Igreja Presbiteriana de Natal
Somos santuário do Deus vivo. Como disse Deus: “Habitarei com eles e entre eles andarei; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (2Co 6.16, NVI).
Representa a primeira igreja evangélica erguida em Natal e um marco na expansão do chamado protestantismo na cidade. Embora a presença da Igreja Presbiteriana em Natal remonte a 3 de fevereiro de 1896, tem sua nave (prédio principal onde acontecem os cultos) datado também do final do XIX, data oficial da sua solene instalação no município, a efetiva inauguração do templo só ocorreu em 3 de setembro de 1898, em sede própria localizada no atual Largo Junqueira Aires, sob a direção do pastor norte-americano William Calvin Porter. Aquele que, nas palavras de Cascudo (1999, p. 385), “é a própria história do protestantismo na Cidade do Natal e Estado do Rio Grande do Norte”.
O conjunto arquitetônico, sobretudo sua linda fachada, faz parte do patrimônio arquitetônico da cidade, sendo uma das obras visitadas em caminhadas históricas promovidas da capital. A fachada do prédio principal possui elementos típicos de construções religiosas ocidentais (torre, portas laterais, nártex/átrio, portas grandes) e em países lusitanos (as grandes janelas na fachada e nas laterais). Suas paredes são grossas e seu piso hidráulico também nos remete a uma arquitetura antiga. Os pavilhões anexos são da segunda metade do século XX.
Alguns outros elementos arquitetônicos são mais recentes, mas contribuem para o ar histórico do prédio, como a galeria, usada algumas vezes para canto coral, a cruz em vitral, os bancos e o mobiliário do púlpito (para ser mais preciso, púlpito é o móvel usado para o pregador apoiar Bíblia e anotações, contudo, por metonímia, chama-se a plataforma onde fica o móvel de púlpito).
Na plataforma, usada nos cultos à noite, há uma série de peças em madeira, que passam ar de solenidade: as cadeiras, nas quais senta o conselho da igreja nas celebrações da Ceia do Senhor, o batistério e o púlpito. Abaixo e na frente da plataforma, ficam outro púlpito, usado nas celebrações no domingo pela manhã, a mesa da Santa Ceia, o piano, outros instrumentos musicais e os equipamentos de multimídia.
Trata-se da mais antiga igreja organizada no Rio Grande do Norte. Toda essa riqueza histórica ajuda a perceber que a edificação é parte de uma grande e linda história de pregação do Evangelho em terras potiguares.
NOVOS CAMINHOS
“Por definição, a tradição reformada mantinha as modalidades verbais de modo tão central que o aspecto visual foi rejeitado […] Não havia lugar para outros sentidos – visão, paladar, olfato. A concentração devia estar apenas na Palavra por intermédio de palavras, não de visão”.
John Dillenberg
O simbolismo religioso deu forma e diferença às obras arquitetônicas. As construções humanas, portanto, não são apenas funcionais. Elas também são moldadas pelas ideias de uma sociedade, suas crenças e seus valores e sua organização econômica e política (ROSENDAHL, 2009).
Houve uma época em que uma construção se destacava das demais: o templo religioso. As igrejas marcaram a paisagem das nossas cidades. O ar de mistério que as envolvia convidava o transeunte a adentrar o seu recinto e experimentar a presença do transcendente, ainda que por um monopólio para um breve instante.
Durante milênios coube a Igreja Católica o papel pedagógico e espiritual. Imagens relacionadas com cenas bíblicas, destes espaços. Nas igrejas católicas a arte sempre desempenhou evangelhos, a Virgem Maria e a vida dos santos, tinham por função despertar a religiosidade dos fiéis e fazer com que acompanhassem plena mente as celebrações litúrgicas celebradas em latim. Era uma excelente forma de comunicar a mensagem do Evangelho e as tradições da Igreja a uma população majoritariamente analfabeta. É um fato que a civilização ocidental cresceu aos pés das grandes catedrais góticas.
