A Natal dos Roselli

É absolutamente impossível escrever sobre a história da cidade do Natal sem citar a família Roselli. De origem italiana, se estabeleceram em Natal no século XIX e fizeram fortuna com o comércio na Ribeira sendo inclusive um fundadores da Associação Comercial de Natal. Com a construção, compra e venda de imóveis, não é exagero dizer que eram os donos da cidade. Com esta influência econômica participaram da vida política por quase 40 anos.

Foram um fundadores do Natal-Club, introduziram e desenvolveram o futebol como esporte popular. Lá estavam eles também na introdução da aviação no estado. Católicos, ajudaram na estabelecimento do bispado em Natal e na construção da primeira versão de uma nova catedral na cidade.

Vamos postar sobre os mais proeminentes personagens Angelo, Alberto e Anadil Roselli esta última com destacada na ciência médica de renome internacional. Acompanhem:

ANGELO ROSELLI

O coronel Angelo Roselli (1855-1924) era de origem italiana, família nascida em Arcona (CASCUDO, Luís da Câmara. Angelo Roselli. A REPUBLICA, Natal, 12 abr. 1929.). Ocupou a Intendência de Natal entre 1892 e 1895. Foi uma liderança no interior da classe comercial. Era proprietário de vários prédios na capital potiguar.

O italiano Angelo Roselli era nome de prestígio na sociedade. Veio para a capital norte-rio-grandense ainda moço, ocupou o cargo de intendente de Natal entre 1892 e 1895, e foi um comerciante de destaque, contribuindo de maneira decisiva para a criação da Associação Comercial do Rio Grande do Norte (CARDOSO, Rejane (Coord.). 400 nomes de Natal. Op. cit., p.71.). Foi ainda tenente coronel da Guarda Nacional, vice-cônsul da Argentina no Rio Grande do Norte, possuía muitos prédios em Natal, alguns até mesmo alugados ao governo estadual, sendo citado como o maior contribuinte da décima urbana no ano de 1905 (SANTOS, Renato Marinho Brandão. Natal, outra cidade!. Op. cit., p. 83.).

BONDE

Na tentativa de se estabelecer uma ou várias linhas de bondes, em Natal e subúrbios, apareceu o decreto de 06 de novembro de 1890, concedendo um privilégio por trinta anos a Ângelo Rosseli, mas, nada foi feito.

No ano de 1908 o governo municipal estabeleceu contrato com a Companhia Ferro Carril do Natal para a implantação dos bondes a tração animal. Vale salientar que a diretoria dessa Companhia era formada por nomes como Romualdo Galvão (presidente), Aureliano Clementino de Medeiros (gerente) e Afonso Barata (tesoureiro). José Calistrato Carrilho Vasconcelos e Francisco Vale Miranda compunham o conselho fiscal, aparecendo ainda Pio Barreto e Francisco Cascudo como suplentes. Entre os incorporadores da Companhia foram citados Olympio Tavares, João Chrisóstomo Galvão e Angelo Roselli (CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal. Op. cit., p.382.). A Companhia detinha o privilégio exclusivo durante 30 anos para explorar o serviço de transporte de mercadorias e passageiros em Natal, recebendo isenção de todos os impostos municipais, bem como o domínio útil dos terrenos e prédios necessários para o estabelecimento das linhas e desenvolvimento do tráfego (Conforme consta na Resolução n.122, ver: A REPUBLICA, Natal, 04 set. 1908.). A maioria dos sujeitos citados participando da Companhia encarregada do transporte urbano da capital, fosse como incorporador ou como membro da diretoria, envolveu-se na gestão local e apropriou-se, via enfiteuse, de parcelas consideráveis do patrimônio fundiário natalense. Indivíduos que tinham relações estreitas com os Albuquerque Maranhão, que ocuparam cargos importantes na política local ou que se destacaram enquanto comerciantes ou proprietários em Natal.

No início de 1908, as principais novidades apresentadas à cidade são o contrato de fornecimento de carnes verdes e, o mais entusiasmante, o lançamento do prospecto da Companhia Ferro-Carril do Natal. Entre outros, tomaram a frente da companhia na sua fase de organização e venda das ações, Manoel Dantas, Olympio Tavares e Angelo Roselli. O otimismo tomava conta dos incorporadores do capital, que acreditavam que em breve o bonde chegaria à cidade, mudando sua paisagem e os hábitos de seus cidadãos.

Como é possível notar na representação abaixo, as linhas de bonde conectaram os 4 bairros existentes na capital e os marcos de parada, ao menos em Cidade Nova, eram residências de indivíduos que integravam a rede de parentela dos Albuquerque Maranhão. Nota-se, portanto, que as redes de transporte no início do século XX também atendiam os interesses daqueles que comandavam os postos políticos do estado e da capital, e a implementação de tais redes relacionava-se estreitamente com a valorização das terras aforadas por esses sujeitos. O mercado de terras da capital articulava-se a um sistema mais amplo que envolvia contratos lucrativos e que demarcava as áreas em que os lotes seriam valorizados.

Representação das linhas de bonde implantadas em Natal até 1912 sobre Planta cadastral e topográfica elaborada por Henrique de Novaes em 1924. Fonte: MEDEIROS, Gabriel Leopoldino Paulo de. A Cidade Interligada. Op. cit., p. 135.

O PRIMEIRO BISPO DE NATAL

O primeiro bispo da Paraíba, Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, fez várias visitas ao Rio Grande do Norte. Dom Adauto logo percebeu que o Estado já tinha maturidade para tornar-se uma Igreja Particular independente da Paraíba. Já existiam 31 paróquias, a maior parte provida com padres norte-rio-grandenses. O prelado então liderou os esforços para a criação da diocese de Natal. Em dezembro de 1907, Dom Adauto veio a Natal com o intuito de constituir uma comissão encarregada de preparar a criação da diocese e cuidar das questões patrimoniais. A comissão era composta por: Dr. Olimpio Manoel dos Santos Vital, Des. Jerônimo Américo Raposo da Câmara, Dr. Luiz Manuel Fernandes Sobrinho, Cel. Pedro Soares de Araújo, Pe. Moisés Ferreira do Nascimento, Com. Ângelo Roselli, Dr. Augusto Leopoldo Raposo da Câmara, Dr. Elói Castriciano de Sousa, Cel. Francisco Cascudo, Pe. José de Calazans Pinheiro e Des. João Dionísio Figueira. Em um espaço de dois anos do início dos trabalhos da comissão foi criada a Diocese de Natal, pela Bula “Apostolicam in Singulas”, do papa São Pio X, em 29 de dezembro de 1909.

Dez meses após a criação da nova diocese foi nomeado o primeiro bispo de Natal, Dom Joaquim Antônio de Almeida, que tomou posse no dia 15 de junho de 1911. Até essa data a diocese esteve sob a responsabilidade do bispo da Paraíba Dom Adauto, na qualidade de Administrador Apostólico.

Dom Joaquim de Almeida, 1° bispo do Rio Grande do Norte, nasceu em Goianinha em 17.08.1868. Fez o curso secundário no Colégio diocesano de Olinda, Pernambuco e ordenou-se em Fortaleza (1894).

ARMAZEM DE FAZENDAS E MIUDEZAS

O coronel Roselli era, ainda, dono do conhecido Armazem de fazendas e miudezas, localizado na Rua do Comércio n. 50, Ribeira, como vemos anunciado em várias edições d’A Republica nos primeiros anos do século XX. Pelo que vemos, porém, das listas de contribuintes já referidas e por uma matéria do início de 1911, Angelo Roselli retirava mesmo maior parte de suas rendas dos aluguéis de suas inúmeras propriedades.

Algumas notas do A Republica indicam que Roselli firmava contrato com o governo estadual. Em maio de 1900, o italiano assinou um contrato com o governo “para o fornecimento de artigos de expediente e mais objetos necessários ás repartições publicas estaduais”. Em junho do mesmo ano, o governo estadual ordenou o pagamento de 471.000 réis a Angelo Roselli pela venda de “desinfectantes indicados pela Inspectoria de Hygiene contra a
propagação da peste bubônica”. Ainda em junho de 1900, o governo autorizou o pagamento de 70.000 réis a Roselli em virtude “de uma bandeira nacional que forneceu à repartição da Policia”. Ver: A REPUBLICA, Natal, 2 maio 1900; GOVERNO do Estado. A Republica, Natal, 03 jun. 1900; GOVERNO do Estado. A Republica, Natal, 06 jun. 1900.

E como vimos, tinha um cliente especial: o governo do Estado. Na matéria de 1911, Roselli estabelece novas regras para o aluguel de suas propriedades, de modo a ter maior controle e segurança em relação ao pagamento dos inquilinos. Alguns deles não deviam ser tão bons pagadores como o Estado, que sem atraso passava os aluguéis para Roselli mês a mês, como vemos nos despachos da Parte Oficial d’A Republica.

Reclames do Armazém de propriedade de Angelo Roselli no jornal Diário do Natal, ano I, nº 20, quarta-feira, 26 de julho de 1893., pág. 03.
Diário do Natal. nº 3.148. terça-feira, 05 de março de 1907.
A “civilizada” Ribeira – rua do Commercio (atual rua Chile)
Fonte: Acervo Diário de Natal
Rua do Commercio (Chile)

ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INTENDÊNCIA

Nas matérias de jornal, vemos o seu nome ligado à Associação Comercial desde os primeiros anos de nossa pesquisa (CASCUDO (Ibid.) afirma que participou da fundação dessa Associação, em 1892.). Em 1904, preside a instituição, ladeado por outros dois coronéis, Romualdo Galvão e Avelino Alves Freire; ambos pertencerão à Intendência (Ver, por exemplo, A REPUBLICA, Natal, 01 mar. 1904, entre outras edições em que aparecem os nomes dos diretores da Associação Comercial.). Em 1913, aparece como 1º secretário dessa Associação (A REPUBLICA, Natal, 21 jan. 1913.) e dela não sairá, como vemos em notas posteriores.

Esses comerciantes estiveram presentes em todos os conselhos que se formaram na capital. Anúncios de jornal, com propaganda de seus comércios, despachos na Parte Oficial, que apresentam seus negócios com o governo do Estado, nos revelam as funções que esses homens exerciam na cidade. As notas da Associação Comercial e da Junta Comercial do Rio Grande do Norte mostram, ainda, o espírito corporativista existente entre os membros desse grupo.

Na primeira lista, aparece com a contribuição de 610$640 (A REPUBLICA, Natal, 18 mar. 1905); na segunda, aparece contribuindo com o valor de 639$000 (A REPUBLICA, Natal, 17 dez 1905). É ainda o segundo maior contribuinte do imposto de classe do ano já referido, e o terceiro maior contribuinte do imposto de indústria e profissão. No ano seguinte, manter-se-á no topo das referidas listas (A REPUBLICA, Natal, 27 dez. 1906).

Por meio de notas e resumos das reuniões da dita Associação, publicados n’A Republica, verificamos que dela fizeram parte os seguintes nomes ligados à Intendência: Alexandre dos Reis, Angelo Roselli, Antonio Joaquim Teixeira de Carvalho, Avelino Alves Freire, Arthur Hypolito da Silva, Felinto Elysio Manso Maciel, Fortunato Aranha, Francisco Cascudo, Francisco Rodrigues Vianna, Joaquim Manoel Teixeira de Moura, Joaquim Policiano Leite, José Lagreca e Romualdo Galvão. Uma boa parte deles ocupou cargos importantes na dita sociedade comercial, caso do cel. Joaquim Manoel, José Lagreca, Romualdo Galvão, Avelino Freire e Angelo Roselli, para fi carmos apenas em alguns exemplos que nos vêm à memória. Os nomes citados aparecem em várias notas, especialmente entre 1904 e 1913. Ver, por exemplo: A REPUBLICA, Natal, 01 mar. 1904; 21 dez. 1906; 01
dez. 1909; 21 jan. 1913; 12 ago. 1913, entre outras edições.

Já expusemos aqui, e isto parece claro, que boa parte dos personagens ligados à Intendência foram nomes de destaque no comércio local. Associações como essa a que nos referimos mostram, além disso, que os que se dedicavam a esse ramo de atividade tinham um espírito corporativo. Não é à toa que, em novembro de 1905, Francisco Cascudo, Angelo Roselli, Romualdo Galvão, Francisco Rodrigues Vianna, Fortunato Aranha e Olympio Tavares, para ficarmos apenas nos nomes ligados à instituição que estudamos, participaram de um abaixo-assinado contra a Great Western, por esta se recusar a se responsabilizar por qualquer prejuízo, dano ou extravio sofridos pelas mercadorias por ela transportadas255. E, por fim, não é absurdo pensar que estes e outros nomes, juntos na dita Associação, em suas reuniões e conversas informais, criassem as resoluções que depois seriam votadas pelo Conselho de Intendência.

Sobre as atividades desempenhadas pelos intendentes, vemos que, além do coronel Joaquim Manoel, vários outros intendentes estiveram envolvidos nos mais variados ramos de comércio. Ao todo, a lista dos comerciantes apresenta 21 nomes, os quais representam aproximadamente 36% do número de intendentes que geriram a cidade entre 1892 e 1930. Se levarmos em conta apenas os 43 Intendentes sobre os quais sabemos algo, a porcentagem de comerciantes na Intendência sobe para quase 50%. Estavam ligados aos mais variados ramos de comércio Alexandre dos Reis (1918-1919), Angelo Roselli (1892-1895), Antonio Gurgel do Amaral (1914-1916), Antonio Joaquim Teixeira de Carvalho (1902-1904), Arthur Hypolito da Silva (1917-1919), Avelino Alves Freire (1914-1916), Fabricio Gomes Pedroza (1892-1895), Felinto Elizio Manso Maciel (1914-1916), Fortunato Rufino Aranha (1899-1910; 1917-1922; 1926-1930), Francisco Cascudo (1923-1925), Francisco Rodrigues Vianna (1899-1901), João D. da Silva (1892-1894), Joaquim Ignacio Torres (1917-1919; 1923-1925), Joaquim Manoel T. de Moura (1895-1913), Joaquim Policiano Leite (1917-1919; 1923-1925), Joaquim José Valentim de Almeida (1914-1916), José Lagreca (1923), Manuel Joaquim de Amorim Garcia (1892-1898), Olympio Tavares (1896-1901), Pedro Avelino (1899-1901), Romualdo Lopes Galvão (1914-1916).

