Joaquim FERREIRA CHAVES Filho

Joaquim Ferreira Chaves Filho (Recife, 15 de outubro de 1852 — Rio de Janeiro, 12 de março de 1937) foi um desembargador e político brasileiro.

Exerceu durante dois mandatos (1896-1900 e 1914-1920) o cargo de governador do Rio Grande do Norte foi Ferreira Chaves. O pernambucano Joaquim Ferreira Chaves Filho (1852-1937) era filho de Joaquim Ferreira Chaves e de Clara Maria de Lacerda Ferreira Chaves.

Casou-se, em 9 de fevereiro de 1875, em Martins, Rio Grande do Norte, com Alexandrina Barreto (5 de outubro de 1854 – 10 de janeiro de 1921), filha de Domingos Velho Barreto e de Inácia Francisca de Albuquerque. Dessa união nasceram quatro filhos, dos quais apenas o mais novo, José Barreto Ferreira Chaves, atingiu a maioridade. Alexandrina faleceu aos 66 anos, vítima de doença de Addison, na sua residência, situada na Rua Conde do Bonfim, nº 70, na cidade do Rio de Janeiro. Seu corpo foi sepultado no Cemitério do Caju, na mesma cidade. Casou-se novamente. Desta vez, com Maria Ferreira Chaves, com quem teve um filho.

Foi ministro da Marinha do Brasil, de 20 de outubro de 1920 a 12 de setembro de 1921, e ministro da Justiça e Negócios Interiores do Brasil, de 3 de setembro de 1921 a 15 de novembro de 1922.

Exerceu também os cargos de promotor, juiz de direito, desembargador e procurador-geral do estado, além do mandato de senador pelo Rio Grande do Norte de 1900 a 1913, de 1920 a 1921 e de 1923 a 1930.

MAGISTRADO

Formou-se bacharel em 1873 pela Faculdade Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito do Recife, sendo logo nomeado para exercer o cargo de promotor público em Palmares (PE) (03 de março a 07 de junho de 1874). Na turma de também se formaram Antonio Herculano de Sousa Bandeira Filho, Domingos Olímpio-romancista, autor de Luzia Homem e Sílvio Romero.

Ainda em 1874 foi transferido para a antiga comarca da Maioridade, atual cidade de Martins (RN) (18.07.1874 a 18.01.1878). Exerceu diversos cargos no Rio Grande do Norte, tendo sido juiz municipal e de órfãos de Pau dos Ferros (23.01.1878 a junho de 1887), juiz de direito de Trairi, com sede em Nova Cruz (l887) e juiz de casamentos em Natal e Juiz Federal em Natal em 1891, PEIXOTO, Renato Amado. Verbete – Ferreira Chaves. In: ABREU, Alzira de (org.). Dicionário histórico biográfico da Primeira República. Op. cit..

Foi investido na chefia da Procuradoria Geral do Estado em 1891 e, dois anos depois, designado desembargador membro do Superior Tribunal de Justiça do Estado, cargo que ocuparia por três anos.

Após a proclamação da República, em 17 de novembro de 1889, Pedro Velho foi aclamado presidente do governo provisório do Rio Grande do Norte, permanecendo no cargo até dezembro de 1889, quando o governo federal nomeou Adolfo Gordo para substituí-lo.

Quando ocorreu a proclamação da República, Ferreira Chaves era juiz no município de Trairi, atual Santa Cruz. Posteriormente, exerceu o cargo de juiz de casamentos em Natal. O primeiro casamento civil realizado no Rio Grande do Norte, foi celebrado pelo juiz Joaquim Ferreira Chaves, em Natal no dia 9 de julho de 1890. Os noivos eram Felipe Pereira do Lago e Maximina Sinforosa de Castro Barroca. Serviram de testemunhas, Joaquim Xavier da Silva Júnior, então governador do Estado e João Avelino Pereira de Vasconcelos.

Tendo-se aproximado de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, líder do Partido Republicano do Rio Grande do Norte, foi nomeado juiz federal por influência deste, mas sua nomeação foi cassada por Francisco Amintas da Costa Barros, governador do estado (2 de março a 13 de junho de 1891) indicado pelo presidente Deodoro da Fonseca. Ferreira Chaves também foi juiz seccional, posteriormente demitido pelo Barão de Lucena.

Já no governo de Miguel Joaquim de Almeida Castro, aliado de Amintas Barros eleito pelo Congresso Constituinte estadual e empossado em 9 de setembro de 1891, liderou, junto com o antecessor de Amintas Barros, Manuel do Nascimento Castro e Silva, e mais outros correligionários de Pedro Velho, uma conspiração para derrubar o governador. Em 28 de novembro de 1891, Miguel Castro foi deposto, preso e deportado para o Ceará. Ferreira Chaves foi então escolhido para compor, com Francisco de Lima e Silva e Nascimento Castro, uma junta governativa que deveria instalar um novo Congresso Constituinte estadual.

Foi esta Junta Governativa que em1892 que elegeu e instalou um novo Congresso Constituinte estadual. Após cumprir sua missão, a junta entregou o governo em 22 de fevereiro de 1892 ao presidente do Congresso estadual, Jerônimo Américo Raposo da Câmara, o qual, por sua vez, o repassou em 28 de fevereiro a Pedro Velho, eleito governador pelos congressistas. Ainda em 1892, Pedro Velho instalou o Superior Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte e designou Ferreira Chaves como um de seus desembargadores.

Em 1892 Pedro Velho retornou ao cargo de governador permanecendo até 1896, uma vez que venceu as eleições indiretas. Durante o início do regime republicano os governadores foram nomeados por meio de decretos federais. No Rio Grande do Norte, em 1892, o Congresso Estadual elegeu Pedro Velho para o seu segundo mandato. Ainda em 1892, após tornar-se governador, Pedro Velho nomeou Ferreira Chaves como desembargador do Superior Tribunal de Justiça do estado, posto em disponibilidade pelo decreto no 114, de 26.03.1900.

Foi o “imediato” de Pedro Velho, na organização do Estado republicano. “Em suas administrações se houve com prudência e tino, cuidando das finanças. (…) Remodelou inteiramente vários edifícios na capital. cuidando de estradas que tiveram notável desenvolvimento”, (Cascudo). Como político e administrador, foi, sem dúvidas, uma das figuras emblemáticas da República Velha. (Manoel Onofre Júnior).

A oligarquia dos Albuquerque Maranhão foi consolidada a partir do ano de 1892, quando Pedro Velho foi eleito governador do estado do Rio Grande do Norte. A oligarquia foi constituída por ocupações sucessivas do cargo de governadores por irmãos, genros, amigos do governador do Rio Grande do Norte, sendo ocupada respectivamente por: Ferreira Chaves (1896-1900), Alberto Maranhão (1900-1904), Augusto Tavares de Lyra (1904-1906), Antônio José de Melo e Souza (1907-1908), Alberto Maranhão (1909-1913). Em 1914, Ferreira Chaves assume o cargo de governador do estado e quebra a presença da oligarquia Maranhão no poder. A oligarquia Maranhão também se estendeu a ocupação dos cargos políticos de senadores e deputados. Para maiores informações sobre o grupo oligárquico na República, ver: SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte (1889-1930). Natal/RN: editora da EDUFRN, 2008.

A consolidação do domínio Albuquerque Maranhão no Rio Grande do Norte apenas ocorreu em 1895, com a sucessão de Ferreira Chaves no poder estadual, visto que esse foi eleito a partir das articulações políticas promovidas elo grupo de Pedro Velho. Para mais informações acerca da construção do regime republicano no Rio Grande do Norte, ver: BUENO, Almir de Carvalho. Da proclamação da República à eleição de Pedro Velho (1889-1892). In: _. Visões da República: idéias e práticas políticas no Rio Grande do Norte (1880-1895). Natal/RN: EDUFRN, 2002. p.103-136.

Assim, também para Spinelli, Pedro Velho somente conseguiu consolidar-se no poder em 1895, quando indicou Ferreira Chaves para assumir o Executivo estadual, garantindo “o mando absoluto de sua facção até pelo menos 1913 ou 1914, momento em que as primeiras fissuras mais sérias começaram a relegar a oligarquia Maranhão ao ostracismo” (SPINELLI, José Antonio. Coronéis e Oligarquias no Rio Grande do Norte. Op. cit., p.33.). A ideia era indicar alguém que não tivesse parentesco, ainda que advindo de laços de matrimônio, com os Albuquerque Maranhão. Dessa maneira, Alberto indicou o nome de Joaquim Ferreira Chaves, que já tinha demonstrado os vínculos com os Albuquerque Maranhão em sua primeira gestão entre 1896 e 1900.

Rio Grande do Norte em 1908 Em Pé: Francisco Câmara, Henrique Castriciano, Joaquim Scipião e Eloy de Souza. Sentados: Alberto Maranhão e Joaquim Ferreira Chaves

PRIMEIRO MANDATO DE GOVERNADOR

Em 1895 foi realizada, no Rio Grande do Norte, a primeira eleição direta que escolheria o chefe do Executivo estadual. Escolhido por Pedro Velho, o desembargador Ferreira Chaves venceu com facilidade a eleição e, como fiel aliado da família Albuquerque Maranhão, continuou a obra do seu padrinho político, ou seja, continuou com a política de favorecimento do grupo político ao qual pertencia.

Em 1895 Ferreira Chaves foi escolhido por Pedro Velho para ser seu sucessor no governo do Rio Grande do Norte. Ferreira Chaves assumiu a administração do Rio Grande do Norte em 25 de março de 1896, governando o Estado até 25 de março de 1900, quando foi substituído por Alberto Maranhão. Na eleição governamental marcada para 14 de junho de 1895, Ferreira Chaves foi eleito governador tendo como vice Francisco de Sales Meira e Sá. Quarenta e oito horas depois, falecia Moreira Brandão, candidato da oposição. Chaves obteve 10.342 votos, contra 705 do opositor Moreira Brandão.

Junqueira Aires permaneceu em Natal até o final do mês de março, com o objetivo de assistir à posse de Ferreira Chaves, que deveria assumir o governo do Estado em 25 de março de 1896. Por ocasião de sua estada em Natal, Junqueira Aires foi acometido de uma terrível enfermidade, que lhe produziu sofrimento. Seguiu para Recife, em busca de tratamento, ali vindo a falecer no dia 10 de maio de 1896, quando contava apenas 36 anos de idade. Natal já havia prestado uma grande homenagem ao brilhante tribuno, denominando de Junqueira Aires, uma das mais importantes avenidas da Cidade.

O apoio de Pedro Velho foi de grande importância para assegurar a vitória de Ferreira Chaves sobre o oposicionista José Moreira Brandão Castelo Branco. Segundo Mariz e Suassuna (2002, p. 211), a indicação de Ferreira Chaves pelo Partido Republicano do Rio Grande do Norte para governar o estado contrariava “os anseios dos chefes municipais que esperavam a indicação de um nome da região sertaneja”. Como retribuição, o seu governo, que se estendeu de 1896 a 1900, participou de todos os conchavos montados por Pedro Velho.

Foi o primeiro governador do Rio Grande do Norte[1] eleito pelo povo através do voto em aberto, conhecido como “voto de bico de pena”, graças ao qual as oligarquias dominantes se perpetuavam no poder. Ferreira Chaves obteve 10.342 votos, contra 705 do opositor Moreira Brandão.

Eleições diretas, contando com a participação direta da população elegendo o representante do Executivo estadual, passaram a ocorrer no estado a partir de 1895. Assim, Ferreira Chaves foi o primeiro governador do Rio Grande do Norte eleito por meio do voto direto, ver: SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte. Op. cit., P.169-170. Esse período em que Pedro Velho atuou como governador, diferentemente do que alguns autores locais afirmam, não foi capaz de consolidar o grupo Albuquerque Maranhão. Foi um período crítico, de luta pelo controle do aparelho regional, com confrontos diretos. Para Almir Bueno, somente em 1895, com a vitória de Ferreira Chaves nas eleições para governador do estado, que contou com forte apoio de Pedro Velho, o poder da família Albuquerque Maranhão foi consolidado, BUENO, Almir de Carvalho. Visões de República: idéias e práticas políticas no Rio Grande do Norte (1880-1895). Op. cit. p.20. Pedro Velho foi ainda deputado federal durante duas gestões (1891-1892/ 1896) e senador entre 1896 e 1907, PEIXOTO, Renato Amado. Verbete – Alberto Maranhão. In: ABREU, Alzira de (org.). Dicionário histórico-biográfico da Primeira República. Op. cit..

Em seu governo possibilitou que a família Albuquerque Maranhão se consolidasse definitivamente no poder, uma vez que nomeou, contratou e facilitou a ascensão de muitos de seus membros. Em seu primeiro mandato à frente do Executivo estadual, Chaves deu abertura para todos os arranjos políticos que interessavam a Pedro Velho e a sua família.

Em 1898, por exemplo, reformou a Constituição estadual, baixando a idade mínima exigida para o cargo de governador de 35 para 25 anos. Assim, Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão, irmão de Pedro Velho, pôde ser eleito governador em 1899 com apenas 26 anos, o mesmo ocorrendo em 1903 com Augusto Tavares de Lira, genro de Pedro Velho, então com 31 anos. Segundo Ferreira Chaves, o estado continuou sendo governado por Pedro Velho, SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte. Op. cit., p.313-314.

Apesar de ser bem relacionado com a rede de parentela dos Albuquerque Maranhão, sendo o responsável pela reforma na Constituição estadual em 1892 que diminuiu a idade mínima exigida para o cargo de governador de 35 para 25 anos, possibilitando a eleição de Alberto Maranhão quando ele possuía apenas 26 anos, em sua segunda gestão Chaves começou a desmontar em certa medida o aparato que tinha dado sustentação aos Maranhão na cena política estadual.

Remodelou inteiramente vários edifícios na capital, cuidando de estradas que tiveram notável desenvolvimento. Criou a Junta Comercial pela lei 132, de 13·9·1899. A estrada de automóveis Natal ao Seridó, levou seus carros a Santa Cruz. O des. Ferreira Chaves, automóvel e a cavalo, visitou todo o Estado, fiscalizando pessoalmente os trabalhos de utilidade pública e agindo energicamente contra os inevitáveis abusos.

Em seu segundo governo, dentre outras obras, como escolas, construiu açudes no interior (em Martins e em Pau dos Ferros) e estradas, construiu a residência oficial, à qual deu o nome de “Vila Cincinato” em homenagem ao neto, Cincinato Galvão Ferreira Chaves. iniciou a construção do Teatro Carlos Gomes e fez reparos em alguns importantes prédios públicos.

As emissões de apólices montavam a 2.223:600$000 e deixou-as reduzidas a 848:150$090, tendo pago 1.375:500$000. Comprimiu as despesas ao nível necessário, implacável na justa aplicação de todas as verbas. A construção de escolas, a verificação minuciosa dos dinheiros públicos, foram seus maiores cuidado. Possuía Gran-Cruz da Ordem de Cristo, de Portugal, c Tesouro Sagrado, do Japão.

DISPONÍVEL – Apólice de 1914 – primeiro ano de governo de Ferreira Chaves.
Sensacional documento pertencente à história do Rio Grande do Norte.
Primeiro registro de um documento de identidade feito no RN data de 10 de setembro de 1918, e contém a assinatura e as impressões digitais de Joaquim Ferreira Chaves Filho, o primeiro governador do Rio Grande do Norte eleito pelo voto aberto — Foto: Itep-RN/Divulgação. O documento destaca observações interessantes. Como não havia a inclusão do recurso da foto no registro, há detalhes da descrição física de Joaquim Ferreira Chaves Filho, como cor dos olhos, barba, bigode e até a estatura. É possível ver ainda que o registro do ex-governador foi feito quando ele já tinha 65 anos de idade.

COAÇÃO

Também em 1898, com o crescimento da oposição, Ferreira Chaves aposentou por decreto cinco desembargadores mais cinco juízes, entre eles o presidente do Partido Republicano Constitucional. Autoritário, Ferreira Chaves detestava as criticas ao seu governo e perseguia os adversários. Na sua gestão, sob o pretexto de reformar a magistratura do Estado, aposentou cinco juízes e cinco desembargadores, que não rezavam em sua cartilha política. Perseguiu sem tréguas a justiça, a imprensa e a oposição. Seu lema era: “benefícios da lei para os governistas e os rigores da lei para os oposicionistas”.

O seu principal oposicionista era o jornalista Elias Souto, do “Diário de Natal”, crítico feroz dos seus atos administrativos. O governador Ferreira Chaves não lhe dava chance, perseguindo-o por toda parte e forçando-o a render-se, ao que Elias Souto rejeitava e reagia, de maneira violenta, com artigos contundentes e incisivos. Elias Souto, para livrar-se da prisão, requereu “habeas corpus” preventivo.

A atitude tomada pelo governador Ferreira Chaves contra membros do Judiciário obteve a pior repercussão no Rio Grande do Norte, até por sua condição de magistrado. Além dessa desfeita à Justiça, Chaves nomeou para os cargos vagos amigos e advogados inexperientes, mas que eram dóceis à sua vontade soberana; agia como um imperador e não admitia que suas decisões fossem contestadas. A opinião pública do Estado sabia, e a imprensa noticiou que os magistrados aposentados foram vítimas de perseguição política.

CAMPANHA CONTRA O SALVADORISMO

Em 1913, em meio à política do salvacionismo que atingiu também o Rio Grande do Norte e já tinha derrubado em vários estados do país diversos grupos familiares entre 1911e 1912, Ferreira Chaves foi o indicado pelo Partido Republicano do Rio Grande do Norte para concorrer às eleições.