REVOLUÇÃO ESPIRITUAL
No século XVI, uma revolução espiritual e social diminuiu o der da Igreja Católica e mudou a paisagem das cidades. Esta revolução é conhecida como Reforma Protestante e teve como fundamento a ideia de que Deus, infinitamente distante do mundo, podia ser reverenciado diretamente, sem a necessidade de uma hierarquia de sacerdotes ou intermediários (TILLICH, 2009). A principal consequência da Reforma Protestante, em geral, e do Concílio de Trento (1545-1563), em particular, foi a fragmentação da cristandade ocidental (LINDBERG, 2017).
A Reforma não se limitou à religião: atingiu todos os aspectos da cultura ocidental: trabalho, economia, música, arquitetura e artes plásticas (LINDBERG, 2017). Com o fim da unidade medieval, católicos e protestantes, passaram a fortalecer seus respectivos sistemas teológicos na busca por conquistar para si a direção religiosa, politica e cultural. As três vertentes mais importantes do protestantismo histórico são os luteranos na Alemanha, influenciados pelas ideias de Martinho Lutero (1483-1546); os presbiterianos na Suíça, seguidores de João Calvino (1509-1684) e os anglicanos de Henrique VIII (1491-1547), ala protestante moderada da Inglaterra que manteve muitos aspectos do catolicismo rejeitado pelos demais.
A fé protestante não poderia permanecer nos moldes iconográficos da Igreja Católica. Não demorou muito para que surgisse uma “estética protestante”. A estética protestante era predominantemente asceta e minimalista, centrada na busca de Deus por meio da fé e da leitura da Biblia e, desde o início conviveu com uma forte tendência iconoclasta.
No calvinismo a ruptura com a tradição católica (organização, liturgia e doutrina) foi ainda mais radical que entre luteranos e anglicanos. O chamado “protestantismo reformado” surgiu na Confederação Suíça e seus principais líderes foram Ulrico Zuinglio (Zurique) e João Calvino (Genebra). Os discípulos de Calvino desenvolveram uma forma de organização eclesiástica na Inglaterra conhecida como presbiterianismo.
CALVINISMO NO BRASIL
A presença calvinista no Brasil começou com a “França Antártica”, no século XVI, na Baía da Guanabara, através dos calvinistas franceses, os huguenotes. Durante um breve tempo foi criada uma colônia protestante que chegou a ter dois pastores calvinistas, Pierre Richier e Guillaume Chartier, enviados a partir da recomendação do próprio João Calvino pela Igreja Reformada de Genebra. O empreendimento fracassou e os calvinistas foram mortos ou expulsos do Brasil. Apesar disso, a França Antártica tornou-se a primeira tentativa de implantação de uma igreja
reformada na América Latina.
A segunda tentativa aconteceu no século seguinte, durante a invasão holandesa do Nordeste. Surgia a “Nova Holanda”. Em 1633, Natal foi
invadida pelos batavos. Durante 21 anos a rotina da pequena dada: Natal passou a ser Nova Amsterdã e o Forte dos Reis Magos passou a se chamar Castelo de Keulen. Até mesmo a igreja matriz de Nossa Senhora da Apresentação passou por uma radical transformação tornando-se em um templo calvinista. Os holandeses removeram as imagens, desfizeram-se de altar e dos paramentos e vestes sacerdotais. Colocaram no centro da nave um exemplar da Bíblia em um púlpito alto, e logo abaixo a pia batismal e uma mesa para a celebração da “Santa ceia”. Com a expulsão dos holandeses, Natal voltou a sua vida normal e, em pouco tempo, restava nada da “Genebra brasileira”. Foi somente a partir da segunda metade do século XIX que os calvinistas norte-americanos (presbiterianos) conseguiram se instalar definitivamente no território brasileiro.