A Associação Comercial de Natal foi fundada em 02/10/1892 e considerada de utilidade pública pelo decreto nº 3.349 de 03 de outubro de 1917. Já contava mais de meio século quando foi iniciada a construção do novo edifício sede a ACN em 1937. Foi marcada para os primeiros dias de abril do ano de 1944 a solenidade de inauguração do majestoso edifício da Associação Comercial de Natal na avenida Sachet. O prédio formado por três pavimentos era um notável melhoramento que enriqueceria a cidade segundo o jornal A Ordem (A ORDEM, 28/03/1944, p.4). A inauguração, no entanto ocorreu no dia 19/04/1944 durante as comemorações do aniversário do presidente Getúlio Vargas na capital potiguar.Foto; Revista Fon Fon,1948.
Prédio da Associação Comercial na atualidade.
Foto da sede da Intendência tirada por Manuel Dantas na década de 1910. À direita da imagem vê-se o prédio da farmácia torres. Na década de 1920, esse sede, modesta que m suas formas, dará lugar a um prédio mais importante, de estilo eclético, que ainda hoje sedia a prefeitura da cidade.
A partir do ano de 1891, com a criação da Intendência Municipal de Natal, o Conselho funcionou no velho casarão de linhas coloniais, sede da Intendência Municipal até 1922, pois neste ano o prédio foi demolido para edificar a atual sede da Prefeitura Municipal de Natal, localizada na rua Ulisses Caldas, 81, Cidade Alta.
Sede da Prefeitura de Natal. Foto: Adriano Medeiros.

EMPREITEIRO

Câmara Cascudo, em crônica publicada em 1929, dirá que “Soffrendo da mania de construir, Roselli semeou casas em Natal como grãos de milho”, em alusão as inúmeras propriedades do ex-intendente na capital (CASCUDO apud CARDOSO, Rejane (Coord.). 400 nomes de Natal. Op. cit., p.71.). A Republica, em notas por ocasião do natalício de Roselli ou de membros de sua família, adjetivava-o como “proprietário nesta cidade” (ANNIVERSARIOS. A Republica, Natal, 21 out. 1910; VIDA social. Anniversarios. A Republica, Natal, 19 fev. 1913.).

A afirmação é confirmada em aviso de cobrança da taxa de lixo da empresa Tracção, Força e Luz, publicado em 1915, que nos mostra que Roselli tinha noventa e quatro propriedades na capital, quarenta e cinco das quais se localizavam às margens do rio Salgado. O aviso nos mostra o nome de outros grandes proprietários locais: Olympio Tavares, Romualdo Galvão, Alexandre O’Grady, Felynto Manso, Francisco Rodrigues Vianna, José Pinto, Joaquim Policiano Leite, entre outros que fizeram parte da Intendência. A REPUBLICA, Natal, 02-03 dez. 1915; 06 dez. 1915; 10 dez. 1915; 13-15 dez. 1915.

Roselli foi ainda listado como mesário nas eleições estaduais de 1913 (VARIAS. A Republica, Natal, 13 set. 1913.). Seu filho, Alberto Roselli, também ocupou a Intendência de Natal, atuando como secretário a partir de março de 1912 e como intendente na gestão de 1914 a 1916703.

Angelo Roselli foi listado em 32 cartas de aforamento, possuindo 3 terrenos aforados na Ribeira e 29 na Cidade Alta, o que indica como ele era um grande enfiteuta de terras municipais. Em 1915 a empresa Tração, Força e Luz publicou um aviso de cobrança da taxa do lixo, citando 94 propriedades pertencentes a Roselli, sendo 45 dessas localizadas à margem do Rio Potengi (SANTOS, Renato Marinho Brandão. Natal, outra cidade!. Op. cit., p.83.), o que pode sugerir que ele possuía mais terrenos do que os mencionados nas cartas encontradas ao longo da pesquisa.

Dois deles eram alugados ao governo do Estado: o que servia de sede dos Correios do Rio Grande do Norte, localizado à Rua do Comércio; um outro, sede da Junta Comercial do Estado, também no bairro da Ribeira. Não é à toa que seria o maior contribuinte do imposto da décima urbana nas duas listas publicadas em 1905, com sobras em relação ao segundo colocado (Joaquim Ignacio Pereira).

É provável que boa parte das propriedades de Angelo Roselli estivesse assentada em terrenos aforados à Intendência. Vemos o seu nome, com certa frequência, nos editais de aforamento publicados por essa instituição n’A Republica. Em 1904, por exemplo, pede aforamento de um terreno localizado no crescente bairro da Cidade Nova, na Avenida Oitava (presente plano Polidrelli e inaugurada em 1911, recebendo em seguida os serviços urbanos. Receberá o nome de Hermes da Fonseca, conforme resolução n. 142), com 100 metros de frente. Em 1909, pedirá aforamento de um outro terreno localizado na Praça 11 de junho, quarteirão n. 57 do bairro da Cidade Alta (as dimensões do terreno não são especificadas). No ano de 1913, novamente requer aforamento de terreno do patrimônio municipal, na rua Padre Pinto, quarteirão n. 72 do bairro da Cidade Alta. Tinha ainda uma casa na Rua Felipe Camarão, como vemos por citação em um outro edital de aforamento, de 1906 (A REPUBLICA, Natal, 09 jul. 1904; 14 out. 1909; 09 maio 1913; 26 jul. 1906.).

Foram encontrados centenas de editais de aforamento destacando a solicitação de terrenos em enfiteuse no modelo do que foi citado no início deste tópico. Já os despachos informando se o pedido foi deferido ou não, e convidando os enfiteutas contemplados para solicitarem suas cartas, foram encontrados em pequena quantidade, se comparados ao número expressivo de editais solicitando os aforamentos. Segue exemplo de despacho destacando o deferimento de petições publicado no jornal A Republica:

Quarteirão n.12: Angelo Roseli, Joaquim Henrique de Moura e d. Ignacia Joaquina Gomes Tinoco. […]. (EDITAIS. A Republica, Natal, 06 out. 1906.) (grifo nosso).

Em 1868 era publicado o ATLAS DO IMPÉRIO DO BRASIL, de autoria de Cândido Mendes de Almeida, no qual consta um mapa relativo à então província do Rio Grande do Norte. Encartadas no mesmo mapa, figuram uma planta de Natal e uma topografia do porto. Pesquisas procedidas nos levaram a determinar o ano de elaboração do mapa: 1864, quando a província era presidida pelo Dr. Olinto José Meira.
Bruno Bougard, do alto da torre, vista parcial da rua da Conceição com a Praça da Alegria. Natal, 1908.
Bruno Bougard, do alto da torre, vista parcial da rua da Conceição com a Praça da Alegria. Natal, 1908.
Bruno Bougard, do alto da torre, vista parcial do casario da rua da Conceição. Natal, 1908.
Praça André de Albuquerque, 1911.

AS DISPUTAS JUDICIAIS FAMILIARES

Encontramos diversos exemplos na documentação coligada que a indissolubilidade da família também foi “consumida” pelo natalense pobre. Para as primeiras décadas do século XX, localizamos poucas informações sobre a dissolução da sociedade conjugal entre os mais abastados. O único processo localizado faz referência ao caso Angelo e Sophia Roselli.

Embora não trate diretamente sobre os “ordinários” natalenses, o processo civil número 334, de 1918, bem serve para exemplificar como e quanto o aparato judiciário atuava para manter a relação homem-mulher assimétrica. Trata-se do pedido de alimentos (pensão alimentícia) feito pelos advogados em favor de Sophia Roselli contra o seu esposo, o coronel Angelo Roselli (AGGRAVO DE PETIÇÃO, Natal, nº 334, de 1918). No arquivo do Depósito Judiciário de Natal, foram identificados três processos que envolviam diretamente Sophia e Angelo Roselli, mas só localizamos dois desses. Vejamos:

Em abril de 1917, o nome de Angelo foi envolvido em outro conflito. Dessa vez sua esposa, Sophia Roselli, procurou as vias judiciais para solucionar a questão.

Na realidade, a briga judicial que envolveu o casal Roselli na Justiça Civil potiguar teve início provavelmente em 1916, data em que advogados de Sophia possivelmente deram entrada numa ação de “desquite litigioso”. As datas são imprecisas porque não foi localizado o processo de desquite, apenas se sabe de sua existência porque, nas demais ações envolvendo o casal, os advogados das partes fazem referência a sua existência. Também não se pode dizer com absoluta certeza que a ação intentada por Sophia Roselli tenha sido o mais antigo processo de “desquite litigioso” da justiça potiguar, mas, com certeza foi uma das primeiras a ser proposta no Estado, haja vista o dispositivo legal só ter sido inserido na legislação brasileira com o advento do Código Civil de 1916.

O Edital publicado em 24 de abril de 1917 pelo primeiro juiz distrital no exercício das varas de direito de Natal, o major Joaquim Soares Raposo da Câmara, informou que Sophia, casada em regime de comunhão de bens, tinha feito um protesto desde maio de 1916 contra a venda de imóveis realizada pelo seu marido “sem o seu consentimento, outorga ou assinatura e constando-lhe que dito protesto não fora intimado a todos os interessados” (EDITAES. A Republica, Natal, 24 abr. 1917.). Sophia também alegou que o seu marido pretendia ainda ceder terrenos de marinha com edificações que possuía no Passo da Pátria à Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, sem sua autorização. Sendo assim, a esposa de Roselli solicitou que o juiz intimasse a diretoria da empresa construtora da dita estrada e todos os interessados nesse processo e nos outros de maio de 1916 para que a questão fosse solucionada.

Joaquim Câmara deferiu a solicitação de Sophia Roselli e publicou, juntamente com o referido edital, a petição feita em maio de 1916. Sophia protestava contra a venda de 6 terrenos, 4 deles localizados no patrimônio foreiro municipal, um deles nas “salinas n’Aldeia Velha”, e um terreno de marinha que seria cedido para a construção da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte. Nota-se como os Roselli não eram enfiteutas apenas de terrenos do patrimônio fundiário municipal.

Dois outros processos indicam que as querelas entre os Roselli não ficaram restritas a esse episódio. Em setembro de 1917 Sophia solicitou ajustes na pensão alimentícia em razão do desquite do casal (NATAL. Juizo Distrital da Comarca de Natal. Processo n.334, Petição de Alimentos, setembro 1917. Código 260, Caixa 10.).

Por meio de seu advogado, Sophia alegou que o valor que recebia não era suficiente, o que levou à filha do casal, Christina, a trabalhar para manter o sustento das duas (Idem). A ex-mulher de Roselli ressaltou que o mesmo recebia aproximadamente 3 contos de réis (3:000.000) de aluguéis de seus imóveis, o que justificaria o aumento da pensão. Para Angelo Roselli, o pedido de Sophia era infundado e visava “única e exclusivamente para satisfazer a ganancia de interesses inconfessáveis” (Idem). Angelo também alegou que o valor que arrecadava com a renda dos aluguéis de seus imóveis não atingia a quantia informada e que possuía várias obrigações com impostos e manutenções dos prédios em questão. Sophia conseguiu a ampliação do valor pago mensalmente por seu ex-marido. Contudo, apesar da vitória na sentença, observa-se no extenso processo que Angelo Roselli retardou o pagamento da quantia estabelecida, uma vez que os advogados de Sophia solicitaram a penhora de imóveis e de aluguéis, que foi negada pelo Judiciário (Idem.).

A análise conjunta desse processo o casal Roselli nos permite perceber ainda mais a forma como o aparato judiciário atuava para fortalecer esse modelo de relação homem-mulher. Trata-se de uma ação em que Sophia Roselli pede à justiça que arbitre em seu favor uma pensão alimentícia. Segundo a versão do advogado da suplicante, as condições ofertadas pelo seu cônjuge eram insuficientes para seu sustento, chegando inclusive sua filha Chistina a ter que trabalhar para garantir “as suas subsistências”. Consta da lista de despesas e receitas apresentadas pela defesa de Angelo Roselli que Sophia recebia mensalmente cem mil réis (100$000). Ressalte-se que, segundo o defensor da mesma, só com aluguéis residenciais, o coronel arrecadava mensalmente mais três contos de reis (3.000$000) (AGGRAVO DE PETIÇÃO, Natal, nº 334, de 1918).

Em novembro de 1917 o nome de Roselli foi novamente citado em declarações de protesto, agora como suplicante. Roselli protestou contra a venda efetuada por Salvador Cicco e sua esposa de um prédio de sua propriedade localizado na rua Doutor Barata, no bairro Ribeira.

Nesse processo, o autor alegava que necessitava vender alguns bens imóveis de propriedade do casal para se defender em uma ação de cobrança hipotecária movida contra o casal por Antonio Pipolo, seu cunhado. Como sua esposa havia se recusado a assinar a procuração que autorizava a venda, o coronel pediu ao Judiciário autorização para instituir procurador e advogado para se defender e realizar a venda dos imóveis independente da outorga da mesma, pois esta reconhecia que a dívida, de fato, havia sido contraída pelo casal junto a seu irmão e que havia sido dado como garantia a hipoteca de três imóveis. Mesmo tendo Sophia Roselli reconhecido que a dívida era “liquida e certa”, que foram dados imóveis em garantia e que o marido ficaria com “a má nóta de máu pagador”, Angelo Roselli teve seu pedido acolhido (APPELAÇÃO CIVEL, Natal, nº 111, de 1916). O juiz de primeira instância, Antônio Araújo, assim justificou sua decisão:

De forma clara e precisa da resposta de fl. 3, vê-se que a supplicada [Sophia] agiu sob a impressão de uma desavença com o seu marido, desavença confessada expressamente n´essa resposta e confirmada por factos a que mesma alude. Dada suas circunstancias ficam ás declarações a valor convicta dos bons propósitos que poderia ter a sua signataria, que – ainda mais e por motivo acceitavel – se manifestão interessada em não demandar a reação legal da hyppoteca, movida contra o casal. Taes declarações, reveladas, sobretudo, de um momento de insuflação ou falta de calma da parte da supplicada [Sophia] [termo incompreensível], não podem prevalecer diante da presuncção do supplicante [Angelo], que, administrador dos bens e gestor dos negócios do casal, alega a necessidade de deffender direitos n´uma acção que lhe movem (APPELAÇÃO CIVEL, Natal, nº 111, de 1916).

