Escola Doméstica de Natal em 40 fatos e fotos
A Escola Domestica de Natal foi inaugurada no dia 1 de setembro de 1914, século XX, situada próximo a Praça Augusto Severo, no Bairro da Ribeira, tendo sido implantada pela Liga de Ensino do Rio grande do Norte, fundada em 1911, instituição privada subsidiada pelo Governo do Estado. A Escola Doméstica faz parte de um complexo de ensino, como sua primeira instituição escolar. Todo o complexo de ensino, sem fins lucrativos, o qual hoje também engloba o Colégio Henrique Castriciano e a [UNI-RN] (criada em 2000), Centro Universitário do Rio Grande do Norte.
O fundador da ED, como a Escola Doméstica de Natal é também reconhecida, foi o poeta, político e arauto da educação feminina Henrique Castriciano, irmão da também poeta Auta de Souza, o qual por anos e anos viajou pela Europa na tentativa de colher informações para uma escola doméstica, a qual teria como objetivo valorizar o cotidiano familiar e fazê-lo no plano da integração social da mulher.
A ED ficou sediada de 1914 a 1952 em um antigo casarão com o estilo arquitetônico neoclássico onde funcionou a clínica Doutor Carlos Passos, mantida pela Prefeitura do Natal. Hoje, a Doméstica fica num terreno na Avenida Hermes da Fonseca doado pelo Governo do Estado no ano de 1952, no antigo Batalhão da Cavalaria, e ainda representa uma escola feminina e privada, que recebe alunas de classe média alta da capital potiguar, do interior e de outros estados.
O terreno recebido pela doação do Estado era planície de restinga, coberta por vegetação herbácea, uma espécie de gramínea rasteira. Pouquíssimas árvores, isoladas, perdidas na vastidão da área. A professora Noilde Ramalho, sempre sensível às coisas da natureza, apreciadora da beleza que o mundo vegetal oferece, tratou logo de arborizar o local, mesmo antes da construção do novo prédio iniciar. Foram plantadas inúmeras árvores que, atualmente, conferem à área uma beleza ímpar. Atualmente, é um conjunto agradável e ameno, onde se vê a integração harmônica entre a natureza e as edificações. Circundantes, encontram-se as dunas com sua vegetação característica da Mata Atlântica, sítio ecológico onde riquíssimas flora e fauna são preservadas.
O fundador
Henrique Castriciano de Souza nasceu em Macaíba-RN, a 15 de março de 1874, e morreu em Natal, a 26 de julho de 1947. Noilde Pessoa Ramalho nasceu em Nova Cruz-RN, a 19 de julho de 1920, e morreu em São Francisco do Sul-SC, a 25 de dezembro de 2010. De épocas distintas, fizeram a opção de ficar solteiros, o celibato perpassou por inteiro suas vidas, pois seus ideais de servir à educação e à cultura preencheram-lhes a principal razão do viver. Ele, além de criador de uma obra educacional das mais fecundas do Rio Grande do Norte, com reflexos no Brasil, dedicou-se de corpo e alma às letras, a ponto de ser alçado ao lugar mais alto das lides intelectuais do Estado. Ela, “síntese histórica e humana de uma grande vocação pedagógica”, teve somente uma estrela guia a guiar-lhe à vida: a educação.
É por demais conhecido que a grande obra educacional de Henrique Castriciano foi a criação da Escola Doméstica de Natal. Homem culto, Castriciano logo percebeu que os movimentos feministas do mundo, no início do século passado, passavam a ecoar no Brasil, e o Rio Grande do Norte não devia ficar à margem, até porque aqui nascera uma das maiores líderes da causa, a escritora Nísia Floresta Brasileira Augusta. Inspirado nessa augusta norte-rio-grandense, ele sonhou em instalar no Estado uma escola voltada à instrução de meninas e moças, porquanto os novos saberes passados às famílias trariam avanços da própria sociedade. Com esse puro ideal, além da busca de tratamento para alguns problemas de saúde, embarcou em um navio no rumo da Europa, onde fiou por um ano, a fim de ver de perto a nova escola feminina que lá florescia, com ênfase em Friburgo, na Suíça. Voltou em 1910, e, a 23 de julho de 1911, fundou a Liga de Ensino do Rio Grande do Norte, mantenedora, a qual, em 1914, criou a Escola Doméstica de Natal.
Os moldes da escola
A escola foi idealizada por Henrique Castriciano de Souza que a partir de uma viagem realizada em 1909 á Europa, conheceu a Escola Doméstica de Ménagère, no Cantão Suíço, com uma educação voltada as mulheres. Tem fundamentação laica, o que era inovador em relação às instituições tradicionais de ensino na época, predominantemente, de cunho religioso. Na Escola Doméstica os costumes culturais deveriam ser preservados, considerando-se o contexto de mudanças, de reestruturação econômica e de modernização. Assim, a Escola Doméstica foi adaptada ao contexto rural do Rio Grande do Norte, com aulas de noção de agricultura, pecuária, por exemplo. A Escola Doméstica foi baseada no cientificismo e solidamente apoiada nos conhecimentos da psicologia e da sociologia. Ele recebeu forte influência de correntes filosóficas na construção do seu ideário educacional na Escola Doméstica, podendo destacar alguns desses filósofos: Rousseau, Pestalozzi, Froebel, Dewey, Anísio Teixera, entre outros.
