O Morro e a Praia do Pinto
Imaginem as dunas de Jenipabu dentro do perímetro urbano de Natal com a mesma extensão e exuberância. Sim já existiu tal paisagem até meados da década 80 na Cidade do Natal. A expansão mobiliária, obras de infraestrutura urbana, tais como estradas e barreiras, o Farol de Mãe Luiza, progressivamente acabaram com este que deveria continuar sendo um dos mais delos cartões postais da Cidade do Natal. Trata-se do Morro e da Praia do Pinto.
Praticamente desconhecido, o Morro e a Praia do Pinto têm muitas fotos em diferentes períodos de diversos fotógrafos que mostram a sua existência. É que poucos associam a paisagem ao nome. Tanto isso é verossímil que muitos até os dias de hoje as confundem com as dunas de Jenipabu.
Apesar de não existirem mais devido a ocupação imobiliária, urbanização, erosão marítima e a construção da Via Costeira, a paisagem paradisíaca tem muito a contar sobre a história da Cidade do Natal e sua conexão com o mar.
Contamos aqui sua história em uma postagem inédita.
LOCALIZAÇÃO
Não encontrei registros que atestem esta dedução, porém o nome Ponta e Praia do Pinto podem ser atribuídos ao fato desta formação de dunas ocupar inteiramente um lado da ponta da baía que forma as praias de Areia Preta e de Miami. As características geográficas geológicas das dunas de aspecto amarelado com semelhanças ao pinto logo deram aos primeiros habitantes do local de sua impressão o nome para a região tida como uma das mais belas da antiga Cidade do Natal. Assim, a praia do Pinto margeia da duna em seu encontro com o mar até depois da formação rochosa onde inicia a Avenida Governador Silvio Pedrosa (conhecida por Via Costeira) se estendendo até a Praia de Mãe Luiza (depois do Hotel Senac Barreira Roxa no sentido Praia de Areia Preta para a Praia de Ponta Negra).
Mais do que a curiosidade nos reserva e a beleza nos atrai, o local tem acontecimentos históricos os quais vamos reportar nesta postagem.
INVASÃO HOLANDESA
Tem-se considerado a atual praia de Ponta Negra, distante umas 3 léguas do Forte dos Reis Magos, como tendo sido o local onde desembarcaram os flamengos . Todavia, analisando-se certos mapas holandeses, contemporâneos dos episódios a que nos referimos, verificamos que a Ponta Negra considerada à época, correspondia à nossa tradicional PONTA DO PINTO (LAET, Joannes de * História ou Anais dos feitos da Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais, II, pp.422-423) e (BARLAEI, Casparis * Rerum per Octennium in Brasilia, etc. (Mapa de Marograve relativo a Capitania do Rio Grande)). O mapa de João Teixeira também nos fornece tal indicação (CAMPOS MORENO, Diogo de * Livro que dá Razão do Estado do Brasil, p.81.).
De tal modo, o local onde o desembarque flamengo ocorreu foi na angra existente ao norte da referida Ponta, no trecho sul da atual praia de Areia Preta. Nesta encontram-se as barreiras íngremes descritas pelos cronistas, por detrás das quais existe o chamado Morro de Mãe Luiza. Aquelas barreiras já receberam a proteção representada por um muro de arrimo, construído de cimento, e medem aproximadamente 6 metros de altura.
A distância de dois tiros de mosquete do ponto de desembarque, os invasores foram informados de que a dita praia por onde caminhavam (Areia Preta), “além de muito estreita, na preamar ficava alagada”, de modo que se dirigiram “para o interior por um passo, que também estava entrincheirado (CARVALHO, Alfredo de * Obra citada , p.173.)”.
Quando se caminha cerca de 900 metros, vindo da praia de Areia Preta em direção à fortaleza, chega-se ao início de uma ladeira, que possivelmente seria aquele mesmo passo mencionado pelo cronista, e que hoje corresponde ao trecho final da rua Pinto Martins. Através de tal passo, os neerlendeses alcançaram o planalto, possivelmente onde hoje acha-se a avenida Getúlio Vargas.
No mesmo dia em que ocorreu o desembarque holandês na antiga praia de Ponta Negra (hoje correspondente a Areia Preta) – 8 de dezembro de 1633, um dia de 5ª feira, cuja maré cheia verificou-se às 10 e meia da manhã – , parte das tropas dirigiu-se à barra do Rio Grande (Potengi), embarcada em diversos navios sob o comando de Jan Cornelissen Lichthart, conduzindo também os senhores Van Ceulen, ten.cel. Balthasar Bymae e Carpentier. A esquadra veio impusionada pelos ventos leste e norte, pretendendo a conquista do Forte dos Santos Reis, situado na barra daquele rio.
MORROS DE AREIA
A imagem da natureza ameaçadora aparece inicialmente em editorial escrito no jornal “A Republica”, de 31 de março 1901, intitulado “Perigo Iminente”. No texto, defende-se a ideia de que os “morros de areia” que cercam a cidade, em especial aqueles que se encontram na região denominada de Areia Preta, “ameaçam parte desta capital”.
No entanto, precedia à construção da Cidade Nova a contenção de um “Perigo Iminente”, expressão usada pelo jornalista Manuel Dantas, ao se referir às dunas. O perigo iminente nada mais era do que as dunas que margeavam o novo bairro pelos limites ao Sul, e que começavam na famosa praia de Areia Preta e se estendiam até o perder de vista em direção ao interior.
Ninguém ignora que os morros de praia, formados de areia movediça, podem desoar-se com muita facilidade, caminhando até se arrazarem completamente. Conforme o tamanho do morro, as areias às vezes sepultam aldeias inteiras e sítios que lhe ficam ao pé (Perigo Iminente. A República, 31 de março de 1901).
Os “morros de areia” citados pelo articulista nesse editorial são, em um termo geológico mais preciso, as dunas que circundam a cidade.
Segundo o geólogo Patrick Hesp, dunas são formações arenosas vegetalizadas, ou não, formadas nos setores mais próximos do mar das faixas de pós-praia. Elas podem ser formadas em uma diversidade de ambientes litorâneos: na faixa de praia em mar aberto, baías semifechadas, estuários, lagos e lagoas e existem em praticamente todos os tipos de clima, desde as áreas tropicais a áreas de clima frio. Tais formações geológicas são denominadas por uma grande variedade de termos, tais como: dunas frontais, dunas embrionárias, cristas de retenção, cristas de praia, cordões de dunas paralelas ou dunas transversais, em Natal, convencionou-se, popularmente, chamar as formações dunares de “morros”. As dunas, geralmente, tomam formas de cristas convexas vegetalizadas, alinhadas paralelamente à faixa de praia, separadas entre elas por depressões côncavas (HESP, Patrick. A gênese de cristas de praias e dunas frontais. p. 119).
Naquele momento, em 1901, o que o editorial do jornal apontava como sendo o grande potenciador desse perigo era, exatamente, o uso que a população fazia das dunas. Ao afirmar que “o morro de Areia Preta está começando a desmoronar-se para o lado da cidade”, o jornalista assinala, a gravidade do problema.
Em outubro do mesmo ano, o governador Alberto Maranhão, na companhia do presidente da Intendência municipal, Joaquim Manuel Teixeira de Moura, e do chefe interino da Comissão de Melhoramento do Porto, em visita à praia de Areia Preta, decidiu fixar as areias das dunas daquela região, uma providência que já havia sido reclamada anteriormente pela imprensa, como vimos acima. Com essa medida, o chamado “perigo iminente” se acabava, permitindo com isso a ocupação e o desenvolvimento do novo bairro de Natal, a Cidade Nova, que, a partir de então, estava livre do perigo de ser soterrado pelas areias das dunas.
Em dezembro de 1902, preocupada com a devastação dos morros, a imprensa denunciava que “vários individuos estavam barbaramente devastando os morros do Morcêgo e Areia Preta, abrindo roçados e queimando o matto” (Devastação dos morros. A República, 22 de dezembro de 1902). Para evitar tamanha devastação, a Intendência Municipal mandou guardas e fiscais para prenderem os infratores, chegando a aprisionar um dos indivíduos encontrado em flagrante delito. Segundo o jornal “A República” tal ato era considerado uma infração escrita no código de posturas de Natal.
