Norte da de Pernambuco, como havia ocorrido com as da Paraíba e do Ceará. Em tom panfletário, os oficiais da Câmara exaltam as várias produções da capitania, como algodão, farinha de mandioca, arroz, açúcar, milho, paubrasil, sal e gado bovino, e insistem na abundância dos peixes no litoral, acrescentando que a capitania “(…) tem belos portos marítimos, e bons surgidouros 14 porquanto o desta cidade franqueia entrada a embarcações d’alto bordo, (…)”, uma referência direta ao porto de Natal. Em determinado momento, afirmam os oficiais: “(…) que fome, que cruel fome soberana senhora! Não sofreriam os moradores de Pernambuco, se não fossem constantemente fornecidos de peixe que lhe vai das praias desta capitania (…) 15”.Apesar de não citar o Rio Potengi especificamente, mas a capitania como um todo, esse rio era certamente uma das fontes da “pujança” econômica da capitania, motivo que justificava, aos olhos dos oficiais da Câmara, a independência de Pernambuco (O documento foi escrito em apoio ao capitão-mor, que era objeto de uma investigação pelos maus-tratos à população da capitania. AHU – RN Cx. 10, Doc. 625.)
De fato, a existência de portos, de onde se exportava para Pernambuco peixes e outros produtos, como o algodão, expressa um aspecto importante da economia potiguar entre fins do século XVIII e início do seguinte.
O mapa de Albernaz também descreve um “Surgidouro dos navios quando vêm acima”, coincidente com o ponto do Potengi que fica nas proximidades da atual Rua Passo da Pátria. A partir do século XVIII, o surgidouro era conhecido como o Porto do Oitizeiro.
Ainda que a análise seja genérica – afinal se tratava da produção pesqueira e toda a capitania, que detinha vários rios e lagoas onde o peixe era abundante, o fato é que o Rio Potengi continuava a ser, como vimos, um dos principais pontos dessa atividade, aproximando os habitantes de Natal do seu rio. A simples referências aos portos da cidade, de onde não somente o pescado, mas também o algodão e outros produtos eram exportados, principalmente para Pernambuco, reforça esse aspecto.
XARIAS X CANGULEIROS
A cidade colonial aparece como uma cidade fragmentada, bi-partida (Cidade Alta e Ribeira), separada pela própria conformação fisiográfica, pela, como seria tematizada durante o século XIX e início do XX, terrífica e “miasmática” Campina da Ribeira. Um dos traços característicos desta separação entre os dois núcleos primeiros da cidade estaria na tradição “belicosa” das disputas, escaramuças e brigas entre os homens dos dois bairros, que perduraram do século XVIII até o terceiro quartel do século XIX, e que poderia ser resumida no grito de guerra que os separava: “Xaria não desce! Canguleiro não sobe!”
A mofa de ambos provinha da alimentação preferida em cada bairro no final do período colonial. Xaria, morador da Cidade Alta, era o comedor do xaréu (do gênero Caranx). Canguleiro, morador da Ribeira (cidade baixa), era o comedor do cangulo ou peixe-porco (Balistes carolinensis). A nominação, contudo, não explicava a dissensão, a rivalidade que durou décadas. “Moleques, valentões, meninos de escola, desocupados, praças do Exército [cujo quartel ficava na Cidade Alta] e do então Batalhão de Segurança [sediado na Ribeira] mantinham o fogo sagrado dessa separação inexplicável”, que tinha como palco privilegiado das batalhas de “espadas de arco de barril, pedradas, areia e insultos dignos de toda a malandragem de um morro carioca”, o beco do tecido (atual rua Juvino Barreto), aos pés da rua da Cruz, a Junqueira Ayres, quase sempre depois das festas populares e religiosas (Cascudo, 1947, p.233-35.).
POVOAÇÃO
A interiorização do povoamento, porém, só se efetivou no século XVIII e foi facilitado, paradoxalmente, por quase meio século de lutas com os índios, base para o conhecimento de praticamente todo o sertão norte-rio-grandense. Esse processo levou a Coroa portuguesa a conceder patentes militares e sesmarias àqueles que se destacaram nas lutas contra os nativos.
Se o processo de interiorização da ocupação da capitania só começa na segunda metade do século XVII, com núcleos urbanos com Assu e Apodi, fundados em pleno sertão na virada desse século para o seguinte, será preciso esperar o século XVIII para que esse processo comece efetivamente a se consolidar.
Mesmo no litoral oriental da capitania, a ocupação ainda era praticamente inexistente ao norte de Natal ainda no início do século XVIII.
Referências posteriores, do século XVIII, confirmam que as casas de Natal eram principalmente de “barro e taipa” (TEIXEIRA, 2009, p. 184). Com efeito, eram casas em geral precárias, se lembrarmos que um edifício tão importante como a igreja matriz não dispunha de portas, como vimos.
Mas é ao longo do século XVIII que o processo de ocupação e colonização do território ganha força. Diferentemente do século anterior, marcado pela ocupação holandesa e pela Guerra dos Bárbaros, os obstáculos à penetração do território já não são tão significativos. Repetindo o mesmo modelo de ocupação do litoral, a população que emigrou para o interior vai se fixar ao longo das bacias e dos vales dos rios, propícios à atividade criatória. Contudo, a cartografia do século XVIII ainda é lacônica quanto à transformação do território em um espaço colonial, pois continua sendo representado como um grande vazio.
A paz com os índios era de fundamental para a concretização do processo de colonização de toda a capitania, feito só concretizado ao final do século XVIII, quando o território do já então Rio Grande do Norte estava todo ocupado e povoado.
O Rio Grande do Norte teria, no final do século XVIII, uma população de 12.682 habitantes. Desse total, 4.586 eram negros escravos; 4.285 eram índios, dos quais 708 não aldeados e 3.577 aldeados; e 3.811 brancos e mestiços.
