Do Teatro Carlos Gomes ao Alberto Maranhão

Um cenário onde cultura e arte se encontram: esse é o Teatro Alberto Maranhão. Fundado no início do século XX, em 1904, o local inicialmente foi batizado de Teatro Carlos Gomes, em homenagem ao importante compositor brasileiro. Foi apenas no ano de 1957 que a mudança de nome ocorreu, com o objetivo de prestigiar Alberto Maranhão, ex-governador do Rio Grande do Norte e responsável pela primeira obra de reforma no teatro.

Obras

Atendendo ao pedido da sociedade natalense, o governador Ferreira Chaves inicia as obras de um teatro para esta capital que pudesse receber vários espetáculos, concertos, entre outros, afim de promover mais lazer para o povo, como consta na mensagem do governo de 1899.

O primeiro prédio construído para receber o teatro foi projetado pelo engenheiro José de Berredo e teve suas obras iniciadas em 1898, porém, o evento de inauguração só aconteceu no dia 24 de março de 1904. Construído na antiga campina da Ribeira, em forma de um chalé, bem à moda, com: “18m, 30 de largura e 78m, 60 de extensão, três portas de entrada, jardim interno, botequim, toalete, camarotes, frisas, palco, salão para cenografia, etc.,”. A edificação apresentava uma composição clássica, com três portas encimadas por bandeirolas em arco pleno, enquadradas por colunas e encimada por um frontão triangular (NESI, 2012).

Obedecendo a planta do engenheiro José de Barredo, até 1910, o Teatro foi esculpido pelo francês Mathurin Moreau assumiu a direção daquela conceituada casa de espetáculos o Major Theodósio Paiva. Conservava a forma de chalé.

Para Henrique Castriciano, o edifício ficou com todas as acomodações necessárias a um teatro moderno (SIMONINI, 2010). É provável que a escolha do formato chalé na primeira fase da construção do teatro, provém da influência da arquitetura eclética carioca, estilo esse bastante encontrado no quartel do século XIX, porém considerado ultrapassado no início do século XX (KNOLL, 1999).

Continha três portas de entrada, jardim interno, botequim, toalete, camarotes, frisas, palco, salão para cenografia, etc. Para encimar a fachada, veio de Paris uma réplica da famosa estátua “A Arte” de Mathurin Moreau, esta existente até hoje. Nesta primeira fase do teatro apenas a decoração ficou a cargo de H. Ramos (CASCUDO, 1999).

Composição

O edifício, na parte interna, além de todas as dependências necessárias a uma casa de espetáculos, contava ainda com magnífico jardim, circundado de varandas, com 20 metros de comprimentos e 11m10 de largura. A sala de espetáculo media 13m50 de extensão por 11m11 de largura, isto sem falar nos espaços reservados aos camarotes. O palco, media 14m50 de extensão por 18m50 de largura. Existia também, numa dependência assobradada, por trás da caixa, um grande Salão para ensaios com 16m90 por 12m30 e, sob o Salão, sete camarins no pavimento térreo, cada um com 6m30 por 2m75.

No Auditório, além das galerias laterais, uma única ordem de camarotes, com 11 de cada lado, sendo 5 em frente ao palco e mais 6 camarotes de segunda ordem. No tablado, que separava os camarotes das galerias correspondente a cada coluna, escudos decorativos, cercados de louros, com os nomes de Calderon, Shakespeare, Manzoni, Victor Hugo, Goethe, Alencar, Garret, Wagner, Massenet, Verdi, F. von Suppé e Bach. A boca do palco, com 8m30 de largura era formada por um enorme arco, em cujas pilastras grandes do proscênio, que sustentavam o arco, via-se o retrato do Maestro Carlos Gomes e ao centro tinha, nas impostas, sobre o capitel, coroas de louros representando o Drama e a Opera e para encimar a fachada principal veio de Paris uma cópia da famosa estátua, a “Arte”, de Mathurin Moreau.

Inauguração

Para as festividades organizadas por Alberto Maranhão, na inauguração da Casa das Artes, ocorrida na noite da Quinta-feira, 24 de março de 1904, Herculano Ramos (1854-1928), mineiro, pintor, desenhista, cenógrafo, arquiteto, chegando em Natal no ano de 1904, foi encarregado da decoração do Teatro, sendo as pinturas, a cenografia e as decorações executadas pelo artista Sam Jey, tendo como auxiliares Teixeira da Cunha e Lustosa. A iluminação, de gás acetileno, foi feita pelos operários da Usina Ilha do Maranhão, sob a inteligente direção do Domingos de Barros.

A execução do programa ficou a cargo da Orquestra do Teatro e da Banda de Música do Batalhão de Segurança. Na Segunda parte da programação foi representa a peça teatral infantil em um ato e em versos, “A Promessa”, da autoria de Henrique Castriciano, sob a direção do Dr. Segundo Wanderley e da Madame Celestino Wanderley.

No dia da inauguração daquela instituição, as filhas de Herculano Ramos: Jurema e Salésia Ramos venderam exemplares de “A Promessa”, impressa em folheto, arrecadando 247$000, havendo [gratificações] de vinte e cinco mil réis; em benefício dos flagelados, e aplicado na compra de 450 vestidinhos. (PIRES, 1963 , p. 21.)

Continuando a festa da inauguração, Deolindo Lima recitou um monólogo de Arthur Azevedo A orquestra do Teatro, dirigida por Luigi Maria Smido, tocou breve programa e acompanhou o baritono Comoletti que cantou a canção do aventureiro do “Guarani” de Carlos Gomes e a ária do Fígaro, no “Barbeiro de Sevilha”, de Rossini.

