Rua Doutor Barata

A atual Rua Dr. Barata está localizada no bairro da Ribeira, no trecho compreendido entre a praça Augusto Severo e a avenida Tavares de Lira. Trata-se de um dos mais antigos logradouros públicos daquele bairro. Ali foram construídas as primeiras residências da Ribeira, no último quartel do século XVIII. Eram as casas destinadas aos vigias dos armazéns, que guardavam as mercadorias exportadas para Pernambuco, embora ali ainda predominassem os sítios com plantações, especialmente de coqueiros.

Durante muitos anos a Cidade Alta era o único bairro de Natal. Na rua da Conceição desenvolvia-se praticamente todo o comércio da cidade. Nas últimas décadas do século XVII, Natal começou sua expansão atingindo o sítio da Ribeira, cujas construções se iniciaram nas atuais ruas Dr. Barata, Chile e General Glicério. No início do século XIX, as principais ruas da Ribeira eram a Câmara Cascudo, Chile e esplanada Silva Jardim.

Depois as tropas invasoras holandesas desembarcaram seguiram em marcha em direção ao Forte 8 de dezembro de 1633, provavelmente nas proximidades das atuais Junqueira Aires, Dr. Barata e Hildebrando de Góis, percurso em que levariam uma hora. “Em caminho passamos uma ponte lançada sobre um riacho, a qual o Tenente-Coronel mandou ocupar”

No final do século XVIII, ainda não existia uma denominação definida para a rua Dr. Barata que formava conjuntamente, com as atuais avenidas Duque de Caxias e Tavares de Lira, e as ruas Chile, Frei Miguelinho e Câmara Cascudo, a Campina da Ribeira, defronte à Igreja do Bom Jesus. Existem referências documentais, que evidenciam a existência daquele templo no ano de 1776. A Rua Frei Miguelinho é uma das mais antigas ruas da Ribeira na realidade o prolongamento da rua Dr. Barata, outrora conhecida como o “Caminho da Fortaleza”.

A Travessa Venezuela está localizada no bairro da Ribeira, entre a avenida Tavares de Lira e a travessa Argentina, em um pequeno trecho que liga a rua Dr. Barata à Chile. A Travessa Venezuela está localizada no bairro da Ribeira, entre a avenida Tavares de Lira e a travessa Argentina, em um pequeno trecho que liga a rua Dr. Barata à Chile.

A Rua Dr. Barata guarda muito da história da Ribeira. Uma rua que ao longo do desenvolvimento urbano de Natal, se destacou por sua vocação comercial.

Nas primeiras décadas do século XIX, o comércio consolidou-se na Ribeira, concentrando-se principalmente na atual rua Dr. Barata, justificando assim o seu primitivo topônimo: Rua das Lojas(NESI, 2002, p.98). Esta recebeu posteriormente a denominação de Correia Teles, que homenageava ainda em vida, o General do Exército José Correia Teles, norte-rio-grandense de Assu/RN. Correia Teles atuou com destaque na campanha do Paraguai, tendo falecido em 4 de novembro de 1897, aos 62 anos de idade.

Em 1888, a Câmara Municipal realizou uma revisão na nomenclatura urbana de Natal, ocasião em que a rua Correia Teles passou a chamar-se Visconde do Uruguai.

A Ribeira era um lugar de comércio e residências. Muitas gerações nasceram e cresceram, assistindo à terra de canguleiros vencer o alagadiço e transformar-se em centro econômico e político.

Considerada como um dos mais antigos logradouros públicos daquele bairro, a rua Dr. Barata (O POTI, 10 out. 1993, p. 14. A Rua Dr. Barata) tem esta denominação no inicio do século XX, até os dias de hoje, é nas primeiras décadas do século XIX, conhecida como rua das Lojas, topônimo este justificado a partir da concentração do comércio da Ribeira situado na referida rua. Posteriormente, recebeu mais três denominações: Caminho da Fortaleza, Correia Teles e Visconde do Uruguai. Ali, foram construídas as primeiras residências da Ribeira as quais abrigavam os vigias dos armazéns, servindo ainda, para estocar as mercadorias exportadas para Pernambuco.

Inicia-se então a reorganização da Ribeira com a implementação de duas ruas projetadas que foram a Rua Sachet e a Avenida Almino Alfonso (Conforme OLIVEIRA, Giovana. De cidade a Cidade, p.69) além de alinhamento da rua do Comércio (Atual rua Chile.) com a Rua Doutor Barata para evitar empoçamento de água de chuva. Nas palavras da Giovana Paiva, essas ações visavam entre outras “intervir para direcionar a expansão da cidade e reformar o interior das áreas ocupadas” (Idem, p.69). A construção de praças, jardins e teatros possuíam um sentido de prover a cidade de mais espaços de convívio social quase inexistentes no início do século XX e fariam parte das reclamações da elite letrada.

O trecho da atual Rua Dr. Barata, compreendido entre a travessa Venezuela e Avenida Tavares de Lira, chamava-se travessa Quintino Bocaiúva. Era um beco muito
estreito, que somente permitia a passagem de pedestres e veículos pequenos, como bicicletas. Aquele trecho foi posteriormente alargado pela Prefeitura, anexando assim a travessa Quintino Bocaiúva, à rua Dr. Barata (NESI, Jeanne Fonseca Leites Praça Augusto Severo, em Natal, p. 14.).

Rua Dr. Barata por Petterson Michel Dantas
Rua Doutor Barata, Ribeira.

VISCONDE DO URUGUAI

Paulino José Soares de Souza, Visconde do Uruguai, filho de pai brasileiro, nasceu em Paris em 1807. Realizou seus primeiros estudos no Maranhão.

Voltou à Europa rapaz, e ingressou no Curso de Direito da Universidade de Coimbra, sendo preso por motivos políticos. Afastou-se da Universidade quando cursava o 4º ano.

Regressando ao Brasil, bacharelou-se em 1831, pela Faculdade de Direito de São Paulo. Foi chefe do Partido Conservador, magistrado, diplomata, Ministro dos Estrangeiros, Senador do Império e Conselheiro de Estado. Recebeu o título de Visconde em 1854, tendo falecido no Rio de Janeiro, em 1866.

Em 24 de setembro de 1900 a Intendência Municipal de Natal mudou, mais uma vez a nomenclatura da rua para Dr. Barata, denominação que se conserva até hoje.

QUEM FOI DR. BARATA?

A conhecida Rua Doutor Barata está localizada no tradicional bairro da Ribeira, nas proximidades do cais do porto, sendo um ponto de concentração de lojas especializadas em diversas atividades e antigo setor da boemia natalense.

Mas, quem foi à figura do “Doutor Barata”?

Cipriano José Barata de Almeida nasceu em 26 de setembro de 1762, na cidade de Salvador, era filho de família ilustre, mas desprovida de recursos, onde tiveram de lutar muito para mandar o jovem estudar em Portugal. Graduou-se se em Filosofia e Medicina pela Universidade de Coimbra, Portugal.

Lecionava cirurgia na Universidade de Coimbra, quando chega à notícia prematura da morte do seu pai, tendo Barata de retornar a Bahia apenas com o título ou carta de cirurgião. Na Bahia, se casou com a senhora Anna, tendo iniciado sua carreira no campo, onde desde cedo passa a se dedicar à causa da independência do Brasil do julgo português.

Segundo Câmara Cascudo, Cipriano Barata meteu-se em várias conspirações libertárias, tendo por muito pouco escapado da forca. Entre estas revoltas estava a Conjuração Baiana, movimento ocorrido em Salvador em 1798, motivado pela opressão colonial, pela influência ideológica do iluminismo, pela independência dos Estados Unidos e a maçonaria, organização a qual já era filiado. Não existem informações no material coletado sobre a loja maçônica a qual o Doutor Barata iniciou sua participação nesta fraternidade. Os conjurados pregavam o fim do absolutismo, a implantação da República e a abertura dos portos brasileiros. Muitos foram presos, quatro são executados, outros degredados ou absolvidos entre estes estavam Barata.

Homem de oratória firme e extremamente popular acabou por conquistar o cargo de Deputado, para atuar em Portugal, junto as Côrtes Gerais de Lisboa, pelos interesses da então Província da Bahia. O Doutor Barata foi empossado em dezembro de 1821, em meio a uma assembleia hostil aos anseios do Brasil. Nesta arena ele seguia o mesmo pensamento revolucionário, realizando inflamados discursos, convulsionando o auditório, onde sempre gerava protestos dos assistentes portugueses e fazia com que ele vivesse em constantes conflitos junto aos membros da casa.

Quadro de Cipriano Barata retratado por Domingos Sequeira encontra-se no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa.

Em Lisboa, para marcar sua posição contrária ao julgo português, Barata faz questão de se apresentar as Côrtes com roupas feitas exclusivamente de algodão brasileiro, usava chapéu de couro, ou de palha de carnaúba, sapatos de couro de bezerro e uma chamativa bengala de jucá. Aparentemente, segundo os modelos existentes na época, o seu chapéu de couro era idêntico aos usados pelos antigos vaqueiros e cangaceiros do sertão, sendo a peça da sua indumentária que mais chamava a atenção dos portugueses.

Em um dos seus inflamados discursos, no meio de toda algazarra, eleva a voz e pronuncia; “quando fala um Deputado Brasileiro por sua pátria, se cala toda a canalha europeia”, criando um clima que geram inúmeras ameaças a integridade física dos representantes brasileiros.

Como a situação se tornou insustentável, o Doutor Barata e seis outros deputados brasileiros fugiram de Lisboa para Falmouth, Inglaterra, em 6 de outubro de 1822. Entre os fugitivos estava o padre Diogo Antônio Feijó. Nesta cidade inglesa decidem publicar um manifesto para explicar a fuga, mas são surpreendidos pela notícia da independência do Brasil e decidem retornar ao país.

O grupo chega a dezembro deste mesmo ano, tendo desembarcado o Doutor Barata em Salvador, onde foi efusivamente recebido. Ele segue depois para Recife, onde passa a trabalhar como jornalista junto ao jornal “Gazeta Pernambucana”, logo funda o periódico “Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco”, adotando uma posição fortemente oposicionista ao Imperador Dom Pedro I, reivindicando melhorias sociais para o povo.

Em 1823, José Bonifácio ordena sua prisão, com transferência imediata para a Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Além do descontentamento com as medidas políticas centralizadoras de D. Pedro I, as capitanias nordestinas passavam por uma nova crise econômica, devido à concorrência de produtos estrangeiros, agravada pelos crescentes impostos cobrados pelo governo central.

É emitida pelo Governo Geral uma ordem de devassa de suas atividades em Pernambuco, mas a mesma não é cumprida por coincidir com a eclosão, em 2 de julho de 1824, do movimento revolucionário conhecido como Confederação do Equador. Sufocada a revolta, em outubro deste ano é realizada a devassa. O estopim do movimento foi a substituição do governador de Pernambuco, Manuel de Carvalho de Paes de Andrade por Francisco Pais Barreto. No dia 02 de julho de 1824, os revolucionários, liderados por Paes de Andrade, Cipriano Barata e frei Caneca proclamaram a Confederação do Equador, que proclamou a república e adotou provisoriamente a Constituição colombiana. O movimento, que também tinha caráter separatista, rapidamente expandiu-se recebendo a adesão da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará.

Preso, foi levado ao Rio de Janeiro por ordem de José Bonifácio. Permaneceu prisioneiro de 1825 (ano em que faleceu sua primeira esposa, Leonor Maria de Azevedo), até 1829.

Inicialmente o Doutor Barata sofre muito na prisão, onde o deixa longo período sem permissão para cortar a barba e cabelo. Como represália, nunca mais irá cortar sua vasta cabeleira. Segundo o capitão Francisco Leitão, mesmo preso, o Doutor Barata tinha permissão de imprimir um jornal de formato pequeno, mas repleto de duras palavras contra Pedro I, que sabendo da sua publicação, manda avisá-lo que “suas letras poderiam levá-lo a morte”. Barata respondeu em número posterior do jornal com o seguinte verso;

De soberbos rochedos rodeado,

Onde bramem mil ondas furiosas,

Dos males nunca gemo assombrado,

Nem me assusta as páreas pesarosas,

Ainda mesmo nos pulsos arrochados,

Desprezando desgraças sanguinolentas,

Mordo os ferros, e altivo ranjo os dentes,

Desafio os tiranos mais potentes.

Dr. Barata.
Cipriano Barata.

Segundo a professora potiguar Isabel Gondim, a maçonaria e a sua família o proviam de fundos na prisão, onde ele recebia este dinheiro através do padre José Custódio Dias, então responsável no Rio de Janeiro pela educação do jovem potiguar Urbano Egídio da Silva Costa Gondim de Albuquerque, futuro pai da professora Isabel Gondim. Através do padre, o jovem Urbano conheceu o Doutor Barata, fazem amizade e Urbano passou a ter permissão de frequentar aulas com este lutador pela liberdade.

Professora Isabel Gondim.

Barata só sairia da prisão em 1830, onde segue pra a Bahia, sendo recebido como herói e verdadeiro mártir. Funda um novo periódico denominado Sentinela da Liberdade na Guarita do Quartel-General de Pirajá, que passa a trabalhar com uma linha editorial fortemente crítica ao governo, onde se confronta com os moderados de Salvador.

Não desistindo de suas atividades como agitador, foi novamente preso em agosto 1831. Fica primeiramente detido na Fortaleza de São Marcelo, depois segue para o Forte de São Pedro, onde publica clandestinamente seu jornal, agora intitulado “Sentinela da Liberdade na Guarita do Forte de São Pedro na Bahia de Todos os Santos”. Em 27 de agosto de 1832, casou-se em segundas núpcias, com Ana Joaquina de Oliveira, com a qual já tinha cinco filhos. O casamento realizou-se no oratório da Fortaleza de São Marcelo, na Bahia, local onde Cipriano Barata encontrava-se preso.

Forte de São Pedro, Salvador, Bahia.

Para vergar um homem com tal força de vontade, o governo decide enviá-lo para o Forte de Villegagnon, no Rio de Janeiro, onde é trancafiado na ala mais segura. É julgado, condenado e só será libertado em 1833.