Na referida ação, Roselli destacou ser proprietário de um prédio localizado na rua Doutor Barata, na Ribeira, no qual “se acha presentemente funcionando o jornal ‘A Imprensa” (Idem), arrendado a Francisco Cascudo desde 1915 por 100.000 réis mensais, conforme consta na documentação anexa ao processo. Originalmente neste terreno existia uma “casa de telha e taipa arruinada” (Idem), em lote concedido em enfiteuse a Anna Maria Pipolo Roselli, que não tinha condições de melhorar a referida edificação que “ameaçava a vida pública e se achava fora do alinhamento” (Idem), mesmo diante da exigência da municipalidade. Angelo Roselli foi então procurado por Graciano Mello, negociante da capital, que se dispôs a arrendar o lote. Por esse contrato assinado em 1912, Angelo se comprometia a erguer um prédio comercial em um prazo de cinco meses. De acordo com o suplicante, quando do estabelecimento do contrato, Anna já estava casada com Salvador Cicco, que não fez protesto em relação ao contrato “por saber, naturalmente, que nenhum direito podia ter sobre o bem em questão” (Idem). Angelo ressaltou que gastou 9 contos de réis (9:000.000) com a edificação e que todas as coletas de impostos referentes ao prédio em questão, como décimas urbanas e taxas sanitárias, foram realizadas em seu nome.

Em abril de 1915, findo o contrato com Mello, foi realizado novo contrato de arrendamento do prédio em litígio, desta vez entre Roselli e Francisco Cascudo, que ali instalou a tipografia do seu periódico A Imprensa. Roselli, por meio de seu advogado, alegou que Salvador Cicco alienou em 1917 o referido prédio a Francisco Cascudo pela quantia de 6 contos de réis (6:000.000) sem ter direito sobre o mesmo, o que motivou a referida ação de manutenção de posse, já que Roselli alegou ter construído o prédio com recursos próprios. Ao longo do processo verificou-se que o terreno foi originalmente concedido em enfiteuse a Anna Roselli em 1905, conforme carta de aforamento anexa, mas de fato os impostos e taxas referentes ao prédio edificado constavam no nome de Angelo.

No andamento do processo Francisco Cascudo atuou em favor de Salvador Cicco, alegando que Anna Roselli era filha de Sophia Roselli com o seu primeiro esposo, João Pipolo, e que, após o falecimento de João e feito o inventário de partilha, o prédio em litígio passou a pertencer a Anna, tornando a ação de Angelo Roselli, “padrasto e sogro por afinidade” (Idem) dos réus, infundada. Ao longo do extenso processo de quase duas centenas de páginas, o representante legal de Roselli solicitou substituição do juiz, alegando que Joaquim Homem de Siqueira Cavalcante não tinha capacidade para julgar o litígio, já que era amigo íntimo de Salvador Cicco e de sua esposa, sendo estes padrinhos de seu filho, o que comprovaria os laços de proximidade entre o juiz e os réus em questão. Apesar do protesto, Homem de Siqueira se manteve à frente do processo. O advogado de Cicco e de sua esposa destacou que as ações de Roselli foram “clandestinas e até criminosas” (Idem) e resultados de “má fé”. Para eles, a questão em discussão era a posse, e o coronel Roselli não se constituía enfiteuta do terreno em que o prédio foi construído. Assim, os direitos sobre o prédio em litígio pertenceriam a Anna, que herdou o terreno aforado e, consequentemente, a casa de telha e taipa que ali existia e foi demolida propositalmente por Roselli.

Roselli alegou que Francisco Cascudo, apesar de depor em favor de Cicco e de sua esposa, tinha conhecimento que o prédio lhe pertencia, tendo participado, inclusive, como testemunha do contrato firmado entre ele e Graciano Mello para a construção de novo prédio no lugar em que existia a casa de telha e taipa já mencionada. Cascudo também pagava o aluguel do prédio ao autor da ação de manutenção de posse, mais um indício que reconhecia que o prédio não pertencia ao casal Cicco. Assim, o representante legal de Roselli alegou que o testemunho do idealizador do A Imprensa foi inverídico e que possivelmente o referido coronel estava sendo vítima “de alguma chatagem, ou tenha entrado neste negocio como Pilatos no credo afim de salvar situações duvidosas, ou então tenha abusado de sua confiança com urdiduras malévolas, propositalmente” (Idem) . De acordo com Alberto Roselli, filho e advogado de Angelo, o prédio foi construído:

as claras, em presença do dono do solo e sem impugnação de qualquer parte, e o novo prédio construído vale muito mais que o solo onde é situado. Neste caso, o terreno cede ao edifício, adquirindo o proprietário da nova construção o pleno direito da propriedade, conforme licção de Lacerda de Almeida, Lafayette, Lobão, Mello Freire, Borges [ilegível], etc, citados na contestação. Mesmo quando se sustente que o edifício cede inflexivelmente ao solo, e que se nao abra a este principio geral as excepções apontadas, mesmo assim tem o edificador o direito de reter em sua posse o edifício, ainda quando construído de má fé ou clandestinamente […]. O só facto de construir constitue um acto de posse sobre o solo ocupado; o construidor possue o terreno sobre o qual levantou o edifício. É claro, pois, que ainda que o coronel Angelo Roselli não tivesse adquirido a propriedade do imóvel por ele construído pelo que em direito se denomina accessão, si ele não tivesse esse direito firmado tão solenemente na liccção das partes acima apontadas, mesmo assim ele continuaria, alias, ele poderia recorrer ao remédio legal invocado para ser mantido na posse do imóvel questionado. […] O edificador tem o direito de reter em sua posse o edifício, ainda quando construído de má fé ou clandestinamente, e o consequente direito de se manter na posse […] (Idem).

Roselli destacou que a operação foi realizada rapidamente, em menos de 24 horas, e que iria fazer valer seus direitos (PROTESTO. A Republica, Natal, 07 nov. 1917.). O texto do protesto publicado no A Republica é breve, não fornecendo mais informações sobre as condições de venda da propriedade. Contudo, Roselli cumpriu sua promessa e procurou garantir seus direitos por meios judicias via ação de manutenção de posse contra Salvador Cicco, estabelecida em 1918 (NATAL. Juizo Distrital da Comarca de Natal. Manutenção de posse requerida por Angelo Roselli, 30 março 1918. Código 4423, Caixa D20.).

Verifica-se no texto transcrito que, para Alberto Roselli, a ação de manutenção de posse de seu pai era legítima, mesmo que a construção do prédio em disputa fosse clandestina. O representante legal de Angelo considerava a construção mais valiosa que o terreno herdado por Anna, defendendo o direito de acessão de seu cliente. Já o advogado de Salvador e Anna Maria, Thomaz Landim, continuou alegando que o terreno foi apropriado via herança e que o casal sempre esteve em dia com o pagamento anual dos foros do lote em que o prédio foi edificado. Alegou ainda que não se tratava de um bem patrimonial do casal, mas de um bem da família de João Pipolo.

Ao atender o pedido do coronel Angelo Roselli, o juízo deixou claro em sua sentença o quanto o Judiciário incorporou o modelo “assimétrico” de relação homem-mulher da sociedade burguesa. Independente das argumentações dos advogados das partes, ou mesmo de quem tinha a razão no processo em análise, fica claro que a Justiça encarava a mulher como um sujeito inferior, cujas decisões decorriam de uma imaturidade emocional e, ao contrário do homem, era incapaz de decidir apenas pelo racional. No entender do juiz, Sophia não se opunha as pretensões de seu cônjuge para proteger o patrimônio da família e/ou o nome do marido na praça, mas por causa das “desavenças”, do “momento de insuflação”, da “falta de calma” e por um “motivo aceitável”, proteger – por amor – os interesses do irmão. O reconhecimento dessa “assimetria” também se fez presente quando o juiz afirmou que as declarações feitas por Sophia não podem prevalecer sobre os interesses de Angelo, pois a esse sim, como administrador e gestor dos bens e negócios (papel social do homem), incumbe a tarefa de proteger o patrimônio da sociedade conjugal, ou seja, na argumentação do juiz, Sophia, com sua relutância em assinar a procuração, era quem pretendia dilapidá-lo.

Em relação à sentença, proferida em setembro de 1918, o juiz Homem de Siqueira foi contrário ao pedido de manutenção de posse de Angelo Roselli. Um dos principais fundamentos do magistrado foi o fato de Sophia Roselli, mulher do autor do processo, não ter autorizado (outorgado) a referida ação. Angelo recorreu a essa sentença, utilizando como argumento o fato de o referido juiz ter decretado o seu divórcio, o que, segundo a sua argumentação, dispensa o “consentimento da mulher para estar em juízo quando litiga sobre bem de raiz, conforme ensinam Pereira e Souza, Pimenta Bueno […] e outros mestres” (Idem). A apelação foi considerada improcedente por não possuir argumentos satisfatórios. Ao longo do processo, Sophia apresentou-se para “negar em absoluto o seu consentimento e para reclamar contra a propositura da acção” (Idem).

Esse extenso processo é revelador da pluralidade de práticas que envolvem a apropriação da terra em Natal no início do século XX, e de como essas práticas diferenciadas podiam entrar em conflito. Roselli construiu e alugou um prédio comercial em terreno foreiro herdado por sua enteada, prédio esse alienado pela referida foreira e seu esposo a Francisco Cascudo, o que motivou a ação de manutenção de posse. Os direitos da enfiteuta entravam em choque com o direito daquele que pagava as taxas referentes ao prédio construído no terreno foreiro de terceiros, ainda que próximos via laços de casamento (já que Roselli era padrasto da foreira). O processo também indica como nem sempre os imóveis existentes em terrenos aforados foram construídos pelos enfiteutas. As relações de apadrinhamento certamente também influenciavam o julgamento de ações como essas, o que teria motivado o protesto do representante legal de Roselli em relação à continuidade de Homem de Siqueira como juiz da ação proposta. Julgada a ação, o juiz optou por reconhecer o direito de propriedade de Anna e de seu esposo. Esse exemplo também pode indicar como sujeitos envolvidos em uma rede de parentela em processo de rompimento, uma vez que Angelo e Sophia estavam em processo de divórcio, modificam seus comportamentos em relação aos direitos proprietários. Durante anos, Salvador Cicco e Anna não se manifestaram sobre o prédio alugado por Rosselli a Cascudo. Certamente o divórcio de sua sogra teria motivado Cicco a alienar o terreno e, consequentemente, o prédio ali construído.

Seja nos “cantões”, nas esquinas ou em qualquer outro lugar onde se reunissem um grupo de “amigos”, as decisões do aparato judiciário, aqui também consideradas as ações policiais, de certo se faziam presentes, por vezes criticadas e em outras aplaudidas, mas sempre propaladas. Ou será que a ação de separação movida por Sophia Roselli nunca foi comentada nos “cantões”, como aquele que existiu na Praça da Alegria – atual Praça João Maria – e ficou conhecido por “Cantão da Gameleira”? Mais provável que sim.

SOCIABILIDADE

Mas, vamos mudar de direção e deixar, agora, as atividades comerciais de nossos personagens de lado. Afinal, eles também tinham direito a descanso e diversão, e em ambientes propícios a isso também os encontramos. É o caso do Natal-Club, sociedade fundada em julho de 1906 e que contava, nos seus quadros, com os seguintes nomes: Alberto Roselli, Manoel Dantas, José Pinto, coronel Valentim de Almeida, coronel Romualdo Galvão, Felizardo Toscano de Britto, Alexandre Reis, Antonio Gurgel do Amaral, Joaquim Torres, Francisco Cascudo e Mario Eugenio Lyra (Ver, entre outras, as seguintes edições: A REPUBLICA, Natal, 07 jun. 1909; 27 ago. 1909; 14 mar. 1910; 10 jan. 1911; 24 jul. 1913; 15 dez. 1913; 17 abr. 1916.). O clube realizava soirées dançantes, bailes de carnaval, festas de final de ano, conferências, entre outros importantes eventos que contavam com a participação de parte significativa da elite local.

Uma dos eventos de destaque do Club foi a festa da árvore, realizada no período natalino de 1909. Manoel Dantas, por meio de seu Braz Contente fará a propaganda da realização do Natal-Club em uma de suas Coisas da terra. Para o cronista, que não esquece também da conferência que seria realizada por Nestor Lima, o novo club da cidade inaugurava novas formas de festejar, fugindo dos espalhafatos típicos das festas de rua259. Na dita festa da árvore de Natal, compareceram todos os filhos do Dr. Manoel Dantas. Os coronéis Francisco Cascudo e Angelo Roselli, e o major Fortunato Aranha, fizeram também questão de participar, enviando valorosos presentes para as crianças (A REPUBLICA, Natal, 27 dez. 1909.).

Roselli intimou todos os capitães e sócios do clube a comparecerem nesse primeiro treino para a disputa com o Potyguar Foot Ball Club, que seria realizada no próximo domingo. O capitão do clube ainda destacou que o campeonato de futebol esse ano prometia ser muito animado, contando com uma linda estatueta em bronze destinada ao clube vencedor, doação dos proprietários da Casa Londres (VARIAS. A Republica, Natal, 07 fev. 1911.p.1.). Outros times de futebol também enfrentaram-se em jogos realizados na praça Pedro Velho (A REPUBLICA, Natal, 14 nov. 1916. p.2; PARTIDA de foot-ball. A Republica, Natal, 11 jul. 1918. p.1.).

Natal-Club: a escola solene literária de Natal: O clube, fundado em 22 de junho de 1906, serviu de abrigo a encontros dos homens de letras da cidade por mais de uma década. O clube foi instalado na Rua 21 de Março, número 8, no bairro da Cidade Alta, local onde funcionava a então sede do Club Carlos Gomes. Depois de uma discussão acerca do nome da instituição, a mais renomada instituição recreativa da cidade estabeleceu-se na sede emprestada pelo Club Carlos Gomes e era constituída pelos seguintes membros: Manoel Coelho, Antonio Adolpho, José Augusto, João Gualberto, João Soares, José Julio, Alberto Roselli, Joaquim Bezerra, Francisco Cândido, Anisio Avila, Mario Villar, Luiz Jabotá, Antonio Arthur, Theodorico Guilherme, Adalberto Amorim, Luiz Avila, João Cancio, Themistocles Costa, Oscar Rubens, Odorico Pelinca, José de Viveiros, José Pinto, Ezequiel Wanderley, Silvino Bezerra Netto, Milton Carrilho, Francisco Cruz, Odiolon Garcia Filho e Manoel Augusto Bezerra de Medeiros. O Natal-Club . Fonte: Foto de Manoel Dantas. MIRANDA, João Maurício Fernandes de. 380 Anos de História Foto-Gráfica da cidade de Natal – 1599/1979, Editora Universitária, UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. p. 37.

