O Bairro do Alecrim

O Alecrim, quarto bairro da cidade do Natal, têm como confinantes de sua área urbana os seguintes segmentos: Riacho do Baldo, Rua Olinto Meira, Rua Jaguarari, Av. Bernardo Vieira e a Via Férrea até encontrar a Riacho do baldo, neste último trecho podemos ainda destacar a Rua Pereira Pinto e a Base Naval.

Refoles

Antes de se chamar Alecrim, esta área teve várias denominações. O primeiro nome dado aquela localidade foi Nau dos Refoles, ou simplesmente Refoles (corruptela de Riffault), , pois era ali, por volta do ano de 1590, onde hoje fica a base naval da marinha, que o pirata Jacques Riffault atracava seu navio, na curva no rio Potengi, que era um rio lento ficando a nau abrigada e tranquila para negociar pau brasil com os índios. 

O Presidente da província Magalhães Taques, mandou construir no sitio denominado Nau de Refoles, asilos para as pobres que adoeciam de varíola. Aquele local ficou conhecido como Refoles. O Frei Vicente do Salvador o chamava de Rifot e os portugueses de Rifoles e Refoles.

Alto do Santa Cruz

Depois, no Século XIX, chamou-se Alto de Santa Cruz, topônimo batizado por Reinaldo Lourival, Coronel reformado de exército, filho do reconhecido poeta Lourival Açucena, que em carta para Monsenhor Paulo Herôncio publicada no jornal “A ORDEM” de 1948, recebeu a aprovação do Padre João Maria Cavalcanti de Brito (Padre João Maria) que lhe ordenou colocar uma cruz no alto da subida do baldo para marcar a presença da cristandade e onde se encontra hoje a igreja são Pedro e a praça D. Pedro II, construída nesse local no ano de 1911, ano em que foi elevado a condição de bairro.

Cais do Sertão

O retrato desta situação foi que o Alecrim também ficou conhecido como “Cais do Sertão” devido ao gradual processo migratório de populações rurais que se fixaram naquele espaço muito conhecido, naquele momento, pela existência de um ancoradouro que as pequenas embarcações utilizavam para transportar os produtos comercializados na região.

Na primeira década do século XX, o bairro foi denominado “Cais do Sertão”, em razão dos imigrantes que vinham do interior e acampavam naquela área; E finalmente, passou a se chamar Alecrim, através do Decreto da Intendência Municipal de Natal, datado de 23 de outubro de 1911 e oficializado em 30 de setembro de 1947, na administração do Prefeito Silvio Piza Pedroza.

O Alecrim surge, neste cenário, como o bairro que recebia a maior parte destes retirantes, tendo em vista a facilidade no seu acesso, e por dispor de uma gama de elementos característicos ao ambiente interiorano dos alojados como, por exemplo, a presença de sítios, vacarias, currais, feiras e a simplicidade da vida rural do Sertão, tornando-se o espaço preferido por esses fluxos.

Primórdios

O Alecrim foi criado na gestão do presidente da Intendência Municipal de Natal, Joaquim Manuel Teixeira de Moura, em exatos 23 de outubro de 1911. O bairro do Alecrim foi oficialmente criado, tomando para ele uma boa parte do bairro de Cidade Alta. No entanto, sua área de abrangência só foi oficialmente definida pela Lei Nº. 251, de 30 de setembro de 1947, na administração do prefeito Sylvio Pedrosa, com seus limites redefinidos pela Lei nº. 4.330, de 05 de abril de 1993, oficializada quando da sua publicação no Diário Oficial do Estado em 07 de setembro de 1994.

O Alecrim veio juntar-se ao Tirol por um lado, o outro indo até os trilhos da rede ferroviária às margens do rio Potengi. Na outra vertente, começava na subida depois do riacho do Baldo e seguia em direção à estrada que levava ao Guarapes e Macaíba.

Na leitura de Cascudo (1999, p. 355-356, grifo do autor), o Alecrim “[…] era uma capoeira intercortada de tufos verdes de vegetação. Por ali passava a estrada velha de Guarapes”.

Em outubro de 1871, o Presidente Delfino informava que a única desvantagem da Fonte Pública (Bica), no Baldo, “era ficar no último ponto do bairro alto da Cidade”. Em dezembro de 1878, o Vice-Presidente Manuel Januário Bezerra Montenegro aludia ao Cemitério, “situado à grande distância da Cidade”. Raríssimas pessoas residiam naquele descampado.

Segundo o historiador Luís da Câmara Cascudo, o antigo bairro do Alecrim era um local descampado. Antes mesmo de sua criação oficial, já nos primeiros anos do século XX, na área do Alecrim existiam pequenas chácaras, sítios e roçados de mandioca, milho e feijão com poucas casas. Era terra de caçada para os Morros. Estes alimentos ajudaram no desenvolvimento daquela parte da cidade e logo serviram de entreposto comercial com produtos que vinham do interior. Essa integração essencial fez o Alecrim transforma-se na porta de entrada daqueles que procuravam Natal.

Umas quatro casinhas, de taipa, cobertas de palha, sem reboco, denominadas “capuabas”, estavam dispersas num âmbito de légua quadrada. Até o início do século XX, eram poucas as casas nessa região, localizadas na ladeira entre o Baldo e a atual Praça Pedro II. Depois da praça o cemitério, e daí para cima havia apenas uma referência, um sítio de mangueiras do senhor Manoel Lourenço, onde hoje está a Praça Gentil Ferreira.

Quando foi iniciada a construção da estrada para o Guarapes e Macaíba, o empreiteiro Amaro Barreto, responsável pela obra, fincou uma grande e alta bandeira para orientar os trabalhadores da sua localização. Ficava no cruzamento das atuais no cruzamento da Rua Fonseca e Silva com a Av. Presidente Quaresma, num comoro, passando o local a ser conhecido como “Alto da Bandeira”.

O bairro do Alecrim já nascia como o mais populoso da cidade, abrigando 7.132 habitantes, distribuídos em 1.462 edificações dispostas esparsamente por um vasto terreno da cidade, localizado a Oeste de Natal. O período da seca, que deixou arrasada grande parte do interior do Nordeste brasileiro, trouxe um contingente enorme de flagelados para Natal, colocando o Alecrim como o maior recebedor desta população fugida da fome.

Aí se levantava, assombrando os tardios transeuntes, a “Cruz do Amaro”, recordando o assassinato de Amaro Xavier do Nascimento, em 1894. Outro ponto de concentração demográfica era a “Baixa da Égua”, que o Vigário João Maria mudou para “Baixa da Beleza” e onde se construiu a capela de S. Sebastião.

Em 1905, na epidemia de varíola, o Alecrim estava densamente povoado, campo da inesgotável caridade do Padre João Maria. Ao redor da Praça Pedro II, as casinhas se aprumavam. Mesmo assim, de Natal até o Baldo (Praça Carlos Gomes), havia caminho limpo. Para cima era uma trilha serpeando no meio do mato. Apesar desse progresso, ainda em 1910 caçavam veados e cotias na Av. Alexandrino de Alencar.

Foram os franceses que iniciaram o processo de miscigenação entre europeus e americanos na região. Dois aventureiros se destacaram: Charles de Voux e Jacques Riffault. Ainda hoje um local guarda no nome a lembrança de Riffault, no bairro do Alecrim em Natal, onde se ergueu a Base Naval (Refoles).
O bairro começava no Baldo, um reservatório das águas que desciam do Barro Vermelho, pela mata da Passagem. Daí, prosseguiam para o Oitizeiro, por dentro da Usina Elétrica, dirigida pelo mecânico alemão Johann Bragard, situada defronte da Santa Cruz da Bica. Poucas ruas e casas. Mais adiante, largas avenidas numeradas, repletas de mata-pasto e se prolongando, quase desabitadas, em direção ao Tirol. O bairro do Alecrim começava no Baldo, um reservatório das águas que desciam do Barro Vermelho, pela mata da Passagem.

Bairro do alecrim em franca expansão.
O alistamento dos retirantes fugidos da seca chegando ao Alecrim na primeira metade do século passado.
Arquitetura original da ponte de Igapó construída em 1916. Foto: João Gomes.
Família de retirantes no Bairro do Alecrim.
Praça almirante Tamandaré nos anos 60 concebida como parte o plano da Prefeitura de Natal de dotar com mais serviços e intra-estrutura urbana ao Alecrim, já tido naquela época como o bairro mais populoso da Cidade.
Mapa Limites do Alecrim. Elaborado por Victor Hugo Diógenes

Igreja São Pedro

Primeiro templo católico construído no século XX, sua inauguração ocorreu em 04 de maio de 1919. A igreja dedicada a São Pedro, no bairro do Alecrim, surgiu com a expansão da cidade.

Cascudo (1999) lembra o vigário Fernando Nolte, como o primeiro pároco e um dos seus construtores de maior dedicação. Um dos símbolos do bairro do Alecrim, a Igreja de São Pedro até meados do século XX, com o badalar do seu sino marcando a hora, determinava os afazeres de seus habitantes. No alto de sua torre encontra-se a imagem do santo padroeiro. Lugar de oração e de memória da cidade do Natal.

Oficialmente o bairro foi fundado em somente em 23 de outubro de 1911, mas registros apontam atividades urbanas anteriores. Com dois padroeiros, São Pedro (o oficial) e São Sebastião, o Alecrim também se caracteriza por sua religiosidade, onde várias religiões convivem lado a lado – católicos, evangélicos, espíritas e suas vertentes.

Em 15.08.1919, o bispo dom Antônio dos Santos Cabral criou a Freguesia de São Pedro, entregue à administração dos padres missionários da Sagrada Família, que iniciaram a construção da Igreja de São Pedro Apóstolo.

Absolutamente linda a foto da Igreja de São Pedro no Alecrim. Ainda em destaque o Colégio das Neves. Foto aproximadamente dos anos 40/50.
A pequena igreja de São Pedro, na praça Pedro Américo (hoje Pedro II), foi alargada e elevada após a criação da Freguesia, em 15 de agosto de 1919. O padre alemão Fernando Noite, da Ordem da Sagrada Família, vigário local, promoveu até mutirão, nas tardes de domingo, quando, para as obras, muitas pessoas, inclusive meninos, iam buscar tijolos e telhas junto à linha férrea e subiam pela rua Sílvio Pélico.
Legenda: Igreja de São Pedro em vários momentos: missa campal em1916 (1); desenrolar de sua construção em 1918 (2); primeiras décadas do século passado (3); a estrutura da igreja atualmente (4).
Primeiro templo católico construído no século XX, sua inauguração ocorreu em 4 de maio de 1919. No alto de sua torre encontra-se a imagem do Santo Padroeiro. Localiza-se próximo ao cemitério do Alecrim, o mais antigo da cidade.
Igreja de São Pedro
Praça Dom Pedro II.
Vista da Praça D. Pedro II e Igreja de São Pedro, no Bairro Alecrim (década de 1980). Foto: Acervo “A República”.
Outro ponto de concentração demográfica era a “Baixa da Égua”, que o Vigário João Maria mudou para “Baixa da Beleza” e onde se construiu a capela de S. Sebastião.

CALENDÁRIO HISTÓRICO-CULTURAL

20/01 – Festa de São Sebastião – Festa religiosa de cunho popular é comemorada em vários bairros, onde o santo é padroeiro, com a realização de
novena, e com barracas que vendem comidas e bebidas típicas, além da queima de fogos de artifícios. No último dia da novena é celebrada uma missa solene, seguida de profissão. A igreja de São Sebastião, em Natal, fica localizada à Rua Cel. Estevão, no bairro do Alecrim.

