A Companhia e a Escola de Aprendizes Marinheiros do Rio Grande do Norte
A cidade do Natal, terra do historiador Luís da Câmara Cascudo e berço dos índios Potiguara, também tem na sua história significativa participação na formação da marinha brasileira.
Vamos discorrer sobre a formação e os primeiros anos de atuação da Companhia de Aprendizes Marinheiros, que funcionou na Província do Rio Grande do Norte, com sede na cidade do Natal, na segunda metade do século XIX, entre os anos de 1872 a 1890. Essa instituição foi criada por decreto número 5181, de 16 de dezembro de 1872, tendo a sua abertura oficial no dia 12 de agosto de 1873. Sua função esteve atrelada à formação do corpo nacional para a Marinha de Guerra brasileira, disciplinando os corpos ali aquartelados, tornando-os obedientes e aptos para a vida militar como marujos.
Em um segundo ponto desta postagem vamos ainda apresentar a sucessora da Companhia de Aprendizes Marinheiros na formação da marinha brasileira no Rio Grande do Norte: A Escolha de Aprendizes Marinheiros. A instituição foi inaugurada em 1908 no Refoles, no local em que está situada a Base Naval de Natal Ary Parreiras. Vamos abordar a contribuição desta importante escola nos mais diversos momentos históricos na cidade de Natal.
Formação
Com inspiração em modelos de países como Inglaterra, França e Rússia, foram criadas companhias para aprendizes marinheiros no Brasil. A primeira foi instituída em 1840 na Corte. Em 1873, foi criada a Companhia de Aprendizes Marinheiros na província do Rio Grande do Norte. Nestes espaços circulou a proposta de “formar bons marinheiros e uma educação proveitosa às crianças expostas aos vícios e à miséria”.
As Companhias de Aprendizes Marinheiros foram criadas no Brasil na década de 1840, como uma tentativa de fortalecer a Marinha de Guerra do Brasil. Essa instituição possuía caráter educativo.
A Companhia de Aprendiz Marinheiros do Rio Grande do Norte foi criada em 1872 e teve seu funcionamento a partir de 1873. A Companhia do Rio Grande do Norte entrou para a estatística –e preocupação –da Marinha do Brasil em 1872. De acordo com o Relatório da Marinha do Brasil de 1871, foi decretada a construção de companhias nas províncias que ainda não as possuíam. Vejamos o documento:
Autorisado para crear companhias nas províncias marítimas que ainda as não tem (art. 4º,§ 20,Lei n. 1997,de 19 de Agosto de 1871), não julguei conveniente expedir as ordens necessarias para semelhante fim, com relação a das Alagoas, Rio Grande do Norte e Piauhy, emquanto não obtiver informações exactas, que justifiquem as despezas inevitaveis com o aquartelamento e com o pessoal de direcção e serviço dos menores.
(BRASIL, 1871, grifo nosso)
Apesar da autorização acima indicada, no caso do Rio Grande do Norte a criação não havia se concretizado, a justificativa foi a de que era preciso: “[…] obter informações exactas, que justifiquem as despezas inevitaveis com o aquartelamento e com o pessoal de direcção e serviço dos menores”. O documento deixa claro ainda que os custos utilizados para a manutenção das Companhias de Aprendizes Marinheiros ficavam, em parte, a cargo das províncias, pois só seriam contempladas com a autorização de sua criação em caso de haver recursos locais para investimento. Assim, acreditamos que a informação justificando a contrapartida da província do Rio Grande do Norte foi enviada à Corte no ano seguinte, pois em 16 de dezembro de 1872 foi baixado o Decreto n. 5181, alegando que:
[…] crea uma Companhia de Aprendizes Marinheiros na provincia do Rio-Grande do Norte usando da autorisação a que se refere o § 2º do art. 4º da Lei n. 1997,de 19 de Agosto do anno proximo preterito, hei por bem crear na provincia de Rio-Grande do Norte uma Companhia de Aprendizes Marinheiros, sendo o respectivo serviço regulado pelas disposições do Decreto n. 1517,de 4 de Janeiro de 1855, actualmente em vigor para igual Companhia na provincia do Pará. Joaquim Delfino Ribeiro da Luz, do Meu Conselho, Senador do Imperio, Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Marinha, assim o tenha entendido e faça executar. Palacio do Rio de Janeiro, em 16 de Dezembro de 1872, 31ª da Independencia e do Imperio. Com a rubrica de sua Magestade,o Imperador.
(MARINHA, 1872)
No primeiro ano de funcionamento da Companhia de Aprendiz Marinheiro na no Rio Grande do Norte, o Relatório da Marinha apresentou dados mais específicos sobre o atual estado dessa instituição no que diz respeito ao quadro funcional. Foi apresentado naquele momento, além das informações relativas à quantidade de aprendizes, o número de funcionários, o chamado quadro das necessidades das respectivas unidades em termos de contingente e o que se consideravam como excedentes. Observemos o quadro abaixo:
Ficavam publicados os decretos de criação das companhias nas duas províncias. Após essa etapa, restavam os desafios postos à maioria dessas instituições: conseguir recrutar aprendizes, disseminar sua identidade, formá-los marinheiros, dialogar com os poderes públicos, edificar seus prédios. Talvez o maior desafio enfrentado por essas companhias foi o de arregimentar alunos para seu interior. Muitos deles, pelo que pudemos perceber pela interpretação dos documentos, foram conquistados “no laço”, à força de justiça, sob o envio por parte do juiz de órfãos ou dos delegados de polícia. Mesmo com essa forma de arregimentar, vale ressaltar que os números de aprendizes sempre foram parcos e apresentaram pequenas oscilações.
“Recrutamento”
A Companhia objetivava recrutar menores entre 12 e 17 anos de idade. Após a primeira formatura ou ao desenvolvimento físico tido como ideal pela Marinha brasileira, os menores eram encaminhados à Corte para assentarem praça nas Companhias de Imperiais Marinheiros. Concluímos então que a referida Companhia pleiteou normatizar os corpos infantis preparando-os para o trabalho profissional/militar na Marinha do Brasil.
As Companhias de Aprendizes Marinheiros foram criadas no Brasil na década de 1840 do século XIX, em uma tentativa de fortalecer a Marinha de Guerra do Brasil. Essa instituição possuía caráter educativo. Funcionava no sistema de internato e obtinha seus menores, por meio das matrículas realizadas voluntariamente, executadas a partir de premiações a pais e/ou tutores, ou entregues aos cuidados das Companhias de Aprendizes Marinheiros por delegados das Províncias ou pelos Juízes de Órfãos. As Companhias eram vistas pela Marinha do Brasil como “o viveiro de corpo de imperiaes marinheiros” (MARINHA, 1870, p. 15). O lugar onde seriam formados e constituídos, os novos homens do mar. Lugar de rígida disciplina.
Uma das funções dessa escola era aprisionar e adestrar crianças, tanto no que concerne à educação daquelas enviadas pelos pais – fato raro na escola do Rio Grande do Norte -, como aquelas crianças desvalidas, sem casa, sem família, realizando assim uma higiene nas ruas, uma espécie de combate a marginalidade. Nessas escolas, os jovens teriam o primeiro contato com a vida de marinheiro. Completados os anos necessários, ou seja, a primeira formatura, quando os menores completavam dezessete anos de idade, eles seriam “encaminhados à Companhia de Imperiais Marinheiros, que tinha sua sede na Corte, no Estado do Rio de Janeiro” (MARINHA, 1870, p. 15).
Se o intervalo entre a abertura da primeira Companhia na Corte e na Província do Pará (1840) foram de longos quinze anos, tendo como reflexo, enormes prejuízos para a formação do Corpo Nacional da Marinha de Guerra, o que dizer dos trinta anos de espaço-tempo para a abertura da Companhia na Província do Rio grande do Norte?