Falando em irmandade, lembramo-nos das festas religiosas organizadas pela Igreja Católica e que contaram também com a participação de alguns dos personagens que aqui estudamos. Em 1906, por exemplo, Felinto Elysio representou os comerciantes na festa da Virgem da Apresentação (A REPUBLICA, Natal, 30 ago. 1906). Para o mesmo ano, já haviam sido eleitos juízes da Festa de Nossa Senhora do Carmo os coronéis Francisco Cascudo, Francisco Rodrigues Vianna e Joaquim Manoel (Id., Natal, 20 jul. 1905.). E em tantas outras festas, encontramos esses nomes e os de João Avelino, Theodosio Paiva, entre outros. Mas comoção maior, em nome da fé, veremos mesmo no ano de 1911, momento em que se reúnem vários membros da elite local com o desejo de realizar importantes obras de reforma na Sé. Da comissão encarregada de viabilizar as obras faziam parte o padre José de Calazans Pinheiro, os coronéis Joaquim Manoel, Avelino Freire, Olympio Tavares, Romualdo Galvão, Angelo Roselli e Francisco Vianna, e os majores José Pinto, Felinto Manso e Joaquim Policiano Leite (Ver A REPUBLICA, Natal, 03 mar. 1911; 04 mar. 1911.), nomes que estiverem, em algum momento, ligados à Intendência da capital.

Reunir-se em nome de ações caridosas também não parecia ser algo tão raro entre os atores sobre os quais aqui nos debruçamos. Chamou-nos a atenção, entre tais ações, a festa realizada em prol dos variolosos indigentes de Natal, realizada no ano de 1905. Organizada pela senhora Maria Barcellos, uma das dirigentes da Associação Damas da Caridade, a festa contou com a importante participação de Francisco Cascudo, Angelo Roselli, Alberto Roselli, Romualdo Galvão, Avelino Alves Freire, Francisco Rodrigues Vianna, José Mariano Pinto, Theodosio Paiva, Paschoal Romano Sobrinho (fiscal da Intendência), Coronel Elias Souto, líder da oposição, e capitão Elino Souto, seu filho (A REPUBLICA, Natal, 01 ago. 1905). Por matéria do Diario do referido ano, vemos que também faziam parte do partido de oposição Angelo Roselli e Romualdo Galvão (DIARIO DO NATAL, Natal, 16 fev. 1905. Segundo Cascudo, Roselli imprimiu os 53 primeiros números do Diario de Elias Souto em sua tipografia (A REPUBLICA, Natal, 12 abr. 1929).), dirigentes da Associação Comercial.

Roselli ainda esteve ligado a Honorio Carrilho e Manoel Dantas para a formar uma sociedade de Assistência Judiciária, nos moldes de outras similares espalhadas por diversos estados brasileiros, tendo contado ainda com os serviços de outros ilustres nomes da sociedade natalense, tais como Odilon Filho, João Bigois e Ponciano Barbosa (“Varias”. A Republica, 23 ago. 1912, p.1).

No livro A maçonaria no Rio Grande do Norte , que conta a história do movimento maçônico no Estado, exaltando o poder da maçonaria na formação e manutenção da República no Rio Grande do Norte, nos ajuda a fazer um mapeamento mais preciso dos nomes ligados à Intendência que pertenceram a essa sociedade. Identificamos, pela obra e também por matérias n’A Republica, os seguintes: Angelo Roselli, Joaquim Soares Raposo da Camara, Joaquim Severino da Silva (foi também, na 21 de Março, secretário em 1901. Neste sentido, é interessante citar o telegrama que os autores da obra dizem ter sido enviado por Deodoro da Fonseca a Angelo Roselli, Venerável da 21 de Março quando da proclamação da República, no qual o presidente provisório do Brasil, também maçom, agradece Roselli pelo apoio dado pela maçonaria do Rio Grande do Norte ao movimento republicano. SILVA, Josué; ESTEVAM, João; FAGUNDES, Emygdio. A Maçonaria no Rio Grande do Norte, p. 37.

ARMAZÉNS NO PORTO

Na rua do comércio, por onde Pedro Velho seguiu com a comissão de recepção para sua casa, havia alguns dos principais armazéns de Natal, destinados a receber os grandes carregamentos de mercadorias que vinham dos outros pontos de embarque e desembarque existentes na Ribeira. As mercadorias que desembarcavam nos portos secundários, como o da Alfândega e o da Olynto Meira, vinham para estes armazéns, que eram da propriedade de importantes comerciantes locais, como Fabricio Pedrosa, Nicolais Bigois, Ângelo Roseli, ou firmas importantes como a Machado & Cia.

Em 1904 denúncias de saques no mercado público e às mercadorias que chegavam no cais da alfândega explodiam na imprensa, alertando o poder público para a ameaça dos flagelados. Enquanto a “ameaça” rondava o porto, uma denúncia atribuída à associação comercial de Natal foi feita ao engenheiro chefe do porto, Pereira Simões, que estaria utilizando a mão-de-obra dos flagelados para serviços particulares, neste caso, serviços na casa de veraneio do governador do estado. A matéria sobre esse uso indevido dos flagelados foi publicada no jornal carioca Correio da Manhã, que afirmou que a “denúncia” havia partido da Associação Comercial de Natal, presidida pelo comerciante Ângelo Roseli. A associação enviou ao governador um telegrama onde negava veementemente o envolvimento nas acusações. (DIFAMAÇÃO anonyma. A República, Natal, 1 de mar. de 1904.).

Os terrenos das “Rocas Baixa”, situados no bairro da Ribeira na região próxima ao porto, haviam sido cedidos, nos primeiros anos de gestão da comissão, aos operários dos melhoramentos do porto e aos flagelados da seca. Para fixar as dunas, foi recomendado o cultivo de plantas, provenientes da própria flora potiguar, como um meio para conter o seu avanço sobre o rio Potengi. Além de promover o cultivo de uma vegetação nas dunas, a comissão de melhoramentos também incentivou o estabelecimento de moradias na região, denominada de “Rocas Baixa”. Pequenos trapiches e moradias foram montados, abrigando trabalhadores envolvidos nas obras do porto além de indivíduos oriundos das camadas menos abastadas da cidade.

Em 1911, esses terrenos disponibilizados pela comissão, em função da necessidade desses serviços, foram concedidos pela intendência, no dia 2 de outubro desse ano, ao comerciante Ângelo Roseli, sob protestos do Engenheiro Fiscal da EFCRGN, a Intendência Municipal de Natal concede aforamentos de terrenos situados nas “Rocas de Baixo” a Joaquim Lopes Teixeira e Angelo Roselli. O engenheiro vê que esses aforamentos trariam problemas no futuro e faz recomendações ao Delegado Fiscal:

venho disto scientificar-vos e pedir que vos digneis mandar sustar os processos de aforamentos dos terrenos alludidos, como tambem de outro qualquer que fique comprehendido entre o “Refoles” e as “Rocas”, pois não parece razoavel que indo o Governo precisar de todos esses terrenos, os afore agora para desaproprial-os depois. (Correspondência de Luciano Martins Veras, Engenheiro Fiscal da EFCRGN, 1911, Arquivo Nacional, Ministério dos Transportes, Caixa 4B-417)

A Intendência de Natal protestaria contra essas construções, alegando que a concessão delas era de responsabilidade do município, e que a cessão dada a Angelo Roselli era válida, pois estava de acordo com esses preceitos.

Apesar dos protestos do Engenheiro Fiscal, a concessão será dada a Angelo Roselli em 1911, em terrenos onde já estavam se desenvolvendo as obras do parque ferroviário desde 7 de setembro de 1909.

No dia 1º de fevereiro de 1912, 155 moradores das Rocas publicariam um protesto no jornal A República, pois a área concedida ao comerciante Angelo Roselli abarcava também suas casas, e seriam diretamente prejudicados pela concessão. O comerciante enviaria correspondência logo em seguida para Comissão de Melhoramentos dos Portos, alegando que a área concedida era devoluta, sendo constituída apenas de “areia e capim, sem bem feitorias” e que as assinaturas dos moradores eram apócrifas.

Embora ficassem fora da área urbana, numa área sob domínio federal, essas casas já estavam regularizadas perante o município e pagavam os impostos devidos à municipalidade (ver figuras 06 e 07). A Intendência de Natal protestaria contra essas construções, alegando que a concessão delas era de responsabilidade do município, e que a cessão dada a Angelo Roselli era válida, pois estava de acordo com esses preceitos.

O aforamento concedido ao comerciante ocasionou a desapropriação dos antigos moradores, que emitiriam ao jornal A República, no dia 1 de fevereiro de 1912 um protesto referente à ação do órgão:

Os abaixo assinados tendo lido num edital d’A República datado de 15 de janeiro do corrente anno em que o coronel Ângelo Roseli, requer aforamento num terreno no lugar denominado Roca Montenegro limitando ao norte pelo morro à leste pela rua do Areial e oeste com terreno de Marinha, e parecendo que a concessão requerida é prejudicial em parte aos suplicantes onde tem edificadas diversas casas sendo que parte destas se acham requeridas e já foram publicadas, sem contestação vem protestar em tempo, afim de que não sejam prejudicados nos seus direitos de posse. (PROTESTO. A República, Natal, 1 de fev. de 1912.)

Na mesma página do periódico, Ângelo Roseli publicou na coluna solicitadas, uma resposta aos protestos. Segundo o comerciante, o protesto era inválido, pois a área requerida era devoluta, constituída de areia e capim, sem bem feitorias, não válidas as assinaturas dos moradores. Wagner do Nascimento, ao abordar essa questão, que também influencia as obras do parque ferroviário para estrada de ferro central do Rio Grande do Norte, paralisando-as, inclusive, anos depois, mostra a importância da influência política de Ângelo Roseli, que era amigo do intendente Joaquim Manuel Teixeira de Moura, cuja filha havia se casado com o filho do comerciante. (RODRIGUES, Wagner. op. cit., p. 134.)

A situação das áreas de instalação e de influência do complexo gerou diversas disputas fundiárias. Inicialmente relativas à venda de casas e terrenos à população que migrava à comunidade das Rocas, entre Angelo Roselli, que defendia a posse dos títulos de aforamento da área, e o capitão José da Penha, que vinha realizando essa prática (O CASO Rocas, A Republica, Natal, ano 25, n.28, 06 fev. 1913., p. 02). As casas alugadas na área estavam sendo vendidas, segundo Roselli, sem o seu consentimento e, portanto, sem título de propriedade e sem “direitos de transmissão”. Em virtude da sua resistência à venda das casas, foi feito um movimento contra Roselli – segundo ele, incitado pelo capitão Penha – no qual se pretendia até mesmo atentar contra a sua vida (O CASO Rocas, A Republica, Natal, ano 25, n.28, 06 fev. 1913, p. 02). As condições de posse dos títulos de aforamentos viriam a ter desdobramentos posteriores, como veremos à frente.

Infelizmente não foi possível acompanhar nas páginas do A Republica como se deu o desfecho desse protesto. Não foram encontradas notas que indicassem se de fato a solicitação de Roselli foi indeferida. Contudo, como foram encontradas apenas 3 cartas citando o nome de Angelo Roselli como foreiro de terras no bairro da Ribeira, todas elas expedidas antes de 1912 e referindo-se a terrenos de dimensões modestas, pode-se conjecturar que de fato a Intendência atendeu à solicitação dos 150 indivíduos que assinaram o protesto de 1912, possivelmente como uma medida para mostrar que a gestão se importava com a população, mesmo em uma disputa envolvendo um sujeito de destaque. Para evitar críticas recorrentes à administração e manterse no poder, os intendentes sabiam como agir, demonstrando de forma explícita preocupações com o bem-estar da população ainda que em várias outras ocasiões continuasse privilegiando aqueles que integravam a rede de parentela dominante.

Em 1914, Angelo Roselli pede a paralisação das obras da esplanada, sob alegação que estariam usando seu terreno, reivindicando indenizações do poder público. Em 12 de março de 1915 o Juiz Federal manda paralisar as obras do parque, atrasando o seu andamento em mais de 4 anos.

Mais uma vez aqui as relações pessoais entre os poderes locais influenciariam na trajetória dos investimentos públicos federais. Angelo Roselli era amigo do Intendente Municipal Joaquim Manoel Teixeira de Moura, cuja filha havia se casado com o filho do comerciante em 1908. (BRANCO SOBRINHO, 1959). Esse conflito traria à tona a indefinição da posse desses e de outros terrenos situados nas Rocas. Três instituições públicas – a Intendência Municipal, a Comissão de Melhoramentos do Porto e a Companhia Viação e Construções, responsável pela construção da ferrovia e do parque ferroviário – requeriam a responsabilidade da área, que teria agora uma importância a mais com a nova Estação e o parque ferroviário. A concessão dada a Angelo Roselli era uma tentativa de atuação da Intendência Municipal de Natal em um planejamento mais efetivo da cidade e também de agraciamento de indivíduos ligados ao poder local. Sendo responsável pelos editais de aforamento na cidade, a intendência entrará em conflito também com a Comissão de Melhoramentos do Porto de Natal, que teria cercado e se apossado dessa região desde 1893, quando nenhum terreno era aforado e estava até então sob guarda da Marinha.

Trecho do bairro das Rocas em Natal no final da década de 1910. Fonte: (CICCO, 1920).
BAIRRO DA RIBEIRA VISTA DO RIO POTENGI NO FIM DO SÉCULO XIX. Acervo de Tavares de Lyra Neto
Fotografia: Bruno Bougard (1904).

ALBERTO ROSSELI

Alberto Roselli (Natal, 17 de março de 1886 — ?, Rio de Janeiro, 23 de julho de 1966) foi um político brasileiro. Exerceu o mandato de deputado federal constituinte pelo Rio Grande do Norte em 1934. Seus pais eram Sofia Pipolo Roselli e o coronel Ângelo Roselli, ambos italianos.

Além de político (Vereador e Intendente Municipal de Natal), advogado e jornalista, Roselli também foi membro do Conselho Regional de Contabilista, foi membro da Associação Comercial de Natal, do Centro de Imprensa Católica, do Conselho Penitenciário, da Associação Comercial de Natal, da National Geographic Society de Washington, presidiu a Ordem dos Advogados do Rio Grande do Norte e integrou o conselho diretor da Ordem dos Advogados do Brasil. Representou no Brasil a Compagnie Générale Aéropostale.