29/06 – Festa de São Pedro –

Apóstolo de Cristo, São Pedro recebeu dele a missão de chefia da igreja. A festa do padroeiro é comemorada no Alecrim, na igreja do mesmo nome, com missa, procissão e barracas no pátio da igreja.

14/07 – Fundação da Associação Brasileira de Escoteiros do Alecrim – Foi fundada em 1917, por Henrique Castriciano de Souza, com sugestão de Olavo Bilac. A 14/07/1919 passou a denomina-se Associação de Escoteiros do Alecrim, sob a direção do professor Luiz Soares de Araújo (MELO, 1976)

Cemitério

Antes de ser bairro, já havia no local o cemitério público, o primeiro da cidade, inaugurado em abril de 1856 pelo Presidente Passos. Sua construção foi determinada para receber as vítimas do cólera-morbo que assolou a cidade. Devido a falta de uma capela no interior do cemitério os devotos fizeram um boicote e não aceitavam enterrar seus mortos naquele local, pois ele não era um “campo santo”, só em 1859 foi construída a capela do Menino Jesus de Praga e os mortos voltaram em paz para o cemitério do Alecrim: em, Os muros do Além; Diego Fontes de Souza Tavares. UFPB, 2016.

Só os católicos podiam ser enterrados ali. Com o crescimento da população o cemitério foi ampliado na gestão do 35° Presidente da Província, João Bernardo Galvão Alcanforado Júnior.

O Alecrim ficava no fim do Mundo… Ergue-se a cidade dos vivos e com ela surge a cidade dos mortos. Distante da Ribeira e da Cidade Alta, nasceu o cemitério (hoje Cemitério do Alecrim), lugar de descanso e fim do sofrimento daqueles que acompanhavam um cortejo fúnebre. Sobre os enterros e o início da ocupação do atual bairro do Alecrim, quem bem relata é Pedro de Mello, em conferência realizada na Academia Norte-rio-grandense de Letras, no dia 24/01/1962:

[…] Por mais numeroso que fosse o acompanhamento do cortejo fúnebre chegava ao cemitério só com a família e os carregadores. A ladeira afugentava os demais.

  • À altura da atual igreja de São Pedro havia à direita de quem sobe um projeto de rua meia dúzia de casebres. Seus moradores, gente humilde, mantinham no peitoril de suas janelas, latas, jarros de todos os feitos, todos cheios de alecrim o arbusto conhecido por todos nós. Muitos natalenses vêem nisso a razão do nome de Alecrim, – dado ao bairro surgido posteriormente naquelas bandas (MELLO, 2006, p. 04).

O cemitério era tão longe, que a prefeitura adquiriu um carro funebre para transportar os mortos. Perto do cemitério morava uma idosa muito conhecida, dona Ana, chamada de “Velha do alecrim”. Ela tinha o costume de ornamentar os caixões de anjinhos que iam ser sepultados com ramos de alecrim, gerando daí uma versão para justificar o nome do futuro bairro.

Em outra versão sobre a toponímia do lugar contada pelo Coronel Reinaldo Lourival cita que um ex-escravo de nome Manoel Peregrino por volta de 1895 promovia bailes na região e que uma de suas convidadas começou a chamar o lugar de alecrim devido a presença da planta aromática naquelas paragensa abundância do alecrim-de-campo espalhado pelo mesmo trecho.

segundo o próprio Cascudo … “o local designado para construção do cemitério, foi a esplanada que fica no caminho das quintas, junto a bifurcação da estrada de Pitimbu”, percebe-se que não havia um nome oficial para essa localidade. Pelo sim, pelo não, o bairro víria a ser criado com o nome de ALECRIM.

Em abril de 1856, quando o Cemitério foi inaugurado, o Presidente Antonio Bernardo de Passos informava ter adquirido um carro fúnebre em razão da “grande distância entre o Cemitério e esta Cidade”.

Escola de Aprendizes Marinheiros

No início do século XX, porém, antes da criação do bairro, era possível verificar alguns elementos importantes para a expansão do espaço alecrinense, como, por exemplo, a instalação da Escola de Aprendizes de Marinheiro, em outubro de 1908, pelo Ministério da Marinha, que ocupou uma grande área às margens do estuário do Potengi/Jundiaí, no lugar conhecido como Refoles.

Lodo após a construção da escola, foi providenciada uma estrada que dava acesso à edificação que hoje tem o nome de Rua Silvio Pélico, homenagem ao primeiro comandante da referida Escola. Esta estrada era bastante utilizada pelos que circulavam pelo povoado. Estes e outros aparatos logísticos serviram como confirmação da inclusão do então povoado nos planos da administração municipal de Natal, embora a área fosse dotada bem mais de características rurais que feições urbanas.

Quando toda aquela área foi oficializada como bairro, a atividade comercial se expandiu como uma característica do Alecrim até hoje. Com a expansão, surgiram os primeiros investimentos públicos e privados na área. Pensões e pequenos hotéis surgiram para atender os caminhoneiros e seus patrões que ali chegavam para negociar os seus produtos, principalmente o algodão do Seridó.

Em 1914, o Governador Ferreira Chaves fala na “grande distância para Natal”. A 15 de agosto de 1919, Alecrim é freguesia com sede na Igreja de S. Pedro.

O bairro encontrava-se ocupado somente pelos limites da Escola de Aprendizes de Marinheiro, à margem direta do estuário Potengi/Jundiaí, praticamente desabitado em 1916. Contudo, com a construção da ponte sobre o estuário e o crescente tráfego nas ferrovias que, de um lado, começavam a transpor a hidrografia do mesmo e, de outro, levavam até os estados limítrofes, sinais de povoamento vieram acompanhar a nova dinâmica apresentada pelo aumento do fluxo de comerciantes que atravessavam o Alecrim.

A partir de sua criação, o bairro do Alecrim passaria a acobertar grande parte dos refugiados e das pessoas que procuravam melhores condições de vida na cidade, sendo berço de diversos encaminhamentos socioeconômicos e culturais fundamentais para a produção do seu espaço. A cidade de Natal era privilegiada por alguns fatos, até de projeção mundial, que viriam impulsionar o seu crescimento urbano, refletido diretamente pelo papel do Alecrim em seu sítio.

Em 1912 a Escola de Aprendizes Marinheiros ficou no Refoles, articulando-se com os centros do Alecrim pela Rua Silvio Pelico.

Educação/Escotismo

O Grupo Escolar Frei Miguelinho, criado pelo Decreto nº 277 – B de 28 de novembro de 1912, no bairro de Alecrim – Natal/RN; compreendendo três escolas, duas elementares. O professor Luiz Soares dirigiu em 1913 esta que foi a primeira escola pública do novo bairro. Ainda colaborou com a fundação da Associação de Escoteiros, esta ultima fundada em 24 de junho de 1917, por um grupo de idealistas (Luís Soares Correia de Araújo, Elói de Souza, Meira e Sá, Henrique Castriciano, Moisés Soares e Monteiro Chaves).

A Associação Escoteira do Alecrim foi dirigida durante 54 anos pelo professor Luiz Soares, que acumulava com a função de diretor do Grupo Escolar Frei Miguelinho. Sendo reconhecido como um dos mais brilhantes educadores do Estado. Professor Luiz Soares era formado pela Escola Normal de Natal. Exerceu o magistério durante 54 anos.

O grande ideal do professor Luiz Soares foi sempre ver o Escotismo difundido, com eficiência, por todo o território nacional, por lhe parecer a melhor escola de preparação moral e cívica infanto-juvenil. Foi também o que procurou demonstrar, no Catete, em 1922, quando recebido em audiência pelo Presidente Epitácio Pessoa.

De início, participou com Henrique Castriciano e Monteiro Chaves, em 1917, da fundação da Associação Brasileira de Escoteiros do Rio Grande do Norte. Levou para ela cerca de trinta alunos de seu Grupo Escolar. A entidade nem chegou a completar dois anos de funcionamento. Por isso, ele fundou, em 14 de julho de 1919, a Associação de Escoteiros do Alecrim, hoje incorporada à Regional de Escoteiros.

De início, participou com Henrique Castriciano e Monteiro Chaves, em 1917, da fundação da Associação Brasileira de Escoteiros do Rio Grande do Norte. Levou para ela cerca de trinta alunos de seu Grupo Escolar. A entidade nem chegou a completar dois anos de funcionamento. Por isso, ele fundou, em 14 de julho de 1919, a Associação de Escoteiros do Alecrim, hoje incorporada à Regional de Escoteiros.

Havia um antigo chalé, coberto de zinco, na atual praça Pedro II, esquina da rua Soledade, utilizado para fábrica de redes e, em seguida, para cinema, no qual atuava, como pianista , o futuro maestro Waldemar de Almeida. Pois ali nasceu a Associação, naquela radiosa manhã de 1919. Setenta e cinco escoteiros, quase todos alunos do Grupo Escolar, desfilaram pelas ruas do bairro e participaram da missa campal, na Igreja de São Pedro, comemorativa da assinatura do Armistício, após a Primeira Guerra Mundial.

O professor Luiz Soares obteve do governo Ferreira Chaves a construção dos salões do Grupo que ficam do lado da rua Coronel Estêvão e o instrumental para uma banda de música de dezesseis figuras, regida por José Gabriel Gomes da Silva (pistonista), funcionário dos Correios e pelo sargento Manoel Florentino de Albuquerque (clarinetista), depois guarda-fiscal do Tesouro. As aulas teóricas de Música começaram em 2 de maio de 1918 e já em 15 de outubro essa banda escolar (a Charanga do Alecrim) estreava fazendo alvorada pelo natalício do Governador, na residência oficial deste, à praça Pedro Velho.

O professor Luiz Soares obteve do governo Ferreira Chaves a construção dos salões do Grupo que ficam do lado da rua Coronel Estêvão e o instrumental para uma banda de música de dezesseis figuras, regida por José Gabriel Gomes da Silva (pistonista), funcionário dos Correios e pelo sargento Manoel Florentino de Albuquerque (clarinetista), depois guarda-fiscal do Tesouro. As aulas teóricas de Música começaram em 2 de maio de 1918 e já em 15 de outubro essa banda escolar (a Charanga do Alecrim) estreava fazendo alvorada pelo natalício do Governador, na residência oficial deste, à praça Pedro Velho.

Do governo Antônio de Sousa, conseguiu a criação, em 1920, do Curso Complementar, noturno, inclusive para adultos, sendo designado, no começo, para a cadeira de Geografia e História do Brasil. As outras ficaram regidas pelos professores Israel Nazareno de Souza (Português), Francisco Ivo Cavalcanti (Aritmética) e Anísio Soares de Macedo (Francês). Funcionou também no Grupo, naquele governo, uma Escola Profissional. Obteve, igualmente, que, no Frei Miguelinho, a quinta-feira fosse considerada Dia do Escoteiro, terminando as aulas ao meio-dia. O pavilhão nacional era hasteado no início, com execução, pela Charanga, do Hino à Bandeira, cantado pelas alunas. As áreas e salões do Grupo eram ocupadas, à tarde, pelos exercícios dos escoteiros, os quais desfilavam, em seguida, pela via pública precedidos da banda de música e de banda marcial. Depois, a Bandeira era arriada ao som do Hino Nacional e Luiz Soares proferia palestra sobre tema de Moral e Civismo.

