Natal contra as trevas
As preocupações dos parlamentares com relação ao suprimento de energia fizeram parte do empenho das elites governantes em combater a deficiência energética do Brasil, que entrou no século XX convivendo com o fantasma do atraso, corporificado, entre outros aspectos, pela presença das trevas associada à falta de iluminação das cidades.
A falta de iluminação em Natal foi ressaltada por João Carlos Wanderley, quando ocupava o cargo de primeiro vice-presidente da província do Rio Grande do Norte, em 1851. Admirava-se o vice-presidente ser ele o primeiro a mencionar em Relatório o problema da falta de iluminação da capital do Rio Grande o Norte.
Essa citação inaugurou o tópico “Illuminação”, que reapareceu nas Mensagens de Governo sucessivas. Os lampiões, os quais já eram mencionados no trecho do relatório citado, como uma “pequena illuminação”, um improviso frente à falta de recursos do estado
em promover um sistema mais eficiente, chegaram a Natal anos depois dessa primeira referência às trevas que assolavam a cidade durante as noites.
De acordo com Cascudo, no período da queixa do vice-presidente, Natal não possuía nenhum tipo de iluminação: a escuridão era interrompida somente nas noites de festas, quando se promovia uma iluminação de alguns pontos da cidade, de modo rudimentar, utilizando-se “uma quenga de coco, casca de laranja, cheia de azeite de carrapato”. Há várias matérias nos jornais locais que confirmam o depoimento do autor, mencionando a preocupação em iluminar certas ruas da cidade em noites festivas, como casamentos e festas religiosas.
Começou assim a “luta administrativa contra as trevas” em Natal, manifestada a partir de várias iniciativas governamentais, efetuadas por meio de contratos de concessão dos serviços a pessoas ou a concessionárias privadas, e envolvendo incentivos e empréstimos aos poderes públicos. Em 1851, mesmo ano em que se fez a ressalva no Relatório de governo da necessidade de retirar a cidade das trevas, o presidente da província – por meio da Lei n° 255 – autorizou a compra de quinze lampiões, que foram adquiridos em um número maior alguns anos depois (em outubro de 1859).
Legenda: aspecto de Natal no início do século XX. Foto: Bruno Bougard. Foto panorâmica feita da torre da Igreja Matriz.