O agora septuagenário Doutor Barata retorna a Bahia, mas é tratado com indiferença. Em verdade a política mudara, era agora hierárquica, disciplinada e voltada para a construção do país, sendo o Doutor Barata um o típico revolucionário da fase inicial da Revolução Francesa. Era o elemento tumultuoso vital no inicio de uma revolta e que se tornaria inútil quando da consolidação do processo revolucionário.

Segue ele para Pernambuco, onde em Recife ainda encontra prestígio junto à comunidade, que o elege suplente de Deputado Provincial. Entre 16 de agosto de 1834 e 2 de agosto de 1835, publica sua última Sentinela, na qual fazia propaganda do Federalismo. Como era costume da política na época, muitas vezes o povo de Pernambuco envia para o então Regente Feijó, uma lista tríplice com nomes para comporem o Senado Imperial, mas nunca o nome do Doutor Barata foi escolhido.

Depois de tantas lutas, prisões e decepções, o Doutor Barata se encontrava velho, pobre e doente, sofrendo de diabetes. Será o seu amigo e ex-aluno da Fortaleza de Santa Cruz, o potiguar Urbano Gondim de Albuquerque, professor de geometria do Ateneu Riograndense, quem dará apoio para a vinda do Doutor Barata a Natal. Primeiramente dando amparo ao seu filho Horácio, então com 15 anos, e finalmente apoiando a chegada do antigo deputado, sua mulher Anna, e suas filhas Iria, Veridiana e Laura, uma delas já viúva e com dois filhos pequenos. Segundo a professora Isabel Gondim, sem entrar em maiores detalhes, informa que o filho Horacio “irá se tornar um jovem avesso às letras, dado a estroinices e que dará muitos desgostos a seus pais”.

Duas situações distintas concorreram para a mudança da família; o fato da filha Laura ter a promessa de trabalho em um externato como professora de português (situação que não se concretizou) e o então Presidente da Província, Manoel Ribeiro da Silva Lisboa, e o Chefe de Polícia e Juiz de Direito, Joaquim Alves de Almeida Freitas, serem baianos e conhecerem a vida do Doutor Barata.

Para alguns autores o Doutor Barata chega à provinciana Natal em fins de 1836, para outros no início de 1837, passando a chamar a atenção na cidade pela sua rica história na luta pela independência, pela figura magra, de olhos claros, andar agitado, ar desabusado, uma notória neurastenia e sua comprida cabeleira branca, sempre com uma trança que caia pelas costas. Na cidade, não foi muito dedicado a sua profissão de cirurgião, recebendo apoio da família para sobreviver.

Sua primeira casa ficava na então Rua Grande, atualmente Praça André de Albuquerque, depois se fixou na rua que leva seu nome. Câmara Cascudo comenta que sua primeira residência possuía o piso mais baixo em relação ao nível da rua, para quem fosse procurá-lo, ele simplesmente dizia “desça!”. Depois passou posteriormente para a então denominada Rua das Lojas, logradouro que hoje é conhecido por Dr. Barata.

Prestou um concurso para professor de francês do Ateneu em 8 de janeiro de 1837, sendo aceito no outro dia. Na “Mensagem do Vice-Presidente da Província, lida na abertura da Assembleia Legislativa, no dia 7 de setembro de 1838”, na página 40, dá conta que após a morte do Doutor Barata, assume o cargo de professor de francês do Ateneu, o padre João Carlos de Souza Caldas. Trabalhou por algum tempo e ainda acompanhou muito pesaroso o velório do seu amigo baiano, o Presidente Silva Lisboa.

Segundo relato da professora Isabel Gondim, o Doutor Barata teria instalado a primeira loja maçônica do Rio Grande do Norte, onde foi “particularmente comissionado, visto o alto grau a que estava investido naquela sociedade”.

Segundo reportagem do jornal “A Republica”, de 21 de março de 1926, em matéria alusiva aos 90 anos da loja maçônica “21 de Março”, a primeira loja inaugurada no Rio Grande do Norte foi a “Sigilo Natalense”. Na reportagem consta que “contribuíram para o seu estabelecimento os maçons Basílio Quaresma Torreão, Capitão Antônio José de Moura, tenente da armada Jesuíno Lamego Costa, major Joaquim Ferreira Nobre Peliuca, comendador Rafael Arcanjo Galvão, padre Pedro José de Queiroz e Sá, Joaquim José de Lima e Silva e muitos outros”. Como a data exata da chegada do Doutor Barata a Natal não é conhecida, provavelmente ele não participou da inauguração da “Sigilo Natalense”, pois sem dúvida seu nome constaria da lista dos notáveis que participaram de sua primeira seção oficial.

Acredito que o velho maçom Cipriano Barata, deve ter participado dos quadros da primeira loja maçônica do Estado, onde certamente recebeu extensivo apoio dos seus irmãos na sua chegada a Natal. Em 1876, sob a direção do padre Bartolomeu da Rocha Fagundes, as lojas maçônicas “Sigilo Natalense” e “Fortaleza e União”, se uniram para formar a loja “21 de março”, onde ficou decidido que a data de sua fundação retroagiria a 1836, sendo a loja “21 de março” a mais antiga instituição maçônica do Rio Grande do Norte.

Entretanto, logo o diabetes começou a cobrar seu preço, provocando-lhe uma morte lenta e dolorosa. Cascudo comenta que ele delirava realizando discursos, como se ainda estivesse nas Côrtes de Lisboa. Veio a falecer na noite de 7 de junho de 1838. Ainda segundo Câmara Cascudo, vestiram-no de casaca e o enterraram com toda honra na soleira da Igreja do Senhor Bom Jesus, na Ribeira. O tempo apagou os letreiros do seu túmulo, perdendo-se a localização de seu túmulo e se não fosse nome de rua, o Doutor Barata seria totalmente esquecido.

No relato do capitão Francisco leitão, ele comenta que após a morte do Doutor Barata, circulou pela cidade um folheto que narrava sua vida e tinha uma conclusão que muito desagradou aos natalenses da época; “No Rio Grande do Norte, a Província menos notável do Império, na pequena capital dessa Província, terminou este milcíades brasileiro sua penosa existência; morreu virtuoso, mas não premiado pelos homens. Assim como o grande Pompeu, perseguido da inveja foi honrar com o seu cadáver os adustos areais do Egito, assim também o Probo, o Magnânimo, o Ínclito Barata, foi honrar com suas cinzas, as miseráveis plagas natalenses”[6].

Diante disso, é comum encontrarmos crônicas cascudianas que reforçavam sua pretensão em atribuir sentidos a lugares e a personagens da cidade. Há textos, inclusive, em que ele se propôs a tornar conhecidos alguns indivíduos que emprestavam nomes às ruas do Natal. Um exemplo disso é a crônica sobre o Doutor Barata, homem que batizava uma importante rua da urbe, mas que, de acordo com Cascudo, ninguém mais recordava quem fora José Cipriano Barata: “enterrado na soleira da Igreja do Senhor Bom Jesus das Dores da Ribeira, o Tempo apagou o letreiro do túmulo, o lugar do sepulcro e, nas almas apressadas, a lembrança do morto…”. (Id., Doutor Barata. A República, Natal, 30 jan. 1942.)

Contribuíram para a descrição desta biografia, utilizou-se reportagens do jornal “A Republica” do ano de 1898. Em 15 de abril deste ano, a então professora aposentada e única mulher que era membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Isabel Urbana Carneiro de Albuquerque Gondim, reproduz em uma extensa matéria, as lembranças do seu pai Urbano sobre a amizade com o Doutor Barata. No dia 17 de abril deste mesmo ano, o mesmo jornal reproduzia uma carta do já idoso capitão Francisco Leitão de Almeida, residente em Macaíba, que narrava suas experiências como aluno do Doutor Barata no Ateneu. Ainda no dia 20 de abril, da então vila de Touros, escreve para “A Republica” o senhor Francisco Antunes da Costa, para comentar que seu pai, o falecido major João Antônio da Costa, fora amigo do Doutor Barata, mas que “não tinha nada a informar, devido a clareza do artigo da professora Isabel Gondim”. Foi igualmente utilizado o livro “Natureza e História do Rio Grande do Norte, Primeiro Tomo (1501-1889)”, de João Alves de Melo, 1950, Imprensa Oficial, Natal, Rio Grande do Norte, onde nas páginas 361 a 363, o autor reproduz uma detalhada Acta Diurna de Luís da Câmara Cascudo sobre a trajetória política do Doutor Barata. Via Tok de História.

Jornal natalense “A República”, de 17 de abril de 1898, contando a vida do Dr. Barata na capital potiguar.

ANTECEDENTES

Até o terceiro quartel do século XX, ela era um dos principais logradouros públicos da Cidade. A grande atividade comercial desenvolvida na Rua Dr. Barata transformou-a em um local atraente, frequentado por toda a população da Cidade. Ali concentravam-se as lojas chiques de Natal.

A Ribeira, por sua vez, foi a segunda ocupação urbana e, desde o século XIX este bairro era visto como o mais dinâmico da cidade. Ao longo de sua existência esteve sempre identificado como centro comercial e cultural, bairro portuário que tinha na ligação com o Cais a principal razão de seu movimento. Seu primeiro núcleo urbano, segundo Cascudo (1999, p.153), construiu-se em torno das Ruas Dr. Barata e General Glicério, depois chegou até a Rua do Comércio (atual Rua Chile), onde se encontrava, nas suas proximidades, o Cais da Tavares de Lira. Este, depois de algumas mudanças, instalou-se no lugar atual e diante dele, no final
do século XIX, foi construída a Avenida de mesmo nome, que se tornou a principal rua do bairro. Até o final do século XIX, a cidade não possuía ligação com as cidades vizinhas, e o Rio Potengi era a via de acesso da população à capital do Estado do Rio Grande do Norte. O Cais era a porta de entrada da cidade.

As conquistas das primeiras praças, Augusto Severo e Leão XIII que eram pantamos, o alinhamento da Silva Jardim que era um alagado, trouxe o pensamento do xadrez porque este partia da idéa do primeiro retangulo saneado, plantado e conquistado ao rio. A recta surgiu como uma expressão de segurança. A Tavares de Lyra já demonstra isto. Os fulcros seriam as rectas que partindo do rio subissem para o morro. O desenho geometrico iniciou-se inda tímido mas coherente e seguro. Tavares de Lyra – Silva Jardim – Sachet – Dr. Barata. A lucta daria a visão do rio, inimigo tradicional e alliado admiravel. O prolongamento da Sachet acceitou o plano inconsciente e primitivo do começo do xadrez. Manoel Dantas que vivia no Natal velho sonhou em 1909 a Ribeira “enxadrezada”. A cidade do Natal, entre rio e mares, ficou como uma massa esperando o aspecto. O titulo já possuía desde 1599 (CASCUDO, Luís da Câmara. O novo plano da cidade: A cidade. In: ARRAIS, Raimundo (org). Crônicas de origem, Natal: EDURFRN, 2005, p. 139-143).

Nesse período, as atividades que eram desenvolvidas na Avenida Tavares de Lira começaram a encontrar dificuldades em relação ao espaço. A rua não mais as comportava e começaram a adentrar pelas ruas estreitas ao redor. O crescimento econômico da Ribeira exigia novos espaços e a Rua Dr. Barata destacou-se, nesse cenário de expansão econômica, como a segunda rua mais importante da cidade.

Mesmo que considerada sua a importância histórica, a rua Dr. Barata foi mantida como uma memória própria, que fora fixada no espaço e que merecia comentários por parte das elites políticas. Ela, desde o início do século XX, era avaliada na sua forma colonial, tratada como uma antiguidade, que merecia ser modernizada:

Se ali não existisse o aspecto retrógrado de um sistema de vida já incompatível com o grau de civilização em que andamos, certamente seria outro o conceito da velha rua que nos faz pensar na aristocrática Rua do Ouvidor (FRANÇA, Aderbal .A nossa Rua do Ouvidor. A República, Natal, 5 fev. 1936a., p.16).

Apesar do apelo para que suas marcas passadas fossem apagadas e esquecidas, essa ação não era possível, pois seu traçado e suas edificações continuavam entranhados de antigas relações sociais, hábitos e condutas que se revelavam naquele momento histórico de modernização. Mesmo sem perder suas características dos tempos passados, os edifícios da Rua Dr. Barata abrigavam o melhor do comércio que não encontrou lugar na Avenida Tavares de Lira e, posteriormente, no período mais movimentado da Segunda Guerra Mundial, a rua tornou-se “um verdadeiro bazar marroquino”, por onde desfilavam “homens de todas as raças: heróis, bandidos e prostitutas” (MELO, Protásio Pinheiro. Contribuição norte-americana à vida natalense. Brasília: Senado da República, 1993., p.94).

Saída da Rua Doutor Barata para a Praça Augusto Severo, Ribeira

LOJAS

As lojas elegantes de Natal concentravam-se nesta rua, onde, nas tardes de sábado, o comércio abria e a Dr. Barata transformando-a em uma verdadeira passarela de modas. Com as senhoras e senhoritas desfilando com os mais elegantes trajes, completados com luvas e chapéus.

Constavam nessa lista outras firmas importantes na cidade, como A. dos Reis e Cia especializada em causados, localizada na Rua Dr. Barata e a João Galvão e Cia armazém de tecido no atacado que funcionou primeiramente na Rua Chile e depois foi transferido para também para Rua Dr. Barata, que assim como a Rua Chile também reunia também as principais casas comerciais da Ribeira, assim como a Rua Frei Miguelinho, a Travessa Aureliana e a Avenida Tavares de Lira (ANDRADE, 1989: 75-87).

A firma Olímpio Tavares Reis & Cia., uma das mais antigas no ramo de tecidos no atacado, também funcionou naquela rua e o prédio em que foi instalado incendiou-se, o mesmo foi reconstruído e instalando-se nele a firma José Fernandes & Filhos. No mesmo local funcionou um armarinho, pertencente a Francisco Lamas e a firma F. Costa & Cia. Ltda.

