As associações esportivas de Natal no início do século XX
Em 1910, Natal contava com várias associações esportivas responsáveis pela organização das competições, como o Velo-Club-Natal, o Derby-Club-Natalense, Sport-Club-Natalense, Natal-foot-ball-Club, etc. Como podemos notar, o nome dos clubes esportivos são todos nomes estrangeiros e há uma razão para isso.
Além do fato de o nome de muitas práticas esportivas, vigentes no momento, não terem ainda tradução para o português, a referência aos nomes estrangeiros, em especial aos ingleses e franceses, gera um tipo de proximidade da população natalense com o que se passava na Europa, pois a linguagem também constrói imagens. No caso, o inglês e o francês ajudam a construir a imagem do esportista, já legitimada na Europa. Ao refletir sobre esse novo vocabulário que invadia a língua portuguesa, cada vez com mais freqüência, Paudessú-Ricla concluiu:
Um novo esperanto, sem doutores Zamenhoffs, ia calmamente e com a graça de Deus, fazendo a sua estradinha triumphal no concerto das linguas: em vez de terminações em o, a e quejandas para substantivos e adjetivos, o seguinte – para sport, palavras inglezas; para moda e assuntos femininos, palavras francezas; para arte, palavras italianas… (PARTIDA de football. A Republica, Natal, 11 jul 1918).
Os clubes tinham um papel importante na construção dessa nova Natal almejada pelas elites locais, pois através dessas instituições, difundiam-se novas práticas sociais que seriam refletidas nos espaços urbanos. Era nos clubes e nas atividades praticadas neles que os ideais das elites circulavam, que as elites se formavam e se transformavam. Ou seja, à medida que um grupo social, tenta distinguir suas práticas das práticas dos outros grupos, ele está definindo uma configuração social que se reflete na organização dos espaços da
cidade.
Aos poucos, o entusiasmo dos atletas e treinadores contagiava os habitantes de Natal. A cada ano que se passava, a cidade, parecia ser tomada, de forma mais intensa, pela febre dos esportes.
O uso dos discursos médico-higienistas e eugenistas atuaria na cidade com o propósito de entusiasmar os jovens a trocarem seus vícios por uma nova forma de diversão, que resultaria num real envolvimento dos moços na árdua tarefa de treinar o corpo, construir músculos e vencer. No entanto, o lazer e a saúde não foram as únicas motivações da juventude para seguir os caminhos do esporte.
Algumas instituições, como foi o caso do Exército e das associações de tiro, propunham a junção dos ideais de patriotismo e formação de uma nação forte com as necessidades, que se faziam urgentes aos contemporâneos, de reavivar as forças armadas e recrutar membros de classes mais abastadas para o exército.
AO MAR GENTE MOÇA!: O ESPORTE COMO MEIO DE INSERÇÃO DA MODERNIDADE NA CIDADE DE NATAL por Márcia Maria Fonseca Marinho.