Os limites urbanos da Cidade do Natal (1599 a 1900)
Em dezembro de 1599 era fundada a cidade do Natal, marcada pela construção da Fortaleza dos Reis Magos. Cascudo (1999) conta que no dia 25 de dezembro desse ano foi inaugurado o seu pelourinho ou a sua igreja matriz, e em virtude da data, a cidade foi batizada homenageando o nascimento do menino Jesus. E assim, iniciava-se a povoação da cidade, tendo a sua origem no bairro da Cidade Alta. Durante a construção do forte, alguns trabalhadores moraram ao seu redor, entretanto, estavam ali na proporção de adiantamento do trabalho, não com o objetivo de povoar. Foram feitas demarcações com cruzes para delimitar os limites do território, assim como de costume desse período, onde uma ficava na Rua da Cruz (atual Junqueira Aires) e outra no declive do baldo, onde ficava o rio de beber (onde até hoje existe uma cruz que popularmente simboliza a Santa Cruz da Bica).
As construções iniciais eram feitas de taipa e telha, e o desenvolvimento foi bastante lento, visto que 15 anos após a sua fundação existiam apenas doze casas, e ainda em 1631 o número aumentou para sessenta (CASCUDO, 1999).
O bairro da Ribeira também foi um dos primeiros da cidade, tendo seus primeiros moradores a partir de 1603 (CASCUDO, 1999). Recebeu esse nome porque onde atualmente está a Praça Augusto Severo existia um grande alagado do rio Potengi. Existia uma ponte de madeira que interligava a Cidade Alta a Ribeira.
Era um bairro que abrigava muitos comércios, plantações e armazéns de mercadorias exportadas para Pernambuco, posteriormente também caracterizado pela sua boemia. Também teve um lento crescimento, o que comprova que até meados do século XVIII, Natal pouco evoluiu.
Durante o século XVII, os bairros da Cidade Alta e da Ribeira constituíam os limites da cidade, que contava com poucos moradores e também tinha como única edificação a igreja matriz. Nessa época a cidade pouco se desenvolveu. Pode-se observar no mapa a seguir a limitada estrutura da cidade, e o alagado do rio Potengi era o que dividia o território dos bairros.
Já no final do século XVIII, nota-se um desenvolvimento considerável na cidade em relação ao século anterior, no qual se vê mais ruas e mais construções pelos dois bairros, inclusive uma ponte interligando ambos. Não somente os edifícios cresceram, mas a dinâmica social e o comércio ficaram mais intensos. Mas apesar disso, Natal ainda não se configurava como uma grande cidade e crescia a curtos passos.
Descrição de Natal, por Henry Koster, 1810: (KOSTER, 1978, p. 110)
As construções foram feitas numa elevação a pequena distância do rio, formando a cidade propriamente dita porque contém a Igreja Matriz.
Consiste numa praça cercada de residências, tendo apenas o pavimento térreo, as igrejas que são três, o palácio, a câmara e a prisão. Três ruas desembocam nesta quadra, mas elas não possuem senão algumas casas de cada lado. A cidade não é calçada em parte alguma e anda-se sobre uma areia solta, o que obrigou alguns habitantes a fazerem calçadas de tijolos ante suas moradas. Esse lugar contará seiscentos ou setecentos habitantes.
À tarde, saímos passeando para ver a cidade baixa. É situada nas margens do rio e as casas ocupam as ribas meridionais e não há, entre elas e o rio, senão a largura da rua. Essa parte pode conter 200 a 300 moradores e aí residem os negociantes do Rio Grande.
Como se pode ver, a primeira descrição é sobre o bairro da Cidade Alta, cuja infraestrutura ainda continuava sem um grande desenvolvimento das construções e da estrutura da cidade. A segunda citação trata-se do bairro da Ribeira, no qual concentrava a parte comercial de Natal e até então também pouco desenvolvida.
Somente no final do século XVIII e início do século XIX que realmente há mudanças e avanços na cidade, com a sua urbanização e modernização de sua infraestrutura.
E dessa forma, a partir da evolução e do desenvolvimento que Natal sofreu e da preservação de alguns dos seus primeiros prédios e monumentos, pode-se remontar e contar a história dos primórdios da cidade, que é o legado do povo potiguar e é bastante diversificado e rico, no qual se tem muito potencial em desenvolver um roteiro para que outras pessoas também possam conhecer o Centro Histórico, despertando esse interesse não apenas dos turistas, mas também da população local.