RUA DA CONCEIÇÃO
Até o ano de 1700, existiam em Natal apenas duas ruas: a da Cadeia e aquela que era chamada O Caminho do Rio de Beber Água, hoje representado pelas ruas Santo Antônio e Conceição. Aquele rio de Beber Água era o antigo Rio Tiuru, Tissuru, da Cruz ou do Baldo.
Registro de concessão de terras, de 6 de agosto de 1791, refere-se à rua da Conceição atual, àquela época descrita como a “rua direita, que vai por detrás da matriz”.
Em data anterior a 1791, a atual rua da Conceição constituía-se apenas das cercas que limitavam os fundos dos terrenos, cujas frentes estavam voltadas para a rua da matriz. Existia também no lado do poente o Armazém Real da Capitania do Rio Grande, do qual ainda resta uma relíquia histórica: a parede de sua fachada posterior, construída em alvenaria de pedra e cal. Esse imóvel, de propriedade do IPHAN, é popularmente conhecido como casa do padre João Maria.
RUA SANTO ANTÔNIO
Em 15 de julho de 1763 aparece, pela primeira vez, o topônimo rua de Santo Antônio, constante da carta de doação feita ao alferes José Barbosa Gouveia. Era a Rua Nova de Santo Antônio. Pretendia o beneficiário “fazer moradas de casas, com frontaria de pedra e cal”. Tal registro indica que naquele ano já se achava em construção a Igreja de Santo Antônio.
As obras de edificação do templo somente foram concluídas em 1766, data que se encontra registrada no alto da porta principal. A Igreja de Santo Antônio, que denominou a rua, tem um destaque especial na Cidade, pela sua beleza e imponência.
Trata-se do melhor exemplar da arquitetura barroca em Natal. O templo é também conhecido como a Igreja do Galo, devido à existência de um galo de bronze encimando a cúpula da torre da igreja. O galo foi presenteado pelo capitão-mor Caetano da Silva Sanches, devoto de Santo Antônio, e que governou a Capitania no período de agosto de 1791 a março de 1800. Atualmente a referida igreja abriga, na sua galeria lateral esquerda, o Museu de Arte Sacra de Natal, constituído por um rico acervo de peças sacras, datadas dos últimos quatro séculos.
PRAÇA SANTA CRUZ DA BICA
O registro de data e sesmaria, concedida a Nicolau José de Almeida, em 24 de abril de 1766, nas imediações do Baldo, faz referência a uma outra denominação tomada pelo rio: “no rio chamado do Cajueiro, desta mesma Cidade’’… pegando do dito rio de beber água, chamado o Cajueiro’’. Outro registro de concessão de terras feita pelo Senado da Câmara do Natal, a Manuel Raposo da Câmara, em 27 de outubro de 1766, refere-se a uma cruz, no local onde ficava a fonte da Cidade, “entre as casas… e o caminho que passa pela cruz de beber’’.
Durante muitos anos, a população de Natal comemorava no dia 3 de maio de cada ano, o Dia da Santa Cruz. Era uma festa popular, em que era rezado um terço na Praça da Santa Cruz. A festa de devoção à Santa Cruz, raramente era assistida pelo clero. O terço geralmente era “tirado” por um leigo. Houve um certo ano em que a festa foi prestigiada por frei Vidal, quando o mesmo encontrava-se em missão pela Capitania do Rio Grande.
Frei Vidal de Frascarolo era um religioso capuchinho, que pertencia ao Convento de Nossa Senhora da Penha do Recife, pelo final do século XVIII. Vivia
em missões, visando a divulgação da Fé Católica. Suas pregações ocorriam geralmente ao ar livre, de preferência à noite e à luz das fogueiras. Durante
anos, o nome de frei Vidal foi venerado como um verdadeiro santo familiar, e várias gerações guardaram na memória, os cânticos sagrados e as orações, outrora ensinados pelo frade, nas Santas Missões.
Nos festejos juninos, voltava a animação àquela praça. Ao som de violões, violas e flautas, os homens participavam dos festejos comemorativos, comendo, bebendo, cantando, e policiando o banho das filhas, irmãs e noivas, tomado no rio do Baldo. Em seguida, era a vez deles próprios se banharem naquelas águas, sempre cantando.
PRAÇA JOÃO TIBÚRCIO
O primeiro registro encontrado de terras concedidas pelo Senado da Câmara do Natal, na área hoje correspondente à Praça João Tibúrcio, na Cidade Alta, data de 3 de julho de 1706, cujo beneficiário foi João do Rosário.
Em 4 de agosto de 1731, foram doadas a Francisco Álvares Bastos e Tereza Lopes de Jesus, cinco braças de terra, na atual praça João Tibúrcio, “com todo o fundo que se achasse até o caminho que vai por detrás, pelo mato, para o rio desta Cidade”. Pelo registro da referida doação, observa-se que, pela traseira da terra concedida, existia um caminho, por dentro do mato, que conduzia ao rio Potengi.
Com a expansão urbana de Natal, foram surgindo novos arruamentos, que para uma melhor identificação, passaram a receber denominação própria. A Casa da Câmara e Cadeia deu origem à rua da Cadeia; a presença da Matriz, à rua da Matriz; a Igreja de Santo Antônio, à rua do mesmo nome, o mesmo acontecendo com a Igreja do Rosário.
RUA PADRE PINTO
A primeira referência documental de concessão de terras na atual Rua Padre Pinto, data de 18 de dezembro de 1766, cujo beneficiário foi Ponciano da
Silva. Após aquela primeira concessão, houve várias outras doações ao longo da 2ª metade do século XVIII, até a década de 20 do século XIX.