Mas, não foi somente o bairro do Alecrim que absorveu as atividades do grande educador. Em 1927, ele reorganizou, com outra denominação, a Liga de Desportos Terrestres do Rio Grande do Norte, tendo sido eleito presidente da nova entidade. Esse trabalho profícuo levou o Presidente Juvenal Lamartine, seu parente e amigo, a construir, em 1929, no Tirol, o Estádio que conserva o nome daquele chefe de governo. No mesmo ano, conferiu a Luiz Soares, no Dia do Professor, a medalha de Honra ao Mérito. Houve elementos frustrados na vida que chegaram a apontá-lo como “amigo de todos os governos”.

Como homem influente na sociedade contribuiu decisivamente para a criação da Faculdade de Farmácia e Odontologia e da Faculdade de Direito de Natal. Atuando na política foi vereador em Natal e presidente da Câmara. Mas, na verdade, Luiz Soares nada pedia para si, não era político, viveu e morreu pobre. Explicava apenas, naquele tempo, que nenhum empreendimento educacional, num meio pobre, poderia esperar completo êxito sem a decisiva cooperação dos governos. Esse desprendimento pessoal e a probidade do dedicado mestre mereceram, igualmente, reconhecimento e admiração dos revolucionários de 1930.

Vitorioso o movimento em todo o país, da Paraíba quiseram indicá-lo para o magistério federal, a fim de dirigir a Escola de Aprendizes Artífices de Natal (hoje Liceu Industrial). Não obstante as grandes vantagens pecuniárias, em relação aos parcos vencimentos do magistério estadual, recusou delicadamente a honrosa lembrança para pedir apenas que o deixassem prosseguir em sua obra no Alecrim.

Vinte anos depois, na esperança de obter maiores benefícios para a coletividade e a fim de atender a insistentes apelos de alguns ex-alunos, concordou em disputar eleição para Vereador. Seus pares, em expressiva homenagem, o elevaram à Presidência da Câmara Municipal. A experiência, porém, não o satisfez. Deixou de concorrer a cargo político.

Luiz Soares foi um dos fundadores da Associação dos Professores e pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, à Academia Potiguar de Letras e ao Conselho Estadual de Educação e Cultura. Cooperou no Instituto de Proteção e Assistência à Infância e em outras entidades educativas, sociais e esportivas. Partiu dele a criação das Faculdades de Odontologia, Farmácia e Direito, havendo participado das atividades destinadas à instalação e funcionamento dessas escolas superiores. Um cidadão verdadeiramente útil à coletividade natalense.

Teve Luiz Soares, nos últimos tempos, a felicidade de receber a maior (e, por isso, muito rara) das condecorações a um Chefe-Escoteiro: A Comenda do Tapir de Prata, que o General Sir Robert Baden Powell — o criador do Escotismo — reservou àqueles que, em qualquer parte do mundo, houvessem prestado, durante longos anos, com abnegação e patriotismo, inestimáveis serviços à instituição. Nunca poderão ser esquecidos os que fizeram da educação da infância e da juventude verdadeiro apostolado.

O grupo escolar “João Tibúrcio”, no bairro do Alecrim, o maior desta capital, teve a sua festividade inaugural no dia 14 de abril de 1935.

O Grupo Escolar Frei Miguelinho funcionou até 1962, quando seu prédio foi demolido para ceder lugar ao prédio hoje existente. A reinauguração se deu em 31 de janeiro de 1963 com novas e completas instalações, possuindo na época, jardim de infância, curso primário, curso complementar , ginasial e colegial, contando ainda com o curso artesanal e industrial. Com a Lei nº 2.880 de 21 de abril de 1963 o então Grupo Escolar passou a denominar-se Instituto Padre Miguelinho. Com as mudanças ocorridas após a Lei de Diretrizes e Base da Educação/LDB – Lei 5692/1972, o Instituto Padre Miguelinho passou a ser Centro Escolar, e atendia as escolas do polo leste da capital, através da Lei nº 12.509.

O Colégio de Nossa Senhora das Neves, uma referência da cidade, é de 1932, pertencente à ordem religiosa católica das Filhas do Amor Divino. A primeira Escola funcionou um uma casa cedida pelos padres da Sagrada Família.

O Colégio Nossa Senhora das Neves foi criado em 1932 em Natal sob a direção das irmãs Filhas do Amor Divino que antes haviam iniciado suas atividades escolares em Assu e em Caicó (1926). Iniciou suas atividades em fevereiro de 1933, em prédio alugado, na rua Fonseca e Silva, nº 1088. Foi escolhido o nome Colégio Nossa Senhora das Neves porque em 05/08/1932 recebiam as Religiosas em Caicó o telegrama do bispo Dom Marcolino Dantas, convidado-as a virem para a capital potiguar e por ser também a padroeira principal da casa matriz da Congregação das Filhas do Amor Divino em Viena, na Áustria.

Grupo Escolar Frei Miguelinho: Esse Grupo Escolar começou a ser planejado na administração de Tavares de Lira. A inauguração só ocorreu no governo de Alberto Maranhão, em 12 de junho de 1908. A repercussão desse grupo escolar permaneceu nas décadas seguintes. Em 1922, no jornal A República, foi publicada uma crônica de autoria de João Cláudio, sobre a inauguração do grupo, em 1908. O entusiasmo do cronista se dá principalmente porque as aulas também seriam ministradas por professoras. À frente do edifício, se pode ver a
linha de bonde que servia o bairro. Fonte: CAMARA, Amphiloquio. Scenarios norte-riograndenses (1923). Rio de Janeira: Editora “O Norte”.
Fotografia no dia do encerramento do ano letivo em 30 de novembro de 1913.
O Alecrim deve prestar sempre homenagem aos fundadores da Associação de Escoteiros do Alecrim, eles já desaparecidos, o Sr. Henrique Castriciano, Dr. Manuel Dantas e o grande e inesquecível professor Luiz Correia Soares de Araújo, com uma página ininterrupta de Araújo, com uma página ininterrupta de serviços prestados, não só ao Alecrim, mas a toda mocidade de Natal e ao Magistério do Rio Grande do Norte, foi um grande trabalhador, nunca medindo esforços em colaborar a favor dos estudantes do estabelecimento que dirigia.” (Davi Francisco da Silva). Associação dos Escoteiros Foto: Dr. Manoel Dantas Fonte: Acervo IHG/RN.
Instituto Padre Miguelinho
Fundada no dia 05 de agosto de 1932, funcionou precariamente em uma casa na Rua Fonseca e Silva até que fosse adquirido o atual terreno.

Naquele tempo, o passeio-escolar mensal, para que os alunos aprendessem melhor a amar a Natureza, era vez por outra dirigido pela avenida Alexandrino rumo à Lagoa do Enforcado ou à Lagoa Seca. Um dia muito alegre para mestres e discípulos.

O próprio diretor do Grupo organizava, com especial carinho, anualmente, duas comemorações — a Festa da Árvore e a Festa das Aves. Diversos alunos, na véspera, munidos de gaiolas e alçapões, percorriam sítios do Barro Vermelho e as matas do Réfoles, a fim de apanharem passarinhos, os quais eram soltos, alegremente, na manhã seguinte, quando as alunas, sob a regência de Carolina Wanderley, entoavam o Hino às Aves.

A pobreza dominava os alunos. Não conheciam Papai Noel. Nem havia a merenda-escolar do governo. O pequeno horário de recreio, nas áreas internas, tinha a supervisão benéfica dos inspetores de alunos, Laurentino Ferreira de Morais (que faleceu como coronel da Polícia Militar) e Maria Elisa Pinto Meireles.

Também não se adotava, em estabelecimento primário, a prática organizada de esportes. Muitos aprenderam a nadar fugindo de casa, à tarde, a fim de se banharem na maré, no Réfoles. Outros, se iniciaram no futebol na via pública, com bolas-de-meia, ou então adquirindo, em clubes, bolas de couro já imprestáveis, que enchiam com bexigas de boi obtidas na Matança (Matadouro Público), situado junto à grande curva da via férrea, no Oitizeiro. Aqui e ali, com muita dedicação, o diretor e as professoras conseguiam uma ou outra diversão gratuita para os discípulos.

Apesar dos inúmeros serviços prestado ao Rio Grande do Norte, acredito que o escotismo era para o Professor Luiz Soares algo ao qual ele se dedicou com mais afinco e atenção.
Escoteiros em solenidade.
A Associação de Escoteiros do Alecrim possuía um enorme prestigio em Natal na década de 1920, onde era comum receber visitantes ilustres, como no caso dessa imagem, quando os tripulantes do hidroavião brasileiro JAHU, no ano de 1927.

Saúde

A pedra fundamental do Lazareto da Piedade posteriormente, chamado ‘Hospício dos Alienados” foi colocada no dia 07 de setembro de 1882 pelo Presidente da Província Francisco de Gouveia da Cunha Barreto, onde, viviam ali internados longe do convívio familiar, os portadores de doenças mentais localizado num terreno, hoje, ocupado pelo Centro de Saúde do Alecrim. O Alecrim era uma capoeira, entrecortada de tufos verdes de vegetação. Dizia-se que por ali passava a “estrada velha de Guararapes”. Nada mais.

Em 1934 foi inaugurado o primeiro posto de saúde do bairro, a Policlínica do Alecrim , em terreno doado pela Associação de Escoteiros, dirigida pelo professor Luís Soares. Merecidamente , o tradicional hospital hoje tem o nome de seu benfeitor e integra a rede da Liga Norte-rio-grandense contra o Câncer. Uma rua do Alecrim lembra igualmente, aos habitantes de Natal o nome do professor emérito.

Não se poderia aqui enumerar tudo quanto ele, através de decênios, realizou no Grupo Escolar e no Escotismo. Basta se recordar, nestas linhas, que seus escoteiros se iniciaram precisando, por força das circunstâncias, prestar assistência a muitos desvalidos, durante situações calamitosas.

Primeiro, em 1918, na terrível epidemia conhecida por “ influenza espanhola” , num Posto de Emergência, no próprio estabelecimento de ensino, para distribuição de remédios e alimentos até a domicílio. Em seguida, no atendimento a flagelados da seca de 1919, os quais tiveram de ser abrigados, pelo governo, em galpões de palha, de más condições higiênicas, improvisados em terreno baldio no Barro Vermelho. Deus protegeu, porém, a saúde daqueles jovens.

Em 1905, na epidemia de varíola, o Alecrim estava densamente povoado, campo da inesgotável caridade do Padre João Maria. Ao redor da Praça Pedro II, as casinhas se aprumavam. No dia 16 de outubro de 1905, acabou falecendo, vítima da mesma doença que tanto combateu, a varíola. Sua morte abalou a cidade e, desde então, é considerado como o Santo de Natal. Um busto (primeira imagem logo acima), em sua homenagem, foi colocado na praça, que hoje recebe seu nome, localizada por trás da antiga catedral.
Hospital para tratamento de Tuberculosos – Década de 1920 (fonte: Como se higienizaria Natal). O sanatório de Natal foi instalado às margens da estrada de ferro de Great Western, nos limites entre o bairro do Alecrim e o lugar denominado de Quintas, próximo ao mangue do Potengi em um lugar muito úmido, e, segundo Cicco, ficando muito distante dos limites da cidade, impedindo uma assistência médica mais efetiva. O sanatório da cidade seguia ainda o modelo dos hospitais de isolamento de doenças contagiosas, como aqueles construídos nos idos do século XVIII.

Ruas

Um bairro não é apenas uma área delimitada por um decreto ou um conglomerado de antigas casas e ruas que labirintam seus acessos. O bairro antes de tudo, tem a missão de contar a história do crescimento da cidade e do próprio lugar. Entretanto, os topônimos de suas ruas provocam, as vezes, indagações relacionadas aos seu significado ou aos nomes das personagens ali homenageadas. Mesmo acreditando na frase de Gene Flower de que “Os homens que merecem monumentos não precisam deles”, o Alecrim, quando eternizou em suas artérias, notáveis que transitaram na
política administrativa do Rio Grande do Norte, nos remiu de séculos de história potiguar.