Teatro Carlos Gomes, na época da construção. Construção do Teatro ‘”Carlos Gomes”.
FONTE: PIRES, Meira. História do teatro Alberto Maranhão (1904-195), p. 17.
Fachada do Teatro ”Carlos Gomes”. Fase final da construção (1904-1910). Extraído da obra de PIRES. Meira. História do Teatro Alberto Maranhão: 1904-1952, p. 17.

Na mensagem do governo apresentada por Alberto Maranhão ao passar o governo do estado para o Dr. Augusto Tavares de Lyra, no dia 25 de março de 1904, curiosamente um dia após a inauguração do teatro, o então governador expõe a importância que tinha o grandioso empreendimento oferecido à cidade, mas ressalta as necessidades existentes do local ( Mensagem do governo, 25 de março de 1904. Arquivo próprio HCUrb).

Teatro “Alberto Maranhão”. Construído em estilo “art nouveau”. Atualmente é o “cartão postal” da cidade do Natal. FONTE: Tribuna do Norte. 25 dez. 1999, p. 14.

A Primeira Fase – 1904/1912

A partir desse momento as atividades teatrais concentravam-se, com intensidade artística, no “Carlos Gomes”, apesar de não ter sido ocupado pelos amadores. As Sociedades existentes em Natal, representavam em teatrinhos improvisados. Um dos fatos mais marcantes na Dramaturgia Norte-rio-grandense, ocorreu no dia 15 de fevereiro de 1906, quando a Companhia Dramática Cardozo da Motta, resolveu representou o drama “Amor e Ciúme”, um dos mais apreciados e bem escritos trabalhos de Segundo Wanderley, com a talentosa Clementina dos Santos, no papel de Ester e os senhores Couto e Gonçalves nas partes do Dr. Oscar e Renato, respetivamente.

Em 15 de agosto de 1907, ocorreu um dos maiores acontecimentos da época: a encenação da primeira revista teatral de costumes locais, ‘Natal em camisa’, de Segundo Wanderley, cóni músicas de José Borrajo, pela Companhia Germano Alves, onde Apolônia Pinto era a primeira atriz, com músicas da autoria do professor J. B Borrajo e o cenário projetado e modelado por Herculano Ramos que, espontaneamente colocou-se à disposição e serviço do espetáculo, “arranjando” lindos panoramas dos mais belos recantos da cidade.

O jornal A República, do dia 10 de agosto de 1907, publicou uma nota, talvez da autoria do Dr. Manoel Dantas, falando sobre o enredo da peça:

Falta-nos espaço para como desejamos dar uma notícia detalha e desenvolvida sobre o enredo da peça. Os que nos acusarem desta falta procurem orientar-se indo ao ‘Carlos Gomes’ nas muitas representações com que a Empresa preparará o próximo jubileu da interessante revista que
já hoje podemos dizer, entrou nos hábitos da terra. Em 30 de agosto de 1907, Apolônia Pinto, prestando significativa homenagem ao dramaturgo Segundo Wanderley, voltou a encenar a revista “Natal em Camisa”.

A Revista “Natal em Camisas” explorava com inteligência os costumes da nossa cidade através dos seguintes quadros: “A Imprensa “, “A Capital”, “Fábrica de Tecidos”, “Loja Iracema”, “Casa Branca”, “Potiguarânia”, “Avenida Rio Branco”, Loja “Grande Oriente”, Loja “Novo Mundo”, “Rosa dos Alpes” “Administrador”, “Lucas Pindoba”, “Jerimum de Leite”, “Pão Japonez”, “Jerimum Caboclo”, Teatro “Carlos Gomes”, “Major Sccacio “, “Natal Club “Jerimum Jandaia ” e outros. A referida revista não foi possível ser localizada.

Reforma

Com o intuito de remodelar a capital do Estado do Rio Grande do Norte, o Dr. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão foi considerado o primeiro urbanista de Natal, com a idealização do que hoje, convencionou-se chamar “Cidade Nova” aos atuais bairros Petrópolis e Tirol. Durante todo o período de vigência da oligarquia Maranhão para dar uma nova direção a nossa Capital, Herculano Ramos foi o arquiteto que planejou várias obras de relevo nesta capital, de 1902 a 1913, destacando-se o Teatro “Carlos Gomes”, atualmente chamado “Alberto Maranhão”.

Em outubro de 1910, no segundo mandato do Governador Alberto Maranhão, o mecenas potiguar, contratou o Arquiteto Herculano Ramos, que permaneceu em Natal até 1914, para a reconstrução do Teatro Carlos Gomes alegando as estruturas do teatro estarem em péssimas condições. Herculano Ramos avaliou as estruturas que pudessem ser aproveitadas e iniciar uma reforma remodelando totalmente os traços antigos existentes.

Dessa vez o projeto foi todo de autoria do Ramos, que aproveitou da antiga construção apenas as suas paredes laterais e o material de demolição, acrescentando-lhe linhas e elementos das tendências arquitetônicas do final do século XIX. Seu partido arquitetônico é semelhante à do José de Alencar – por isso se enquadra na categoria de teatros jardins – com parte interna e estrutura metálica independente das paredes externas de alvenaria.

A ideia do governador era de ter um teatro moderno que pudesse atrair personalidades nacionais e internacionais. No dia 19 de julho de 1912 aconteceu a reinauguração do teatro (NASCIMENTO e tal, 2016). O prédio foi totalmente reformado após, apenas, seis anos da sua inauguração.

Com essa decisão, “nasceu outro teatro, amplo, confortável, arejado, moderno. A fachada ganhou um andar, para o salão de honra, o clássico foyer dos teatros franceses. No cimo do edifício, a “Arte” de Mathurin Moreau preside a fachada, de cinco portas, com ferros artísticos”.