O candidato oposicionista ao governo do Estado era o capitão do Exército José da Penha e o do governo era um pernambucano chamado Joaquim Ferreira Chaves. As discussões, as brigas, andavam espalhadas no chão da cidade. O veneno era também espalhado no recinto das escolas. Essa campanha política se realizou no ano de 1913. O líder da oposição era o capitão do Exército JOSÉ DA PENHA Alves de Souza (Angicos, RN, 13/05/1875-Miguel Calmon, CE, 22/02/1914). O candidato apoiado pelo governo do Estado era o bacharel Joaquim Ferreira Chaves Filho (Recife, 15/10/1852-RJ, 12/03/1937), que já havia governado o Estado no período de 1892 a 1896.

De acordo com Souza, a campanha de José da Penha, no contexto da chamada “salvação nacional”, fez com que o então governador Alberto Maranhão cercasse os escritórios e oficinas dos jornais de oposição, que foram invadidos pelas forças policiais, ocasionando o empastelamento do Diario. O capitão José da Penha liderou a “salvação” no Rio Grande do Norte. Como o mandato de Alberto se encerrava em 1913, Penha articulava fazer de Leônidas Hermes, filho de Hermes da Fonseca, o governador do estado. Todavia, Leônidas não chegou a assumir a candidatura no estado e Penha, afastado por mais de 15 anos do RN, não pôde candidatar-se, já que a legislação eleitoral não permitia, o que levou a vitória de Ferreira Chaves, candidato apoiado pelos Albuquerque Maranhão, ver: SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte. Natal: Editora da UFRN, 2008. p.153-236; p.250-251.

A estratégia de José da Penha fracassou graças a intervenção do senador gaúcho Pinheiro Machado que, aproveitando-se de suas (de Pinheiro Machado) ligações políticas junto a Hermes da Fonseca, impediu o lançamento da candidatura de Leônidas Hermes, facilitando a vitória de Ferreira Chaves e predomínio político da oligarquia Albuquerque Maranhão.

Em 1914, quando se passou a discutir a sucessão do governador Alberto Maranhão, que então encerrava seu segundo governo, o nome preferido no partido era o de Augusto Tavares de Lyra, genro de Pedro Velho. Contudo, um dado novo surgira na política nacional: o salvacionismo. Todavia, com o movimento de salvação em pleno vigor, era preferível lançar a candidatura de um político que não fosse membro da família Albuquerque Maranhão, Para mais detalhes sobre a política salvacionista no Rio Grande do Norte, ver: SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte. Op. cit., p.200-236. Ferreira Chaves venceu as eleições e exerceu o cargo de governador até 1920.

O ano de 1914 é mesmo marcante para a Intendência da capital. Mas não, certamente, pelo reboliço, podemos assim dizer, que se tornou o cenário político no Rio Grande do Norte, com a campanha de José da Penha. O potiguar natural de Angicos e que se estabeleceu no Ceará, voltou à sua terra para ser o seu “salvador”. Acabou tornando-se um dos principais atores da primeira disputa eleitoral ocorrida na história republicana do Rio Grande do Norte. No fim, como se sabe, Leonidas Hermes, candidato do capitão José da Penha e filho do então presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca, nem chegou a pôr os pés em solo potiguar, e Ferreira Chaves, apoiado pelos Albuquerque Maranhão, acabou sendo candidato único ao governo do Estado. Na linha sucessória do governo do Estado, o nome da vez era o de Tavares de Lyra. Todavia, diante do temor de que a Campanha Salvacionista alcançasse seus intentos no Rio Grande do Norte, Alberto Maranhão optou pelo nome de Ferreira Chaves, um aliado de longa data que governara o estado entre 1896 e 1900, mas que não pertencia à família Albuquerque Maranhão. Ver SOUZA, Itamar. A República Velha no Rio Grande do Norte, p. 217-218.

O capitão José da Penha desnorteado, retira-se da campanha. O Desembargador Joaquim Ferreira Chaves vence a eleição sem competidores e garante por mais alguns poucos anos, a permanência da oligarquia no poder. Contudo, a caminhada iniciada não teria mais volta. Era o começo do fim da oligarquia Maranhão. O filho do Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca – Capitão Leônidas Hermes da Fonseca – perdeu a eleição para Governador do RN para o Senador Joaquim Ferreira Chaves. A candidatura de Leônidas foi contestada inclusive pelo pai.

Ferreira Chaves, que tinha o apoio de Pinheiro Machado e credenciais de fidelidade incontestáveis, surgiu então como o candidato ideal. Não deixou, contudo, de ser lembrado por Tavares de Lira de que estava lhe guardando a vaga, como informa Itamar de Souza. Ganhou as eleições este último, substituindo o Governador Alberto Maranhão que encerrava seu segundo período de governo (1908-1914).

A campanha de 1913 foi a primeira com forte apelo popular no Rio Grande do Norte. Era a época das Salvações, e o capitão José da Penha procurou desestabilizar a oligarquia Albuquerque Maranhão, lançando a candidatura de Leônidas Hermes, filho do Presidente da República, Hermes da Fonseca. Segundo Monteiro (2000, p. 173-174), a oposição ao governo de Alberto Maranhão não representava ruptura com o modelo político, econômico e social vigente no estado. Diz a historiadora que, sentindo-se incomodado com presença de José da Penha, a oligarquia Albuquerque Maranhão, aliada às lideranças políticas do Seridó, lançou a candidatura do ex-governador Ferreira Chaves, e fez uso da violência contra a oposição, “impedindo comícios, fechando jornais de oposição e provocando tiroteios nas ruas”, o que garantiu a eleição do candidato da oligarquia dominante para mais uma gestão (MONTEIRO, 2000, p. 174). O cientista político e professor José Spinelli (1996), apesar de reconhecer o caráter anti-oligárquico da campanha de José da Penha, apontando-o como o primeiro a tentar mobilizar as massas e a denunciar o patrimonialismo que viceja no aparelho estatal, argumenta que ele não estende “sua crítica ao Estado Nacional, no qual inclusive pretendia se apoiar”. As suas críticas, diz Spinelli, fez emergir “todos os poderes do arsenal repressivo.” Completamente isolado, “sem apoio, humilhado, tiroteado, o capitão Penha não resistiu e se retirou do Estado” (SPINELLI, 1996, p. 21).

Em 1º de janeiro de 1914, Ferreira Chaves assumiu novamente a administração do Rio Grande do Norte, após sair vencedor nas eleições ocorridas no ano anterior. Permaneceu no poder até 1920. Ferreira Chaves não apenas não renunciou, como passou a desmontar todo o aparato que havia possibilitado aos “pedrovelhistas” dominar a cena política do estado. Logo extinguiu vários cargos públicos e suspendeu os contratos que beneficiavam os “pedrovelhistas”, entre os quais o monopólio do sal e o monopólio da carne verde.

O escritor Henrique Castriciano ocupou cargos de secretário do governo de Alberto Maranhão (1900), vice-governador de Ferreira Chaves (1913), e, ainda, presidente do Congresso Legislativo. Ao retornar da Europa, Henrique continuou ocupando notáveis cargos políticos. Foi eleito deputado estadual e, posteriormente, vice-governador. Entre os anos de 1915 e 1924, o poeta tornou-se vice-governador das gestões estadual de Joaquim Ferreira Chaves de Melo e de Antônio José de Melo e Souza (SOUZA, Itamar. A República Velha no Rio Grande do Norte. Op. Cit. p. 398.).

Venceu as eleições o candidato do governo. Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão entregava as rédeas da administração estadual ao desembargador Joaquim Ferreira Chaves, que, trazendo a família para Natal, com ele veio o filho mais velho, José Chaves, que o melhor que sabia fazer era jogar bilhar. Era mesmo campeão. Ninguém lhe ganhava uma partida. Quando iniciava uma partida, o parceiro podia ficar sentado, por quanto suas menores tacadas eram de noventa, cem e mais pontos.

O palacete onde residiram os governadores: Pedro Velho, Tavares de Lira e Ferreira Chaves.

SEGUNDO MANDATO DE GOVERNADOR

Ao assumir, Ferreira Chaves (candidato do grupo Albuquerque Maranhão à sucessão de Alberto Maranhão, mesmo contra a vontade deste) procurou fazer um governo austero, visando equilibrar o orçamento estadual: demitiu funcionários, reduziu subvenções e suprimiu gratificações, além de anular alguns contratos celebrados no governo de Alberto Maranhão, por considerá-los lesivos aos cofres públicos.

Nesse sentido, em 1914 extinguiu cargos públicos e desfez contratos que beneficiavam tal família, como o que estabelecia o monopólio do sal e o monopólio da carne verde. Ferreira Chaves lançou ainda uma lei eleitoral, em 1916, que tornava inelegível para o cargo de governador parentes consanguíneos (até o terceiro grau) do governo atual ou do anterior (PEIXOTO, Renato Amado. Verbete – Alberto Maranhão. In: ABREU, Alzira de (org.). Dicionário histórico biográfico da Primeira República. Op. cit.). Além disso, a campanha contra o cangaceirismo lançada por Chaves também contribuiu para enfraquecer politicamente a rede de parentela dos Albuquerque Maranhão, uma vez que muitos políticos que davam asilo a cangaceiros foram perseguidos e desarmados (SPINELLI, José Antonio. Coronéis e Oligarquias no Rio Grande do Norte. Op. cit., p.47.).

Um dos primeiros atos de do governador Alberto Maranhão para homenagear seu irmão foi instituir, por meio da Lei nº 175 de 26 de agosto de 1902, um feriado estadual no Rio Grande do Norte – 12 de maio – rememorando o dia e mês da morte de seu irmão aviador, morto em acidente em 1902, ao sobrevoar Paris a bordo do dirigível PAX. Esse feriado foi revogado durante o segundo governo de Joaquim Ferreira Chaves (1914 a 1920) por meio da Lei nº 376 de dezembro de 1914.

Várias outras realizações deram-lhe o renome de administrador dinâmico e austero. “Extinguiu o monopólio que pesava sobre a indústria salineira, principal fonte de renda pública, pela anulação de concessão fiscal arrecadadora existente; suprimiu o dízimo de gado grosso, beneficiando assim o criador, combateu os surtos de proteção a criminosos nos pontos mais distantes, cortou verbas supérfluas no orçamento, mantendo o funcionalismo em dia; iniciou em seu governo o pagamento do empréstimo externo; construiu na Capital as Praças Sete de Setembro em 1914 e Leão XlII, favoreceu a construção da igreja de São Pedro no desenvolvimento do bairro do Alecrim: incentivou as sociedades esportivas e operárias. Reservando representações destes órgãos legislativos do e do Estado; inaugurou e auxiliou a construção de escolas e grupos escolares, declinando a homenagem de seu nome no Grupo Escolar de Parelhas para indicar o do Barão do Rio Branco (…) O Instituto de Proteção e Assistência à Infância, a Escola Doméstica, os Escoteiros do Alecrim, instituições hospitalares receberam do Governo Ferreira Chaves os impulsos decisivos. Iniciativa sua foi a criação do Campo de Aviação, nomeando-lhe Diretor o Comandante Monteiro Chaves, da Escola de Aprendizes Marinheiros” (João Vicente da Costa).

O prédio da Associação de Escoteiros do Alecrim foi construído pelo Governador Joaquim Ferreira Chaves, na rua Fonseca e Silva, 1103, aonde é o Instituto Padre Miguelinho. Teve o reconhecimento de utilidade pública por lei n° 491, 01/12/1920. Mantinha os cursos profissionalizantes com 5 oficinas de marcenaria, sapataria, serralheria, artes gráficas e alfaiataria, tínhamos um consultório odontológico e temos ainda um túmulo, no Cemitério de Alecrim. Possuímos uma charanga com 20 figuras, a tradicional “Banda de Música dos Escoteiros do Alecrim”, criada em 02/05/1918 pelo nosso patrono Luiz Soares e tocou pela primeira vez, no dia 15/10 do mesmo ano, numa solenidade de formação na praça Pedro Velho, no bairro de Petrópolis, estreou fazendo alvorada pelo natalício do governador Ferreira Chaves, na sua residência oficial. Em 1972, a referida banda deixou de existir.

Ferreira Chaves, no seu governo, quebrou o monopólio do sal no Rio Grande do Norte, pertencente à Companhia Comércio e Navegação, que, a pretexto de defender os salineiros através de um “sindicato”, transformou-se num monopólio lesivo aos interesses do Rio Grande do Norte. Chaves entrou na briga, ganhou a causa, e o Estado passaria a receber muito mais, eliminando assim o prejuízo que, há muitos anos, o erário vinha sofrendo.

Segundo se comentava na época, a Companhia Comércio e Navegação tinha obtido esse favorecimento porque ajudava as campanhas políticas do grupo governista. Deve ter sido essa a única vez que Ferreira Chaves contrariou os interesses do seu protetor. Ao terminar o seu primeiro mandato, elegeu-se senador
através de uma jogada política. Pôs um candidato “laranja” ao Senado, Francisco Rocha Fagundes, conhecido como “Chico Gordo”. Meses depois, este renunciava ao mandato, como a oposição denunciara, e, logo depois, o ex-governador Ferreira Chaves era eleito para o Senado da República. Antes de concluir o governo, dotou Natal da iluminação de gás acetileno.

Em 1916 reformou a lei eleitoral do estado, tornando inelegíveis para o cargo de governador os parentes consanguíneos e afins, até o terceiro grau, do governador do quadriênio em curso ou do quadriênio anterior; e inelegíveis para deputado os magistrados, governadores, funcionários federais remunerados e o chefe de polícia.

A oligarquia dos Albuquerque Maranhão deixou o governo em 1913. A administração seguinte, a do governador Ferreira Chaves, garantiu maior atenção às classes relacionadas ao comércio, às profissões liberais e, principalmente, às indústrias e seus operários. Suas ações reafirmam a mudança de atuação governamental no campo da habitação social e para com as populações carentes. Foram então inseridas no contexto e nas proposições relacionadas à habitação social, as figuras dos migrantes e dos mendigos, consideradas pelas elites da época, como os principais elementos conformadores das chamadas “classes laboriosas”. Como alternativa de moradia para essa população o governo estadual criou centros e abrigos (PORQUE aparecemos [programa]. Natal Jornal, 04/05/1919, n.01, p.01.).

Por outro lado, as disputas que envolvem o governo do Estado não atingem diretamente os destinos da municipalidade da capital. A fracassada, mas impactante campanha salvacionista no Rio Grande do Norte, que teria consequências mais claras a partir do fim da década de 1910, com o rompimento de Ferreira Chaves com os Albuquerque Maranhão, não é sentida na administração municipal. A Intendência da capital continua a ter valor estratégico, agora atendendo a interesses de um outro grupo, cujas práticas políticas não diferem, porém, significativamente das adotadas pelos que estavam anteriormente no poder. O perfil dos intendentes não é alterado, ao menos até 1924. Em parte porque, como veremos adiante, o cargo de intendente não é alvo de grandes disputas e nem é tomado pelos seus aspirantes como um degrau para se alcançar maiores postos na política. Nenhum intendente tornou-se governador do Estado, deputado federal ou senador. O cargo era, antes, um reconhecimento pela trajetória de alguns homens bem-sucedidos em suas atividades na cidade.

Várias razões podem ser evocadas para explicar este processo. Desde a perda de coesão e capacidade de articulação política da “oligarquia” dos Albuquerque e Maranhão após mais de duas décadas à frente do poder estadual, principalmente depois do falecimento do seu principal líder, o médico Pedro Velho; pelo declínio do principal sustentáculo econômico desse grupo político: a indústria canavieira; ou pela própria fragilidade econômica do estado, incapaz de suportar a sobrecarga no orçamento causada pelo pagamento dos juros e pela amortização do empréstimo francês de 1909; pelo início da Primeira Guerra Mundial, que causou a desvalorização de diversos produtos exportados pelo porto de Natal, e pela grande seca de 1915 – embora não tão calamitosa quanto às de 1877 e 1904 – “responsável” pelo êxodo de mais de seis mil norte-rio-grandenses para o norte e sul do país e pelo prejuízo de mais de 70% na pecuária, como afirmou o governador que sucedeu Alberto Maranhão entre 1914 e 1919, o ex-desembargador Ferreira Chaves – Ferreira Chaves, 1916, p.05-10.

Quando Governador, elevara à categoria de cidade as, então, Vilas de Acari, em 15 de agosto de 1898, Caraúbas e Santa Cruz em 30 de novembro de 1914 (lei nº 372) e Nova Cruz (lei nº 470) de 3 de dezembro de 1919; inaugurara a Praça Sete de Setembro (1914); construíra a Estrada Natal-Seridó, escolas, açudes públicos e, enfim, mantivera severo controle das finanças estaduais.

ROMPIMENTO

Vale ressaltar ainda que, em 1917, o governador do estado era Ferreira Chaves, que já tinha começado a romper os laços com o grupo familiar Albuquerque Maranhão, grupo que o ajudou a ganhar as eleições em 1913, em meio à política de Salvação. Essa política tinha como objetivo retirar dos estados os membros dos grupos familiares que dominavam há anos o poder público. Sobre a política de salvação no Rio Grande do Norte, ver: SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte. Op. cit., p. 200-207.