Quando o Presidente da Intendência Municipal (Prefeito de Natal), Dr. Omar O´Grady, contratou o arquiteto Giacomo Palumbo, para fazer o Plano Geral de Sistematização da Cidade de Natal, solicitou, ao mesmo tempo, ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, a época presidido pelo Dr. Nestor dos Santos Lima, que relacionasse vultos históricos para nomear as avenidas já traçadas e numeradas de 1 a 18. Dentre as figuras arroladas, estavam incluídos, levando em conta a liturgia do cargo, cinco Presidentes da Província do Rio Grande do Norte, como eram denominados os Governadores do nosso Estado no período colonial e durante o império. Portanto as avenidas de 1 a 5, confinadas nos limites do bairro do Alecrim, passaram a ter as seguintes denominações: Avenida 1, Presidente Quaresma, em homenagem a Basílio Quaresma Torrão, que Governou de 1833 a 1836; Avenida 2, Presidente Bandeira, em homenagem a João Capistrano Bandeira de Melo, que Governou de 1873 a 1875; Avenida 3, Presidente José Bento em homenagem a José Bento da Cunha Figueiredo Junior, que Governou de 1860 a 1861; Avenida 4, Presidente
Sarmento, em homenagem a Cassimiro José de Morais Sarmento, que Governou de 1845 a 1847; E a Avenida 5, Presidente Leão Veloso, em homenagem a Pedro Leão Veloso, que Governou de 1861 a 1863.

Portanto, não é verossímil a atribuição à influência americana na cidade, durante a Segunda Guerra Mundial. Puro engano, em 1929, portanto, antes da guerra (1939-1945), o prefeito Omar O’Grady determinou que as ruas do Alecrim deixassem de ser identificadas por números e passassem a ter nomes de presidentes (da província) e de tribos indígenas.

O nome das ruas, foi durante a administração de Omar O’grady (1929), o arquiteto Giacomo Palumbo desenhou um “tabuleiro de xadrez” com avenidas e ruas largas denominando-as por numerais, foram 12 avenidas intercaladas por nome de tribos indígenas

As principais avenidas e ruas do Alecrim, foram traçadas em forma de xadrez. No sentido Norte-Sul, a partir da Av. Presidente Quaresma (Av. 1), recebem as numerações 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11 e 12. Alguns receberam nomes de tribos indígenas dizimadas no século VXIII – Caicó, Canides, Pajeús, Paianazes, etc.

As demais avenidas e ruas numeradas receberam o nome de tribos indígenas ou de outras pessoas ilustres, entretanto, sem negar a importância de cada denominação, os topônimos das outras ruas numeradas ficam aqui ocultados, porque buscamos registrar apenas as artérias que tiveram denominações de Presidente da província na época colonial e do império. Esperamos, deste modo, responder as indagações de uma considerável parcela da população natalense, que curiosamente se interroga com relação às avenidas numeradas, de 1 a 5, do bairro do Alecrim.

No caso da Av. 2- Recebeu o nome de avenida Presidente Bandeira (João Capistrano Bandeira de Melo) que governou a Província do RN, no período entre 1837 e 1875.

em 1916

O relatório do Intendente Coronel Romualdo Lopes Galvão acerca da sua gestão dos anos de 1914, 1915 e 1916 ilustra bem esse desenvolvimento (A REPÚBLICA, 1917a) o bairro do Alecrim, 11 ruas, 4 travessas e 583 casas. Em 1941-1942 tinha Natal 200 logradouros Públicos dos quais 35 ficava no Alecrim: duas avenidas, indo a “Alexandrino de Alencar” até a Lagoa Seca; duas praças; vinte e oito ruas e três travessas.

Avenida Amaro Barreto em 1957. Região do bairro do Alecrim, nas proximidades da Praça Gentil Ferreira.
Avenida Amaro Barreto na década 50 do século XX. Foto: Grevy
AVENIDA PRESIDENTE BANDEIRA EM 1950 (Bairro Alecrim) Foto: Acervo SEMURB.
Foi na gestão de Djalma Maranhão na Prefeitura de Natal (1956-1959) que foram asfaltadas as primeiras ruas da cidade: cruzamento da Amaro Barreto com Presidente Quaresma
Imagem anterior a década de 60 da praça Almirante Tamandaré no Alecrim. É perceptível os trilhos dos bondes que linterligavam o bairro ao centro de Natal. Ao fundo nota-se a torre da igreja de São Pedro. O prédio à direita hoje funciona o Sintro (Sindicato dos Rodoviários) que na época não havia ainda o primeiro andar. Autor desconhecido.
RUA CORONEL JOSÉ BERNARDES (Bairro Alecrim) Foto: Jaeci E. Galvão. Ao fundo o Canal do Baldo. Notem que ainda sem o viaduto que hoje domina a paisagem deste espaço urbano.
Vista da Av. Lima e Silva, no Bairro Alecrim (década de 1970). Foto: Acervo “A República”.
Vista da Av. Presidente Bandeira, no Bairro Alecrim (1983). Foto: Acervo “A República”.
Av. Bernardo Vieira, divisa entre os bairros Alecrim e Dix-Sept Rosado (1981).
Foto: Acervo “A República”.
Antiga Rua Coronel Estevam (atual Avenida Coronel Estevam)

A presença militar

Paralelamente ao aumento da presença militar dos Estados Unidos no Nordeste durante a Segunda Guerra Mundial, o governo brasileiro também passou a incrementar o efetivo militar na região, enviando para Natal o almirante Ary Parreiras com a incumbência de construir a Base Naval. A área escolhida para a construção da Base Naval foi o Refoles, no bairro do Alecrim, onde funcionava a Escola de Aprendizes de Marinheiro. A Marinha americana, instalada na Rampa, trabalhava harmoniosamente com a Marinha brasileira.

O Alecrim foi uma das áreas de Natal que mais apresentou alterações provenientes da influência militar. Juntamente com a instalação da Base Naval de Natal, deu-se também no bairro a construção da Vila Naval, destinada aos militares da Marinha, outra razão para o aumento do fluxo de pessoas naquela área.

A Base Naval é de 1941, instalada para apoio às operações dos navios brasileiros e de países aliados que operavam no hemisfério sul do conflito mundial. A instalação da base deu impulso à construção civil do Alecrim, tanto no surgimento de unidades habitacionais nas vilas militares, quanto na valorização de imóveis.

Um setor que também obteve grandes lucros foi o imobiliário, no qual algumas famílias desocupavam suas próprias residências para alugá-las a militares. Em pouco tempo, o aspecto provinciano de Natal deu lugar à modernidade proveniente da presença americana na cidade, que ia além de mudanças na infraestrutura, atingindo também os aspectos sociais e culturais.

O setor terciário também apresentou crescimento na cidade de Natal e no Alecrim com o advento da Segunda Guerra Mundial. Cresceu o número de atividades comerciais e todos os negociantes aumentaram os preços dos seus produtos e serviços, na intenção de obterem grandes lucros.

“O bairro do Alecrim, com todos os elementos sociais que caracterizam uma Cidade, já se espalha e derrama sua população em quilômetros e quilômetros, num avanço tentacular e dominador.Há quem viva seis meses sem vir ao Natal porque o Alecrim é bastante para a ressonância de interesses comerciais e domésticos”.Cita Luís da Câmara Cascudo em artigo publicado originalmente – A República, Sábado, 10 de outubro de 1942.

Como um todo, a cidade de Natal teve grandes alterações socioespaciais que passaram a fazer parte da sua paisagem. O censo demográfico de 1940 apresentou uma população de 54.836 habitantes e o de 1950, uma população de 103.215 habitantes, o que demonstra um notável crescimento em um intervalo de tempo de apenas 10 anos. Em relação ao Alecrim, na década de 1950, havia uma população de 52.226 habitantes, o que significa mais da metade da população de Natal.

O pós-guerra é o tempo da ressaca da presença dos americanos em Natal. Já não corre mais o dólar e a cidade está na encruzilhada de opções para se manter em pé com as próprias pernas. A Ribeira ainda é a área principal de encontros e conversas dos intelectuais, boêmios e vagabundos. A cidade alta é a área nova, o modernismo, que começa a aparecer com as lojas implantadas por libaneses e sírios atraídos pelo repentino crescimento da economia.

Aeroporto da Air France no Refofes (Alecrim). Foto Hart Preston. Revista Time Live em 1942.
Embarcação da Marinha ancorada no rio Potengi (19/12/1944). Fonte: Prefeitura da cidade do Natal, 1998.
Construção da Vila da Marinha no Bairro do Alecrim. Acervo de Joaquim Victor de Holanda. Enviada por Helenita Monte de Holanda
Vila Militar da Marinha no Bairro do Alecrim.
Em 1941, durante a II Guerra Mundial, com a instalação da Base Naval, o bairro teve acelerado o seu processo de urbanização, quando se registra um aumento da população com a vinda de pessoas do sertão, e de outras regiões, para negócios na capital.

Comércio

É claro que diversos outros fatores foram determinantes no aumento populacional experimentado pelo Alecrim nas primeiras décadas do século XX, tais como o incremento comercial de sua feira e as transações de produtos realizadas com comerciantes vindos do interior pela rodovia que interligava Natal a Macaíba e dali ao sertão, porém cabe destacar que a aproximação proporcionada pelas linhas de bonde, motivou um grande êxodo populacional das camadas menos favorecidas para essa área. O deslocamento das populações mais pobres para a zona do Alecrim é um processo que tem início desde 1904, devido à promulgação da Resolução nº 54, que definiu o Código de Posturas de Natal, em 30 de abril de 1904 (ALMEIDA, 2007). Essa resolução determinou uma série de posturas urbanísticas que impossibilitaram a permanência dessas camadas na zona até então oficialmente urbana.

O bairro ainda tem como marca registrada o comércio de produtos populares, com sapatarias, lojas de tecidos, produtos agrícolas e as barbearias, que resistem ao tempo. Há bares e esquinas com jogo do bicho, uma tradição do lugar. Na década de 80, a construção do camelódromo (tentativa de resolver o problema gerado pelo conflito entre ambulantes e comerciantes estabelecidos) marcou a vida do lugar. Erguido em trecho da Rua Presidente Bandeira, aglutina vendedores ambulantes que comercializam produtos diversificados.

Casa dos Passarinhos, no bairro do Alecrim. Inaugurada no fim dos anos 70. Uma das primeiras da cidade a ter artigos para todos os animais, pássaros, cachorros, gatos, peixes, hamnsters, etc. Lembro de meu pai ter me levado a Casa de Câmara Cascudo para convida-lo. Apesar dele raramente sair de casa, confirmou presença, pois gostava muito de pássaros. A segunda foto foi no dia da inauguração, a esquerda, meus pais (Expedito Pereira Leite e Regina Lúcia Leite) sentado, o Mestre Câmara Cascudo com sua esposa, logo atrás, e ao lado, minha avó, Zuila Chaves Leite.
Foto e texto: Acervo Sérgio Leite.
Em 1972 foi inaugurada a primeira loja do Supermercado Nordestão. Fica localizada na Av. Presidente Bandeira no Alecrim. 
Posto Jota Flôr 1, por trás da Igreja São Pedro Alecrim 1967.