RUA PASSO DA PÁTRIA
A primeira referência feita à atual Rua Passo da Pátria, data de 23 de setembro de 1772, quando o Senado da Câmara do Natal concedeu terras naquele logradouro público, a Jerônimo Gomes de Freitas e a Sebastião da Natividade.
Em 1780, já existia um porto no Potengi, cujo acesso era representado pelo atual Passo da Pátria. Segundo consta do registro de uma data concedida a Maria das Neves, naquele ano já existia a “estrada que sobe do porto, buscando a Igreja de Santo Antônio”.
O Porto do Oitizeiro, como era ele então conhecido, foi construído à margem direita do Potengi, sendo um local de atracação de barcos, nas marés cheias. À sua direita, ficava um grande galpão de alvenaria e à esquerda, algumas bodegas. Atrás, a linha da estrada de ferro. Formava, assim um quadrado, ocupado no centro por uma grande feira.
O porto vivia em função da feira, que funcionava diariamente, comercializando madeira, lenha, tijolos, telhas, etc. Os materiais eram descarregados no Porto do Passo da Pátria, vindos de Macaíba, São Gonçalo e do outro lado. As bodegas situadas no entorno do porto, vendiam pão e bolacha, farinha, peixe seco, rapadura e cachaça, querosene, chumbo, pólvora e espoleta. A ladeira, hoje representada pelo Passo da Pátria e que conduzia ao porto, era estreita, fechada de matos, apresentando um forte declive. Era calçada de pedras soltas.
RUA PAULA BARROS
A Rua Paula Barros pertence oficialmente ao bairro da Cidade Alta. Situada entre a rua Presidente Passos e o rio Potengi, tem o seu início na travessa Paula Barros, terminando na rua Quintino Bocaiúva.
Trata-se de uma rua setecentista, inicialmente conhecida como a rua do Rio, já aparecendo em documentos oficiais de 1790, conforme consta de um registro de concessão de terras do Senado da Câmara do Natal, datado de 18 de fevereiro, cujo beneficiário foi José Barros Rêgo: “um terreno para construir na rua do Rio’’.
Naquele ano de 1790, o antigo logradouro público já merecia o nome de rua, o que denunciava a existência de um certo alinhamento na distribuição dos imóveis ali implantados.
A origem da atual rua Paula Barros está ligada à construção de um primitivo e rústico porto. Sua situação, em um platô elevado em relação ao rio, permitia-lhe uma visão privilegiada.
RUA QUINTINO BOCAIÚVA
O primeiro registro de concessão de terras, na atual Rua Quintino Bocaiúva, na Cidade Alta, data de 3 de novembro de 1706, cujo beneficiário foi Antônio Henrique de Sá: “na sua fronteira se quer fundar a Igreja de Nossa Senhora do Rosário’’.
É desconhecida a data de fundação do templo existente naquela rua, sabendo-se apenas que, em 2 de julho de 1714, a Igreja já estava concluída. Na referida data, o vigário da Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, o reverendo padre Simão Rodrigues de Sá, requeria ao Senado da Câmara do Natal, “terras devolutas defronte ao cruzeiro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, indo pela estrada que vai desta Cidade para a Ribeira’’.
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que tão bem representa nossa arquitetura tradicional, foi o segundo templo católico construído em Natal, constituindo-se a mais importante edificação da rua onde acha-se implantada.
Em 1º de agosto de 1714, Antônio Henrique de Sá requeria terreno “junto às testadas e Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos… até o caminho que vai do porto do Madeira por detrás dos quintais desta Cidade’’. Segundo o pesquisador Olavo de Medeiros Filho, o porto do Madeira deve corresponder ao local onde se encontra a Pedra do Rosário.
Observa-se a preferência de religiosos, pelas terras localizadas nas proximidades da Igreja do Rosário. Primeiramente foi o próprio vigário da matriz. Em seguida, no mesmo ano, a 1 º de agosto de 1714, foi a vez da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, também requerer terras naquela rua, “em as quais quer a dita Irmandade e Confraria fazer uma morada de casas, para aumento de sua igreja”. Em 7 de maio de 1723, foi a vez do padre Antônio Rodrigues Fontes, que obteve uma data “entre as terras da Capela de Nossa Senhora do Rosário e o Barreiro’’.
RUA PADRE JOÃO MANUEL
A Rua Padre João Manuel, está localizada na Cidade Alta, iniciando-se na rua D. Pedro I (que é um prolongamento da Ulisses Caladas) e terminando no entroncamento com a atual avenida Câmara Cascudo. Desenvolve-se inicialmente na parte mais alta do outeiro onde nasceu a Cidade, descendo em direção à Ribeira até encontrar-se com a Câmara Cascudo, na praça das Mães.
Trata-se de um antigo logradouro público, incluído no Centro Histórico de Natal. Já existia em 1714, pois no dia 2 de julho daquele ano, o Senado da Câmara do Natal concedia ao padre Simão Rodrigues de Sá, terras naquele logradouro, na esquina com a atual rua Quintino Bocaiúva.
As concessões de terras se sucederam ao longo de todo o século XVIII. Em 7 de maio de 1723, o beneficiário foi outro sacerdote, o padre Antônio Rodrigues Fontes. Em 5 de setembro de 1770, foi a vez de Manuel Gonçalves Branco. Em 2 de dezembro de 1780, do coronel João de Barros Coelho. Em 2 de maio de 1782, foram contempladas com terras concedidas pelo Senado da Câmara, Ana Maria, Eugênia e Úrsula Patrícia. Em 2 de julho de 1785, o oficial de sapateiro José Gomes da Costa. Em 3 de outubro de 1787, Antônio José de Vasconcelos. Em 20 de agosto de 1791, Francisco Manuel Álvares Cabral. Finalmente, a última concessão de terras naquela rua, cujo registro ainda existe, ocorreu em 23 de dezembro de 1791, cujo beneficiário foi Roberto Costa Gomes.