A citada palestra de Manoel Dantas, cujo título era “Natal daqui a cinqüenta anos”, foi proferida no salão nobre do palácio do governo no dia 25 de março de 1909 e tratava-se de um pequeno ensaio ficcionista, em que o autor procurava retratar a Cidade do Natal no ano de 1959. Dantas imaginava uma cidade totalmente modificada representado-a, em seu texto, com uma natureza radicalmente vencida pela técnica, ou seja, a Natal da palestra de Dantas era uma cidade que havia sofrido uma forte ação humana sobre a natureza (Ver ARRAIS, Raimundo. Da natureza à técnica: a capital do Rio Grande do Norte no início do século XX. In: FERREIRA, A. L., DANTAS, G. Surge et ambula: a construção de uma cidade moderna. Natal, 1890-1940). Os morros de areia foi um tema recorrente na imprensa da cidade desde os primeiros anos do século XX.
RETIRANTES DA SECA
As notas do A Republica tentando legitimar as desapropriações da Intendência alegando a existência de habitações de “vadios”, bem como a necessidade de fornecer trabalho aos retirantes que poderiam atacar as propriedades, ressaltam essa concepção de pobreza relacionada à ociosidade e decadência moral e a necessidade de inserir o pobre nessa ideologia do trabalho. Dentro dessa perspectiva, foram estabelecidas comissões em Natal para organizar o trabalho.
Conforme destacado em matérias de abril de 1903, Vicente de Lemos, Eloy de Souza e o então presidente da Intendência, Joaquim Moura, formavam a Comissão de Alistamento de Mulheres, e Heliodoro de Barros, Pereira Simões e Francisco Cascudo compunham a Comissão de Alistamento de Homens. Havia ainda uma comissão central que deveria dirigir e fiscalizar todos os trabalhos e era composta por Moreira Dias, Vicente Lemos e Heliodoro de Barros. Posteriormente, Moreira Dias foi substituído na comissão central por Joaquim Moura. Após o alistamento, os retirantes eram divididos em turmas de cinquenta pessoas, cada uma com um chefe ou cabo. As mulheres deveriam trabalhar seis horas por dia, já os homens trabalhavam nove horas. Todas as turmas deveriam seguir para a região de Areia Preta e atuar no transporte de pedras. Após essa primeira fase, cada turma depositava as pedras nos locais designados. Os pagamentos eram diários e recebidos pelos chefes das turmas nos locais designados para o depósito de pedras de cada uma. Informava-se que o governo estadual autorizava a manutenção da ordem, “evitando porém, quanto possível, o emprego de violências desnecessárias”, ver: ORGANIZAÇÃO de trabalhos. A Republica, Natal, 27 abr. 1904; SOCORROS públicos. A Republica, Natal, 28 abr. 1904; RIO GRANDE DO NORTE. Mensagem apresentada pelo governador Augusto Tavares de Lyra (1904). Disponível em: . Acesso em: 26 jan. 2017.
Os retirantes foram enviados para participar de algumas obras na capital, entre elas a construção da estrada de ferro Natal-Ceará-Mirim, a construção da praça Augusto Severo, o calçamento da avenida Rio Branco e de outras artérias da cidade, e o desmatamento e abertura de avenidas de Cidade Nova (SIQUEIRA, Gabriela Fernandes de. Por uma “Cidade Nova”. Op. cit., p.106-107).
BANHOS SALGADOS
A Cidade do Natal era ribeirinha do Potengi até o final do século XIX. Seu exuberante litoral era pouco frequentado pelos natalenses tendo apenas umas poucas vilas isoladas de pescadores.
Em fins do século XIX a Cidade Alta findava no sitio Cucuí, lado direito da rua Ulisses Caldas… Daí em diante era capoeira, mato ralo mas contínuo até os morros. Corriam picadas abertas, levando às moradas disseminadas numa área extensa e o caminho para o Morcego, hoje Praia do Meio. Areia Preta ficava no fim do mundo e os raros visitantes daquele recanto habitado por pescadores iam a cavalo, com os ares displicentes de quem viaja valentemente. Caçava-se por aí aos domingos (CASCUDO, 1999, p. 351).
Areia Preta assim permaneceu até que a prática dos “banhos salgados” na fórmula médica dos “bons ares” para a prevenção e cura para as doenças de tudo muda.
A partir desse momento, o que era uma zona distante e pouco valorizada, transformou-se aos poucos em área nobre da cidade do Natal, que se expandia cada vez mais para o norte. O espaço da Praia de Areia Preta, até então visitada somente por pescadores e moradores da região, tornou-se lugar oficial para os banhos de mar conforme determinava a Resolução Nº 55 da Intendência Municipal, de 1908. Tratava-se de uma longa faixa de terra que fechava o perímetro da cidade pelo sul até a subida do morro do Moxila, sendo praia de pescadores pelo menos até 1920, quando os ranchos começaram a ser vendidos e outras casas construídas para passar o verão. (CASCUDO, Câmara. História da cidade do Natal, p.435-436.).
Já em março de 1902, um articulista, que usava o codinome de “Lulu Capeta”, escreve uma pequena nota cujo sugestivo título é “Tudo é febre” (A República, 20 de março de 1902 ), nela o jornalista fala sobre a criação do bairro da Cidade Nova e do desejo que os natalenses tinham de ir morar no novo recanto da cidade. No texto, ele descreve as modas pelas quais passou o natalense, sendo a “febre dos banhos salgados” aquela que marcaria os primeiros anos do século XX.
Na imagem abaixo, percebemos a pouca ocupação da praia de Areia Preta, uma das praias onde o banho de mar era mais frequente. Nela percebemos pequenas choupanas ocupadas por pescadores, a presença de jangadas num dos focos principais
da imagem estabelece a relação que o natalense que vivia naquela porção da cidade tinha com aquele espaço. Naquele começo do século XX as faixas de praia da cidade era o lugar de morada de famílias de pescadores, que viviam próximos ao mar, tão somente devido a sua atividade de trabalho.
“A febre dos banhos salgados” se estabeleceu, pouco a pouco, em Natal numa perspectiva de sociabilidade burguesa, favorecendo a ocupação de um espaço até então considerado inóspito. Entretanto, foram muitas as queixas no sentido do mau uso por parte da população dessa dádiva natural. Uma série de denúncias sobre esse “mau uso” foi publicada no jornal “A República”.
Numa pequena nota, o jornal diz ter recebido queixas de vários banhistas da Praia do Morcego em detrimento do mau uso feito nos ranchos construídos por eles para vestir e desvestir suas roupas de banho.
Outras denúncias chamavam atenção não em relação à higiene, mas sobre o comportamento moral de alguns banhistas, pois sendo a praia um lugar público era convencional cobrar um bom comportamento de todos aqueles que a frequentavam.
Se antes era a Praia da Redinha o lugar próprio para essas vivências de banho salgado ou de veraneio, como é verificado nos relatos de memória dos articulistas da imprensa e na palestra “Costumes Locais”, proferida por Eloy de Souza em 1909, no começo do século XX, são as praias da Limpa, do Morcego e de Areia Preta que passam a cair no gosto da população da cidade, especialmente daquela população mais abastada que via na ocupação daquelas praias, no que diz respeito ao uso do banho, na construção de casas de veraneio e na construção de casas para moradia, o lugar incontestável da nova aristocracia republicana da cidade.