A Feira do Alecrim

Consta que nos primórdios do do Alecrim, algumas pessoas simples, mas com forte capacidade no tocante a iniciativas coletivas, decidiram criar no Alecrim uma feira livre para popularizar, facilitar e incrementar principalmente a venda de produtos alimentícios.

No livro do Professor Itamar de Sousa cita um texto produzido pelo historiador Luís da Câmara Cascudo, publicado no jornal A República, edição de 19 de outubro de 1948, onde Cascudo detalhou a inauguração dessa feira livre. A primeira vez que a Feira do Alecrim ocorreu foi em numa madrugada de domingo do dia 18 de julho de 1920  e a iniciativa partiu de João Estevam de Andrade e de Balbino José dos Passos.  Este grupo de empreendedores, foram liderados  pelo comerciante paraibano José Francisco dos Santos que ergueram suas barracas e passaram a comercializar seus produtos.

Naquele domingo o encontro dos vendedores aconteceu no que hoje é a casa de número 1297, no encontro da Rua Presidente Quaresma com a Avenida Coronel Estevão (onde atualmente existe uma farmácia).

Para Cascudo o movimento logo chamou atenção da cidade e nesses primeiros anos a feira continuou a acontecer sempre aos domingos. Outros que colaboraram para que aquela ideia tivesse êxito foram Francisco das Chagas Dantas, Francisco Justino, Sabino Duarte, José de Lima, Enéas Café, José dos Santos, José Alexandre, João Ferreira, Joaquim Vicente de Andrade, Genésio Pinheiro, Laurentino Moraes, José Barbosa e outros. Em 1912, já existiram algumas feiras livres na capital potiguar a exemplo da feira da região do Passo da Pátria, anterior a Feira do Alecrim. Porém a que realmente despontou foi a do Alecrim.

Depois, surgiram as feiras do ‘Passo da Pátria’ hoje, extinta; a do ‘Alecrim’, e das ‘Rocas’. A indústria alimentícia foi incentivada pela Lei n° 275, de 24 de novembro de 1909, (privilégios de fiscais para indústrias de açúcar, pesca, laticínios e doces que viessem a se estabelecer no Estado) e Lei 287, de 23 de novembro de 1910 (os mesmos privilégios para indústrias de vinhos, licores, vinagres e conservas de frutas e legumes). Conforme o Artigo 9o — “os gêneros, inclusive aguardente, transportadas para a capital pela ferrovia [estavam] sujeitas ao pagamento do imposto respectivo, conforme sua qualidade e quantidade nos termos especificados nos parágrafos 8-9- 11 -12-13 – 14 e 15 do artigo 117 do código de posturas “

Em 1940, durante a administração do prefeito Gentil Ferreira, a feira passou a funcionar aos sábados, desde então, transformou-se em referência na comercialização de produtos fruto-granjeiro para os natalenses e moradores das cidades vizinhas.

A Feira do Alecrim até hoje é uma referência da cidade e um convite àqueles que procuram o clima de cidadezinha. Hoje é lugar de memória que resiste ao tempo, local de parada obrigatória para quem deseja conhecer a “alma” dos conterrâneos de Câmara Cascudo.

A Feira reflete a cultura de um povo simples, com o seu jeito de fazer negócios, a linguagem coloquial, os gestos e símbolos, o comportamento. Produtos pra vender, tem de tudo que se possa imaginar.

O encontro dos vendedores aconteceu no que hoje é a casa de número 1297, no encontro da Rua Presidente Quaresma com a Avenida Coronel Estevão (onde atualmente existe uma farmácia). Acervo O Potiguar

A Feira do Alecrim existe desde 20 de Junho de 1920, quando um grupo de comerciantes liderados pelo paraibano José Francisco dos Santos resolveram fundar a feira. A ideia era que a feira funcionasse no domingo, mas o governo não aceitou e o dia escolhido foi o sábado. Na época os comerciantes não pagavam impostos. Só a partir de 1930 é que a Prefeitura começou as cobranças.
No dia 23 de março de 1957 Câmara Cascudo apresentou José Francisco como o idealizador da feira, mas só no ano seguinte a Câmara Municipal de Natal aprovou a Lei para o funcionamento da feira e uma placa de bronze foi fixada na Rua Nove. Hoje, a tradicional feira do Alecrim possui 515 metros de cobertura (tendas) num total de 1.056 bancas, banheiros, lixeiras e placas de identificação de produtos que estão separados por tipos de produtos.
A Feira do Alecrim existe desde 20 de Junho de 1920, quando um grupo de comerciantes liderados pelo paraibano José Francisco dos Santos resolveram fundar a feira. A ideia era que a feira funcionasse no domingo, mas o governo não aceitou e o dia escolhido foi o sábado. Na época os comerciantes não pagavam impostos. Só a partir de 1930 é que a Prefeitura começou as cobranças.
No dia 23 de março de 1957 Câmara Cascudo apresentou José Francisco como o idealizador da feira, mas só no ano seguinte a Câmara Municipal de Natal aprovou a Lei para o funcionamento da feira e uma placa de bronze foi fixada na Rua Nove. Hoje, a tradicional feira do Alecrim possui 515 metros de cobertura (tendas) num total de 1.056 bancas, banheiros, lixeiras e placas de identificação de produtos que estão separados por tipos de produtos.
A tradicional feira do Alecrim foi criada informalmente por José Francisco, natural da Paraíba e morador de São José do Mipibu ainda na década de 20. No início, a feira funcionava aos domingos embaixo de uma mangueira na atual avenida Amaro Barreto. No dia 23 de março de 1957 Câmara Cascudo apresentou José Francisco como o idealizador da feira, mas só no ano seguinte a Câmara Municipal de Natal aprovou a Lei para o funcionamento da feira e uma placa de bronze foi fixada na rua Nove.

Bonde alecrinense

As dificuldades na expansão e manutenção do sistema se manifestam de maneira quase imediata. A demanda por energia elétrica, iluminação e transporte público para o bairro do Alecrim coloca uma série de dificuldades para operação do sistema, já em 1912.

Com o tempo, foram chegando aos prédios a luz elétrica e a água encanada. A linha de bondes demorou um pouco. Candeeiros e lamparinas iluminavam as casas. Quem não tinha poço ou cacimba no quintal tratava de obter água em chafarizes públicos, junto aos poucos cata-ventos. Lá para o quilômetro seis dos trilhos da Great Western funcionavam, em prédios adaptados, o Isolamento de São João de Deus, para tuberculosos e o Isolamento de São Roque, para variolosos.

Observando que o Alecrim apresentava-se como o bairro mais populoso de Natal, a prefeitura tratou de estender alguns serviços como as linhas de bonde, até então disponíveis em sua maioria na Cidade Alta e na Ribeira. O intuito principal era de desafogar a demanda dos trabalhadores que precisavam se deslocar também para outros trechos da cidade. Esse transporte atravessava a Ribeira passando pela Cidade Nova (hoje, Petrópolis), estendendo-se até o bairro do Alecrim, nas proximidades do leprosário Lazarento da Piedade do hospital dos Alienados.

Em 1911, o conforto dos potiguares multiplicara, com o empréstimo externo de 4.214:274$830 feito na França, e os trilhos dos bondes elétricos chegavam até o Alecrim. Já em meados de 1913, estendiam-se, da Avenida Rio Branco até o bairro do Tirol.

Apenas em setembro de 1923 o tráfego dos bondes foi finalmente regularizado, ainda
assim para o principal circuito (Alecrim-Petrópolis-Tirol-Cidade Alta). Tal fato só se tornou possível depois da criação, nesse mesmo ano, da Repartição de Serviços Urbanos (RSU), vinculada diretamente à secretaria do tesouro estadual e dirigida pelo engenheiro mecânico e eletricista Ulisses Carneiro Leão. Contudo, e apesar dos mais de 400 contos de réis despendidos apenas no reaparelhamento dos carros, o restabelecimento pleno dos serviços ainda estava distante no horizonte e dependia da expansão da capacidade de fornecimento da energia que, com poucas alterações, ainda era a mesma de 1916. “Trafego urbano”,

Bonde da linha do Alecrim, fotografado em fins de 1942, pelo oficial da USAAF Robert C. Henning. Fonte – Livro Eu não sou herói-A história de Emil Petr, de Rostand Medeiros, 2012, pág. 92. 

Ônibus

Em 1922, Francisco das Chagas Andrade havia voltado a morar em Natal e montado um hotel na Rua Frei Miguelinho, na Ribeira. Observou que a população de Natal já começava a residir em áreas novas como Alecrim e Tirol, havendo dificuldades de locomoção para a Ribeira por falta de transporte. Sentiu a oportunidade de negócio e decidiu vender o hotel e montar a primeira empresa de ônibus da cidade, os quais eram chamados de “Sopas”.

Inicialmente eram viaturas com carrocerias montadas em chassi de caminhão, abertas em ambos os lados com um estribo longitudinal servindo de degrau que facilitava a subida e descida dos passageiros. A Sopa possuía seis bancos transversais, cada um comportando cinco passageiros.

A via principal das Sopas era a Amaro Barreto, que não era calçada, obrigando os coletivos a transitarem serpenteando pelo meio da Rua em busca de melhor passagem. Esta prática aborreceu o padre da igreja São Pedro, que objetivando afastar as viaturas da proximidade da sua calçada, mandou construir uma mureta que obrigou as “Sopas” a passarem a circular pelo outro lado da via.

A empresa de Andrade cresceu rapidamente e ele acrescentou o primeiro ônibus fechado, com apenas uma porta, foi a primeira “Sopa fechada” de Natal. Ele foi dono do primeiro carro com silenciador em Natal, um Buick vermelho, uma grande novidade que atraía a atenção de todos no ano de 1927

Ônibus Studbacker pertencente ao Sr José Bertoldo na praça Gentil Ferreira no bairro do Alecrim, anos 50.

Mercado

O Mercado Público do Alecrim, nos fundos da praça, por trás do Quitandinha, foi construído pelo prefeito Gentil Ferreira e inaugurado em 1938.Foi desconstruído para ser relocalizado e ampliar a praça. A Praça, o Quitandinha e o Mercado formavam um espaço público onde tudo acontecia, se via e se sabia.

O Bonde transita no Alecrim com a concorrência de automóveis na Rua Amaro Barreto em 1949.

Em 2021 o Alecrim comemora 110 anos de sua criação. No Alecrim havia a maior concentração de cinemas de Natal, pouco lembrado pelos historiadores do écran natalense. Em comemoração ao centenário do Alecrim passo a listá-los em ordem aleatória.

O Cinema São Luiz

O Cinema São Luiz Situado na Avenida 2 (Rua Presidente Bandeira), no Bairro Alecrim. Foi inaugurado no pós-guerra, em 1946, com o filme “Amar, foi minha ruína”. Cinema São Luís, atualmente Banco do Brasil do Alecrim,
nessa calçada Rejane Medeiros vendia cocadas. Acervo IHGRN

Situado na Avenida 2 (Rua Presidente Bandeira), no Bairro Alecrim. Foi inaugurado no pós-guerra, em 1946, com o filme “Amar, foi minha ruína”
No dia 26/10/1946 seria inaugurado solenemente o Cine São Luiz de propriedade da firma Lopes Varela & Cia.

No dia 16/10/1046 o repórter do jornal A Ordem visitou as dependências do suntuoso prédio do Cine São Luiz situado a rua Presidente Bandeira, no Alecrim em companhia do Sr. Heitor Varela, um dos proprietários.

Tratava-se realmente de uma obra importante pelo que representava para o progresso da capital potiguar, bastando dizer que até aquele momento já haviam despendido pelos proprietários do novo cinema cerca de um milhão de cruzeiros.