No Relatório de Presidente de Província do ano de 1873, nos deparamos com a seguinte informação: “Tendo sido creada nesta província, por decreto n. 5,181 de 16 de Dezembro do anno passado, uma companhia de aprendizes marinheiros, não poude ser ainda installada por falta do necessario pessoal” (RPP, 1873, p. 24). Assim, é importante apontar aqui que, as causas para demora da implantação da Companhia de Aprendizes Marinheiros na Província do Rio Grande do Norte não são descritas nos documentos oficiais, tão pouco sua inauguração se deu no ano do decreto de sua abertura. Ou seja, a referida instituição passou por dois processos de atraso de tempo na Província norte-rio-grandense. Porém, é possível levantar algumas possibilidades como a falta de investimentos do Governo Central enviado as Províncias do antigo norte do país, ou mesmo a falta de interesse por parte das elites locais, visto que era constante a reclamação dos marinheiros chamando a atenção do governo provincial para construção de um prédio para a Companhia.
Tendo como objetivo a manutenção dessa tão requerida disciplina, o fim do dispêndio com pessoal que não se encaixavam com o perfil da Marinha e o serviço do mar, a Companhia de Aprendizes Marinheiros da Província do Rio Grande do Norte, criada em 1873, logo após seu primeiro ano de funcionamento, já apresentou frutos de seu trabalho, embora sempre com algumas ressalvas e diversas observações com relação a quantidade de menores exigidos pela Marinha.
[…] conta actualmente 76 menores, dos quaes 57 foram apresentados pelo exchefe de policia, Dr. José Antonio Corrêa da Silva, a quem devo reconhecer mais este serviço prestado á provincia. Apezar da excellencia desta instituição, onde os pais e tutores encontram um asylo seguro para os seus filhos e tutelados, tem havido difficuldade em completar o numero necessário á formação da companhia. Não é isto, porém, desanimador, nem constitue excepção para esta provincia. Ha outras companhias mais antigas e em provincias mais populosas, em que persiste a mesma difficuldade e que não poderam se quer attingir ao numero de menores que obteve esta em menos de um anno. Expedi circulares aos juízes de orphãos instando pela remessa de menores desvalidos e demonstrando-lhes a conveniencia de alistal-os na companhia, onde a par da educação, habilitam-se a ser uteis a si e ao estado. Apenas o juíz do orphãos desta capital remetteo 1 menor. Entretanto é sabido que em todos os termos da provincia existem menores em desamparo, entregues á ociosidade e sem receberem educação, os quaes mais tarde vêm a ser cidadãos inuteis e
(RPP, 1874, p. 39-40. Grifos nossos)
muitas vezes perigosos á sociedade.
Afinal, para a Marinha brasileira, esses “menores em desamparo, entregues á ociosidade e sem receberem educação, os quaes mais tarde vêm a ser cidadãos inuteis e muitas vezes perigosos á sociedade” (RPP, 1874, p. 39), quando entregues aos cuidados das Companhias de Aprendizes Marinheiros, “aprenderão também a ler, escrever, contar, riscar mappas, e a doutrina christã”, (MARINHA, 1876.1, p. A-J-17) tornando-se um bom marujo, e um bom cidadão.
A preocupação com o número de menores alistados está amplamente divulgado nos documentos oficiais. Por diversas ocasiões encontramos comunicados emitidos às autoridades da Província, com o intuito de se obter um maior contingente de pessoal para o alistamento.
As Companhias não se firmavam como uma instituição educativa atrativa aos menores e aos pais ou tutores desses menores. O próximo passo, então, seria a obtenção do material humano mediante outros meios. Um poderoso instrumento para tal fim, foi o “resgate” dos “orphãos pobres e miseraveis”. Tal procedimento é motivado pelo interesse em se obter o máximo de menores possíveis, afinal, a reputação da Marinha estava em jogo, desde meados da década de 1840, quando fora apresentada a proposta das Companhias e toda a sua produtividade de pessoal preparado e apto a vida ao mar.
Por este motivo, ao se referir aos menores não aquartelados, supondo que todos “tornãose viciosos e concorrem no depois para augmentar a nossa estatística criminal”, constituía-se em um pedido bastante formal aos Juízes de Órfãos, indicando que esses menores deveriam ser aquartelados na Companhia de Aprendizes Marinheiros da Província, por duas causas: a primeira, como mencionamos anteriormente, devido ao fator da limpeza dos grandes centros urbanos, banindo aquilo que era considerado como “nocivo” à sociedade; a segunda, diz respeito ao aumento do arsenal humano para a Marinha de Guerra Nacional, objetivo principal das Companhias de Aprendizes Marinheiros e de Imperiais Marinheiros.
De acordo com o Relatório de Presidente de Província de 1877, entre os anos de 1873 e 1877, a Companhia de Aprendizes Marinheiros do Rio Grande do Norte remeteu a Corte um total de 53 menores. No período que vai de 1873 a 1883, o número de aprendizes na referida Companhia variou entre cinquenta e nove e setenta e seis conforme quadro abaixo:
Foi possível também fazer o levantamento da quantidade de aprendizes matriculados na Companhia de Aprendizes Marinheiros da Província do Rio Grande do Norte, no recorte temporal de 1873 a 1890, a partir dos Relatórios da Marinha. Esses dados em muitos anos acabam por distanciar dos números apresentados pelos Relatórios de Presidente de Província.
É importante alertar, que durante o período de 1884 a 1890, o Relatório de Presidente de Província do Rio Grande do Norte não apresentou dados quantitativos sobre os discentes, porque, naquele momento, os alunos foram transferidos para a Companhia da Parahyba, fazendo com que essa preocupação não mais constasse nos relatos da Província do Rio Grande do Norte, até o retorno dos aprendizes. Nesse espaço de tempo, os números apresentados de aquartelados do Rio Grande do Norte na Parahyba parecem estar fundidos, fazendo com que não seja possível afirmar quantos pertenciam a cada província/estado.
as baixas no número de aprendizes aconteciam por diversos motivos, dentre eles, o envio dos futuros marinheiros mais robustos, fortes, saudáveis e que haviam minimamente aprendido a disciplina e o ofício náutico. Ao analisar os Relatórios de Presidente de Província, ano a ano, foi possível levantar parte dos dados dos aprendizes enviados pela Companhia de Aprendizes Marinheiros à Corte Imperial:
Prédio
Pelo decreto 5.181, foi criado a 16 de dezembro de 1872, a Companhia de Aprendizes Marinheiros, funcionando como sede do governo provincial até 1885. O referido prédio ficava na rua Junqueira Aires, com os fundos voltados para a margem do Potengi, e foi inaugurado a 12 de agosto de 1873, sendo o primeiro comandante o Primeiro Tenente Theotônio Coelho Serqueira de Carvalho.
De 1890 a 1898 voltou a sediar o Palácio Presidencial, porém com a demolição do casarão e a construção de um novo prédio a sede da Capitania dos Portos permaneceu neste local até 1972. Em 11 de agosto de 1988, este prédio foi tombado a nível estadual. Sua construção original foi de José Copertino Coelho Cintra, possuía uma fachada simétrica e demonstrando uma inspiração neoclássica (CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal, p.130).
Apresentava uma arquitetura “vazada por muitas janelas e na fachada principal do prédio apresenta ainda, dois frontões triangulares, nas extremidades da parede, emoldurada por cornijas e pilastras, que marcam de forma bastante severa a edificação”.91 Mesmo restando pouco, a fachada continua de pé. Após a sua restauração, está servindo como Espaço Cultural da Cidade. O projeto de restauração foi elaborado pelo arquiteto João Maurício Fernandes de Miranda que, com detalhes, tratou de aproveitar todo o estilo da época.