Chaves já tinha apoiado o grupo familiar Albuquerque Maranhão em sua primeira gestão à frente do estado entre 1896 e 1900. Contudo, na sua segunda gestão (1914-1918), Ferreira Chaves afastou-se desse grupo familiar, desfazendo contratos celebrados na gestão anterior e demitindo funcionários que tinham relações estreitas com essa família, Sobre o segundo mandado de Ferreira Chaves, ver: SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte. Op. cit., p.331-335. Segundo Eloy de Souza, Chaves era um homem “impetuoso, desabrido, às vezes brutal, mas compreensivo e bem educado”, SOUZA, Eloy. Memórias. Op. cit., p.357.

A historiografia local ainda não forneceu subsídios suficientes para explicar os motivos que teriam levado esse rompimento entre Chaves e a família Albuquerque Maranhão, que o ajudou a assumir o governo do estado em seus dois mandatos. Itamar de Souza e José Antônio Spinelli conjecturam que a raiz desse rompimento estaria relacionada com a pretensão de Augusto Tavares de Lyra, casado com a filha de Pedro Velho, em voltar a chefiar o governo estadual, SPINELLI, José Antônio. Coronéis e oligarquias na Primeira República. Op. cit., p.20; SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte. Op. cit., p.218.

Esses autores destacaram que a pretensão de Alberto Maranhão, na ocasião das eleições que escolheria o seu sucessor para iniciar o mandato em 1914, era indicar Tavares de Lyra. Todavia, com a campanha salvacionista atingindo o estado, era necessário camuflar essas relações de parentesco, por isso o nome indicado para as eleições foi o de Ferreira Chaves. Contudo, mesmo com a vitória de Chaves, existia o boato de que, após seis meses, quando a campanha salvacionista estivesse esfriado, Chaves renunciaria e novas eleições para o Executivo estadual seriam realizadas, dessa vez elegendo Tavares de Lyra, SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte. Op. cit., p.218.

Dessa maneira, a historiografia local conjectura que essas pretensões de Lyra podem ter provocado o rompimento de Chaves com os Albuquerque Maranhão. Esse rompimento ocorreu formalmente, segundo Spinelli, em 1919, quando Chaves, ao organizar a chapa com os nomes que concorreriam às eleições para deputados estaduais, não lançou o nome de Paulo Maranhão, cunhado de Lyra e sobrinho de Alberto Maranhão, SPINELLI, José Antônio. Coronéis e oligarquias na Primeira República. Op. cit.,, p.23.. O corte de laços fomentou até mesmo a criação do jornal oposicionista A Opinião, Jornal que circulou na capital entre 1919 e 1923, fundado por Alberto Maranhão e Tavares de Lyra para fazer oposição ao governo de Chaves, que nesse período utilizava o jornal A Republica como periódico oficial do seu partido, SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte. Op. cit., p.181.

Mesmo perdendo progressivamente o controle da máquina política, os Albuquerque Maranhão e sua rede de parentela e influência mantiveram postos eletivos, cargos e influência na política federal até 1929, SPINELLI, José Antônio. Coronéis e oligarquias na Primeira República. Op. cit., p.21. Além disso, as práticas utilizadas por esse grupo familiar, o nepotismo, nomeações de parentes para cargos públicos, a perseguição à oposição, e a dificuldade de separar o poder público dos interesses privados, permaneceram nas administrações que sucederam o segundo governo de Alberto Maranhão e mantiveram-se também entre os representantes do grupo político do Seridó, ARRAIS, Raimundo; ANDRADE, Alenuska; MARINHO, Márcia. O corpo e a alma da cidade: Natal entre 1900 e 1930. Op. cit., p.70-73. Vale ressaltar ainda que, com o domínio do grupo político do Seridó, Ferreira Chaves voltou a aproximar-se dos Albuquerque Maranhão, demonstrando como eram fluidas e instáveis essas alianças entre os políticos da Primeira República no Rio Grande do Norte, SPINELLI, José Antônio. Coronéis e oligarquias na Primeira República. Op. cit., p.26.

A decadência da carreira de Henrique Castriciano acompanhou o declínio do grupo político e familiar Albuquerque Maranhão. A eleição de Joaquim Ferreira Chaves para o cargo de governador do Rio Grande do Norte, em 14 de setembro de 1913, deu início ao afastamento do controle político mantido até então por aquele grupo. Por meio de articulações políticas, Joaquim Ferreira Chaves impossibilitou possíveis candidaturas de Alberto Maranhão, de Augusto Tavares de Lyra. Ainda assim, o grupo Albuquerque Maranhão conservou alguns cargos eletivos e de influência na política federal. Henrique Castriciano faleceu no ano de 1947 na cidade do Natal.

Apesar desse rompimento entre Chaves e os Albuquerque Maranhão, a historiografia local não considera que o governo de Chaves teria marcado o fim do sistema
político dominado pelos Maranhão e a ascensão de um novo grupo. Para esses autores, o governo de Chaves representou apenas uma fase de domínio pessoal de Ferreira Chaves, que se estendeu na administração de Antônio Souza, eleito chefe do Executivo estadual, para a gestão de 1920-1923, com o apoio de Chaves, representando uma fase instável de equilíbrio entre os grupos, SPINELLI, José Antônio. Coronéis e oligarquias na Primeira República. Op. cit., p.13; MACÊDO, Muirakytan K. de. A penúltima versão do Seridó: uma história do regionalismo seridoense. Natal: Editora da UFRN, p.209. A dominação de um novo grupo político ocorreu somente a partir de 1924, com a eleição de José Augusto Bezerra de Medeiros, marcando a consolidação do que José Antônio Spinelli denominou de “sistema político do Seridó”, SPINELLI, José Antônio. Coronéis e oligarquias na Primeira República. Op. cit., p.19..

SENADO

Com a morte em 1899 de Almino Álvares Afonso, abriu-se uma vaga no Senado. Embora Ferreira Chaves desejasse a vaga, não queria renunciar ao governo. Articulou então, junto com Pedro Velho, a eleição de Francisco Gomes da Rocha Fagundes, antigo correligionário do Partido Republicano, apenas para guardar a cadeira no Senado até sua desincompatibilização, que ocorreria em 25 de março de 1900. Assim, Rocha Fagundes, que foi empossado em 20 de abril de 1900, renunciou em 10 de julho, abrindo a vaga para que Ferreira Chaves pudesse ser eleito e empossado em 25 de agosto, o que de fato ocorreu em 4 de outubro.

Com o término do mandato, em 1900, Chaves assumiu no mesmo ano o cargo de senador pelo Partido Republicano Federal do Rio Grande do Norte.

Em 1903, Ferreira Chaves foi eleito para renovação de um terço do Senado, o que lhe valeu a permanência por 9 anos naquele cargo – 1903-1911. Participou várias vezes da Mesa do Senado e atuou nas comissões de Constituição, Poderes e Diplomacia, e de Constituição e Justiça. Aproveitou para ligar-se estreitamente a José Gomes Pinheiro Machado, amizade que seria determinante para seu futuro político.

Foi tendo sido reeleito em 1912, permanecendo assim no Senado Federal durante 15 anos. No Senado, entre outras atividades relevantes, exerceu, várias vezes, o cargo de 1o Secretário. Reeleito senador (1912), renunciaria ao mandato no ano posterior por ter sido, pela segunda vez, eleito Governador para o sextênio 1914-1920, entrando no exercício das novas funções a 01.01.1914 (administraria o Rio Grande do Norte até 01.01.1920, quando passou o cargo a Antônio José de Melo e Souza -, a este porém substituindo poucos meses depois na vaga deixada no Senado).

Depois, manejando a máquina governamental, elegeu seu próprio candidato ao governo do estado, o senador Antônio José de Melo e Sousa, que tomou posse em 25 de março de 1920 e, por sua vez, cedeu-lhe a vaga no Senado.

Entretanto, como o então presidente Epitácio Pessoa desejava contar com Tobias do Rego Monteiro no Senado, nova articulação entrou em pauta: em troca da vaga de senador, Ferreira Chaves foi indicado para o Ministério da Marinha e depois para o Ministério da Justiça e dos Negócios Interiores. Ocupou a pasta da Marinha de 20 de outubro de 1920, quando substituiu Raul Soares, a 12 de setembro de 1921, quando foi substituído por João Pedro da Veiga Miranda, e em seguida assumiu a da Justiça, no lugar de Alfredo Vieira de Melo, até 15 de novembro de 1922, quando entrou em seu lugar João Luís Alves.

Posse do Ministro da Marinha, Ferreira Chaves [1920]
Visita do Ministro da Marinha Dr. Joaquim Ferreira Chaves à Escola de Aviação Naval, Ilha das Enxadas.
SÃO PAULO Às 13h deste sábado (3), Joaquim Ferreira Chaves Filho, que já está à frente do Ministério da Marinha, assumiu o cargo de ministro da Justiça e Interior no lugar de Alfredo Pinto. O ex-ministro se despediu dos auxiliares e fez para eles a apresentação do sucessor. Ferreira Chaves agradeceu, enalteceu o talento de Alfredo e o acompanhou até a porta, junto com todo o pessoal. No saguão do Ministério, a banda da força policial se apresentou. Também os jornalistas fizeram uma manifestação de despedida para Alfredo, oferecendo-lhe um ramalhete de flores artificiais. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/banco-de-dados/2021/09/1921-ferreira-chaves-assume-o-comando-do-ministerio-da-justica-e-interior.shtml

Em 1923, Ferreira Chaves obteve pela terceira vez a indicação do Partido Republicano para concorrer ao governo do Rio Grande do Norte. Mas, dessa vez, a chamada “facção do Seridó”, apoiada pelo presidente da República Artur Bernardes e reorganizada pelos deputados federais Juvenal Lamartine de Faria e José Augusto Bezerra de Medeiros, conseguiu destituí-lo da chefia do partido e indicar José Augusto para governador.

Por conseguinte, a única saída que restou a Ferreira Chaves foi voltar para o Senado na vaga de Tobias Monteiro, que renunciou, permitindo que fosse eleito naquele mesmo ano.

Na legislatura seguinte (11ª, 1921-1923), havendo renunciado o Senador Tobias Monteiro, foi novamente eleito a 4 de março de 1923, fato que se repetiria em 1924 (desta vez, inclusive, por nove anos -1924-1932), período que seria interrompido face à dissolução do Senado pelo processo revolucionário desencadeado em outubro de 1930. “Sua popularidade, de 1913 a 1920, tocara as raias do fanatismo” – afirma Cascudo, testemunha presencial.

Em 1924 Ferreira Chaves foi reeleito para um mandato de nove anos, mas com a Revolução de outubro de 1930 e a dissolução de todos os órgãos legislativos do país, afastou-se da política. Faleceu no Rio de Janeiro, a 12 de março de 1937 num modesto apartamento. Tinha 84 anos de idade .

ECONOMIA

De uma exportação de 13 mil toneladas em 1888, cujos valores atingiram mais de 1.300 contos de réis, em 1891 (para 14.323,32 toneladas exportadas), e 1.200, em 1897 (para 9.557,251 toneladas), houve uma depressão acentuada até 1913, com apenas 15,09 toneladas exportadas. Mesmo com a recuperação posterior, a produção e a exportação do açúcar não conseguiram atingir os mesmos patamares do final do século XIX: em 1928 foram exportadas 4.944,48 toneladas, pouco mais de um terço do que já havia sido produzido no auge dessa cultura (Souza, I., 1989, p.40-46).

Objetivando incrementar a economia do estado, incentivou a industrialização, concedendo isenção fiscal aos empresários que investissem no setor industrial; restaurou a liberdade de comércio no setor salineiro, o que aumentou as exportações do setor, bem como a arrecadação de impostos. A sua grande obra, entretanto, foi a construção da Estrada de Automóveis Seridó,facilitando o deslocamento para aquela sub-região do estado. À margem da estrada foi instalada
uma linha telefônica. Ainda no interior, intensificou o combate ao banditismo, prendendo mandantes e executores de crimes, além dos coiteiros. Em Natal, a gestão de Ferreira Chaves também foipositiva. Instalou o Corpo de Bombeiros, urbanizou a cidade, calçando e arborizando as ruas, ampliou as dependências do Hospital Juvino Barreto, edificou o prédio da antiga Escola Doméstica, etc.

Mesmo com os percalços advindos das secas de 1915 e 1919 (aumento do banditismo) e da Primeira Guerra Mundial (queda nas exportações), a administração de Ferreira Chaves (1914- 1920) teve mais aspectos positivos do que negativos. Na sua segunda gestão a frente do Executivo estadual, Ferreira Chaves, auxiliado por José Augusto (Secretário Geral), nomeou os principais assessores do governo e elaborou o plano de governo, desmontando a base política de sustentação da oligarquia Albuquerque Maranhão e deslocando o centro político do estado do litoral para o interior, como reflexo do deslocamento do eixo econômico, fruto da crise da economia açucareira e do ressurgimento do algodão como novo pólo da economia norte-rio-grandense.

Para Spinelli, a indicação de Chaves também foi fruto das pressões do grupo ligado à região do Seridó, que passou a questionar a liderança de Alberto Maranhão (Ibidem, p.43.). Sendo assim, diferente de Souza, Spinelli destacou que o nome de Ferreira Chaves foi indicação da facção do Seridó. O então governador, Alberto Maranhão, enviou um representante para consultar a cúpula federal do partido, que acabou por apoiar a indicação de Chaves. A indicação do governador devia respeitar um “complicado jogo de interesses que incluía, além das conveniências dos grupos dominantes locais, as imposições da camada dirigente que dominava a política federal” (Ibidem, p.44.).

O rompimento formal de Ferreira Chaves com a rede de parentela dos Albuquerque Maranhão ocorreu, de acordo com Spinelli, em 1919, quando Paulo Maranhão, sobrinho de Alberto Maranhão e cunhado de Tavares de Lyra, não foi incluído na chapa para deputados estaduais organizada por Chaves. Esse rompimento teria sido motivado pelas pretensões de Lyra em reassumir o governo, o que poderia atrapalhar os planos de Chaves em continuar à frente do Executivo estadual. O autor caracterizou o governo de 1914 a 1920 como marcado pelo domínio pessoal de Chaves, configurando um equilíbrio instável entre duas facções em luta pelo controle do governo, os Albuquerque Maranhão e o grupo político seridoense. Tal fase, de acordo com Spinelli, foi prolongada no governo de Antônio de Souza, entre 1920 e 1924 (Ibidem, p. 34.).

A trajetória deles mostra, a princípio, que seu poder se construiu no plano local. Como comerciantes, “burgueses”, interessavam-se pelos destinos da cidade e conheciam a comunidade local. Apesar de bem relacionados com os que governavam o estado, como dissemos, não estavam diretamente interessados no plano político estadual. Pouquíssimos ocuparam cargos no alto escalão do governo do Estado; nenhum chegou à Câmara ou ao Senado Federal. Muitos sobreviveram
à transição ocorrida no governo do Estado em fins da década de 1910, com o governador Ferreira Chaves se desligando dos membros da família Albuquerque Maranhão, que até então comandava a política local.

Ainda no final do governo monárquico e durante mais da metade da República Velha, os nossos governantes concederam a algumas companhias o monopólio da extração do sal norte-riograndense. Esse monopólio, lesivo aos cofres públicos e à liberdade de mercado, foi suspenso pelo presidente (governador) Ferreira Chaves, em 1914.

Reunião na casa de José Mariano Pinto (gerente de A Republica). Fonte: Arquivo Giovanni Sérgio. Primeira década do século XX, Vila Vina, Natal. Na esquerda, em primeiro plano Manoel Dantas, Cel. Pedro Soares de Araújo. Em pé da esquerda para a direita Ludovica Medeiros Pinto (esposa de José Mariano), Otávio Pinto (criança), Francisca Bezerra (esposa de Manoel Dantas), Alberto Roselli e José Mariano. Na mesa Joaquim Ferreira Chaves, Teófilo Cristiano Moreira Brandão, Padre Ulisses e Inês Maranhão, um papagaio no lado superior esquerdo Informações dada por Anderson Tavares, Historiador e Mestre em educação pela UFRN.

ANTONIO JOSE DEMELO E SOUSA

Foi eleito governador, para um mandato de quatro anos, Antônio José de Melo e Sousa, ao final do seu governo, Ferreira Chaves conseguiu a redução do mandato de governador de seis para quatro anos. E essa nova gestão de Antônio de Sousa a frente do Executivo estadual foi marcada pela ênfase dispensada às áreas educacional (com a construção de 54 escolas primárias), de saúde pública (com a criação de laboratórios, serviços de profilaxia, etc), e de agricultura (Diretoria Geral de Agricultura e Obras Públicas).

O crescimento da cotonicultura potiguar foi responsável pela mudança do eixo político no estado. As eleições para a governança estadual, em 1919, foi o momento em que a oligarquia Albuquerque Maranhão cedeu espaço para os representantes dos Bezerra de Medeiros. Naquele ano, Ferreira Chaves, nascido politicamente pelas mãos de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, elegeu como seu sucessor Antônio José de Melo e Souza. Entre 1892 e 1895 ocupou o cargo de Diretor Geral de Instrução Pública no governo do líder dos Albuquerque Maranhão, e entre 1895 e 1899, durante o governo de Ferreira Chaves, exerceu o cargo de Procurador da República do Rio Grande do Norte. Em 1899 tornou-se Secretário do Governo do estado, PEIXOTO, Renato Amado. Verbete – Antônio de Souza. In: ABREU, Alzira de (org.). Dicionário histórico-biográfico da Primeira República. Op. cit.