O novo projeto, em estilo Art Nouveau, compreendia quatro partes distintas: a frente, o jardim, a sala de espetáculos e a “caixa” que seria construída sem nada ser aproveitado da existente, com vigamento de ferro na altura de 14m, até o urdimento, facilitando, assim, todas as manobras, tanto as superiores quanto as inferiores, onde seria feito um vasto porão estanque provido de vigias para a passagem do ar. Na sala de espetáculos, seria substituído todo o vigamento de madeira por outro de ferro, incluindo-se colunas artísticas e divididas em três ordens: na primeira, as frisas; na segunda, os camarotes; na terceira, as gerais. Em frente ao palco uma galeria nobre com acesso independente, assim como as gerais, cuja passagem deveria ser feita por escadas de ferro nos cantos do jardim. Os camarotes ficariam dispostos em curva contínua, colocando-se as colunas de ferro no intermédio das divisões de cada um, fechados e independentemente.

No teto, ligeiramente abobadado e forrado de madeira, uma grande rosácea central, destinada à tiragem do ar correspondente à lanterna sobre o telhado.

Toda a sala de espetáculos e o pavimento das frisas seriam revestidos de mosaicos finos e no centro do jardim central um grande candelabro artístico servindo, ao mesmo tempo, de fonte com torneiras. A parte da frente do Teatro contaria com dois pavimentos.

No térreo, um grande vestíbulo, a secretaria, bilheteria, lavabo, botequim e a toillete para senhoras, forrados de madeira e revestidos de mosaicos adquiridos na Bélgica. No primeiro andar, o Salão Nobre (Foyer), abrangendo toda a largura do edifício forrado com metal estampado, com rosáceas decorativas, igualmente com as paredes em comunicação com as varandas, por meio de escadarias especiais de pedra artificial.

A fachada, representando um estilo moderno, exibiria um corpo central de dois pavilhões com cinco portões de ferro, mantidos por pilastras de concreto modelado. Os portões e as decorações simbólicas, sob a supervisão de Nicolino Milano, foram, artisticamente, fundidos em Paris, pela Fonderies Du Val D’osne. A encomenda foi entregue ao Governador do Estado, em princípios de outubro de 1911. A decoração simbólica seria composta por grandes medalhões, as “Máscaras” da Arte de representar: o drama e a comédia. Sobre o pórtico, a Ópera, com as iniciais C.G. (Carlos Gomes); no tímpano, a Música e no vértice do frontão, como síntese, A ARTE, representada pela escultura de Mathurin Moreau, com réplicas em Paris e em Bruxelas.

O novo prédio, no seu formato atual com dois pavimentos, articula elementos arquitetônicos de diferentes estilos, entre as quais CTA. Teatro José de Alencar. Centro Técnico De Artes Cênicas. Sua fachada apresenta uma simetria de composição própria do neoclassicismo. Ao nível do térreo, está guarnecida com cinco portões de ferro, fundidos em Paris, com vão de arco abatido superpostos com igual números de janelas no pavimento superior.

Os trabalhos prolongaram-se por todo o ano de 1911 e até metade de 1912. No dia 16 de junho, o arquiteto Herculano Ramos, fez a entregue do teatro ao Governador Alberto Maranhão, o Mecenas Potiguar, e a 19 de julho a Gran-Camparíia Espanola de Zarzuela, Opera y Opereta Plabo López fez a inauguração com a opereta “Princesa dos dólares”, de Leo Fali, e a Orquestra do Teatro executou a Sinfonia de O Guarany, de Carlos Gomes, com a participação do Governador Alberto Maranhão.

No segundo pavimento as janelas são de madeira e vidro com vãos em verga reta, e guarda corpo em ferro fundido. Foi construído em estilo eclético com predominância de vários elementos “art nouveau” distribuídos por toda fachada.

A cobertura é arrematada com platibanda adornada com elementos de metal, jarros e janelas importados da França (LIMA, 2002). Sobre os eixos visuais, observa-se uma clara predominância do eixo horizontal sobre o vertical. Também há uma predominância do cheio sobre o vazio.

É importante lembrar que desta configuração espacial do teatro, pouco foi aproveitado do antigo teatro. Herculano manteve a ideia de utilizada em 3 blocos, porém incorporou uma nova “roupagem” na composição destes blocos. Foi possível verificar, claramente, a origem clássica, a presença dos elementos trabalhados em ferro fundido remetendo ao estilo art nouveau como também os usos de outros elementos decorativos na fachada permitem caracterizar a obra como eclética. O prédio foi tombado a nível federal e estadual em 28.06.1985.

Os espaços públicos, com o novo traçado urbano foram transformados em locais atraentes, com a construção e embelezamento das praças, quiosques, bosques, Em 1904, o Teatro Alberto Maranhão, foi uma delas.

O artista Sam Jey executou as pinturas, cenografias e decorações sendo auxiliado por Teixeira da Cunha e Lustosa. (PIRES, 1963 , p. 16.). Sob a direção de Domingos de Barros, os que compareceram à inauguração daquela casa de espetáculos, numa quinta – feira, do dia 24 de março de 1904, puderam constatar a iluminação de acetileno, feita pelos oficiais operários da Usina Ilha do Maranhão. Vale destacar que, os mestres ferreiros “João de Oliveira e Pedro Eloi”, começaram as atividades do Teatro, e sempre permaneceram em nosso Estado.