1930 passagem do Zeppelin em Natal.
Farmácia Brasil, 1933. Rua Doutor Barata, 176

No local, hoje usado como uso residencial, que foi ocupado pela Mercantil Val Paraíso, existia um prédio antigo, onde funcionava a firma José Farache & Filhos. Carlos Farache, um dos filhos de José, fundou conjuntamente com Carlos Lamas a Rádio Educadora de Natal. Vicente, outro filho de José Farache, foi promotor da Capital. Dr. Vicente, uma figura muito estimada, era grande admirador e colaborador do “mais querido”, o ABC Futebol Clube. Funcionava simultaneamente, no mesmo endereço, a firma Carlos Elihimas & Cia., de Carlos Lamas, especializada em artigos esportivos e instrumentos musicais. José Farache residia com a família, em uma casa contígua à loja.

Posteriormente aquele prédio foi demolido, em seu lugar foi construído um outro edifício com dois pavimentos, onde instalou-se a loja de Vicente Mesquita, a “Natal Modelo”, que comercializava tecidos, chapéus, confecções e perfumarias.

Francisco Rodrigues Vianna teve entre os seus maiores investimentos, porém, como nos sugerem as listas acima citadas e algumas notas de jornal, estavam guardados em sua firma comercial, a Francisco Rodrigues Vianna & C. Entre outros negócios, vemos que trabalhava no ramo de calçados, estabelecido à rua Dr. Barata, n. 41 – Ribeira. Exclusivamente para a venda desse produto, no atacado e no varejo, constituiu como sócio o sr. Sindimio Alves da S. Pereira.

A Singer Machine Co., que vendia máquinas de costura, instalou-se no prédio pertencente atualmente à firma César, Comércio & representações Ltda. Ali também funcionou uma distribuidora de tratores, uma joalheria, e uma loja de ferragens.

Alexandre Reis fundou na Dr. Barata, a sua firma especializada em calçados. Era a famosa “Casa Reis”. No local foi construído um novo prédio. A firma Olímpio Tavares & Cia., uma das mais antigas no ramo de tecidos no atacado, também funcionou naquela rua. O prédio onde ela estava instalada sofreu um incêndio criminoso e ficou reduzido a cinzas. Depois do prédio reconstruído, ali foi instalada a firma José Fernandes & Filhos. Funcionou também no mesmo local, um armarinho pertencente a Francisco Lamas, e a firma F. Costa & Cia Ltda.

Tácito M. Brandão, dedicado ao comércio de louças, e artigos de papelaria, instalou-se na Dr. Barata, no prédio posteriormente ocupado pela empresa J. Rezende, Comércio S.A. A firma de Matheus Petrovich abrangia um variado ramo de atividades. No prédio que ela ocupava foi posteriormente instalada a fábrica de sapatos de Paschoal Romano.

Vizinha à fábrica funcionou a “Rosa Branca”, uma loja de tecidos de propriedade de Francisco Herculano Barbalho. Posteriormente foi ocupada pela “DECOART”, casa especializada em brinquedos e artigos para decoração. Ali também funcionou a firma exportadora de algodão J. Fasanaro Pepino, uma farmácia e uma casa de modas – “Au Bon Marché”.

No local onde funcionou a Livraria Universitária, da firma Livraria e Papelaria Walter Pereira S.A., funcionou a Sapataria Nolasco. Naquela importante rua foi instalado o notável estúdio fotográfico de João Alves de Mello, em um prédio atualmente desativado. O Banco de Natal, posteriormente transformado em BANDERN, foi fundado na rua Dr. Barata. Com sua transferência para a sede própria, na esquina das atuais avenidas Duque de Caxias e Tavares de Lira, o local foi ocupado pela Livraria Cosmolita, propriedade de Fortunato Aranha.

Outros estabelecimentos instalaram-se na Dr. Barata, como a Formosa Síria, o Armazém Potiguar, o Armarinho Santa Terezinha, a Casa Lux, Sérgio Severo, o Bazar Doméstico, Dieb & Irmão, a Marmita de Ouro, a Alfaiataria Brasil, o Café Globo, o Chapim Elegante, a Casa Rubi, a Samaritana, posteriormente ocupada pela Loja Paulista, a Casa Porpino, a Alfaiataria Londres, além de vários armarinhos, relojoarias, topografias, livrarias, papelarias e farmácias. A Alfaiataria Brasil, de Pelino de Matos, localizava-se no atual nº 169 da Rua Dr. Barata, vizinha à casa lotérica de Cussy de Almeida (nº 171). Casa Lotérica de Cussy de Almeida: passou a Jorge Elísio, que passou a Natanael Luz. Conforme ANDRADE, César. Comerciantes e firmas da Ribeira (1924-1989): reminiscências, 1989.

Armazém Potyguar na esquina da Tavares de Lyra com Doutor Barata na Ribeira na década de 1940. Trata-se de um dos principais empreendimentos comerciais de Natal por décadas. No edifício “Nova Aurora” funcionou um importante hotel de nível internacional e uma grande firma chamada Nova Aurora, daí a denominação do prédio. A edificação está localizada na Rua Dr. Barata nº 241, esquina com a Travessa Aureliano. Na foto, do início do século XX, verifica-se a presença de um número considerável de pessoas, bem trajadas, em torno da edificação. O que remonta a intensa vida social e econômica vivida pelo bairro no passado. Apesar do destaque dado as formas requintadas do prédio, os passantes compõem harmoniosamente a paisagem moderna.
Prédio está atualmente desfigurado. Edifício Nova Aurora. Fonte: Projeto ReHabitar / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. Natal: SEMURB, 2007.
Anúncio no jornal A Ordem edição de sábado, 6 de julho de 1946.
Filial do Armazém Potyguar localizado no bairro da Ribeira
Ezequiel Moura (agachado à esquerda de óculos escuros) e Grupo Carnavalesco em 1945, antecessor dos Blocos de Elite dos anos 1950 e 1960. Destaque para o patrocinador.

No lado oposto ao prédio das oficinas do o Jornal ‘’A República”, na esquina da Tavares de Lira com a Dr. Barata, havia um prédio, onde em 1911 instalou-se a Seção Bondes da Companhia Melhoramentos de Natal, a empresa encarregada dos bondes elétricos que serviam à Cidade. Era um belo sobrado de planta retangular, com cobertura de quatro águas arrematada por platibanda, e um elegante frontão central.

Como recorda Cascudo (1999, p. 155), em relação à localização do bairro Ribeira no início do século XX: “A Ribeira conservou os grandes hotéis da época, as casas comerciais, armarinhos, alfaiates, farmácias, clubes de danças, o primeiro cinematógrafo da cidade, o Politeama, inaugurado a oito de dezembro de 1911 e que resistiu vinte anos.” Na Ribeira foram instalados o Palácio do Governo, o Quartel do Batalhão de Segurança Militar e outros edifícios que marcaram a fisionomia do bairro, configurando-o num lugar requisitado, visitado e movimentado por pessoas e comércios, como a Casa Reis (movimentada loja de calçados, localizada na rua Dr. Barata), a Relojoaria Italiana, lojas de vendas de máquinas diversas, a loja de banheiras Jajaz (representante de produtos importados para banho, na rua Tavares de Lyra), a Alfaiataria Paris (na rua Frei Miguelinho), lojas de irrigações, máquinas de lavar roupa, lojas de café, de bebidas geladas e demais atividades de comércio existentes que davam dinamismo ao local.

Rua Doutor Barata, 43, Ribeira.
Postal da praça Augusto Severo, por volta de 1910 mostrando um trecho da antiga rua das lojas, atual rua Dr. Barata. Fonte: Por João Emilio Gerodetti, Carlos Cornejo (2004).
Cartão-postal da Praça Leão XIII editado por Raimundo Dourado, entre 1915-1918, que mantinha uma papelaria na Rua Dr. Barata, Bairro Ribeira. Fonte: Jaeci Emerenciano. DVD Natal de Ontem.
O recorte do bairro da Ribeira refere-se ao desenho original do largo público deste bairro, limitando-se ao norte com a Rua Sachet; ao sul com a Rua Henrique Castriciano; ao leste com a Rua do Teatro; e ao oeste com a Rua Doutor Barata.

A SAMARITANA

Foi neste prédio onde nasceu o Diário de Natal, logo após ser incorporado ao Grupo liderado pelo jornalista Assis Chateaubriand. O prédio conta um pedaço importante da história do jornalismo do RN, segundo a pesquisa de Ilanna Paula Revorêdo.

Construído com o objetivo de abrigar uma loja de tecidos, o proprietário e empresário Serquiz Elias, de origem libanesa, ergue o prédio no ano de 1916, tendo em sua fachada o letreiro com o nome da loja “A SAMARITANA”, isso se torna algo marcante e simbólico como referência nos dias atuais.

Certamente a fachada que resiste ao tempo e nela cresce uma árvore, é um verdadeiro símbolo do lugar. Prédio de estilo eclético, com características muito marcantes, se destaca diante de outras construções existentes na sua época.

No n° 232 existia uma papelaria, da firma R. Dourado, que foi destruída por um incêndio, sendo construído no local, pelo Sr. Serquiz Elias, o prédio hoje existente, onde instalou a sua loja A Samaritana, passando a ser administrada, com o seu falecimento, pelo seu genro Sr. Neif H. Chalita, tendo pouca duração porque o Sr. Chalita faleceu poucos anos depois.

O local veio a ser ocupado pelas Loja Paulista, vinda do N° 104, da Tavares de Lira.Hoje denominam-se Casas Pernambucanas e funcionam em prédio recentemente construído e em alto desenvolvimento. […] Neste número, encontra-se a firma Laete Gaspar Costa, especializada em prestação de serviço Consul.”(ANDRADE, 1989, p. 86)

Segundo Andrade (1989), a loja logo passou a ser alugada para famosa Loja Paulista, que mais tarde se tornou a conhecida Casas Pernambucanas.

A Loja Paulista ocupava o térreo e vendia o mesmo seguimento de produtos da loja “A SAMARITANA”: tecidos.

Não foram encontrados registros de alteração da estrutura da loja para esse segundo uso. No pavimento superior existiam diversas salinhas, no livro de Augusto Severo Neto (1985) “ONTEM VESTIDO DE MENINO”, podemos comprovar a existências de várias salas que eram locadas para as mais diversas finalidades. Vejam o trecho a seguir, onde o autor descreve a lembrança de uma experiência vivenciada no prédio, a época de sua infância.

Atingia-se o primeiro andar das “lojas paulistas” por uma comprida escada de madeira rangedeira que, acredito, ainda existe. Pé direito violentamente alto. Degrau a não mais acabar. Lá em cima, Sylvio de Souza, dentista. […]

Nas outras salas do sobrado da Paulistas estavam os consultórios do Dr José Maria Neves, Antônio Muniz, Alfredo Bahia Monteiro e o outro

dentista, Giuseppi Leite.[…] Havia ainda o estúdio de Rubens , fotografo da moda, que morreu no naufrágio do Baependi, primeiro navio brasileiro torpedeado em nossas costas, no início da Guerra. Entre outras coisas, havia no estúdio de Rubens um retrato colorido e muito expressivo de um velho alquebrado, de olhar mortiço e triste.

Debrucei-me à sacada daquele primeiro andar, ouvindo o ruído dos instrumentos de Sylvio de Souza como um retinir de espadas em duelo, o zunir da broca do Giuseppi, sincronizado com os gemidos do paciente/ vítima e olhando do alto a velha Doutor Barata. […] (SEVERO NETO, 1985, p. 50 – 52).

Por essa descrição podemos perceber que existiam pelo menos 7 salas no pavimento superior para locação para as mais diferentes finalidades, sendo em sua grande maioria, para prestação de serviços.

É possível encontrar anúncios nos jornais da época, anúncios de médicos, advogados, empresas de transportes, entre outros. Foram encontrados registros da década de 20 até a década de 60. Muito pouco provável coexistir com aluguel para habitação, mas existem registros que relatam a existência de um “pensionato para gente simples”.

Segundo registro fotográfico, de Eduardo Alexandre Garcia (postando em seu facebook em 06/04/2013) com indicação da década de 60 em que destaca a fachada da edificação, podemos perceber a fachada muito bem conservada e muito provavelmente ainda em seu estado original. Onde percebemos a existência de portas almofadadas e bandeirolas por trás do gradil da bandeirola no primeiro pavimento. Identificamos ainda a existência da 5ª porta, hoje fechada.

As portas também foram alteradas, sendo substituídas por esquadrias mais simples do tipo fichas.

Ainda durante o advento da II Guerra, período em que a cidade de Natal fervilhava de novidades e de americanos, vindo para cá junto com a base aérea “Parnamirim Field”, a rua Dr. Barata era o endereço nobre da cidade e o comércio chique se encontrava lá.

A Loja Paulista era endereço certo para adquirir as melhores fazendas com o mais delicado toque, no pavimento superior renomados médicos, advogados, fotógrafos entre outros ocupavam o nobre endereço para prestar seus serviços e uma dessas salas foi locadas para os jovens Djalma Maranhão, Aderbal de França, Rivaldo Pinheiro e Waldemar Araújo que, por ocasião da II Guerra, resolveram criar um jornal independente e instalaram a redação do seu jornal nessa pequena sala.

Todo o jornal era escrito e editado lá, mas com a ajuda de Edilson Varela que era, na ocasião, diretor de “A REPÚBLICA”, o jornal oficial do governo, lá eles imprimiam seu jornal para ser distribuído na cidade.

O nome era “O DIÁRIO”, permaneceram na mesma sala até o ano de 1941, quando o jornal adquiriu mais notoriedade e foi vendido a Ruy Moreira Paiva, por cinco mil cruzeiros e mais tarde ao Grupo Chateaubriand, quando passou a ser chamado de “O Diário de Natal”.

Foram encontrados registros da permanência da Loja Paulista até a década de 60. No ano de 1967 já existem registros da loja DISMACOL, que vendia material de construção.

Já no ano de 1972, existem registros de dívidas da loja com o estado e no ano de 1980, de um leilão de materiais de construção com o endereço do prédio.

Nesse período não foram encontrados registros sobre o pavimento superior, podendo ter sido locado à loja DISMACOL ou ter sido destinado a outros usos desconhecidos.

Teria acontecido um incêndio no prédio e destruído boa parte de sua estrutura.