Todos os registros de datas concedidas pelo Senado da Câmara, referentes àquela rua, descrevem-na como “o caminho da Ribeira, que vai pelo Rosário”. Denominação espontânea, que deve ter perdurado por muitos anos. Não foram encontradas informações sobre os topônimos anteriores ao atual.
PRAÇA DAS MÃES
A atual Praça das Mães está localizada no vértice formado por dois importantes logradouros públIcos, do Centro Histórico de Natal: a atual Av. Câmara Cascudo e rua Padre João Manuel.
Em 30 de janeiro de 1790, o Senado da Câmara do Natal concedia a Ricardo Wittshire, cinco por dez braças de terra, “no apartamento dos dois caminhos que vão desta Cidade para a Ribeira, entre a cruz e as casas de dona Engrácia… com a frente para a Ribeira, e o fundo para o oitão de dona Engrácia’’.
RUA SÃO TOMÉ
No local onde se encontrava a pegada de São Tomé existia uma cacimba, cuja primeira referência documental data de 1º de outubro de 1765, quando Matias Ferreira requereu um terreno ao Senado da Câmara de Natal, “entre as casas que foram do Licenciado Manuel Pinto, no caminho da Ribeira, e uma cacimba que chamam de Santo Tomé’’.
Um dos principais pontos de abastecimento de água de Natal, a cacimba de São Tomé mereceu a atenção de diversos presidentes da Província, que nela realizaram serviços de recuperação e conservação.
AV. CÂMARA CASCUDO E LARGO JUNQUEIRA AIRES (ANTIGA AV. JUNQUEIRA AIRES)
A primeira referência documental sobre o “Caminho que ia para a Ribeira”, a atual avenida Câmara Cascudo, data de 3 de julho de 1716, quando o Senado da Câmara do Natal concedeu terreno ao ajudante Matias Quaresma, “que queria fazer duas moradas de casas, ao sopé do Outeiro e caminho que vai para a Ribeira desta Cidade, na paragem aonde chamam a Tapera de Maria de São Thomé”.
Durante quase um século, aquele caminho ficou conhecido como a rua ou ladeira da Cruz, situando-se entre os dois únicos bairros natalenses de então: a Cidade Alta e a Ribeira.
Ao longo de todo o século XVIII, há referências a concessão de terras na Ladeira da Cruz. Naquele período, 27 requerimentos foram deferidos pelo Senado da Câmara do Natal, a pessoas interessadas em construir casas naquela ladeira.
No requerimento formulado por José dos Santos, de 4 de junho de 1729, há alusão à existência de coqueiros e cajueiros naquele antigo e tradicional logradouro público. Vicente Rodrigues Viana, em 20 de fevereiro de 1735, fazia referência ao mangue e ao baldo, presentes na Ribeira.
Em 15 de novembro de 1747, já era registrada a existência de uma grande ponte sobre o alagado da Ribeira. Novas referências sobre o mangue, a ponte e as salinas que aproveitavam as águas salgadas do braço do rio, são feitas no requerimento de concessão de terras formulado pelo Condestável da Fortaleza dos Reis Magos, Francisco Correia de Araújo, em 15 de junho de 1748. Em 1º de outubro de 1765, Matias Ferreira referia-se à existência da Cacimba de São Thomé.
O documento de concessão de terras, pelo Senado da Câmara do Natal, feita a João da Costa Santiago, em 11 de dezembro de 1782, referia-se ao “aterro da Ladeira”. Em 12 de maio de 1790, Fidélis José da Rocha, como proprietário de terras na Ladeira da Cruz desde 13 de fevereiro do mesmo ano, requeria “terras desapropriadas e inúteis para edifícios pelas concavidades ignotas que em si têm… cercando-as para plantas e legumes, que por esse tempo costumam neste continente florescer e fecundar com utilidade’’.
PRAÇA AUGUSTO SEVERO
A primeira referência documental de cessão de terras na atual Praça Augusto Severo, data de 5 de outubro de 1703, cujo beneficiário foi o alferes Antônio da Silva Carvalho, “começando pelo primeiro (mangue) do Salgado até os morros da Fortaleza”. O primeiro mangue do Salgado, corresponde ao terreno atualmente ocupado pela referida praça.
Entre o final do século XVIII e o primeiro quartel do século XIX, seis outras pessoas foram favorecidas com doações de terras na atual Praça Augusto Severo. As cartas de doação feitas pelo Senado da Câmara de Natal, faziam sempre referência ao alagado, ou ao aterro da Ribeira.
O espaço alagadiço, situado entre os dois bairros de Natal, despertava a atenção da administração local já em datas remotas. É certo que havia uma área alagadiça situada ao norte de Natal, em direção à fortaleza.
Durante todo o século XVIII será mencionada a dificuldade de povoamento do local por causa dos constantes alagamentos, principalmente durante as marés de janeiro. (CASCUDO, 1999, p. 149-151). A área era vista como um problema tanto para a locomoção entre os dois bairros, como para a saúde dos moradores da capital. Segundo as teorias miasmáticas então em voga, os mangues e alagadiços eram áreas consideradas insalubres, compostas de água estagnada e matéria orgânica, que ao entrar em decomposição, exalavam substâncias que produziam as doenças nos indivíduos.
Em 1º de setembro de 1791, Caetano da Costa de Almeida requeria terras “místicas ao aterro da Ribeira”.
PONTE
Separando a Cidade Alta e a Ribeira havia um alagado, consequência de um baldo, com cerca de 200 metros de extensão, construído na margem direita do Potengi, vizinho à atual Praça Augusto Severo. Sobre essa área o capitão-mor João de Barros Braga mandou construir, em 1733 ou 1734, uma ponte de mais de 60 braças, ou 132 metros ao norte da cidade (TEIXEIRA, 2009, p. 241), demonstrando, aliás, que o eixo de crescimento urbano demandava o bairro da Ribeira, ao norte, em direção à Fortaleza dos Reis Magos, desde pelo menos o século XVIII.