A mudança aconteceu com a vinda da família real para o Brasil em 1822. Um acordo firmado entre Portugal e Inglaterra permitiu aos ingleses praticarem, privadamente, o culto anglicano no Brasil. No entanto, a Constituição de 1824, em seu artigo 5, proibia que os templos anglicanos tivessem qualquer aspecto exterior que lembrasse um templo (DUNCAN, 2003, p. 48). Foi considerado crime a construção de uma Catedral Anglicana e Luterana no Brasil. Isto era visto como uma “Ofensa à moral, à religião e bons costumes “com pena de multa dos fiéis e demolição da arquitetura” (DUNCAN, 2003). Esta legislação profundo impacto na visão arquitetônica dos templos protestantes a remeados da segunda metade do século XX.
A IGREJA EM NATAL
O presbiterianismo começou a crescer no Brasil, em 1859, com o envio dos primeiros missionários para o Rio de Janeiro: o jovem pastor
norte-americano Ashbel Green Simonton (1833-1867). A missão foi bem sucedida, e já em 1862, foi fundada a primeira igreja presbiteriana no Brasil (DUNCAN, 2003).
A história conta que o Rev. Ashbell G. Simonton – primeiro missionário presbiteriano no Brasil – e seus companheiros eram todos da Igreja Presbiteriana do norte dos Estados Unidos. Em 1869 chegaram os primeiros missionários da igreja do sul: George N. Morton e Edward Lane. Eles fixaram-se em Campinas-SP, região onde havia muitas famílias norte-americanas que vieram para o Brasil após a Guerra Civil no seu país (1861-65). Os obreiros da Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos também foram os pioneiros presbiterianos no nordeste e norte do Brasil (de Alagoas até a Amazônia). Os principais foram John Rockwell Smith, da igreja do Recife (1878); De Lacy Wardlaw, pioneiro em Fortaleza; e o Dr. George W. Butler, o “médico amado” de Pernambuco. O mais conhecido dentre os primeiros pastores brasileiros do nordeste foi o Rev. Belmiro de Araújo César, patriarca de uma grande família presbiteriana. Enquanto isso, os missionários da Igreja Presbiteriana do norte dos Estados Unidos também continuavam o seu trabalho, auxiliados por novos colegas. Seus principais campos eram Bahia e Sergipe, onde atuou, além de Alexander Schneider e William Blackford, o Rev. John Benjamin Kolb. Entre os novos pastores “nacionais” desse período estavam Eduardo Carlos Pereira, José Zacarias de Miranda, Manuel Antônio de Menezes, Delfino dos Anjos Teixeira, João Ribeiro de Carvalho Braga e Caetano Nogueira Júnior. As duas igrejas norte-americanas também enviaram notáveis missionárias educadoras: Mary P. Dascomb, Elmira Kuhl, Nannie Henderson e Charlotte Kemper.
Com o sucesso no Rio de Janeiro a missão presbiteriana se expandiu para o Nordeste e, em 1879, chegou ao Rio Grande do Norte, na cidade de Mossoró, através do pastor missionário John Rockwell Smith que enviou os colportores Francisco Filadelfo de Sousa Pontes e João Mendes Pereira Guerra para atuarem no Estado. Eles trabalharam na venda de bíblias e outras literaturas evangélicas. Não demorou muito para que chegasse a Natal.
Em cumprimento das Sagradas Escrituras, em 1879, o pioneiro do evangelho no nordeste brasileiro e pastor em Pernambuco, olhando para o Rio Grande do Norte, enviou dois homens comprometidos com a divulgação do Evangelho — Francisco Filadelfo de Sousa Pontes e João Mendes Pereira Guerra — com o objetivo de fazer circular a Palavra de Deus e folhetos evangelísticos. Não houve conversões nesse período, mas animou grandemente os simpatizantes do evangelho do RN.
Em 1883 o missionário norte-americano DeLacey Wardlaw, enviado pela Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, fez a primeira pregação evagelística em Mossoró. Dois anos depois, em 1885, a primeira igreja presbiteriana da cidade foi organizada. Podemos dizer que o berço da Igreja Presbiteriana do Brasil, em terras Potiguares, é Mossoró.
Em 1887 , o missionário Wardlaw visitou a cidade de Natal, acompanhado por Belmiro de Araújo César, o terceiro pastor presbiteriano brasileiro, que na época trabalhava em João Pessoa. Na ocasião, o professor Joaquim Lourival Soares da Câmara converteu-se ao Protestantismo e passou a difundir a Fé Reformada em Natal.