De fato, durante o levantamento, foram encontradas algumas das madeiras ainda existentes na edificação, de aparência retorcida e escurecida, muito parecido com madeiras queimadas.

Esse incêndio, segundo relato do Sr. Lula Belmont (funcionário do Café Teatro, em entrevista no dia 20.08.2020), que trabalhou com o Sr. Arruda Sales e inaugurou no prédio o FRENEZZI CAFÉ TEATRO, que teria sido o primeiro espaço para eventos voltado ao público LGBT na cidade, que teria ocorrido alguns anos depois do café ter fechado.

Muito provavelmente, a reforma para adequação da edificação ao Café Teatro, foi um dos motivos que mais ocasionou alterações na edificação, tendo boa parte do seu piso original modificado entre várias outras descaracterizações, no tocante à integridade da edificação, prejudicando sua preservação.

O empreendimento fez bastante sucesso, mas teve vida curta. Segundo Costa “O Empreendimento, porém, não durou muito tempo.

Fechou em 1983, devido a problemas de infra-estrutura e também, é claro, devido à falta de incrementos por parte dos órgãos públicos ligados a questões do Patrimônio Histórico e Cultural”. (1998, p. 140)

Nesse mesmo período foi identificado na entrevista com o Sr. Lula Belmont (funcionário do Café Teatro, em entrevista no dia 20.08.2020), que no pavimento superior funcionou uma espécie de motel, que era administrado pelo Sr. Francisco e que até o ano de 2020, possuía estabelecimento de uso similar no prédio ao lado.

Infelizmente o Sr. Francisco morreu duas semanas antes da descoberta dessa informação, em decorrência da COVID-19, o que impossibilitou uma entrevista com mesmo e com ele se foi mais um pouco da história da Ribeira.

Segundo Júlio Cesar de Andrade, o último registro de funcionamento do prédio registrado no seu livro ao ano de 1989, foi da firma especializada em serviço Consul, Laete Gaspar Costa. (ANDRADE, 1989. p. 86) Ilanna Paula Revorêdo

Pesquisa: Ilanna Paula Revorêdo

Rua Dr.Barata.
Fachada da Samaritana décadade 60.
A Samaritana em 2020 na Rua Doutor Barata
Rua Dr. Barata 1: José Clewton do Nascimento.

O empresário Roberto Serquiz instalou hoje, com a empresa de engenharia contratada, o canteiro de obras para iniciar a reconstrução e restauração do histórico prédio da antiga A Samaritana, no bairro da Ribeira. Após a conclusão da obra o prédio será transformado em local de exposições, cafeteria e ponto de encontro dos natalenses.

A obra mostra, na prática, é uma iniciativa moderna e comprometida com o renascimento da Ribeira e com a preservação do patrimônio histórico de Natal. A restauração do secular prédio de A Samaritana é uma parceria com o espólio da família Serquiz, (do qual Roberto é o inventariante), e Unimed, através da Lei Djalma Maranhão.

 A primeira etapa será de recuperação da estrutura e restauração das fachadas. Em seguida a cobertura parcial do prédio. O projeto estabelece condições para instalar um café e espaços livres para visitação. A obra será concluída em 2023.

Roberto Serquiz com os operários e engenheiros, na manhã desta quinta feira, lançando o canteiro de obras de A Samaritana.
A ideia inicial para a fachada era manter a pátina do tempo presente na edificação, porém devido a fatores culturais, manter a fachada em ruínas sem um fator de novidade, não seria bem visto. Por isso está sendo proposto o uso da cor branca predominando em quase toda a fachada e apenas uma parte dela irá manter a pátina do tempo.

ASSOCIAÇÕES COMERCIAIS

O comerciante ainda fazia parte de duas associações comerciais. Manoel era membro da Associação Comercial do Rio Grande do Norte criada pelos empresários locais em 1882 visando à defesa de interesses comuns e divulgando a mensagem da Defesa da Livre Iniciativa. Na sua fundação, a associação foi instalada em prédio situado na Praça Marechal Deodoro, tendo como primeiro Presidente Fabrício Gomes Pedroza. Em 1927 a associação mudou-se para Rua Dr. Barata e desde 1944 a Associação Comercial do Rio Grande do Norte, está localizada na Av. Duque de Caxias, antiga Rua Sachet, no local denominado antes de Palácio do Comércio, hoje, Casa do Empresário (ACRN, 01/07/2012).

A Junta Comercial do Estado do Rio Grande do Norte foi criada pela lei 132 de 13 de setembro de 1899. A antiga sede situava-se à Rua do Comércio (atual Rua Chile), foi transferida para a Rua Dr. Barata e, atualmente, ocupa o local construído pelo Governo do Estado para a Recebedoria de Rendas, na gestão do governador Juvenal Lamartine de Faria e inaugurado a 31 de março de 1930.

O prédio faz parte de um conjunto arquitetônico de relevante valor histórico, conjuntamente com o teatro Alberto Maranhão, o Colégio Salesiano, Praça Augusto Severo, antigo Grupo Escolar Augusto Severo, a antiga Escola Doméstica e o antigo Terminal Rodoviário Pte. Kennedy (atual Museu de Cultura Popular Prefeito Djalma Maranhão).

Nesi (1994) faz a seguinte descrição deste monumento: o edifício apresenta partido de planta retangular, desenvolvido em dois pavimentos, com amplas dependências. A cobertura apóia-se em colunas revestidas de marmorite, com capitéis caprichosamente trabalhados. As divisões internas são feitas de madeira e vidro, havia duas escadas de ferro. Preservou-se apenas uma. Desde 27 de setembro de 1973, nele passou a funcionar a Junta Comercial. Em 1992 foi Tombado como Patrimônio Histórico Estadual.

Prédio da Junta Comercial. Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.

ANTIGO CASARÃO DE OUTRO DR. BARATA (ATUAL MEMORIAL DA JUSTIÇA)

Restaurado em 2008/2009, nesta construção foi instalado o Memorial da Justiça Potiguar. Casa de memória, esta edificação pertenceu ao Dr. Affonso Moreira de Loyola Barata. Dr. Barata, formou-se na faculdade de medicina da Bahia, após ter cursado as séries iniciais em Natal e em Recife. Além das atividades médicas, exerceu funções públicas, como por exemplo, Deputado Federal no período de 1915 – 1917 (Maia, 2003).

Na Mensagem do Governador Alberto Maranhão195, de 1910, elogiou-se a iniciativa do médico Affonso Barata, Inspetor de Saúde do Porto, quando, “sem remuneração e accedendo espontaneamente”, auxiliava ao médico Januário Cicco em algumas operações cirúrgicas (RIO GRANDE DO NORTE. Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo na abertura da primeira sessão da sétima Legislatura em 1º de Novembro de 1910 pelo Governador Alberto Maranhão. p.11.).

Em 1888, segundo a Inspetoria Geral de Higiene Pública, havia apenas 15 médicos para toda a província do Rio Grande do Norte! Quando o HCJB é inaugurado, em 1909, apenas dois médicos diplomados saltam da documentação disponível: Januário Cicco, médico-cirurgião, e Calixtrato Carrilho, Diretor da Inspetoria de Higiene Pública, sediada então no próprio hospital. Para auxiliar Januário, um prático, José Lucas do Nascimento, e, em 1915, o Doutor Otávio Varella. Em 1910, a Mensagem (RIO GRANDE DO NORTE…, 1910, p.11.) do governador Alberto Maranhão ao Congressso Legislativo menciona Afonso Barata, Inspetor do Porto, auxiliando Januário Cicco em pequenas cirurgias. O corpo “médico” do HCJB, pelo menos até a década de 1920, será composto pelas Freiras de Santana. No mais, nenhuma notícia de médicos diplomados…

A nossa primeira agremiação médica do Estado fora a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio Grande do Norte (SMC/RN), fundada em 1931, data posterior ao período que estudamos aqui (1909-1927). Nessa sociedade médica, o número dos esculápios presentes já era significativo da existência de uma classe de profissionais da medicina:

A sessão inaugural foi presidida pelo médico Ernesto Fonseca e contou com a presença dos médicos Nélio Tavares, Luiz Antonio, José Tavares, Otávio Varela, Baia Monteiro, Aderbal de Figueiredo, Manuel Vitorino, Aníbal Azevedo, Paulo de Abreu, Oscar Gordilho, Januário Cicco, Abdon Farkatt e José Neves […]. (ARAÚJO, I. Januário Cicco: um homem além de seu tempo, p. 18-20).

o trabalho do receituário dispensado na Farmácia Torres 421, uma das quatro farmácias situadas na capital ao longo das três primeiras décadas do século XX422. Nela, outros integrantes do hospital aparecem receitando. Na propaganda, o Inspetor Geral de Hygiene e Assistência Públicas, Dr.Calistrato Carrilho, aparece dando consultas no “consultório da pharmacia” das 16h às 17h. O Dr. Afonso Barata era Inspetor de Saúde do Porto, e já comparecera mais de uma vez ao HCJB socorrendo Januário em operação cirúrgica. O doutor Januário Cicco, por sua vez, dava rápido expediente, das 15h às 17h, uma hora apenas, certamente para harmonizar suas consultas do receituário com a atividade clínica e o movimento do hospital.

Segundo Pinto (2003, p.82), em “Natal que eu vi”, o Dr. Barata construiu este casarão em 1911. Com o seu falecimento, em 1934 aos 73 anos, o imóvel passou para seus herdeiros, tendo sido habitado por sua filha dona Alice Barata China. Lugar de memória da capital potiguar, o antigo casarão de Dr. Barata, continua edificado como testemunha de um tempo passado.

Antiga Casa de Dr. Barata Atual Memorial da Justiça (Sobrevôo do Graff Zeppelim). Foto: João Galvão. Fonte: Natal Ontem e Hoje.

“O Zeppelim flutuava, de faróis acesos, diante do Forte dos Reis Magos. Lançou de pára na praia da Limpa, a mala-postal. Uma coroa de flores na estátua de Augusto Severo, aeronauta, norte-riograndense, morto no desastre do seu dirigível, 1902. Natalenses nas ruas, apreciavam o espetáculo, deslumbrados. Conheciam o Graf Zeppelim e o Hindemburg, da viagem anterior”. (Raul Fernandes).

Antiga Casa de Dr. Barata. Foto: Acervo SEMURB.
Antigo Casarão de Dr. Barata. Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.
Foto aérea da Antiga Casa de Dr. Barata.

BONDE

Na tentativa de se estabelecer uma ou várias linhas de bondes, em Natal e subúrbios, apareceu o decreto de 06 de novembro de 1890, concedendo um privilégio por trinta anos a Ângelo Rosseli, mas, nada foi feito. Só após dezoito anos, ou seja, em 29 de março de 1908, no govemo de Alberto Maranhão, instalou-se a Companhia Ferro Carril do Natal S.A., sediada na rua Dr. Barata esquina com a travessa Aureliano de Medeiros. Os bondes eram puxados a burro e foram comprados no Belém do Pará. Cada burro custou 250$. A lotação dos bondes era de 24 passageiros pagando cada um, cem réis.

A chegada da Companhia Ferro Carril em 1908, responsável pela criação de linhas de bondes foi motivo de grande alegria para a cidade. Inicialmente, a primeira linha de bonde partia da rua Doutor Barata, no bairro Ribeira, e seguia até a praça André de Albuquerque, na Cidade Alta, interligando os dois bairros mais antigos da cidade (FERRO Carril do Natal. A República, 17 de junho de 1908.).

A integração da estação com o transporte intra-urbano dos bondes se concretiza em 1908, pela inauguração da primeira linha, ainda de tração animal, instalada pela Companhia Ferro Carril.

Os bondes à tração animal iniciaram seu movimento em setembro de 1908. A primeira linha veio para unir os dois bairros da cidade, percorrendo o trecho da Rua Doutor Barata, na Ribeira, à Praça João Maria, na Cidade Alta. Os animais passaram poucos anos servindo de tração aos bondes em Natal: dois anos após a inauguração dos carris urbanos, publicou-se em Mensagem de governo a intenção de promover a substituição da linha existente por outra movida à eletricidade e que servisse a todos os bairros; do mesmo modo a substituição da iluminação a acetileno por iluminação elétrica, sob a alegação de que aumentaria a intensidade da luz. Tais propósitos foram destacados no item do relatório intitulado “Obras publicas na capital: melhorando a qualidade de vida da população” (Mensagens de governo. 1910, p. 17.)

Posteriormente a linha foi prolongada, cruzando a avenida Rio Branco e tangenciando a praça Pio X. Até outubro de 1908 a linha inicial expandiu-se, seguindo pela rua Jundiaí até a avenida Oitava (MEDEIROS, Gabriel Leopoldino Paulo de. A Cidade Interligada. Op. cit., p.118-121.), nas proximidades do sítio Solidão, propriedade dos herdeiros da principal liderança dos Albuquerque Maranhão. Conforme anunciou Medeiros, certamente o desenho das linhas de transporte urbano tinha o objetivo de ligar os lotes aforados pelos sujeitos de destaque na política local aos bairros centrais da cidade.

Cascudo relata que mesmo as pessoas do interior vinham à cidade apenas para dar um passeio de bonde. Até para os meninos, o bonde havia virado um passatempo divertido, pedindo parada apenas para passar por dentro do bonde e sair do outro lado (CASCUDO, Luís Câmara. op. cit., p. 1980, p. 291.).

O recorte do bairro da Ribeira refere-se ao desenho original do largo público deste bairro, limitando-se ao norte com a Rua Sachet; ao sul com a Rua Henrique Castriciano; ao leste com a Rua do Teatro; e ao oeste com a Rua Doutor Barata.
A integração da estação com o transporte intra-urbano dos bondes se concretiza em 1908, pela inauguração da primeira linha, ainda de tração animal, instalada pela Companhia Ferro Carril. Essa primeira linha partia da Rua Doutor Barata, na Ribeira e ia dar à Praça João Maria, na Cidade Alta, passando pela Praça Augusto Severo. Três anos depois, em 1911, os bondes de tração animal são substituídos pelos elétricos.