Em 1872, edificou-se“[…] uma casa coberta de telha, construída de tijolos e cal, com 59 palmos de frente para o lado do nascente e 51 de fundo para o lado do poente, na margem direita do rio Potengy no logar denominado Ribeira” (BRASIL, 1872), passando a servir de abrigo para escaleres da província. Tinha corpo a arquitetura que havia cedido para funcionamento da Companhia a partir do ano de 1873.
No local deste prédio localizado na Avenida Câmara Cascudo, Cidade Alta, no chamado Corredor Cultural de Natal funcionou, de 1873 a 1885, e de 1890 a 1898, a Companhia de Aprendizes Marinheiros. Segundo Nesi (1994, p.40), demolida a velha edificação, “no mesmo local foi edificado um novo prédio, que serviu de sede à Capitania dos Portos até o ano de 1972”. Depois de longo período de abandono, foi restaurado em 1989 pela Secretaria Municipal de Turismo – SECTUR, na administração da prefeita Wilma de Faria.
O projeto de reforma é de autoria do arquiteto João Maurício de Miranda, cuja proposta reuniu a preservação da fachada em estilo neoclássico, concepção arquitetônica difundida no Brasil pela Missão Artística Francesa de 1816, e no interior do prédio a utilização dos recursos da arquitetura moderna (NESI, 1994).
Atualmente funciona no local a Capitania das Artes, complexo artístico-cultural para estudo e lazer, que abriga biblioteca, área para cursos, seminários, exposições e lançamento de livros. Nela, funcionam a Biblioteca Municipal Esmeraldo Siqueira e a Escola Municipal de Ballet. À Capitania das Artes também está vinculado o Teatro Municipal Sandoval Wanderley, localizado no bairro Alecrim. Em 11 de agosto de 1988, o prédio revitalizado foi tombado a nível estadual. Dessa forma, a antiga edificação ressurgiu para servir à cultura local (NESI, 1994).
O local que servia de quartel para a Companhia de Aprendizes Marinheiros, era um prédio alugado. Somente no ano de 1875 o Ministro da Marinha autorizou a compra do prédio em que estavam alocados, fato este que só ocorreu no ano seguinte, em 1876 (Cf. RPP, 1875, p. 39).
Nos fins de 1883 publicou-se no Relatório de Presidente de Província informações sobre as obras realizadas nos prédios públicos da capital da Província. Dentre eles, estava o prédio responsável por abrigar os aprendizes da Companhia. A notícia anunciava a conclusão dos “concertos do Proprio Nacional que serve de Quartel de Aprendizes Marinheiros, á rua da Cruz d’esta capital” (RPP, 1883, p. 36).
A reforma foi coordenada “gratuitamente pelo Engenheiro Dr. José de Cupertino Coelho Cintra” (RPP, 1883, p. 36). O governo provincial tratou de economizar, solicitando o trabalho de profissionais de forma gratuita com o intuito de assegurar “grande economia”. O relatório anunciou ter ficado um “edificio em excellentes condições por preço que sem receio de errar, posso affirmar, o mais economico dos proprietários não o poderia fazer” (RPP, 1883, p. 36).
A valorização da reforma do prédio e da imagem do gestor provincial, confirmava a ideia de anunciar para a Corte, as “benfeitorias” asseguradas pela gestão do presidente da Província. Assim, “estes concertos, que importaram em uma completa reconstrucção despendeu-se apenas a quantia de cerca de 12:000$000” (RPP, 1883, p. 36); assegurando um prédio elegante, decorado e no estilo da ordem arquitetônica em vigor. Essa reforma foi realizada no momento em que o prédio onde funcionava a Escola de Aprendizes Marinheiros já era próprio. Porém, outras reivindicações de ajustes e reformas já eram clamadas com fervor. A primeira reforma do prédio ocorreu no ano de 1875.
Quaisquer ajustes eram defendidos para uma melhor vivência e aproveitamento dos espaços na hora de educar e disciplinar os aquartelados. Precisava ser um espaço possuidor de “accommodações para arrecadação, aquartelamente dos aprendizes, inferiores e destacamento de imperiaes marinheiros” (RPP, 1877, p. 18). Esse pensamento expressava claramente o fato da Companhia de Aprendizes Marinheiros da Província do Rio Grande do Norte, “está assentado entre duas áreas com muros e um portão ao centro de cada um delles”. Poranto, o objetivo parece ser claro: “vigiar e punir”.
Outras descrições do prédio revelam o caráter de controle pontuando os locais de exercícios dos aprendizes, os objetos para a navegação, o transporte da água do poço para o prédio, dentre outros. Observemos a descrição dos outros compartimentos acerca das disposições do próprio nacional/quartel da referida Companhia:
Na área, que corresponde ao portão da entrada principal foi levantada a mastreação do brigue escuna, competentemente apparelhado para os exercicios dos aprendizes; mas actualmente se acha arreada, por estarem podres o mastro grande e o garupés, os quaes já forma vistoriados pelos competentes peritos, e remettido o orçamento á esta Presidencia, para fazer chegar ás mãos do Exm. Sr. Ministro da Marinha, para acquisição de novos. Prepara-se um escalar de palamenta com 10 remos para os exercicios de remar e bordejar, porém á falta de carpinteiros navaes nesta capital tem demorado o respectivo fabrico. Servem tambem nos exercicios dos aprendizes 3 pequenas peças de bronze, sendo 2 de calibre 3, montadas em repares de campanha e 1 de calibre 2 em rodizio proprio de prôa de lancha e 66 carabinas a Miniê com o equipamento correspondente. Existe no terreno posterior do edificio um grande poço circular, feito de pedra sobreposta, guarnecida de um numero de tijollo, abastecido d’agua potavel, com a qual se fornece a companhia e 2 tanques lateraes cercado de paredes de taipa, cobertos de tella para banhos, lavagem de roupa e macas.
(RPP, 1878, p. 37-28. Grifo nosso)
Era muito importante que esses menores também pudessem aprender a respeito da vida ao mar. Por esse motivo, seria significativo para os aprendizes adquirir o conhecimento sobre o funcionamento de navios, embora vejamos no Relatório acima que há a necessidade de se executar reparos na embarcação. No que se refere aos exercícios físicos, a Companhia necessitava de “um escalar de palamenta com 10 remos para os exercicios de remar e bordejar” (RPP, 1878, p. 38), tornando-se assim em um “corpo do exercício mais que da física; corpo manipulado pela autoridade; corpo de treinamento útil no exercício que lhe é imposto e ao que resiste” (FOUCAULT, 2009, p. 132).
Unificação
A Companhia de Aprendizes Marinheiros da Província do Rio Grande do Norte funcionou dentro desse modelo até o ano de 1883, quando no ano seguinte, por meio do decreto nº 9371, de 14 de Fevereiro 1884, passaram a ser reorganizadas, obedecendo os seguintes critérios: o primeiro, “[…] as Companhias de Aprendizes Marinheiros passam a denominar-se Escolas de Aprendizes Marinheiros” (MARINHA, 1884, p. A3-5); o segundo enumera as escolas “comprehendendo uma ou mais provincias nas respectivas divisões e tendo aquartelamento em diversas cidades” (MARINHA, 1884, p. A3-5), como explica o seguinte quadro:
Como já mencionamos, a Companhia de Aprendizes Marinheiros da Província do Rio Grande do Norte fechou suas portas, e seus aquartelados foram realocados para a então Escola de Aprendizes Marinheiros da Parahyba. As antigas Companhias, ao se tornarem Escolas de Aprendizes Marinheiros, foram reduzidas de vinte para doze escolas. Essas escolas foram inauguradas sob a promessa de “[…] educar a preparar marinheiros para os diversos serviços da Marinha Imperial” (MARINHA, 1884, p. A3-5).