A ponte, de madeira, fora construída sobre duas paredes paralelas, de pedra e cal, medindo cada uma quatro palmos de altura e outros tantos de largo. Para a edificação da referida ponte, o Senado da Câmara do Natal contratou o mestre de pedreiro Antônio Correia. O mestre contratado deveria seguir as recomendações do Senado da Câmara do Natal, constantes do termo de vereação de 18 de março de 1732: “e fizesse duas paredes de pedra e cal de quatro palmos de alto e quatro palmos de largo, ou que for necessário, em forma que assim fiquem em boa ordem para se fazer por cima uma ponte de madeira, no boqueirão do baldo, que vai desta Cidade para a Ribeira, dando-lhe-se, por tudo fazer perfeitamente dez mil réis, e escravos e materiais para o fazer’’. A ponte existiu até, pelo menos, o último quartel do século XIX, pois encontra-se assinalada em um mapa da Cidade, elaborado em 1864. A ponte apresentava uma extensão de cerca de 120 metros. (Auto de vereação de 18 de março de 1732) (LIVRO 4º de VEREAÇÕES DO SENADO DA CÂMARA DO NATAL – 1721-1735. Auto de Vereações de 18.03.1732.).
A ponte seria o único elo de ligação entre a Cidade Alta e a Ribeira, cujo percurso era feito através da atual avenida Câmara Cascudo.
RUA CHILE
A atual Rua Chile localiza-se no bairro da Ribeira. Trata-se de um dos primeiros logradouros públicos daquele bairro. Existe registro de concessão de terras naquele local, pelo Senado da Câmara do Natal, desde 1731.
No decorrer do século XVIII foram solicitadas 69 datas de terra naquela rua. A preferência dos suplicantes justificava-se principalmente, pelo fato da rua margear o rio Potengi, sendo frequente verificar-se a expansão de uma cidade, paralelamente ao curso de um rio. A atual rua Chile constituía o caminho natural para a Fortaleza dos Reis Magos. Sua primitiva denominação foi Rua da Praia, devido à presença do rio Potengi. O topônimo Rua da Praia apareceu pela primeira vez, em um registro de concessão de terra, em 21 de novembro de 1769.
O beneficiário Manuel Gonçalves de Oliveira, desejando ampliar o seu terreno, declarou ser possuidor de “umas casinhas térreas, de taipa, na Ribeira desta Cidade, na Rua da Praia, por compra de Isabel de Barros, cujas casinhas ocupam de fronteira 15 palmos de chão… entre as ditas casas e as de Antônio Cardoso de Moura… juntamente a terra para quintal, e na fronteira até a pancada do mar’’. Verifica-se, na declaração acima, o tipo de construção de taipa, que deve ter povoado a rua.
Nos termos expressos em uma Acta Diurna: “as venerandas traças dos arquivos sabem muita História local. Disseram-me, há dias, que houve nesta Cidade do Natal do Rio Grande uma RUA DA PRAIA desde a primeira metade do século XVIII” (CASCUDO, Luís da Câmara. Rua Silva Jardim e rua Paula Barros. A República, Natal, 16 abr. 1942.).
RUA DR. BARATA
A atual Rua Dr. Barata está localizada no bairro da Ribeira, no trecho compreendido entre a praça Augusto Severo e a avenida Tavares de Lira. Trata-se de um dos mais antigos logradouros públicos daquele bairro. Ali foram construídas as primeiras residências da Ribeira, no último quartel do século XVIII.
Eram as casas destinadas aos vigias dos armazéns, que guardavam as mercadorias exportadas para Pernambuco, embora ali ainda predominassem os sítios com plantações, especialmente de coqueiros.
No final do século XVIII, ainda não existia uma denominação definida para a rua Dr. Barata que formava conjuntamente, com as atuais avenidas Duque de Caxias e Tavares de Lira, e as ruas Chile, Frei Miguelinho e Câmara Cascudo, a Campina da Ribeira, defronte à Igreja do Bom Jesus. Existem referências documentais, que evidenciam a existência daquele templo no ano de 1776.
RUA FREI MIGUELINHO
A Rua Frei Miguelinho, está localizada no bairro da Ribeira, paralela à rua Chile, no trecho compreendido entre a avenida Tavares de Lira e a Esplanada Silva Jardim.
Trata-se de uma das mais antigas ruas da Ribeira, na realidade o prolongamento da rua Dr. Barata, outrora conhecida como o “Caminho da Fortaleza”.
Em 3 de março de 1744, já era citada no registro de uma concessão de terra, doada pelo Senado da Câmara de Natal ao capitão Manuel Raposo da Câmara: “na paragem das testadas da casa que serve de armazém ao tenente-coronel Manuel de Souza Vieira, correndo para o norte ou nordeste até entestar com o caminho que vai para a fortaleza”. Como se pode observar, o referido caminho já era habitado antes daquela data.
Em 1764, o português Manuel Pinto de Castro e sua esposa, Francisca Antônia Teixeira, pais de Frei Miguelinho, fixaram residência “em um sítio localizado além da Ribeira”. Tal sítio estava situado no caminho para a fortaleza. Naquela época o bairro da Ribeira se estendia até o atual Beco da Quarentena. O último registro documental de concessão de terras naquele logradouro público, data de 27 de agosto de 1791, sendo beneficiária Luciana Bezerra.