Hoje ainda representa uma escola feminina e privada, que recebe alunas de classe média alta da capital potiguar, do interior e de outros estados, em regime regular integral (até a 6ª série) e de internato (a partir da 5ª série). Atendendo hoje cerca de 800 alunas, e com seus 90 anos de fundação completados em 2004, a ED hoje é uma escola que marca a cultura Norte Riograndense.
Os tradicionais modelos de internato e semi-internato, modalidades de ensino em que as alunas moravam – sendo liberadas apenas no domingo – ou passavam a maior parte do dia na escola, foi encerrado em 2011. Desde então, alunos e alunas do HC e ED convivem no Complexo de Ensino Noilde Ramalho, onde fazem parte de turmas mistas.
Em sua criação
A especialidade da Escola Doméstica era o trabalho voltado somente para mulheres, onde a atividade doméstica da mulher deveria ser ressaltada. Os saberes transmitidos às alunas sinalizavam para o aprendizado do referencial teórico associado ao prático, com conhecimento baseado nos afazeres corriqueiros de uma dona de casa. Dessa forma, a mulher aprenderia a fazer o gerenciamento prudente do lar e o balanço mensal de seus gastos. Além da atividade doméstica da mulher, de desempenho no lar, a preparação para o Magistério e o ingresso em escolas de Ensino Superior. Continha em seu currículo escolar princípios Higienistas e Positivistas. E tinha especial preocupação em formar mulheres com fortes valores morais da época, num ambiente de cooperativismo e respeito às regras de etiqueta.
A Psicologia na Escola Doméstica
Castriciano a partir de suas ideias de uma nova formação da consciência nacional e da reforma da sociedade acreditava que era necessário implantar essa nova consciência com a Educação Infantil.
Apesar da concepção educacional entendida por Castriciano, ele acreditava ser essencial a formação cientificamente fundamentada das mães e por isso chama atenção para a puericultura, ciência e arte. Uma das atividades desenvolvidas na escola contemplava as noções de puericultura, ou seja, o cuidado de crianças. Contudo, na sua fundação não havia um espaço específico para esse trabalho.
O médico Varela Santiago e professor da Escola Doméstica, fundou em 1919, o Instituto de Puericultura anexo à Escola, servindo como o primeiro curso de puericultura ministrado no Rio Grande do Norte. Esse espaço para o acolhimento das crianças servia como um laboratório para as aulas de Puericultura, abrangendo em seu programa toda a vida da criança, desde o nascimento até o fim da primeira infância.
A partir das aulas de Puericultura as alunas aprenderiam sobre o desenvolvimento da criança, relacionando a teoria com a prática nas aulas desenvolvidas no laboratório de puericultura (creche).
O curso de puericultura da Escola Doméstica de Natal passa a ser considerado modelo em âmbito nacional, para as escolas de ensino para as mulheres. Esse espaço de atendimento a criança, enraizado de uma concepção cientificista de educação à infância, recebia as crianças que acabavam servindo como objeto de estudo para as “futuras mães”.
O primeiro curso de Puericultura do Rio Grande do Norte seria oferecido nesta instituição, representando uma inovação na educação deste estado, e tinha como tema a Psicologia experimental aplicada à educação infantil. Este curso era ministrado no próprio laboratório de puericultura da escola. Entre 1923 e 1925, ocorreu a implantação da disciplina Psicologia Pedagógica, na qual eram ministrados conteúdos como: o desenvolvimento infantil, as escalas psicométricas, a formação dos hábitos, a organização nervosa, a educação moral e estética. Na década de 1940 surgiria a disciplina de Psicologia Geral, que seria ensinada na escola até o início dos anos 1970, administrada pelo educador e intelectual Antônio Fagundes. Porém, na década de 1970 chegaria o fim do ensino da Psicologia na Escola Doméstica de Natal. Esta, a partir da década de 1990, passaria a contar com psicólogos escolares em seu quadro profissional.
Nos dias de hoje
O modelo permanece até hoje, com as transformações exigidas pela evolução social. Assim, atualmente, a escola funciona com jovens desde um ano de idade até o ensino médio. Até a Educação Infantil, as turmas permanecem mistas, no Colégio Henrique Castriciano. Após a primeira série do Fundamental, os pais podem optar pela matricula na escola só para meninas. Até a quarta série, o currículo é o mesmo da escola mista. A partir da quinta série, até o final do Ensino Médio, entra em cena modelo destinado à formação doméstica das alunas.