Pano de boca do Teatro Alberto Maranhão, pintado pelo Herculano Ramos. Fonte: MIRANDA,1999.
Teatro Carlos Gomes, 1910 (Atual Alberto Maranhão). Fonte: CD Natal, ontem e hoje (Arquivo HCUrb).
Imagens mostrando a semelhança do TAM com o TJA
Leitura da fachada atual do Teatro Alberto Maranhão (TAM). CD Natal, ontem e hoje (Arquivo HCUrb) grifos da autora.
Detalhe das esquadrias do pavimento superior.
O teatro em outro ângulo em 2016.
Fotografia sem data, mas que mostra a sala de espetáculo com os guarda corpo pintados de branco.
Vista de dentro do Foyer para o pátio em 2016.
Vista do meio do pátio interno mostrando a estátua e o frontão do 3º bloco do teatro também em estilo chalé. Fonte: http://www.espacoturismo.com/atracoes-turisticas/teatro-alberto-
maranhao/nggallery/www.teatroalbertomaranhao.rn.gov.brAcesso em: 8 de Mar.2016
Vista atual do meio do pátio com vista das varandas de acesso ao jardim e a escultura.
Estátua “a arte” – Mathurin Moreau cravada no alto do frontão do teatro existente até hoje. Fonte: Santos (1999).

Na foto acima é possível ver este pátio sem as varandas, e sem as escadarias de acesso. O que atesta que estes elementos foram concebidos na reconstrução do arquiteto Herculano Ramos, permanecendo daquela imagem, apenas a estátua, o frontão triangular – fazendo referência ao estilo chalé, com seus elementos decorativos art nouveau como as luminárias – e também com os lambrequins nos arremates do telhado.

Plantas baixas do TAM com a setorização dos ambientes.
Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão governou o Estado do Rio Grande do Norte em dois mandatos, o primeiro de 1900 a 1904, e o segundo que vai de 1908 a 1914. Como grande político e administrador reformulou o Teatro “Carlos Gomes”. Intelectualmente, foi chamado “Príncipe Mecenas”, por ser considerado intelectualmente o maior animador de poetas e literatas.

Solidariedade

A cidade do Natal foi assolada, em meados de 1905, por um grande número de indigentes doentes de varíola. Com a colaboração de várias meninas e senhoritas, a Professora Maria de Castro Barcellos teve a ideia de organizar um festival beneficente para o dia 05 de agosto, do ano acima mencionado; elegendo quatro comissões: Comissão Protetora, Beneficente, Auxiliadora e Executiva obtendo resultados satisfatórios. (PIRES, 1963 , p. 29.)

Naquela oportunidade, foram declamadas as poesias: “Cantas” e “Caridade” por Palmira Wanderley, de autoria de Segundo Wanderley. Além do que a Comissão Promotora já havia doado para os variolosos, o Padre João Maria recebeu o valor de 150$000. (PIRES, 1963 , p. 33.)

No artigo do jornal “A República” do dia 07 de agosto de 1905, assinado por M., conjectura PIRES, ter sido Manoel Dantas, que afirmou:

“o concerto ocorreu na melhor ordem, apesar de uns tantos exageros da platéia próprios dos arroubos da mocidade, que não se apercebeu bem das regras do bom tom, que fazem distinção entre o modo de portar-se bem num teatro propriamente dito e num salão de concerto. Vários cavalheiros esquecidos das dezenas dos escriptos nas paredes, /…/ entraram para o salão fcom] charutos e cigarros [porém], nem a mais tênue fumaça suspeita incomodava a pituitária de numerosa assistência “. (PIRES, 1963 , p. 33.)

Os espectadores que estavam naquele espetáculo sentiram-se prejudicados por algumas pessoas não saberem ou não quererem comportar-se diante de um recinto que promove espetáculos destinados ao teatro; pois, é uma arte ao espectador também, saber assistir a um espetáculo de qualquer gênero, citou PIRES. (PIRES, 1963 , p. 34.)

Sobre o resultado final do evento em prol dos doentes de varíola, o jornal “A República” publicou no dia 9 de agosto do mesmo ano:

“A Comissão encarregada de promover o festival de caridade organizado pela Exma. Sra. D. Maria Barcellos esteve ontem no Palácio do Governo onde foi agradecer ao Dr. Augusto Tavares de Lira o concurso eficaz prestado por S. Excia. Para o bom êxito do festival A mesma Comissão entregou, (…) ao vigário João Maria a quantia de 600$000, arrecadado no festival para S. Rvmo. distribui-la pelos variolosos indigentes”. (PIRES, 1963 , p. 34.).

Fotografia de 1904, feita por Bruno Bougard, destacando um grande número de retirantes da seca nas proximidades do Teatro Carlos Gomes, em Natal. Pelo registro é possível ter noção da quantidade de retirantes que se dirigiram à capital norte-rio-grandense tentando fugir da assoladora seca que atingia o estado, sendo possível ainda conjecturar a intensidade do impacto que esses indivíduos provocaram na acanhada Natal do início do século XX. A imagem apresentou um grande número de sujeitos com vestes simples, enxadas nas mãos e com seus filhos ainda crianças nas proximidades do Teatro Carlos Gomes, no bairro Ribeira. Ainda pela fotografia, depreende-se como os flagelados dominavam toda a região próxima ao teatro, estavam concentrados para serem distribuídos em frentes de trabalho pela cidade. Contudo, o periódico fluminense O Malho não veiculou mais informações sobre a fotografia, apenas apresentando a acompanhada da seguinte legenda: “na praça principal da capital do Rio Grande do Norte, os flagelados partindo para os trabalhos públicos”. 

Apresentações

Percebemos que, no início da vida gloriosa do teatro sempre se recebia a visita de artistas de renome mundial, e também de grupos sem maiores pretensões.

A família Wanderley participou nos momentos culturas e artísticos de nossa cidade, evidenciando-se no teatro e poesia. Proveniente dessa linhagem , José Wanderley alcançou renome nacional com as comédias: “Compra-se um maridoque foi adaptada para o cinema com o título “Maridinho de Luxo” “Pertinho do Céu”, “Era uma vez um vagabundo “, “Hás de ser minha “Aconteceu naquela noite “Amanhã é dia de pecar “, “Cupim 33, dentre outras.