IGREJA DO BOM JESUS DAS DORES
Na concepção de Cascudo (1999), este templo foi construído na segunda metade do século XVIII; o que o torna a quarta igreja mais antiga da cidade. Tal afirmação baseou-se nas pesquisas em documentos de 1774, que já registravam um sepultamento realizado dentro da igreja, conforme costume da época. Outra documentação pesquisada, datada de 1776, registra a autorização do então vigário de Natal, padre Pantaleão da Costa, para a realização de um casamento na então capela do Bom Jesus das Dores.
O fragmento de um mapa publicado em 1779, intitulado View of the coast of Brazil before Rio Grande (Vista da costa do Brasil diante do Rio Grande) mostra o perfil do litoral em torno de Natal. Entre outras informações fornecidas, indica uma igreja à esquerda da Fortaleza. Seria a mesma igreja dos mapas seiscentistas? Ver TEIXEIRA, 2018.
PRAÇA CAPITAO JOSÉ DA PENHA
A atual Praça José da Penha está localizada em frente à Igreja do Bom Jesus das Dores, no bairro da Ribeira. Uma licença para casamento, datada de 5 de fevereiro de 1776, já evidenciava a existência da igreja, naquele ano. Conclui-se que a praça fronteira à mesma, já existia desde o último quartel do século XVIII.
Logradouro em frente à igreja Bom Jesus das Dores, segundo o historiador Câmara Cascudo (1999), o quarto templo católico erguido em Natal, informando registro de sua existência desde o ano de 1774. Capela sem adornos, apesar de localizada num bairro de grande movimentação comercial, Cascudo acrescenta que a grande maioria dos fieis era composta de frente simples, autênticos canguleiros. Esta grande “devoção dos canguleiros sustinha o templo” (CASCUDO, 1999, p.105).
ANTIGO CEMITÉRIO DOS INGLESES
Localizado na margem esquerda do rio Potengi, na gamboa Manimbu, praia da Redinha. Neste local eram enterrados os estrangeiros, aqui falecidos. Há registro do uso desta área, datados de meados do século XVIII. Cascudo(1976, p. 132), no livro das Velhas Figuras, nos informa sobre a localização do cemitério:
A margem da camboa Manimbu, perto da praia da Redinha, está um cemitério pequenino. A sombra dos raros coqueiros mirrados dá um ar de repouso que inda mais triste torna a solidão dos mortos esquecidos. É o cemitério dos Ingleses. […] Aí sepultavam os estrangeiros protestantes.
Resistente ao tempo, não conseguiu sobreviver aos caçadores de tesouros.
REDINHA
A Redinha, além da beleza natural, é o que os historiadores denominam de “lugar de memória”. A Redinha dos pescadores, antes pertenceu aos índios potiguara, chefiados pelo grande Camarão, líder indígena, aliado aos portugueses. A aldeia de Felipe Camarão (nome adotado pelo chefe indígena após seu batismo), localizava nas proximidades da praia, no atual bairro salinas.
Cascudo (1968), informa a existência de documentos citando este topônimo datados do primeiro terço do século XVIII. Conforme Medeiros Filho (1991, p.93), em uma carta de doação de 05/06/1731 a senhora Joana de Freitas recebeu por título uma área da “Redinha até a Pajuçara”.
SALINAS
O pesquisador Olavo de Medeiros Filho, em Terra Natalense, aponta o registro desta região datado de 1748. Diz o insigne historiador, “[…] o antigo Porto do Cajueiro ficava a margem da camboa do Jaguribe, no local onde, nos dias atuais funciona o “Projeto Camarão”. (MEDEIROS FILHO, 1991, p.103). O Projeto de extração de sal não prosperou, ficando além das “marcas” nas margens do rio Potengi o topônimo de salinas.
BARRO VERMELHO
Apesar de ser um bairro novo, o Barro Vermelho, aparece com este topônimo em documentos do fim do século XVIII. O historiador Olavo de Medeiros Filho, em Terra Natalense, faz o seguinte registro:
23.07.1787 – Favorecido, o Alferes Antônio José Barbosa, terras, pegando das testadas dos sítios de Barro Vermelho, até as nascenças da Lagoa Seca, que serão duzentas braças, pouco mais ou menos, deste comprimento, e de largura, pegando a estrada real, que corre do Barro Vermelho até a estrada da Picada […]. (MEDEIROS FILHO,1991, p.140).
Verifica, então, a antiguidade deste topônimo. Uma curiosidade são as diversas lendas referentes a esta localidade. Uma delas conta a existência de vozes celebrando uma missa, ouvida por quem passasse a noite por entre a mata existente no antigo Morro Branco.
LAGOA SECA
Em Terra Natalense, o historiador Olavo de Medeiros Filho, cita uma vasta documentação referente a expansão urbana de Natal, a partir das concessões das datas. Através da pesquisa do insigne membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, é possível construir o passado desta cidade Natal.
Lagoa Seca, por exemplo, aparece em data de 4 de abril 1719, diz o documento: a paragem a que chamavam a Lagoa Seca…cem braças de terra de comprido e cinquenta de largo, começando da dita Lagoa Seca para a parte do Morro Branco […] (apud MEDEIROS FILHO,1991, p.83).
Lagoa Seca que originou este topônimo, localizava-se no atual cruzamento da Avenida Alexandrino de Alencar com a Avenida Prudente de Morais.
ROCAS
Lugar de pescadores, a sua ocupação remota ao século XVIII. Em Terra Natalense, o historiador Medeiros Filho (1991) cita documentação, de datas concedidas pelo Senado da Câmara de Natal, registrando a concessão de 50 braços de terra a Antônio de Melo e Alberto de Melo, pescadores, entre os atuais bairros de Santos Reis e Rocas. Luis da Câmara Cascudo, em História da Cidade do Natal, informa que a origem deste topônimo advém do ato das Rocas, lugar de pesca dos homens do mar natalense. Assim descreveu Cascudo (1999, p.246):
Moravam raros pescadores, mais numerosos na parte superior, que se disse Areal, em princípios do século X. Contam que o nome provém do atol das Rocas, pesqueiros afamados e de fácil atração para os pescadores. Os que pescavam nas águas do atol das Rocas denominaram Rocas à morada em terra firme.