REDAÇÕES E TIPOGRAFIAS

Durante a sua constituição e os quase 50 anos de existência, o Jornal A República teve sua sede em diversos pontos entre os bairros da Cidade Alta e Ribeira: sua primeira redação na Rua Visconde do Uruguai, nº 6 – depois passaria a se chamar Rua Doutor Barata – já que sua impressão acontecia na Rua da Conceição, nº 2, tipografia de João Carlos Wanderley que vende ao partido Republicano passando a ser sede e redação no mesmo endereço. Já ao fim de 1889 muda-se para Rua 13 de Maio, nº 51 – rua que depois passa a se chamar Frei Miguelinho, até ocupar o prédio na Av. Tavares de Lira.

Em 20 de março de 1931, mudou-se para o endereço definitivo, o prédio da Av. Junqueira Aires, 355, prédio que foi construído em 1895 por Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão, em 1907 com o falecimento de Pedro Velho – fundador do jornal – o prédio foi vendido ao estado, passando a sediar o jornal. Essa mudança de espaço permitiu uma ampliação técnica da sua produção, onde passou a publicar fotografias com mais regularidade. A epígrafe no cabeçalho sempre difundiu as mudanças de discurso no jornal, de 1933 a 1944 se escrevia “Órgão Oficial do Estado”, reprimindo a palavra “poderes” de anteriormente, se especula uma forma de definir frente aos acontecimentos nacionais explicitados ao longo da pesquisa com o controle da imprensa pelo Estado.

Com sede em Natal, o Grêmio Polymathico foi fundado em meados de outubro de 1897, por jovens letrados da capital: Alberto Maranhão, Antônio José de Mello e Souza, Manoel Dantas, Pedro Avelino e Thomaz Gomes” (A República, 30 de novembro de 1897). No dia 28 de novembro de 1897, os fundadores do grêmio, juntamente com outros escritores potiguares, reuniram-se na casa n°5 da rua Dr. Barata, bairro da Ribeira, e elegeram a seguinte diretoria: Antônio José de Mello e Souza, presidente, Pedro Avelino, secretário, Alberto Maranhão, tesoureiro. Na mesma reunião, ficou resolvido que a associação publicaria uma revista mensal, denominada Revista do Rio Grande do Norte (RRN), sob a direção de Antônio de Souza e redigida por Alberto Maranhão, Manoel Dantas, Thomaz Gomes e Pedro Avelino (COSTA, 2017, p.145). A RRN foi publicada durante dois anos, de 1898 a 1900, sendo impressa pela tipografia do jornal “A República”, local em que a referida associação marcava suas reuniões.

A Revista do Rio Grande do Norte era a própria fonte de divulgação para os membros do grêmio literário Polymathico. A revista de estudos editada pelo grêmio aglutinou contribuições “sérias, equilibrada, colaborada pelos corifeus políticos e intelectuais” (CASCUDO, Luís da Câmara. Op. Cit. p. 378.). O periódico era impresso na tipografia do jornal oficial do estado, A República, e manteve sua redação instalada na Rua Dr. Barata, número 05, bairro da Ribeira. Era na redação da revista que ocorriam as reuniões do grêmio literário, como podemos observar na seguinte convocação: “De acordo com o presidente do Grêmio Polymathico convido os respectivos sócios para uma reunião hoje às 7 horas da noite, na casa à rua Dr. Barata, n.5. O secretário, Pedro Avelino”214. Por meio de a Revista do Rio Grande do Norte era difundido os mais variados assuntos. A própria revista apontava a diversidade de seus assuntos: “Revista do Rio Grande do Norte – litteratura, critica, historia, direito, etc. Chronicas scientificas, industriaes e agrícolas. Bibliographia de obras recebidas” (REVISTA DO RIO GRANDE DO NORTE. Natal, Nov. a dez. 1899.).

No número publicado em 17 de fevereiro de 1898, o jornal A Republica anunciava entusiasmadamente a circulação da Revista do Rio Grande do Norte, periódico publicado pelo Grêmio Polymathico. A revista era impressa na rua Dr. Barata, número 5, isto é, no mesmo endereço da tipografia de A Republica. Em suma, a Revista do Rio Grande do Norte era de fato a filha, a porta-voz do jornal oficial do grupo dirigente estadual no campo literário potiguar, tanto por reunir as produções culturais dos “filhos” do regime republicano, quanto por ser originada no interior das oficinas tipográficas do periódico oficial.

Se os redatores do jornal A Republica ganhavam vultosas quantias, o mesmo não podemos afirmar dos auxiliares de redação. Em versos, Silvino Bezerra narrava a condição dos auxiliares da redação do periódico oficial:

É uma lembrança grata
Sob árvore secular,
Vários iam se assentar,
Sem palitó, de gravata,
Na rua Doutor Barata,
Frente ao Armazém Potiguar.
Vendia Moura, num bar,
Café, coalhada e nata
Redatores e gerente –
Manuel Dantas, Zé Pinto,
Eu e Montano na frente
Félix, Viveiros, mais gente…
Isto lembrando, não minto,
A gente saudades sente (…)
Os sinais me ensinou
Da revisão doutor Dantas
E nela me colocou.
(Como esquecer tantas?!)
E no jornal me enfronhou.

O tipógrafo Augusto César Leite (1863-1921) quando saiu da oficina do jornal A Republica, juntamente com Pedro Avelino, criou o jornal Gazeta do Comércio (1901)658. Durante a década de 1910, Augusto Leite ainda chegou a estabelecer na cidade a sua própria tipografia localizada na Travessa Nísia Floresta, número 3. Posteriormente, mudou para a Rua Doutor Barata, número 27, no bairro da Ribeira, onde foi responsável pela impressão de alguns jornais da cidade.

Não sabemos por qual motivo Pedro Avelino e Augusto Leite romperam com o jornal A Republica. O que temos conhecimento acerca é que o jornal Gazeta do Comércio contou a participação de Pedro Avelino, Augusto Leite e Pedro Alexandrino na composição da redação do jornal. O jornal estabeleceu uma tipografia na Travessa da Rua Frei Miguelinho. O Gazeta foi o primeiro jornal a ser publicado no século XX em Natal. Consultar: FERNANDES, Luiz. Op. Cit., p. 36.

Além deste, o segundo jornal mais antigo que circulava na cidade era o jornal A Ordem. Este possuía uma tipografia própria, cuja sede ficava situada à Rua Dr. Barata, no Bairro da Ribeira, onde funcionavam sua redação e oficina. O conteúdo de suas páginas era voltado para as discussões internas, teológicas e política, da Igreja Católica. Segundo a Arquidiocese de Natal, A Ordem tornou-se uma trincheira de onde, naquele momento, os ideais católicos precisavam ser defendidos. O conteúdo dava a impressão de que a Igreja Católica estava diante de uma série de inimigos ideológicos, sociais e morais e seu posicionamento aguerrido refletia as circunstâncias transformadoras que a Igreja local vivia naquele momento, em que sua renovação parecia necessitar posicionar-se para se afirmar frente

…] ao protestantismo, ao espiritismo, à maçonaria, ao comunismo etc. Tom moralizante também é percebido com investidas contra o carnaval, bailes, neopaganismo, má imprensa, jogatina, enfim, contra todos os inimigos da ordem moral (FERRARI, Alceu. Igreja e desenvolvimento: o movimento de Natal. Mimeo, s/d., p.47).

Sede do A República na Av. Tavares de Lira por Manoel Dantas.Fonte: MIRANDA (1981, p. 32).

COSMOPOLITA

Ainda nos últimos anos do século XIX, os ambientes de sociabilidade intelectual não ficaram restritos ao salão de dona Isabel Gondim e aos cantões da cidade. Em 1891, um paraibano, que se mudou para o Rio Grande do Norte ainda jovem, tornou-se o primeiro livreiro em Natal. Fortunato Rufino Aranha instalou, no ano de 1891, a primeira livraria da cidade localizada na Travessa Quintino Bocaiúva – antiga rua 13 de Maio e atual rua Dr. Barata no bairro da Ribeira. Luís da Câmara Cascudo, em uma crônica intitulada O Velho Fortunato, publicada no jornal A República, de 27 de julho de 1949, escreve sobre o velho Fortunato Rufino Aranha, o primeiro livreiro da cidade do Natal. Ver: CASCUDO, Luís da Câmara. O Velho Fortunato. A Republica. Natal 27 jul. 1949.

A Cosmopolita, nome da livraria, tornou-se ponto de encontros de literatos potiguares da época que se reuniram sob o abrigo do estabelecimento, ao lado de políticos, boêmios e comerciantes. A Cosmopolita é descrita como “o quartel general por onde todo o Natal que comprara ou espiava livros ia desfilar quase diariamente” (Idem.).

Fortunato Aranha era “personagem que imprimia respeito absoluto e uma confiança sem limites” (GUIMARÃES, João Amorim. Op. Cit. p. 84.). O major tornou-se figura popular na capital potiguar na função de comerciante. Sua popularidade no comércio contribuiu para ocupar o cargo de intendente da cidade. Fortunato exerceu o cargo na Intendência Municipal entre as gestões de 1899-1910, 1917-1922 e, finalmente, 1926-1930 – ocupando, nesta gestão, o cargo de vice-prefeito. Após cumprir a função de intendente, Fortunato Rufino Aranha sempre voltava à companhia de seus livros no estabelecimento na rua Dr. Barata, onde a fachada ostentava o letreiro “artefactos para escriptório”.

Fortunato Aranha, livreiro, proprietário da “Livraria Cosmopolita”, localizava-se à rua Dr. Barata, segundo o pesquisador Deífilo Gurgel: a Cosmopolita não era, no entanto, apenas uma livraria. A simpatia e o espírito cordial do seu proprietário, conseguia resumir, diariamente, na calçada do estabelecimento, uma roda de amigos que compreendia intelectuais, magistrados, boêmios, empresários.

Desse modo, a livraria da rua Dr. Barata atuou como espaço que propiciou a existência de trocas agregando, socialmente, os literatos da cidade potiguar. Entre seus frequentadores assíduos, podemos identificar: o professor e (ex) procurador geral do Estado Nestor dos Santos Lima, o poeta Otoniel Meneses, o poeta Damasceno Bezerra e o ex-vice governador – na gestão de Alberto Maranhão (1900-1904) João Dionísio Filgueira (CARDOSO, Rejane (Org.). Op. Cit. p. 264.). O que podemos perceber é um entrelaçamento que não era exclusivo de literatos, mas que, como já mencionado, envolviam outros indivíduos, tais como os políticos da cidade. Os impulsos que levavam literatos e outros homens da cidade a frequentarem a livraria Cosmopolita deveriam ser múltiplos: tertúlia literária, bate-papo cotidiano, aquisição de algum livro ou revista, adesão de assinatura de algum periódico, comercialização de algum artigo de papelaria, entre outros. No entanto, todos os impulsos convergem para uma única consequência: a da interação.

Rua doutor barata tendi a esquerda a livraria cosmopolitana local de grande agitação intelectual.de Natal (Bairro Ribeira). Foto: CD Rom Natal 400 Anos
Foi uma das principais ruas de Natal, principalmente durante a Segunda Guerra Mundial, período em que vivenciou intensa
movimentação comercial. Na década de 1940, funcionou a Livraria Cosmopolita, local de encontro da intelectualidade da época.

BANCO DO NATAL

Em frente ao antigo “Wander Bar” funcionou o Banco de Natal (futuro BANDERN), quando o mesmo saiu do prédio da Dr. Barata, permanecendo na rua Chile até a construção do novo prédio, na esquina das avenidas Tavares de Lira e Duque de Caxias. No local, funcionou o Hotel Internacional, que pertenceu a Milcíades Bandeira, José de Carvalho, Theodorico Bezerra e Guilherme Lettieri. Era um hotel bastante frequentado, que mantinha um bar de intenso movimento, com afluência de industriais, comerciantes, políticos, fazendeiros etc.

Inaugurado em 1939, o prédio da antiga sede do Banco do Estado do Rio Grande do Norte -BANDERN, está situado na esquina da Avenida Duque de Caxias com a Avenida Tavares de Lyra, no bairro Ribeira.

O projeto de construção é do engenheiro Gentil Ferreira, na época, prefeito de Natal. A planta tem forma retangular, com três pavimentos e amplas dependências. Uma marquise separa o segundo pavimento do terceiro, apoiada em colunas com capitéis. Na avaliação de Nesi (1994) este prédio, de grande valor arquitetônico e expressiva importância histórica foi, na época de sua construção, uma das mais belas edificações de Natal.

O BANDERN teve suas origens vinculadas ao Banco do Natal. Iniciativa pioneira no Estado, fundado no ano de 1906, no governo de Tavares de Lyra, cuja sede era na Rua Dr. Barata, nº 4, no próprio bairro Ribeira (NESI, 1994).

No prédio do antigo BANDERN funciona, atualmente, o Palácio da Cidadania. Edificação que abriga o PROCON, órgão de defesa do consumidor.

Os bancos do estado do Rio Grande do Norte estabeleceram suas sedes no bairro da Ribeira na década de 50. A Cooperativa Central de Crédito Norte Riograndense Ltda situava-se na Rua Doutor Barata, nº. 208. Órgãos como o DNOCS (Departamento Nacional de Obras contra a Seca) que tinha como Diretores o Senhor Geraldo Orles e Senhor Armando Ribeiro; o prédio da Força e Luz (Companhia de Energia,); a Ordem dos Advogados, a Bolsa de Valores do estado (que se localizava na Rua Dr. Barata).

Como comprovação desse aspecto do bairro, podia-se identificar no único e pequeno beco da rua Dr. Barata a existência de duas lanchonetes, uma alfaiataria e seis oficinas de relógios. Eram proprietários das relojoarias: Chico Alencar, Nozinho, Nezinho, João Viturino, Parnaíba e seu Pedro.

Cartão-postal da Rua Doutor Barata, sentido Pça. Augusto Severo, à direita a antiga agência do Banco do Natal, que por volta dos anos 1920 abrigou à livraria Cosmopolita. Era o local do comércio elitista da cidade, do Hotel Internacional e da Loja Rainha da Moda. Fonte: Miranda, 1981 (8)Rua Dr. Barata (início do século XX) fonte: CD – Natal 400 anos (data e autor não identificados).
O BANDERN teve suas origens vinculadas ao Banco do Natal. Iniciativa pioneira no Estado, fundado no ano de 1906, no governo de Tavares de Lyra, cuja sede era na Rua Dr. Barata, nº 4, no próprio bairro Ribeira (NESI, 1994). Antiga Sede do BANDERN (atual PROCON). Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.