A moda dos banhos de mar em Natal, que acabaram por instituir os balneários como se pode constatar nos anúncios de casas para alugar postos nos jornal A República. Em 20 de maio de 1913, anunciavase, sob o título “Banhos de mar”, a disposição de alugar uma casa “própria para banhos” na avenida que desce para a Praia de Areia Preta. A REPÚBLICA. Banhos de mar, 20 maio 1913. Em 3 de junho do mesmo ano, o anunciante da casa para alugar ainda mantinha seu anúncio no jornal, com os mesmos dizeres, o que denota que ele não havia conseguido alugar a casa de veraneio no intervalo dos anúncios. Era o momento não apenas de ascensão da beira-mar como também da revalorização da água como recurso terapêutico de modo geral. (A REPÚBLICA. Cura pela água, 22 mar. 1913.)
Esse fragmento de beira-mar tinha, na década de 1920, a preferência das elites, tornando-se um lugar de sociabilidade como demonstra a revista Cigarra:
Nella [Areia Preta] criam-se amores, e se dissipam ciúmes… Menina de uma ingenuidade adorável ou de uma malicia dançando no mysterio dos olhos lá estão, nos mallots modernos enchendo de graça de expansiva os contornos poeticos e a areia tepida da formosa praia de Natal… Areia Preta já entrou no periodo de novas conquistas… para a delicia dessa terra de moças adoraveis, de cavalheiros gentis, de sol poetizando a praia, corando com suas chammas os rostos e braços das banhistas (FRANÇA, Cigarra, Natal, ano 2, n. 4, ago. 1929, p. 19.).
A revista Cigarra exibia banhistas na Praia de Areia Preta, divulgando a sociabilidade nesse trecho de beira-mar por meio de textos e fotografias. Nas três primeiras décadas do século XX, a imprensa natalense costumava anunciar os lugares de sociabilidade, a exemplo dos cafés, dos cinemas e da Praia de Areia Preta, como ambientes elegantes e civilizados.
A expansão dos trilhos do bonde contribuiu para democratização dos banhos salgados na praia de Areia Preta, que se tornaram bastante populares na década de 1920. A ida à praia, porém, demandava não apenas transporte, mas também um local adequado para a troca de roupas, pois, não era adequado chegar ou sair da praia usando as vestimentas de banho. Na praia do Morcego, também conhecida como praia de Areia Preta, a estação balneária oferecia um ambiente limpo e adequado para as trocas de roupa. Por banho, a Estação Balnear cobrava uma taxa de $800, que poderia ficar mais barato se o banhista optasse pela assinatura familiar de 20$000 ao mês, ou 50$000 o talão que dava direito a 50 banhos. (ESTAÇÃO balnear. A Republica, Natal, 2 out. 1924.).
BONDES
O aumento do dinamismo na vida urbana deveu-se ao bonde elétrico. Esse meio de transporte encheu a cidade de movimento e lhe impôs novo ritmo, levando as pessoas, independentemente da atividade, trabalho ou passeio, a percorrer as ruas, proporcionando-lhes o deleite das paisagens urbanas, transportando-as mais velozmente até os lugares, diminuindo as distâncias, tornando mais acessíveis algumas áreas da cidade. O
bonde foi fundamental, por exemplo, para o uso da Praia de Areia Preta como ponto de encontro, espaço de sociabilidade.
Em 1908 circulam os primeiros bondes à tração animal (burros) da Companhia Ferro-Camil inaugurando o primeiro trecho da Rua Silva Jardim à Praça Padre João Maria; No dia 18 de janeiro a Intendência Municipal, através da resolução 115, determina a praia de Areia Preta como primeiro balneário da cidade.
Em 1911, o conforto dos potiguares multiplicara, com o empréstimo externo de 4.214:274$830 feito na França, e os trilhos dos bondes elétricos chegavam até o Alecrim. Já em meados de 1913, estendiam-se, da Avenida Rio Branco até o bairro do Tirol, onde está atualmente, o Aeroclube. E no início de 1915, chegavam à praia de Areia Preta (CASCUDO, Luis da Câmara, História da Cidade do Natal, p. 291).
No ano de 1912 haviam cinco bondes elétricos em tráfego. O tráfego do sistema de transporte elétrico respeitava os seguintes trajetos: a primeira linha ligava os bairros Cidade Alta e Ribeira, a segunda linha ligava a Cidade Alta ao bairro Cidade Nova, dando acesso à praia de Areia Preta; outra linha estendia-se até o Alecrim, bairro que, à época, era um local de moradias modestas e não era conhecido oficialmente como bairro da cidade (ARRAIS, Raimundo. ANDRADE, Alenuska. MARINHOS, Márcia. O corpo e a alma da cidade. Op. Cit. p. 108-110). As melhorias do transporte público na cidade do Natal possibilitaram o encurtamento das distancias dos espaços, bem como a expansão, a ordenação e o progresso da pequena capital norte-rio-grandense.
A linha de Bonde chega ao Monte Petrópolis em 1913, facilitando o acesso a Praia de Areia Preta. Sobre esse assunto cf. MARINHO, Márcia M. F. Natal civiliza-se: sociabilidades e representações espaciais da elite (1900-1929). In: Anais do XXIV Simpósio Nacional de História: História e multidisciplinaridade: territórios e deslocamentos. São Leopoldo: Unisinos/Associação Nacional de História – ANPUH, 2007.
A concessão do serviço de bonde passa também em 1913 das mãos da Companhia Ferro Carril para a Empresa Tração Força e Luz Elétrica de Natal, “que continua expandindo o serviço, de modo que em 1915 o bonde alcança Areia Preta, a praia elegante da cidade” (ARRAIS, 2009, p. 173).
A empresa Empresa de Tração Força e Luz Elétrica de Natal estende o serviço de bondes até a praia de Areia Preta em 1915. A atuação da Força e luz foi muito questionada, alegando-se que os serviços urbanos prestados eram deficientes, insatisfatórios. Tal situação ultrapassou o limite da verbalização. Em 1916, pessoas manifestaram sua insatisfação com ações de violência contra o patrimônio da empresa, as quais foram consideradas fruto de campanha contra E. T. F. e Luz de Natal, realizada através de inúmeras queixas que vinham sendo publicadas nos jornais locais. O incidente foi comentado em matéria d’A Republica:
Foi o facto que todas as lampadas de illuminação publica, desde a avenida Deodoro à Areia Preta, amanheceram quebradas e com os braços inutilizados, prejudicados de tal forma este serviço que, ainda hotem não pode ser restabelecido (VARIAS. A Republica, 23 out.1916).
Em setembro de 1915 o A Republica publicou outra reclamação dos moradores de Petrópolis, que estavam revoltados pela atitude da Empresa Tração Força e Luz. Essa empresa tinha reduzido o número de bondes que atendiam a região do monte. A nota também reclamava da demora dos bondes, que faziam o trajeto até a Praia de Areia Preta gastando 45 minutos, tempo “mais que suficiente para alguém de boas pernas fazer a viagem de ida e volta áquella praia” (VARIAS. A Republica, Natal, 06 set. 1915.p.2).
A região de Areia Preta era atendida pelo serviço de bonde desde 1915 (CASCUDO, Câmara. História da Cidade do Natal. Op. cit., p.384). A Intendência de Natal, por sua vez, também deve ter decidido construir a nova avenida moderna observando essa ampliação nas solicitações na região desde 1925.
Com a facilidade de acesso aos locais da cidade proporcionada pelos bondes, as festas deslocaram-se para os bairros novos, saindo dos tradicionais espaços de sociabilidades situados entre os bairros Cidade Alta e Ribeira. Como ocorrido, de acordo com nota d’A Republica, com as festividades Natalinas de 1916:
As festas de Natal não correram este anno muito animadas no centro da cidade, porque se deslocaram para os arrabaldes do Alecrim e Areia Preta. E Areia Preta, a praia de grande luxo, que tomou uma feição accentuadamente aristocrata, os veranistas souberam distrahir-se com a elevada distincção do seu trato fidalgo (…) (As festas de Natal. A República. 26 de dezembro de 1916).