QUINTAS
O nome do bairro deriva do século XVIII, quando a região era formada por sítios e granjas, como a Quinta Velha. Foi local de inspeção de veículos, sediou o primeiro matadouro de Natal (onde hoje fica a sede da empresa de limpeza pública, a Urbana). Também sediou o Cinema São José e uma amplificadora (sistema de som instalado em diversas ruas que divulgava as manifestações da cultura popular).
E o rio? O que ele tem a ver com a história do bairro? O local era utilizado pelas lavadeiras para limpar as roupas de membros da alta sociedade potiguar. Até uma lavanderia pública foi instalada, mas acabou sendo abandonada e o prédio está em ruínas.
Como descobriram este recurso hídrico? De acordo com os historiadores potiguares, os holandeses quando invadiram o Rio Grande do Norte montaram um povoado, chamada Keysers Croon, onde fica as Quintas. Em 1647, o holandês George Macgrave publica um mapa que mostra registros de um rio chamado Cunhacima, que provavelmente seria o Riacho das Quintas.
O Rio das Lavadeiras, como também é conhecido, conecta-se ao Rio Potengi através do manguezal. Além das Quintas, ele está conectado com os bairros de Bom Pastor e Bairro Nordeste. Alguns trechos do rio apresentam pequenos “olheiros”, que são nascentes d’água que afloram no percurso do riacho.
CASA DA CÂMARA E CADEIA
Essa segunda Casa da Câmara e Cadeia estava em decadência no ano de 1709. É o que informa uma carta enviada pelos Senhores Oficiais da Câmara ao Corregedor Ouvidor Geral, desembargador Gonçalo de Farias Baracho, datada de 17 de agosto de Em 15 de maio de 1719 foi concedida uma data de terra, através da qual se comprova que naquela época estava sendo construída uma terceira Casa da Câmara e Cadeia, nas proximidades da velha Casa do Concelho, à época já em completa ruína.
O novo prédio foi também construído na atual praça André de Albuquerque, no local hoje ocupado pela casa de número 608. Em 1736, aquele prédio
foi reformado com a finalidade de nele funcionar a residência do governador da capitania. Foi então ordenada a construção de uma nova Casa da Câmara, o que não foi possível por falta de recursos.
As obras de construção da quarta Casa da Câmara e Cadeia somente foram iniciadas em 1767, ocorrendo a inauguração do prédio em 7 de maio de 1770. O local correspondente ao referido prédio, invadia parte da hoje denominada rua João da Matta, ocupando completamente o terreno da casa número 604 da praça André de Albuquerque.
Existia um estreito beco, entre a velha cadeia e a atual casa número 594 da mesma praça. O quarto prédio foi o mais sólido e resistente dos edifícios levantados até então na Cidade, com a finalidade de nele funcionarem o Senado da Câmara e Cadeia.
Segundo Olavo de Medeiros Filho, em 1706, já existia a denominação de rua da Cadeia, que era a rua fronteira à matriz. A documentação do antigo Senado da Câmara indica a existência, em 2 de agosto de 1731, da “rua nova desta cidade”. A referida rua estendia-se acompanhando o alinhamento da fachada principal da igreja matriz. Segundo uma data concedida a Manuel José de Vasconcelos, de 30.05.1767, havia a chamada rua da Matriz, aquela mesma rua da Cadeia.
PRAÇA ANDRÉ DE ALBUQUERQUE
A história da Praça Vermelha é praticamente uma extensão da história da cidade do Natal, afinal, na medida em que a cidade ia se desenvolvendo, a praça também ia crescendo e tomando forma.
Câmara Cascudo, em seu livro História da Cidade do Natal, fala que a mais antiga descrição sobre a praça é de 1897. Ela tinha, a essa época, 35 casas, com 179 moradores. Suas primeiras construções públicas foram a Igreja Matriz, ainda em 1599, e a Casa de Câmara e Cadeia, somente 1770, junto ao Pelourinho, veja:
“Não é difícil de imaginar o que seria o Natal do começo do século XVIII, com a sua igreja, a cadeia, a forca, o pelourinho, a casa da câmara e as moradas esparsas pelo areal dos bairros, entaipadas umas, outras, e eram o maior número, tecidas de ramos e cobertas com as folhas das diferentes palmeiras indígenas; todas afogadas no mata-pasto embatido e defendidas pelos viçosos urtigões.” (Adaptado de SOUZA MIRANDA, 1999:55).
EDIFÍCIO DO REAL ERÁRIO
O edifício do Real Erário –, após o imóvel do século XVIII ter passado por uma adaptação para atender às necessidades diretamente ligadas aos objetivos que deveria cumprir. Desde sua construção, no século XVIII, esse imóvel abrigou várias instituições e passou por inúmeras modificações estruturais. Atualmente, possui um estilo neoclássico. Em 24 de agosto de 1989, ou seja, após a inauguração do Memorial Câmara Cascudo, o prédio foi tombado como patrimônio histórico e artístico estadual.
IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DOS PRETOS
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário possui Localização privilegiada. Está situada no Largo do Rosário, Cidade Alta, nas proximidades da Pedra do Rosário e da Praça André de Albuquerque. “Acha-se ela implantada em um platô, de onde se descortina toda a paisagem do estuário do Rio Potengi” (NESI, 1994).
A data de sua fundação não é definida com exatidão. Segundo Cascudo (1999, p.102), “A igreja é, salvo documento em contrário, de 1713 ou 1714 […].