No teatro de comédia ou vaudeville, do Brasil, formaram conjuntamente com José Wanderley, as mais famosas parcerias os teatrólogos: Daniel Rocha e Mario Lago . O poeta e dramaturgo Segundo WANDERLEY elaborou uma interessante revista – “Natal em Camisas” com músicas da autoria do professor J. B. Borrajo. (PIRES, 1963 , p. 61.)

O governador Alberto Maranhão para prestigiar e promover os movimentos artísticos e culturais no Teatro, patrocinou a vinda até Natal, de uma companhia ou artista famoso, importando da Europa, nomes de destaques para a orquestra musical como Luigi Maria Smido, J. B. Borrajo, Tomazzo Babini e Nicolino Milano e destacados músicos potiguares. (PIRES, 1963 , p. 61.)

Considerado como um dos maiores artistas brasileiros, o barítono Corbiniano Villaça realizou um concerto no dia 9 de outubro de 1907, percorrendo os melhores salões do nosso país e do estrangeiro. (PIRES, 1963 , p. 61.)

No Teatro e Palácio Alberto Maranhão, hoje, Palácio da Cultura, vivenciava-se os hábitos e costumes provinciais estimulando os seus sucessores – Dr. Tavares de Lyra e Antônio José de Melo e Souza. Stella. Wanderley foi a primeira mulher a escrever para teatro em Natal, estreando no dia 3 de Janeiro de 1923 com a peça; “No Reino das Fadas”. (PIRES, 1963 , p. 89.)

O Professor Joaquim Scipiao, Sr. Milton Varela (sempre substituído pelo Professor Alcides Cicco) foram os três primeiros Diretores daquela instituição. Portanto, quase tudo quanto a nossa sociedade tinha de melhor na política, nas letras, no comércio e na indústria esteve sempre presente nesta instituição cultural.

Os primeiros Diretores do Theatro “Carlos Gomes” “esqueceram-se” de abrir um livro para nele ser registrado o movimento Teatral dos exercícios de 1904 a 1911, recebendo para aquela incumbência o quarto Diretor do referido Teatro – Meira Pires – escriturando e fazendo o levantamento dos espetáculos a partir do dia 24 de março de 1904. Na reinauguração do novo Teatro chamado “Alberto Maranhão” a Companhia de Zarzuela, Ópera Y Opereta Pablo Lopez apresentou-se com a opereta; “Princesa dos Dólares” cujo poema era de Wilnee Guibaun e música de Leo Fali. (PIRES, 1963 , p. 91.).

A primeira referência a Waldemar de Almeida publicada em jornais natalenses data de 12 de maio de 1921, quando acompanhou ao piano o recital do violoncelista e cantor Luís Valério de Souza Brandão, realizado no dia 18, no Theatro Carlos Gomes, 109 em recital patrocinado pela Associação dos Escoteiros do Alecrim.

Plateia assistindo evento no Teatro Carlos Gomes, atual Teatro Alberto Maranhão, 1927, foto do acervo da família Pinheiro.

O primeiro cinema

Entre 1900 e 1909 as exibições de filmes em Natal eram raras e em locais improvisados. A partir de 1909, entretanto, o Teatro Carlos Gomes (hoje Alberto Maranhão) passou a ter sessões com alguma regularidade. Este era também chamado de “Cinema Natal” e se caracterizou por exibir também films em sessões infantis. A máquina de projeção (cinematógrafo) chegou a Natal – vinda do Rio de Janeiro – em um dos navios do Loyd Brasileiro.

No dia 13 de outubro de 1928, ocorreu substituição do “cinematógafo falante” por equipamento projetor mais moderno e o local passou a ser chamado Cine-Theatro Carlos Gomes. A inauguração do empreendimento, segundo anúncio do jornal, ocorreu às 7h30 em ponto, com exibição do filme, “O Homem de Aço”. Os ingressos custavam: poltrona 2$000 (dois mil réis), galeria 1$500 (hum mil e quinhentos réis) e geral 1$000 (hum mil réis). Havia dias de sessão grátis.

Como era de praxe nos cinemas de então, a sessão iniciava com o som de gongos. Enquanto a cortina lentamente se abria, ouvia-se pelos autofalantes a abertura da ópera “O Guarani”. Então, começava a projeção.

Os ingressos eram considerados muito caros por parte da população, dessa forma os frequentadores eram tipicamente da elite da cidade. Os frequentadores do Cinema Natal e depois do Polytheama se vestiam muito bem para assistir filmes. Nos anos 1920, os rapazes iam de jaquetão, as moças usavam vestidos claros, indo até um pouco abaixo dos joelhos e sapatos com salto alto, além de se apresentar com os cabelos cortados à moda da atriz Luigi Rognoni.

O primeiro cinematógrafo veio a Natal com o fotógrafo Moura Quineau, proveniente do Ceará, no dia 24 de novembro de 1906. com a exibição da “vista”. Com a vinda das projeções cinematográficas, os ‘filmes’ receberam também o nome de “Vistas”.

“Álbum Maravilhoso” e concluindo-se com o espetáculo “O Salteador Moderno”. Diariamente, o Teatro era lotado, tendo como proprietária a Empresa Norte Brasil. Como a programação do espetáculo intitulada: “Creação Assombroza”, não foi possível ser estreada, por motivos de problemas técnicos mais adequados “o publico […] foi saindo aos poucos” causando grande constrangimento ao emprezário conforme noticiou o periódico de “A República” (A REPÚBLICA, 30 nov. 1906, p. 49). A Empresa então, consertou a máquina e no dia seguinte, repetiu o filme e exibiu as cenas cômicas: “Confissão” e Fadas das Flores”.