Em 17/03/1916, casou-se com D. Anilda Vierira de Melo, com quem teve dois filhos – o advogado Alberto Roselli Filho, falecido em São Paulo, 29/08/1981, e Analdi Roselli, médica até hoje exercendo a profissão no Rio de Janeiro, na especialidade de Antatomia-Patológica. Alberto Roselli, enviuvou em 28/01/1919 e contraiu núpcias com D. Carmem Barreto, em 21/01/1923. Novamente enviuvou em 22/10/1924, não tendo filhos deste segundo casamento.

Era, assim como seu pai, nome influente na cidade, aparecendo em notas sobre solenidades e festas no Natal Clube (NATAL-Club. A Republica, Natal, 30 jun. 1909.), do qual era sócio (NATAL-Club. A Republica, Natal, 10 jan. 1910; ASSOCIAÇÕES. Natal-Club. A Republica, Natal, 17 jan. 1910.) e passou a ser diretor em 1912 (CONCERTOS e Bailes. A Republica, Natal, 19 jan. 1912.). A , conforme destacamos baixo.

FORMAÇÃO E DOCÊNCIA

Fez os primeiros estudos no Ateneu Norte-Rio-Grandense, de Natal, e no Colégio Spencer, de Recife, até 1898. Seguiu para a Suíça em 1900 e em julho de 1903 foi diplomado pela Academia Internacional de Comércio de Zurique, onde colou grau em ciências jurídicas e comerciais. De volta ao Brasil, fez no Ateneu Norte-Rio-Grandense os preparatórios. O seu pai teve em Natal um grande armazém de gêneros alimentícios e quando Alberto Roselli retornou da Suíça encarregou-se da parte comercial dos seus negócios.

Matriculou-se em 1907 na Faculdade de Direito de Recife, bacharelando-se em dezembro de 1911.Veio advogar em Natal, simultaneamente lecionando em 1914 inglês no Atheneu Norte-rio-grandense (era poliglota; além do português, falava inglês, alemão, francês, italiano e espanhol) e educação moral e cívica na Escola Normal de Natal.

Com a fundação, em 1919, da Escola de Comércio de Natal, seria professor de Moral e Cívica, na Escola Normal, e de Direito Comercial onde foi nomeado seu vice-diretor, tornando-se, em 1922, diretor da instituição. Trabalhou como redator-chefe do Diário de Natal, órgão católico, desde sua fundação, em 1924. Foi seu diretor de 1925 a 1929.

Atuou como representante consular da França no Rio Grande do Norte, de 1919 a 1933.

Alberto publicou diversas obras literárias, como Questão da estrela, Contrato por correspondência, Direito enfitêutico, Honorários médicos, Responsabilidade de estrada de ferro, Demissão de funcionários públicos, Terrenos das rocas e Comissão mercantil.

   Deixou várias monografias publicadas, colaborando em jornais e revistas de Natal, Rio de Janeiro e São Paulo, e foi por muitos anos, redator-secretário dos jornais “A República” e de “A Ordem” desta cidade. Também era sócio da “National Geopraphic”, de Washington.

Em 1º de março de 1859, o Atheneu foi instalado no edifício da rua Junqueira Ayres e permaneceu lá até 1954.
Em 1910, a Escola Normal foi transferida do prédio do Atheneu Norte-riograndense para o Grupo Escolar Augusto Severo, tendo em vista que este era considerado o modelo de ensino primário para o Estado do RN, permanecendo até 1937. Nesse mesmo ano, o curso da Escola Normal passou a ser ministrado no período de quatro anos.
Artigo do Jornal “A Ordem” sobre o 17º aniversário da Escola de Commercio de Natal (antigo Teatro Santa Cuz). No local está edificado uma loja de departamentos chamada Leader.
O Colégio Diocesano Santo Antônio (futuro Colégio Marista) funcionava ao lado da Igreja Santo Antônio (Igreja do Galo). O colégio foi fundado pelos padres da Diocese de Natal em 1903 e apresentava uma estrutura precária, principalmente em relação às instalações sanitárias. As carteiras eram rudimentares, os bancos muito
duros. Havia disciplina rígida e bons professores como Calazans Pinheiro, Padre João da Matta, Alberto Roselli e João Tibúrcio. Um dos pontos de encontro dos alunos daquela época era, a partir dos finais de tarde, a Praça D. Pedro II, que em 1925 passou a ser Praça João Tibúrcio.

O DONO DE NATAL

Roselli foi o intendente que mais aforou terras do patrimônio fundiário natalense em termos de área entre 1903 e 1919, possuindo 845.290,45 m² de terras. Um patrimônio fundiário equivalente a mais de 118 campos de futebol no padrão atual da FIFA e a mais de 6.037 habitações populares no padrão do início do século XX. Em outubro de 1912, quando já ocupava o cargo de secretário da Intendência, Roselli recebeu em enfiteuse um terreno de 223.440 m² no bairro Ribeira. De acordo com a resolução vigente, por um terreno dessas dimensões o enfiteuta deveria pagar 1:117.200 réis anuais, exatamente o valor registrado na carta de aforamento (NATAL. Prefeitura Municipal do Natal. Carta de aforamento n.525 R, de 29 de outubro de 1912. Natal: s.d), o que indica que nem sempre os membros da Intendência contrariavam as regras de cálculo de foro anual em todas as concessões. Enquanto secretário da municipalidade, Roselli recebia anualmente a quantia de 3:600.000 réis, um salário de 300.000 réis mensais (Conforme resolução orçamentária n.141, ver: A REPUBLICA, Natal, 11 jan. 1911.). Sendo assim, para ter acesso ao domínio útil do referido lote, se for levado em consideração apenas o pagamento do foro anual, Roselli comprometeria todo ano 4 meses do seu salário, o que demonstra como o então secretário não vivia apenas de seu ordenado, possuindo outras fontes de renda que possibilitassem o pagamento dos foros anuais de seus vários lotes. Outro indício de como até mesmo os cargos remunerados da Intendência de Natal, como o de fiscal e o de secretário, não eram atraentes apenas pela possibilidade de capital econômico, uma vez que o ordenado não era capaz de custear o pagamento nem ao menos dos foros de determinados lotes concedidos pela municipalidade. Esses cargos certamente atraiam muito mais pela possibilidade de inserção no jogo social e, consequentemente, na transação de variados tipos de capitais.

No dia 03 outubro de 1914, Roselli desmembrou o referido terreno em dois lotes, um deles de 43.943 m² foi alienado nesse mesmo dia a Epaminondas Brandão, indicando que o desmembramento ocorreu possivelmente para atender o desejo de alienação de Roselli953. Por esse terreno, Brandão pagou 500.000 réis. Trata-se de um valor simbólico se for levada em consideração a grande extensão do lote e a Resolução n.184 (Se a Resolução n.184 for considerada, Roselli deveria ter recebido pelo lote o valor de 13:969.479 réis, quantia aproximadamente 28 vezes superior à que foi paga por Brandão. Ver: A REPUBLICA, Natal, 01 dez. 1914.). Por um terreno dessas dimensões, deveria ser pago como foro anual o valor de 219.715 réis (Embora a carta registrasse a quantia de 21.971 réis, valor bem inferior ao que deveria ser pago com base na resolução vigente.). Sendo assim, a quantia paga pela alienação não corresponderia nem mesmo ao valor que Roselli deveria pagar à Intendência pelo domínio útil do terreno no período de três anos.

No A Republica algumas notas podem indicar que de fato Brandão circulava entre o grupo dos mais abastados e influentes da capital. Seu nome foi citado em transações imobiliárias, adquirindo propriedades e em notas sobre pagamento de impostos (VARIAS. A Republica, Natal, 20 out. 1910; VARIAS. A Republica, Natal, 22 nov. 1910; SOLICITADAS. A Republica, Natal, 24 nov. 1915.). Outro indício de sua posição de destaque é o fato de seu nome ser citado no jornal de maior circulação da cidade quando do nascimento ou formatura de seus filhos (Sua filha Maria, que nasceu em outubro de 1913; seus filhos Aldenize e Archimedes foram registrados em julho de 1926; e seu filho, Manoel Brandão, cursava o terceiro ano da Escola de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro em dezembro de 1927. Ver: VARIAS. A Republica, Natal, 03 out. 1913; REGISTRO civil. A Republica, Natal, 10 jul. 1926; VIDA social. A Republica, Natal, 30 dez. 1927.). A nota sobre um de seus filhos informa ainda que Epaminondas era major e comerciante958 na capital norte-rio-grandense (Nos anos de 1929 e 1930 Brandão foi citado como proprietário de um comércio de couro e peles).

Assim, apesar das informações escassas, pode-se conjecturar que Epaminondas nutria boas relações com Alberto Roselli e certamente a transação de 1914 não teve como único objetivo transferência de capital econômico, já que se tratava de uma grande área que foi alienada por um preço simbólico. A documentação ainda mencionou que em junho de 1939 o referido terreno foi envolvido em “litígio entre partes; os herdeiros de Angelo Roselli [pai de Alberto Roselli] e o Governo da União, tendo este, ganho de causa”. Diante desse fato, Epaminondas Brandão destacou que se julgava “desaforado do dito terreno”, desistindo de qualquer direito sobre o mesmo. Ver: NATAL. Prefeitura Municipal do Natal. Carta de aforamento n.565 R, de 03 de outubro de 1914. Natal: s.d.

A alienação também indica que Roselli, nesse período intendente de Natal, desrespeitava as regras estabelecidas pelas resoluções que ajudava a elaborar, autorizando a transação de um lote por um valor que prejudicaria a arrecadação municipal. Além disso, pelos dados da documentação constatou-se que o intendente também estava desrespeitando as regras de cálculo de foro anual. No mesmo dia em que desmembrou o terreno de mais de 200.000 m² na Ribeira e alienou parte dele a Epaminondas Brandão, a carta de aforamento concedendo um lote de 307.489 m² a Roselli foi expedida. A documentação registrou como foro anual o valor de 153.742 réis, quando, com base em resolução vigente, deveria ser pago 1:537.445 réis. Ver: NATAL. Prefeitura Municipal do Natal. Carta de aforamento n.566 R, de 03 de outubro de 1914. Natal: s.d.

Em setembro de 1912, Roselli recebeu em enfiteuse um terreno de 223.451 m² na área suburbana, desrespeitando as prerrogativas da Resolução n.92, uma vez que todos os limites do lote eram superiores a 300 m (NATAL. Prefeitura Municipal do Natal. Carta de aforamento n.181 S, de 29 de setembro de 1912. Natal: s.d). Em 1913 ele foi mencionado enquanto enfiteuta de um terreno de 90.000 m² também na região suburbana, indício de como aproveitava seu cargo na municipalidade para beneficiar-se da concessão do patrimônio fundiário em larga escala. Em dezembro de 1915 alienou o domínio útil do referido lote para Salvador Cicco, recebendo a quantia de 100.000 réis (NATAL. Prefeitura Municipal do Natal. Carta de aforamento n.234 S, de 11 de agosto de 1913. Natal: s.d.). Mais um exemplo que pode indicar uma transação típica de um mercado pessoal de terras.

Em outubro de 1910, Braz Janine transferiu um terreno na região suburbana de apenas 205,20 m² pelo valor de 2 contos de réis (2:000.000). Alexandre O’Grady transferiu o lote de 1.200 m² também nos subúrbios natalenses pela quantia de 200.000 réis em julho de 1912. Janine transferiu o domínio útil de uma terra de 2.010 m² por 2 contos de réis em 1910. Exemplos que indicam como a transação entre Salvador e Roselli foi inexpressiva do ponto de vista econômico, se consideradas outras alienações e a extensão do lote em questão. Ver: NATAL. Prefeitura Municipal do Natal. Carta de aforamento n.17 S, de 28 de novembro de 1904. Natal: s.d; NATAL. Prefeitura Municipal do Natal. Carta de aforamento n.29B S, de 18 de agost de 1905. Natal: s.d; NATAL. Prefeitura Municipal do Natal. Carta de aforamento n.18 S, de 28 de outubro de 1910. Natal: s.d.

lvador Cicco era um indivíduo bem relacionado seu nome foi citado em notas do A Republica que mencionavam os aniversariantes do dia, acompanhado dos adjetivos “jovem amigo” (VIDA Social. A Republica, Natal, 11 jan. 1912.). Sabe-se também que Cicco era comerciante na capital (VIDA Social. A Republica, Natal, 11 jan. 1912.), um dos proprietários da Casa Londres (COISAS da Terra. A Republica, Natal, 14 set. 1910.) e cunhado de Alberto Roselli (O jornal indicou que, em fevereiro de 1912, Salvador Cicco tinha estabelecido contrato de casamento com Anna Pipolo Roselli, ver: NOIVOS. A Republica, Natal, 06 fev. 1912. De fato, a partir do ano de 1913 Anna Roselli passou a ser mencionada nas notas sociais do A Republica como Anna Cicco, esposa “de nosso digno Salvador Cicco”, ver: VIDA Social. A Republica, Natal, 26 nov. 1913.).

Cicco também foi listado como empregado na repartição do Melhoramento do Porto (VIDA Social. A Republica, Natal, 11 jan. 1917.) e, na década de 1920, como funcionário da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte970. Dessa maneira, os vínculos entre Roselli e Cicco, advindos a partir do casamento de sua irmã Anna Roselli, certamente foram reafirmados com a referida transação, que não tinha como foco apenas lucro de capital econômico. A participação de Alberto Roselli no mercado de terras da capital anuncia mais um exemplo de como a enfiteuse não tinha como objetivo exclusivo engordar os cofres municipais. A receita da municipalidade era constantemente comprometida pelos funcionários municipais, certamente não apenas via participação nesse mercado de terras, mas também por ela constatas e que os ideais da propaganda republicana eram frequentemente negligenciados quando a participação no jogo social estava em questão.

Cidade Alta em 1904. Foto de Bruno Bougard.
.aça João Tibúrcio e Praça André de Albuquerque 1907

FOOT-BALL

Foi rica sua dedicação à vida esportiva potiguar. Alberto Roselli, educado na Suíça onde fizera um curso de Comércio voltara para Natal desembarcou em setembro de 1903. Foi a primeira vez que noticiou haver visto um jogo para adultos constando de bater numa bola de couro, cheia de ar numa série de ponta-pés dirigidos em certas direções. Alberto Roselli fizera um pouco de “Sport” na Suíça e os natalenses amigos do Coronel Angelo Roselli abriam a boca num pasmo ao saber do “Foot-Ball” e dos desportos de inverno. Trouxe consigo uma maior organização à prática deste esporte no nosso estado, tendo atuado inclusive como árbitro em várias partidas. Este tipo de organização (regras do futebol) amadora duraria até 1915, quando foram fundados os primeiros clubes efetivamente organizados no estado: o ABC, o América e o Alecrim, todos na cidade de Natal.