É a nossa segunda igreja. A mais antiga, depois da matriz”. É também a menor e mais simples das primeiras igrejas construídas em Natal. As origens do templo explicam as razões dessa singeleza. Sua construção, realizada por escravos, foi direcionada para o atendimento aos segmentos sociais desfavorecidos: “era o local sagrado dos casamentos, dos batizados, das festas dos que nada possuíam” (CASCUDO, 1999, p. 102). Apesar de sua simplicidade, “trata-se de uma edificação de relevante interesse histórico e arquitetônico” (NESI, 1994), tombada no âmbito estadual em 30 de novembro de 1987.
PEDRA DO ROSÁRIO
Monumento em homenagem à imagem encontrada no Rio Potengi, segundo Luis da Câmara Cascudo (1989), Nossa Senhora da Apresentação procurou sua freguesia, numa quarta-feira, 21 de novembro de 1753. Apesar dos traços que lembram Nossa Senhora do Rosário, a imagem encontrada foi benta com o título de Apresentação, pelo Padre Manoel Correia Gomes (MOURA, 1986).
Natal possui suas lendas, suas assombrações e suas crendices. A Padroeira chegou em séc. XVIII, dentro dum caixão, boiando na água quieta do rio, na manhã de 21 de novembro. Encalhado o caixote, aberto depois, viram o vulto da Santa, Nossa Senhora do Rosário, que se chamou da Apresentação por se ter apresentado nesse dia. Está no altar-mor da Matriz. É pequena, humilde, doce, abençoada e sua mãozinha de onde pendem o terço de ouro. Num letreiro que envolvia a Santa, lia-se: – Onde esta Santa chegar, nenhum inimigo vencerá…
Assim têm sido com tantos inimigos que vieram e virão. Mas é impossível melhor defesa, desde de que ela repousa na profundeza, das tradições e na doçura do Passado longínquo. Verdade é que a Pedra do Rosário, onde Nossa Senhora chegou, serve hoje de suporte a um cano de óleo da Air France. Mas a pedra não ficou sagrada pelo contacto. A culpa não é da Santa e sim dos devotos.
A imagem original encontra-se na Catedral, permanecendo na Pedra do Rosário uma réplica, lembrando a primeira apresentação de Nossa Senhora em terras natalenses.
Todos os anos no dia 21 de novembro, a Pedra do Rosário é o ponto de partida da procissão de Nossa Senhora, finalizando os festejos da padroeira. É também, um dos lugares de Natal onde se vê o mais belo pôr do sol. Localiza-se às margens do rio Potengi, no final da Rua Bocaiúva.
IGREJA DE SANTO ANTÔNIO (IGREJA DO GALO)
Situada na Rua Santo Antônio, na Cidade Alta, é considerada a terceira igreja construída na cidade. Para Cascudo (1999), o mais antigo documento com referência explicita à Igreja de Santo Antônio data de 1763 e o provável término da sua construção ocorrera três anos depois; “data que se acha inscrita no alto da porta principal”, afirma Nesi (1994), em apoio à tese de Cascudo.
O templo, que era identificado no passado como a Igreja de Santo Antônio dos Militares e atualmente como a Igreja do Galo – referência ao ornamento situado no alto da sua torre – segundo Nesi (1994, p. 25), “destaca-se dos demais da Cidade, pelo seu porte e sua beleza. Na nossa arquitetura, constitui-se um belo exemplo do estilo barroco”. A edificação foi tombada, na esfera estadual, em 29 de março de 1983 e abriga em suas dependências o Museu de Arte Sacra, criado em 1989.
IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA APRESENTAÇÃO (CATEDRAL VELHA)
A Cidade Alta, enquanto primeiro bairro de Natal concentrava as principais igrejas dos séculos XVII e XVIII com suas mais importantes movimentações religiosas. As nossas capelas são mais velhas do que indicam as datas em seus frontispícios. Muitas dessas datas foram colocadas após alguma reforma, além do que todas as ditas capelas e igrejas foram reconstruídas, pois muitas delas eram de taipa. Hoje vamos dar notícias aqui de alguns batismos do início do século XVIII na Paroquia de Nossa Senhora da Apresentação e conhecer os nossos moradores daquela época.
Sebastião Pimentel foi presidente da nossa Província. Um dos seus filhos era o alferes Alberto Pimentel que casou, em 1694, com Dona Francisca Tavares de Mello, filha do Francisco de Oliveira Banhos e Antonia Tavares de Mello. Em 29 de junho de 1713, na Paroquial de Nossa Senhora da Apresentação, o Padre Simão Rodrigues de Sá, batizou a Pedro, filho do alferes Alberto Pimentel e de sua mulher Francisca de Oliveira (o nome muda a cada registro). Foram padrinhos Pedro Ferreira de Mello e o coronel Manoel Gomes Torres.
Em 29 de junho de 1713, na Paroquial de Nossa Senhora da Apresentação, de licença do Padre Simão Rodrigues de Sá, batizou o Padre Bernardo de Farias Freire, a Luzia, filha de Manoel da Silva Queiroz e de sua mulher Maria da Silva Freire. Foram padrinhos Manoel Rodrigues Taborda e Francisca de Oliveira, mulher do alferes Alberto Pimentel. Há um outro Manoel da Silva Queiroz, filho de Francisco Fernandes de Carvalho e Maria Gomes da Silva, que talvez seja neto desse mais antigo. Gaspar Freire de Carvalho, que casou com Clara Martins de Macedo, era filho do coronel Manoel da Silva Queiroz e Maria da Silva Freire.
Desde a sua construção, o templo passou por diversas reformas que deram à antiga capelinha elementos para a sua atual configuração. Entre essas, Cascudo (1999, p.100) destaca a reconstrução ocorrida após a expulsão dos holandeses, as reformas de 1672-1694 e a remodelação geral de 1786, que “retiraram da matriz todos os característicos”.
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