Manoel Dantas: pelo ensino

É relativamente fácil instruir, porém é muito difícil educar uma geração, dando-lhe, sobretudo, a educação moral e cívica, o pendor para o trabalho, o amor à vida, o respeito de si próprio e dos outros, as bases sobre que repousam os grandes princípios da solidariedade humana.
Manoel Dantas

Ao reunir características específicas dos registros e da atuação de Manoel Dantas na Educação do RN, professando os princípios políticos do qual era defensor, este constituiu-se ao longo da história como uma figura de destaque no cenário educacional, cultural e histórico para o estado do Rio Grande do Norte tornando-se também representante dos valores professados por essa doutrina política de caráter histórico-filosófica positivista que defendeu durante sua vida pública.

Seu legado constituiu-se ao longo de décadas de uma vida produtiva e resultou em fonte de pesquisa para a história da educação. Dantas ocupou a função de Diretor Geral de 1897-1923, ano em que dedica-se ao intento de alcançar a intendência da cidade de Natal, seu antigo cargo foi atribuído a Nestor dos Santos Lima, intelectual que esteve em contato com Manoel Dantas.

Manoel Dantas.

O cargo

Com a definição do novo modelo de governo no Brasil, esta função permanece e ganha destaque em sua relevância social, na medida em que a bandeira educacional torna-se um dos principais emblemas do governo republicano, ganhando mais ênfase 
do que no Império.

A propaganda republicana utilizava-se da educação como símbolo de seu ideário, e os diretores proclamados nesse contexto reafirmavam em seus discursos a função da instrução e sua contribuição ímpar para o progresso do país. Em seus relatórios, ao identificar as falhas em âmbito educacional, o diretor oportunizava de maneira pontual que o governo tomasse ciência da real situação em que encontrava-se a educação, tornando-a mais sistematicamente organizada.

O diretor possuía informações privilegiadas, uma vez que, mantinha comunicação com os diretores dos grupos escolares nas diversas províncias do Estado, conhecendo cada dificuldade de determinado grupo, dialogando com os profissionais da educação, compreendendo melhor o universo escolar e a importância da valorização da educação para o progresso da nação.

Esta profissão denotava grande responsabilidade, logo aqueles que assumiam o cargo de diretor da instrução pública, seria respeitado em seu meio social, devido ao contexto sócio-político que colocava em evidência a importância da educação. A institucionalização da educação e a fiscalização do funcionamento desta, contou com a colaboração efetiva dos diretores de instrução, sendo inclusive algumas reformas de ensino redigidas por diretores da instrução como é o caso do Estado de São Paulo e outras localidades.

Formação

A partir da formação educacional de Manoel Dantas que sua instrução primária na década de 1870, secundária 1880 e superior 1890, demarcam uma influência mais fortemente interligada com a intelectualidade proposta para uma elite racional, que embora estivesse no Estado do Rio Grande do Norte, sob forte domínio religioso, já apresentava currículo diferenciado.

Nascido no ano de 1867, em um sítio, denominado Riacho Fundo, na cidade de Caicó no Estado do Rio Grande do Norte, pouco antes do surgimento dos primeiros partidos republicanos nas capitais brasileiras. Foi alfabetizado em casa, ficando esta tarefa a cargo de sua avó paterna.  Informação com base nos estudos de Medeiros Filho (1988) no livro Caicó cem anos atrás e confirmado em diálogo informal com Edgard Ramalho Dantas, neto de Manoel Gomes de Medeiros Dantas.

O ensino secundário no Atheneu e o superior na Faculdade de Direito do Recife, possibilitaram maior acesso e conscientização dos ideais aos quais aderiu Manoel Dantas. No declínio do Império, portanto já apresentava um discurso fruto da educação que recebeu. Aliado à outros jovens componentes da elite seridoense, que enxergavam a sociedade fortemente sob prisma político aliando o avanço à educação, lutando portanto pelo domínio político no contexto social, bem como a estruturação do imaginário da população através da educação como elemento de conscientização e transformação dos indivíduos.

A possibilidade de ampliar o pensamento surgiu mais intensa no Ensino Superior, através da estrutura curricular proposta pelo curso de Direito da Faculdade de Direito do Recife, na qual ingressa ainda nos anos 1880 e alcança o grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais no ano de 1890.

A família percebendo o interesse de Manoel Dantas pelos estudos, matriculou o menino no ensino secundário, com aulas de latim na cidade de Caicó, ministrado pelo padre Brito Guerra, por volta ainda de 1870 início de 1880, período em que acirravam-se ainda mais mudanças curriculares, com introdução de novas matérias no currículo das escolas secundárias e superiores, estimulando já a necessidade de um ensino menos livresco.

Após concluir o ensino secundário, seu pai o enviou então para cursar seu ensino superior na Faculdade de Direito do Recife, considerada para a época como um foco de modernidade no que referia-se às teorias lá difundidas.

Manoel Dantas, concluiu seus estudos acadêmicos em 1890, na Faculdade de Direito do Recife, já atuando nessa época como redator do Jornal O POVO, professando abertamente com apenas 22 anos seu posicionamento político demonstrando caráter esclarecido perante o cenário da época.

A foto retrata Manoel Dantas, ladeado por outros intelectuais Seridoenses no ano de sua formatura na Faculdade de Direito do Recife em 1890. Fonte: Acervo Instituto Tavares de Lyra – Macaíba.

Suas reivindicações encaixavam-se com o contexto político e educacional de sua formação acadêmica, a defesa em prol da instrução pública como elemento de transformação da sociedade e mecanismo de progresso nacional advém sob a ótica deste estudo, das ideias propagadas pelos denominados positivistas ilustrados.