INSALUBRIDADE

O problema do matadouro público aliado às práticas arcaicas de manuseio da carne foi durante aqueles primeiros anos do século XX uma preocupação constante, sem, no entanto obter uma resposta satisfatória por parte do poder público, que preocupado muito mais com as questões do desenvolvimento econômico e com o desenvolvimento material, não efetivou uma política pública no sentido de evitar um espetáculo atentatório à saúde pública, como dizia Januário Cicco, mas também atentatório ao estado de civilidade tão enaltecido pela elite burguesa natalense àquela época.

O jornal “A República”, de 01 de abril de 1902, trazia um artigo cujo título era “transporte de carnes verdes”, nele o jornal denuncia que muitos comerciantes da Rua Doutor Barata, no bairro da Ribeira, uma das mais importantes ruas comerciais da cidade, estavam reclamando do “systema de se transportar para o mercado a carne das rezes abatidas na Ribeira, passando por aquella rua, em costas de burro, escorrendo sangue sem o menor amparo” (Transporte de carne verde. A República 01 de abril de 1902.) e continuam, segundo o articulista, a reclamar os comerciantes, afirmando que “além do espectaculo repugnante que isto causa aos moradores daquella rua, uma das de maior movimento desta cidade, accresce que os pingos de sangue sujam as calçadas e os produtos expostos nos mostradores da loja” (Idem). Por fim, o articulista do jornal sentencia: “o fiscal deve intervir, ou para prohibir a passagem da carne verde pelas ruas de grande movimento ou, o que seria melhor, para obrigar os marchantes a envolverem a carne em saccos de lona” (Idem).

Percebe-se com esse texto que o transporte da carne era realizado, até então, sem uma grande fiscalização por parte dos órgãos públicos da higiene, e também a existência de práticas arcaicas no manuseio da carne e no transporte da mesma para os pontos de comercialização. No entanto, tais atos eram alvos de crítica tanto da população quanto da imprensa.

A epidemia de varíola que assolava a cidade fez com que a Inspetoria de Higiene promovesse uma campanha de vacinação em Natal por todo o ano de 1905. Em março daquele ano, uma pequena nota daquela inspetoria declarava que o médico Antonio China estava vacinando gratuitamente a população no seu escritório na Rua Dr. Barata na Ribeira. No dia 20 de abril, o jornal “A República” escrevia que o governador

Tavares de Lyra, sempre interessado pelo bem público, acaba de providenciar no sentido de serem vaccinados, n’esta capital onde, infelizmente, começa a grassar a varíola, as pessoas que quiserem premunir-se contra essa terrivel apidemia (Vaccinação. A República, 27 de abril de 1905.).

Curiosamente essa fala procurava retratar um espírito democrático muito incomum no Brasil da época, e especialmente no provinciano estado do Rio Grande do Norte, considerado na prática como sendo um feudo da oligarquia dos Albuquerque Maranhão.

Rua Doutor Barata na arte de Pedro Grilo.

RELAÇÕES DE PODER E ESPAÇO

O italiano Angelo Roselli era nome de prestígio na sociedade. Veio para a capital norte-rio-grandense ainda moço, ocupou o cargo de intendente de Natal entre 1892 e 1895, e foi um comerciante de destaque, contribuindo de maneira decisiva para a criação da Associação Comercial do Rio Grande do Norte. Foi ainda tenente coronel da Guarda Nacional, vice-cônsul da Argentina no Rio Grande do Norte, possuía muitos prédios em Natal, alguns até mesmo alugados ao governo
estadual, sendo citado como o maior contribuinte da décima urbana no ano de 1905.

Em novembro de 1917 o nome de Roselli foi novamente citado em declarações de protesto, agora como suplicante. Roselli protestou contra a venda efetuada por Salvador Cicco e sua esposa de um prédio de sua propriedade localizado na rua Doutor Barata, no bairro Ribeira. Roselli destacou que a operação foi realizada rapidamente, em menos de 24 horas, e que iria fazer valer seus direitos (PROTESTO. A Republica, Natal, 07 nov. 1917.). O texto do protesto publicado no A Republica é breve, não fornecendo mais informações sobre as condições de venda da propriedade. Contudo, Roselli cumpriu sua promessa e procurou garantir seus direitos por meios judicias via ação de manutenção de posse contra Salvador Cicco, estabelecida em 1918 (NATAL. Juizo Distrital da Comarca de Natal. Manutenção de posse requerida por Angelo Roselli, 30 março Código 4423, Caixa D20).

Na referida ação em 30/03/1918, Roselli destacou ser proprietário de um prédio localizado na rua Doutor Barata, na Ribeira, no qual “se acha presentemente funcionando o jornal ‘A Imprensa” (Idem.), arrendado a Francisco Cascudo desde 1915 por 100.000 réis mensais, conforme consta na documentação anexa ao processo. Originalmente neste terreno existia uma “casa de telha e taipa arruinada” (Idem.), em lote concedido em enfiteuse a Anna Maria Pipolo Roselli, que não tinha condições de melhorar a referida edificação que “ameaçava a vida pública e se achava fora do alinhamento” (Idem.), mesmo diante da exigência da municipalidade. Angelo Roselli foi então procurado por Graciano Mello, negociante da capital, que se dispôs a arrendar o lote. Por esse contrato assinado em 1912, Angelo se comprometia a erguer um prédio comercial em um prazo de cinco meses. De acordo com o suplicante, quando do estabelecimento do contrato, Anna já estava casada com Salvador Cicco, que não fez protesto em relação ao contrato “por saber, naturalmente, que nenhum direito podia ter sobre o bem em questão” (Idem.). Angelo ressaltou que gastou 9 contos de réis (9:000.000) com a edificação e que todas as coletas de impostos referentes ao prédio em questão, como décimas urbanas e taxas sanitárias, foram realizadas em seu nome.

Outro exemplo que chama atenção é o do major Antonio de Carvalho, que atuou como intendente em 5 mandatos (Apareceu acompanhado do título de major em nota do A Republica, ver: ANNIVERSARIOS. A Republica, Natal, 24 jul. 1903.) também foi mencionado em apenas uma carta referente a um terreno que adquiriu em 1907, antes de ocupar o cargo de intendente (Essa transação foi mencionada no A Republica em fevereiro de 1908. Ver: TRANSMISSÃO de immoveis. A Republica, Natal, 07 fev. 1908. Transação registrada na carta 133 CA: NATAL. Prefeitura Municipal do Natal. Carta de aforamento n.133 CA, de 17 de janeiro de 1907. Natal: s.d.). Contudo, o patrimônio de Silva não ficou restrito apenas a esse lote. Várias notas do A Republica citam o joalheiro, dono da loja Pendulo Americana (A loja de Silva vendia, além de relógios, “tetéas e chaletenes, pulseiras e broches e anneis”, ver: A REPUBLICA, Natal, 21 fev. 1906.), enquanto proprietário de prédios na rua Felipe Camarão, na Cidade Alta (Em 1915 a Empresa Tração, Força e Luz Elétrica de Natal informou que Silva deveria pagar 1.500 réis por cada um dos seus seis prédios na rua Felipe Camarão. Como em 1908 Silva adquiriu o domínio útil de dois prédios de Filgueira, significa que ele construiu mais 4 prédios no mesmo bairro. Ver: EMPREZA Tracção, Força e Luz Electrica de Natal – Taxa do Lixo. A Republica, Natal, 03 dez. 1915.) e também na Ribeira (Em 1915 a Empresa Tração, Força e Luz Elétrica de Natal solicitou que Silva pagasse os 3.000 réis que devia de imposto de lixo pelo seu prédio situado a rua Dr. Barata e mais 3.000 réis por dois prédios que possuía na Travessa Paraguay, ver: EMPREZA Tracção, Força e Luz Electrica de Natal – Taxa do Lixo. A Republica, Natal, 24 nov. 1915.).

O discurso de falta de habitações e da necessidade de adequar as edificações natalenses aos padrões de salubridade e modernidade, respeitando os ideais de regularidade simétrica, espaçamento entre os prédios, entre outras prerrogativas, era utilizado para fomentar a legalização de privilégios. Assim, a Resolução n.128, publicada em março de 1909, determinava que as construções e reconstruções de prédios em determinadas avenidas da Ribeira e da Cidade Alta que seguissem os padrões estipulados gozariam de redução de 50% de todos os impostos municipais a que estivessem sujeitos por um prazo de 20 anos. O trecho era formado pelas avenidas Rio Branco, Tavares de Lyra e Sachet, pela praça Augusto Severo, praça André de Albuquerque e praça Padre João Maria, e pelas ruas Frei Miguelinho, Doutor Barata, Rua do Commercio, rua Chile, rua São Tomé, rua Vigário Bartolomeu, rua 21 de Março, rua Coronel Pedro Soares, rua Conceição, rua Junqueira Ayres e rua Ulisses Caldas, artérias importantes da cidade. Ver: A REPUBLICA, 17 mar. 1909.

Para gozar do benefício, as propriedades precisavam de passeios construídos de cantaria de alvenaria, tijolos fortes e rejuntados de cimento ou feitos de concreto. Esses passeios deveriam possuir relação constante com o leito da rua, formando uma superfície contínua, possuindo 1,80 m de largura máxima, e 25 cm de altura máxima. Pequenas rampas, degraus ou ressaltos seriam proibidos. Os prédios precisavam possuir canos de escoamento de água dos telhados. O escoamento deveria ser realizado por meio de calhas horizontais ao longo do telhado e canos que passassem por baixo dos passeios e desaguassem nas sarjetas do calçamento. Na ausência de esgoto geral e de águas servidas, os proprietários deveriam construir em seus quintais depósitos ou fossas em condições higiênicas que não prejudicassem a vizinhança ou a saúde pública. A composição das fachadas seria livre, mas deveria ter seu projeto apresentado e aprovado por profissional. Ver: A REPUBLICA, Natal, 17 mar. 1909.

As novas edificações da capital deveriam atender determinados padrões considerados pelos administradores como modernos. Já em janeiro de 1925, o governo municipal autorizou a criação de uma seção de obras públicas, posteriormente transformada na Diretoria de Obras, e proibiu a construção e reconstrução de prédios com menos de dois pavimentos em importantes artérias da Ribeira (Rua Doutor Barata, Rua do Comércio, praça Augusto Severo, praça Leão XIII, avenida Tavares de Lyra e Sachet, ver: A REPUBLICA, Natal, 15 jan. 1925.).

A Lei n.4, criada pela prefeitura na gestão de O’Grady em setembro de 1929, provavelmente buscava atender a esse anseio de regularização. O prefeito também estava autorizado a isentar do imposto predial por um período de cinco anos o sujeito que se dispusesse a edificar o primeiro prédio de mais de um pavimento após a vigência dessa Lei nos seguintes logradouros: avenida Tavares de Lyra, rua Silva Jardim, avenida Sachet, praça Leão XIII, rua Dr. Barata, avenida Junqueira Ayres, praça Augusto Severo e Rua do Comércio.

Nesse processo, o governo O’Grady implementa já havia algumas medidas como: a organização de uma seção de Obras Públicas, a regulamentação de diversos departamentos da Municipalidade para a conveniência dos serviços e a cobrança de taxa de três mil réis aos proprietários para emplacamento e numeração dos edifícios da zona urbana. Outras definições também foram assentidas pelo Conselho Municipal:

Ainda por deliberação do Conselho ficaram proibidas a construcção e reconstrucção de prédios de menos de dois pavimentos nas ruas Dr. Barata e do Commercio, Praças Augusto Severo e Leão XIII e Avenidas Tavares de Lyra e Sachet. ((A REPUBLICA, 1925, p. 01).).

Casa de do intendente de Natal, Romualdo Galvão, na Rua Doutor Barata, antiga Corrêa Telles.
Rua DR. Barata, Ribeira.
Rua Doutor Barata, Ribeira, 1943.
1943, Rua Doutor Barata, Ribeira

PAVIMENTAÇÃO

A respeito do calçamento observa CASCUDO, que “em 1867, não havia uma só rua com calçamento”. Embora o calçamento só tenha iniciado na segunda metade do século XIX, as ruas do Comércio, (atual Rua Chile) e a Dr. Barata, em fins deste mesmo século, ainda não estava pavimentadas.

A citação acima foi publicada após serem feitas melhorias na pavimentação da cidade, efetuadas no decurso da administração do então prefeito Omar O’Grady, que construiu 21.01619 metros quadrados de calçamento (paralelepípedos e macadame pichado). Observa-se que a antiga pavimentação nada mais é que “história de ontem”, o que torna claro o interesse em destruir a cidade atrasada e sobre ela, construir a cidade moderna. Fica evidente então que o bairro da Ribeira valorizou-se bastante após a pavimentação, quando foram resolvidos os problemas relativos às inundações após as chuvas. Essa pavimentação teve continuidade durante a administração do prefeito Gentil Ferreira de Souza, de 1930 a 1940.

No dia 03 outubro de 1925 é inaugurado o calçamento da Travessa Ulisses Caldas. Também é anunciado nesse período os calçamentos das ruas Junqueira Aires, Dr. Barata e Praça Augusto Severo, também em macadame betuminoso (A REPUBLICA, 1925g). Essas medidas comprovam a ênfase dada pela administração Omar O’Grady à pavimentação das vias, uma atitude condizente com a proliferação cada vez maior dos automóveis nas ruas de Natal – apesar de ainda restritos às classes mais abastadas –, enquanto que o bonde, embora ainda muito importante para o deslocamento da grande maioria da população, já assimilava a imagem de degradação que o passaria a acompanhar a partir de então.

