Catita nº 3

A máxima ‘devagar e sempre’ sintetiza a trajetória da Catita nº 3. Em ritmo compassado e sacolejante, com velocidade média de 15 km/h, a pequena locomotiva fabricada na Inglaterra em 1902 entrou para a história do Rio Grande do Norte ao fazer a travessia inaugural da antiga ponte de ferro sobre o Potengi no dia 20 de abril de 1906. Em 1970 participou da inauguração da Ponte de Igapó. Foi aposentada em 1975 quando seguiu para Pernambuco onde passou 39 anos no museu do trem em Recife, sem receber os devidos cuidados. A máquina retornou ao Rio Grande do Norte em 2014 após uma peleja jurídica encapada por onze anos pelo IAPHACC. O ‘cavalinho de força’ está no lugar certo e assume o posto de atração principal do Museu do Trem de Natal.

A locomotiva catita está posta sobre trilhos no centro da rotunda. Essa pequena peça inglesa de 1882 teve seu dia de glória no dia da inauguração da ponte de Igapó, em 1916, carregando todos os importantes como o então governador Joaquim Ferreira Chavez, Januário Cicco, Henrique Castriciano, José Augusto, Juvenal Lamartine, o historiador Luís da Câmara Cascudo ainda criança, acompanhado do seu pai, o Coronel Cascudo, o jornalista Elói de Souza, entre outros nomes ilustres da história do Rio grande do Norte.

O museu funciona no prédio da antiga rotunda, nas Rocas, local onde as 26 locomotivas que circulavam no Estado recebiam manutenção. Em forma de meia lua, o lugar passa por reforma e restauração completa, sob os cuidados do IFRN-Cidade Alta, para receber alunos dos cursos de Multimídia e de Gestão Desportiva e de Lazer do Instituto Federal. A meta é inaugurar a unidade de ensino até 18 de abril, já com parto do Museu do Trem funcionando.

O museu

O asfalto das últimas décadas não apagou todos os trilhos do passado ferroviário potiguar. Entre as Rocas e a Ribeira estão as marcas desse momento cheio de história e movimento. Embarcar naquela época está um pouco mais fácil desde que o IFRN pôs em funcionamento em 2016 a Unidade Rocas, localizada no prédio centenário onde funcionou as oficinas de recuperação de locomotivas e vagões da Refesa – Rede Ferroviária Federal S.A. Além das aulas, o local também abriga o Museu do Trem Manoel Tomé de Souza, um espaço aberto à visitação e que registra uma importante fase histórica do Estado.

A velha oficina de trens é uma construção de formato semicircular, por isso chamada de rotunda. Foi construída no começo do século XX, e funcionou até 1974, passando depois por um longo período de abandono. Ela fazia parte do chamado Complexo da Esplanada Silva Jardim, que compreendia o escritório central (o imponente prédio onde hoje funciona o DNOCS), almoxarifado, carpintaria, a caixa d’água de ferro, e o tanque de combustível. Todo esse conjunto atuava para manter a indústria ferroviária da época – com o perdão do trocadilho – nos trilhos.

A área localizada entre a Ribeira e as Rocas esteve abandonada durante décadas, até que uma iniciativa do Instituto dos Amigos do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural e da Cidadania cruzou os velhos trilhos. Ricardo Tersuliano, presidente da IAPHACC, estava pesquisando em 2003 sobre a história da ponte de ferro de Igapó, e acabou por descobrir a locomotiva Catita, a mesma que fez a travessia da inauguração da ponte em 1916. “Ela estava em Recife, e tomamos a missão de devolvê-la para o RN. Comecei a entrevistar velhos ferroviários e no processo vi que tínhamos um acervo que merecia ser recolhido, guardado e exibido. E assim surgiu a ideia do Museu do Trem”, conta.

O IAPHACC já estava de olho no prédio da oficina, até que a União cedeu para o IFRN. os pesquisadores não deixaram a ideia descarrilhar, e procuraram a direção do IFRN. A seriedade e qualidade da pesquisa convenceram a instituição a fazer a parceria com o instituto, tornando o Museu do Trem uma realidade.

O antigo prédio da Reffsa está localizado à travessa da Donzelas, próximo à antiga estação ferroviária. O local é equipado com três galpões numa área com extensão de um hectare. No imóvel, estava instalada uma oficina de trens e está desativada há mais de dez anos. A posse do prédio foi transferida do Patrimônio da União para o IFRN.

O prédio abriga um elemento arquitetônico raro. Trata-se da rotunda, onde os vagões eram colocados para passarem por reparos na oficina. Instalado num fosso raso, o equipamento tem a capacidade de fazer um giro de 380 graus. Além deste instalado no bairro das Rocas, há apenas três mecanismos parecidos no Brasil.

Acervo

O Museu foi naturalmente integrado à escola, compondo o visual do campus como decoração e exposição permanente, com peças espalhadas pelo ambiente. Boa parte do acervo já está disponível no local.

No local também está exposta a locomotiva Ilha Bela, recolhida da Usina São Francisco – Cia. Açucareira Vale do Ceará-Mirim. Segundo Ricardo Tersuliano, a ideia é expor ao todo quatro locomotivas, sendo três a vapor e uma a diesel. Outras raridades em exibição são um trole de vara (um carrinho de madeira usado pelos funcionários da via permanente); tornos fixos e móveis (máquinas inglesas para fabricar peças de trem); ferramentas; rodas de trem; telefone a magneto; telegrafos; teodolitos; chaminés de trem; manômetros de pressão; apitos de locomotivas; sinos; fardas de ferroviários; lanternas e sinalizadores; bolsas de couro; livros de atas e gerais, entre outras.

Homenagens

Todos os espaços físicos receberam nomes de antigos ferroviários da Refesa. Manoel Tomé de Souza recebeu o nome do museu como uma homenagem por sua contribuição ao recolhimento de dados históricos. Manoel foi um mecânico que salvou a Catita nº 3 de virar sucata no final da década de 50, quando a Rede Ferroviária decidiu substituir todas as locomotivas a vapor por máquinas a diesel.

Por todas as paredes do prédio há quadros com imagens e dados dos lugares e personagens que construíram a história das ferrovias potiguares. Nomes e históricos de engenheiros, fiscais e projetistas do século passado estão espalhados pelo ambiente.

O campus e o museu tem dez ambientes em arco que circundam a rotunda, que conta com biblioteca e um auditório para 150 pessoas. Ainda há vagão para exibição de filmes, lojinha de souvenirs, e espaço para contar a história das estradas de ferro potiguares.

A conclusão da obra e inauguração estão previstos para o mês de agosto de 2016. Nessa primeira etapa serão entregues, parte do Museu do Trem de Natal, 11 salas de aula, refeitório para 120 alunos e setor médico. Até o fim do ano serão concluídos o auditório e os laboratórios de áudio, vídeo e design gráfico.

O campus primeiro momento estava recebendo os alunos inscritos para os cursos técnicos integrados me multimídia e lazer, e o curso de graduação em tecnologia em gestão desportiva e lazer. É uma restituição mais do que merecida para uma área por onde já se passou tanta história. Pode aguardar na estação.

Serviço:

Museu do Trem Manoel Tomé de Souza. No campus do IFRN Unidade Rocas. Visitações durante os horários de funcionamento, manhã e tarde. Tel.: 4005-0967.

Fontes: Tribuna do Norte, No Minuto e Blog Patrulha Rocas.

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One thought on “Catita nº 3

  • 27 de junho de 2023 em 7:47 pm
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    Tem histórico de quem foi o primeiro maquinista a atravessar a Pondé do igapó?

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