Em 1920 deixou o senado para concorrer às eleições para governador, contando com o apoio de Ferreira Chaves, que já tinha rompido com os Albuquerque
Maranhão. Esse fato abriu espaço, posteriormente, para a ascensão política de José Augusto Bezerra de Medeiros, filho de um produtor de um produtor de algodão e governador do estado na década de 1920.

Ao final do seu governo, surgiu uma ferrenha disputa intra-oligárquica visando a indicação para o governo do estado: primeiramente entre Ferreira Chaves e José Augusto; depois, entre Eloy de Souza e José Augusto. A intervenção do Presidente da República Artur Bernardes frustrou os planos de Ferreira Chaves de governar o estado pela terceira vez e sepultou as pretensões de Eloy de Souza, apoiado pelo governador do estado, Antônio de Souza, de ser o candidato oficial.

Em 1923, o Partido Republicano Federal do Rio Grande do Norte indicou Ferreira Chaves para ocupar o Executivo estadual pela terceira vez. Todavia, José Augusto e Juvenal Lamartine, apoiados pelas lideranças seridoenses, aproveitaram suas influências advindas do exercício de mandato federal para buscar apoio nessa esfera. Assim, o então presidente da República, Arthur Bernardes, e deputados federais como Antônio Carlos, Afonso Penna, Vianna do Castello e o senador Bueno Brandão, apoiaram o pleito dos Bezerra de Medeiros em uma espécie de grande acordo. Quando eleito, José Augusto se comprometeria a preservar os mandatos daqueles que lhe apoiaram, desde que estes prestigiassem o então presidente e não prejudicassem “os interesses do Estado”. AUGUSTO, José apud SPINELLI, José Antonio. Coronéis e Oligarquias no Rio Grande do Norte (Primeira República e outros estudos). Op. cit., p.51. O Manifesto de 1927 também acusava José Augusto de desrespeitar o acordo forjado em 1923, ver: POLITICA do Rio Grande do Norte. A Republica, Natal, 21 jan. 1927. Uma nova convenção do partido foi realizada e o acordo foi homologado. José Augusto foi eleito e Chaves se retirou da chefia do partido, que foi ocupada pelo novo governador. SPINELLI, José Antonio. Coronéis e Oligarquias no Rio Grande do Norte (Primeira República e outros estudos). Op. cit., p.51. A ascensão dos Bezerra de Medeiros representava ainda a decadência
do complexo açucareiro e o pioneirismo crescente da atividade algodoeiro e pecuária, articulando-se no Rio Grande do Norte o que Spinelli denominou de “sistema político do Seridó”.

TAVARES DE LYRA

Tavares de Lyra pediu a mão de Sophia Eugênia em casamento, fato que ocorreu no dia do aniversário da noiva aos 21 de janeiro de 1902. A cerimônia religiosa foi celebrada na Capela de São José, da Fábrica de Tecidos de Juvino Barreto e a civil no palacete do Dr. Pedro Velho, pai da noiva. “Os atos civil e religioso estiveram muito concorridos, assistidos como foram pelo que a sociedade natalense tem de mais seleto e mais distinto”. (CONSORCIO…, 1902, p. 01).

Foram testemunhas no ato civil, presidido pelo juiz Dr. Luís Fernandes, o Senador Ferreira Chaves e esposa e o Desembargador Francisco de Sales Meira e Sá e esposa. Já na cerimônia religiosa, oficiada pelo padre José de Calazans Pinheiro, foram padrinhos por parte do noivo, o Capitão João de Lyra Tavares e esposa, e, da parte da noiva o Dr. Alberto Maranhão e esposa.

Ao deixar o ministério da Viação e Obras Públicas, Tavares de Lyra ansiava, segundo (SOUZA, 1989) retornar ao governo do Rio Grande do Norte. Para tanto, insinuou-se diversas vezes ao governador Ferreira Chaves nesse sentido. O governador que fora eleito depois de acirrada campanha realizada contra a Oligarquia Maranhão, pelo capitão José da Penha, em 1913, parecia não concordar com o retorno de Tavares de Lyra ao governo. Parecendo ter sido eleito pela oposição, Ferreira Chaves iniciou, em 1918, uma série de mudanças politicas com o objetivo de se fixar no poder com o seu próprio grupo politico. Com efeito, conseguiu o desmantelamento total da oligarquia, em episódio iniciado com uma serie de demissões e de preterições de candidatos a cargos no Legislativo Estadual, o que culminou com a Carta Aberta de Tavares de Lyra e a consequente resposta de Ferreira Chaves.

Não suportando o desprestígio do ex-amigo e correligionário, o ex-governador e ministro Tavares de Lira rompeu com ele. Escreveu uma “carta aberta” aos seus amigos e correligionários, na qual, depois de explicar o gesto do rompimento formal, recomendou-lhes que “não podendo combater e nem devendo apoiar, nosso caminho está, naturalmente, traçado a abstenção”.

Por fim, Tavares de Lyra sentindo-se desprestigiado politicamente, afastou-se da atividade política militante, aceitando o cargo de ministro do Tribunal de Contas da União, função que exerceu durante mais de 20 anos, isto é, de 1918 a 1940. Contudo, continuou acompanhando atentamente a política estadual, tendo fundado juntamente com Alberto Maranhão o jornal “A Opinião”, que tinha como redator Sandoval Wanderley (1954, p.14) que também fundou o “Centro cívico Tavares de Lyra” na tentativa de combater o governo Ferreira Chaves. No entanto, esta é outra história.

Juntamente com Alberto Maranhão, Tavares de Lira fundou o jornal “A Opinião”, para combater o governador. Mas, apesar da oposição sistemática e virulenta, Ferreira Chaves elegeu seu sucessor, Antônio de Sousa. Ferreira Chaves que nasceu em Recife, em 15/10/1852, e faleceu no Rio de Janeiro, em 12/03/1937.

Difícil foi a análise cientifica diante da louvação descritiva preexistente. Sem elementos que pudessem sugerir, pelo menos, uma “torção” da linha reta, que toda a
bibliografia acerca de Tavares de Lyra tende a ser simpática ao escritor, se não abertamente elogiosas. Mas houve durante os seus mandatos governamentais alguns artigos muito violentos contra o político. De todos, o mais violento, sem dúvida, foi a resposta à Carta Aberta, de Tavares de Lyra, escrita por Ferreira Chaves, a qual contradizia toda as acusações feitas por Lyra contra o antigo aliado, acrescentando todos os bastidores da política oligarca local.

A REPÚBLICA

Entre os redatores do periódico durante alguns anos da República Velha (1891-1900), encontramos nomes importantes e, de certo modo, familiares a esta pesquisa: Pedro Velho, Nascimento Castro, Ferreira Chaves, Alberto Maranhão e Braz Melo, durante o ano de 1891; Pedro Velho, Ferreira Chaves, Alberto Maranhão e Antônio Souza, em 1892; Ferreira Chaves, Alberto Maranhão, Pedro Velho, Eloy de Souza e Augusto Tavares de Lira, de 1892 a 1895; Pedro Velho, Eloy de Souza, Alberto Maranhão e Manuel Dantas, no ano de 1897; em 1898, Alberto Maranhão, Manuel Dantas, Pedro Avelino e Juvenal Lamartine; no ano de 1899, Antônio Souza, Alberto Maranhão, Pedro Avelino, Juvenal Lamartine e Manuel Dantas; em 1900, Antônio Souza, Juvenal Lamartine, Pedro Avelino e Manuel Dantas. Entre 1900 a 1930, alguns desses nomes se repetiram na redação do A Republica. Induzimos tais indivíduos como “nomes familiares”, devido à ligação desses intelectuais com o grupo político e familiar Albuquerque Maranhão.

O jornal A Republica foi criado em 1889 pela iniciativa de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão e publicado durante todo o recorte temporal proposto neste trabalho (FERNANDES, Luis. A imprensa periódica no Rio Grande do Norte de 1832 a 1908. Natal: Sebo Vermelho, 1998. O último número do A Republica circulou em 27 de fevereiro de 1991, ver: FERNANDES, Anchieta. História da imprensa oficial do Rio Grande do Norte. Natal: Departamento Estadual de Imprensa, 2006, p. 175. 28). Esse jornal representou durante largo período o Partido Republicano Federal do Rio Grande do Norte e até 15 de novembro de 1889 foi impresso na tipografia do Correio do Natal (Jornal que, nesse período, publicava os atos oficiais do governo. Ver: FERNANDES, Anchieta. História da imprensa oficial do Rio Grande do Norte. Op. cit., p. 148.).

Após a Proclamação da República, Pedro Velho comprou a referida tipografia a João Carlos Wanderley (Ibidem, p. 84.). Nomes influentes como Antônio de Souza, Augusto Maranhão, Ferreira Chaves, Alberto Maranhão, Augusto Tavares de Lyra, Eloy de Souza, Henrique Castriciano, Manoel Dantas, Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, José Mariano Pinto, entre outros, em sua maioria foreiros de destaque na cidade, integraram a redação do A Republica.

O referido jornal foi criado como publicação semanal e, a partir de fevereiro de 1897 passou a ter publicação diária (Ibidem, p. 86.). A partir de 1907 e ao longo do recorte temporal estudado, o A Republica foi composto por quatro páginas com 62 cm de comprimento sobre 42 cm de largura (Ibidem, p. 89.). Em 1912, Petronila Maranhão, viúva de Pedro Velho, vendeu o jornal a uma sociedade anônima pela quantia de trinta e seis contos de réis (36:000.000)(O mil-réis, moeda utilizada ao longo do trabalho, foi instituído como moeda padrão no Brasil pela Lei n.59 de outubro de 1833, permanecendo até 1942. Conforme estipulado na lei de 1833, 2.500 réis correspondia a 1/8 de ouro de 22K, ver: HISTÓRICO das alterações da moeda nacional. Disponível em: . Acesso em: 20 fev. 2018; SÍNTESE dos padrões monetários brasileiros. Disponível em: . Acesso em: 20 fev. 2018.

A sociedade era composta ainda por nomes influentes como Alberto Maranhão, Manoel Dantas, José Pinto, Tavares de Lyra, Ferreira Chaves, Fabrício Maranhão, Joaquim Valentim, entre outros. SOCIEDADE anonyma A Republica. A Republica, Natal, 02 set. 1912. Os nomes dos membros e o valor dispensado para comprar o jornal demonstravam como os integrantes dessa sociedade eram homens que possuíam e partilhavam além do capital econômico, o capital político e social. Tavares de Lyra, Alberto Maranhão e Ferreira Chaves já haviam assumido o governo do estado.

É difícil estimar quanto valeria um conto de réis na atualidade, uma vez que os valores dependem das condições de cada período, variando bastante (é preciso levar em consideração a inflação e o poder de compra do período). Faziam parte dessa associação nomes de prestígio na capital norte-rio-grandense, como Alberto Maranhão, Manoel Dantas, José Pinto, Tavares de Lyra, Fabrício Maranhão, Ferreira Chaves, entre outros (SOCIEDADE anonyma A Republica. A Republica, Natal, 02 set. 1912.).

Ao longo do recorte estudado, nomes como Pedro Velho, Augusto Severo, Sérgio Barreto, Alberto Maranhão, Eloy de Souza, Manoel Dantas, Ferreira Chaves, Augusto Tavares de Lyra, Pedro Avelino, entre outros, integraram a equipe do A Republica como diretores e/ou redatores, muitos ao longo de várias gestões. Todos eles eram ligados à rede de parentela dos Albuquerque Maranhão, muitos exerceram cargos políticos, o que demonstra o vínculo entre o periódico encarregado de publicar os atos oficiais e o poder local. Ver: FERNANDES, Luis. A imprensa periódica no Rio Grande do Norte de 1832 a 1908. Op. cit.

Se, por um lado, pouco havia para se falar da Intendência, por outro, muito havia a se dizer sobre o definitivo rompimento da oligarquia Albuquerque Maranhão com o governador do estado, Dr. Ferreira Chaves. Sobre esse rompimento, ver: SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte, p. 278-286. É disso, em essência, que se ocupa A Republica, defendendo o chefe do Executivo estadual das acusações feitas ao seu governo por Alberto Maranhão e Tavares de Lyra, em jornais que circulavam na capital federal e em dois periódicos criados por eles em 1919 para atacar a gestão de Ferreira Chaves: O combate e A Opinião.

O órgão oficial do PRF, entendendo que a melhor forma de se defender era atacar, começa a denunciar uma série de irregularidades que teriam ocorrido nos governos da oligarquia Albuquerque Maranhão, especialmente no de Alberto Maranhão. Em matéria de maio daquele ano, por exemplo, A Republica destaca que era incontestável o progresso que a “nossa pequena urbe” vivia durante a gestão Ferreira Chaves. Avenidas e ruas estavam sendo calçadas e arborizadas, as praças vinham sendo ajardinadas, prédios antigos passavam por remodelação e ampliação. A cidade ressentia-se, porém, de uma rede de esgotos. A obra, segundo A Republica, poderia ter sido realizada na gestão anterior, se o então governador Alberto Maranhão não tivesse feito um vultoso contrato com Domingos Barros, seu sobrinho afi m, para gestão dos serviços urbanos. A REPUBLICA, Natal, 06 maio 1919.

Algumas matérias publicadas no jornal situacionista podem demonstrar essas relações de cordialidade entre diferentes grupos. Em 10 de dezembro de 1921, durante agestão de Antônio José de Melo e Souza, quando Ferreira Chaves ainda liderava o Partido Republicano Federal do Rio Grande do Norte, o jornal A Republica, órgão oficial desse partido, publicou uma elogiosa nota lembrando o 14º aniversário da morte de Pedro Velho. O líder dos Albuquerque Maranhão foi citado na matéria como fundador da República e chefe do Partido Republicano do estado, “cuja organização por ele effectuada, tem resistido a todos os embates e tornou-se uma das maiores forças da federação brasileira, pela coesão dos seus membros, a firmeza e segurança de seus princípios”, Dr. PEDRO Velho. A Republica, Natal, 10 dez. 1921. p.2.. Essa matéria pode ser considerada mais um exemplo que demonstra como as querelas e rupturas entre os diferentes grupos não eram bruscas e definitivas. Mesmo tendo rompido com os Albuquerque Maranhão, Ferreira Chaves permitiu a publicação dessa elogiosa nota, reconhecendo a importância de Pedro Velho para a formação do Partido Republicano Federal do Rio Grande do Norte.

Em 20 de julho de 1922, uma matéria de capa no jornal do qual era gerente destaca as grandes qualidades da personalidade de José Pinto: era um homem digno, honesto, dedicado, inteligente, trabalhador infatigável. Mas, após 27 anos de serviços à publicação A Republica, estava no mesmo estado em que havia entrado: honrado e pobre. A vida na imprensa no Rio Grande do Norte não oferecia mesmo muitos proventos. Diante da penúria, como sustentar a numerosa prole? Buscando solução para o seu problema, Zé Pinto buscou a ajuda do então governador do Estado, Antonio José de Melo e Souza. Solicitoulhe um lugar na alta administração do Tesouro do Estado, sendo prontamente atendido. Em coisa de uma semana, era Tesoureiro do dito órgão, recebendo as congratulações devidas
de Ferreira Chaves, José Augusto e Eloy de Souza. Os telegramas congratulatórios emitidos pelos referidos personagens foram publicados n’A REPUBLICA, Natal, 03 maio 1922.

O texto também fez referência ao aniversário de fundação do Partido Republicano Federal do Rio Grande do Norte, que completava naquele dia 33 anos de existência e recordou a atuação de seu fundador, Pedro Velho, “estadista de comprovada cultura e capacidade, cuja politica está sendo continuada pelo insigne brasileiro desembargador Joaquim Ferreira Chaves”, O NOSSO anniversario. A Republica, Natal, 20 jul. 1922. p.2.

Observa-se como a matéria tentava vincular Pedro Velho, o fundador do partido, a Ferreira Chaves, na época a maior liderança desse mesmo partido. Chaves, como mencionado, havia rompido com Tavares de Lyra e Alberto Maranhão oficialmente em 1919, mas nessa matéria ainda assim era colocado como continuador da obra daquele que foi o líder mais expressivo da família Albuquerque Maranhão. Muito possivelmente, essa nota também contou com a aprovação de Ferreira Chaves, que mesmo não estando oficialmente ocupando o Executivo estadual continuava à frente do Partido Republicano Federal do Rio Grande do Norte, representado pelo periódico A Republica. Mais um indício, portanto, de como as relações entre os grupos eram marcadas pela fluidez e não por rupturas permanentes.

Imagem da oficina tipográfica do jornal A Republica, também localizado na Avenida Tavares de Lira – próximo à redação do mesmo jornal. Fonte: Foto Bruno Bourgard.Acervo: MIRANDA, João Maurício Fernandes de. 380 anos de História foto – gráfica da cidade de Natal (1599 – 1979). Natal/RN: EDUFRN, 1981. p. 34.
A Avenida Rio Branco e a Rua 21 de Março aparecem como localidades preferidas para o estabelecimento das redações na topografia da cidade do Natal. Outras redações concentravam-se no bairro da Ribeira. Na imagem abaixo podemos observar o prédio de redação do jornal A Republica. A redação do jornal oficial do estado estava localizada no bairro da Ribeira, na esquina da Avenida Tavares de Lira com a Rua Frei Miguelinho (nomes de ruas que persistem até os dias atuais), em frente à mercearia Paulista. Fonte: Foto de Manuel Dantas. A foto encontra-se em MIRANDA, João Maurício Fernandes de. 380 anos de História fotográfica da cidade de Natal (1599 – 1979). Natal: EDUFRN, 1981. p. 32.
Interior da oficina tipográfica do jornal A Republica. Fonte: acervo particular de Willian Pinheiro.