A funcionalidade, as sociabilidades e as diferenças econômicas inseridas agora no contexto espacial da Cidade de Natal, nos indicam uma ruptura no modo de se construir e praticar o espaço urbano. Desde a implantação da República, as ruas e avenidas adquiriram maior importância, e passaram a ser consideradas como representantes da cidade. Observamos que no século XIX, segundo o relato de Koster feito em 1810, não havia nenhum tipo de pavimentação nas ruas, que se constituíam de “areia solta”. Durante as três primeiras décadas do século XX, aconteceu o “empedramento” das ruas da Ribeira, que era feito com pedras irregulares retiradas das praias de modo bastante rudimentar. Segundo o relato de um jornalista no ano de 1930:

Estes calçamentos além da aspereza das arestas cortantes das pedras, eram completamente desnivelados, o que permitia a formação verdadeiros lagos na Cidade, após as chuvas. O que se passava a este respeito na Ribeira, especialmente, constitui história de ontem. Não é possível que haja alguém que já tenha esquecido o que ocorria, em regra, desde a fábrica de tecidos, por toda a Praça Augusto Severo, ruas Dr. Barata, José Bonifácio, Avenida Nísia Floresta etc… Fenômeno idêntico ocorria na Avenida Junqueira Aires, a via única de acesso da parte baixa da Capital à Cidade Alta… (A República, Natal, 10 jun. 1930).

Rua Dr. Barata, uma das mais belas ruas de Natal dos anos 30

ILUMINAÇÃO PÚBLICA

Natal adormecida na companhia dos lampiões animava-se na presença cintilante da lua cheia. Vermelhos e tristes como proferiu Cascudo, os lampiões motivaram muitas reclamações. De acordo com as queixas, muitos deles se encontravam danificados e, por vezes, ocorria de não serem acesos e ficarem abandonados na escuridão.

Tais reivindicações foram transformadas em esforços, a começar pela proposta da intendência municipal da capital ao governo do Estado, à época presidido por Augusto Tavares de Lyra, para contratação de um novo sistema de iluminação pública no trecho Sobre a inauguração da Rádio Educadora de Natal, no início de 1939, o jornalista Aderbal França afirma que:

compreendido entre o Quartel do Batalhão de Segurança e a Praça André de Albuquerque. Para tanto, de acordo com os termos do contrato, assinado em 1904:

I – A Intendencia entregará ao Governo do Estado os postes, lampeões e os combustores actualmente utilisados nas ruas treze de maio, Praça da Republica, Travessa Quintino Bocayuva, Rua Dr. Barata, Praça Augusto Severo, Avenida Junqueira Ayres, Praça Municipal, rua da Conceição, Travessa do Congresso e da Matriz e Praça André de Albuquerque, em numero de quarenta e seis para serem aproveitados na nova illuminação; (…) (RELATORIO de governo, proferido na Assembléia Legislativa pelo Sr. Dr. Augusto Tavares de Lyra, 1905.).

Foi apresentado na Mensagem de Governo do mesmo ano, o contrato firmado entre o governo com a empresa de Iluminação a Gás Acetileno de Francisco Gomes e Domingos Barros, para a contratação do serviço de iluminação por gás acetileno, que viria a substituir o ineficaz uso do querosene. De acordo com o contrato, a iluminação (tanto pública quanto particular) compreenderia o trecho entre a Praça Andre de Albuquerque e o Quartel de Segurança, abrangendo a Rua Treze de Maio, Praça da República, Rua Doutor Barata, Praça Augusto Severo, Avenida Junqueira Aires, Rua da Conceição, Praça Municipal, travessa do Congresso e da matriz e a Praça Andre de Albuquerque. Os postes, de acordo com o contrato, guardariam a distância máxima de 30 metros uns dos outros e cada bico de luz teria a força de 15 velas.

vias atendidas pelo serviço de iluminação pública a acetileno nos bairros da Cidade Alta (direita) e Ribeira (esquerda), em 1905. Fonte: base cartográfica de 1924, editado pelos autores (baseado em Araújo, 2010).

A ampliação da rede de distribuição de eletricidade em Natal e o aumento do número de usuários do serviço, com intuito de atender toda a cidade, foram realizadas em 1915, com alterações do “machinismo” da empresa, organização das questões relativas ao recebimento das taxas e as providências necessárias para solicitação de instalações elétricas domiciliares. No ano seguinte a essas ações começaram a surgir nos jornais anúncios de casas comerciais fornecendo objetos elétricos.

Tudo que fosse preciso de eletricidade poderia ser encontrado, também, na “Casa Cascudo”, situada a Rua Dr. Barata, n. 32 (Revista do Centro Polymathico. Natal: Typographia “Augusto Leite”. n. 5. ago. 1921) . Indagamos como esses inúmeros equipamentos elétricos vieram incidir na rotina dos habitantes da cidade, com intuito de perceber a presença desses objetos na construção da identidade do habitante de cidade moderna.

Objetos à mostra nas vitrines do estabelecimento comercial “Pendula Natalense”, localizado à Rua Dr. Barata, n. 204. Fonte: Revista Cigarra, 1928.

Em Natal, várias empresas passaram a anunciar artigos movidos à eletricidade: na Bezerra & C. à Rua Dr. Barata n. 199, encontrava-se a venda a Machina fallante Columbia e os melhores discos; na M., & Martins e C. na Avenida Tavares de Lyra n. 102, muitos artigos elétricos, dentre os quais a máquina de costura de fabricação alemã; na Saraiva, Couto & C. vendia-se automóveis e Geladeiras Frigidaire sob o rótulo de “conforto e precisão”; na Faria e Pinheiro se anunciava a venda de lâmpadas Philips (Revista Cigarra, 1928 e 1929.).

Esse padrão de conforto apresentava-se nos anúncios de lâmpadas Edison, com intuito de convencer o público dos benefícios da boa iluminação da casa. Num desses anúncios, publicado em 1926 n’A Republica – de acordo com o qual as lâmpadas podiam ser compradas na Casa comercial A. de Paula Barbosa & C., situada a Rua Dr. Barata, ou no estabelecimento M. Martins & C., na Rua Tavares de Lyra – os elementos ressaltados no anúncio trazem a associação do conforto a idéia de simplicidade e praticidade do uso desse objeto, descrito como “Simples e Confortável” (SIMPLES e confortavel. A Republica. 05 dez.1926, p. 4.).

Anúncio publicitário. Fonte: Revista Cigarra, 1928.

Só se pode calcular o benefício que o Indicador da Agência Pernambucana está prestando aos bairros menos ricos da cidade indo ouvir às suas irradiações nesses lugares. […]. [São] atualmente sete [alto-falantes instalados na] Pracinha, Grande Ponto, Rocas, Associação de Escoteiros, nova Praça do Alecrim, rua Dr. Barata, Avenida Tavares de Lira (1939)

O que é importante salientar na citação acima é que, mesmo em 1939, o bairro da Ribeira já está presente no grupo dos bairros “menos ricos”, representado pelas artérias Dr. Barata e Avenida Tavares de Lira. Observou-se que desde o final dos anos trinta foi iniciado o processo de segregação do bairro da Ribeira por parte das elites.

SOCIABILIDADE

A Avenida Tavares de Lira foi o centro comercial, político e intelectual da cidade. No entanto, esta se deparou com as barreiras espaciais, o logradouro tornou-se pequeno em relação ao crescimento econômico da Ribeira, o comércio invadiu as ruas estreitas de seu entorno. Nesse sentido, a Rua Dr. Barata acabou tornando-se a segunda rua mais importante de Natal, que também foi contagiada pelo clima de euforia que circulava nos ares da cidade. Era muito animada, com “seus cafés, lojas, pensões alegres (como se chamavam os cabarés àquela época), hotéis e restaurantes […]” (PEDREIRA, 2005, p. 218). Contudo, atento ao aspecto antimoderno do logradouro. O jornalista Aderbal de França diz que “se ali não existisse o aspecto retrógrado de um sistema de vida já incompatível com o grau de civilização em que andamos” (1936a, p. 16, grifos nossos). Segundo o jornalista, a Rua Dr. Barata foi o ponto “chique” da capital, local de compras praticado pela elite natalense.

À tarde, ponto chic da Dr. Barata, visita dos armarinhos, revista dos últimos sapatos, o sorvete, o dentista. A parada da elegância. O luxo dos relógios caros, das pulseiras finas, dos anéis faiscando sobre o rubi das unhas pontiagudas. O penteado caprichoso e o rouge artístico, a silhueta que passa e volta com a mesma pressa e as mesmas curiosidades (FRANÇA, 1941, p. 8). Ainda há referância para a Bilhar Commercial em 1902.

Na cidade de Natal, a sociabilidade aparece de maneira intensa e nítida na esquina da Avenida Tavares de Lira com a Rua Doutor Barata, no bairro da Ribeira, e no Grande Ponto, situado no bairro da Cidade Alta. Todos os dias, muitas pessoas convergiam para esses logradouros, à procura de conversas e para saber das últimas novidades. No encontro da Avenida Tavares de Lira com a Rua Doutor Barata, encontramos o Clube e Bar Carneirinho de Ouro e o reservado da Confeitaria Avenida, dois espaços da boemia natalense.

Em 1949, Djalma Maranhão publicou várias crônicas na coluna do Diário de Natal, intitulada Esquina da Tavares de Lira com a Dr. Barata, centro convergente e irradiador da vida norte-rio-grandense. Esses foram os primeiros textos analisados para esta pesquisa. A crônica é uma narrativa curta, difundida nos jornais a partir do século XIX e criada para o consumo diário dos leitores. As crônicas de Djalma Maranhão foram reunidas e organizadas pelo professor Cláudio Galvão em um livro, chamado Esquina da Tavares de Lira com a Dr. Barata, centro convergente e irradiador da vida natalense (2004). Entre 1956 e 1959, Maranhão foi prefeito da cidade de Natal, realizando uma administração em vista do desenvolvimento econômico, social e cultural da capital potiguar. Voltou mais uma vez a governar a cidade de Natal em 1961, permanecendo no poder até 1964, quando foi destituído do cargo pelo golpe militar.

Avenida Tavares de Lyra, Ribeira – Natal RN. O prédio mais escuro era sede do Banco do Brasil, esquina com a Rua Doutor Barata.
Em 1949, Djalma Maranhão é repórter do “Diário de Natal” e publica uma série de textos com o título “Esquina da Tavares de Liracom a Dr. Barata, centro convergente e irradiador da vida natalense”.

Em 1949, Djalma Maranhão reclamava que Cascudo não costumava aparecer na esquina da Avenida Tavares de Lira com a Rua Doutor Barata, onde se situavam a Confeitaria Avenida, o Clube e Bar Carneirinho de Ouro e outros lugares da boemia natalense, dava preferência a sua própria roda de amigos e suas tertúlias (Cf. MARANHÃO, 2004, p. 56-57.).

Na coluna mencionada acima, Djalma Maranhão descreve os bares, os cafés e os botequins do bairro da Ribeira que ficavam na esquina da Avenida Tavares de Lira com a Rua Doutor Barata. Na confluência da Tavares de Lira com a Doutor Barata passavam diversos tipos da cidade de Natal: banqueiros, comerciantes, industriais, artistas, intelectuais, políticos, populares, atletas e boêmios.

Muitos jornalistas apareciam na esquina da Avenida Tavares de Lira com a Rua Doutor Barata a fim de realizar suas funções. O cronista Djalma Maranhão, no seu texto de 3 de abril de 1949, publicado no Diário de Natal, afirmara que os repórteres Luís Maria Alves e Leonardo de Oliveira Bezerra compareciam diariamente à esquina com o objetivo de obter informações para a elaboração de reportagens.

Em 1951, a firma Miranda & Irmãos Ltda., organizada pelos irmãos Múcio Miranda, Aldemar Miranda e Rossini Miranda, registrou, na Junta Comercial do estado do Rio Grande do Norte, três casas comerciais: a Confeitaria Helvética (Matriz), situada na Rua João Pessoa, nº. 162, no Grande Ponto (Cidade Alta), o Bar e Confeitaria Cisne (Filial), também na Rua João Pessoa, nº. 163, e a Confeitaria Avenida, na esquina da Rua Doutor Barata com a Avenida Tavares de Lira.

A Confeitaria Avenida era gerenciada por Inácio Antunes de Oliveira. Esse estabelecimento é citado por Djalma Maranhão, denominando-o Expresso 56, como mostra a crônica da coluna intitulada Esquina da Tavares de Lira com a Dr. Barata, centro convergente e irradiador da vida natalense, de 20 de março de 1949: ―no café expresso da negra Ana, em certos momentos não existe vaga de espécie alguma. A colored é jeitosa e ativa e tem bossa e sua freguesia é imensa‖74. A ―negra Ana‖ era a funcionária da Confeitaria Avenida que operava a máquina de café expresso. Isso mostra que essa confeitaria já estava em pleno funcionamento em 1949, dois anos antes de ser registrada na Junta Comercial do estado do Rio Grande do Norte.

A Confeitaria Avenida ocupou um papel importante na sociabilidade natalense. A casa estava situada na esquina de dois logradouros movimentados da Ribeira (a Avenida Tavares de Lira e a Rua Doutor Barata), devido ao comércio do bairro, que se prolongava até a hora do fechamento das portas das lojas e repartições. Constituía um lugar de grande circulação de pessoas que buscavam o local a fim de conversar e debater a respeito das últimas novidades, como os negócios realizados, os últimos acordos políticos, notícias trazidas por um viajante proveniente do sertão e os resultados das partidas de futebol.

No entanto, o bairro também possuía lugares destinados ao comércio de mercadorias importadas, como o Bar Natal, situado na Rua Doutor Barata, nº. 166.

O carnaval era na Ribeira, especialmente na Avenida Tavares de Lira e na Rua das Virgens, onde a serpentina, o confete e o lança perfume eram abundantes. A animação passava também pela Rua
Dr. Barata ao som de bandinhas e a pequena área de concentração dava uma alta densidade de foliões por metro quadrado. Também havia movimentação na Rua da Palha (atual Vigário Bartolomeu), Cidade Alta. Corso de automóveis no carnaval da Ribeira, 1934.

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

A Rua Dr. Barata, como toda a Natal, durante a Segunda Guerra Mundial, vivenciou grande movimentação. Uma Rua testemunha da história, assistiu nascer e desaparecer vários estabelecimentos, lugares de encontro da elite política e econômica da cidade. Inserida na Zona Especial de Interesse Histórico, a Rua Dr. Barata é um “lugar de memória”.