Foi vice-presidente do Sport Clube Natalense e membro efetivo do Tribunal Consultivo da Sociedade Beneficente Diocesana (VARIAS. A Republica, Natal, 06 set. 1913).

Qual foi o primeiro lugar em natal onde se jogou o FOOT-BALL ou em boa verdade bateu-se bola? Foi na Praça André de Albuquerque, que não tinha ainda ajardinado e a conheciam como PRAÇA DA MATRIZ. Ali, de tarde, nestas tardes de verão de novembro-dezembro de 1903, a bola sacudia-se na vertical atrevida, alta e garbosa. Tanto mais alta, melhor e maior sucesso. Antiga Rua Grande, atual Praça André de Albuquerque (1908) Foto: Bruno Bougard (Acervo IHG/RN)

É por volta de 1910 que a prática do futebol começou a ser efetivada em Natal, com a definição de espaços específicos para a realização das partidas. Um dos primeiros locais dessa prática foi a Praça Pedro Velho no bairro da Cidade Nova. Em 11 de maio do mesmo ano, foi notificado que, sob a direção dos sr. Nizario Gurgel e Alberto Roselli, haviam começado “os serviços de aperfeiçoamento do ground da praça ‘Pedro Velho’ assentamentos de goals, etc”. O campo estava sendo organizado para a realização de um torneio em homenagem ao dia 13 de Maio, segundo o jornal “A República”, na parte da manhã seria realizado um ensaio, o treinamento, e na parte da tarde haveria a realização do match, o jogo. Segundo o articulista o troneio do dia 13 de maio ia “despertando grande interesse dos amantes do sport, esse torneio dos jovens footballers” (Notas esportivas. A República 11 de maio de 1910).

No dia 18 de maio de 1910 é fundado o Natal Foot-ball Club. A criação do time futebolístico foi feita na residência de Alberto Roselli e na ocasião contava com mais de vinte sócios. O Natal Foot-ball Club vinha a somar-se com a agremiação já existente, o Potyguar Foot-ball Club, no intuito de promover lazer e entretenimento para os amantes do futebol e, claro, permitir uma boa saúde aos praticantes do esporte.

Em 07 de fevereiro de 1911, Alberto Roselli, professor de inglês do Atheneu, filho do coronel e cônsul argentino Angelo Roselli, membro da Intendência de Natal entre 1914 e 1916, fotógrafo e capitão do Natal Foot Ball Club, divulgou que naquele dia haveria “training match” do Natal Foot Ball Club na praça Pedro Velho.(A REPUBLICA, Natal, 26 dez. 1905; A REPUBLICA, Natal, 07 fev. 1911. Para mais informações sobre Alberto Roselli ver ainda: CASCUDO, Luís da Câmara. O livro das velhas figuras. Natal: IHGRN, 1974. 3v. p.80.).

Com a criação do Natal Foot-ball Club, tornou-se comum a realização de treinos, de torneios e de competições semanais entre os dois times existentes, atividades essas que eram bastante concorridas, havendo sempre a presença de um atento público no campo de futebol da Praça Pedro Velho. É importante notificar o fato de que os dois times de futebol usavam o mesmo lugar, a Praça Pedro Velho, tanto para as competições quanto para as atividades de treinamento, como nos mostra o jornal “A República”, de 09 de agosto de 1910, em uma pequena matéria cujo título era “notas esportivas”.

Os treinamentos e jogos eram realizados especialmente na parte da manhã, logo cedo, ou nos finais de tarde, quando o clima estava mais ameno, tendo as referidas atividades sempre um público cativo, que acompanhava atentamente o desempenho dos jogadores. Em dias de chuva, os treinamentos ou competições eram adiados.

Aspecto da Praça Pedro Velho quando de sua criação em 1901. Foto: Manoel Dantas. O descampado era utilizado para a realização das partidas de futebol.
Praça Pedro Velho (início do século XX) fonte: CD – Natal 400 anos (data e autor não identificados).

Integrou associações civis, religiosas e esportivas. Nesta última área, particularmente, sua atuação foi das mais intensas, inclusive em virtude de ser o único natalense, naquela época conhecedor das regras oficiais do novo esporte que apareceu na Inglaterra – o futebol, quando estudava na Suíça, onde ali já se praticava o futebol. Assim foi o primeiro árbitro de futebol de Natal (1917) em partida realizada no terreno onde seria construída a Praça Pio X, na avenida Mal. Deodoro da Fonseca, onde hoje se ergue o prédio da nova Catedral. A disputa da “Taça” foi uma promoção dos desportistas José Potiguar Pinheiro e Cícero Aranha. Depois foram aparecendo outros juízes em Natal, como Mario Severo, Julio Meira e Sá, Loris Cordovil e Sergio Severo.

No ano seguinte, juntamente com o comte. Antonio Monteiro Chaves, Henrique Castriciano, Cícero Aranha, Luiz Potiguar Fernandes e João Café Filho, o desportista Alberto Roselli, fundou o CSN – Centro Sportivo Natalense, este que seria com o ABC Foot-Ball Clube e América Foot-Ball, ambos datando de 1915, o terceiro clube de futebol oficial da cidade, o terceiro clube do futebol oficial da cidade, que deu oportunidade para ser fundada a LTDRN – Liga de Desportos Terrestres/RN, em 04/08/1918, cujas leis vigentes só permitiam a entidade ser fundada, com no mínimo, três clubes (outros clubes já existiam, porém, se consistência), para dirigir os destinos do novo esporte em nossa terra.

O comte. Monteiro Chaves foi eleito o primeiro Presidente da Liga, tendo como Vice-Presidente, o Dr. Hemeterio Fernandes, Juiz de Direito de Ceará Mirim (RN), auxiliados por Alberto Roselli, o orador, e Cícero Aranha, o secretário.

Possuidor de amplo terreno na esplanada Silva Jardim, na Ribeira, Alberto Roseli, cedeu aquela área, para treinamento do Centro Sportivo Natalense, cujos atletas eram formados pelas guarnições dos encouraçados de Guerra que permaneciam estacionados em Natal para patrulhamento de nossa costa marítima, no período da “1ª Grande Guerra Mundial”. O centro foi o campeão oficial da cidade da LTDRN, em 1921.

Daí por diante, Alberto Roselli, foi um eterno colaborador para o desenvolvimento não só para o futebol, como também o remo e outros desportos que foram surgindo em Natal.

Ainda Jayme dos G. Wanderley, Silvio Dantas, Julio Meira e outros, Alberto Roselli, fundou também o Natal Foot-Ball Clube, o primeiro com esta denominação em Natal.

PIONEIRISMO NA AVIAÇÃO

Para o historiador Luís da Câmara Cascudo, o capitão Luís Tavares Guerreiro (1881-1958), comandante do 29º Batalhão de Caçadores do Exército instalado em Natal, foi o “padrinho” de Parnamirim. A história registra a presença de pelo menos dois outros nomes decisivos para o surgimento do campo de aviação que daria origem ao município.

Como conhecesse muito bem os arredores de Natal e também o interior nas suas mudanças profissionais, Alberto Roselli, lembrou-se da área de Parnamirim que foi logo aprovada pelos franceses. Como esta área pertencesse a Manoel Machado, vitorioso comerciante português e há anos estabelecido em Natal, foram com ele falar sobre as condições de compra. 

“Aspecto fotográfico apanhado após o banquete oferecido pela colônia italiana, aos tripulantes do avião “Jaú”. Da direita para esquerda, sentados: Guilherme Lettiere, João Negrão, Newton Braga, Dra. Bertha Lutz, João Ribeiro de Barros, Vasco Cinquini, Amadeu Grande, Miguel Barra, Luís Morelli, José Farache, Tomaz Babine, A. Tozelle, Carlos Farache, Antonio Capitelli e Alberto Roselli.” Fotógrafo João Alves de Melo. Fonte: Asas Sobre Natal – Pioneiros da Aviação no Rio Grande do Norte – João Alves de Melo.” ( Texto e foto p&b acervo de Natal não há tal)

Em carta ao historiador Luís da Câmara Cascudo (publicada no jornal A República de 03 de outubro de1943), é o próprio coronel Luís Tavares quem conta como foi procurado por Alberto Roselli e pelo comerciante Manuel Machado. Os dois queriam que ele guiasse “o piloto francês Paul Vachet na procura de um terreno onde a Aéropostale instalaria o campo de pouso para ser a cabeça da linha transatlântica na América do Sul”. Manuel Machado e Alberto Roselli sabiam que o coronel Tavares era um bom conhecedor dos tabuleiros ao sul de Natal, onde costumava caçar e levar a tropa para exercícios militares, e podem até ter sugerido a planície de Parnamirim, parte das terras do Engenho Pitimbu, como o melhor local a ser mostrado ao aviador francês.

“Alberto Roselli tornou-se Agente Consular da França, em Natal, e foi pioneiro na aquisição de um terreno para pouso de aviões internacionais quando, em 1927-28 aviadores franceses da então Compagnie Generale Aeropostale – atual Air France – sobrevoaram Natal, em um Breguet, aterrissaram na Praia da Redinha (…). Os franceses eram Piron, piloto, Deley, navegador, e Pichard, mecânico”, comenta Luiz G. M. Bezerra. Alberto Roselli intermediaria a obtenção de uma área de 1.000m2 doada pelo comerciante português Manoel Machado (1872-1934), em Parnamirim, e seria Tesoureiro da agência local de referida companhia, instalada na Avenida Tavares de Lira, bairro da Ribeira. Com a dissolução da Câmara dos Deputados, foi nomeado membro da Propriedade Industrial e, pouco depois, Procurador do então Departamento do Café, onde permaneceu até aposentar-se.

Esta foto, reproduzida do livro de Protásio de Melo (ob.cit.), é considerada como o único registro fotográfico da “fundação do campo de Parnamirim”, mas a data atribuída (1929)parece indicar que se trata, provavelmente, da inauguração das melhorias feitas com a concorrência do governo do Estado. Entre as autoridades presentes, está o governador José Augusto Bezerra de Medeiros (centro),o capitão Luís Tavares Guerreiro, Dr. Alberto Roselli e o dr. Décio Fonseca.
“Os aviadores Le Brix e Costes no Campo de Parnamirim em companhia do Dr. Alberto Roselli, Cônsul Francês, Capitão Tenente Nereu Correia, e auxiliares da Companhia da Latécoére.” Fotógrafo João Alves de Melo. Reproduzida do livro
de Paulo Pinheiro de Viveiros (ob. cit.)

Já setuagenário Paul Vachet escreveu um livro no qual narra a epopeia dele e de outros pioneiros da aviação civil, incluindo os voos ao longo do litoral brasileiro para escolher as áreas onde a companhia pudesse instalar os campos de pouso (Avant les jets (Antes dos jatos) – edição da Libraire Hachett, Paris/1964). Nas páginas 159 e 160 está a descrição da descoberta que lançaria Parnamirim na história da aviação civil e militar.

“De Maceió – narra Vachet – decidi partir para um reconhecimento de Natal. Não possuía a menor informação relativa à topografia do lugar. Na Carta Marítima que continuava a utilizar, figurava, contudo, uma pequena praia, ao Norte da foz do rio Potengi (trata-se da praia da Redinha ), do lado oposto ao em que está situada a cidade. Ignorando, porém, se as condições dessa praia me permitiriam aterrissar, abasteci meu avião de modo suficiente, o que me dava o raio de ação necessário para atingir Natal e, se preciso, voltar e descer no Recife, situado a 280 quilômetros mais ao sul.

Em minha companhia, estavam, como sempre, Deley e Fayard. Este vôo foi efetuado a 17 de julho de 1927: esta data é portanto, sob o ponto de vista aeronáutico, o do descobrimento de Natal que não tinha, até então, recebido nenhum avião e deveria ser a nossa cabeça de linha transatlântica, na América do Sul, até o término do Armistício de 1940 (…).

Em Natal, aterrissei, portanto, na praia indicada no mapa, que se achava completamente deserta, no momento de nossa chegada. Mas, logo, vindos da cidade que sobrevoara longamente, uma multidão considerável de embarcações disponíveis no porto partiu em nossa direção, conduzindo muita gente. Entre as autoridades acorridas, se encontravam o Prefeito e o agente consular da França, monsieur A. Roselli que nos devia prestar grandes serviços; ele foi nomeado representante da Companhia, em Natal, e ia ficar na função por longos anos. Era nos necessário encontrar, nos arredores da cidade, um local conveniente para nele construir o aeródromo.

Nossas buscas permaneceram infrutíferas, durante vários dias, até que o acaso nos colocou em presença de um Oficial do Regimento estacionado em Natal, monsieur Guerreiro, que era um grande caçador. Ele nos apontou, a uns 20 quilômetros da cidade, uma imensa planície, aparentemente lisa, cujo solo arenoso e duro era coberto por uma pequena vegetação, não maior do que a altura de um homem. Ele se ofereceu para conduzir-nos até lá. O terreno era apenas acessível pela Estrada de Ferro da Companhia Great-Western, que liga, entre outras cidades, Natal a Recife. Organizamos, então, uma pequena expedição para atingir essa planície, margeando os trilhos da linha férrea.

Tendo considerado a planície conveniente para a construção de um aeródromo importante, procurei o proprietário do terreno. Tratava-se de um português, grande comerciante em Natal, monsieur Machado, que possuía uma imensa propriedade, na qual estava situado o terreno. Com uma surpreendente visão do futuro, dando se conta imediatamente da valorização do restante da sua propriedade, pela construção de um aeródromo na parte que nos convinha, ele fez lavrar imediatamente uma escritura de doação do imóvel (…).”

Os pilotos franceses Dieudonné Costes e Joseph Le Brix, os primeiros a pousar em um avião em Parnamirim, às 23h45 do dia 14 de outubro de 1927. Foto cedida por Leonardo Barata, do Museu da Aviação e da II Guerra.