A idade inicial de admissão passa então a ser de 13 anos e a final de 16 anos. Outra mudança importante diz respeito ao ensino, que passou a ser dividido em elementar e profissional. o ensino elementar passou a requerer do aluno a aprendizagem de um currículo mais próximo daqueles das escolas regulares.
A diferença em relação ao ensino elementar eram as aprendizagens relacionadas à Marinha e às questões náuticas sobre a vida ao mar, pois eram “todos os conhecimentos praticos necessarios afim de serem depois desenvolvidos no tirocinio da profissão” (MARINHA 1884, A3-7). Ao fim de cada ano haveria um exame de habilitação que serviria também para determinar promoções e outras vantagens, quando esses Aprendizes partissem para a Corte a fim de assentarem praça nas Companhias de Imperiais Marinheiros (MARINHA 1884, A3-7).
O tempo de Escola seria de no máximo três anos. Completados dezoito anos, os aprendizes eram “[…] de ordem do commandante do mesmo Corpo, submettido a exame geral dos diversos estudos feitos nas Escolas e logo depois terá praça na classe que lhe pertencer, conforme o seu merecimento”. Assim, “[…] o aprendiz que concluir o aprendizado entes dos 18 annos ficará embarcado em um dos navios Escolas até attingir aquella idade” (MARINHA 1884, A3-7).
As punições só poderiam ser aplicadas pelo comandante da Escola e variavam de uma prisão simples até multas pecuniárias, rebaixamento de posto, prisão celular. No entanto, em caso de ausência sem justificativa, o menor era advertido até duas vezes. Na terceira advertência, se completados dezessete anos, deveria ser enviado ao Corpo de Imperiais Marinheiros, se ainda não, deveriam ser transferidos para outra Escola de Aprendizes Marinheiros, no intuito de lá poderem concluir seus estudos (MARINHA 1884, p. A3-7-A3-8).
De modo geral, o livro didático produzido para as Escolas de Aprendizes Marinheiros é um material cujo objetivo é tão somente o de servir como manual de instruções que direcionava toda construção do conhecimento, baseado em uma didática que promovia apenas a doutrinação do indivíduo, no sentido de transformá-lo ou adequá-lo às normas e regras ali impostas. Assim, o capítulo sobre a doutrina cristã presente no livro configura-se enquanto uma forma de catequização. Uma tentativa de conversão. De criar cidadãos fortes, ordeiros, obedientes, defensores da Pátria e católicos.
Durante este período, a referida Escola de Aprendizes Marinheiros desempenhou um papel importante na educação de crianças e jovens, especialmente, os considerados desvalidos, preparando-os para a vida ao mar, controlando-os através da disciplina, justificando seus assentamentos como algo positivo, uma vez que, esses menores, como eram chamados, “possuíam uma predisposição ao crime, à marginalidade”.
Imperial Brazilian Natal & Nova-Cruz Railway
Allocução Inaugural proferida pelo Exm. Sr. Dr. Rodrigo Lobato Marcondes Machado, presidente da província do Rio Grande do Norte em 27 de Fevereiro de 1880 e Acta da inauguração das obras da ferro-via de Natal à Nova Cruz. Mandada publicar pelos empregados da secretaria da presidencia e offerecida ao mesmo Exm. Sr. Natal. Rua da Conceição – Typ. do Correio do Natal.
Aos vinte e sete dias do mez de Fevereiro de 1880, 59.º da Independencia e do Imperio, nesta cidade do Natal, Capital da Provincia do Rio Grande do Norte, no lugar Salgado, onde foi vindo o Exm. Sr. Dr. Rodrigo Lobato Marcondes Machado, Presidente d’esta Provincia, acompanhado… Dr. Archimimi José Correia, Medico da Companhia de Aprendizes Marinheiros.
As obras ferroviárias, em conjunto com as demais melhorias que vinham sendo desenvolvidas na cidade, faziam proliferar, destarte, o número de postos de trabalhos para a população operária. O contexto de desenvolvimento urbano gerado durante a gestão de Alberto Maranhão frente ao Governo do Estado permitiu – além do aumento no número de empregos – também a proliferação de instituições de instrução, tais como as escolas de marinheiros e de artífices e o consequente aumento de salários.
Escola potiguar
O Refoles”Riffault, Rifô, Refoles” Refoles é topônimo de antes da fundação da cidade. De quando os franceses navegavam as costas do nordeste brasileiro depois de derrotados no Rio de Janeiro, idos de 1567, e passaram a explorar as riquezas aqui encontradas, em especial o pau-brasil.
Poucos em Natal conhecem o que se chama Curva do Periquito. É o lugar onde o Potengi faz curva para depois se derramar no Atlântico. A Curva do Periquito esconde aos olhos dos que cruzam a barra do rio Grande o que nele há.
Em razão disso, foi o local escolhido pelo comandante francês Jacques Riffault para pouso seguro de suas naus, depois de realizar saques em terras da Paraíba e Pernambuco: ali, elas não seriam vistas por quem quem cruzasse a barra do Potengi.
E o lugar ficou, por mais de quatro séculos, sendo chamado Refoles, corrupção da palavra Riffault. Era como se chamavam as terras ribeirinhas do Alecrim bem antes do seu surgimento como bairro.Quando ali se instalou a Escola de Aprendizes Marinheiros, em 1908, a região ainda era chamada Refoles. Quando se instalou no mesmo lugar a Base Naval de Natal, embora o bairro ainda pouco habitado já se chamasse Alecrim, havia quem ainda o chamasse Refoles.É o mais antigo topônimo não litorâneo da nossa cidade e está condenado ao esquecimento.
Casinhas surgem em torno da primeira fábrica de Sabão, em 1896. 1908, mais casinhas em torno da Escola Regional de Refoles, a Escola de Aprendizes Marinheiros, a partir de 1941, Base Naval de Natal.
No início do século XX, antes da criação do bairro do Alecrim, era possível verificar alguns elementos importantes para a expansão do espaço alecrinense, como, por exemplo, a instalação da Escola de Aprendizes de Marinheiro, em outubro de 1908, pelo Ministério da Marinha, que ocupou uma grande área às margens do estuário do Potengi/Jundiaí, no lugar conhecido como Refoles. Primeira unidade militar das regiões norte-nordeste com o objetivo de formar “marujos”. Seu primeiro diretor foi o comandante Sylvio Pelico.
Lodo após a construção da escola, foi providencia da uma estrada que dava acesso à edificação Esta estrada era bastante utilizada pelos que circulavam pelo povoado. Hoje esta via tem o nome de Rua Silvio Pélico, homenagem ao primeiro comandante da Escola de Aprendizes Marinheiros. Estes e outros aparatos logísticos serviram como confirmação da inclusão do então povoado nos planos da administração municipal de Natal, embora a área fosse dotada bem mais de características rurais que feições urbanas.
Quando toda aquela área foi oficializada como bairro, a atividade comercial se expandiu como uma característica do Alecrim até hoje. Com a expansão, surgiram os primeiros investimentos públicos e privados na área.
Em 1914, o Governador Ferreira Chaves fala na “grande distância para Natal”. A 15 de agosto de 1919, Alecrim é freguesia com sede na Igreja de S. Pedro. Com o tempo, foram chegando aos prédios a luz elétrica e a água encanada. A linha de bondes demorou um pouco. Candeeiros e lamparinas iluminavam as casas. Quem não tinha poço ou cacimba no quintal tratava de obter água em chafarizes públicos, junto aos poucos cata-ventos. Lá para o quilômetro seis dos trilhos da Great Western funcionavam, em prédios adaptados, o Isolamento de São João de Deus, para tuberculosos e o Isolamento de São Roque, para variolosos. A pequena igreja de São Pedro, na praça Pedro Américo (hoje Pedro II), foi alargada e elevada após a criação da Freguesia, em 1919. O padre alemão Fernando Noite, da Ordem da Sagrada Família, vigário local, promoveu até mutirão, nas tardes de domingo, quando, para as obras, muitas pessoas, inclusive meninos, iam buscar tijolos e telhas junto à linha férrea e subiam pela rua Sílvio Pélico.