Na Rua Doutor Barata, onde havia lojas, cafés e pensões alegres, hotéis e restaurantes, ocorreram casos de desavenças entre aqueles que os frequentavam, tanto americanos quanto potiguares, motivados pela preferência das mulheres em namorar os estrangeiros, provocando ciúmes nos rapazes natalenses. Também eram comuns as brigas envolvendo norte-rio-grandenses e americanos por causa de prostitutas e de bebidas. Os jornais da época enfatizavam o fictício clima de harmonia e paz entre natalenses e americanos. Contudo, na verdade, os conflitos e as tensões entre ambos resultaram em casos de polícia, desmascarando a suposta cordialidade entre esses dois grupos (Cf. PEDREIRA, 2005, p. 217-237.).

Militares americanos na Rua Doutor Barata.

A partir de 1945, o leque das escolhas políticas foi ampliado, permitindo ao trabalhador (comerciários, operários, funcionários públicos, entre outros) maior participação no cenário político da cidade. Os principais núcleos de encontro da população natalense para as discussões políticas eram o Grande Ponto, no bairro de Cidade Alta, e a esquina da Avenida Tavares de Lira com a Rua Doutor Barata, no bairro da Ribeira. No Grande Ponto, intelectuais, jornalistas, esportistas e estudantes da cidade reuniam-se para conversar sobre diversos assuntos.

O Grande Ponto e a esquina da Avenida Tavares de Lira com a Rua Dr. Barata eram espaços de intensas relações sociais. Muitas pessoas procuravam seus bares e
cafés para conversar, obter informações e notícias sobre os principais acontecimentos da cidade de Natal, do estado do Rio Grande do Norte e do mundo.

Na década de 1940, a Praça Augusto Severo era lugar de passagem para quem se dirigia às lojas da Rua Doutor Barata. Os estudantes da Escola Doméstica de Natal e do Grupo Escolar Augusto Severo compareciam à Confeitaria Delícia para comprar confeitos e chocolates. A casa comercial era um bom negócio, seus proprietários obtinham bons lucros.

Na esquina da Avenida Tavares de Lira com a Rua Doutor Barata situava, no bairro da Ribeira, no primeiro andar do prédio da Confeitaria Avenida, nº. 54, o Clube e BarCarneirinho de Ouro. Instituído no dia 8 de agosto de 1936, o clube constituía uma sociedade civil, recreativa, esportiva e beneficente. Era frequentado por pessoas modestas – operários, carpinteiros, comerciários, funcionários públicos –, mas também médicos, comerciantes e bacharéis. Seus fundadores foram José Augusto de Freitas, Eugênio Silva, Manoel Avelino do Amaral, João Accioly, Severino Fenizola, Aristófanes Renan de Trindade, João de Almeida Barbalho, Hermes Marques Amorim e José Cavalcante Peixoto. As reuniões em sua sede eram frequentes, com a prática do jogo de gamão, dominó, xadrez, sinuca, bilhar etc. O clube tinha um time de futebol, que disputava partidas com times locais. O auge desse estabelecimento ocorreu nas décadas de 1940, 50 e 60.

O clube Carneirinho de Ouro era só para homens onde mulheres não podiam entrar, nem mesmo as prostitutas. Um espaço meramente masculino para se discutir política e jogar carteado, que resiste até hoje, e localiza-se no cruzamento da Avenida Tavares de Lira com a Rua Dr. Barata.

Na esquina da Avenida Tavares de Lira com a Rua Doutor Barata situava, no bairro da Ribeira, no primeiro andar do prédio da Confeitaria Avenida, n.º 54, o Clube e Bar Carneirinho de Ouro. Instituído no dia 8 de agosto de 1936, o clube constituía uma sociedade civil, recreativa, esportiva e beneficente. Era frequentado por pessoas modestas – operários, carpinteiros, comerciários, funcionários públicos –, mas também médicos, comerciantes e ba￾charéis. Seus fundadores foram José Augusto de Freitas, Eugênio Silva, Manoel Avelino do Amaral, João Accioly, Severino Fenizola, Aristófanes Renan de Trindade, João de Almeida Barbalho, Hermes Marques Amorim e José Cavalcante Peixoto. As reuniões em sua sede eram frequentes, com a prática do jogo de gamão, dominó, xadrez, sinuca, bilhar etc. O clube tinha um time de futebol, que disputava partidas com times locais.

No final da década de 1940, a Avenida Tavares de Lira e a Rua Doutor Barata foram palcos de embates envolvendo membros dos principais partidos políticos (UDN, o PSD e o PSP) no Rio Grande do Norte. Os cafeístas preferiam alojar-se na Rua Doutor Barata. As desavenças políticas atingiam o extremismo resultando em insultos, ameaças e em brigas na esquina da Avenida Tavares de Lira com a Rua Doutor Barata.

O Café Globo de Luís de Barros situava-se na Rua Doutor Barata, nº. 165. Esse estabelecimento caracterizou-se pelo fato de não comercializar bebidas alcoólicas e não servir nada gelado. A especialidade era o cafezinho. O lugar era frequentado por políticos, negociantes e jornalistas. Nas mesas do Café Globo, muitos acordos políticos foram feitos, traçando os destinos do Rio Grande do Norte.

E assim viviam, sob o mesmo teto, natalenses e adventícios. A cidade se modificava rapidamente, na rua Dr. Barata, durante o dia, podiam ser vistos generais de 4 estrelas, a bela artista de Hollywood – Kay Francis – exibindo sua silhueta sensual, o rei da Arábia, o comediante Joe Boca Larga e Buster Gordon. E ainda a viúva de Chiang Kai-Shek , os soldados comprando meias de seda, perfumes Channel e relógio de pulso e os militares confraternizando nos bares que os judeus de Recife abriram para ganhar o dólar fácil.

Militares americanos usando terno de gala (daí o possível surgimento da expressão “galado”), caminhando pela Rua Doutor Barata em frente à Farmácia Monteiro, no bairro da Ribeira. A esquerda vemos a sede do Jornal A Ordem. A direita a Farmácia Monteiro.
Toda irreverência de Aureliano Clementino de Medeiros filho, no carnaval de 1943 com a fantasia, denominado pelo próprio, de Maria Lagartixa.
(Jornal Ribeira Cultural. Foto: Bonde na Avenida Tavares de Lyra com a Rua Dr. Barata – 1943). Postado por Manoel de Oliveira Cavalcanti Neto.

PÓS-GUERRA

O período que compreende a Segunda Guerra Mundial é caracterizado tanto na Cidade de Natal quanto no bairro da Ribeira como uma época de rupturas e transições, que serão consolidadas no decurso do tempo. Portanto, os acontecimentos aqui identificados, em certa medida, fomentaram a desvalorização do bairro. Pode-se concluir, até então, que durante a Segunda Guerra Mundial ocorreram mudanças significativas na capital potiguar, tanto no traçado urbano quanto na sociedade. A cidade viveu um novo impulso modernizador motivado pelo crescimento da economia, pela entrada do capital estrangeiro e pelo expressivo aumento demográfico.

Depois da Segunda Guerra, o bairro viu seus elegantes estabelecimentos transmutados em ambientes – como descreveu Djalma Maranhão (2004) em 1949 no Diário de Natal – que mais se pareciam com antros. Esses lugares são representados no bairro da Ribeira por diversos espaços de vício, crime e luxúria, onde as pessoas encontram-se alheias aos valores sociais. Sobre a esquina da Tavares de Lira com a Dr. Barata, Djalma Maranhão escreveu que: “a fisionomia da esquina da sorte, para uns, da angústia e do desespero, da luxúria para outros, são os seus cafés expressos, os seus bares imundos e os seus sórdidos botequins” (2004, p. 22). Contudo, no período em questão, a esquina, para o autor, continua a ser “um centro convergente e irradiador da vida natalense” (2004, p. 22), apesar da crescente degradação social que este narra com maestria.

Nesse processo observamos a mutabilidade do urbano, da passagem, da migração, não apenas de pessoas como também na substituição de funções desse espaço construído.

Os grandes empórios tinham emigrado para a Cidade Alta, trocando a estreita e velha Dr. Barata pela larga, imponente e nova Avenida Rio Branco. O comércio grossista, atendendo ao chamado dos novos tempos, fizera do Alecrim a sua moderna Meca. E abalizadas organizações haviam sido superadas, ou por novos métodos comerciais ou não resistindo à transferência de comando de seus fundadores para novas mãos, cerravam portas, portas que só acreditamos cerradas, tão fortes e inexpugnáveis eram elas, porque como o Repórter Esso – outro que desapareceu – fomos testemunhas oculares da história (GARCIA, 1989, p. 44).

Não podemos dizer que o bairro da Ribeira dos anos de 1920 é o mesmo dos anos de 60, este se descaracterizou totalmente em relação as suas funções, a sua existência, apesar de permanecer no mesmo espaço.

Sobre a dinâmica que se processou no bairro da Ribeira, o memorialista Lair Tinôco afirma que:

Terminada a Guerra, a Ribeira voltou a viver de um passado já bem distante, triste, esquecida, mergulhada na recordação dos seus dias gloriosos. O comércio formado pelas lojas chiques transferiu-se para a Cidade Alta; na rua Dr. Barata ficaram os escritórios e firmas de representação (1992, p. 46-47).

Durante a campanha UDN e PSD, o Departamento de Segurança Pública normatizou, no início de outubro de 1945, os locais para realização de comícios (A República, Natal, p. 2, 3 out. 1945. p. 02.). Em Natal, os locais onde poderiam ser realizados eram: Praça Pio X, Rocas, Tavares de Lira, entre Frei Miguelinho e Dr Barata (ambas inclusive) Alecrim (Pátio da Feira). No interior, os locais seriam indicados pela autoridade policial.

Nos anos de 1950, a Ribeira possuía uma grande variedade de bares, cafés e confeitarias, sendo alguns surgidos no período da Segunda Guerra Mundial. Muitos bares estavam situados na esquina da Avenida Tavares de Lira com a Rua Doutor Barata e ruas adjacentes. A boemia no bairro acontecia em reservados, como o da Confeitaria Delícia, em quiosques no Cais da Avenida Tavares de Lira, nos cabarés e em bares abertos vinte e quatrohoras, a exemplo do Tabuleiro da Baiana. Devido à grande quantidade de bares e casas de meretrício que existiam no bairro, a Ribeira ficou rotulada como o bairro boêmio da cidade. A perambulação de notívagos por suas ruas, as brigas e confusões nos bares e cabarés, que ocorriam no período noturno e na madrugada, contribuíram para que as autoridades policiais olhassem com desconfiança para esse local.

Diante da sua expansão, a Confeitaria Delícia (esquina da Dr. Barata com a Rua Saché), foi ponto de encontro dos intelectuais de Natal na década de 60 e 70, onde facilmente se encontrava e cumprimentava Câmara Cascudo, Luis de Barros, Roberto Freire, etc.

Logo no início da década de 1950, já estava com o “Foto Jaeci” estabelecido na Rua Dr. Barata, centro de destaque comercial da antiga Ribeira, local onde de dia destacava-se o comércio das meias de seda, dos vestidos finos, dos relógios e tapeçarias e a noite era frequentada pelos moradores que buscavam diversão no cinema, no teatro, nos bares, na zona de meretrício entre outras opções que compunham a cena urbana. Nos anos de 1960 o comércio de prestígio social já havia praticamente abandonado a Ribeira em direção à cidade alta. A Avenida Rio Branco era o ponto principal de circulação de mercadorias para a classe abastada economicamente em Natal e Jaeci acompanhou essa transformação, instalou a sua loja na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Coronel Cascudo, conhecida popularmente por “Beco da Casa Régio” e posteriormente por “Beco do Jaeci”.

Rua Dr. Barata. Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo

FONTE SECUNDÁRIAS:

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ARAÚJO, Gizele T. Luzes na cidade: considerações sobre a introdução do sistema de iluminação pública em Natal (1905-1911). Monografia, 2010 (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Depto de Arquitetura, UFRN, Natal, 2010.

CARDOSO, Rejane (Org.). 400 nomes da cidade do Natal. Natal: Prefeitura Municipal de Natal, 2010.

CORNEJO, Carlos; GERODETTI, João Emílio. Lembranças do Brasil: As Capitais Brasileiras nos Cartões-Postais e Álbuns de Lembranças. Solaris, 2004

CASCUDO, Luís da Câmara. O Livro das Velhas Figuras. Natal: Manimbu, 1981. nº 3.

CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.

CASCUDO, Luís da Câmara. O doutor Barata: político, democrata e jornalista – Bahia-1762, Natal-1838. Bahia: Imprensa Oficial do Estado, 1938.

FERNANDES, Luiz. A Imprensa periódica no Rio Grande do Norte (1832 a 1908). Fundação José Augusto: Sebo Vermelho, 1998. p. 22-25.

FRANÇA, Aderbal. Instantâneos do dia… A República, Natal, 10 ago. 1941.

GARCIA, José Alexandre. Acontecências e tipos da Confeitaria Delícia .Natal: Clima, 1989.

GUIMARÃES, João Amorim. Natal do meu tempo: crônica da cidade do Natal. Natal: SCB/FHG, 1999. (Organização, introdução e notas de Humberto Hermenegildo de Araújo).

PEDREIRA, Flávia de Sá. Chiclete eu Misturo com Banana: Carnaval e cotidiano de guerra em Natal 1920-1945. Natal: EDUFRN, 2005.

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SAIR CURADO PARA A VIDA E PARA O BEM: diagrama, linhas e dispersão de forças no complexus nosoespacial do Hospital de Caridade Juvino Barreto (1909-1927) / RODRIGO OTÁVIO DA SILVA. – NATAL, 2012.

UM ARTÍFICE MINEIRO PELO PAÍS: Formação, trajetória e produção do arquiteto Herculano Ramos em Natal / Débora Youchoubel Pereira de Araújo Luna. – NATAL/RN – 2016.

Um espaço pioneiro de modernidade educacional: Grupo Escolar “Augusto Severo” – Natal/RN (1908-13). Ana Zélia Maria Moreira. – Natal, RN, 2005.

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