Made in Natal
“Natal, considerada ainda menina pelos
poetas e pequena pelos filósofos, dá áreas
de adulta e grande em certas horas.”
A República, 13 de janeiro de 1942.
Aos 27 dias de Junho de 1943, o “A República” já noticiava as boas-vindas ao General Antônio Fernandes Dantas, recebido pelos militares com festas e corso pela cidade, até mesmo o Aero Clube sediou festa ao novo interventor, enquanto salientavam o árduo trabalho ao longo de oito anos de administração do interventor Rafael Fernandes, conhecido por ter feito parte de todo o processo de tornar o Rio Grande do Norte uma rota militar efetiva.
Cleantho Homem de Siqueira, ex-combatente da FEB, em entrevista (2002) na cidade de Natal à historiadora Pedreira (2015), diz:
Nossa cidade em 1939, quando iniciou a guerra, terminava no Aero Clube, pra lá não havia absolutamente nada, nada… Era mato. O quartel do 16º. RI [Regimento de Infantaria] foi inaugurado em 42, em 39 não tinha nada. O começo de tudo foi em 1942. O aspecto físico da cidade mudou, foi se expandido lá pros lados do Tirol em princípio […]. Houve uma mudança muito grande em Natal.
Esse foi o caminho político construído entre as esferas de sociabilidade da
Primeira e Segunda República na cidade e no estado. A criação de ambientes propícios, que desmistificou o fato da cidade ter entrado para o progresso e para o novo só a partir da convivência com os norte-americanos na década de 1940, esse acaba por ser um contato que criou míticas vivências
diferenciadas, já que se aprofundou o contato com o American Way of Life – estilo de vida americano.
O entendimento do espaço desses acontecimentos também se tornou necessário durante o período explicitado aqui, visto que a cidade de Natal ocupava a região do Nordeste, que se configurava no político administrativo de forma diferente, o que incluía um discurso formulado também de maneira diversa sobre o mesmo.
O Nordeste é uma criação discursiva, um espaço imaginário, do contexto dos anos de 1920, com a seca, os coronéis e a visão das pequenas cidades, subsidiado por um espaço de saudade criado pelas elites locais, que ao perder o domínio econômico do Brasil, para o eixo Sul, busca uma sustentação nos momentos já vividos, isso apaga a multiplicidade e as diferenças individuais em nome da semelhança do grupo.
O Estado Novo no controle da informação cotidiana: o caso da cidade de Natal (1941-1943) a partir do jornal “A República” / Fernanda Carla da Silva Costa. – João Pessoa, 2019.