Manoel Machado, prontamente, doou uma área de 1 Km² por eles pretendida. Logo depois iniviaram as obras de preparação do campo e dependências, núcleo inicial do atual campo de Parnamirim. Simultaneamente a COMPAGNIE GENERALE AEROPOSTALE abriu agência na Avenida Tavares de Lira, no bairro da Ribeira. Alberto Roselli foi nomeado Tesoureiro da mesma. Evidentemente, que com a eleição para Deputado Federal afastou-se do cargo.

NOVA CATEDRAL

Desde o final do século XIX, muitos vigários sonharam construir essa igreja dentre eles o Padre João Maria. Ao longo dos anos, diversas vezes foi lançada a pedra fundamental, feitos projetos de arquitetura e até mesmo, levantadas paredes, depois demolidas.

O primeiro projeto de equipamento urbano a ser criado em Cidade Nova na década de 1920 que se tem notícia no jornal A Republica é o da construção de uma nova catedral. Segundo Itamar de Souza, a nova catedral de Natal contou com várias iniciativas para ser construída, levando 94 anos nesse processo. A primeira iniciativa partiu do padre João Maria, por volta de 1894. O terreno para a construção da nova catedral foi doado por Sofia Roselli, que tinha comprado uma casa de farinha erguida na região que viria integrar a futura avenida Deodoro da Fonseca em Cidade Nova (SOUZA, Itamar de. Nova História de Natal. Op. cit., p.489.).

O edital para o levantamento da planta foi publicado também em Recife, em São Paulo e no Rio de Janeiro, demonstrando como os membros da Comissão Central, formada por nomes influentes da sociedade local como o então governador Antônio Souza e o chefe do Partido Republicano Federal do estado, Ferreira Chaves, tinham a preocupação de contratar um profissional bem capacitado para construir a planta do novo templo católico. Participavam também da Comissão Central outros membros influentes na sociedade natalense, tais como: Henrique Castriciano, Augusto Leopoldo, coronel Pedro Soares, Alberto Roselli, major José Pinto, entre vários outros, ver: A NOVA Cathedral. A Republica, Natal, 24 dez. 1921. p.2.

Dessa maneira, o primeiro equipamento urbano de Cidade Nova anunciado no jornal A Republica na década de 1920 não foi concretizado nesse período, não sendo possível, portanto, analisar as práticas dos habitantes de Cidade Nova na nova matriz da capital na terceira década do século XX. Contudo, apesar de não ser possível observar os usos desse equipamento urbano que não chegou a ser concretizado, é importante mencionálo, já que esse projeto, embora existente desde 1894, foi retomado e contou com o apoio da iniciativa estadual e local somente na década de 1920. Como demonstrado, as matérias mencionavam a necessidade de a capital possuir um novo templo capaz de corresponder à nova fase de progresso que estava sendo vivenciada. O progresso da cidade não seria apenas demonstrado por meio de espaços profanos como clubes e praças, devendo também ser concretizado no maior símbolo religioso da cidade, a sua catedral.

Desde o final do século XIX, muitos vigários sonharam construir essa igreja dentre eles o Padre João Maria. Ao longo dos anos, diversas vezes foi lançada a pedra fundamental, feitos projetos de arquitetura e até mesmo, levantadas paredes, depois demolidas. Em 1965, Dom Nivaldo Monte retomou o plano, que teve lançada a sua pedra fundamental em1973. A partir de então, toda a comunidade católica foi mobilizada até que, em 21 de novembro de1988, no dia consagrado à grande homenageada, foi entregue à cidade do Natal, a sua Catedral consagrada à Nossa Senhora da Apresentação, a sua padroeira. O projeto da Nova Catedral foi elaborado pelo arquiteto potiguar Marcone Grevy. Em novembro de 2008, a Fundação José Augusto, anunciou o Tombamento desta edificação. Lugar de oração e Patrimônio Histórico da cidade do padre João Maria.

INTENDÊNCIA

Alberto trabalhou no órgão oficial do governo do Rio Grande do Norte, como redator e secretário do A República, entre os anos de 1912 e 1919 (VARIAS. A Republica, Natal, 23 jul. 1913.). Ocupou a Intendência de Natal como secretário entre 1912 e 1913 e como intendente entre 1914 e 1916.

Em 1912, foi nomeado para assumir o cargo de secretário da prefeitura de Natal, por conta de sua ligação com o Partido Republicano Federal. Foi eleito vereador do Conselho Municipal, onde também assumiu a posição de vice-presidente até o fim de seu mandato, por isso renunciou ao cargo de secretário em 1914.

Ainda no ano de 1913 é realizada a eleição para a nova Intendência, que governaria a cidade entre os anos de 1914 e 1916. Na composição do Conselho, poucas novidades: à exceção do Dr. Alberto Roselli, filho do coronel Angelo Roselli, todos carregavam uma patente antes de seus nomes. O presidente da Intendência, eleito pelos seus pares, foi o coronel Romualdo Galvão, figura prestigiada no campo da política e do comércio. A outra novidade esteve na criação de três comissões para a organização dos trabalhos da Intendência: a de Fazenda e Comércio, a de Obras Públicas e a de Legislação, Instrução e Higiene. Trata-se de um esboço do que será executado por Omar O’Grady, com o Regulamento Geral dos Departamentos da Intendência, no ano de 1925, como vimos no capítulo anterior.

Assume mais um coronel da Guarda Nacional, respeitado comerciante local, Romualdo Lopes Galvão (1853-1927), para presidir a Intendência entre os anos de 1914-1916. Como outros aqui já citados, o coronel Romualdo Galvão também fez parte da Associação Comercial do Estado. Em 1904, nas notas que tratam dessa sociedade, o seu nome vem acompanhado dos de Avelino Freire e Angelo Roselli, ocupando o coronel Galvão o cargo de Diretor.

O que distinguia Romualdo Galvão de outros personagens que chegaram à presidência da Intendência da capital era o seu passado na oposição. O dito coronel chegou a pertencer ao Partido Republicano Constitucionalista, chefiado à época por Elias Souto, como vemos em ata desse partido, publicada no jornal Diario do Natal (DIARIO DO NATAL, Natal, 16 fev. 1905). Nessa mesma ata podem ser vistos os nomes de outros personagens que chegaram a pertencer à Intendência e compuseram, no início do regime republicano, as fileiras do Partido Republicano Federal no Rio Grande do Norte: Pedro Avelino, Angelo Roselli, Alexandre James O’Grady, Augusto Leite e Antonio Joaquim Carvalho. São conhecidas as causas das mudanças de rumo de alguns desses personagens, como é o caso de Alexandre O’Grady, que, após pertencer à Intendência, entre 1896 e 1898, não ocupou mais cargos políticos, descontente que ficou com os descaminhos da república no Rio Grande do Norte, sob o comando de Pedro Velho (Ver CASCUDO, Luís da Câmara. O livro das velhas figuras. v. 3, p. 90. O caso de Pedro Avelino será apresentado no capítulo posterior.).

E, nesse mesmo período, a imprensa do Estado e da capital pleiteiam também um lugar no Conselho de Intendência municipal, lançando o nome do Dr. Alberto Roselli, redator-secretário d’A Republica, para ser seu representante nas eleições de outubro de 1913. Alberto Roselli, filho de um ex-intendente, Angelo Roselli, sai-se vencedor. Diante desse quadro, não obstante falarmos aqui de pessoas ligadas a associações subvencionadas pelas esferas de poder instituídas, é possível dizer que nesses meados da década de 1910 inicia-se uma abertura política que será confirmada na década seguinte, com a criação, na referida instituição, de uma vaga destinada a um representante das classes desportistas, uma para o dos contribuintes da décima urbana e outra para o dos operários da cidade, as “vagas destinadas à minoria (Ver, entre outras edições, A REPUBLICA, Natal, 06 set. 1925)”, como será dito, que abrem espaço na política local a grupos sociais que, até então, estavam à margem do processo eleitoral.

Acreditamos que a Liga de Defesa Nacional e o evento da Primeira Guerra Mundial tiveram influência para que a presença de militares fosse tão significativa na Intendência Municipal de Natal no período que estudamos. O conselho eleito em 1913, na iminência da Guerra, para governar a cidade entre 1914 e 1916 era formado quase que exclusivamente por militares, o que corrobora esta nossa afirmação. Era este Conselho composto pelo Coronel Romualdo Galvão, Major José Mariano Pinto, Coronel Felinto Elizio Manso Maciel, Coronel Avelino Alves Freire, o Major Antonio Gurgel do Amaral e o Dr. Alberto Roselli – filho do ex-intendente, Coronel Angelo Roselli, único “intruso” entre os homens de patente. Mas, tanto a Liga, quanto a Primeira Guerra, representam apenas uma pequena fatia de tempo em relação ao período de 32 anos em que esses homens estiveram à frente do Conselho.

Participou, em fevereiro de 1933, da fundação do Partido Popular (PP) do Rio Grande do Norte, sob a liderança de José Augusto Bezerra de Medeiros (presidente do estado de janeiro de 1924 a janeiro de 1928), para suceder ao antigo PRF e fazer oposição ao interventor Bertino Dutra, que governou o estado do Paraná durante um ano a partir de junho de 1932. Na época, o Partido Popular do Rio Grande do Norte era liderado por José Augusto Bezerra de Medeiros, que foi presidente do estado de 1924 a 1928.

Na política, além dos cargos já assinalados, elegeu-se, em maio de 1933, Deputado Federal à Assembleia Nacional Constituinte (1933- 1934) pelo Rio Grande do Norte, na legenda do PP. Assumiu o mandato em novembro do mesmo ano, participando dos trabalhos constituintes. Durante a legislatura representou o Rio Grande do Norte na Comissão Constitucional, que ficou conhecida como Comissão dos 26 e que teve a incumbência de estudar o anteprojeto de Constituição e apresentar um substitutivo. O anteprojeto de Constituição foi assinado por toda a comissão, o que a maioria fez com restrições. Alberto Roselli foi um dos deputados que apresentaram votos separadamente.

O mandato de Roselli foi prorrogado até o mês de maio de 1935, por conta da promulgação da nova Constituição e da eleição à presidência da República em 1934. Foi eleito deputado federal pelo Paraná (1935-38), junto ao Partido Popular. Permaneceu na Câmara até novembro de 1937, época em que o Estado Novo foi instaurado, suprimindo todos os órgãos legislativos do país.

Algum tempo após o fechamento da Câmara foi nomeado membro da Propriedade Industrial e pouco depois Procurador do então Departamento do Café, onde permaneceu até os 70 anos, quando aposentou-se.

Nos momentos de agitações políticas, sempre altivo e digno na reivindicação de seus direitos, Alberto Roselli, propungava pela reintegração dos princípios da moralidade administrativa e pela implantação de um regime da liberdade e de justiça. Depois abriu escritório de advocacia no Rio de Janeiro, a rua 1º de março, nº 6, juntamente com José Augusto Bezerra de Medeiros, que o ajudara a fundar o Partido Popular pelo qual se elegera, onde esteve até o seu falecimento.

Alberto Roselli.
O elegante palacete da Intendência Natal, situado no angulo da rua da Conceição e rua Ulysses Caldas, no centro da Capital Potiguar é a sede do poder executivo do referido município (prefeitura municipal é redundância e deve ser evitado) tendo sido construído em 1922 em substituição ao antigo prédio da intendência para comemorar o Centenário da Independência do Brasil.A sede do poder executivo passa a ser denominada prefeitura a a partir de 1932.

SELOS

Desde jovem colecionava selos e chegou a ter coleção do Brasil praticamente completa, até a década/60, e foram seus colegas filatelistas em Natal, o médico Aderbal de Figueiredo e o Mons. João da Mata Paiva e o industrial Abel Viana.

Cartão Postal Ganhador Africano. Ed. Lindemann, Bahia. Circulado em 1907. Com carimbo de Alberto Roselli, Natal, RN.
BILHETE POSTAL `Rio Grande do Norte – Natal – rua Vigário Bartholomeu.

O LARGO DAS CINCO BOCAS

Popularmente conhecida como “cinco bocas”, o cruzamento entre as ruas Gustavo Adolfo, Ângelo Roselli, Uruassu e Adauto Câmara, esta desmembrada em dois logradouros, parece confusa para quem vê de longe – entretanto, para quem mora e trafega para o local, as ruas facilitaram o acesso às vias mais movimentadas da região, como a avenida Alexandrino de Alencar e Jaguarari.

“Estas ruas existiam, mas eram fechadas. Aqui passava um riacho vindo do Maristela, que descia até o Potengi. Mas aterraram e fizeram o calçamento em 1997”, relembra o comerciante Luiz Antônio Farias, 55 anos, dono do Mercadinho do Toinho, morador há 46 anos da rua Ângelo Roseli.

Barro Vermelho é um dos bairros mais recentes de Natal, que só ganhou contornos oficiais 1993, após um desmembramento de Lagoa Seca. Historiadores potiguares mostram, porém, que o topônimo já designava a área desde 1797, conforme publica Olavo de Medeiros Filho, em 1991, no livro Terra Natalense.

No Barro Vermelho, a urbanização do cruzamento entre as cinco ruas Gustavo Adolfo, Ângelo Roselli, Uruassu e Adauto Câmara, esta desmembrada em dois logradouros, é recente, data de 1997

O surgimento de moradias data de meados da década de 1980, quando a região ainda era formada por sítios ou vacarias. Originalmente, segundo os moradores, a região possuía apenas três vias: as ruas Gustavo Adolfo, Ângelo Roseli e Uruassu. A única que dava acesso às casas era a Uruassu, conectada com a avenida Alexandrino de Alencar. As demais eram vias fechadas.

Morador há 47 anos do Barro Vermelho, o ex-professor de basquete Chico Martins relembra que a ocupação daquela região de Natal. “Tudo aqui era terreno e vacaria, pouco povoado. Só tínhamos o posto Santo Expedito, que era de Brilhante (comerciante), e no lugar da Academia de Polícia havia uma creche, e no lugar dos Bombeiros não existia nada, nem a avenida de Prudente de Morais, pois era tudo morro e ninguém via nem o outro lado de Natal”, relembra o aposentado.

Até então, um riacho também cortava a região, atravessando a avenida Régulo Tinoco, conta Chico Martins. “O rio corta o (colégio) Maristella e vai desembocar no Rio Potengi. Havia uma ponte de madeira, uma na avenida Alberto Maranhão e outra onde construíram a rua Adauto Câmara, na rua das cinco bocas”, comenta o aposentado.

