Um ilustre desconhecido: o território potiguar nos séculos XVI e XVII

Na perspectiva colonizadora europeia – uma vez que este dado não se aplica aos habitantes naturais da terra, os índios o território que corresponde hoje ao RN, como o Brasil em sua totalidade, era uma grande incógnita, durante todo o século XVI, e, mesmo durante o século XVII. É famosa a afirmação do primeiro historiador do Brasil colonial, Frei Vicente do Salvador, que dizia, em 1627, que os portugueses não se aventuravam no interior, mas se contentavam em “andar arranhando ao longo do mar como caranguejos” (Do Salvador, 1885-1886, p. 8).

Com efeito, os portugueses – e a esse respeito, outros povos que disputavam essas terras, especialmente durante os dois primeiros séculos da colonização, como franceses, espanhóis, holandeses e ingleses – se limitariam a expedições exploratórias ao longo da costa. Os
portugueses visitaram o litoral potiguar desde 1501, pelo menos, com a expedição comandada por Gaspar de Lemos, que contou com a presença do ilustre navegador Américo Vespúcio. Outras expedições se seguiram. Em 1535 e em 1555, João e Jerônimo de Barros, os filhos do donatário João de Barros, a quem a Capitania do Rio Grande fora doada com a implantação do sistema de Capitanias hereditárias, tentaram ocupar o litoral, sem sucesso. A relativa ausência portuguesa nessa parte do território ensejou, por sua vez, uma presença crescente dos franceses desde as primeiras décadas do século XVI, tornando-se um problema real para a Coroa no final daquele
século. É nesse contexto de disputa territorial que foi fundado o primeiro núcleo urbano da Capitania do Rio Grande, a cidade do Natal, por ordem do Rei Felipe, II da Espanha e I de Portugal, durante a chamada união das Coroas Ibéricas (1580-1640).

Não é, portanto, à toa, nesse contexto – que envolve um complexo conjunto de fatores em escala intercontinental, internacional e transatlântica, impossível de ser tratado nessas poucas linhas – que os primeiros contatos com o território se limitassem ao litoral e que, como disse Frei Vicente do Salvador se referindo especificamente aos portugueses, se fixassem no litoral como caranguejos. Essa realidade permanecerá, no caso da Capitania do Rio Grande, até meados do século XVII, quando começam as primeiras tentativas de penetração no interior.

Fonte:

Gênese e formação histórica do território potiguar: uma breve análise a partir da cartografia.
Rubenilson Brazao Teixeira

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