CATEDRAL

O primeiro projeto de equipamento urbano a ser criado em Cidade Nova na década de 1920 que se tem notícia no jornal A Republica é o da construção de uma nova catedral. Segundo Itamar de Souza, a nova catedral de Natal contou com várias iniciativas para ser construída, levando 94 anos nesse processo. A primeira iniciativa partiu do padre João Maria, por volta de 1894. O terreno para a construção da nova catedral foi doado por Sofia Roselli, que tinha comprado uma casa de farinha erguida na região que viria integrar a futura avenida Deodoro da Fonseca em Cidade Nova, SOUZA, Itamar de. Nova História de Natal. Op. cit., p.489.

A segunda tentativa para construir a nova catedral da cidade ocorreu a partir do final da década de 1910, quando Antonio dos Santos Cabral, que administrou a Diocese de Natal entre 1918 e 1921, organizou a constituição de uma Comissão Central para dar prosseguimento às obras da nova matriz, SOUZA, Itamar de. Nova História de Natal. Op. cit., p.490.

O edital para o levantamento da planta foi publicado também em Recife, em São Paulo e no Rio de Janeiro, demonstrando como os membros da Comissão Central, formada por nomes influentes da sociedade local como o então governador Antônio Souza e o chefe do Partido Republicano Federal do estado, Ferreira Chaves, tinham a preocupação de contratar um profissional bem capacitado para construir a planta do novo templo católico. Os membros da Comissão Central não tencionavam fechar contrato apenas com profissionais locais, o que teria menor custo, mas também abriam a possibilidade para a contratação de engenheiros e arquitetos provenientes de influentes capitais do país. Participavam também da Comissão Central outros membros influentes na sociedade natalense, tais como: Henrique Castriciano, Augusto Leopoldo, coronel Pedro Soares, Alberto Roselli, major José Pinto, entre vários outros, ver: A NOVA Cathedral. A Republica, Natal, 24 dez. 1921. p.2.

Em 1923, nas eleições para o sucessor de Antônio Souza, o nome cotado pela convenção do Partido Republicano Federal do Rio Grande do Norte era o de Joaquim Ferreira Chaves que, uma vez vitorioso, governaria o estado pela terceira vez. Contudo, José Augusto e Juvenal Lamartine conseguiram o apoio de vários coronéis do Seridó e reagiram contra a candidatura de Chaves, conseguindo que José Augusto fosse indicado pelo partido e que Chaves desistisse de concorrer às Ibidem, p.24. Segundo Itamar de Souza, Arthur Bernardes, então presidente da República, interveio na escolha do candidato do partido local, contribuindo para a desistência de Ferreira Chaves, ver: SOUZA, Itamar. A República Velha no Rio Grande do Norte. Op. cit., p.338.

PRAÇA PEDRO VELHO

Como destacado, mesmo com o rompimento implementado por Chaves a partir de 1914, o jornal A Republica continuou sendo o jornal da situação, representando, nesse momento, não mais os interesses dos Albuquerque Maranhão, e sim os do novo governador e de sua rede de influências. Mesmo com a mudança de governo, “não mudara a voz que anunciava seus interesses”, ARRAIS, Raimundo; ANDRADE, Alenuska; MARINHO, Márcia. O corpo e a alma da cidade: Natal entre 1900 e 1930. Op. cit., p. 70.. Assim, é possível observar que a representação do bairro Cidade Nova no jornal A Republica não sofreu alteração com a mudança de governo. Como a matéria publicada em 1917 sobre a reforma da praça Pedro Velho demonstrou, o bairro ainda era tido como símbolo do progresso e do processo de modernização da cidade.

A matéria sobre a praça Pedro Velho ressaltou ainda que muitos melhoramentos seriam realizados pela iniciativa do então governador Ferreira Chaves. A linha de bonde que cortava a praça diagonalmente foi recolocada em outro ponto, visando não afetar o embelezamento da área. O projeto de reformas também previa o ajardinamento da praça, com a colocação de fícus benjamin e outras árvores que “emprestarão àquele local um aspecto encantador graças à sua disposição”, A REPUBLICA, Natal, 22 set. 1917. p.1.

Como é possível perceber por meio das fotografias destacadas, a praça Pedro Velho sofreu diversas modificações ao longo dos anos. Inicialmente, como a primeira imagem destaca, tratava-se de um descampado aberto no meio do bairro Cidade Nova. Com o passar dos anos, linhas de bondes foram sendo construídas, como pode ser percebido na segunda fotografia, e outros equipamentos, como a iluminação elétrica, instalados. Em 1917, com a reforma implementada por Ferreira Chaves, a praça sofreu um intenso processo de melhoramento. A linha de bondes que a cortava diagonalmente foi transferida, como já visto, e as árvores existentes foram substituídas pela espécie fícus benjamim, A REPUBLICA, Natal, 22 set.1917.p.2..

Aspecto da Praça Pedro Velho quando de sua criação em 1901. Foto: Manoel Dantas. O descampado era utilizado para a realização das partidas de futebol.
: Fotografia feita por Manoel Dantas. Destaca a área onde seria a praça Pedro Velho. Fonte: MIRANDA, João Mauricio Fernandes de. 380 anos de história foto-gráfica da cidade de
Natal 1599-1979. Natal: Editora da UFRN, 1981.
Fotografia feita por Manoel Dantas. Também destaca a praça Pedro Velho. Fonte: MIRANDA, João Mauricio Fernandes de. 380 anos de história foto-gráfica da cidade de Natal 1599-1979. Natal: Editora da UFRN, 1981.
Praça Pedro Velho mais conhecida como Praça Cívica em Natal em 1937.

OBRAS

O calçamento da Rua da Cruz foi realizado em 1870. Dois anos depois, o Governo Provincial construiu o Palácio do Tesouro, atualmente Palácio da Cultura, na Cidade Alta. O Governador Ferreira Chaves mandara demolir uns prédios que tiravam a visão do palácio do governo. A atual Praça Sete de Setembro foi inaugurada em 1914. Antes, em seu lugar, havia uma quadra de casas com a frente para a Rua da Conceição, que ia da Rua Ulisses Caldas até a próxima esquina, em direção ao Palácio do Governo. Entre essas casas e o Palácio havia uma rua conhecida como Travessa do Tesouro. A bela fachada do prédio, antes escondida ficou, assim, visível a partir da nova praça. Ver CASCUDO, Luís da Câmara. Breve história do Palácio Potengi. Natal: Fundação José Augusto, 1978.

O prédio apresenta estilo neoclássico, contendo dois pavimentos com o partido e planta retangular, possui telhado de quatro águas, arrematado por platibanda corrida. Sua fachada contém uma simetria perfeita. Possui portada central, com três vãos em arcos plenos emoldurados por colunas e cunhais, ladeada por janelas de vergas retas. O Pavimento superior apresenta janelas rasgadas, com guarda- corpos de ferro, e na parede central uma sacada corrida, frontão triangular com brasão no tímpano. Atualmente o prédio funciona como Pinacoteca do Estado.

No dia 28 de setembro de 1881, foi inaugurado o prédio da Estação da Great Western no bairro da Ribeira. Nesse bairro, em 1888, Juvino Barreto estabeleceu na Avenida Junqueira Aires a Fábrica Natal, de fiação e tecido, a primeira do Rio Grande do Norte. Em 1896, iniciou a construção do Teatro Carlos Gomes, durante a gestão estadual de Joaquim Ferreira Chaves.

As obras de melhoramentos na cidade do Natal foram consolidadas principalmente durante as gestões estaduais de Alberto Maranhão (1908-1914) e Joaquim Ferreira Chaves (1914-1920). Podemos dizer que Ferreira Chaves deu continuidade às obras de embelezamento da capital do Estado com construções públicas e com incentivos à industrialização empreendida na cidade, estabelecendo definitivamente a urbe natalense no século XX. Para melhor entendimento acerca dos governos de Alberto Maranhão e de Ferreira Chaves ver: SOUZA, Itamar. A República Velha no Rio Grande do Norte. Op. Cit. p. 328-331 e 332-336.

A grande seca de 1915 motivou a vinda de um grande número de flagelados do interior do Estado, para a Capital. O então governador Ferreira Chaves abriu várias frentes de trabalho, utilizando a abundante oferta de mão-de-obra, nos serviços urbanos. Dentre as obras executadas então, uma delas foi o início dos trabalhos de calçamento da Praça Padre João Maria.

Entre 1915 e 1919, boa parte da construção da estrada de automóveis do Seridó, obra de infra-estrutura essencial para viabilizar e escoar a produção de algodão do estado, foi realizada com a mão-de-obra retirante e com os recursos técnicos da Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), Cf. Ferreira Chaves (Mens. Gov.), 1916; 1917; 1918; 1919.

O desenvolvimento material proporcionado pela gestão Ferreira Chaves em Natal foi marcado especialmente pela construção de diversas novas edificações pela cidade. Entre elas, os edifícios do Hospital dos Alienados, do Quartel do Batalhão de Segurança – na Avenida Hermes da Fonseca –, do Hospital da Caridade, do Asilo João Maria e da Escola Doméstica – situado na Praça Augusto Severo (OBRAS Publicas, A Republica, Natal, ano 30, 5 jun. 1918.). Na ocasião do quinto aniversário do seu governo, em 16 de janeiro de 1919, é publicado em “A República” um relato do jornalista Lino Gomes, de Campina Grande, sobre as suas impressões sobre a capital onde afirma que “os bonds electricos, [e] a illuminação electrica, demonstram que o progresso posto em relevo no Sul do paiz, também vai se fazendo sentir na cidade do Natal” (MINHAS impressões sobre a cidade de Natal, A Republica, Natal, ano 31, 16 jan. 1919., p. 02).

Esse “progresso” se faz sentir também no aumento da população natalense. O perímetro da cidade, em 1919, havia quadruplicado e surgiram diversos embelezamentos e melhoramentos nos serviços urbanos (A REPUBLICA, Natal, ano 31, n.111, 22 maio 1919c.). A população natalense que em 1889 era de aproximadamente 13 mil habitantes, ascende à época em questão à cifra de cerca de 30 mil pessoas. A população do município de Natal, segundo recenseamento de 1890, era de 18 299 habitantes (Mensagem dirigida ao Congresso Legislativo do Rio Grande do Norte pelo Dr. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, Governador do Estado por occasião de abrir-se a 2° sessão ordinária da 1ª legislatura em 14 de julho de 1893. Natal: Typologia d’A República, 1893). No mesmo ano, a população de Natal era de 13 725 habitantes, segundo CASCUDO, Luis da Câmara. História da cidade do Natal. 2 ed. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira; Brasília : INL; Natal: UFRN, 1980, p. 76.

Nesse momento é realizado um recenseamento pelo Dr. João Soares que, sozinho, toma como referência o número de casas para estipular o número de habitantes. A Ribeira então já contaria com uma cifra superior aos 4 mil e trezentos habitantes – conjuntamente com a comunidade das Rocas, em suas imediações.

Vimos em mão do dr. João Soares um dos quadros que já confeccionou sobre o bairro da Ribeira que, pelas suas notas, comprehende 1232 casas, sendo 666 nas Roccas e 566, propriamente no centro do bairro. Nessas mil, duzentas e trinta e duas habitações o dr. João Soares encontrou 4382 habitantes, sendo 1790 homens e 2592 mulheres (A REPUBLICA, Natal, ano 31, n.111, 22 maio 1919c., p. 01).

A prática de construir habitações improvisadas para os retirantes e associar a presença desses indivíduos ao aumento da criminalidade e à ampliação dos problemas sanitários não ficou restrita ao ano de 1904. Em 1919, o então governador Ferreira Chaves elencou uma série de medidas implementadas em seu governo para amenizar os problemas gerados pela seca de 1919. Uma das medidas foi a construção no Alecrim de um “barracão para abrigo dos que não tivessem outro pouso, permanecendo ali actualmente mais de cem pessôas socorridas pela solidariedade humana, á qual o governo não tem sido alheio”. O A Republica também destacou a existência de um barracão no Alecrim, denominado no jornal como “Barracão dos Escoteiros”. A prática de esquadrinhamento do espaço perpetuava-se. Os barracões, em 1919, não seriam construídos nos bairros centrais da capital, como ocorreu em 1904. Com a diferenciação espacial da capital mais consolidada, era preciso abrigar essa população no bairro Alecrim, que foi oficializado como bairro da capital desde 1911. Ver: RIO GRANDE DO NORTE. Mensagem apresentada pelo governador Joaquim Ferreira Chaves (1919). Disponível em: . Acesso em: 26 jan. 2017. p.13; VARIAS. A Republica, Natal, 13 set. 1919; VARIAS. A Republica, Natal, 11 out. 1919.

A conferência de Dantas e a monografia de Januário Cicco são apresentadas ao público em um momento em que se discute a necessidade de se sanear a capital do estado. Sobre a história do saneamento em Natal, ver Uma cidade sã e bela: a trajetória do saneamento de Natal, 1850 a 1969, 2008. O Governo do Estado, , apontava como essencial a construção de uma rede de esgotos em Natal, obra que, de acordo com A Republica – saindo em defesa de Ferreira Chaves – poderia ter sido realizada mais cedo, não fossem os “desvios” cometidos por Alberto Maranhão em sua administração. A Intendência, nem em seus melhores sonhos, podia arcar com uma obra tão dispendiosa. Apenas em 1924, com o patrocínio do Governo do Estado, é elaborado o Plano Geral das Obras de Saneamento de Natal, visando atacar o problema. Sobre esse plano, ver: DANTAS, George. Uma nova paisagem para a cidade: considerações sobre a elaboração do Plano Geral das Obras de Saneamento de Natal (1924), 2012.

AVENIDA TAVARES DE LYRA

O povoamento das zonas Norte e Leste da Ribeira tomou grande impulso a partir de 1902, com a instalação da “Comissão das Obras do Porto”. As avenidas Tavares de Lira e Duque de Caxias são as mais novas. A Tavares de Lira foi concluída no governo de Ferreira Chaves, em 1919. A Duque de Caxias, que abateu ruas e vielas até encontrar a esplanada Silva Jardim, teve suas obras iniciadas em 1929, na gestão do prefeito Omar O’ Grady, somente foi concluída em 1939, após 10 anos de serviço, na gestão de Gentil Ferreira de Souza.

A Avenida Tavares de Lira foi aberta ao longo do ano de 1908 pela Intendência Municipal e criada de acordo com a Resolução nº. 118, da mesma intendência. Em 1911, o governador Alberto Maranhão tomou as devidas providências para o embelezamento da avenida, encomendando um obelisco com o medalhão de Augusto Tavares de Lira. Em 1913, o logradouro apresentava-se arborizado e possuía assentos com encostos. Em 1919, o governador Ferreira Chaves destinou recursos para o calçamento a paralelepípedo da Avenida Tavares de Lira. Passear nessa avenida do bairro da Ribeira, entrar nos seus cafés, realizar negócios e acordos políticos nesses lugares era um hábito da elite natalense nas primeiras décadas do século XX.

O Cais e a Avenida Tavares de Lyra (ou Lira) é mais um sintoma da importância crescente do bairro da Ribeira, a nova centralidade de Natal, citada anteriormente. Sua menção aqui tem a ver com o fato de ela permitir a proximidade dos moradores da cidade ao Rio Potengi e de ter sido porta de entrada da cidade de visitantes antes mesmo de pousarem os primeiros hidroaviões. Antigo cais Pedro de Barro, depois chamado, na década de 1910, de Cais Tavares de Lyra (SIMONINI, 2010: 88), esse cais e avenida foram objeto de várias intervenções, como as empreendidas pelos governadores Joaquim Ferreira Chaves em 1917 (MENSAGEM…1917: 27) e José Augusto Bezerra de Medeiros, dez anos depois (MENSAGEM…1927: 132). Eram obras de “embelezamento” ou “aformoseamento”, típicas de um período em que o desejo de modernização atingia de cheio a cidade e o bairro da Ribeira em particular, então em plena efervescência. Joaquim Ferreira Chaves, por exemplo, afirma em sua mensagem ter feito a “(…) reconstrução do cais ‘Tavares de Lira’ e arborização da avenida do mesmo nome”. A avenida, cujo cais sobre o Potengi – por onde chegavam os viajantes, primeiramente de barco e depois também, ainda que provavelmente menos frequentemente, também por hidroaviões – se tornaria um centro de sociabilidade da elite natalense até a Segunda Guerra Mundial.

Aspecto do Cais da Tavares de Lira no início do século XX. Joaquim Ferreira Chaves, por exemplo, afirma em sua mensagem ter feito a “(…) reconstrução do cais ‘Tavares de Lira’ e arborização da avenida do mesmo nome”. A avenida, cujo cais sobre o Potengi – por onde chegavam os viajantes, primeiramente de barco e depois também, ainda que provavelmente menos frequentemente, também por hidroaviões – se tornaria um centro de sociabilidade da elite natalense até a Segunda Guerra Mundial. George Dantas captou esse aspecto da avenida e de outras, como a Junqueira Aires (ou Ayres), em fins de 1920: A Junqueira Ayres, no final da década de 1920, era a avenida por onde passavam os bondes e os ônibus, desciam as normalistas e estudantes rumo à Escola Doméstica; rumo à Av. Tavares de Lira, iam-se às vitrines à moda parisiense, aos cafés e rotisseries e aos pontos chics de reunião, passear a elegância e o spleen de Natal; assistir as regatas no rio Potengi ou aos espetáculos e filmes do Cine-theatro Carlos Gomes e do Politheama. Pela Av. Junqueira Ayres passavam muitos daqueles que tinham seus afazeres entre os bairros da Ribeira e da Cidade Alta.