Embora hoje não tenha sinalização ou rotatória, os moradores da rua afirmam que a rua é tranquila com relação aos acidentes. “Nestes 20 anos só me lembro de três ou quatro acidentes. A movimentação é maior somente quando o pessoal vai buscar crianças na escola. Era para ter ao menos uma rotatória no meio”, opina Demétrios Vaz, empresário morador da rua Gustavo Adolfo há 33 anos. A reportagem desmembrou um pouco da história das ruas que compõem as cinco bocas do Barro Vermelho.

ANADIL VIEIRA ROSELLI

Anadil Roselli nasceu no dia 9 de dezembro de 1918, em Natal-RN. Filha de Anilda Vieira Roselli e de Alberto Roselli, líder católico, deputado, advogado e jornalista (diretor do jornal Diário de Natal), da Diocese desta Capital. Perdeu a mãe antes de completar um ano de idade e foi criada pela tia Maria Cristina.

A adolescência e mocidade de Anadil presenciaram o desempenho do seu genitor pelas causas sociais e políticas, num mundo que se dividia, na época, em ideologias antagônicas. Mas ela não seguiria o roteiro vocacional do genitor, o advogado, o jornalista, líder católico o político militante.

A educação básica primária se fez em casa, com professores particulares. Em 1934, terminado o ginásio, transferiu-se com seu irmão para o Rio de Janeiro. Em março de 1935, iniciou o curso pré-médico, e em 1936 foi aprovada para a Faculdade de Medicina da então Universidade do Brasil, hoje UFRJ. Numa Natal pequena e provinciana, houve muitos comentários criticando seu pai por permitir que uma jovem de apenas 16 anos fosse para a capital do país estudar medicina.

Afastada dessas disputas sociais, isolou-se Anadil, encontrando no silêncio do estudo o refúgio protetor de uma alma ainda em flor e a satisfação pessoal. E essa escolha redundaria num sucesso continuado e definitivo, dedicando-se à investigação da ciência médica. 

Durante o curso médico, estagiou no Serviço de Dermatologia do Pavilhão São Miguel da Santa Casa e no Hospital Estácio de Sá (atual Hospital da Polícia Militar), na enfermaria de ginecologia, com o Dr. Victor Godinho. No quarto ano da faculdade, teve o interesse despertado para a área de Anatomia Patológica, e já no ano seguinte conseguiu ser nomeada para monitoria da disciplina, que era regida pelo professor Duarte Pinto.

Anadil Roselli pela tenacidade e amor projetou-se, anos depois, na área da Medicina, alçando-se a uma posição privilegiada e invejável no campo da Patologia. A sua competência na investigação científica lembra mulheres celebrizadas, que na Antiguidade, na Idade do Meio e na modernidade impressionaram os doutos dessas fases históricas, pela inteligência e sabedoria.

Em 1941, prestou concurso para Laboratorista Auxiliar e passou em primeiro lugar. Permaneceu nessa função até 1947, quando foi trabalhar no Hospital do Servidores do Estado, recém inaugurado.

Em 1948, o professor Martagão Gesteira convidou a médica norte-americana Edith Potter para organizar o Serviço de Patologia Infantil da Cadeira de Puericultura da Faculdade Nacional de Medicina, que funcionava no Hospital Gaffrée Guinle. Dra. Anadil Roselli adquiriu grande experiência ao acompanhar todas as atividades da especialista americana, que passou três meses no Brasil. Nove anos depois, já nos Estados Unidos, Dra. Anadil trabalhou novamente com a Dra. Potter no Chicago Lying-in Hospital, tendo inclusive a substituído na chefia do serviço, quando a americana se ausentava para proferir cursos no exterior.

Na sua estadia nos Estados Unidos, Dra. Anadil também estagiou no Billings Hospital, na Clínica Mayo e nos hospitais Methodist e St.Mary.

O nome dessa natalence ilustre recebeu o reconhecimento o aplauso da sua classe e consagração na especialidade abraçada. O desempenho do seu trabalho em confinados laboratórios ficou  reconhecido internacionalmente. É ela umas das raras médicas brasileiras sócias da ”The International Academy of Pathology”, dos Estados Unidos da América. Pertence, também, a diversos Institutos nacionais dentre os quais a Sociedade Brasileira de Patologia e da Sociedade Brasileira de Gastroenterologia.

De volta ao Brasil, após aposentar-se no Hospital dos Servidores do Estado, trabalhou no Hospital de Ipanema.

Por nove anos, a Dra. Anadil foi titular de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina da Fundação Técnico Educacional Souza Marques. Foi um período de muito trabalho e dedicação, tendo sido homenageada por sete turmas. Muito lhe gratificava a escolha dos alunos para seguir a especialidade que lecionava. Alegria maior foi quando, numa única turma, sete formandos optaram pela especialização em Anatomia Patológica.

Anadil Roselli é Sócia da Academia Nacional do Medicina, instituição fundada em 1329. Tomou posse como Membro Titular, aos 12 de setembro do 1995, em Sessão solene, na sua Sede própria no Rio de Janeiro. Saliente-se que Anadil Roselli foi a terceira médica a ser recebida na Academia Nacional do Medicina, fundada há quase dois séculos! Encerrando a Cerimônia de posse da nova Acadêmica, assim se expressou o Presidente da referida Academia, Professor e Acadêmico Rubem David Azliay, num trecho de seu discurso.

“… Vossa Excelência entra nesta Academia pelos seus méritos. Sabemos todos quão difícil é isso acontecer. Muitos o desejam, porém poucos o conseguem, e se Vossa Excelência o conseguiu é porque realmente tem os méritos necessários para o cargo que conquistou. Haja vista o seu trabalho no exterior, o seu trabalho entre nós, no Brasil. (…)A Academia de Medicina é uma Academia que vem do Império e ela se mantém até hoje porque seus membros têm sido escolhidos de uma maneira a mais elevada possível e, por isso, Vossa Excelência, ao nela ingressar, vem completa esta plêiade de intelectuai9s que aqui labora”.

Em páginas adiante transcreveremos, na íntegra o Discurso de Possa de Anadil Roselli, na conceituada Academia Nacional de Medicina. Tomou ela posse na Cadeira n° 96 da Seção de Ciências Aplicadas a Medicina & Farmácia, ocupada, antes, pelo Acadêmico Onofre Ferreira de Castro, Cadeira cujo Patrono é Rodolpho Albino Dias da Silva. Longo o seu Curriculum Vitae: deu inúmeros Cursos, participou de muitos Congressos, assembleias e Jornadas científicas, no Brasil e no Exterior, Participou das Comissões Examinadoras, Colaborou em Monografias. Teses e Livros, recebendo prêmios. Trabalhos publicados, no Brasil e no Exterior.

Sua participação em Sociedades Científicas. Sócia Efetiva da Sociedade Brasileira de patologistas, 1957, Membro do American Society of Patologista, 1960; Membro Titular Colaborador, Patologia do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, 1975; Sócio Benfeitor, Policlínica Geral do Rio de Janeiro, 1990. Em Títulos Concurss e Provas: Diploma de Internato de Anatomia Patológica, Faculdade Nacional de Medicina, 1940/41; Laboratorista por Concurso de Provas (1º lugar) – Anatomia e Fisiologia Patológicas, faculdade Nacional de Medicina, 1941; Patologista, Hospital dos Servidores do Estado, de 1948 a 1970; Patologista, Hospital de Ipanema (INAMPS), 1970 a 1985; Professor Titular de Anatomia Patológica, Faculdade de Medicina da Fundação Técnico Educacional “Souza Marques”, 1972 – 1980; Presidente Eleito da Comissão de Anatomia patológica, Centro de Estudos do Hospital do Ipanema – INPS, 1970 a 1972: Professor Adjunto de Urologia. Escola Médica de Pós-graduação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – Centro de Ciências Biológicas e de Mediana, 1982; Professora adjunta de Urologia da Escola Médica de Pós-graduação, Pontificia Universidade católica do Rio de Janeiro (PUC), 1982.

Prêmios e Homenagens: 2º prêmio do Melhor Trabalho Publicado The Association of Symptomatic Hiatus Hernia and pyloric Pathology, 1970, prêmio Benjamin Baptista – Gastrite Alcalina pós-piloroplastia – Pesquisa Experimental, 1970; Faculdade Técnico Educacional “Souza Marques”, das Turmas de 1976 a 1978; 1980,1982 e 1983. Atividades Editoriais – Membro do Conselho da Revista Colégio Brasileiro de Cirurgiões, desde 1986. Na história da Ciência houve mulheres extraordinárias: Marie Curie foi uma delas. Doscobriu os elementos químicos: o polônio & o rádio, desmembrados de pechblenda, minerai de urânio. Esta cientista polonesa foi prêmio Nobel de 1903, de Física e prêmio Nobel de 1911, em Química. ”Sábio nenhum, homem ou mulher, fora considerado, até então, digno do receber essa recompensa pela segunda vez”.

Foi Membro do Conselho da Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, a partir de 1996. Na sessão solene de 12 de setembro de 1995, tomou posse na Cadeira nº 96 da Seção de Ciências Aplicadas à Medicina e Farmácia como Membro Titular da Academia Nacional de Medicina, sendo a terceira mulher aceita nesta instituição fundada ainda no Império, em 1829. Foi precedida apenas por Léa Camilo Couto e Ana Lydia Pinho do Amaral. O trabalho de Anadil Roselli para admissão na Academia Nacional de Medicina versou sobre patologia da Gastrite Crônica por Helicobacter pylori.

Cargos do Chefia – Chefe do Laboratório de Anatomia Patológica. Hospital dos Servidores do Estado. 1949 a 1958: Titular de Anatomia Patológica, faculdade de Medicina da Fundação Técnico Educacional ”Souza Marques”, 1971 a 1980.

Nesse exemplo e noutros foi que a natalense se espelhou para alcançar o alto valor da sua obra científica, no campo da Patologia. A conceituada esculápia Anadil Vieira Roselli, mercê de sua competência, enobreceu a ciência médica e enalteceu o Rio Grande do Norte por ter filha tão ilustre, gozando das honrarias tributadas somente à celebridades.

Faleceu no Rio de Janeiro aos 94 anos, em 14 de abril de 2012.

FONTES SECUNDÁRIAS:

CARDOSO, Rejane (Coord.). 400 nomes de Natal. Natal: Prefeitura de Natal, 2000.

CASCUDO, Luís da Câmara. Angelo Roselli. A Republica, Natal, 12 abr. 1929.

CASCUDO, Luís da Câmara. Angelo Roselli. In: ARRAIS, Raimundo (Org). Crônicas de origem – a cidade do Natal nas crônicas cascudianas dos anos 20. 2 ed., Natal: EdUFRN, 2011. 103 a 105.

CICCO, Januário. Como se hygienizaria Natal: algumas considerações sobre o seu saneamento. Natal: Atelier typ. M. Vicotorino. 1920.

MEDEIROS, Gabriel Leopoldino Paulo de. A Cidade Interligada: legislação urbanística, sistema viário, transportes urbanos e a posse de terra em Natal (1892-1930). Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, 2017.

MELO, Protásio Pinheiro de -Contribuição Norte-Ameri-cana à Vida Natalense – edição do autor – Brasília/1993.

VIVEIROS, Paulo Pinheiro de – História da Aviação no Rio Grande do Norte – 1º Volume – Editora Universitária/ UFRN – 1974.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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A história de Parnamirim / Carlos Peixoto. —Natal (RN) : Z Comunicação, 2003

Alberto Roselli. Adcon. http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/secretaria_extraordinaria_de_cultura/DOC/DOC000000000109379.PDF. Acesso em 10/05/2023.

Anadil Vieira Roselli. http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/secretaria_extraordinaria_de_cultura/DOC/DOC000000000109408.PDF. Acesso em 10/05/2023.

Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN):Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.

ANUÁRIO NATAL 2014 / Organizado por: Carlos Eduardo Pereira da Hora, Fernando Antonio Carneiro de Medeiros. – Natal : SEMURB,2014.

Alberto Roselli. Adcon. Wikipédia, a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Roselli. Acesso em 10/05/2023.

ALBERTO ROSELLI. BIOGRAFIA. Câmara dos Deputados. https://www.camara.leg.br/deputados/4660/biografia. Acesso em 10/05/2023.

ALBERTO ROSELLI, DIPLOMATA, ADVOGADO, POLÍTICO E DESPORTISTA. PAX por Luiz G. M. Bezerra. http://www.institutojosejorgemaciel.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=370:alberto-roselli-diplomata-advogado-politico-e-desportista&catid=46:conteudo&Itemid=108. Acesso em 13/05/2023.

CIDADE, TERRA E JOGO SOCIAL: APROPRIAÇÃO E USO DO PATRIMÔNIO FUNDIÁRIO NATALENSE E SEU IMPACTO NAS REDES DE PODER LOCAIS (1903-1929) / GABRIELA FERNANDES DE SIQUEIRA. – 2019.

Caminhos que estruturam cidades: redes técnicas de transporte sobre trilhos e a conformação intra-urbana de Natal / Gabriel Leopoldino Paulo de Medeiros. – Natal, RN, 2011.

Do ancoradouro à sala de espera: as obras de melhoramento do porto e a construção de uma Natal moderna (1893-1913) – Natal, 2015.

Dos caminhos de água aos caminhos de ferro: a construção da hegemonia de Natal através das vias de transporte (1820-1920) / Wagner do Nascimento Rodrigues. – Natal, RN, 2006. 180 f.

Entre a ordem e o progresso: a escola de aprendizes artífices de Natal e a formação e cidadãos uteis (1909-1937) / Renato Marinho Brandão Santos. – João Pessoa/PB : IFPB, 2019.

História. Arquidiocese de Natal. https://www.arquidiocesedenatal.org.br/história.Acesso em 12/05/2023.

O largo das cinco bocas. Tribuna do Norte. http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/o-largo-das-cinco-bocas/328046. Acesso em 13/05/2023.

O OUTRO LADO DA SECA: o projeto de modernização da elite norteriograndense e os empreendimentos federais ferroviários e portuários em
época de secas (1893-1928)

Por uma “Cidade Nova”: apropriação e uso do solo urbano no terceiro bairro de Natal (1901-1929) / Gabriela Fernandes de Siqueira. – Natal, RN,
2014. ALMEIDA, Caliane Christie Oliveira de; RODRIGUES,Wagner do Nascimento Rodrigues

Natal, outra cidade! [recurso eletrônico] : o papel da Intendência Municipal no desenvolvimento de uma nova ordem urbana na cidade de Natal (1904-1929) / Renato Marinho Brandão Santos. – Natal, RN : EDUFRN, 2018.

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