Em 1893, o Presbitério de Pernambuco, da Igreja Presbiteriana do Brasil, enviou os Reverendos Juventino Marinho e William Calvin Porter para visitar a capital do Estado. Consequentemente, o tenente Genésio Xavier Pereira de Brito, delegado da cidade, também se converteu.
As primeiras convenções se deram através da ação dos colportores, leigos que distribuíam bíblias e outras literaturas protestantes (COSTA, 2009).
Ainda em 1893, chegaram a Natal, enviado pelo Presbitério de Recife, o Rev. Calvin Porter.
Mas só em 1895 é que a nossa capital passou a ter um pastor definitivo, foi o Rev. William Calvin Porter. Em 1895, os missionários presbiterianos começaram a publicação de um jornal, intitulado O Século, sendo seu redator-chefe.
No ano seguinte, foi formalmente organizada a primeira congregação presbiteriana de Natal que teve como pastor o Rev. William Calvin Porter.
A presença de Porter foi vital para o sucesso e crescimento do presbiterianismo na cidade. Os presbiterianos se destacaram por sua influência nas elites econômica e intelectual da cidade e por seu trabalho educacional. Entre os alunos que frequentaram o “Colégio Americano”, criado pelo Rev. Porter, estava o futuro presidente do Brasil, João Fernandes Campos Café Filino (1889-1970).
Não demorou o Rev. Porter passa a sentir a necessidade de um local fixo para as reuniões. Inicialmente, os convertidos alugaram um prédio, que seria ocupado futuramente pela Prefeitura Municipal. Posteriormente, conseguiram um terreno desocupado, onde seria construída a atual Igreja Presbiteriana. A construção da primeira igreja protestante do estado foi um momento significativo para a história da religião no estado.
De acordo com Cascudo (1999, p.385), “a mais velha notícia do protestantismo na cidade do Natal é do ano de 1879 ou 1880, quando os missionários leigos Francisco Filadelfo de Sousa Pontes e João Mendes Pereira Guerra visitaram a terra”. Tal visita entusiasmou os raros simpatizantes aqui existentes.
Passaram oito anos sem que ninguém visitasse o campo do RN. Em 1887, os Rev. Belmiro de Araújo César e o Dr. De Lacy Wardlaw estiveram em Natal, realizando uma série de conferências no Teatro Santa Cruz e na residência do Dr. Hermógenes Joaquim Tinoco. Surgiu a primeira conversão, o professor Joaquim Lourival Soares da Câmara, filho ilegítimo do capitão Joaquim Lourival, o qual passara a estudar a Bíblia ao entrar em contato com Antônio Eustáquio, resolveu tornar-se protestante com a visita do Rev. Belmiro César.
Mas foi a partir de 1893, com as pregações dos reverendos, William C. Porter eJuventino Marinho da Silva, que o protestantismo avançou na capital potiguar. Dois anos depois, Porter fixou residência na cidade e conseguiu com o imigrante canadense Alexandre James O’Grady, a doação do terreno no qual ergueu o templo da primeira Igreja Presbiteriana de Natal (CASCUDO, 1999).
Em 1893, chegaram a Natal o Rev. Calvin Porter, que foi recebido com alegria pelo irmão Joaquim Lourival e um grupo de congregados. Permaneceu por oito dias em Natal, celebrando cultos num armazém na Rua Visconde do Rio Branco e em casa dos crentes Genésio Xavier da Silva Brito e Joaquim Lourival. Após o regresso de Porter a Recife, o professor Panqueca (apelido do irmão Joaquim Lourival) continuou a celebrar cultos aos domingos. Por motivo de perseguição, o Rev. Porter foi mandado pelo Rev. Houston do Recife para Fortaleza, fato que trouxe grande tristeza ao seu coração, conforme suas palavras: “Quando li a carta, meu desejo foi resignar o cargo de missionário, porém disse a Kate: Eu amo o Brasil e Deus tem trabalho para mim aqui.” Como o campo de Fortaleza não comportava dois missionários, e os irmãos de Natal clamavam por ajuda, o Rev. Wardlaw enviou Porter a Natal, isso só foi possível porque Dr. Houston tinha sido substituído pelo Dr. Chester como líder da missão.