PRAÇA LEÃO XIII

A Praça Leão XIII, atual Praça Capitão José da Penha, foi inaugurada em 12 de outubro de 1919, em cerimônia presidida pelo Governador Ferreira Chaves, que proferiu o discurso inaugural, seguido pelo major Fortunato Aranha, que falou em nome da Intendência Municipal. Aquele importante logradouro público passou a ostentar belos canteiros floridos e um singelo coreto de alvenaria, sem o luxo dos similares edificados em outras praças.

A praça foi durante algum tempo, o ponto chique da cidade, onde as moças e os rapazes circulavam pelos passeios laterais. À época, cogitou-se de mudar a denominação da praça, porém uma série de artigos de Zaborda, publicados na primeira coluna do jornal “A República”, sobre o papa Leão XIII, divulgando as glórias do grande Pontífice, consolidou a denominação de Praça Leão XIII.

A praça Leão XIII foi inaugurada em 12 de outubro de 1919, com a presença do governador Ferreira Chaves. Passou, então, a ostentar belos canteiros floridos e um coreto de alvenaria. Durante algum tempo, foi o ponto de encontro da alta sociedade da cidade, na época e onde circulava a juventude. A denominação Leão XIII foi decidida após serem divulgadas as realizações do pontífice: antes tinha-se cogitado outro nome para o lugar.
Finalmente, a 11 de outubro de 1930, a praça teve seu nome mudado para José da Penha, homenagem ao militar nascido em Angicos, que atingiu o posto de alferes a 03 de novembro de 1894. O capitão José da Penha tinha grande espírito de justiça e pregou a justiça social e a probidade administrativa. Foi defensor dos jovens, dos trabalhadores e o primeiro militar norte-rio-grandense a apelar diretamente em favor do nosso povo. Distinguiu-se pela oratória.

LITERATO

Antônio José de Melo e Souza escreveu, em 1899, sobre os aspectos da vida potiguar. Segundo esse autor, o potiguar não tinha “outras aspirações que não seja possuir alguma coisa e ser alguém na política”. Antônio José de Melo e Souza escreveu sobre os aspectos da vida potiguar no ano de 1899 sob o pseudônimo Polycarpo Feitosa. Consultar: FEITOSA, Polycarpo. Vida Potyguar. Natal/RN: Sebo Vermelho, 2002. Edição fac-similar.

Em 31 de dezembro de 1892, Henrique Castriciano de Souza também alertou para a supervalorização da carreira política e das reprovações atribuídas àqueles que cultivavam o gosto pelas letras. Henrique Castriciano de Souza (Macaíba, RN, 1874-Natal, 1947). ViceGovernador da gestão Ferreira Chaves, de 1915 a 1920 e de 1920 a 1924, no governo de Antônio de Souza. Viagem ao exterior, incluindo o Egito: 1909-1910.

É pertinente ressaltar que tanto Antônio Souza como Henrique Castriciano que criticavam a preferência pelas carreiras políticas existentes no Rio Grande do Norte, ambos ocuparam cargos políticos na cidade do Natal, relegando às letras como a condição de atividade secundária. Observando as considerações acima de Henrique Castriciano, percebemos que o literato mencionou alguns “espíritos de merecimento” (Henrique Castriciano escreveu no jornal A República uma coluna acerca da literatura potiguar sob o pseudônimo Mário do Vale. Conferir: VALE, Mário do. Sobre a nossa literatura. A Republica. Natal, 31 dez. 1892.), ou seja, homens escolhidos pelo escritor como nomes representativos do desenvolvimento da literatura potiguar, entre eles Luis Carlos Lins Wanderley, Joaquim Fagundes, Manoel Segundo Wanderley, Celestino Wanderley, João Domedes Quintiliano, Francisco Meira e Sá e mais alguns nomes do jornalismo, como o autor referencia, mencionando Pedro Velho Albuquerque Maranhão, Nascimento Castro e Ferreira Chaves.

Henrique Castriciano de Souza (Macaíba, 15 de março de 1874 — Natal, 26 de julho de 1947) foi um escritor e político brasileiro, que serviu como o 9.º vice-governador do Rio Grande do Norte nos mandatos dos ex-governadores Ferreira Chaves e Melo e Sousa.

Como jornalista, Sandoval Wanderley caracterizou- pela crítica aos erros e às incompetências administrativas do governo, sendo perseguido pelo governador Joaquim Ferreira Chaves (primeira gestão em 1891- 1892; segunda gestão em 1896-1900 e terceira gestão 1914-1920). Segundo Evaldo Rodrigues Carvalho, o governador pediu ao pai de Sandoval Wanderley que expulsasse seu filho de casa, já que um funcionário público, como era Luiz Carlos Wanderley, não poderia abrigar alguém que se posicionasse contra o governo. Assim, Sandoval foi morar em uma pensão e passou a divulgar críticas ainda maiores contra o poder vigente.

A personalidade que emprestou seu nome ao “Teatrinho do Povo” de fato contribuiu para o desenvolvimento da cultura popular potiguar. foi jornalista, vereador, deputado federal e teatrólogo de importância. Nasceu em 27 de setembro de 1893, na cidade de Açu, sendo filho de Luiz Carlos Lins Wanderley e Maria Amélia Lins Wanderley, e morreu em 10 de agosto de 1972, em Natal.

Contudo, ainda que os chefes políticos norte-rio-grandenses, entre eles Alberto Maranhão, Augusto Tavares de Lyra, Joaquim Ferreira Chaves, Antônio José de Melo e Souza e Juvenal Lamartine Farias tenham empreendidos esforços em suas gestões para criarem instituições educadoras que contribuíssem para a transformação e para o desenvolvimento da sociedade potiguar, o colégio secundarista Atheneu era considerado um caso a parte. A “égide ateniense”, assim denominada por Câmara Cascudo não era aberta a todos os filhos da terra potiguar, uma vez que o seu programa curricular era destinado a formar exclusivamente os filhos dos homens de posse e de prestígio na capital norte-riograndense, já que nem todos os potiguares dispunham de condições financeiras para matricular e manter seus filhos nessa instituição. Para Luís da Câmara Cascudo, o nome Atheneu refere-se à égide de Atenas, a deusa grega de sabedoria.
Segundo o historiador da cidade do Natal, em Atenas, “o estabelecimento de instrução onde se lia e ouvia o sábio discorrer acerca da sapiência era o Athénáion, templo de Atenas, a Casa da Sabedoria”. CASCUDO, Luís da Câmara. Ateneu norte-riograndense – pesquisas e notas para sua História. Op. Cit. p. 22.

Os “eleitos da nação” corresponderam a uma sociedade de “doutores” do Império e da República. Nesse sentido, os “eleitos” potiguares compõem uma grande lista. Elencamos entre os nomes de potiguares do campo literário natalense que foram formados nas instituições jurídicas: Joaquim Ferreira Chaves, formado em 1873 na Faculdade de Recife – Desembargador, governador, senador e ministro da Marinha.

Casos como o de Eloy de Souza ocorriam constantemente na capital norte-riograndense, em que pouco tempo depois de diplomados, e em retorno à capital norte riograndense, esses intelectuais eram nomeados para alguma função na carreira jurídica (promotores públicos, procuradores e juízes de direito). Das faculdades de Direito também saíram jovens literatos recém-formados que se assentaram no mais alto cargo político do estado, o de governador, entre eles podemos mencionar: Antônio Souza, Alberto Maranhão, Juvenal Lamartine, Joaquim Ferreira Chaves, Augusto Tavares de Lyra, Francisco de Meira e Sá. Desse modo, observamos que os cursos jurídicos cumpriam nos jovens recém-bacharéis potiguares os propósitos de formação nacional: estavam voltados para preparar os quadros sociais destinados à direção dos estados.

Ferreira Chaves era sócio da Liga Marítima Brasileira, da qual também participavam nomes influentes como Pedro Velho, Alberto Maranhão, Juvenal Lamartine, entre outros, ver: LIGA Maritima Brazileira. A Republica, Natal, 24 ago. 1907.

Grupo de intelectuais, capitaneados pela poetisa Anna Lima, durante lançamento de uma revista cultural, no Teatro Carlos Gomes. Destacam-se na foto os seguintes poetas Palmério Filho, Adalberto Peregrino, Galdino Lima, Ivo Filho, Juvenal Antunes, Pedro Mendes. Foto pertencente ao acervo original do Desembargador Luís Tavares de Lyra. Foto feita por Bruno Bourgard. Instituto Tavares de Lyra.

A Lei número 145 foi criada por dois grandes expoentes do campo intelectual potiguar, a saber Alberto Maranhão (1872 – 1944) e Henrique Castriciano (1874-1947). Alberto Maranhão, filho de Dona Feliciana e de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão, chegou ao alto posto estadual graças às articulações de seu irmão Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. Na ocasião, para a eleição do irmão Alberto Maranhão (1900), Pedro Velho conseguiu modificar a Constituição Estadual reduzindo para 25 anos a idade mínima para o acesso ao cargo de chefe político estadual. Caso contrário, Alberto Maranhão jamais poderia ter sucedido o ex-governador Joaquim Ferreira Chaves na gestão estadual do ano de 1900. Alberto Maranhão governou o estado do Rio Grande do Norte de 1900 a 1904. No ano de 1908, o jovem político foi reeleito para suceder Augusto Tavares de Lyra (genro de Pedro Velho) para um mandato de dois anos, em que a Constituição Estadual fora mais uma vez modificada ampliando o período governamental de quatro para seis anos de mandato. Para maiores informações sobre as formação do estado republicano no Rio Grande do Norte, consultar: SPINELLI, José Antonio. Coronéis e oligarquias no Rio Grande do Norte (Primeira República) e outros estudos. Natal: EDUFRN, 2010. p. 37-39.

De acordo com Luís da Câmara Cascudo, os republicanos históricos se comprometeram com a proteção da literatura, dando continuidade a “tradição literária” que, segundo o autor, foi iniciada por Pedro Velho de Albuquerque Maranhão (CASCUDO, Luís da Câmara. Nosso amigo Castriciano (1874-1947). Op. Cit. p. 42.). Na opinião de Câmara Cascudo, os sucessores de Pedro Velho que mantiveram a “tradição literária” foram: “Alberto Maranhão, mecenas; Antônio José de Melo e Souza, romancista; Augusto Tavares de Lyra, historiador; Joaquim Ferreira Chaves, de menor acuidade letrada mais fiel a dois poetas imprevistos, Stecchetti e Castro Alves” (Ibid, p. 43.).Ou seja, homens que, de certa forma, possuíam algum tipo de relação com as letras.

SITUAÇÃO SANITÁRIA

Em 1896, o médico e Inspetor de Higiene Pública Manuel Segundo Wanderley apresentou o Plano Sanitarista para Natal, que pregava, dentre outras medidas de combate às doenças, o aterramento do Baldo, a remoção do matadouro da cidade, o aterro de mangues e o nivelamento dos espaços públicos. No próprio Relatório da Inspetoria de Higiene, o médico Segundo Wanderley descreve pesarosamente as dificuldades encontradas no “Estado sanitário da cidade”:

Difficil e muito difficil, se torna o saneamneto de uma Capital nas condições em que a nossa se acha collocada, resentindo-se da falta de um calçamento regular, sem um systema de esgôto apropriado, onde a maioria dos quintaes è feita de fachina e as cloacas abertas na superfície do solo, incovenientes estes que, addicionados a uma certa dose de ignorância, condenável e incorrigível indolência de grande parte da população, nos trazem constantemente expostos a freqüentes e lamentáveis desastres mórbidos. RIO GRANDE DO NORTE. Mensagem dirigida pelo governador Dr. Joaquim Ferreira Chaves Filho ao Congresso Legislativo do Estado do Rio Grande do Norte ao abrir-se a 2ª sessão ordinária da 2ª Legislatura em 15 de julho de 1896 acompanhada do Relatório da Secretaria e annexos. Natal: Typ. d”A República, 1896. Estado sanitário da cidade, A6-2, p.2.

O que diziam médico e paciente? Que espécie de diálogo entabulavam no interior do gabinete? E as freiras, que conversas entretinham com médicos e doentes? Não sabemos exatamente. Mutismo das fontes, tradição do segredo médico ou simplesmente Mal de arquivo. Silêncio bastante estranho se considerarmos que o Hospital de Caridade Juvino Barreto atendeu, de acordo com as anotações do médico Januário Cicco, ao longo de 19 anos, cerca de 19000 casos de internação! CICCO, Januário. Notas de um médico de província: ensaios de crítica médico -social, p.247. Somente em 1919, de acordo com a Mensagem do Governador Ferreira Chaves, foram cerca de 926 atendimentos no consultório médico. A clínica hospitalar certamente foi bastante requisitada… RIO GRANDE DO NORTE. Memsagem apresentada ao Congresso Legislativo na abertura da segunda sessão da décima legislatura em 1º de novembro de 1919 pelo governador Desembargador Joaquim Ferreira Chaves. Natal: Typ. Commercial J. Pinto, 1919. p.37.

Problemas no registro demográfico-sanitário que se prolongarão por outras administrações, produzindo queixas ainda em 1917, RIO GRANDE DO NORTE. Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo na abertura da segunda sessão da nona legislatura em 1º nov. 1917 pelo Governador Desembargador Joaquim Ferreira Chaves. Natal: Typ. d´A República,1917.p.8.

O Laboratório de Analyses fora criado por Antônio de Melo e Souza em 1923, estando sob a responsabilidade do químico Francisco Gomes Valle Miranda, mas debutou em fevereiro de 1925, RIO GRANDE DO NORTE…, 1925, Seção Departamento de Saúde Pública, p.36. O mesmo ocorrendo com o Laboratório Bacteriológico, dando o ar de sua graça somente em 1924, Ibid., p.31. A Seção de Hidroterapia, por sua vez, já se encontrava funcionando em 1916, cinco anos depois das determinações do RI, RIO GRANDE DO NORTE. Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo na abertura da primeira sessão da nona legislatura em 1º de novembro de 1916 pelo governador desembargador Joaquim Ferreira Chaves. Natal: Typ. d’A República, 1916. Seção de Assistência Pública, p.20.

A partir de 1917, começam a surgir nessas Mensagens informações sobre nascimentos de crianças e pedidos para criação de uma casa de maternidade. Neste último ano, o governador Ferreira Chaves, examinando os estudos “demographo-sanitarios” feitos pela IGHAP, comentou os índices de mortalidade no Estado e apontou uma possível solução:

Do quadro representativo das cifras aqui mencionadas, organizado pela Repartição de Hygiene, verifica-se que as affecções do apparelho digestivo foram a causa mais frequente da lethalidade infantil nesta capital, affecções que se originam de factores diversos, entre os quaes a falta dos cuidados que devem ser prodigalizados á infância, e o esquecimento dos preceitos aconselhados pela hygiene infantil. (…)

Uma casa de maternidade para assistência á mães desprotegidas, e um estabelecimento de proteção á infância desvalida dariam, estou certo, nesse particular os melhores resultados. RIO GRANDE DO NORTE…, 1917, p.8.

Embora houvesse no HCJB uma seção de maternidade, que se pode deduzir nos documentos pelo menos desde 1915 (eles falam em nascimentos de crianças, 24 neste ano), ela não dava conta das necessidades da população feminina. O pedido de Ferreira Chaves dirigia-se à construção de uma “casa de maternidade”, ou seja, um prédio particular para realizar os cuidados com as parturientes. Enquanto não obtinham respostas positivas quanto à construção desse espaço, os governadores insistiam na ampliação e melhoramentos da seção de maternidade do HCJB e das enfermarias femininas. Assim, em 1921, Antônio de Mello enviou uma proposta de orçamento com verba especial para a ampliação da seção de maternidade, RIO GRANDE DO NORTE…, 1921, p.18.. Em 1923, o pedido era de verbas para iniciar a construção de um pavilhão de maternidade, RIO GRANDE DO NORTE…, 1923, p.36., reiterado em 1924,RIO GRANDE DO NORTE…, 1924, p.27.. Em 1926, os cuidados são estendidos para além de um espaço físico, propondo o médico Varela Santiago “A creação de um serviço especial de assistencia pre e post natal, o qual, sem grande dispêndio para o Estado, irá concorrer para diminuir cada vez mais a cifra da morbilidade e mortalidade infantis”, RIO GRANDE DO NORTE. Mensagem lida perante a Assembléa Legislativa na terceira sessão da 14º Legislatura em 1º de Outubro de 1926 pelo Presidente José Augusto Bezerra de Medeiros, 1926, p.61., devidamente instalada somente em 1930, no governo de Juvenal Lamartine, RIO GRANDE DO NORTE…, 1930, p.78..

No HCJB, havia uma seção destinada à maternidade pelo menos desde 1915, mas parecia não ter condições de atender a grandes demandas. A partir de 1915, no governo de Ferreira Chaves, os pedidos pela ampliação, construção de um pavilhão ou casa de maternidade tornaram-se cada vez mais frequentes e as estatísticas começaram a figurar nas Falas dos Governadores, contando inclusive com a participação da sociedade civil, que reunia homens e mulheres da elite natalense em campanhas públicas para arrecadar fundos, fazendo-se festividades diversas, como quermesses, loterias, missas etc.

