Os clubes, bares e cafés de Natal no início do século XX
Os clubes eram espaços de sociabilidade com grande importância no cenário da vida social da cidade de Natal. Nas duas primeiras décadas do século XX, as principais festas aconteciam nos salões dos clubes da Cidade Alta, a exemplo do Natal Club, inaugurado no dia 9 de outubro de 1909, na Avenida Rio Branco.
O governo do estado do Rio Grande do Norte cedeu o prédio, situado na Avenida Hermes da Fonseca, para ser a sede do clube. A aviação foi a grande novidade do Aero Club do Rio Grande do Norte.
A criação de outros clubes, como a Associação dos professores e o Aero Club do Rio Grande do Norte, permitiu a expansão de espaços de sociabilidade para o bairro de Cidade Nova (Tirol e Petrópolis). O Aero Club do Rio Grande do Norte foi inaugurado em 29 de dezembro de 1928, no bairro de Cidade Nova, reunindo o ― charme dos salões, as aventuras da aviação e a competitividade dos esportes. A sua fundação visava à integração da cidade ao desenvolvimento da aviação comercial no Brasil.
O governo do estado do Rio Grande do Norte cedeu o prédio, situado na Avenida Hermes da Fonseca, para ser a sede do clube. A aviação foi a grande novidade do Aero Club do Rio Grande do Norte.
O bairro da Ribeira concentrava o maior número de bares, bilhares e cafés, a exemplo do Café Socialista (1903), do Café Chile (1916), do Café Cova da Onça (1916) e do Bar Antártica (1921). A frequência dos natalenses aos novos espaços de sociabilidade revelou novas mudanças nos hábitos da elite da capital potiguar, a exemplo dos passeios pela cidade, que incluíam uma parada em um café para um eventual lanche em família ou para as conversas entre amigos.
Os natalenses frequentavam os bares e os cafés para passar o tempo, conhecer pessoas, realizar negócios, trocar informações, degustar quitutes e conversar. Nesses estabelecimentos, passavam famílias, políticos e boêmios. Grande número desses bares e cafés era encontrado na Avenida Tavares de Lira e nas suas imediações, no bairro da Ribeira.
A Ribeira era o centro comercial da cidade de Natal, onde se encontravam livrarias, lojas, outras casas comerciais, bancos e as sedes dos dois mais importantes jornais do período: A República e o Diário de Natal. O porto e a estação ferroviária tinham grande importância, uma vez que eram responsáveis pela exportação e importação dos produtos e pelo transporte de passageiros. Nesse bairro, localizavam-se ainda o Teatro Carlos Gomes (atual Alberto Maranhão), cinemas e sorveterias. A economia da cidade girava em torno do pequeno comércio (lojas, bares e cafés) e das exportações do algodão, açúcar, sal e da cera de carnaúba.
Em 1919, o governador Ferreira Chaves destinou recursos para o calçamento a paralelepípedo da Avenida Tavares de Lira. Passear nessa avenida do bairro da Ribeira, entrar nos seus cafés, realizar negócios e acordos políticos nesses lugares era um hábito da elite natalense nas primeiras décadas do século XX.
A Avenida Tavares de Lira, nas primeiras décadas do século XX, assumiu uma importância enorme na sociabilidade natalense, devido a sua localização geográfica e ao frequente trânsito da população pela localidade. Era palco dos grandes acontecimentos, tais como os desfiles dos blocos carnavalescos e os desfiles militares.
Nos vários cafés existentes na capital potiguar, políticos, jornalistas e intelectuais reuniam-se para conversar sobre assuntos diversos. Uma dessas casas comerciais era o Café Chile, de propriedade de Leonel de Barros, situado na Travessa Aureliano de Medeiros, no bairro da Ribeira. Diariamente, a casa comercial recebia deputados, senadores, magistrados e jornalistas. Além de café, o estabelecimento oferecia aos seus fregueses caldo de cana, refrigerantes, aperitivos e sucos.
Os anúncios e as reportagens sobre os cafés e os bares no jornal A República sempre se referem a esses espaços como lugares elegantes e civilizados: Aos domingos do American Bar sempre solicito em ser um dos esteios da civilização em Natal fará, vendendo a preço modico, um magnifico do sorvete destacando-se a excellencia de sorvête de leite que será feito de pura nata.
O proprietuario do American Bar só tem em fito impulsionar o progresso desta hospitaleira Natal, terra de boníssima gente, não requendo enriquecer do dia para a noite e sim corresponder aos desejos de uma população que tenciona igualar-se ás mais civilisadas do paiz.
Para os intelectuais que escreviam nos principais jornais, o hábito de frequentar cafés ajudaria Natal a avançar em direção aos padrões de elegância e civilidade, essenciais para que a cidade adquirisse características de uma capital moderna. Segundo o cronista e memorialista João Amorim Guimarães, os cafés e bares da Avenida Tavares de Lira eram ―[…] ricamente instalados, em salões decorados a capricho, com mobiliário de luxo, prateleiras artísticas, mesas de mármore verdadeiro, garçons bem trajados, limpos, sociáveis, polidos, distintos e educados […].
É o caso da Rotisserie Natal, restaurante situado à Avenida Tavares de Lira, nº. 20, que recebia a nata da sociedade natalense, entre eles jornalistas, políticos e comerciantes, para reuniões sociais, oferecendo a seus clientes queijos, presuntos, bebidas nacionais e estrangeiras. Esse estabelecimento era qualificado como elegante e civilizado, pois estava dentro dos padrões de estética e progresso pretendidos pelas elites da capital potiguar.
A Rotisserie Natal era um espaço de sociabilidade que possuía dimensões amplas, iluminação elétrica, diferenciando-se de construções de tetos baixos, com pequenos cômodos e iluminados a lampião. A foto mostra homens bem vestidos, sentados a mesa em uma reunião social. Notamos a ausência das mulheres.
Cantos de bar: sociabilidades e boemia na cidade de Natal (1946-1960) /Viltany Oliveira Freitas. – 2013.