No dia 24 de janeiro de 1895, pisava em solo natalense o “Missionário de Cabelos Brancos”, recebido com alegria pelos irmãos. Começou a pregar nas casas dos crentes, em pouco tempo as salas e janelas estavam cheias de gente.
Receberam autorização das autoridades para usar as escolas públicas e, num desses cultos ao pregarem sobre Jesus e a mulher samaritana, o advogado Diógenes Nóbrega converteu-se ao evangelho. Sua esposa Katherine H. Porter, fundou a primeira escola evangélica do nordeste, o Colégio Americano de Natal (1895).
No dia 08 de abril de 1895, foram recebidos em Batismo e profissão de fé 33 adultos e 18 crianças foram batizas, dentre elas estavam: Diógenes Nóbrega, Coronel Joaquim Soares Raposo da Câmara, José Alexandre Seabra de Melo (conferente da alfândega), Coronel Pedro Lima, professor Joaquim Lourival e João Pereira Nobre.
O Sr. Gaspar Monteiro alugou o prédio onde foi posteriormente construída a Prefeitura Municipal, a fim de serem celebrados os cultos no local. Ao lado, existia um terreno desocupado, pertencente ao Sr. James O’Grady. Foi nomeada uma comissão para falar com o Sr. O’Grady, que cordialmente recebeu os irmão e os orientou a criar uma pessoa jurídica, pois faria a doação do terreno. Glória a Deus! Os irmãos se alegraram muito! No dia 11 de maio de 1895, foi lavrada a escritura do terreno. Deu-se início a mobilização para a construção do templo.
A INSTALAÇÃO DA IGREJA
A IPN instalou-se oficialmente no dia 3 de fevereiro de 1896, por uma comissão composta do Rev. Henderlite e do Presbítero Minervino Lins. O Rev. William Calvin Porter fez a “instalação formal da igreja” e, no dia 3 de setembro do mesmo ano, foi iniciada a construção do templo. A igreja foi erguida com recursos da própria comunidade e enfrentou a reação, algumas vezes violenta, de católicos radicais que chegaram a apedrejar a casa do Rev. Porter, ficando inteiramente quebradas as vidraças das janelas. Durante a construção do templo, as paredes eram derrubadas. Mas nada disso impediu sua edificação. Foram arrolados 153 membros.
Neste período, o Sr. Antônio Eustáquio, irmão do padre da paróquia de Muriú, o Lutero do RN, Começou a examinar as Sagradas Escrituras e concluiu que a Igreja Romana não pregava as verdades eternas e os ensinamentos de seu irmão padre divergiam daqueles contidos na Bíblia. Ele começou, então, a pregar sua fé, combatendo o culto das imagens, a missa, confissão auricular, o purgatório e demais dogmas da Igreja Romana. Não possuía, ainda, a mínima noção acerca do protestantismo, mas acreditou na existência de uma religião que exprimisse o Evangelho puro.
Nascia assim o primeiro templo protestante da cidade. Desde então a igreja está situada na rua Largo Junqueira Aires, n. 533 – Cidade Alta, Natal-RN, É importante lembrar que, na segunda metade do século XIX, Rio Grande do Norte não apresentava características urbanas semelhantes aos estados da Paraíba e Pernambuco. Natal era uma cidade pobre com cerca de 16 mil habitantes, limitando-se aos bairros da Ribeira e da Cidade Alta.
Em 1897, a foi criado o Colégio Americano em Natal, formado pelas missões presbiterianas para auxiliar na educação da cidade e como meio de evangelização. Antes porém, de inaugurar a sede da Igreja, o obstinado pastor americano William Calvin Porter fundou um jornal para difundir a sua doutrina, e um colégio para educar os filhos dos convertidos, segundo os preceitos da religião.