GRIPE ESPANHOLA

Em 1918, a pequena Natal seguia sua vida tranquila, em meio a um mundo que há quatro anos se esmagava em uma guerra com um nível de crueldade até então nunca testemunhado. Os natalenses acompanhavam a Primeira Guerra Mundial através dos jornais locais, que traziam cotidianamente notícias dos combates, histórias pitorescas de soldados e da incrível ação das novas armas como os aviões e os submarinos. Apesar do natalense ler sobre o conflito, este se mantinha distante, sem alterar o dia a dia da cidade.

Somente sete meses depois, em maio de 1918, parte do Rio de Janeiro a pomposa frota naval, batizada de DNOG (Divisão Naval de Operações de Guerra). Em julho, esta frota composta de oito navios aporta no rio Potengi e a cidade se encanta com o aparato militar. Teve recepção, missa campal e até hino de Palmyra Wanderley para os combatentes que iam para além mar, foi declamado.

Aparentemente pouca gente em Natal prestou a mínima atenção quando o jornal A República publicou na sua edição de terça-feira, 24 de setembro de 1918, uma pequena nota intitulada “Influenza”. Esta dava conta que o ministro do exterior, Nilo Peçanha, havia recebido a notícia que vários marinheiros da DNOG morreram em consequência da “influenza” ou “gripe espanhola”.

Após a primeira notícia, começam a chegar novas informações que deixavam claro que uma epidemia estava crescendo pelo mundo afora, tornando-se o que a ciência classifica de pandemia, uma doença em escala global.

O governo estadual não se pronunciava sobre a crise. Apenas em 1º de novembro, o então governador potiguar, Ferreira Chaves, anuncia através do jornal “A Republica”, que estava “agindo para acudir a pobreza desta cidade”, organizando na Escola Frei Miguelinho uma comissão de apoio, que visava fornecer alimentação aos necessitados no bairro.

Este trabalho estava sob a direção do diretor da Inspetoria de Higiene, o Doutor Calistrato Carrilho, com a participação do professor Luís Soares, então diretor da escola “Frei Miguelinho”, do Padre Fernando Nolte, do Dr. Antônio Soares, do Tenente João Bandeira e do Senhor Laurentino de Moraes, contando com o apoio dos escoteiros. Desta comissão o governo criou então um Posto de Assistência do Alecrim, onde trabalhavam os médicos Varela Santiago e Marcio Lyra. A missão do Posto era fornecer remédios, alimentos e até mesmo querosene para iluminação.

Em meio aos carcomidos exemplares que restam dos antigos jornais natalenses na atualidade, chama a atenção um aviso publicado, pela Inspetoria de Higiene, no início de dezembro de 1918, intitulado “A Influenza Espanhola, Conselhos ao povo”, onde entre outras coisas, solicitava “evitar aglomerações, não fazer visitas, evitar toda fadiga e excesso físico”.

Um indício de como estava à situação no bairro do Alecrim é apontada pela própria comissão, que em média atendia a um número superior de 350 pessoas por dia. Escoteiros percorreram diversas ruas do bairro, para entregar alimentos e remédios nas casas dos que não tinham sequer condições de se deslocarem para o colégio “Frei Miguelinho”.

As ações então cresciam; no bairro das Rocas, as “Damas de Caridade”, grupo ligado a Igreja Católica, atuavam neste bairro no apoio principalmente às famílias dos pescadores. De barco seguiu para as Praia de Muriú, Praia de Maracajaú, Farmacêutico Floriano Pimentel, com vários medicamentos. Os cinemas Royal e Polytheama, que estavam sem exibições cinematográficas desde outubro, foram rigorosamente desinfetados.

Outra notícia, sem detalhes estatísticos ou maiores referências, da conta que o governador Ferreira Chaves buscava atender, com as mirradas condições do tesouro estadual, os inúmeros pedidos das cidades e vilas do interior para o combate a pandemia.

Apesar da assistência oferecida, o número de mortos crescia na cidade. Discretamente, nas notas diárias dos jornais, surgem diversas notas de falecimentos, atribuindo abertamente a gripe espanhola à causa da morte de diversas pessoas, envolvendo principalmente representantes das classes menos abastardas da cidade.

São inúmeros os informes, tais como o do funcionário da Estrada de Ferro Central, José Calazans Carneiro, que perdeu dois filhos menores de idade. Já o capitão da polícia, Abdon Trigueiro, Sargento da polícia Othoniel Trigueiro. Ou o falecimento de Alfredo Costa, serralheiro da Ferrovia Great Western, que deixou numerosa família e a comerciário da empresa A. dos Reis & Cia., Miguel Medeiros, que morreu nas dependências do Hospital Juvino Barreto e foi enterrado no cemitério do Alecrim.

Sem maiores dados é temerário afirmar se a classe mais abastarda da cidade na época, foi ou não atingida diretamente pela pandemia de gripe espanhola. Entretanto, entre os inúmeros necrológicos publicados no período temos os casos de falecimento do desembargador Vicente Lemos, ou do Comerciante Alexandre de Vasconcelos, Professor Tertuliano da Costa Pinheiro. Contudo, em nenhum dos necrológicos das pessoas mais bem posicionadas socialmente, não consta à mínima referência que a causa de alguma destas mortes tenha sido atribuída à gripe espanhola.

É na tradicional mensagem ao Congresso Legislativo do estado, lida no dia 1 de novembro de 1919, que o governador Ferreira Chaves deixa transparecer que a gripe espanhola deixou marcas em todas as camadas sociais de Natal. Ele afirma que a pandemia, “mesmo não sendo tão mortífera como em outros lugares, roubou-nos muitas vidas preciosas e pesou cruelmente sobre todas as classes da sociedade”.

No mês de dezembro de 1918, da mesma forma abrupta que este pesadelo chegou a Natal, ele estava deixando a nossa terra. No dia 11 de dezembro, a Inspetoria de Higiene considerava praticamente extinta o surto de gripe espanhola em Natal.

Do interior do Rio Grande do Norte chegam notícias do declínio dos surtos de gripe espanhola em Natal. De Lajes, o Intendente Felix Teixeira informava o recuo da doença e agradecia o apoio do governador Ferreira Chaves.

No dia 15 de dezembro o governo decidiu encerrar as atividades do Posto de Assistência do Alecrim, o principal da cidade. Ao final houve homenagens, festas e comemorações para a Inspetoria de Higiene, aos que trabalharam e mantiveram ativo o Posto de Assistência do Alecrim e aos escoteiros, sendo todos recebidos com honras pelo mandatário estadual no palácio do governo.

Segundo informou o professor Luís Soares, em trinta dias de atividades, o Posto atendeu nada menos que 10.814 pessoas. Os escoteiros visitaram neste período 169 casas, atendendo 135 doentes que não puderam nem mesmo se deslocar para o local de assistência.

Foto do Hospital de Caridade Juvino Barreto, cerca de 1910. Fonte: BODAS de Ouro das Filhas de Sant’Anna, 1934, p. 121.
Fachada do HCJB, década de 1920. Fonte: Fotografia “Chic”, João Crisóstomo Galvão.

ESCOLA DOMÉSTICA

A influência das correntes européia e americana no Brasil ocorreu via teóricos que marcaram fortemente com suas idéias, a filosofia da educação de um tempo, a exemplo de Rousseau, Froebel, Claraparède, Locke, Comte e outros. Essas influências eram materializadas no ideário de alguns intelectuais brasileiros e nas reformas por eles ensejadas; a exemplo das conhecidas Reformas: Sampaio Dória (1920, São Paulo), Anísio Teixeira (1924, Bahia), Fernando de Azevedo (1928, Distrito Federal), Lourenço Filho (1923-1924, Ceará), Antônio Carneiro Leão (1922-1926, Distrito Federal e Pernambuco) e com Joaquim Ferreira Chaves (1914-1920), no governo José Augusto (1924 a 1928), Nestor Lima (1925- 1928), no Rio Grande do Norte. Essas, dentre outras reformas que ocorreram no período, foram relevantes porque passaram a dinamizar o processo educacional do país, reorganizando o ensino sob novos patamares que, embora adstritas aos Estados que a implantaram, no seu conjunto, integraram um movimento mais global de renovação educacional no século XX.

Ao retornar da viagem à Europa, Castriciano imbuído desse ideário, resolveu conjuntamente com outros intelectuais norte-rio-grandenses fundar inicialmente uma associação denominada Liga de Ensino do Rio Grande do Norte. Convenceu amigos e, entre estes o Governador Alberto Maranhão, a aderir ao seu projeto educativo. Através da Liga de Ensino do Rio Grande do Norte é que criou a Escola Doméstica de Natal. Portanto, falar da Liga de Ensino significa inseri-la nos ideais dos seus fundadores, os mesmos da Escola Doméstica de Natal (ED); significa também considerá-la como concretização de um projeto social e pedagógico dos intelectuais que a criaram (Henrique Castriciano de Souza, Francisco de S. Meira e Sá, José Augusto Bezerra de Medeiros, Romualdo Galvão, Felipe Guerra, Ferreira Chaves, Manoel Dantas, João Juvenal Pedrosa Tinôco, dentre outros) como uma medida prática para o grupo de reformadores objetivar os seus propósitos, ganhar força política junto à autoridade política local e inserir-se nos projetos republicanos. Podemos afirmar também que esse grupo de intelectuais participou com muita relevância do Movimento Renovador da Educação não só no RN, mas também no Brasil.

Francisco de S. Meira e Sá (secretário e ajudantes de ordens do governo, foi governador do Estado em duas gestões administrativas, assumiu a segunda presidência da LERN), Felipe Guerra (desembargador do Estado e presidente da LERN no ano 1935), Ferreira Chaves (Desembargador e ex. governador do Estado), Romualdo Galvão (coronel do exército , presidente do congresso e inspetor do tesouro), Manoel Dantas (diretor geral da instrução do RN e redator-chefe do jornal oficial).

Em uma crônica de 1947, publicada no Diário de Natal, encontramos o mesmo tom saudoso e triste quando Cascudo questiona onde está a “Escola Doméstica” que existia na sua infância.

Onde está a Escola Doméstica que havia, no meu tempo de menino, uns alicerces escuros e povoados de mato. Era ponto de briga infantil e do amor adulto. Hoje o amor não escolhe ponto e tem a cidade inteira por mensagem. E é assim mesmo com a briga.
No governo Ferreira Chaves, 1914-1930, construíram a Escola Doméstica. Antes, durante um ano, houve uma espécie de armazém com curiosidades enviadas ao Governador pelos amigos. Era tanta curiosidade que o salão encheu e a Vila Cincinato, hoje Potiguar não cabia os testemunhos de amizade.” CASCUDO, Luís da Câmara. Mil Homens. Diário de Natal, 14 de agosto de 1947.

Primeira turma de alunas da Escola Doméstica de Natal em aula de culinária, 1918. Fonte: Acervo da Escola Doméstica de Natal. Natal, RN.

ESCOLA DE APRENDIZES

A sede do Natal-Club, no início do século XX, provavelmente antes de abrigar a Escola de Aprendizes Artífices. MIRANDA, 2014, p. 42.

A fotografia acima, tirada por Manoel Dantas, sócio do club e fotógrafo diletante nas horas vagas, apresenta o Natal-Club ainda nos primeiros anos do início do século XX, provavelmente pouco antes de servir como sede à Escola de Aprendizes. Sito entre a rua Visconde de Inhomirim (hoje João Pessoa) e a rua Nova, pouco depois denominada de Avenida Rio Branco, o club tinha uma localização central na geografia da cidade, privilegiada pela proximidade com a linha de bonde, como vemos no instantâneo de Dantas. Aquele meio de transporte, embora em 1911 já tivesse alcançado o bairro popular do Alecrim, não devia, contudo, servir aos aprendizes, cuja condição não permitia o pagamento da passagem que, pelos idos de 1908, custava 100 réis (“Ferro carril do Natal. A Republica, 12 set. 1908). Se os sócios do Natal-Club e outros membros da elite local economizariam com os sapatos, os aprendizes, ao contrário, teriam que gastar as solas de seus pobres calçados para chegar à Escola.

A cessão da sede do Natal-Club à Escola de Aprendizes, embora que por pouco tempo, é mais um indicativo do que já havíamos exposto aqui: o desejo de transformar, de criar novos seres, homens-cidadãos a partir da educação. Não é coincidência que todos os personagens há pouco citados tenham feito parte da Liga do Ensino, bem como fossem congregados nas lojas maçônicas locais. Alberto Maranhão, Ferreira Chaves, Manoel Dantas, Henrique Castriciano, entre outros, usavam espaços de sociabilidade como o Natal-Club e as lojas maçônicas para tramar seus projetos no campo político e também educacional. Nesses meios, articulava-se o discurso de que a Escola, espaço consagrado à formação e difusão dos saberes e técnicas da ciência, seria o elemento essencial para a formação da nação do futuro.

Alberto Maranhão foi um dos líderes da oligarquia Albuquerque Maranhão e governou o estado do Rio Grande do Norte por dois mandatos (1900-1904; 1908- 1914). Trajetória similar seguiu Joaquim Ferreira Chaves Filho, por longo tempo aliado dos Albuquerque Maranhão e governador do estado em três ocasiões: entre 1891 e 1892; de 1896 a 1900; e de 1914 a 1920. Manoel Dantas foi advogado, professor do Atheneu, redator-chefe do jornal A Republica, secretário do Partido Republicano Federal e presidente da Intendência de Natal, para ficarmos apenas em algumas das atividades exercidas pelo autor das Coisas da terra. Por fim, Henrique Castriciano foi advogado, escritor, secretário de governo, procurador geral do estado, vice-governador, fundador da Liga de Ensino e um dos precursores do escotismo no estado. Todos eram bacharéis em Direito (ver Nonato, 1960), vinculados ao campo da política, membros de lojas maçônicas (ver Silva; Estevam; Fagundes, 2001) e, em algum momento de suas trajetórias, estiveram ligados ao campo da educação, defendendo em seus discursos a escola como meio para formação de um novo país.

Em pouco tempo, a sede da Escola iria para a Avenida Rio Branco. A lei de nº 338, de 29 de novembro de 1913, assinada pelo então governador Alberto Maranhão, transferiu o prédio que pertencia ao patrimônio estadual para a União, confirmando a mudança de sede da Escola para um prédio mais amplo, no qual permaneceria, com algumas reformas a partir da década de 1920, até o ano de 1967.

em 1921, vemos a lateral da Escola em sua terceira sede, localizada na Av. Rio Branco, nº 743, em prédio que sediara a Polícia Militar do Rio Grande do Norte. Fonte: Arquivo do IFRN, pasta “fachadas da Escola”.
No ano de 1914, a Escola de Aprendizes e Artífices passa a denominar-se Liceu Industrial e transfere-se para o prédio da Rua Nova (Av. Rio Branco), 743, Cidade Alta, oferecendo cursos de desenho, sapataria, marcenaria, funilaria e alfaiataria. O governador do Estado na época era o Desembargador Ferreira Chaves, sucessor de Alberto Maranhão.

Não identificamos a que loja maçônica pertencia o primeiro diretor da Escola de Natal, mas há fortes indícios de que era da maçonaria37, e, sem dúvida, era uma pessoa muito bem relacionada, o que facilitou a sua indicação ao cargo. Nas matérias do jornal A Republica, Sebastião Fernandes, um dos tantos membros da elite potiguar formado na Faculdade de direito do Recife (NONATO, 1960) e ex-procurador geral do Estado, aparece ligado a nomes como os de Ferreira Chaves, Manoel Dantas, Henrique Castriciano, Ezequiel Wanderley, Honorio Carrilho, Alberto Roselli, além dos membros da família Albuquerque Maranhão, entre os quais destacamos Sérgio Barretto, Ernesto Maranhão e o já citado Alberto Maranhão38. Com Roselli, Carrilho e Dantas, chegou, inclusive, a formar uma sociedade de Assistência Judiciária, nos moldes de outras similares espalhadas por diversos estados brasileiros, tendo contado ainda com os serviços de outros ilustres nomes da sociedade natalense, tais como Odilon Filho, João Bigois e Ponciano Barbosa (“Varias”. A Republica, 23 ago. 1912, p.1).

Se a missão, desde o princípio, parecia árdua, podemos dizer, por outro lado, que Sebastião Fernandes não estava só nessa empreitada. Nas matérias do jornal A Republica, o primeiro diretor da Escola, que também chegou a exercer o cargo de procurador geral do Estado, aparece ligado a nomes de outros membros da elite local, especialmente políticos, tais como Ferreira Chaves, Manoel Dantas, Henrique Castriciano, Ezequiel Wanderley, Honorio Carrilho, Alberto Roselli (com os dois últimos chegou a criar uma sociedade de Assistência Judiciária), além dos membros da família Albuquerque Maranhão, entre os quais destacamos Sérgio Barretto, Ernesto Maranhão e Alberto Maranhão, governador do estado de 1900 a 1904 e de 1908 a 1914, sendo, portanto, o chefe do Executivo estadual à época da inauguração da Escola em Natal. As relações entre Fernandes e os demais personagens citados podem ser vistas em “Vida social”. A Republica, Natal, 01 fev. 1909, p.1; “Dr. Sergio Barretto”. A Republica, Natal, 12 mar. 1909, p.1; “Publicações”. A Republica, Natal, 12 abr. 1910, p.1; “Varias”. A Republica, Natal, 23 ago. 1912; “Liga da Defesa Nacional. A Republica, Natal, 31 jul. 1917, p.1; “Dr. Manoel Dantas”. A Republica, Natal, 15 jul. 1924, p.1.