Buscava-se reorganizar o sistema de ensino norte-rio-grandense, refletindo os mesmos objetivos e reivindicações para a elaboração de um sistema educacional pautado em preceitos seguros que resultariam na formação e uma nação instruída e politizada. A educação como sinônimo de progresso era a bandeira que encontrava defesa nos preceitos republicanos.

Embora alto nível de analfabetismo ainda pairasse pelo estado do RN, os intelectuais, seguiam otimistas, embora reconhecessem a dificuldade em superar esta dificuldade, começavam, portanto, a perceber quão árdua estava sendo a batalha contra a falta de instrução do povo e que muito havia por fazer para modificar esse cenário.

Contribuições

Manoel Dantas escreveu importantes artigos para a Revista da Associação dos Professores. A Revista Pedagogium, onde teceu considerações sobre assuntos pertinentes à educação da época, falando com propriedade enquanto Diretor Geral da Instrução Pública.

Em discurso pronunciado na sessão inaugural do Congresso Pedagógico, dirigindo-se ao Governador do Estado, ao Presidente da associação dos professores e aos demais presentes na sessão, Manoel Gomes de Medeiros Dantas expressou a angústia pela precariedade de recursos com o qual funcionava a instrução pública, bem como os recursos que dispunha o cargo de diretor Geral da Instrução Pública, um cargo de destaque no governo de Estado, e que doravante a sua posição política e social, o Diretor Geral da Instrução Pública sentia os impactos pela falta de recursos para o exercício de seu cargo de maneira mais eficiente.

Era preciso ser do conhecimento do Diretor Geral o funcionamento da Instrução em todo o RN, no entanto lhe faltavam recursos para a aquisição de um automóvel que possibilitaria maior amplitude de visitas ao longo do Estado do Rio Grande do Norte. Atuando realmente como diretor ambulante, que para melhor atuação precisava percorrer com mais assiduidade os mais longínquos interiores do Estado.

Ativo e visionário, era a forma como Manoel Dantas colocava-se nesse 
contexto. Ao realizar a crítica ao cargo que exercia já por 25 anos em prol da instrução pública, revelava os percalços enfrentados em sua jornada e que cerceavam a sua atuação, Direcionava seu olhar para os benefícios econômicos empregados caso as funções do Diretor Geral fossem exercidas pelo secretariado.

O que nos conduz a refletir que, a proposta de Manoel Dantas não consistia em desvalorizar a ação do Diretor Geral, mas a ausência da necessidade de dois cargos, quando poderia realizar-se as ações em apenas um, no caso a secretaria do governo. Identificamos, portanto, o apreço de Manoel Dantas pela ideia do cargo de Secretário da Educação, o que posteriormente foi realizado em governos situados em recorte temporal após a sua morte.

Legado

Durante a sua vida, Manoel Dantas atuou em diversas áreas sociais. Buscamos sintetizar através da Tabela as suas ações, bem como obras escritas por ele e posteriormente publicadas.

A contribuição de Manoel Dantas para o Rio Grande do Norte enquanto, intelectual, foi percebida em diversas áreas, jurídica, política, educacional. A sua constante atividade na sociedade atribuía-lhe prestígio enquanto homem que encarregado de sérias responsabilidades, como o cargo de Diretor Geral da Instrução Pública, lhe conferiam o convívio com outras pessoas que compartilhavam dos  mesmos ideais, políticos e educacionais.

Ao assumir em 1924, Nestor de Santos Lima já aparece nos registros como Diretor do Departamento de Educação do RN. O cargo compreendia as mesmas funções de Diretor Geral da Instrução Pública, com outra definição.

A tabela acima representada compreende em seu conteúdo que Manoel Dantas foi Diretor Geral, durante o mandato de quatro presidentes de Província ocupando o cargo, sendo o último Diretor Geral a ocupar o cargo com essa nomenclatura.

Identificando falhas no setor educacional, delineava minuciosamente em suas análises o que poderia ser feito, preocupando-se em expressar sua opinião e atuar em prol da educação para além de seu cargo oficial como diretor geral de instrução pública.

Após desocupar a função de diretor geral no ano de 1923, não abandonou a temática da instrução, expressando no jornal A República seu pensamento acerca da educação pública do Estado, candidatando-se também à Presidente de Intendência em Natal, ganhando a eleição, entretanto, permanece no poder por pouco mais de um mês, quando vem a falecer em 17 de junho de 1924.

O legado de Manoel Dantas, estendeu-se pelos anos seguintes, tendo seu nome na Escola Estadual Manoel Dantas, localizada no bairro Tirol da cidade de Natal/RN.

Escola Estadual Manoel Dantas.

Aos 26 do mês de Abril de 2017, o senhor Edgard Ramalho Dantas, neto do intelectual Manoel Dantas, esteve em sessão solene realizada na Assembléia legislativa na cidade de Natal/RN em homenagem ao 150° aniversário de Manoel Dantas, proposto pelo então Deputado Vivaldo Costa.

Na foto abaixo, vemos o momento da fala do senhor Edgard Ramalho
Dantas na homenagem ao seu avô Manoel Dantas.

Registro da fala de Edgard Dantas homenagem aos 150 anos do nascimento de seu avô, o intelectual Manoel Dantas. Registro fotográfico da pesquisadora Isabela Morais.

Fonte:

A atuação de Manoel Dantas na instrução pública Norte-rio-grandense (1897-1924) / Isabela Cristina Santos de Morais. – Natal, 2018.

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