A partir do trabalho evangelístico e plantação de igrejas, o Presbiterianismo se espalhou pelo estado, tornando-se uma das maiores famílias denominacionais protestantes históricas no Rio Grande do Norte.
A Igreja Presbiteriana do Brasil é a maior denominação presbiteriana no Rio Grande do Norte. É constituída no Estado pelo Sínodo Rio Grande do Norte, que possui 4 presbitérios e aproximadamente 41 igrejas e congregações federadas em todo o Estado.
ARQUITETURA
Havia pouca infraestrutura urbana, os serviços públicos e privados eram escassos e precários. A Igreja Presbiteriana ocupava um dos lugares nobres da cidade, sendo anterior, inclusive, a construção do prédio da atual prefeitura. De sua torre era possível contemplar o rio Potengi e ter uma vista privilegiada da vida da cidade, que mal começava a se desenvolver.
O projeto da Primeira Igreja Presbiteriana foi feito pela senhora Catherine Porter, esposa do reverendo Porter. Catherine Hall Porter possuía formação técnica em desenho e criou seu projeto influenciado pelas igrejas existentes no interior dos EUA. A arquitetura religiosa protestante é muito variada. Não existe um estilo arquitetônico particular, mas sim várias características que reaparecem de um século para outro e de um estilo para outro; apesar disso a proibição de estátuas e pinturas religiosas, uma reorganização dentro da própria igreja que privilegia o púlpito e a mesa da comunhão em vez do altar são algumas das marcas mais significativas. Os que seguiram rigorosamente os ensinamentos de Calvino não viam necessidade de espaços especiais, em particular, de rituais ou objetos elaborados que pudessem ser veículos da estética reformada. O sermão passa a ser visto como o centro e o essencial da liturgia.
Na arquitetura, o resultado foi o surgimento de um estilo simples de arquitetura e adoração”, adequada aos princípios teológicos e à realidade econômica dos novos convertidos. Um destes estilos foi o “gótico dissidente” (Dissenting Gothic) um padrão arquitetônico que surgiu associado aos dissidentes ingleses, ou seja, protestantes não afiliados à Igreja da Inglaterra. O estilo nasceu no século XIX sob influência da arquitetura neogótica britânica.
A principal característica deste estilo era a ênfase na funcionalidade do templo e no uso criativo dos recursos disponíveis, na relação entre forma e função, buscando maneiras novas, mas adequadas de introduzir elementos não encontrados nas igrejas góticas medievais, de modo a criar interiores que atendessem às necessidades congregacionais particulares da capela independente ou não-conformista. O “gótico dissidente” foi o estilo predominante dos presbiterianos, metodistas e capelas episcopais do interior.
Os batistas preferiram um estilo mais próximo ao neoclássico. Por inúmeras razões a Igreja Presbiteriana experimentou um movimento inverso ao da Igreja Católica Romana. Muitos líderes achavam que havia chegado a hora de superar as imposições iconográficas da lei de 1824. O maior exemplo dessa mudança é a Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, projetada pelo arquiteto Ascânio Viana que desenhou o edifício em estilo neogótico. A Catedral Presbiteriana se inspirou na Cathédrale Saint-Pierre, em Genebra, Suíça, conhecida como a “Igreja de Calvino”: “O interior enxuto do templo, os vitrais multicoloridos e a ausência de muitos adornos possivelmente serviram de inspiração para o projeto do engenheiro Ascânio Vianna” (ROCHA, 2019).
CONSTRUÇÃO
Iniciada a construção não se poupou material. As bases eram tão firmes e sólidas que, dizia-se, “poderiam suportar a passagem de uma locomotiva
cima do templo e não abalaria as suas estruturas”. Foi um projeto gigantesco que durou 14 anos.