O prédio era de construção moderna, com fachada sóbria mais muito expressiva, o imóvel estava apto para a finalidade a que se destinava, em virtude de sua ótima localização e conforto com que foi construído.

Com ambos os lados isolados, o Cine São Luiz comportava mil poltronas no seu salão de sessões que media 30 x 19,40 metros, sendo a cobertura de telhas Eternit e forrado de selotex, que muito concorria para a perfeição do som.A tela era de porcelana e toda a aparelhagem era da RCA Victor, constituída de um Fotofone de luxo, alto-falantes reforçados, dois projetores “Brenker”, com lentes objetivas extra-luminosas, e dois movitones com estabilizadores giratórios, estando encarregados da montagem o engenheiro eletrotécnico George Gatis e seu filho Raimundo Gatis.

O Cine São Luiz dispunha ainda de um balcão destinado as autoridades e pessoas gradas, além de sala de espera, camarins e banheiros, tendo ainda janelas de ventilação. As sessões do Cine São Luiz seriam continuas nos domingos e feriados. (A ORDEM, 17/10/1946,p.6).

No dia 24/10/1946 foi exibida uma sessão especial de experiência para as autoridades e representantes da imprensa e rádio da capital, tendo sido focalizados interessantes e novas películas, tais como desenhos animados, e tecnicolor, jornais, trailers e uma parte do filme de estreia Amara foi minha ruína.

Foi notada pela imprensa a boa qualidade das máquinas com que era dotado o Cine São Luiz, pela perfeição do som e pela nitidez da focalização das películas. A nota da redação dizia que o filme era apropriado apenas para adultos de critério formado. (A ORDEM,25/10/1946,p.4).

Os frequentadores do Cine São Luiz reclamaram por meio do jornal A Ordem solicitando medidas da Cia Força e Luz no sentido da não faltar energia elétrica como estava acontecendo em certo ramal do Alecrim prejudicando o funcionamento daquele cinema e causando aborrecimentos ao que iam assistir as sessões cinematográficas (A ORDEM 06/05/1947,p.3).

Outra queixa dos frequentadores fazia apelo para dirigentes do Cine São Luiz no sentido de dotar medidas que facilitassem a entrada e saída dos frequentadores daquela casa de diversão, quando se realizavam duas sessões a noite.

O barulho do projetor de filmes do cinema São Luís no Alecrim era o som predileto na infância e pré-adolescência de Reinaldo Azevedo, Antônio Sálvio de Abreu, Clécio Godeiro, Ewerton Gurgel e Ivanildo.

Gutembergue Soares vinha três vezes por semana de “Papa-Fila” de Parnamirim para assistir filmes e trocar revistas no São Luís. Na calçada do cinema uma menina morena de Acari vendia cocadas e chamava a atenção por dois aspectos: a beleza fora do comum e o fato de usar todo o dinheiro apurado para comprar ingressos e assistir filmes. Ela assistia o mesmo filme diversas vezes. Essa menina foi embora para o Rio de Janeiro e lá rapidamente evoluiu e se transformou numa estrela do cinema internacional. Rejane Medeiros é o nome da musa acariense que teve participação marcante em filmes como “Entre o Amor e o Cangaço”, “Tarzan e o Menino da Selva”, “Anita Garibaldi” e “Pecado Mortal”.

Adiantavam os reclamantes que assim que terminava a sessão de 18h00 abria-se a corrente para que os que iriam assistir a 2ª sessão sem entretanto se esperar que o salão ficasse livre, o que motivava grande dificuldade para as famílias.

Fora as atrações dos cinemas, Zivanílson Silva recorda que um dos pontos de encontro da turma do Alecrim era a Sorveteria Pinguim na Rua Presidente José Bento, esquina das Avenidas 3 e 8. Dona Izilda Magalhães mantém a Sorveteria em funcionamento até os dias atuais.

O Cine Alecrim

No dia 13/09/1947 foi inaugurado o Cine Alecrim as 19h00 de propriedade da empresa de Cinema Popular Ltda e situado a praça Gentil Ferreira no Alecrim. Aspecto da Praça na década de 30/40, antes do relógio.

No mesmo dia 13/09/1947 foi inaugurado o Cine Alecrim as 19h00 de propriedade da empresa de Cinema Popular Ltda e situado a praça Gentil Ferreira no Alecrim.

A aparelhagem desse cinema pertenceu ao Cine Rex e o mesmo se achava muito bem instalado em prédio próprio. A sessão inaugural foi dedicada as autoridades e a imprensa com a exibição do filme ‘Perseguidos.

Tinha como gerente do novo cinema Sr. Cristovam Bezerra. As sessões se realizavam as 15h30, 18h00 e 20h00 (A ORDEM,13/09/1947,p.1).

A inauguração do Cine Alecrim esteve presente o prefeito Silvio Pedrosa e representantes da imprensa.
Na inauguração foram servidos champagne e cerveja aos presentes e na tela foram exibidos vários jornais e slots.

O salão dispunha de 400 poltronas e conforme anunciou o gerente Cristovam Bezerra ali seriam exibidos filmes a preço populares. (A ORDEM, 15/09/1947, p.1).

O cinema paroquial do Alecrim (Cine Olde)

O cinema paroquial do Alecrim (Cine Olde) Estava localizado na rua Fonseca e Silva no Alecrim. Inaugurado no final dos anos 60. Depois demolido para construir o Salão Paroquial da Igreja de São Pedro.

A primeira exibição do Cinema Paroquial do Alecrim ocorreu as 19h30 do dia 27/06/1947 estreando com o filme “Flores do pó”, uma película que representava o triunfo de uma alma dedicada a espinhosa missão de educar. A partir de então haveria sessões todas as noites ao preço de Cr$ 3,00 (A ORDEM, 27/06/1947, p.4).

Estava localizado na rua Fonseca e Silva no Alecrim. Inaugurado no final dos anos 60.

O Cine Olde voltou a funcionar no final da década de 1960 início da década de 1970, e tinha uma característica interessante: quando não conseguia um filme novo para apresentar, passava “Dio come te amo” (está escrito como falo, não sei italiano). Deve ter passado umas cem vezes.

No cinema “Olde” (depois transformado em Teatro Infantil de Jesiel Figueredo) assisti o filme “A Moreninha”. Uma projeção ruim e truncada. No São Luis vi muitos filmes de Tarzan, Zorro e outros capa e espada. Era ali, na calçada do São Luís onde trocávamos revistas e cromos dos belos álbuns de figurinhas. Televisão só na casa do Dr. Grácio Barbalho, onde a meninada traquina reunia na frente da
casa para brechar.

Depois demolido para construir o Salão Paroquial da Igreja de São Pedro.

Cinema

O primeiro cinema do bairro foi inaugurado em 1918, na rua Mário Negócio, com os filmes O Triunfo, com Gaby Deslys em 7 partes e “As Modalidades de Marcos”, com Mary Doro em 5 partes.

Cine São Pedro

– Cine São Pedro, inaugurado no final do ano 1930, na Rua Amaro Barreto Nesse cinema eram exibidos os seriados O Cobra, O Homem Aranha, O Falcão do Deserto, os Tambores de Fumanchu entre outros. “Os Últimos Dias de Pompeia” em exibição no Cine São Pedro, Alecrim, 1931

O Cinema São Pedro na Rua Amaro Barreto, Alecrim, foi inaugurado no final do ano 1930. No ano seguinte lá foi exibido o primeiro filme falado na cidade “General Crack”.

O filme austríaco “Êxtase”, exibido em 1936 em Natal, foi a primeira produção erótica do cinema, com exibição da nudez da bela atriz Hedy Lamar. Nesse cinema eram exibidos os seriados O Cobra, O Homem Aranha, O Falcão do Deserto, os Tambores de Fumanchu entre outros.

No Cine São Pedro do Alecrim, os moleques mijavam sentados para não perder o filme, era um cheiro de mijo tremendo

Cine São Sebastião

Situado na Avenida 10, no popular bairro do Alecrim em Natal – RN, o Cine São Sebastião foi inaugurado em 06 de Dezembro de 1947, com o filme “Piratas e Rancheiros”, foi fundado por José Alexandre Ferreira. Tela Panorâmica, só lotava na Semana Santa com o filme Paixão de Cristo.Também fazia muito sucesso os filmes de bang – bang protagonizados por Django, Ringo e Maciste.

A mulher do proprietário vendia os ingressos e ele os recebia. O cartaz encostado a um poste e a placa luminosa afixada na parede do São Sebastião era a forma de divulgação do filme.

Havia dias que só apareciam quatro ou cinco espectadores. Enchia quando o Seu Ferreira abria as portas.

Com pouca afluência e alguns desentendimentos com os desrespeitosos espectadores, o cinema ainda durou até a década de 1970, quando a televisão tirou o público dos cinemas para as poltronas de casa. O Senhor Josué dos Santos da Silva era o proprietário nos últimos tempos do Cine São Sebastião.

Nos primórdios do saudoso São Sebastião o Sr Ferreira enfrentou vários desafios. Um dia faltou energia e o cliente não sabendo o final do filme resolveu agredir o dono do cinema.

Tempo bom quando muitas vezes exibíamos os filmes em casa projetados nas paredes. Era comum o filme partir nesses cinemas de antigamente. Faltar energia e a sessão ser reiniciada várias vezes. Com muita paciência e amor ao cinema esperávamos emendar a fita.

Cultura/Esporte

O Alecrim apresenta manifestações culturais próprias, como a festa do padroeiro da Igreja de São Pedro, a festa do padroeiro da Igreja de São Sebastião, festas juninas organizadas pelos moradores do bairro e as comemorações carnavalescas. Todas as manifestações tem um significado especial para os moradores do Alecrim e é necessário notar o papel que as mesmas desempenham na dinâmica do bairro.

Nos relatos de moradores e outras fontes, como jornais e fotografias, pode perceber as transformações ocorridas no bairro Alecrim. Tais transformações incluem as manifestações culturais do Alecrim. Algumas festas e comemorações desapareceram, e aquelas que permanecem sofreram modificações.

Além do Baldo, o Alecrim, o grande bairro operário, conservou sua primitiva denominação poética em homenagem ao monumento dessa “cotovia mística das rimas” que pelos séculos adiante jamais perderá a força embriagadora do seu lirismo divino, no horto de arminho, onde as almas dos humildes e dos simples vêm aprender com ela a sonhar, com essa que o poeta viu dormindo eternamente entre lilazes, boiando na corrente das mágoas como um lótus de extintas primaveras.

A vida cultural do Alecrim registra a existência de cinemas, até a década de 80, que, gradativamente, foram fechados: o São Luiz, o São Pedro, o São Sebastião, o Paroquial e o Olde. Nos carnavais, a cidade se voltava para ver os desfiles dos corsos (carros alegóricos dos carnavais do passado) que se realizavam nas ruas Sílvio Pélico, Amaro Barreto e adjacências.

Até os anos 80, o Alecrim tinha uma vida cultural ativa, com dois teatros (Sandoval Wanderley e Jesiel Figueiredo), cinemas (São Luiz, São Pedro, São Sebastião, Olde), clubes (Alecrim Clube, Cobana, Atlântico), todos extintos.

Cândido Medeiros (Seu Candinho), à frente dos confrades, prestou grandes serviços à pobreza do Alecrim e lecionou à noite, por algum tempo e sem remuneração, num dos salões do Grupo, tendo constituído, talvez, o primeiro curso, no Estado, de alfabetização de adultos. Em sua residência, seu filho Lauro, com alguns rapazes do bairro, fundou em 1917 e presidiu o Alecrim Futebol Clube. Os times treinavam e jogavam, inicialmente, num campo improvisado, em local para novo cemitério, nas proximidades da capelinha de São Sebastião, na Baixa da Beleza (rua Coronel Estêvão). O goleiro do quadro principal era o estudante João Café Filho, futuro Presidente da República.