Pensões e pequenos hotéis surgiram para atender os caminhoneiros e seus patrões que ali chegavam para negociar os seus produtos, principalmente o algodão do Seridó. O bairro ganhou características de “bairro sertanejo”, com muitos sítios, vacarias, feira livre, gente simples e pacata vinda do interior do Estado.
Com o seu crescimento a Guarita também passou a ser uma referência entre as Quintas e a região do Alecrim chamada de Refoles, perto de onde ficava a Escola de Aprendizes Marinheiros. Até hoje a Guarita é uma referência geográfica de anúncio da cidade, para quem chega de trem a Natal.
Abaixo do Alecrim, á margem esquerda da Great Western, fica o Refoles, suburbio de Natal e onde se installou a Escola de Aprendizes Marinheiros. Exceptuando raros casos de beri beri, não sei de molestia outra que pertube a vida regular daquelle núcleo de instrucção. O seu abastecimento d’agua é feito por meio de poços tubulares (CICCO, Januário. Como se Hygienizaria Natal. In: LIMA, Pedro de. Saneamento e modernização em Natal:
Januário Cicco, 1920, p.7-8.).
Na Rua Sílvio Pélico: O funcionário da Alfândega Antônio de Araújo Costa. Em casa próxima à Escola de Aprendizes Marinheiros, morava o comandante Antônio Afonso Monteiro Chaves, que matriculava os filhos no Grupo Escolar, o mesmo fazendo os que serviam naquele estabelecimento militar. Os pequenos cariocas, uns mais adiantados e esclarecidos, eram escutados com grande curiosidade pelos coleguinhas do bairro, sobre coisas do Rio de Janeiro. As noites eram tão tranquilas que, muitas vezes, se conseguia ouvir, das imediações do Grupo, o toque de silêncio, das vinte e duas horas, do clarim do Esquadrão de Cavalaria, no Tirol (avenida Hermes da Fonseca). Esse o Alecrim dos dez primeiros anos de sua criação, o bairro que o professor Luiz Soares, educando gerações, viu diariamente, durante mais de meio século, crescer e progredir.
Primeira regata
Na década de 1920 a 1930 era grande a quantidade de jovens que praticavam o remo em nossa capital. O Rio Potengi era atração de lazer dos natalenses, superando as praias que eram “muito distantes”. Era comum famílias inteiras ocuparem barcos nas tardes de domingo para passear ou visitar a Redinha, muitos piqueniques eram organizados.
Sobre a primeira regata realizada em Natal, registrou ‘‘A República’’, de 16/11/1915 – ‘‘Todo o Cais, desde o Passo da Pátria até o elegante Pavilhão destinado aos convivas em frente à Praticagem, estava repleto de famílias do qual tomariam parte seis embarcações, todas elas tripuladas por competentes timoneiros e vigorosos mancebos. Os navios ancorados no Porto apitavam freneticamente; ao largo, embarcações da Praticagem do Porto; da Escola de Aprendizes Marinheiros, e uma lancha da Capitania dos Portos que conduzia o Governador, o Capitão do Porto, outras autoridades e alunas da Escola Doméstica de Natal que, ao término de cada páreo, premiavam as guarnições vencedoras com medalhas, ainda no leito do Potengi’’.
Escotismo
Atendendo as solicitações do poeta Olavo Bilac, grande admirador do Escotismo, o então vice-governador Henrique Castriciano, se articula aos amigos, o diretor da Escola de Aprendizes Marinheiros; capitão de corveta da Marinha, Monteiro Chaves, professor no Atheneu Norte-Riograndense, Manoel Dantas, e convidando o professor Luiz Correia Soares de Araújo, em época regente do Grupo Escolar Frei Miguelinho, o atual Instituto Padre Miguelinho, no bairro do Alecrim, a fazer parte da criação em 24 de junho de 1917 o Movimento Escoteiro no Rio Grande do Norte e convocando vários jovens a ingressarem, no 1° Grupo Escoteiro do RN, que entregaria à Associação Brasileira de Escoteiros do Rio Grande do Norte e atualmente Região Escoteira.
Antônio Afonso Monteiro Chaves (1877-1950). Em sua permanência em Natal foi comandante da Escola de Aprendizes Marinheiros no período de 1912 a 1917, e capitão-dos-portos nos anos de 1921 a 1922, época em que prestou relevantes serviços à cidade.
O movimento escotista empolgou toda a cidade. A meninada assanhou-se. Todos queriam ser escoteiros. A farda era muito bonita. Convidava. Sentia-se vontade de vestir uma e tomar parte nos desfiles que muito de propósito eram realizados pelas principais ruas da cidade. Os pais de família de orçamento limitado sofreram o diabo. Os filhos pediam. Imploravam. Choravam, queriam ser escoteiros. As mães interferiam pedindo aos maridos inscreverem os filhos na Associação de Escoteiros. Os esposos relutavam alegando despesas. Não era só a farda. Era o chapéu, era o lenço, eram os sapatos, as meias, sem contar com o varapau e os demais aprestos para os acampamentos.
Centenário de Miguelinho (1917)
Na edição de 4 de junho do Jornal A República, se noticia, “O Instituto Histórico tem recebido varias communicações de que se acham promptas para tomar parte no grande préstito cívico do sai 12 de junho muitas corporações, sociedades e escolas desta cidade.”; (A República 04 de junho de 1917. Ano, XXIX N° 124, p.1) fazendo questão, inclusive, de citar o nome das escolas que até ali confirmaram sua presença e manifestando a esperança do Instituto por mais adesões:
Podemos adeantar que, além de outras, formarão as seguintes escolas: Afheneu, Escola Normal, Cursos anexos, Grupo Escolar Frei Miguelinho‟, Collegio Santo Antonio‟, Externato Magalhães, Escola da Liga, Centro e União Operarias, Escolas Municipaes Feminina e Mixta, a de d. Benigna Silva e a Escola de Aprendizes Marinheiros […] O Instituto Histórico espera ainda receber communicação, a respeito de outras escolas desta capital.
No dia 10 de junho, as comemorações tiveram início com o programa das festas esportivas. A primeira delas foi a “Grande regata do Centenário”, patrocinada pelo Instituto Histórico e Geográfico, na qual tomaram parte o Centro Náutico Potengy, o Sport Club de Natal, a Escola de Aprendizes Marinheiros e os marítimos da Alfandega e da Capitania do Porto.182 Na ocasião, o desembargador Ferreira Chaves, governador do Estado e presidente de honra das festas do Centenário, marcou presença a bordo da lancha oficial, e da mesma forma, a diretoria e os demais membros do IHGRN, destacando-se aí uma comissão especialmente designada para fiscalizar o evento, se fizeram presentes a bordo da lancha “Affonso Barata” (Rev. IHGRN, vol XV, n° 1 e 2, 1917; 67.).
Abria o cortejo o Esquadrão de Cavalaria, com a sua banda de Clarins, sob o comando do Capitão Fernandes de Almeida. Em seguida, guiando todo o préstito, desfilava um “carro triunfal”, atrás do qual se perfilavam todos os outros seguimentos, entre escolas, agremiações (literários, cientificas, esportivas), representantes de instituições públicas e dos municípios do Estado, autoridades, intercalados todos por bandas de música, contando ao todo com 36 segmentos (sendo o 37° composto pela população), fechados pelo o Batalhão de Segurança, com sua respectiva banda de música. Entre a descrição dos seguimentos expressos no programa, temos: O carro triunfal e a banda de musica da Escola de Aprendizes Marinheiros. A extensão do cortejo era tal que, segundo a Revista do IHGRN, “Quando a banda de clarins que precedia o préstito chegou ao Palácio do Governo, o povo ainda vinha pelo jardim da Praça „Augusto Severo”.