Em 1911 a cidade de Natal, possuía 28.477 habitantes e vivenciava diversas intervenções urbanas. Governava o Rio Grande do Norte, Alberto Maranhão, o mecenas potiguar, responsável pela grande reforma do Teatro, à época, Carlos Gomes, e a urbanização da Praça da República, hoje Praça Augusto Severo. O serviço de bondes elétricos, a iluminação pública, o embelezamento das principais vias, exemplo da antiga avenida Junqueira Aires, instalação de um relógio importado de Paris, a Balaustrada com postes ornamentais ao longo do trecho compreendido entre a antiga Square Pedro Velho, Escola Atheneu, Igreja Presbiteriana, antigo Congresso Legislativo, foram algumas de suas obras. Tudo no esforço de colocar a urbe, de dunas, rio e mar nos trilhos da modernidade.
Inaugurado ainda inacabado em 1934 ele só foi totalmente concluído em 2002. Construída “para a maior glória de Deus”, entre 1960 e 1980, a catedral passou por uma reforma que a deixou ainda mais majestosa sendo hoje, ironicamente, uma das mais belas igrejas neogóticas do Brasil.
No caso da igreja de Natal não é possível identificar um estilo arquitetônico definitivo no templo. O projeto original da igreja planejado por Catherine Hall Porter era simples e despojado. Tanto por questões religiosas, quanto econômicas. Havia uma única torre de tijolos e uma nave de madeira, sem espaço para altar, crucifixo ou vitral. Apenas um grande púlpito em forma oval. O quadro era completado por uma pintura naturalista de um rio. Foi somente nas décadas de 1960 e 1970 que o templo ganhou um aspecto mais imponente e simbólico. Um aspecto introduzido no templo nesse período foi a colocação de uma pirâmide na torre central.
A justificativa era que, por meio dela, a igreja “pudesse ser vista por toda a cidade” e não apenas “ver toda a cidade”, como imaginou Catherine Porter. Assim, o templo experimentou uma redescoberta da estética e o interior foi completamente reformado. Foi erguida uma nova torre e introduzido um belo vitral, com uma cruz colorida na nave da igreja iluminando o púlpito e a mesa da comunhão. Estas reformas acabaram renovando a aparência do, já secular, templo presbiteriano natalense.
DA IGREJA PARA EDUCAR O MUNDO
Djalma Maranhão, descendente de Jerônimo de Albuquerque Maranhão, fundador da cidade, defendeu a democratização da educação com o acesso do povo às fontes do saber. Implantou o primeiro telefone público da cidade, criou a campanha pioneira “De Pé no Chão Também se Aprende a Ler”. Esse processo de alfabetização foi popularizado em barracos montados para servirem de salas de aula e foram alfabetizadas vinte e cinco mil crianças.
Interessante saber que esse processo foi alavancado no início de 1961 a partir de uma reunião do Comitê Nacionalista das Rocas, presidido pelo então presbítero e funcionário dos Correios José Fernandes Machado, meu ex-professor de português do Colégio 7 de Setembro. A referida reunião visava discutir a erradicação do analfabetismo nas Rocas e foi realizada na Igreja Presbiteriana do bairro. O secretário municipal de educação Moacyr de Góes estava documentado com estatísticas do crescimento das escolinhas e, a certa altura, admitiu a má notícia de que a prefeitura não teria recursos para fazer a sonhada rede de escolas municipais. Longa foi a discussão e pesada a cobrança dos compromissos assumidos na campanha de Djalma Maranhão. Lá pras tantas, no meio daqueles quarenta homens e mulheres, alguém disse:
Se não tem dinheiro pra fazer uma escola de alvenaria, faça uma escola de palha, mas faça a Escola!
A discussão pegou fogo. No final submetida a votos a escola de palha foi aprovada pelo Comitê. A proposta foi rapidamente aprovada pelo prefeito que pessoalmente acompanhou os trabalhos de montagem da primeira escola nesses moldes, dirigido pelo próprio marceneiro da prefeitura. Cada unidade de palha era denominada Acampamento Escolar e se constituía num pavilhão de 30 metros por 8 metros divididos em 4 classes separadas por quadros negros e quadros murais, sem paredes laterais para evitar distorção acústica e permitir ventilação adequada.