Areia Preta destacou-se como recanto elegante das festividades natalinas do ano de 1916, evento que marcava a abertura do período de veraneio na cidade, que tinha essa praia como um dos lugares mais concorridos desde a ocupação do bairro Cidade Nova. Sendo assim, desde outubro desse ano a gerência da E.T.F. e Luz Elétrica de Natal anunciou que os “bonds da linha de Petropolis que partem da Ribeira até 10, 57 e de 3,27 avante, irão á Areia Preta, emquanto durar a estação de banhos de mar” (E.T.F. e Luz Elétrica de Natal/Bonds. A Republica. 09 out. 1916.).
O bonde dava vida à cidade, ajudando a conformar um modo de vida urbano. Além de ter sido, ele mesmo, um novo espaço de sociabilidade com regras de condutas a serem seguidas. O bonde conduzia os habitantes para o teatro, para os centros comerciais da Ribeira, os cinemas e os clubes, a praia de Areia Preta. No jornal A Republica comentou-se que “o movimento de bondes e automoveis transportando para os diversos bairros consideravel multidão, emprestava a cidade um aspecto dos dias de grandes festas” (LUZ ELECTRICA NA REDINHA. A Republica, 20 de novembro de 1924, p. 1.).
Entre as melhorias desencadeadas constam o embelezamento dos jardins públicos, o calçamento de vários logradouros – entre eles a Travessa Ulysses Caldas, no trecho que vai da Avenida Rio Branco à Deodoro, facilitando o tráfego de automóveis à Cidade Nova – e a construção de estradas ligando Petrópolis à Avenida Norte na Ribeira e à praia de Areia Preta (NOVOS…, 1925).
A Avenida Atlântica, obra de grande vulto delineada de forma a margear o oceano, tem a sua construção iniciada em junho de 1925 (A REPUBLICA, 1925e). O percurso da avenida é traçado partindo do Laboratório de Análises do Estado (Hoje Hospital Universitário Onofre Lopes em Petrópolis) até a chamada Rua das Dunas, passando por Areia Preta, contabilizando uma extensão total de 800 metros. Os bondes são previstos para passar logo após a conclusão da avenida: “a linha de bondes será extensiva á avenida, logo que o permitta o andamento de suas obras” (A REPUBLICA, 1925e, p. 01). Sobre a Avenida Atlântica:
Pela sua situação privilegiada está fadada a ser a mais representativa de nossas artérias. Prosseguem os seus trabalhos, prompto já se encontra o seu longo muro de arrimo, de mais de quarenta metros, já se lhe estando a collocar os balaústres que lhe dão graça especial (A INTENDENCIA…, 1925, p. 01).
No fragmento a seguir percebe-se também que é lamentado o fato de que a infraestrutura ao invés de ter evoluído, teria decaído consideravelmente no decorrer dos anos, como, por exemplo, a inoperância de linhas anteriormente ativas, como no caso da linha de Areia Preta.
Em relatório o governador José Augusto Bezerra de Medeiros comentou sobre o projeto também iniciado em sua gestão que consistia em ligar a linha de bondes que atendia a região de Petrópolis à Areia Preta, permitindo maior movimento ao tráfego urbano (RIO GRANDE DO NORTE. Mensagem apresentada pelo governador José Augusto Bezerra de Medeiros (1926). Disponível em: . Acesso em: 05 nov. 2013. p.59.). Esses
melhoramentos na viação urbana também foram exaltados pelo jornal que representava o Partido Republicano Federal do Rio Grande do Norte.
No dia 25 de abril de 1926, o periódico A Republica publicou uma nota comentando as transformações empreendidas pelo engenheiro Paulo Coriolano, o responsável por coordenar a ligação da linha de bondes da região do Tirol com o bairro Alecrim e pela expansão da linha de bondes de Petrópolis, que se estenderia até a praia urbana de Areia Preta, projeto previsto para ser concluído em setembro desse ano (MELHORAMENTOS na viação urbana. A Republica, Natal, 25 abr. 1926.).
Apesar de ter sido anunciada desde maio de 1925, a construção da Avenida Atlântica foi concretizada somente no ano posterior. Os trabalhos para a abertura da nova avenida foram iniciados em janeiro de 1926. Segundo nota publicada no jornal A Republica em 15 de janeiro desse ano, o trecho que acompanhava a linha de bondes de Petrópolis até a estação balneária, localizada na praia de Areia Preta, era um dos mais simpáticos da cidade, mas também um dos menos acessíveis (A AVENIDA Atlantica. A Republica, Natal, 15 jan. 1926. p.1.). Essa situação seria modificada com a construção da imponente avenida Atlântica, que fomentaria ainda mais o desenvolvimento do bairro Cidade Nova (Idem).
Como é possível observar pela fotografia apresentada no relatório do presidente da Intendência de Natal, Omar O’Grady, de sua gestão do ano de 1926, publicado em janeiro de 1927, tratava-se de uma ampla avenida, por onde poderiam transitar automóveis, bondes e indivíduos, possuindo postes de iluminação e uma balaustrada que poderia ser utilizada para observar algumas das principais belezas naturais da cidade, como a Fortaleza dos Santos Reis e a praia de Areia Preta, bem como serviria de espaço de sociabilização, destinado a conversas e encontros.
O “Curso Waldemar de Almeida” realizou mais uma apresentação de alunos com objetivos beneficentes. A 15a audição, em benefício da Caixa Escolar do Grupo Antônio de Souza, que tinha como finalidade a ajuda aos alunos carentes, fornecendo livros, roupas, calçados e demais material didático, verificou-se a 4 de dezembro de 1932 no Teatro Carlos Gomes. Waldemar de Almeida aproveitou a oportunidade para homenagear seu amigo Audifax Gonçalves de Azevedo, protetor do pianista quando de seus estudos em Paris.
Como sempre acontecia em momentos especiais, tocou a banda da Força Policial Militar no saguão do teatro. Considerando-se as “distâncias” de certos bairros da cidade em 1932, a Companhia Força e Luz prestou importante colaboração, garantindo a circulação de bondes para os bairros de Areia Preta e Praia do Meio.
[…]. Cidade de mais de cincoenta mil habitantes, vive hoje sujeita a uma dúzia de carros aproveitados, circulando em linhas reduzidas, por preços elevados para percursos pequeníssimos. Em consequência, carros que deviam ser destruídos por imprestáveis provocam todos os dias verdadeiros desastres em passageiros, principalmente senhoras. Já se tornaram acontecimentos communs os frequentes incêndios nos “controllers” dos carros, occasionando sustos, quedas, ferimentos certos, abalos violentos. Hontem, justamente quando o comercio estava para reabrir, verificou-se uma dessas occorrencias. Um bonde começou a incendiar nas proximidades da praça André de Albuquerque e se arrastou até defronte da Delegacia Fiscal. Nesse ponto parou de uma vez e o fogo tomou conta do seu lastro arruinado. Quem não possue a sorte de se vêr livre dos bondes, porque tem automóvel, voltou ao trabalho a pé, commentando os aborrecimentos da meia hora de paralysação geral do trafego. […]. Praia do Meio e Areia Preta estão cheios de veranistas. Mas é um sacrifício veranear nas praias de Natal. Nem bonde, nem omnibus. E a gente pensar que Areia Preta já teve linha de bondes há uns vinte annos! E já tivemos trafego directo de bondes para Petropolis e Tyrol […] (PERIGOS…, 1937, p. 02).
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA E HABITACIONAL
O Alecrim era um dos pequenos povoados que dava assistência aos viajantes que se destinavam ao núcleo urbano natalense, no século XIX. A maioria das residências eram compostas por granjas e casebres. Surgindo ao redor do cemitério, o bairro do Alecrim foi oficializado conforme a resolução municipal do dia 23 de Outubro de 1911.
Governo do Municipio do Natal
Resolve:
Art. 1º – É creado o “bairro do Alecrim” desmembrado do da “Cidade Alta” desta capital tendo por limites ao norte uma linha que, partindo da ponta da Areia Preta, se dirija, pela rua Ceará-Mirim e Baldo, ao rio Potengy; a leste o oceano até encontrar a Avenida Sul que demora ao extremo do terreno patrimonial do municipio; ao sul a mesma Avenida limite do patrimonio municipal até ao rio Potengy, e a oeste o mesmo rio Potengy, até encontrar o ribeiro que banha o sitio denominado Oitizeiro.