Futebol
De acordo com a Revista do IHGRN vol. 1 e 2 de 1922, no dia 8 de setembro deste ano foi realizado um encontro futebolístico no Campo da LDT no Tirol como parte do Programa das Festas dos Desportos Terrestres e foi assim noticiado na época.“ TORNEIO DE FOOTBALL – As 13 e 1/2 horas, mais ou menos, com a presença do Exmo. Sr. Dr. Antônio de Souza, Governador do Estado, teve início, no field da Liga de Desportes Terrestres, no dia 8 de setembro o festival desportivo em homenagem ao transcurso do nosso primeiro centenário, que foi assistido com bastante interesse por grande número de famílias, cavalheiros e sportmen. Em primeiro logar, realizaram se varias provas de athletismo, que foram disputadas por quase todas as corporações desportivas desta capital e pela Escola de Aprendizes Marinheiros.
Guerra das lavadeiras
As lavadeiras do Baldo e Oitizeiro, juntamente com o seu pesado trabalho faziam parte do cotidiano e da paisagem de Natal na década de 1920. Elas eram muitas, eram pobres, eram esforçadas, eram trabalhadoras silenciosas e dedicadas ao que faziam. Na Natal do passado eram vistas todos os dias seguindo pelas ruas da cidade, principalmente descendo com suas trouxas de roupas na cabeça as ladeiras arenosas da atual Rua Princesa Isabel e da Avenida Rio Branco em direção ao Rio do Baldo, um pequeno e limpo afluente onde elas exerciam a sua profissão.
Em 1924 a cidade evoluía e quem chegava de Recife no trem da Great Western, tinha o primeiro vislumbre da cidade ao passar na região do Baldo e via a labuta daquelas mulheres.
Um dia, aos primeiros raios do sol, as lavadeiras que chegavam ao seu local de trabalho encontraram alguns homens munidos de materiais para a construção de uma cerca, fechando o acesso para a área de trabalho delas e derrubando os banheiros. Além dos trabalhadores, oficiais de justiça estavam munidos de documentos para sacramentar a ordem judicial.
O fato se deu em uma sexta-feira, 14 de março e, segundo o matutino natalense O Jornal do Norte, cujo redator era o advogado e jornalista João Café Filho, as mulheres não aceitaram a realização do trabalho daqueles homens e logo estalou um conflito. Não existem detalhes de como se deu os atos de violência, mas Café Filho aponta que as mulheres partiram para cima, derrubaram a cerca recém-colocada e não deixaram o serviço continuar.
Na sequência o encarregado ameaçou chamar os homens da Armada, um nome comum na época para designar a Marinha do Brasil. Hoje Natal é o porto de alguns navios de guerra da Marinha, sedia o Comando do 3° Distrito Naval, a grande Base Naval Ari Parreira, o Grupamento de Fuzileiros Navais e outras unidades menores. Mas em 1924 as unidades militares da Marinha na capital potiguar se restringiam a Escola de Aprendizes Marinheiros, hoje extinta, e a Capitania dos Portos do Rio Grande do Norte. Logo os marinheiros e o comandante da Capitania chegaram ao Baldo. O oficial comandante era o capitão-tenente Fábio Sá Earp, que informou ter os trabalhadores direito de realizarem seu serviço, pois o terreno era da Marinha e fora aforado pelo empresário Manoel Machado.
Apesar de legal, para o jornalista Café Filho o rico empresário Manoel Machado desejava aquele terreno para “plantar capim”. Junto a Manoel Machado, contava como interessado no aforamento o comerciante Thomaz da Costa Filho.
O capitão Sá Earp buscou argumentar com as lavadeiras que realmente o terreno onde trabalhavam pertencia à Marinha, cujo domínio útil estava sendo cedido através do aforamento a Manoel Machado e Thomaz da Costa. Evidentemente que aquelas mulheres simples não sabiam e não entendiam nada daquilo. Mas elas sabiam o valor do seu trabalho e unidas disseram não ao oficial naval. A notícia da época conta que as duas partes, as lavadeiras e os membros do Estado, se encaravam. Uma das partes com paus, pedras, machados, foices, mãos de pilão e a outra com armas de fogo e cassetetes. As lavadeiras tinham até mesmo uma posição que Café Filho chamou de “ar de sarcasmo” diante da tropa fardada.
Então houve algo inesperado para a maioria dos espectadores presentes – O capitão-tenente Fábio Sá Earp e o tenente Francisco Barbosa entraram em um entendimento e decidiram recuar suas tropas. Além disso, segundo relata Café Filho, estes oficiais mandaram suspender os serviços, ficando estabelecido que as lavadeiras fossem ressarcidas dos seus prejuízos, com a polícia garantindo o cumprimento das ordens e o direito do trabalho das mulheres.
Consta que em 1924 a causa das lavadeiras era de extrema aceitação positiva por parte da população de Natal. Até porque, quem é que iria lavar a roupa suja do povo dessa terra? Bem, poderíamos concluir este texto com a alma lavada pela sensação de vitória das mais fracas diante dos gladiadores fardados e do poder do capital. Mas, novamente utilizando os escritos de Café Filho, sabemos que bastou o clima de tensão esfriar, a multidão se dispersar, a noite cair e os policiais saírem da área de litígio, para os trabalhadores de Manoel Machado e Thomaz da Costa Filho refazerem a cerca no meio da madrugada. Mas nem bem o dia amanheceu as lavadeiras derrubaram todo serviço feito na calada da noite e ainda sobraram cacetadas para os construtores da cerca. As mulheres então buscaram a ajuda profissional de um advogado para impetrar um habeas corpus.
O caso então desaparece do matutino Jornal do Norte. Entretanto, de uma forma ou de outra, as lavadeiras do Baldo continuaram por lá por um bom tempo. Acredito que o que acabou com seu trabalho foram as mudanças dos costumes, as mudanças laborais, a poluição no velho Rio do Baldo e os avanços tecnológicos.
Resgate aos aviadores italianos
Já no dia 27 de junho de 1928 os jornais de Natal informaram a partida de Ferrarin e Del Prete da Itália e a partir de então crescia a tensão para a chegada dos pilotos. Conforme nos conta Paulo Pinheiro de Viveiros, em seu livro “História da aviação no Rio Grande do Norte”, na manhã do dia 5 de julho a estação de rádio da Marinha, localizada em Réfoles, as margens do Rio Potengi, captou a informação que os italianos estavam a apenas 50 milhas náuticas do Arquipélago de São Pedro e São Paulo. Depois de ser confirmada a notícia por uma estação telegráfica particular, não houve mais informações sobre os aviadores.
A população natalense prestava bastante atenção aos céus, aguardando com ansiedade a chegada do Savoia-Marchetti S-64. Por ironia do clima e para dificultar a situação dos italianos, desde o dia 3 de julho chovia muito forte no nosso litoral. Durante todo dia 5, Natal estava coberta pôr pesadas nuvens e o povo já dava como certo que o avião italiano seguiria para Recife.
Após alcançarem o litoral os aviadores vagaram por várias áreas, existindo a suspeita que chegaram até mesmo a alcançar estados vizinhos. Retornaram a região onde avistaram primeiramente a costa brasileira e finalmente, ás 16:10 da tarde, sobrevoaram Natal. Da cabine Ferrarin e Del Prete viram as pessoas que acenavam com lenços brancos das ruas.
