A inclusão das mulheres na vida social de Natal
Os espaços dos adultos na cidade também eram demarcados pelos estabelecimentos recreativos. Bares, bilhares e cafés funcionavam como ponto de encontro, um lugar para se passar o tempo, conhecer pessoas, fechar negócios, trocar informações, apreciar quitutes, falar da vida alheia e da própria. Por esses estabelecimentos, fossem eles modestos ou luxuosos, passavam cotidianamente amanuenses, políticos, boêmios e até famílias.
No bairro da Ribeira, centro comercial da cidade, encontrava-se a maior concentração de bares, bilhares e cafés de Natal, especialmente na avenida Tavares de Lyra.
Quanto às moças e senhoras, só entravam nesse tipo de estabelecimento nas noites de festas e bailes. Essa rara presença das mulheres na vida social da cidade é tema de uma crônica de autoria de Henrique Castriciano, publicada nas páginas da Gazeta do Commercio em 1902. A crônica, intitulada Crítica de costumes, era uma alfinetada na sociedade natalense, que estava entrando no século XX ainda carregada de hábitos arcaicos, responsáveis, na opinião do autor, pela vida bisonha que se levava na capital do Estado, onde não havia ainda um teatro, raramente havia bailes, e tampouco a presença feminina nas ruas comerciais e praças da cidade (CASTRICIANO, Henrique. Critica de costumes. Gazeta do Commercio, Natal, 10 abr. 1902).
Sete anos depois, Henrique Castriciano responsabilizou a má educação dada às moças como o fator responsável dos hábitos excessivamente caseiros das mulheres de Natal. Segundo o autor, as moças eram influenciadas por uma rígida educação católica. Por isso estavam sempre aterrorizadas com a idéia de cometer algum pecado, preferindo se guardar em casa, “appreciando as ruas por detraz das rotulas” (A ESMO, A Republica, Natal, 19 fev. 1902).
Apenas no início da década de 1920, podemos perceber uma maior frequência feminina nos cafés da cidade. Em 1928, imagens de muitas mulheres foram captadas pelas lentes dos fotógrafos da revista Cigarra, enquanto elas frequentavam clubes e cafés sem estarem necessariamente acompanhadas por seus maridos ou pais.