Na rua América: João Antônio Moreira, carteiro dos Correios, que organizava e ensaiava, no quintal, anualmente, para o Carnaval, o Bloco Alecrinense, que todos chamavam A Maxixeira porque seus foliões desfilavam como verdureiras; Faustino de Vasconcelos Gama, administrador do Cemitério, que, nas festas natalinas, costumava mandar exibir, defronte da morada, para o público em geral, o Bumba-meu-Boi e os Congos, já que Pastoril ou Lapinha, Boi de Bonecas e João Redondo eram apresentados dentro de sítios ou salas.

Sua origem foi o antigo Teatrinho do Povo, inaugurado em 1963, durante a administração do prefeito Djalma Maranhão. Desativado após 1964, somente foi reaberto em 1971. Em 1973, foi denominado Teatro Municipal Sandoval Wanderley, em homenagem a um dos principais nomes da dramaturgia potiguar.
Localizado no bairro popular do Alecrim, na Avenida Presidente Bandeiras, no mesmo local em que na década de 50 do século XX, funcionou uma biblioteca pública com mais de 2000 livros local de conhecimento e cultura, desde sua origem, o antigo Teatrinho do Povo, transformou-se numa referência em espaço público destinado as artes cênicas. Em sua edificação encontramos a digital de Djalma Maranhão, o prefeito dos folguedos populares. O Sandoval Wanderley está fechado desde 2009, quando apresentou problemas nos sistemas elétricos e hidráulicos, além de falta de acessibilidade e ausência de saída de emergência. A casa teve dois projetos de reforma – um deles previa sua saída do Alecrim – que não aconteceram.
Alecrim de 1968, colorizado. Enviado por Silvio Sampaio membro do Grupo Fatos e Fotos de Natal Antiga
O Carnaval no Alecrim na Rua Amaro Barreto. Década de 1980. Acervo Chyka

Rock

Vamos relacionar algumas bandas que se apresentavam no Alecrim:

No embalo dos primeiros sucessos dos Beatles, de repente, muitos jovens de Natal se interessaram em migrar do violão para a guitarra elétrica. Ewerton Gurgel Pinto, Ivanildo, Isaú Gerino, Levi Bulhões e João Carlos Costa, começaram a tocar juntos em festas de aniversário e assustados no Bairro do Alecrim, onde moravam. Assim surgiu uma banda cuja denominação inicial veio na base da gozação: “The e Dadas”. Posteriormente foi ajustada para The e Dads. Em vista do surgimento de Renato e seus Blue Caps, algumas meninas chamavam o conjunto de “Ewerton e seus Blue Caps”. Muitas festinhas de aniversário e “Assustados” ganharam um novo ritmo no Alecrim. Posteriormente, Reinaldo Azevedo e Marcos Leite também participaram.

Ewerton e seus Blue Caps, Alecrim 1968 (Foto do arquivo Ewerton Gurgel Pinto).

Banda formada em 1968 por Emanuel Lustosa (guitarra base e voz), Everaldo (baixo), Ribamar (guitarra solo), Edílson Vasconcelos (bateria). Também participaram da Banda: Ferré (baixo), Neném depois Célio e depois Expedito (teclados). Múcio Trindade era o empresário do conjunto. Tocavam no Aero, América, Quintas e Alecrim Clube . Os Infernais apresentavam principalmente músicas da Jovem Guarda e Emanuel chegou a tocar com Reginaldo Rossi na banda pernambucana “Th e Silver Jets”.

Os Infernais com Emanuel ao centro (foto do arquivo de Emanuel Lustosa)

Os Canaviais: Banda formada em Ceará-Mirim (1969) com: Tita (João Batista da Silva) (guitarra solo), Damião (baixo), Adamar (base), Trajano ou Washington (bateria), Fernando (pistão). Fizeram sucesso em Natal, a partir de 1971, trazidos pelo locutor e empresário musical Jota Belmond. Tocaram na Boite Mustang, Saravá, Ele &Ela, Assen, Alecrim Clube, Piri-Piri etc. Os Canaviais atuaram até 1977.

Relógio

Em 1966, o Rotary Club do Alecrim deu de presente a praça um relógio. O Rotary tinha como objetivo prestar um serviço a população, que na época não tinha condições de comprar um relógio. O relógio do Alecrim é referência para 92% das pessoas que passam pelo local.Em 2011, após 45 anos de uso, o Rotary Club do Alecrim trocou o relógio antigo por um novo, em comemoração ao centenário o bairro do Alecrim.

Relógio do Alecrim.

Efervescência politica

São inúmeras as praças existentes no bairro Alecrim. Grande parte dos moradores do bairro diz ser a praça Gentil Ferreira sua maior referência quando se fala nesse tipo de logradouro público. Ainda exemplificam ser este o espaço onde as pessoas reuniam- pra conversar sobre política, futebol e da “vida alheia”, para tomar um café, uma “pinga” ou fazer algum lanche, para apreciar os transeuntes, e para acompanhar as grandes manifestações políticas e culturais de Natal, os comícios de fim de campanha e, mais ainda, os “showmícios”, que eram shows promovidos pelos candidatos do momento para entreter a população que ia em busca também de uma distração.

Nesse sentido, não se pode falar da praça Gentil Ferreira sem falar do Quintandinha. O Café-bar Quitandinha que se situava em frente à praça, no cruzamento da Avenida 2 (Rua Presidente Bandeira) com a Amaro Barreto, foi inaugurado em 1938, antes mesmo da própria praça Gentil Ferreira. Local dos mais variados shows e comícios políticos reunia todos os dias muitos que vinham do interior e outros tantos da capital que discutiam diversos assuntos.

Praça Gentil Ferreira, Bairro do Alecrim. Foto/acervo A República – década de 1980.
Cartão-postal, Jaeci Galvão. Praça Gentil Ferreira, no bairro do Alecrim. Provável data, 1965. Fonte: Acervo de André Madureira. O enquadramento da Praça Gentil Ferreira, ao contrário dos cartões que o antecedem o espaço está preenchido com um número significativo de pessoas, o que as coloca em interação com o ambiente da praça. É a prática de “estar em público” que passa a orientar os moradores de Natal, a passagem do provinciano ao cosmopolita.
Bar Quitandinha, situado na Praça Gentil Ferreira, Bairro do Alecrim, na confluência da Rua Amaro Barreto com a Avenida Presidente Bandeira, palco de memoráveis comícios cívicos-eleitorais. No lado esquerdo é possível ver a praça de taxi com os conhecidos automóveis DKW Vemag. Foto provavelmente do início dos anos 60 do século passado.

Moradores

No Barro Vermelho, constituído de sítios de muitas fruteiras, alguns com água corrente, pássaros cantando por toda parte, locais privilegiados para os melhores piqueniques e festas juninas, residiam o juiz federal Meira e Sá, o tenente João Bandeira de Melo, do Batalhão de Segurança; o comerciante Joaquim das – Virgens Pereira; o guarda-mor da Alfândega Carlos Policarpo de Melo, o escriturário do Tesouro Estadual João Fernandes de Campos Café, também pastor protestante; a família Melo, de Augusto Severo, e outros.

Na atual Praça Pedro II, do lado direito: Os comerciantes Alfredo Manso Maciel; José Antônio Fernandes e Isidro José da Rocha, os proprietários Elpídio Estelita Manso Maciel (Esteio Manso) e Pedro Joaquim Lins; os funcionários federais José Augusto da Fonseca e Silva e José Ildefonso de Oliveira Azevedo; o fiscal da Inspetoria Geral de Higiene (Secretaria de Saúde Pública) Antônio Cavalcanti de Albuquerque Maranhão (Cavalcanti Grande); do lado esquerdo: Os comerciantes Clínio e Teódulo Sena e Francisco Antônio Fernandes; o capitão Joaquim Andrade de Araújo, do Batalhão de Segurança; o pistonista José Alves de Melo, o sacristão Francisco Antônio do Nascimento, depois oficial comissionado do Exército (tenente Chico); o tenente João Alexandre de Vasconcelos (Joca de Xandu), que combateu em Canudos; o desembargador Hemetério Fernandes Raposo de Melo, cuja casa foi ocupada em seguida pelo fiscal de consumo José Ribeiro de Paiva.

Na rua Boa Vista, no centro da qual havia enorme barreiro: O tenente Inácio Gonçalves Vale, do Batalhão de Segurança e o comerciante João Andrade. Na rua General Fonseca e Silva: O oficial de justiça Abílio César Cavalcanti, depois delegado auxiliar da Capital e juiz de direito no interior, e o administrador do Hospício, Cândido Henrique de Medeiros, que fundou, em 19 de julho de 1914, a Conferência de São Pedro, dos vicentinos e a presidiu até quase o fim da vida.

Na rua Borborema: Os irmãos José e Francisco Martins Pinheiro, funcionários do Tesouro Estadual; os comerciantes Vicente Barbosa, João Luiz de França, Bento Manso Maciel, Luiz Rogério de Carvalho e Genuíno de Sousa Menino; o líder João José da Silva(João Ponche), da Liga Artístico-Operária, da Cidade Alta e o sargento-enfermeiro da Marinha Serôa da Mota, que realizava na residência sessões do Espiritismo.

Na rua Amaro Barreto: Os comerciantes Antônio Jeremias de Araújo e Manoel Firmino e o tabelião Miguel Leandro, que ensaiava em seu sítio o melhor Fandango natalense e o levava, nas festas de fim de ano, com a Nau Catarineta, a um grande tablado, na atual praça Gentil Ferreira. Cosme Ferreira Nobre, oficial de justiça do Tribunal, instalou nessa rua uma assembleia dos Pentecostistas. Havia por ali, pontos do chamado Jogo do Bicho, que em Natal não era tido como contravenção penal.

Na rua Coronel Estêvão, a mais extensa: O desembargador Antônio Soares de Araújo, então juiz de direito da Capital, que, à falta de médico no bairro, forneceu todas as manhãs, à sua custa e gratuitamente, durante anos. Doses de homeopatia aos doentes sem recursos, que o procuravam; o cônego Estêvão José Dantas, professor do Atheneu Norte-Rio-Grandense, que cooperava também nos atos religiosos da Paróquia; o guarda-livros Manoel Pinto Meireles, os poetas Damasceno Bezerra e Manoel dos Santos Filho; o capitão Felizardo Toscano de Brito (que voltaria a morar no Alecrim quando general da Reserva), Mário Eugênio Lira e José de Vasconcelos Chaves, secretário e tesoureiro da Prefeitura; a viúva Adelaide Fonseca (os quatro últimos na faixa conhecida como Alto da Bandeira); os comerciantes Manoel dos Santos Morais, Francisco Gorgônio da Nóbrega, Francisco das Chagas Dantas (Seu Chaguinhas) e Antônio Ferreira da Silva (Tota de Chicó), os três últimos os organizadores da Feira do Alecrim.

Na Avenida Alexandrino de Alencar: O coronel Manoel Lins Caldas, ex-comandante do Batalhão de Segurança (hoje Polícia Militar); o professor José Elídio Carneiro, da Marinha; o comerciante Sandoval Capistrano e o tesoureiro do Correio Geral, Pedro da Fonseca e Silva, o qual exercia também a função gratuita de delegado de polícia do bairro. Ali, ficava também o Posto Policial.