Foi editado um livro para o Programa “De Pé no Chão Também se Aprende a Ler” inspirado na experiência cubana de erradicação do analfabetismo. O boletim da revista UNICEF 27/62 elogia a campanha como solução realizável no combate ao analfabetismo no Terceiro Mundo.
FONTES:
A IGREJA PRESBITERIANA DE NATAL E O NOSSO PRÉDIO (por Rev. Flávio Américo de Carvalho) – Igreja Prsbiteriana de Natal – https://www.ipnatal.org.br/2019/03/12/a-igreja-presbiteriana-de-natal-e-o-nosso-predio-por-rev-flavio-americo-de-carvalho/ – Acesso em 14/04/202.
Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.
CASCUDO, Luís da Câmara. História da Cidade do Natal. Natal: RN Econômico,1999.
Dos bondes ao Hippie Drive-in [recurso eletrônico]: fragmentos do cotidiano da cidade do Natal/ Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro. – Natal, RN: EDUFRN, 2017.
Memória religiosa da cidade de Natal: coletânia de ensaios.? Irene Van den Berg (Org.). – Natal/RN: Editora, 2021.
Memória minha comunidade: Alecrim / Carmen M. O. Alveal, Raimundo P. A. Arrais, Luciano F. D. Capistrano, Gabriela F. de Siqueira, Gustavo G. de L. Silva e Thaiany S. Silva – Natal: SEMURB, 2011.
Nossa História – Igreja Presbiteriana de Natal – https://www.ipnatal.org.br/nossa-historia/ – Acesso em 14/04/2022.
Natal ontem e hoje / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal (RN): Departamento de Informação Pesquisa e Estatística, 2006.
Presbiterianismo no Rio Grande do Norte – Wikipédia – https://pt.wikipedia.org/wiki/Presbiterianismo_no_Rio_Grande_do_Norte – Acesso em 14/04/2022.
BIBLIOGRAFIA:
COSTA, Wiclife de Andrade. I In: BUENO, Almir de Carvalho (Org.). Revisitando a História do Rio Grande do Norte. EDUFRN – Editora da UFRN, 2009.
DUNCAN, Alexander Reily. História documental do protestantismo no Brasil. 3 ed. São Paulo: Aste, 2003
LINDBERG, Carter. História da reforma. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2017
MELO, Veríssimo de. . Natal: Conselho Estadual do Rio Grande do Norte, 1976. Natal século XX. Calendário Cultura
Natal: história, cultura e turismo Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal: DIPE – SEMURB, 2008.
ROCHA, K.R.B. Testemunho e transcendência: Relação entre imagem e palavra nos vitrais da Catedral Presbiteriana do Rio. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História da Arte) – Escola de Belas Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.
ROSENDAHL, Zeny. Hierópolis: o sagrado e o urbano. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2009.
SILVA, Kelson de Oliveira Silva. Dinâmica econômica do Rio Grande do Norte e o panorama urbano de Natal no século XIX. Natal, SD.
TILLICH, Paul. Protestantismo e estilo artístico In Teologia da Cultura. São Paulo: Fonte editorial, 2009.
A quem interessar possa, deixo aqui meu agradecimento por esse acervo cultural dessa cidade onde nasci, disponibilizado de maneira gratuita, AQUI, NESSA VIA. Fiz parte de bom período nesse contexto, quando tive o privilégio de conhecer e ter levado um PUXAO DE ORELHA, pelo saudoso, Professor LUIZ SOARES, coisa que ele gostava muito de fazer com aqueles alunos que costumavam chegar atrasados. Pertenci ao grupo de escoteiro, graduação LOBINHO. Periodicamente Professor LUIZ SOARES preoferia PALESTRAS para os escoteiros, e sempre foi muito aplaudido, ao término. Suas palestras eram ensinamentos de MORAL E CIVICA, o que carrego em meu DNA de aluno desse SAUDOSO E IMORTAL estabelecimento de ensino e também de ALUNO desse PROFESSOR. Poderia continuar aqui, com certeza, declinando vivências e acontecimentos marcantes. QUEM SABE, UMA OUTRA OPORTUNIDADE.