Mãos à obra: As origens das intervenções urbanas em Natal

Desde o início do século XX há uma certa preocupação com o controle da expansão físico-territorial urbana de Natal. Foi neste período que a cidade de Natal começou sua expansão urbana.

Fato esse, devido ao Plano Urbanístico, idealizado pelo Presidente da Intendência de Natal, Joaquim Manuel Teixeira, e executado pelo italiano Antonio Polidrelli (PMN/SEMURB, 2008).

A cidade teve, entre os anos de 1901 a 1940, três propostas de intervenções urbanísticas conforme aponta Silva (2003). Segundo Ferreira (1987, p. 43):

 O surgimento de vários planos, em parte implantados, direciona o parcelamento do solo e de uma determinada área da cidade até a década de 1940.

E como era Natal?

Sua obra poética permeia o irônico e o romantismo, apresentando um lapidar da palavra. Tarcísio Gurgel, conhecedor das letras potiguares, em informação da literatura potiguar apresenta um belo poema do poeta da Natal do Século XIX.

SONETO
Inda cabe rigor neste teu peito?!
Anália, de afligir-me ainda não cansas?!
Cruel, não sentes, ímpia, não alcanças
De tua ingratidão o triste efeito?!
Teu duro coração já satisfeito
Acaso não estará dessas provanças,
Que me dão caprichosos esquivanças,
Com que pisas de amor doce preceito?!
Entre surdos arquejos de agonia,
Vou a vida de angústia acabando,
Que um ai! um só sorriso salvaria.
Mas, embora ferina vas matando
Meu firme coração com tirania,
“Hei de mártir de amor, morreu te amando”.
(Lourival Açucena apud Gurgel, 2001, p. 175)

Em livro do começo do século XX, o comandante Artur Dias assim descreveu a capital do Rio Grande do Norte:

“Vamos passar… uma ligeira vista a Natal de hoje em dia. Como deixei entrever a massa das construções da cidade segue dois planos diferentes: uma parte estendeu-se pela baixada, chama-se Ribeira; a outra está rodeada de morros que a cercam em toda a circunferência, em número de vinte e um, ficando a cidade quase ilhada: dum lado o mar, do outro os areais enormes. Compreende os distritos de Cidade Alta, Cidade Baixa, Cajupiranga e Ponta Negra, paróquia de Nossa Senhora da Apresentação, tendo a população de 13.725 habitantes, dos quais 6.753 homens e 6.972 mulheres. Como se vê, por estes simples algarismos, a cidade está longe de ter tido um desenvolvimento proporcional à
sua respeitável idade” (Artur Dias, 1940).

Rua Santo Antônio (Rua da Igreja do Galo no Centro de Natal). Foto: Bruno Bougard em 1906.
Aspecto da Rua Santo Antônio na atualidade.

Contexto político

Os primeiros anos do século XX foram caracterizados pela consolidação do regime republicano e o fortalecimento das oligarquias nas províncias. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, passado o período inicial de instabilidade política, inaugurou uma das mais duradouras oligarquias que este estado conheceu. Por mais de 25 anos, a oligarquia Maranhão esteve à frente do Poder Político no Rio Grande do Norte. Apesar dos desencontros na implantação da República, o fim do Império provocou uma maior participação dos governos provinciais nas verbas públicas. Este fato contribuiu para a modernização das capitais e segundo Monteiro (2000, p.168):

No caso de Natal, essa modernização pôde contar ainda com outros recursos, como aqueles enviados pelo governo federal com o objetivo de combater os efeitos das secas. Foi o que ocorreu na seca de 1903 1904. Com a verba recebida e a utilização da mão-de-obra de milhares de retirantes que se concentravam na capital, adiantou-se a construção da Praça Augusto Severo, na Ribeira, foram calçadas várias ruas e abertas avenidas que iriam originar a então chamada Cidade Nova , os atuais bairros de Tirol e Petrópolis.

Legenda: Governador Pedro Velho (1856-1907).

Fontes:

Anuário Natal 2007 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2008.

Natal Não-Há-Tal: Aspectos da História da Cidade do Natal/Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo; organização de João. Gothardo Dantas Emerenciano. _ Natal: Departamento de Informação,
Pesquisa e Estatística, 2007.

Praia de Ponta Negra: uma abordagem da paisagem costeira de 1970 a 2010, Natal/RN / Ana Beatriz Câmara Maciel. – 2011.

Natal: história, cultura e turismo / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal: DIPE – SEMURB, 2008.

Referências bibliográficas

Artur Dias, Brasil Atual, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1940, pág. 189.

FERREIRA, Ângela. A dinâmica urbana de Natal. In: ______. Conflitos urbanos em Natal. Natal: UFRN, 1987. Relatório de pesquisa. Mimeografado.

GURGEL, Tarcísio. Informações da literatura Potiguar. Natal: Argos, 2001.

MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à história do Rio Grande do Norte. Edufrn. 2000.

PREFEITURA DE NATAL. Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – SEMUR. Conheça melhor seu bairro: Ponta Negra. Natal (RN): SEMURB, 2008. 49 p.

SILVA, Alexsando Ferreira Cardoso da. Depois das fronteiras: a formação dos espaços de pobreza na periferia norte de Natal-RN. Dissertacao (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Centro de Tecnologia, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Natal, 2003.

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