Diretoria
Na sua jornada, a Escola teve apenas diretoras mulheres. Uma delas foi a professora e ex-aluna Noilde Ramalho, que esteve à frente da instituição por nada menos que 65 anos. Sob sua gestão, foi criado o colégio misto Complexo Educacional Henrique Castriciano e o Centro Universitário do Rio Grande do Norte, UNI-RN, instituição de nível superior. Reconhecida por sua atitude vanguardista, corajosa e de forte liderança, a professora Noilde foi protagonista de um verdadeiro feito para sua época.
Foi um caso de pleno sucesso educacional, pois, além de levar o nome da ED ao topo de modelo do ensino feminino no nosso Estado e no Brasil, sob sua inspiração a Liga de Ensino criou um colégio misto, Complexo Educacional Henrique Castriciano, e a faculdade FARN, depois transformada em UNI-RN. Em sua homenagem, o Complexo de Ensino Noilde Ramalho reúne ED, HC e UNI-RN.
No raiar da adolescência, Noilde Ramalho veio estudar na Escola Doméstica de Natal, na condição de aluna interna. Terminou o curso em 1939, e, já no ano seguinte, passou a integrar o corpo docente da Escola. Foi professora e Em 1945, o Presidente da Liga de Ensino, à época, Dr. Varela Santiago, confiou a direção da Escola Doméstica de Natal à Professora Noilde Ramalho, interinamente. A diretora “interina”, que ficou na função por 65 anos.
Durante sua gestão, “Dona Noilde”, como era chamada, criou o colégio misto Henrique Castriciano, que faz parte do Complexo Educacional que leva o nome de Noilde. Em 1957, criou a Associação de Ex-Alunas, presidida atualmente por Márcia Marinho. Foi sucedida por Dona Margarida Cabral, que também faleceu , atualmente a diretora é a Lucilla Ramalho .
O mês de julho nos aviva a lembrança dessas duas figuras de destaque na história da instituição. Noilde Ramalho faria 95 anos no dia 19 deste mês em curso, e, a 26, ocorre o aniversário de morte de Henrique Castriciano. Entre essas duas datas, dia 23, celebra-se o 104º aniversário de criação da Liga de Ensino do Rio Grande do Norte. Ao longo desse tempo, a Liga – entidade sem fins lucrativos – tem cumprido muito bem seu papel na prestação de serviços educacionais de qualidade, sem olvidar das honras devidas aos seus maiores benfeitores do passado, em especial a Henrique Castriciano e a Noilde Ramalho.
Fontes: Wikipedia; Tribuna do Norte; Uni/RN; SENAC; EDHC; Brechando; Blog da Juliska; Natal de Ontem; EDUCAR PARA O LAR, EDUCAR PARA A VIDA: cultura escolar e modernidade educacional na Escola Doméstica de Natal (1914 – 1945); Por Andréa Gabriel F. Rodrigues; A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTE NATALENSE por Sarah de Lima Mendes e Antônio Basílio Novaes Thomaz de Menezes.
Eu fui aluna da escola Doméstica nos anos 70. Não sei com certeza a data certa. Tive sempre uma vida muito interessante e com grandes realizações na área intelectual, moral e sociológica. Sempre tenho a escola Doméstica no meu pensamento e gratidão. Sou Brasileira e vivo nos USA. Obrigado a vocês pela boa educação e valores morais que recebi.
Vc foi minha contemporânea! Estudava na Escola de 1971 a 1973. Esse ano minha torna faz Jubileu de ouro. Gostaria de ter contato com vc! Abraço!
Fui graduada na Escola Doméstica de Natal em 1973. Por três anos consecutivo fui presidente do Grêmio Litero Musical Alta de Alta de Sousa. Sou Piauiense e moro em Teresina. Arquiteta, Urbanista, Decoradora, Design, Poeta e Escritora. Publiquei um livro denominado “BUSCADORA” , que tem um capítulo sobre a Escola e onde vou laçar lá, durante comemoração Jubileu de Ouro da minha turma e 109 da amada Escola Doméstica de Natal. Tudo que conquistei nessa minha vida foi graças a educação primorosa que recebi da Escola e do Convívio com a querida Noilde Ramalho. Sou do amor e gratidão a essa escola!
Haydee Ferreira
@haydeeferreira@gmail.com
Gratidão, amor e respeito!
Caros Senhores,
Há um equívoco na descrição da foto da Diretora da Escola Doméstica no ano de 1925. A foto é de uma tia minha, já falecida, cujo nome é Caetana de Brito Guerra, mas era conhecida com Santa Guerra. Era filha de Felipe Neri de Brito Guerra, que foi um dos Presidentes da Liga de Ensino (acredito que o quarto). Ele tb integrou o corpo docente da Escola Doméstica. Está na foto publicada por vcs .