Art. 2º – Revogam-se as disposições em contrario.
Sala das sessões da Intendencia do municipio do Natal, 23 de outubro de 1911.
Joaquim Manoel T. de Moura – presidente, Theodosio Paiva, Padre José de Calazans Pinheiro, Miguel Augusto Seabra de Mello, Dr. Pedro Soares de
Amorim, Antonio Joaquim Teixeira de Carvalho, Fortunato Rufino Aranha. (A REPÚBLICA, Natal, 24 out. 1911, s/pg.)
As ideias presentes no Plano de Sistematização também influenciaram a divisão administrativa de Natal no final da década de 1920. Em 1929, o prefeito Omar O’Grady, preocupado com o ordenamento da urbe instituiu a Lei nº 04 que “dispõe sobre construções, reconstruções, acréscimos e modificações de prédios”. Esta lei é o primeiro instrumento legal a fazer o zoneamento da cidade. Era uma espécie de código de obras municipal que tentava facilitar o controle da urbanização de Natal. Ficava determinado que a cidade seria dividida em quatro zonas para facilitar a aplicação dessa lei: primeira zona ou central, segunda zona ou urbana, terceira zona ou suburbana e quarta zona ou rural, que teriam os seguintes limites:
a)a zona Central comprehenderá a área limitada ao Norte pelo actual bairro das Roccas (inclusive o mesmo); a Oeste pelo rio Potengy a partir do limite Norte da cidade até a rua Aureliano de Medeiros e por esta até á Praça Augusto Severo, seguindo pela Avenida Junqueira Ayres, rua Padre João Manoel, Praça Gonçalves Lêdo até a Praça André de Albuquerque; ao Sul partindo da Praça André de Albuquerque pela Praça João Maria e rua Pedro Soares até a Avenida Rio Branco; a Leste, a partir da rua Pedro Soares pela Avenida Rio Branco, Praça Leão XIII, rua General Glycerio até atingir o limite do bairro das Roccas;
b) a zona Urbana comprehenderá a área entre a zona Central e a Avenida Sylvio Pelico, rua Amaro Barreto, Avenida Dois, Estrada São José, Rua C,
Avenida Prudente de Moraes, Avenida Alexandrino de Alencar até á Avenida Hermes, por esta até a rua Areia Preta e dahi por uma recta em direção á Ponta do Pinto, extendendo-se dentro destes limites entre o Oceano Atlantico e o rio Potengy;
c) a zona suburbana será constituída pelos terrenos compreendidos entre o limite sul da zona Urbana e o limite do Patrimonio Municipal; d) a zona Rural comprehenderá a área situada entre o limite do Patrimonio Municipal e os limites do Municipio de Natal (PREFEITURA municipal de Natal. Lei n.4, de 02 de setembro de 1929. Tipografia Oficinas Alba, Rio de Janeiro, 1929.).
O final da década de 30 do século XX pode ser caracterizado como um momento de aprofundamento e de consolidação de transformações urbanas
significativas na Cidade do Natal. Por meio das fontes pesquisadas, particularmente as crônicas de Danilo, inferiu-se que as elites administrativas dividiam a cidade em área urbana, suburbana e periferia. Para estas, a área urbana compreendia os bairros de Cidade Alta e Ribeira; a área suburbana, os bairros de Tirol e Petrópolis; e a periferia, o bairro do Alecrim e Rocas, os povoados e as pequenas aglomerações que eram chamadas Passo da Pátria, Quintas, Guarapes e as praias da Redinha e Areia Preta.
Desde a primeira década do século XX que o deslocamento na direção destes bairros acontecia de maneira muito lenta. Nesse período, além do
centro e dos bairros citados, os grupos dirigentes também frequentavam algumas praias nas férias escolares, particularmente Redinha e Areia Preta.
A Lei nº 4.328 oficializou este bairro.
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
No início da década de 1940, a cidade de Natal era pequena, com aproximadamente 55 mil habitantes distribuídos entre os bairros de Cidade Alta, Ribeira, Tirol, Petrópolis, Rocas e Alecrim, além das povoações do Passo da Pátria, Quintas, Guarapes e as praias da Redinha e Areia Preta. Governava o estado Rafael Fernandes de Gurjão, administrando até 1943, e o prefeito de Natal era o engenheiro Gentil Ferreira de Souza.
A área de pavimento a paralelepípedos cresce ano a ano, dando à cidade um aspecto agradável, tendo ainda a vantagem de corrigir os graves prejuízos decorrentes da erosão, uma vez que a cidade se acha situada sobre um maciço arenoso. O prefeito Gentil Ferreira de Souza, na Interventoria Rafael Fernandes, também muito fez nesse sentido, como se constata dos seguintes informes, além do que realizou no triênio anterior: em 1939, foram calçados perto de 26 mil metros quadrados; em 1940, nada menos de 23.320 e em 1941, área também vultuosa. Naquela época a capital tem 200 logradouros públicos, que se acham, assim, distribuídos pelos seus bairros e subúrbios: Praia do Meio – 8: 2 praças e 6 ruas, uma destas, a “Pinto Martins”, alcança o bairro de Areia Preta; Areia Preta – 4: 1 praça, 1 rua e 2 avenidas, que vêm desde a Praia do Meio.
As praias da cidade, onde só ia aos domingos ou sob prescrição médica, foram invadidas pelos soldados que iam de manhã, de tarde e de noite, havendo até a criação de uma praia particular, no fim da Areia Preta, batizada Miami pelos americanos.
Na década de 1940 e 50, integrantes da elite natalense adquiriram imóveis na Praia da Redinha e na Praia de Ponta Negra para o veraneio, nos meses entre outubro e janeiro. O hábito de tomar banho de mar passou a ser uma realidade em Natal no início do século XX. As primeiras praias a serem frequentadas foram a Praia de Areia Preta e a Praia do Meio.
Essas vias são de grande importância para a inserção do turismo na cidade de Natal, pois a partir dos calçamentos e da ligação que se deu entre as praias do Forte, do Meio, Areia Preta e Artistas, que se urbanizaram na administração de Sylvio Pedroza as atividades de banho foram gradualmente ganhando destaque, aumentando também o número de visitante a esses locais.
No ano de 1943, temos a primeira ação na praia para conter o avanço do mar. Uma barreira é construída pelo governador Rafael Fernandes Gurjão, com cerca de 160 metros de extensão.
MIAMI BEACH
Os militares americanos tinham até uma praia para chamar de sua. Na verdade chamaram de Miami Beach. Trata-de da atual Areia Preta. Construíram até uma casa de veraneio. Registro do fotógrafo da Revista Time, Hart Preston, em 1941. Aos poucos este hábito foi incorporado pelos Natalenses que chamaram a prática de veranear (estar de férias na praia durante o verão). A cidade começou a se expandir para o litoral deixando aos poucos de ser ribeirinha.
É muito possível que antes de ser conhecida por Miami a Praia do Pinto ou de Areia Preta tenham se estendido até esta localidade.
PÓS-GUERRA
a descrição que Sylvio Pedroza faz da cidade:
“Eu não podia entender na década de 40 que Natal plantada sobre as dunas, entre o oceano e o rio Potengi, vivesse de costas para o mar, afastada do seu fascínio. Havia acesso a apenas duas praias: a do Meio, ou do Morcego, a que se chegava por uma ladeira, e a Areia Preta. Na margem esquerda do Potengi, a Redinha com único e precário acesso pelos velhos e líricos botes à vela, que saíam do Canto do mangue. Isto mesmo apenas no período do verão, pois no resto do ano ficavam ignoradas como se esta não fosse a cidade ensolarada, aberta à carícia marítima em todas as estações.” (Sylvio Pedroza).