Verificamos, ainda, também, que ainda por esses tempos, algumas pessoa comportavam inadequadamente em alguns ambientes públicos exigindo alguns cuidados das autoridades e um padrão de disciplina para as mesmas. Conforme justificou Meira Pires, o palco do Teatro não foi utilizado por nenhuma companhia profissional ou grupo de amadores, até o mês de setembro de 1904, pois, a pauta sempre estava ocupada com a orquestra dirigida por Smido, com festivais beneficentes e recitativos. Natal ficou conhecida lá fora por conta da incessante movimentação artística no Teatro. Assim sendo, o Teatro acolheu o primeiro ator e grande transformista José Vaz, no dia 16 de maio de 1905. (PIRES, 1963 , p. 26.).

Alagamentos

Segundo, Sr. Pedro, funcionário há mais de cinquenta anos do teatro Alberto Maranhão, havia um sério problema de alagamento nas proximidades do mesmo, causando sérios transtornos aos moradores e aos amantes da sétima arte.

E que para resolver tal problema, em 1904, Herculano Ramos, arquiteto e construtorque empreendeu várias obras públicas e particulares nas primeiras décadas do século XX na Ribeira, fez o aterramento e ajardinamento do espaço público da Praça Augusto Severo.

O senhor Paulo Macelino,aposentado pela Rede Ferroviária, afirma que para ir da sua casa, localizada no Alto daCastanha, até o teatro Alberto Maranhão era necessário tirar os calçados e levantar a bainha da calça para poder caminhar sem molhar tanto suas vestes. Mas, mesmo assim, ainda, as molhava, pois a água chegava à altura da panturrilha. Seus filhos, quando queriam brincar nesta época, pegavam um barquinho, que eles possuíam, e saiam remando por estas rua santeriormente citadas.

Segregação

Frequentado particularmente pelas pessoas conhecidas como da “alta sociedade”, escritores, políticos, artistas, estudantes, entre outros, eram o grande público do TAM. relata seu Pedro, um senhor de mais de setenta anos, e que trabalha no teatro há mais de cinquenta ocupando o único cargo de mordomo no governo do Estado. Lembra que as pessoas frequentadoras do Alberto vestiam-se com muita elegância para contemplar a arte oferecida no local.

O teatro era um espaço reservado à “elite”, e por um longo período desde sua inauguração era impeditivo aos negros. Levando em conta que a Abolição dos Escravos foi assinada em 1888, havia o resquício do forte preconceito com os negros que durou ainda muitos anos após a dita libertação. Entretanto, se o negro não fazia parte da “cultura de elite”, era através da música e da religião que ele dava sua rica contribuição para a cultura da Ribeira. O bairro sempre abrigou as principais diferentes manifestações artísticas e culturais da cidade.

Teatro Alberto Maranhão.1920. Fonte: Cd- 100 anos do TAM.
Sr. Pedro Salustino, grande funcionário que marcou a vida do Teatro Alberto Maranhão por mais de 50 anos. Tive o grande prazer de fotografá-lo perto da placa em sua homenagem. Alguém sabe dizer se ele ainda está com vida? Esta foto e outra eu voltei lá e entreguei pessoalmente uma cópia. Pense numa alegria ao receber sua foto naquele dia! Simpatia em pessoa. Foto: Esdras Rebouças.

Revolução Comunista

Muitas autoridades estaduais civis e militares estavam no Teatro Carlos Gomes quando tomaram conhecimento da insurreição comunista. Muitos revolucionários armados se deslocavam atirando pra todos os lados, eles iam provavelmente na direção do Teatro Carlos Gomes, onde estavam as autoridades do governo.

O governador Rafael Fernandes e o secretário geral Aldo Fernandes estavam no Teatro Carlos Gomes assistindo a festa de formatura da segunda turma do Colégio Marista com a peça “O Milagre da Fé”. Após o início do tiroteio, eles fugiram para asilo nos Consulados do Chile e da Itália. Muitas pessoas que estavam no teatro se esconderam no colégio do prof. Severino Bezerra, ali vizinho. Lá, cerca de 400 pessoas dormiram no chão.

Mudança de nome

O Teatro Carlos Gomes, inaugurado em 24 de março de 1904 pelo Governador Alberto Maranhão, homenageava com seu nome o grande compositor brasileiro nascido em Campinas, São Paulo. Em 1957 culminou o movimento que visava trocar o seu nome pelo do governador norte-rio-grandense que havia concluído a construção e, durante os seus dois mandatos de governo (1900-1904 e 1908-1914), tanto fizera pela instituição. Foi em seu mandato que, em 1912, foi realizada a grande reforma no prédio que lhe concedeu o aspecto atual.

Assim, depois de muita discussão e acalorada polêmica, com o projeto de lei n° 744, de 22 de agosto de 1957, de autoria do vereador Luís de Barros a Câmara Municipal de Natal aprovou, a 23 de agosto, a mudança do seu nome para Teatro Alberto Maranhão.( PIRES, 1963 , p. 53.).

Curiosidades

Carnaval – De acordo com o historiador Gutemberg Costa, em 1907 existiam na cidade dois locais estruturados onde se brincava carnaval: o Teatro Carlos Gomes e o Natal Club. Os grupos carnavalescos que contagiavam a juventude eram: “Vassourinhas”, “Aurora Natalense” e “Vasculhadores”. As passeatas dos clubes e cordões eram denominadas “Préstitos”. No carnaval antigo de Natal as moças de famílias mais abastardas se fantasiavam de fadas, anjos e usavam roupas esvoaçantes de filó.