Após sobrevoarem Natal, buscaram o campo de Parnamirim, que sabiam ficar ao lado de uma estrada de ferro, mas sem resultado positivo. Seguiram então a baixa altitude em direção norte, passando sobre as praias em busca de um local de pouso. Ao sobrevoarem a praia de Genipabu foi observado pôr um fazendeiro, que prontamente reportou o fato para a sede do jornal “A Republica” e para as autoridades da cidade.
Sejam motivadas pelo relato deste observador, ou pela falta de maiores notícias, as autoridades da cidade aprestaram rapidamente o rebocador do porto de Natal, o “Lucas Bicalho”, para tentar ajudar os italianos que estariam em alguma das então desertas praias do litoral norte. Faziam parte da tripulação o engenheiro Décio Fonseca, chefe do porto de Natal, o comandante da Escola de Aprendizes de Marinheiros, Nereu Chalreu, o piloto da Marinha do Brasil, Djalma Petit e outros. O rebocador estava preste a partir quando a tripulação foi informada que o aeroplano e seus aviadores encontravam-se na cidade costeira de Touros, hóspedes do vigário local, o padre Manuel da Costa.
Na manhã seguinte, dia 6 de julho, um avião Breguet XIV, número 158, da C. G. A. (Compagnie Generale Aeropostale) pilotado pelo francês André Depecker, acompanhado pelo mecânico Chaulat, decolou do aeródromo de Parnamirim, seguindo a linha litorânea até Touros, a 80 quilômetros de Natal. As autoridades locais e os visitantes foram ao encontro do avião que estava a dois quilômetros da pequena cidade litorânea, sobre uma área de dunas, entre 600 metros e a um quilômetro da beira mar.
O aposentado Geraldo Lopes de Oliveira, nascido no então vilarejo de Touros, tinha oito anos à época do pouso forçado do Savoia-Marchetti S-64 naquela localidade. Em declarações ao jornal “Diário de Natal” (25/01/1998), disse que “acompanhou de perto a chegada dos pilotos italianos”. Declarou que na ocasião “o vilarejo tinha cerca de 800 habitantes e o barulho causado pela aeronave assustou a população local”.
No outro dia, já mais repousados, os aviadores italianos conseguiram que dois pescadores ficassem como vigias junto ao avião, até que pudesse o mesmo ser transportado. Essa tarefa coube aos pescadores Antônio Marcolino e Antônio Pereira, segundo relato do Sr. Geraldo.
Em troca, os improvisados vigias poderiam consumir a farta alimentação trazida a bordo, juntamente com seus familiares. Esta alimentação, com estoque para 15 dias de viagem, fora preparada pelo renomado restaurante “Casina Valadier”, localizado na área da Villa Borghese, mais precisamente na Piazza Bucarest, em Roma. Seguramente foi uma degustação bem diferente a qual as famílias dos improvisados vigias estavam acostumadas.
Com o auxílio de cerca de 80 homens da cidade, foi aberta uma picada que possibilitou o deslocamento da aeronave do local do pouso à praia. No dia 7 de julho, Del Prete e Ferrarin estavam a bordo do rebocador “Lucas Bicalho” com o objetivo de transportar o Savoia-Marchetti S-64 para Natal e submetê-lo aos reparos necessários. Como o rebocador não tinha condições de aproximar-se da praia, o avião foi primeiramente colocado numa balsa e depois atado ao valente “Lucas Bicalho”. Em seguida iniciou-se o lento e cuidadoso deslocamento para a capital potiguar.
Enquanto o avião era consertado os dois heróis foram muito homenageados. Eles foram os únicos aviadores estrangeiros deste período que receberam títulos de “Cidadão Natalense” em solenidade realizada no palácio do Governo. Eles foram entusiasticamente saudados pela comunidade e autoridades, entre elas o então governador Juvenal Lamartine.
Foram remetidas notícias para todo o mundo do pouso dos italianos em Touros. No total foram completados 7.158 quilômetros de distância, em 58 horas e 30 minutos de voo ininterrupto, a uma velocidade média de 175 km/h. Os recordes foram homologados a partir de cálculos fixados pela Comissão Técnica do Aeroclube do Brasil e encaminhados ao Embaixador da Itália no Brasil, através de ofício datado de 9 de julho de 1928. Os resultados foram também comunicados ao Real Aeroclube da Itália e à Federação Aeronáutica Internacional, para fins da necessária homologação.
Os pilotos ficaram hospedados no Palace Hotel, no bairro da Ribeira, sendo carinhosamente assediados pela população local e recebendo diversas homenagens. Naquele momento a cidade também recebia a visita da líder feminista brasileira Bertha Lutz, que promovia a campanha do voto feminino. Os pilotos tiveram um encontro com a Senhorita Lutz e explanaram a necessidade das mulheres participarem da aviação, no que foram muito elogiados nos jornais locais.
Ferrarin e Del Prete encantaram a população potiguar pelo extremo cavalheirismo e atenção, participando de diversas atividades sociais. Levaram vários dias para o Savoia-Marchetti S-64 ficar em condições para realizar uma decolagem e seguir em direção sul.
O jornal “A República” informa que o hidroavião batizado como “Potyguar”, pertencente à empresa Sindicato Condor, trouxe do Rio de Janeiro as peças e os mecânicos para ser feita à manutenção e realizar uma nova decolagem. Este mesmo jornal relata que o Savoia-Marchetti S-64 ficou na Gamboa Jaguaribe, no lado esquerdo do Rio Potengi, próximo ao Porto do Cajueiro.
Tudo indica que o concerto do avião foi realizado neste local, onde o terreno é plano, mas o solo não é muito rígido. Na pressa de seguirem o Rio de Janeiro, então a Capital Federal, os italianos decidiram arriscar a decolagem nesta área. Quando procediam à manobra, o trem de pouso enterrou na areia e pôr pouco o avião não capotou.
Diante do ocorrido e passados vinte e três dias após a chegada ao Rio Grande do Norte, Ferrarin e Del Prete viajaram de Natal para o sul do país a bordo de um avião Bréguet, da Aeropostale. No dia 1 de agosto de 1928, os jornais locais informam que o avião S-64 será transportado para o Rio de Janeiro no vapor “Macapá”. Tudo indica que esta aeronave foi doada ao Governo Federal, sendo a informação não confirmada. Na então Capital Federal, os aviadores eram os heróis do momento.
Nossa Senhora dos Navegantes
Ao observar mais atentamente o cenário, me recordei de um pequeno artigo do jornal “A Republica”, de 27 de dezembro de 1928, dando conta de como foi a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes e a participação dos veranistas nesta comemoração de simples pescadores.
Era uma época diferente, de uma Natal pequena e bucólica, onde os natalenses, mesmo com praias mais próximas do centro da cidade, buscavam a Redinha para descanso, ou para a realização de piqueniques em “ranchos” de palha e casinhas de barro. No início dos anos 20 seriam construídas as primeiras casas exclusivamente destinadas ao veraneio. Para chegar na praia, os natalenses só necessitavam atravessar o rio em algumas das inúmeras embarcações que realizavam este trajeto e encontrar à pequena vila de pescadores, onde se poderia comprar um belo peixe de ótima qualidade. Por esta época, a procissão marítima/fluvial de Nossa Senhora dos Navegantes, conforme informa o jornal, estava no seu segundo ano, mas tornava-se um evento concorrido.
Quando finalmente o “Lucas Bicalho” atracou diante da igreja, a imagem foi levada até este rebocador. Junto com a imagem, seguiam veranistas carregando estandartes com nomes de várias praias potiguares, algumas delas já esquecidas pelo povo, tais como Limpa, Ilha Bela e Vila Flor.Depois que a imagem foi posta no rebocador, tocava-se o apito deste barco e a procissão seguia até a curva do Refoles, onde na época existia a Escola de Aprendizes Marinheiros. Ao passarem diante do porto, o vapor “Manaus” executou um estrondoso apito.Neste ano, como o “Lucas Bicalho” havia atrasado para a festividade e como o crepúsculo se aproximava, a procissão fez meia volta diante do Passo da Pátria, quando de todas as embarcações estouraram inúmeros fogos de artifício e de sinalização. Os barcos retornaram para a região da igreja e a imagem percorreu o caminho para a ermida.