Um mapa construído pelo capitão-mor José Francisco de Paula Cavalcanti e Albuquerque em 31 de dezembro de 1805 registrava que a população de Natal possuía 6393 habitantes. Nesse mesmo período, a cidade já havia se expandido para os bairros: Passo da Pátria, Barro Vermelho, Alecrim, Quintas, Guarita, Refoles (hoje Base Naval) e Guarapes (MIRANDA, 1999). E a cidade continuou se expandindo para outros locais, e esse crescimento proporcionou o surgimento de cafés, hotéis, alojamentos, bares, bilhares, brigas, delegacias, comércio e etc.
No início do século XX, houve uma grande seca no sertão, o que gerou uma grande imigração do sertanejo para a capital, proporcionando assim o crescimento da cidade e do número de habitantes. Outro fator também marcante da primeira metade desse mesmo século foi a inserção de Natal como base estratégica para os norte americanos durante a Segunda Guerra Mundial. Eles tinham a sua base concentrada em Parnamirim, mas circulavam também pelos quartéis do exército e da Base Naval, o que proporcionou o asfaltamento dessas vias para facilitar a locomoção. A Base também criou possibilidades de empregos e serviços para os nativos, além de hospitais e a assistência de várias outras profissões (MIRANDA,1999).
Desde então, a modernidade chegava à Natal, com estradas, o bonde elétrico, carros, as construções e os prédios, dentre outros. Esses elementos obrigaram que a cidade tivesse um planejamento e ordenação urbana, buscando atender essas novas necessidades de ruas mais largas, quarteirões e avenidas medidos milimetricamente e planejados, preocupações que não existiam na época da fundação da cidade onde as construções eram bem mais simples e as ruas eram de areia. Uma particularidade de um programa educacional de Natal ocorrido durante a década de 1960 foi o “De pé no chão também se aprende a ler”, implementado pelo prefeito Djalma Maranhão, onde consistia em alfabetizar uma considerável parcela da população carente. O projeto fez bastante sucesso e foi divulgado em âmbito nacional pela sua iniciativa e o seu resultado positivo para a população natalense (Prefeitura Municipal de Natal, 2013).
Atualmente, a cidade já está bem diferente do que nos períodos citados acima, já foi expandida para uma área de 167,263 km² e compreende uma população de 803.739 habitantes (IBGE, 2010). Está fragmentada entre quatro regiões administrativas, sendo elas: norte – Lagoa Azul, Pajuçara, Potengi, N. Sª da Apresentação, Redinha, Igapó e Salinas; Leste – Santos Reis, Rocas, Ribeira, Praia do Meio, Cidade Alta, Petrópolis, Areia Preta, Mãe Luiza, Alecrim, Barro Vermelho, Tirol e Lagoa Seca; Oeste – Quintas, Nordeste, Dix-Sept Rosado, Bom Pastor, N. Sª. De Nazaré, Felipe Camarão, Cidade da Esperança, Guarapes e Planalto; Sul – Lagoa Nova, Nova Descoberta, Candelária, Pitimbu, Neópolis, Capim Macio e Ponta Negra (Prefeitura Municipal de Natal, 2013).
Durante os séculos XVIII e XIX, a criação de gado era a principal economia do Rio Grande do Norte e de Natal. Já que as capitanias de Pernambuco e Bahia eram os principais produtores de cana-de-açúcar do período, o RN utilizava a pecuária como transporte e para remover a carne bovina. Posteriormente, o estado e a capital ainda produziram um pouco da cana e houve um grande cultivo de algodão, principalmente no interior. Ainda no final do século XIX e início do XX, a construção do cais do porto na Ribeira veio a desenvolver aquela área devido a importação de produtos agrícolas que ali se iniciava, o que proporcionou a migração de várias pessoas para essa nova oportunidade e a construção de infraestrutura relacionada a produção, como o seu transporte, armazenamento, dentre outros.
No final do século XX houve uma grande expansão industrial em Natal, com destaque para os ramos têxtil e de confecções, onde as fábricas foram construídas principalmente na região metropolitana, nas cidades de Extremoz e Macaíba (Prefeitura Municipal de Natal). Atualmente, possui a sua economia baseada nos serviços, onde está incluído também o turismo, compreendendo oito milhões quatrocentos e oitenta e sete mil e novecentos e cinco do Produto Interno Bruto (PIB) de Natal enquanto a indústria um milhão setecentos e noventa e sete mil e oitocentos e trinta e oito, segundo dados do IBGE (sem ano).
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