Segunda Guerra – Nesse mesmo dia em Natal, foi programada uma solenidade à noite no Teatro Carlos Gomes. Alvamar Furtado de Mendonça, então recém-formado em direito, foi convidado para pronunciar um discurso no Dia da Vitória. Ele se vestiu bem e caprichou na redação do discurso. Na hora em que olhou para a plateia, teve um choque: estranhamente, o teatro estava quase vazio. Os organizadores do evento, temendo fracasso na solenidade, saíram pelo bairro da Ribeira e recrutaram uma legião de transeuntes – mendigos, boêmios, prostitutas – para ocupar pelo menos uma parte dos 600 lugares disponíveis. Alvamar enfim falou, mas um tom melancólico já tomara conta do teatro, das Ruas, das pessoas. A cidade parecia estar de luto. Por que a guerra havia acabado.

Universidade – O mundo mudara e a pequenina Natal tentava se atrelar às novidades do momento. O grande passo em direção à modernidade e ao desenvolvimento foi dado no dia 21 de março de 1959 quando, em solenidade no Teatro Alberto Maranhão, instalava-se a Universidade (ainda estadual) do Rio Grande do Norte. Era o passo inicial na abertura de um caminho que não haveria de ter fim.

Festival Musical – Teatro Alberto Maranhão, o SESC e principalmente o Palácio dos Esportes nos anos 1960 sediaram festivais musicais que surgiram a reboque do sucesso dos realizados pela TV Record, igualmente com grande participação da plateia: torcendo, cantando, aplaudindo e vaiando.


“A história e a memória social
guardara, principalmente, o nome
daqueles que trabalharam muito
diretamente ligados ao teatro e a sua
inauguração, dentre eles Dr. Herculano
Ramos, arquiteto orientador das obras de
pintura decoração, e o médico e dramaturgo
Dr. Manoel Segundo Wanderley.
responsável pela encenação do trabalho do
escritor Henrique Castriciano apresentado
por aquelas crianças natalenses.”
Sônia Othon
Está situado na Praça Augusto Severo, na Ribeira. Teve sua construção iniciada em 1898, no governo Joaquim Ferreira Chaves, que o denominou “Teatro Carlos Gomes”. A inauguração se deu em 24 de março de 1904.
Em 1912, durante o segundo mandato do governador Dr. Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão, teatro foi reinaugurado após uma reforma que o transformou em casa de luxo, dotada de espelhos e lustres de cristal.

Foto: Livro História do estado do Rio Grande do Norte. Rocha Pombo. Natal: Edufrn, 2019. P. 305.
Teatro Carlos Gomes, após reformas de
1912. Situado na praça Augusto Severo, seu iponente volume polarizava as atenções com a estação de trem. O prédio, que simbolizava o refinamento cultural da elite da cidade, não era a única instituição a ganhar um espaço privilegiado nesse cenário. Fonte: CD Natal 400 anos. Foto de João Galvão.
TEATRO ALBERTO MARANHÃO (Antigo Teatro Carlos Gomes Bairro Ribeira) Foto: CD Rom Natal 400 Anos
PÁTIO INTERNO DO TEATRO ALBERTO MARANHÃO (Bairro Ribeira) Foto: CD Rom Natal 400 Anos
TEATRO ALBERTO MARANHÃO (Antigo Teatro Carlos Gomes – Bairro Ribeira) Foto: Acervo SEMURB. A construção e reforma do Teatro Carlos Gomes, aconteceu na época da oligarquia Maranhão. Esta edificação e outras intervenções ocorridas em Natal nos primeiros anos do século XX, simbolizam o desejo da elite potiguar em fazer de sua capital uma cidade moderna.
Transformado em cinema no período entre 1928 e 1930, também funcionou como Câmara Municipal entre 1952 e 1954, voltando a funcionar como teatro durante o governo de Dinarte Mariz. Somente em 1957 passou a ser chamado Teatro Alberto Maranhão, numa homenagem ao ex-governador responsável pela sua reconstrução.
Pátio Interno do Teatro Alberto Maranhão (Bairro Ribeira) Foto: Acervo SEMURB. Na sua reforma (em 1910), coordenada pelo arquiteto Herculano Ramos, “o teatro adquiriu feições ecléticas, apresentando elementos típicos da art nouveu como: grades, vasos, ornatos aplicados e esculturas, como a que se encontra no eixo central sobre a platibanda, confeccionada pelo francês Mathurin Moreau, simbolizando ‘A Arte’”. O teatro Alberto Maranhão é tombado, pelo Governo do Estado, desde 27 de julho de 1985. Fonte: Anuário Natal 2014
O centro do pátio interno do Teatro Alberto Maranhão é marcado pela presença de uma graciosa estátua denominada “L’Indiénne” – “A Índia”, executada nas fundições Val d’Osne (França), local no qual se encontra arquivado o desenho original do monumento, de autoria do francês Jean-Jules Salmson.

O Theatro Carlos Gomes – primeiro nome que foi dado ao TAM – teve suas paredes erguidas em plena Belle Époque – tempo em que a Escola Francesa influenciava as artes e a literatura em todo o mundo. O início da construção, em estilo art noveau foi em 1898 (mesmo ano em que nascia Câmara Cascudo).
Em 1957, sendo o Teatro da municipalidade, o Prefeito de Natal, Djalma Maranhão, mudou a sua denominação para Teatro Alberto Maranhão. Em 1959 teve nova reforma, sendo reaberto em 24 de março de 1960. Em 1977, o Teatro foi equipado com ar condicionado central.