Na Rua Sílvio Pélico: O funcionário da Alfândega Antônio de Araújo Costa. Em casa próxima à Escola de Aprendizes Marinheiros, morava o comandante Antônio Afonso Monteiro Chaves, que matriculava os filhos no Grupo Escolar, o mesmo fazendo os que serviam naquele estabelecimento militar. Os pequenos cariocas, uns mais adiantados e esclarecidos, eram escutados com grande curiosidade pelos coleguinhas do bairro, sobre coisas do Rio de Janeiro. As noites eram tão tranquilas que, muitas vezes, se conseguia ouvir, das imediações do Grupo, o toque de silêncio, das vinte e duas horas, do clarim do Esquadrão de Cavalaria, no Tirol (avenida Hermes da Fonseca). Esse o Alecrim dos dez primeiros anos de sua criação, o bairro que o professor Luiz Soares, educando gerações, viu diariamente, durante mais de meio século, crescer e progredir.

Atualidades

O Alecrim de hoje continua sendo um bairro tipicamente comercial, procurado por todos os moradores da cidade. É comum ouvir exoressões de que “isso só tem no Alecrim” ou “se não tiver no Alecrim, não tem em canto nenhum”. Com suas ruas apinhadas de gente, camelôs, trânsito caótico, alto-falantes a mil decibéis, cafés, bares, bilhares, o Alecrim é diferente.Sem renovação do seu perfil urbanístico e arquitetônico, é um bairro castigado pela má qualidade dos serviços públicos, por imóveis velhos e mal conservados, inadequados até ao fim comercial, sua principal atividade.Mesmo assim, mantém aceso o seu carisma de que é aqui que se tem de tudo.

Curiosidades

Antiga bodega, finalzinho da rua Borborema no alecrim, bem a moda antiga.
Este templo da igreja Baptista no Alecrim, av 2, vai fechar? Demoliram a lateral dela e rasparam o nome da igreja. Pena, bela edificação. Talvez vire uma revenda de carros…
Antiga sede do Detran abandonada pelo Governo do Estado. Nós anos 80 ainda era Detran. Funcionou até 1982. Esta edificação já foi o hospital Carlos Chagas referência na época de doenças contagiosas. Ainda funcionou no local o SIEFF da Secretaria de Tributação-RN. Hoje apenas o seu anexo está em uso por uma Delegacia de Polícia.
Tenda Catedral erguida num terreno alugado, de propriedade do Dr. Gentil Ferreira de Souza. A missionária Hazel comprou o terreno por C$ 190.000,00 (cento e noventa mil cruzeiros) uma herança que recebera de um tio, a construção do templo do Alecrim durou 7 anos, até que concluído foi dedicado ao Senhor em 26/06/1965.
Essa igreja foi fundada em 25 de junho de 1949 pelos missionários Americanos Harland Graham e Hazel Granham , Haroldo Matson e Ethel Matson. A igreja começou com uma tenda de circo e se chamava: tenda catedral. Antes da Tenda ser erguida crianças brincavam nesse terreno. O terreno serviu, por um bom tempo, para uma igreja protestante fazer os seus cultos. Por isso foi chamada, por algum tempo, de Tenda dos Crentes. Ficava na esquina da Av 2 com a Av 7. Missão Evangélica Pentecostal do Brasil MEPB.
A MEPB foi a primeira igreja a transmitir um programa radiofônico em Natal, o programa “Palavra da Fé” pela Rádio Poti de Natal. E também foi a primeira a usar um campo de futebol para fazer grandes concentrações, tendo utilizado o Campo do ABC no bairro de Petrópolis. Hoje tem um trabalho relevante junto a comunidade de rua, na pessoa do pastor Miguel.
Localizada no Alecrim a Rua Coronel Estevam (atual Avenida), era o antigo caminho que ligava a capital potiguar ao sertão. Seu topônimo é uma homenagem ao Coronel Estevam José Barbosa de Moura (1810-1891), homem de grandes propriedades, que mandou abrir um caminho para a antiga Coité, atual Macaíba.
A ocupação do bairro Alecrim seguiu as transformações causadas pela expansão da cidade e por ser passagem para o interior do estado. Cascudo informa que o: Alecrim, com o acesso para o sertão por Macaíba, ficou sendo o bairro sertanejo, tendo sítios que pareciam fazendas, vacarias, feiras, simplicidade de vida, roupa e atividades.
Surgiram pequenos hotéis para os comboios que carregavam caminhões, o algodão, fixavam seus motoristas e patrões acanhados nos alojamentos do Alecrim.
A partir do caminho aberto, pelo velho Coronel Estevam, em fins de 1859 e princípio de 1861, o Alecrim inicia sua vocação de bairro comercial e popular. A Rua Coronel Estevam faz parte da evolução urbana da cidade do Natal. Rua de nossa memória.
Também conhecida como ‘Antiga av.9’, é um dos principais pontos de comércio da capital norte-riograndense, corta praticamente a cidade do Natal. Nele está localizada o famoso CAMELÔ, ou Camelódromo, o maior centro de vendas da Capital do RN, localizada no Bairro do Alecrim.
O movimento protestante chegou a Natal, por volta de 1880, quando missionários realizaram reuniões públicas, distribuindo bíblias e organizando na cidade, os primeiros simpatizantes dos ideais defendidos por Lutero na denominada Reforma Religiosa. Neste início de formação das igrejas evangélicas, destacou-se a participação do professor Panqueca, Sr. Joaquim Lourival Soares da Câmara, segundo Cascudo (1999) um dos mais fervorosos catequistas da “BOA-NOVA”.
A partir de 1910, cultos pentecostais são realizados em diversos municípios norte-riograndenses, logo chegando à cidade de Natal. O evangelista Adriano Nobre, em abril de 1918, realizou o batismo, em águas do potengi, dos seis primeiros crentes pentecostais. Iniciava deste modo a constituição da Igreja Assembléia de Deus, em solo potiguar.
Câmara Cascudo, em História da Cidade do Natal, cita a Rua do Arame, como o lugar onde ocorreu o primeiro culto na noite do dia 24 de maio de 1918. Conforme Silva (1970, p.45), a Igreja Assembléia de Deus, “no princípio era situada na esquina da Avenida 1, atual Presidente Quaresma, com a Rua Amaro Barreto”.
Com o crescimento dos fiéis, foi erguido na Rua Manuel Miranda um novo templo, inaugurado no dia 24 de janeiro de 1936. Hoje, no Alecrim próximo à Praça Gentil Ferreira, surge, no mesmo local do antigo templo o imponente edifício da Assembléia de Deus, construído na década de 1990. A Assembléia de Deus é lugar de orações e de memória da cidade de Natal.

Água – Como era hábito à época os cemitérios, os matadouros públicos e os depósitos de lixo eram construídos fora dos limites da cidade. No caso de Natal, esses equipamentos urbanos foram construídos nas proximidades do Baldo. O cemitério havia sido construído em meados do século XIX, no subúrbio, no lugar denominado Alecrim, na subida do Baldo, em direção a oeste, o matadouro público era localizado às margens do rio Potengi, próximo à desembocadura do córrego do Baldo, e o depósito de lixo da cidade ficava entre esses dois equipamentos urbanos. É de se imaginar que a água consumida na cidade tinha, no mínimo, uma qualidade duvidosa.

Fontes:

A CONSTRUÇÃO DA NATUREZA SAUDÁVEL: NATAL 1900-1930. ENOQUE GONÇALVES VIEIRA. NATAL / 2008

A República, Natal, n.208, p.1, 13 set. 1923; Rio Grande do Norte, Mensagem de Governo do RN, 1923, p.45-49; houve um incremento significativo nos recursos estaduais destinados aos “serviços urbanos”: de apenas 70 contos de réis, em 1920, para 384, em 1922, 1.314, em 1922, e 1.235 contos de réis, em 1923 (Cf. Rio Grande do Norte, Mensagem de Governo 1924, p.59-61).

ARTIGOS adicionais da Câmara Municipal de Natal: 1885, Pasta 119.

A MODERNIZAÇÃO DA CIDADE DO NATAL: O AFORMOSEAMENTO DO BAIRRO DA RIBEIRA (1899-1920). LÍDIA MAIA NETA. NATAL/Dez/2000

Anuário Natal 2007 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2008.

Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.

ANUÁRIO NATAL 2013 / Organizado por: Carlos Eduardo Pereira da Hora, Fernando Antonio Carneiro de Medeiros, Luciano Fábio Dantas Capistrano. – Natal : SEMURB, 2013.

Caminhos que estruturam cidades: redes técnicas de transporte sobre trilhos e a conformação intra-urbana de Natal / Gabriel Leopoldino Paulo de Medeiros. – Natal, RN, 2011.

CASCUDO, Luís da Câmara, História da Cidade do Natal. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.

CASCUDO, Luís da Câmara. O livro das velhas figuras. Natal: EDUFRN, 2002 (v.8).

Dos bondes ao Hippie Drive-in [recurso eletrônico]: fragmentos do cotidiano da cidade do Natal/ Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro. – Natal, RN: EDUFRN, 2017.

ILUMINA-SE A CIDADE: NOTAS SOBRE A FORMAÇÃO DO SISTEMA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA EM NATAL (1911-1930). George Alexandre Ferreira Dantas. Barbara Gondim Lambert Moreira. Ítalo Dantas de Araújo Maia. Grupo de Pesquisa História da Cidade, do Território e do Urbanismo. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil. Simposio Internacional Globalización, innovación y construcción de redes técnicas urbanas en América y Europa, 1890-1930 Brazilian Traction, Barcelona Traction y otros conglomerados financieros y técnicos Universidad de Barcelona, Facultad de Geografia e Historia, 23-26 de enero 2012.

História do Rio Grande do Norte / Sérgio Luiz Bezerra Trindade. – Natal: Editora do IFRN, 2010.

Matemáticas elementares na Escola Normal de Natal legislação, programas de ensino, material didático (1908-1970) / Márcia Maria Alves de Assis. – Natal, 2016.224f

MELLO, Pedro de Alcântara. : figuras e fatos de minha geração. Natal: Sebo Vermelho, Edição fac-similar.

MELO, Veríssimo de. Calendário Cultural e Histórico do Rio Grande do Norte. Natal: Conselho Estadual do Rio Grande do Norte, 1976.

Memória minha comunidade: Alecrim / Carmen M. O. Alveal, Raimundo P. A. Arrais, Luciano F. D. Capistrano, Gabriela F. de Siqueira, Gustavo G. de L. Silva e Thaiany S. Silva – Natal: SEMURB, 2011.

MOURA JÚNIOR, Manoel Procópio de. Presidentes das ruas numeradas do Alecrim. O Potiguar, Natal, ano VIII, nº 42, mar/abr.2005.

Natal Não-Há-Tal: Aspectos da História da Cidade do Natal/Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo; organização de João. Gothardo Dantas Emerenciano. _ Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2007.

SOUZA, Itamar dc. A República Velha no Rio Grande do Norte. 1889 – 1930. Natal: [s.n] , 1989. Edição comemorativa ao primeiro centenário da Proclamação da República do Brasil.

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2 thoughts on “O Bairro do Alecrim

  • 7 de fevereiro de 2022 em 4:58 pm
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    Parabéns pelo belo relato sobre o bairro do Alecrim, muitos fatos e acontecimentos importantes se passaram nesse lugar histórico.

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  • 23 de julho de 2023 em 10:56 am
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    Nossa pesquisando sobre o bairro para o trabalho do meu filho de 7 ano no 2° ano do instituto Reis Magos fiquei encantada. Ótimo trabalho parabéns

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