Por causa disso, o governador iniciou uma série de melhorias no bairro com o objetivo de atrair os olhares dos natalenses para as praias. Pedroza, em 1956, em uma grande obra de reurbanização, constrói a Via Costeira (que vai receber o seu nome Avenida Sylvio Pedroza), conectando Areia Preta com Ponta Negra. Dentro desta obra também tivemos a construção de uma nova barreira contra o avanço do mar, além do calçadão com balaustrada presente na praia e a Praça da Jangada. Foi parte da obra de Predroza a construção de um trampolim, a partir do qual os banhistas podiam mergulhar no mar. Este ficava já na divisa entre a Praia de Miami e de Areia Preta. A lembrança deste trampolim não é das mais agradáveis na memória popular, inúmeros acidentes fatais se deram com os mergulhadores que saltavam daquele ponto. Isto exigiu que em 1959, o prefeito José Pinto Freire, instalasse um posto de salvamento na praia, o qual era gerido pela Polícia Militar.
A partir da década de 1960, como fala Raimundo Arrais, as praias potiguares são divulgadas agora como “banquetes tropicais”. É dessa época que nasce o apelido “cidade do Sol”, em 1968, por exemplo. E Areia Preta é divulgada como o grande destino turístico e o bairro começa a atrair agora restaurantes, boates e uma agitada vida noturna. Uma nova reurbanização ocorre na década seguinte para adequar a região aos turistas.
Neste processo gradativo de ocupação e exploração desordenada dos frequentadores da localidade fez que o Morro do Pinto fosse perdendo a sua beleza natural. Como veremos na fotos a seguir a formação de dunas foi perdendo areia e tamanho.
As memórias cascudianas de janela terminam com o registro percuciente e um tanto indiscreto do encontro de um casal de adolescentes na praia de Areia Preta, flagrante da fluidez das novas relações amorosas dos anos 1960. A descrição do evento feita por Cascudo é pura alcovitice disfarçada de antropologia dos costumes:
A menina coquetel, com o amor fiel, subiu a escadinha para a balaustrada onde deu curto volteio, as nádegas dançando bambelô sem bateria. Mãos dadas. Proximidade esfregante, excitadora. O namorado tomou o ônibus para a cidade e, pela janela, abanou a mão, já saudoso. O broto ficou olhando a paisagem, absorta. Da Avenida Getúlio Vargas surgiu um rapaz magruço e sacudido, camisa arco-íris, bem escancarada, mostrando a titela, cabeleira donzel, gingando como campeão olímpico. A guria fez que não via. O boy chegou para perto e sacudiu conversa, gesticulando como cinema mudo. Parecia exigir explicações porque a pequena interrompia as falas, rodava nos pés, sorria pondo a mão no ombro do cara ressentido. A mímica esmoreceu em pausas pegajosas de ternura. Creio que se entenderam, estabelecendo armistício e pacto mútuo de não agressão temporária. Rumaram à Praia do Meio. Mãos dadas. Proximidade esfregante, excitadora. Mesma técnica contagiante de efervescência interna. ( CASCUDO, Luís da Câmara. Pequeno manual do doente aprendiz: notas e maginações. 3. ed. Natal: EDUFRN, 2011. p.48.).
O GRANDE FAROL DE NATAL
Como no aspecto demográfico a cidade do Natal encontrava-se numa fase de intenso desenvolvimento urbano que a colocava em posição de relevo confrontando-se com muitas outras capitais nordestinas. O crescimento teve seu impacto sobre a geografia do seu litoral. A construção do Farol de impactou as cercanias do Morro do Pinto.
Vez por outra surgiam empreendimentos públicos e particulares que iam possibilitando expansão e beleza com rapidez.
Focalizaremos na visita feita pelo jornal Diário de Natal ao Farol de Natal construído pela Diretoria de Hidrografia e navegação do Ministério da Marinha, nas dunas de Areia Preta.
O acesso ao local dava-se pelo prosseguimento da Rua Potengi indo até as antigas instalações do Exercito na praia de Mãe Luiza. Disse o repórter do Diário de Natal sobre o local de acesso ao farol: “além da falta absoluta de conservação, pudemos observar o espetáculo desolador do desmoronamento das dunas, estas transformadas em propriedades particulares e cercadas para a ‘solta’ do gado”. (DIÁRIO DE NATAL, 08/01/1951, p.6).
O repórter confessou que ficou extenuado para chegar ao local de acesso ao farol para realizar a reportagem onde o automóvel ficou encalhado e teve que caminhar boa distancia para cumprir as ordens do diretor do jornal.
Tratava-se de um formidável bloco de cimento armado medindo 38 metros de altura, estando situado a 88 metros do nível do mar.
Na sua construção que durou pouco mais de um ano foram empregados 35.000 sacos de cimento e 150 toneladas de ferro de diversas bitolas. Internamente foi construído de poderosas colunas e de uma interminável escada tipo aspiral, com nove lances e 157 degraus. É para que não disponha de um elevador para facilitar o vai e vem dos esforçados servidores de permanência. Tanto o hall do pedestal, como as escadarias receberam piso de ladrilho vermelho.
O faroleiro não estava autorizado a falar sobre as especificações técnicas do farol, no entanto, apurou que o bojo luminoso do farol era da marca BBT Anciones Etablissements Barbier Bernard Et Turrere de Paris, França.
O manual sobre hidrografia e navegação esclarecia que o farol elétrico com lâmpadas de 1500 velas, produzindo 5 lampejos brancos a cada 12 segundos e períodos de ocultação. Dispunha de um bico de emergência circular com 65mm alimentado a querosene.
É um conjunto bonito todo de metal amarelo dotado de fortes lentes seccionadas.Foi instalado por uma comissão de técnicos do Serviço Especializado do Ministério da Marinha. (DIÁRIO DE NATAL, 08/01/1951, p.6).
Em imponente solenidade pública presidida pelo Almirante de Esquadra Raul de Santiago Dantas, Chefe do Estado Maior da Armada o farol de Natal foi inaugurado as 17h00 do dia 15/08/1951.
O farol havia sido construído recentemente na capital potiguar em Mãe Luiza pela firma Gentil F. de Souza, sob a fiscalização da Capitania dos Portos do Rio Grande do Norte.
No palanque oficial instalado em frente ao majestoso farol estavam presentes o governador Silvio Pedroza, o Contra-Almirante Harold Reuben Cox, Comandante do 3º Distrito Naval, os chefes dos poderes judiciários e legislativo, outras autoridades federais, estaduais e municipais.
O Almirante descerrou a bandeira azul e branca expondo a placa de bronze comemorativa com um circulo contendo as seguintes palavras:
Marinha do Brasil-Hidrografia, tendo ao centro o Cruzeiro do Sul e acrescida dos seguintes dizeres: Farol de Natal-Lat. 05º,47´41,6 ´´S.Long. 35º-11´,08,8´´ WCW.Inaugurado e aceso aos 15 de agosto de 1951.
O grande farol que a partir de da inauguração prestaria relevantes serviços a navegação seria mantido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação com a assistência da Capitania dos Portos do Rio Grande do Norte e sob a vigilância de três servidores, tendo a frente o faroleiro Alfredo Selfes de Mendonça, o decano dos faroleiros do Brasil, cidadão simples e modesto que embora contando 43 anos de serviço neste setor da Marinha continua disposto para trabalhar mais algum tempo no exercício da profissão (DIÁRIO DE NATAL, 16/08/1951, p.1).
Após a leitura do termo de inauguração por um oficial da Capitania dos Portos, discursou de improviso o Almirante de Esquadra Raul de Santiago Dantas em nome do ministro da Marinha dizendo que tinha a honra de entregar ao Estado do Rio Grande do Norte o moderno farol que proporcionaria navegação cada vez mais segura no Brasil.
Em breves palavras o Governador Silvio Pedroza agradeceu a entrega feita com palavras patrióticas do eminente chefe militar e felicitou a Hidrografia do Brasil e a Capitania dos Portos pela construção do gigantesco farol que asseguraria sem dúvida a confiança absoluta a navegação na Costa do Nordeste brasileiro.