Natal distanciava-se geograficamente dos grandes centros do país, mas não se distanciava dos ideais imaginários de se tornar uma cidade moderna e cosmopolita. Basta ver a versão francesa da estátua que orna o pátio do TAM -” A índia” com traços muito mais próximos da beleza grega.
O Teatro Alberto Maranhão foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Rio Grande do Norte. Inicialmente chamado de Teatro Carlos Gomes, começou sua construção em 1898, obedecendo à planta do engenheiro José de Berredo, no Governo Ferreira Chaves, sob a direção do major Theodósio Paiva. Em 1900 quando Alberto Maranhão assumiu o Governo, deu continuidade às obras, inaugurando-o em 24 de março de 1904.

Até 1910 conservava a forma de chalé com 18,30 metros de largura por 78,60 de extensão, tendo três portas com uma escultura de Mathurin Moreau denominada “Arte”, encimando a fachada. No segundo Governo Alberto Maranhão, o Teatro sofreu nova reforma, ganhando um pavimento, portões e grades de ferro vindo da França (Fundação Val de Osnes) assim como os balcões e obras de arte na fachada.
Em 1957, sendo o Teatro da Municipalidade, o Prefeito de Natal, Djalma Maranhão mudou a sua denominação para Teatro Alberto Maranhão. Em 1959 teve nova reforma, sendo reaberto em 24 de março de 1960. Em junho de 1988 a Fundação José Augusto para quem o Governo do Estado passara a administração do Teatro iniciou uma nova reforma (conservando as linhas e elementos da arquitetura francesa), incluindo camarins, salão nobre, jardim, plateia e palco, buscando restaurá-lo, sob supervisão técnica da Coordenadoria de Patrimônio Histórico e Artístico do Estado com recursos da Fundação Banco do Brasil.
MEMÓRIA: Há 62 anos, na noite de 21 de março de 1959, em solenidade no Teatro Alberto Maranhão, é instalada a UNIVERSIDADE DO RIO GRANDE DO NORTE, tendo Câmara Cascudo como orador oficial.
.
Diz Cascudo: “Instala-se esta Universidade como nasce uma criança e vive a semente, numa potencialidade da confiança. Se ela tiver um destino, como têm os livros, o seu será do instituto que existe pela desesperada vontade de viver. Nela está, como uma bênção de mãe pobre, o sonho informe e longo de todos os professores do passado. O que faz a durabilidade, a vida infinita, o prestígio crescente de uma Universidade não é o seu corpo docente, o bem-estar das instalações, o convívio dos currículos, os laboratórios, bibliotecas, inquéritos, debates. É o conjunto destes fatores no tempo. A Universidade se perpetua pela sua influência”.
.
Imagem: Acervo @institutocascudo

Fontes:

A MODERNIZAÇÃO DA CIDADE DO NATAL: O AFORMOSEAMENTO DO BAIRRO DA RIBEIRA (1899-1920). LÍDIA MAIA NETA. NATAL/Dez/2000.

Dos bondes ao Hippie Drive-in [recurso eletrônico]: fragmentos do cotidiano da cidade do Natal/ Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro. – Natal, RN: EDUFRN, 2017.

O nosso maestro: biografia de Waltemar de Almeida / Cláudio Galvão – Natal : Edufrn, 2019.

Mapeamento Grupos Organizados da 
Sociedade Civil. RIBEIRA. Plano de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais. Maria do Livramento Miranda Clementino, Silvana Pirillo Ramos e Valéria de Souza Ferraz.

Um artifice mineiro pelo pais: formação, trajetória e produção do arquiteto Herculano Ramos em Natal Débora Youchoubel Pereira de Araújo Luna. -Natal, RN, 2016.

UM SÉCULO DE CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTÓRIA DO TEATRO NA CIDADE DO NATAL: 1840-1940 POR ÂNGELA MARIA DE CARVALHO MELO.

Consultas:

LIMA, Pedro de. Arquitetura no Rio Grande do Norte. Uma introdução. Natal: Cooperativa Cultural Universitária, 2002.

KNOLL, Ceres Madruga. A influência da arquitetura eclética no Teatro Alberto Maranhão. Trabalho da disciplina História e Teoria da Arquitetura II. 1999. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

MIRANDA, João Maurício F. de. 380 anos de história fotográfica da cidade de natal 1599-1979. Natal: UFRN. Ed. Universitária, 1981.

NASCIMENTO, Ana Matilde Vasconcelos e tal. O Teatro Alberto Maranhão como espaço de história e cultura. XVI Seminário de Pesquisa do Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2016.

NESI, Jeanne F.L. Natal monumental. Natal: IPHAN-RN, 2012.

PIRES, Meira. Alberto Maranhão e seu tempo :1872 -1944. Natal: Edição Divisão de Cultura/SEC, 1963.

SANTOS, Dorisbel Gomes Toscano dos. Teatro Alberto Maranhão. Trabalho da disciplina de HTAU 2. UFRN. 1999.

SIMONINI, Yuri. Ribeira, técnica versus natureza: transformações em prol de um “projeto” de modernização (1860 – 1932). 2010. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.

Loja Virtual do Fatos e Fotos de Natal Antiga

administrador

O Fatos e Fotos de Natal Antiga é uma empresa de direito privado dedicada ao desenvolvimento da pesquisa e a divulgação histórica da Cidade de Natal. Para tanto é mantida através de seus sócios apoiadores/assinantes seja pelo pagamento de anuidades, pela compra de seus produtos vendidos em sua loja virtual ou serviços na realização de eventos. Temos como diferencial o contato e a utilização das mais diversas referências como fontes de pesquisa, sejam elas historiadores, escritores e professores, bem como pessoas comuns com suas histórias de vida, com as suas respectivas publicações e registros orais. Diante da diversidade de assuntos no mais restrito compromisso com os fatos históricos conforme se apresentam em pouco mais de um ano conquistamos mais de 26 mil seguidores em nossas redes sociais o que atesta nossa seriedade, compromisso e zelo com o conteúdo divulgado e com o nosso público.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *