Café Chile
O bairro da Ribeira concentrava o maior número de bares, bilhares e cafés, a exemplo do Café Chile (1916). A frequência dos natalenses aos novos espaços de sociabilidade revelou novas mudanças nos hábitos da elite da capital potiguar, a exemplo dos passeios pela cidade, que incluíam uma parada em um café para um eventual lanche em família ou para as conversas entre amigos.
Os natalenses frequentavam os bares e os cafés para passar o tempo, conhecer pessoas, realizar negócios, trocar informações, degustar quitutes e conversar. Nesses estabelecimentos, passavam famílias, políticos e boêmios. Grande número desses bares e cafés era encontrado na Avenida Tavares de Lira e nas suas imediações, no bairro da Ribeira.
Uma dessas casas comerciais era o Café Chile, de propriedade de Leonel de Barros, situado na Travessa Aureliano de Medeiros, no bairro da Ribeira (Travessa Cel. Aureliano de Medeiros Ribeira (esquina com a loja Paris em Natal)).
. Diariamente, a casa comercial recebia deputados, senadores, magistrados e jornalistas. Além de café, o estabelecimento oferecia aos seus fregueses caldo de cana, refrigerantes, aperitivos e sucos.
Os anúncios e as reportagens sobre os cafés e os bares no jornal A República sempre se referem a esses espaços como lugares elegantes e civilizados:
Nos vários cafés existentes na capital potiguar, políticos, jornalistas e intelectuais reuniam-se para conversar sobre assuntos diversos.
Para os intelectuais que escreviam nos principais jornais, o hábito de frequentar cafés ajudaria Natal a avançar em direção aos padrões de elegância e civilidade, essenciais para que a cidade adquirisse características de uma capital moderna.
Os cafés mencionados até o presente momento, a exemplo do Café Chile e o Café Cova da Onça, eram lugares requintados, que exigiam um comportamento contido, sem exageros na bebida.
Segundo Guimarães, os frequentadores dos cafés (Chile, Cova da Onça) e do Bar Antártica eram membros da elite natalense que adotavam um comportamento contido, sem exageros na bebida. Os habitués se reuniam nesses estabelecimentos priorizando mais a conversa do que o consumo de bebidas. O cronista afirma que os fregueses desses bares e cafés não eram farristas, e sim buscavam tais lugares a fim de participarem de reuniões literárias. Notamos a preocupação do cronista em descrever a boemia natalense dentro dos padrões da ordem, excluindo de sua literatura os possíveis conflitos que existiam nos ambientes dos cafés e bares da cidade. ―Conversava-se, comentava-se, declamava-se, contava-se histórias, anedotas, davam-se adivinhações, bebia-se, comia-se tudo dentro de um ambiente festivo de amizade e de confiança (GUIMARÃES, João Amorim. Natal do meu tempo: crônica da cidade do Natal. Natal: Departamento de Imprensa, 1952 (Organização, introdução e notas de Humberto Hermenegildo de Araújo, 1999)). Nos textos memorialistas, as desordens ocorriam nos subúrbios, onde a presença de boêmios, populares e vadios era constante.