Após a visitação ao farol e as residências dos faroleiros as autoridades deixaram o local. Tocou durante a solenidade a banda de música da 3ª Cia Regional de Fuzileiros Navais. (DIÁRIO DE NATAL,16/08/1951,P.1).
Para o completo conforto dos funcionários, foram construídas ao lado do grande farol, três casas modernas e bem acabadas. São unidade residenciais compostas de sala única, 3 quartos, hall, banheiro completo, cozinha, terraço de fundo e de frente, caixa d´água, rede própria de água e esgoto. São forradas com placas de cimento armado e dotadas de armários embutidos nos quartos e na cozinha.O abastecimento de água é fornecido por um poço de 42 metros de profundidade. Todas as casas são decentemente mobiliadas com moveis de estilo colonial.
A seguir algumas curiosidades sobre o farol de Natal.
As cores do ABC
Segundo o repórter do Diário de Natal um popular que estava também em visita as obras do farol disse que o Dr. Gentil Ferreira de Souza, dono da construtora do farol, mandou pintar o farol com as cores alvinegras para dar sorte ao ABC no campeonato daquele ano de 1951. (DIÁRIO DE NATAL, 08/01/1951, p.6).
O faroleiro Alfredo Selfes de Mendonça
O faroleiro Alfredo Selfes de Mendonça, que a época já contava 43 anos de serviço no setor de farol da Marinha disse ao repórter que durante a fase de construção ele e outros companheiros subiam de 8 a 10 vezes por dia até o topo do farol e que depois da inauguração cada um deles teria que exercer vigilância em quartos de serviços de 4 em 4 horas. (DIÁRIO DE NATAL, 08/01/1951, p.6).
Gigantesco bloco de cimento armado
O farol de Natal foi denominado de “gigantesco bloco de cimento armado”. Atualmente é conhecido por Farol de Mãe Luiza por está situado no bairro desse nome.
Gastos e alcance
Foram gastos em sua construção 35.000 sacos de cimento e 150 toneladas de ferro. O alcance da luminosidade refletida pelo farol é de 300 milhas.
A baixo vista aérea do conjunto arquitetônico do farol de Natal composto pelo farol propriamente dito, as três casas originais de funcionários e uma acrescida posteriormente.
BAIRRO DE MÃE LUIZA
A terceira fase da evolução histórica e espacial de Mãe Luiza ocorre a partir da década de 1970, quando houve um crescimento violento e desordenado do bairro, paralelamente a ocorrência do fenômeno de urbanização que a Cidade de Natal estava passando. Neste período, a expansão urbana de Natal estava atrelada, principalmente, a política habitacional que se instaurou no país nos anos de ditadura militar; a criação do Distrito Industrial de Natal, o que provocou um grande fluxo migratório para a cidade; além do crescimento do setor terciário.
Ainda na década de 1970, surgiu outra ocupação na parte sul do bairro, mais precisamente nas proximidades da praia, atualmente a Via Costeira, cuja localidade é conhecida como “Barro Duro”. Com isso, teve início à construção de mais um espaço inserido aos limites do bairro, o qual passou a ser ocupadocom mais intensidade a partir da construção da Via Costeira no ano de 1980.
A emergência desses núcleos de ocupação dispersos, sem nenhuma intervenção do poder público, denota a falta de planejamento urbano da gestão municipal. Essa ausência do poder público contribuiu para o ordenamento urbano do bairro da forma como se apresenta hoje, com ruas estreitas, becos, vielas, o que se traduz em problemas porque impedem a circulação de veículos de maior porte, como exemplo, os caminhões da coleta do lixo e de guarnições.
VIA COSTEIRA
O megaprojeto da Via Costeira constituiu na construção de uma imensa avenida que ligaria as praias urbanas de Areia Preta (praias do centro) à Ponta Negra, com aproximadamente 8,5 km de extensão. Esta foi inaugurada em 1983, e passou a ser o marco mais importante na expansão do turismo e também da transformação da paisagem costeira de Natal. O objetivo do projeto era dotar a área com uma infraestrutura hoteleira, até então insuficiente, para lançar a capital no cenário nacional do turismo. Esse é o início das primeiras ações no estabelecimento de políticas públicas de cunho federal, estadual e/ou municipal direcionadas para a implantação e ampliação da atividade turística regional e local. Com a atração dos investimentos públicos e privados para a construção de conjuntos habitacionais e de empreendimentos econômicos, possibilitou o desenvolvimento e mudanças na paisagem no entorno dessa área, dando destaque ao bairro de Ponta Negra.
Com o desenvolvimento da cidade e a gradual valorização de seu patrimônio histórico e natural, o turismo se constituiu em expressiva fonte de renda para o município. A evolução dessa atividade econômica exigiu maiores investimentos em infra-estrutura e prestação de serviços de qualidade aos turistas que nos visitam. Decorreu daí a criação da chamada Via Costeira, com cerca de 10 km de extensão, interligando as praias de Areia Preta e Ponta Negra. Em sua área, nas imediações do Parque das Dunas, estão instalados hotéis de alto padrão e um Centro de Convenções.
Implantada a partir da década de 1970, a Via Costeira interliga a cidade pelo litoral. De Areia Preta à Ponta Negra, seu traçado é um divisor entre o mar e as dunas, paisagem de grande beleza. Seu projeto sofreu críticas de ambientalistas, preocupados com os danos que uma obra deste porte poderia causar ao meio ambiente. Estes questionamentos contribuíram para a reformulação do projeto original, como informa o professor Souza (2008, p.661):
Em consequência das críticas feitas ao longo de mais de dois anos, o projeto original foi reformulado em alguns pontos. A principal mudança foi a eliminação da ideia de se construir núcleos residenciais na Via Costeira. Com o passar do tempo, o projeto original sofreu outras reformulações … isso mostra que as críticas feitas não foram, de todo, improcedentes.
Do ponto de vista administrativo, o governo de Tarcísio Maia ficou praticamente paralisado, visto algumas medidas tomadas no calor da hora, muitas delas motivadas por uma campanha intensa e mal-intencionada da oposição e de setores situacionistas, que apontavam possíveis irregularidades do governo anterior. Talvez a grande obra tenha sido a construção da Via Costeira, artéria litorânea que ligava a praia de Areia Preta a então distante Ponta Negra (MARIZ E SUASSUNA, 2002, p. 372).
Construída em 1985, sob o governo de José Agripino e no âmbito da política de incentivo ao projeto turístico da cidade, ligando as praias urbanas de Natal (da porção central: Praia do Forte, Praia do Meio, Praia dos Artistas, Areia Preta) às praias do litoral sul da cidade (Ponta Negra) e estado. Sua ligação com a Praia da Redinha chegou em 2007, com a construção da Ponte Newton Navarro.
A execução do projeto iniciou-se em 1979, ao mesmo tempo que constituíam o Parque das Dunas e o Centro de Convenções. Hoje a Via Costeira, o Parque das Dunas e o Centro de Convenções são lugares de encontros de natalenses e visitantes.
O CASARÃO DA VIA COSTEIRA
Quem trafega pela orla de Natal na confluência das praias Areia Preta e Pinto, no início da Via Costeira, encontra um casarão inacabado sem qualquer sinal de retomada dos serviços. Causa estranheza o abandono da edificação porque está encravada num pontal privilegiado de onde se obtém a melhor e a mais limpa visão do Oceano Atlântico para um observador postado ao nível do mar.
O clima de mistério que envolve o imóvel advém da curiosidade popular pelo descaso com a conservação e o tempo de paralisação – 50 anos desde o início da construção. A obra, hoje, está entregue às intempéries e à disposição de vândalos. O enigma consiste na falta de informações que ponha alguma luz sobre a origem do imóvel e o motivo do abandono. Nada além disso.
Na verdade, a casa foi esboçada pelo engenheiro e empresário Moacir Maia, que convidou o arquiteto Moacyr Gomes da Costa para elaborar o projeto, no final dos anos 60. No início da nova década, com Moacyr associado ao colega Ubirajara Galvão, os desenhos se integraram ao acervo técnico do escritório UM Arquitetura.