Estado Novo
Diferentemente de Hercolino Cascardo, que conseguiu “manter as diversas facções relativamente neutralizadas”, o baiano Bertino Dutra, comandante da Escola de Aprendizes de Marinheiros em Natal, “marcou seu período justamente pela ruptura desse equilíbrio habilmente conquistado, prestigiando abertamente a facção cafeísta em detrimento dos liberais”, sendo inclusive um dos seus primeiros atos “a nomeação de João Café Filho para o estratégico cargo de chefe de Polícia” (SPINELLI, 1996, p. 93-94).
A convivência entre as duas correntes que fizeram a Revolução no Rio Grande do Norte sempre foi marcada pela disputa em torno do poder, por uma rivalidade constante e por conflitos exacerbados. A corrente liberal – de Silvino Bezerra, Dinarte Mariz, Bruno Pereira e outros – estava cada vez mais convencida de que a Revolução fugia a seus compromissos, prolongando a situação discricionária e postergando indefinidamente o reencontro com a ordem constitucional. Para os liberais, uma prova segura dessa disposição era o prestígio dado no Estado ao cafeísmo, cuja sustentação política assentava, segundo a visão do grupo, na agitação das massas operárias. O rompimento definitivo entre as duas correntes se deu em junho de 1932, com a fundação da União Democrática Norte-RioGrandense, sob a direção do monsenhor João da Matha Paiva e Gentil Ferreira de Souza, ambos revolucionários desiludidos (SPINELLI, 1996, p. 94).
Levante Comunista
O Levante foi executado pela Aliança Nacional Libertadora (ANL), inspirada na trilogia “Terra, Pão e Liberdade”, com a liderança do seu presidente de honra Luís Carlos Prestes – o “Cavaleiro da Esperança”. Atuava em contraposição ao Movimento Integralista, de característica fascista, e seu objetivo era derrubar o Presidente Getúlio Vargas e instalar um governo socialista no Brasil.
A Revolução Comunista terminou sendo deflagrada apenas em Natal, Recife e Rio de Janeiro. O estopim do Levante decorreu de algumas ações restritivas que o governo Vargas passou a impor aos sindicatos e movimentos populares de esquerda.
Apesar da resistência armada em alguns lugares, como nos quartéis da Polícia, no Pelotão de Cavalaria da Polícia e na Escola de Aprendizes Marinheiros, a cidade ficou em poder dos revoltosos que organizaram um Governo Popular Nacional Revolucionário.
Muitas autoridades estaduais civis e militares, como o capitão corveta Leonel Bastos, comandante da Escola de Aprendizes Marinheiros e o deputado Pedro Matos, se refugiaram (asilo político) em navio de guerra de bandeira mexicana que estava ancorado no Porto da Ribeira. Algumas dessas pessoas estavam no Teatro Carlos Gomes quando tomaram conhecimento da insurreição comunista.
Tropas da Paraíba e do Ceará marcharam contra Natal e destruíram o sonho revolucionário. De acordo com a escritora Flávia de Sá Pedreira, os principais líderes presos sofreram humilhações, 1.039 pessoas foram indiciadas em processos no RN, sendo 695 residentes em Natal. 154 pessoas foram condenadas à prisão, onde conviveram com presos comuns.
Segunda Guerra Mundial
Uma das maneiras de tentar encobrir a presença de militares norte-americanos pelas ruas de “Natal foi a obrigatoriedade de que usassem trajes civis, em respeito a neutralidade” (PINTO, 1995, p. 60). Mesmo que o projeto tenha sido mantido em segredo, a população de Natal parecia perceber o que estava acontecendo (SMITH, 1992, p. 25), seja pelas mudanças que se processavam nas instalações militares da cidade, como a transformação do velho Batalhão de Caçadores num Regimento de Infantaria, a ampliação das Docas e a desapropriação de uma grande área vizinha à Escola de Aprendizes de Marinheiros (PINTO, 1995, p. 57).
Paralelamente ao aumento da presença militar dos Estados Unidos no Nordeste, o governo brasileiro também passou a incrementar o efetivo militar na região, enviando para Natal o almirante Ary Parreiras com a incumbência de construir a Base Naval. A área escolhida para a construção da Base Naval foi o Refoles, no bairro do Alecrim, onde funcionava a Escola de Aprendizes de Marinheiro. A Marinha americana, instalada na Rampa, trabalhava harmoniosamente com a Marinha brasileira.
Com a 2ª Guerra Mundial, o bairro do Alecrim desenvolveu-se de vez. A instalação da Base Naval, onde antes era a escola de aprendizes marinheiros, trouxe grandes vantagens para a infraestrutura do Alecrim, mudando a paisagem urbanística do bairro. A presença militar proporcionou a construção de dois clubes no Alecrim, fora da Base. Os clubes Atlântico (1963) e o Camana (1982) significaram mais opções para os natalenses realizarem seus eventos, além de garantira prática de esporte e lazer para os soldados.
Fontes:
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Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.
Caminhos que estruturam cidades: redes técnicas de transporte sobre trilhos e a conformação intra-urbana de Natal / Gabriel Leopoldino Paulo de Medeiros. – Natal, RN, 2011.
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O VOO DE ARTURO FERRARIN E CARLO DEL PRETE A NATAL EM 1928 E O NOSSO MAIS IMPORTANTE PRESENTE – TOK DE HISTÓRIA – https://tokdehistoria.com.br/2011/05/03/o-voo-de-arturo-ferrarin-e-carlo-del-prete-a-natal-em-1928-e-o-nosso-mais-importante-presente/ – Acesso em 15/12/2021.
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RELATÓRIO DE PRESIDENTE DE PROVÍNCIA. Relatório Provincial de 1877. Relatorio com que o exm. sr. dr. José Bernardo Alcoforado Junior passou a administração da provincia do Rio Grande do Norte ao exm. sr. dr. Antonio dos Passos Miranda no dia 20 de junho de 1876. Rio de Janeiro, Typ. Americana, 1877.
RELATÓRIO DE PRESIDENTE DE PROVÍNCIA. Relatório Provincial de 1878. Relatorio com que installou a Assembléa Legislativa Provincial do Rio Grande do Norte no dia 4 de dezembro de 1878 o 1.o vice-presidente, o exm. sr. dr. Manoel Januario Bezerra Montenegro. Pernambuco, Typ. do Jornal do Recife, 1879.
RELATÓRIO DE PRESIDENTE DE PROVÍNCIA. Relatório Provincial de 1883. Falla com que o excellentissimo senhor dr. Francisco de Gouveia Cunha Barreto, presidente da provincia, abrio em 9 de fevereiro de 1883 a segunda sessão ordinaria da Assembléa Legislativa Provincial do Rio Grande do Norte. Pernambuco, Typ. de Manoel Figueiroa de Faria & Filhos, 1883.
SMITH JUNIOR, Clyde. Trampolim para a Vitória. Natal: EDUFRN, 1992.
SPINELLI, José Antônio. Getúlio Vargas e a oligarquia potiguar – 1930-35. Natal: EDUFRN, 1999.
Belíssimo trabalho de pesquisa.
Gostaria de ter esse arquivo em PDF para minha coleção de artigos sobre as Escolas de Aprendizes. Pretendo montar um acervo para um trabalho que estou desenvolvendo.
Desde já agradeço.
Pedro Moura