Moacir Maia (1926-2005), natalense, com apenas 22 anos de idade formou-se em engenharia civil e mecânica pela Universidade do Recife, em 1948. No retorno para Natal trabalhou na Rede Ferroviária Federal (DNEF), passou pelo IPASE, IAPC e IAPI, antes de fundar a Companhia de Investimentos e Construções Ltda – Cicol.
O jovem engenheiro, herdeiro de enorme patrimônio em imóveis em Natal, por décadas, dominou o setor de entretenimento da capital com os cinemas Rio Grande (1949-1999) e Panorama, e com o Cine Poti, arrendado dos Diários Associados.
Com a Cicol, Moacir construiu obras no Rio Grande do Norte e pelo Brasil afora. A construtora figurava entre as maiores do Estado quando partiu para grande empreitada na Tanzânia, pais da África Oriental. O contrato acarretou dificuldades operacionais e financeiras à Cicol, que foi desativada no início dos anos 80.
Na opinião do arquiteto Moacyr Gomes, não foi a falta de apoio financeiro que emperrou a conclusão da casa: O que fez Moacir Maia se desiludir com a construção foi a dificuldade encontrada para a sua regularização junto ao Patrimônio da União por se tratar de obra edificada em “terreno de marinha”.
O projeto abrigava sob uma cobertura de 500,00 m2, dois pavimentos, suítes, salas amplas, garagens e espaços para criadagem e lazer, todos os predicados para se tornar uma das mais emblemáticas casas de praia do município. Tal patrimônio ocupava apenas um naco da área de quase 2,5 hectares de natureza ainda intocada.
O terreno estava coberto por coqueiros quando projetei a obra. Na locação da casa tivemos o cuidado de preservar a flora existente – afirmou o arquiteto. Perguntado acerca do percentual executado antes de paralisados os serviços, Moacyr esclareceu: Cerca de 85%, incluindo aí esquadrias, pisos e revestimentos. Estávamos na fase de acabamentos.
Os registros fotográficos de agora mostram uma construção deteriorada por intempéries e pela depredação, e sem o coqueiral presente na época. Moacir Maia faleceu e o imóvel continua no patrimônio da família.
É lastimável ver a bonita obra de engenharia definhar com o passar dos anos ante o olhar de circulantes da Via Costeira. Enquanto isso, continuará sendo o ponto de parada obrigatório para a curiosidade de turistas, que especulam sobre o mistério do casarão abandonado no pontal que, do alto, lembra o mapa do Brasil.
JOSÉ NARCELIO – AO PÉ DA LETRA
Via JBF
Nota do editor: Não vejo melhor exemplo de como a vaidade humana pode privar gerações de natalenses do que restou de uma paisagem que poderia gerar muitos dividendos turísticos para urbe na forma de emprego e renda. Esta grotesca casa erguida em um local de preservação ambiental acabou com o que restava do Morro do Pinto. A residência jamais chegou a ser utilizada. Tempos depois uma churrascaria foi aberta na região que hoje nem de longe lembra do que foi ou algum dia será.
MUSEU DO MAR ONOFRE LOPES
O Museu de Oceanografia é também chamado Museu do Mar Onofre Lopes, em homenagem a seu fundador quando da gestão como reitor da Universidade Federal do rio Grande do Norte, em 1973. Encontra-se de frente a praia do Pinto.
O Museu é uma subunidade do Centro de Biociências da UFRN com o objetivo de estudar o desenvolvimento do potencial marinho do Estado, através de projetos, pesquisas e convênios.
A visitação ao Museu do mar oferece a descoberta de algumas espécies misteriosas e interessantes da vida marinha, que encanta adulto e crianças. Dentre as curiosidades nele existentes, parte de um rico acervo, está uma barata gigante marinha, da família dos artrópodes, que possui exoesqueleto calcário, cabeça e tórax fundidos numa só peça e encontrada nos oceanos Pacífico e Índico; o caranguejo de cor branca, uma das espécies em extinção; o fúrio, da família do Echinoderma, animal que, visto de longe se confunde com uma planta, tendo nomeio das ramificações, um furo que permite sua alimentação e reprodução. E muitas outras preciosidades dos oceanos. O museu localiza-se na Praia de Mãe Luíza, na Via Costeira.
VERTICALIZAÇÃO
É na década de 1980 que o bairro começa a sofrer uma verticalização. Eleito como região nobre da cidade, Areia Preta começa a ganhar arranha-céus de frente para o mar que são ocupados pela elite potiguar. Inclusive, por ser o local onde primeiro estes prédios se ergueram, o adensamento, a proximidade entre os prédios, é algo que causou imediatos problemas para a população de toda a cidade, não apenas os moradores locais. A experiência e a história de Areia Preta deveria ser levada em consideração. O adensamento de prédios afastou os banhistas da praia, que agora fica sombreada depois das 14h. Com isso, toda a economia que era baseada nos frequentadores foi colapsando. Com o tempo, Areia Preta então perdeu seu status de balneário turístico para Ponta Negra exatamente por causa da ambição imobiliária.
CONCLUSÃO
Esta postagem traz para além do resgate histórico um alerta sobre qual cidade queremos para o nosso futuro. O desenvolvimento deve estar junto com a sustentabilidade ambiental sob pena de não só renegarmos o nosso passado, mas também destruirmos o nosso futuro diante da ocupação desenfreada dos espaços destinados a preservação ambiental.
Morro e a Praia do Pinto na memória dos natalenses, pois já não existem em nosso presente.
FONTES SECUNDÁRIAS:
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EM PROL da cidade II, A Republica, Natal, ano 42, n.131, 10 jun. 1930a.
NOVOS Rumos, A Republica, Natal, ano 37, n.81, 9 abr. 1925.
Genealogia dos Bairros: Areia Preta. Natal das Antigas. https://www.nataldasantigas.com.br/blog/historia-de-areia-preta Acesso em 17/03/2023.
PERIGOS do trafego…, A Republica, Natal, ano 68, 06 nov. 1937
SOUZA, Itamar de. Nova história de Natal. Natal: Departamento Estadual de Imprensa, 2008 (2ª edição revista e atualizada).
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
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A eletricidade chega à cidade: inovação técnica e a vida urbana em Natal (1911-1940) / Alenuska Kelly Guimarães Andrade. – 2009.
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ANUÁRIO NATAL 2013 / Organizado por: Carlos Eduardo Pereira da Hora, Fernando Antonio Carneiro de Medeiros, Luciano Fábio Dantas Capistrano. – Natal : SEMURB, 2013.
AO MAR GENTE MOÇA!: O ESPORTE COMO MEIO DE INSERÇÃO DA MODERNIDADE NA CIDADE DE NATAL / Ms. Márcia Maria Fonseca Marinho. – Recorde: Revista de História do Esporteolume 2, número 1, junho de 2009.
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Bairro Mãe Luiza: uma abordagem “legal” sobre a realidade local / Ozenildo Gil Silva de Souza. – 2013.
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Luís Natal ou Câmara Cascudo: Luís Natal ou Câmara Cascudo: o autor da cidade e o espaço como autoria o autor da cidade e o espaço como autoria / Francisco Firmino Sales Neto. – Natal/RN. 2009.
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Natal Não-Há-Tal: Aspectos da História da Cidade do Natal/ Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo; organização de João. Gothardo Dantas Emerenciano. _ Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2007.
Natal também civiliza-se: sociabilidade, lazer e esporte na Belle Époque Natalense (1900-1930) / Márcia Maria Fonseca Marinho. – Natal, RN, 2008.
Natal, outra cidade! [recurso eletrônico] : o papel da Intendência Municipal no desenvolvimento de uma nova ordem urbana na cidade de Natal (1904-1929) / Renato Marinho Brandão Santos. – Natal, RN : EDUFRN, 2018.
Natal ontem e hoje / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal (RN): Departamento de Informação Pesquisa e Estatística, 2006.
Ordenamento Urbano de Natal: do Plano Polidrelli ao Plano Diretor 2007 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2007.