GRUPO ESCOLAR AUGUSTO SEVERO

O quadro de honra era a exaltação pública do bom comportamento do aluno, que, ao se destacar do grupo, tornava-se um exemplo e recebia condecorações, no final do ano letivo, em solenidade festiva no Teatro “Carlos Gomes”. Era um evento divulgado pela imprensa, a convite do governador.

Tal medida incluía-se no Regimento Interno das Escolas Públicas do Rio Grande do Norte, (art.20) como um dos instrumentos de estimulo e meio disciplinar em substituição à palmatória. A escola transmissora da ciência e dos conhecimentos úteis é também responsável pela formação de bons hábitos, bons costumes, bom
comportamento.

Um exemplo, a participação de alunos num desfile entre o cruzamento da Avenida Rio Branco e Rua Ulisses Caldas, aos olhares dos professores e da população natalense, à chegada do Governador Ferreira Chaves (1914-20).

VILA CINCINATO

Residência oficial dos governadores do Estado. Rua Trairi, defronte ao Palácio dos Esportes. Ainda existe.

O Monte Petrópolis era uma região de Cidade Nova nas proximidades de outra residência de Alberto Maranhão. Além de atender outra propriedade do então governador, a linha também atendia o Hospital Juvino Barreto e a Vila Cincinato, propriedade que seria a residência de Joaquim Ferreira Chaves, que assumiu o Executivo estadual após o fim do segundo mandato de Alberto Maranhão. De acordo com Medeiros, após a eletrificação dos bondes e a criação da linha atendendo o bairro Alecrim, os aforamentos de lotes acima de 1 hectare nessa região foram intensificados (MEDEIROS, Gabriel Leopoldino Paulo de. A Cidade Interligada. Op. cit., p.134.).

Durante a gestão de Joaquim Ferreira Chaves (1914-1920) têm-se várias publicações no A Republica que atestam essa relação não dissociada entre público e privado. Em fevereiro de 1914, o jornal A Republica destacou que Ferreira Chaves recebia “todas as pessoas que desejassem falar-lhe” na Vila Cincinato das 10h às 12h da manhã, VARIAS. A Republica, Natal, 10 fev. 1914. p.1. A nota informou que antes desse horário o governador empregava seu tempo para estudar os vários assuntos do serviço público que lhe competia, somente atendendo fora do horário exposto se ocorresse alguma emergência. Muitas notas da coluna Varias do A Republica noticiaram ainda visitas de homens públicos à residência do governador, VARIAS. A Republica, Natal, 10 fev. 1914. p.1. Vale ressaltar que, nesse período, o Palácio do Governo, local em que o governador deveria exercer suas atividades, localizava-se na rua da Conceição, em Cidade Alta. Em 1902, ainda durante a gestão de Alberto Maranhão, ocorreu a transferência da sede do executivo estadual que entre 1869 e 1902 localizava-se em um sobrado na rua do Comércio, na Ribeira, CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal. Op. cit., p.167-169.

A Vila Cincinato foi muito citada em matérias e notas sociais do jornal A Republica durante a gestão de Ferreira Chaves como sede de eventos e visitas políticas, A REPUBLICA, Natal, 18 dez. 1918. p.1; A REPUBLICA, Natal, 28 fev. 1917.p.1. O governador não utilizava sua chácara apenas para exercer funções de governo, mas também promovia jantares e solenidades festivas. Um exemplo dessas comemorações ocorreu em dezembro de 1915, em celebração ao aniversário de seu neto, o jovem Cincinato Chaves. O então governador parecia nutrir grande amor pelo jovem Cincinato, já que batizou a sua chácara em homenagem ao neto. O A Republica noticiou o grande evento realizado na propriedade de Chaves, que teve a participação de todos os sócios da P. R. C. Cricket Club e de nomes importantes da sociedade e da política local. A comemoração contou com discursos e números de valsas, VARIAS. A Republica, Natal, 17 dez. 1915. p.1; VARIAS. A Republica, Natal, 18 dez. 1915. p.1. O jardim da Vila Cincinato foi especialmente decorado para a ocasião, recebendo os amigos, parentes e simpatizantes do jovem Cincinato Chaves, que completava apenas doze anos de idade.

Em fevereiro de 1914 Cidade Nova foi cenário de um luxuoso casamento. Tratava-se do enlace matrimonial entre Beatriz Dantas, filha do jornalista e redator Manoel Dantas, e Julio de Mello Rezende, engenheiro da Inspetoria de Obras Contra as Secas. O casamento foi realizado na Vila Pretoria, propriedade de Manoel Dantas, tendo como testemunha membros importantes da política local, como o governador Ferreira Chaves. A cerimônia foi assistida por “muitas famílias e cavalheiros de nossa elite social, aos quaes serviu-se uma lauta mesa, enfeitada a capricho, de finas e excelentes massas e abundante serviço de buffet”, ENLACE Rezende-Dantas. A Republica, Natal, 16 fev. 1914. p.1. A matéria ainda elogiou a decoração e a iluminação do casamento, que contou com o trabalho da Empresa Tração Força e Luz e com a presença da banda de música do Batalhão de Segurança.

As regras oficiais do esporte não eram seguidas ao pé-da-letra, até por desconhecimento das mesmas, o que não impediu o surgimento de muitos clubes de vida efêmera, que disputavam partidas amadoras entre si. Entre eles destaca-se o time do PRC (Partido Republicano Conservador), fundado em 1914 pelo neto do governador Ferreira Chaves, que fazia seus jogos no grande quintal da residência oficial.

O jornal situacionista, contando com as reclamações dos moradores, continuou denunciando a presença de animais pelas ruas da cidade e a criação de galinhas e suínos em vários quintais na área urbana de Natal, ANIMAES soltos. A Republica, Natal, 31 maio 1907; A REPUBLICA, Natal, 06 set. 1907.p.3; VARIAS. A Republica, Natal, 18 mar. 1910; VARIAS. A Republica, Natal, 15 out. 1910. p.1; VARIAS. A Republica, 08 maio 1913.p.1; entre outras. Em abril de 1914 o A Republica publicou uma extensa nota comentando sobre a pastagem de uma vaca na praça Pedro Velho, nas proximidades da Vila Cincinato, residência do então governador Ferreira Chaves. A matéria destacou que o vagar da vaca era representativo da tranquilidade que o ambiente oferecia para essa atividade, o animal poderia pastar sem “o menor receio de intervenções incommodas e impertinentes”, VARIAS. A Republica, Natal, 13 abr. 1914. p1.. O texto ainda apontava que por toda a Cidade Nova era frequente encontrar quadrúpedes de várias espécies ruminando a sua ração diária, sem serem perturbados. Apesar da boa vontade dos fiscais da Intendência, a notícia destacava que eles não tinham condições de dar conta da quantidade de serviço e vencer a distância entre os bairros.

Em 1916, o A Republica noticiou que o então governador Ferreira Chaves fez uma visita às plantações do Dr. Neumayer, no Tirol, VARIAS. A Republica, Natal, 07 jul. 1916. p.1.. Não existiam resoluções municipais proibindo o cultivo de roças nas áreas urbanas da capital, mas o fato era no mínimo intrigante. O poder local e estadual iniciou o século XX com uma grande promessa de remodelação da capital, no intuito de modernizar a cidade, de inserir equipamentos urbanos, de aproximá-la de cidades da Europa e dos Estados Unidos. Era de se esperar que cultivos de plantas e criação de animais não fossem tolerados nos espaços urbanos da cidade, mas, como observado, parece que essas atividades eram bem comuns no bairro. O rural era uma característica forte daquele bairro tido como representação do progresso.

Ao longo da pesquisa não foi possível descobrir a localização exata da Vila Cincinato. Pelas notas de jornais que destacavam os eventos realizados nessa propriedade, analisadas no segundo capítulo, sabe-se que a Vila Cincinato localizava-se nas proximidades da praça Pedro Velho. João Miranda, em seu livro 380 anos de história foto-gráfica da cidade de Natal 1599-1979, destacou que a propriedade de Ferreira Chaves localizava-se entre a rua Trairi e a praça Pedro Velho. Miranda novamente não citou a fonte utilizada para destacar essa localização. A carta 152 referiu-se a um terreno de grandes dimensões tendo como um de seus limites a praça Pedro Velho, terreno que pela sua extensão poderia ter sido utilizado para a construção da Vila Cincinato. Contudo, a carta 152 não apresentou a pua Trairi como limite e sim a rua Mipibu. Assim, não se pode afirmar com segurança se a Vila Cincinato foi construída no terreno correspondente à carta 152. Entretanto, não foram encontradas outras cartas mencionando Ferreira Chaves como foreiro e a praça Pedro Velho como um dos limites, o que pode indicar que o terreno da carta 152 teria abrigado a tão famosa residência de Ferreira Chaves.

Na avenida Deodoro destaca-se o casarão de número 479. Construído em 1916, conforme a pesquisadora Jeanne Nesi para servir de residência do comerciante Irineu Pinheiro. Tempos depois foi também residência do ex-governador Joaquim Ferreira Chaves, outro ilustre proprietário do imóvel foi o médico Varela Santiago. Por último pertenceu ao Hospital Infantil Varela Santiago. Um belo exemplar da arquitetura de estilo eclético, é desde 1989 Tombado a nível estadual. Atualmente funciona uma agência de propaganda mantendo na edificação um diálogo entre o tradicional e o moderno. (Referência: NESI, Jeanne Fonseca Leite. Natal Monumental. Natal: IPHAN, 2012)
“Pic-nic offerecido ao governador Ferreira Chaves na Villa de Santa Cruz” [1914]
Residência da Sinhá Ferrira Chaves, filha do sen. Ferreira Chaves [1919] Rio de Janeiro

CASA DE DETENÇÃO

A construção dessa penitenciária em um prédio que era anteriormente uma residência foi bastante criticada pelo jornal oposicionista, o que, possivelmente, oferecia mais motivos para o jornal A Republica deleitar-se em elogios à nova obra de Alberto Maranhão. As matérias do jornal oposicionista insistiam em afirmar que a antiga residência de campo de Inês Barreto não era adequada para servir como penitenciária, “não tendo proporções e nem a solidez e segurança precisas para uma simples cadeia de aldeia, quanto mais para uma penitenciaria moderna”, MAIS arranjos. Diário do Natal, Natal, 19 abr. 1910. p.1.

Em 18 de abril de 1911 o A Republica noticiou que as obras da nova penitenciária no Monte Petrópolis estavam concluídas e que durante a semana os presos da cadeia pública existentes na Praça André de Albuquerque, em Cidade Alta, seriam removidos para a nova instituição, VARIAS. A Republica, Natal, 18 abr. 1911. p.1.. A remoção foi realizada no dia 20 do referido mês, sendo acompanhada por um pelotão do Batalhão de Segurança e da Guarda Policial. A atividade de transferência ocorreu sem nenhum incidente, VARIAS. A Republica, Natal, 20 abr. 1911.p.1.

Casa de Detenção localizada no Monte Petrópolis. Fonte: A REPUBLICA, Natal, 15 nov. 1911.p.2

A imagem da nova casa de detenção foi publicada no jornal A Republica em novembro de 1911. Como a fotografia demonstra, tratava-se de um amplo prédio, com várias portas e janelas, por onde poderiam circular os “bons ares” vindos do oceano, conforme destacavam as matérias publicadas no periódico do Partido Republicano Federal do Rio Grande do Norte. Contudo, a exaltação dessa construção parece que foi uma característica que perdurou apenas durante o governo de Alberto Maranhão e de seus simpatizantes. As reformas no prédio da nova penitenciária continuaram ao longo dos anos e as mensagens dos governadores a partir da gestão de Ferreira Chaves ressaltaram as dificuldades para adaptar a antiga residência localizada no monte em uma penitenciária salubre, capaz de atender as demandas da cidade, que, provavelmente, aumentavam a cada ano. Os governadores criticavam a falta de asseio e de condições higiênicas adequadas no prédio, e apontavam como justificativa dessa insalubridade a dificuldade de adaptação do mesmo, RIO GRANDE DO NORTE. Mensagem apresentada pelo governador Ferreira Chaves (1917).

TERRENOS

Ferreira Chaves foi apontado como enfiteuta de terrenos localizados em Cidade Nova em duas cartas de aforamento. Entre essas cartas, tem-se a de número 152, expedida em agosto de 1908, NATAL. Prefeitura Municipal do Natal. Carta de aforamento n.152, de 05 de agosto de 1908. Natal: s.d. Tratava-se de um terreno de 2.932,80m², localizado entre a rua Mipibu e a praça Pedro Velho. Para um terreno dessas medições como foro anual deveria ser cobrada a taxa de 14.664 réis, entretanto, a carta registrou o valor de apenas 5.340 réis.

A carta 672, expedida em 28 de dezembro de 1918, também destacou o nome de Ferreira Chaves como enfiteuta de um terreno de 242m², NATAL. Prefeitura Municipal do Natal. Carta de aforamento n.672, de 28 de dezembro de 1918. Natal: s.d.. Contudo, Chaves não conseguiu o domínio útil desse terreno via solicitação direta à Intendência. Ferreira Chaves comprou, em 1919, o direito de tornar-se foreiro do terreno constante nessa carta de Romualdo Lopes Galvão, dispendendo a quantia de 200.000 réis. Todavia, a Intendência não cumpriu as resoluções vigentes, não expedindo nova carta com a atualização dos dados e transações do novo enfiteuta. Assim, as transações de Chaves, que nesse período exercia seu segundo mandato como governador, foram registradas ainda na carta 672, demonstrando mais uma irregularidade e desorganização do poder municipal.

Em relação à alienação entre Romualdo Lopes Galvão (1853-1927) e Ferreira Chaves, ocorrida em 1919, pode-se conjecturar que se tratou de uma transferência que não tinha o objetivo apenas de obter capital econômico. Apesar de tratar-se de um terreno de dimensões não expressivas, ainda na carta 672 foi registrado que, em 1923, Chaves alienou o referido terreno por dezoito contos de réis (18:000.000) para Manoel Varella Santiago. Desse modo, em aproximadamente quatro anos, Chaves alienou o terreno por um preço exorbitante, bem superior à quantia de 200.000 réis que pagou pelo mesmo terreno a Romualdo Galvão. Essa transação pode ajudar a comprovar a hipótese de que entre Galvão e Chaves ocorreu uma alienação que visava reafirmar principalmente laços sociais, ou seja, uma alienação típica de um mercado de terras do tipo pessoal.

O filho de Ferreira Chaves, José Barreto Ferreira Chaves, também aforou terras em Cidade Nova, conforme demonstrou a carta 552, expedida em 16 de junho de 1915, NATAL. Prefeitura Municipal do Natal. Carta de aforamento n.552, de 16 de junho de 1915. Natal: s.d.. Segundo essa carta, José Chaves aforou um terreno de 1.650m², nas proximidades da avenida Campos Sales, pagando 8.250 réis de foro anual. Apesar de o valor do foro constante na carta respeitar as regras vigentes no período, os limites do terreno desrespeitavam as prerrogativas da Resolução n.55, possuindo mais de 30m em relação às ruas que lhe faziam fronteira. Além do sobrenome comum, foi possível constatar que José Chaves era filho de Ferreira Chaves por meio da análise da matéria publicada em dezembro de 1915 no jornal A Republica. A referida matéria comentou sobre a comemoração do natalício do jovem Cincinato Chaves, neto de Ferreira Chaves e filho de José Chaves, que, por sua vez, seria filho do então governador Ferreira Chaves, ver: VARIAS. A Republica, Natal, 17 dez. 1915.p.1.

A viúva de Pedro Velho também aforou um lote de 1.742 m² em Cidade Nova, tendo como um dos limites a avenida Junqueira Ayres. Por este terreno, Petronila pagava como foro anual menos da metade do que deveria. Em novembro de 1918, o terreno foi alienado pela quantia de 70:000.000 (setenta contos de) réis ao governo estadual, juntamente com o terreno que Ernesto Maranhão adquiriu em 1909. Nota-se como o valor pago pelo governo estadual pelo domínio útil dos referidos terrenos foi bastante expressivo. Esse valor pago pelo domínio útil de uma área de 2.045.6 m² (somando a área dos dois terrenos) foi o segundo mais expressivo de todas as transações de domínio útil analisadas ( O valor mais expressivo (respeitando os filtros empregados para selecionar as cartas que foram informados na Introdução) foi a quantia de 98:309.999 contos de réis pagos por Nestor dos Santos Sobrinho e Luiz Antonio dos Santos Lima, em dezembro de 1930, a Joaquim Soares Raposo da Câmara por um terreno de 6.858 m² em Cidade Nova. Ver: NATAL. Prefeitura Municipal do Natal. Carta de aforamento n.15 CN, de 01 de março de 1904. Natal: s.d.)).

Entre as resoluções que registram valores de desapropriação, a mais próxima da data dessa transação é a n.184, publicada em dezembro de 1914, que registrou o pagamento de 500.000 réis pela desapropriação de um lote de 1.572,84m² na Ribeira (A REPUBLICA, Natal, 01 dez. 1914). Mesmo sabendo que as indenizações pagas por ocasião de desapropriação estavam abaixo do preço de mercado, pode-se notar que o valor pago pelo governo estadual a Petronila foi muito acima do valor de mercado do referido lote (Pelo valor destacado na Resolução n. 184, o metro quadrado valeria aproximadamente 317,90 réis. Levandose em consideração a quantia paga pela municipalidade por desapropriação no ano de 1914, o terreno alienado por Petronila valeria aproximadamente 650.296,24 réis, quantia 107 vezes inferior ao que foi pago pelo governo estadual. Logo, mesmo que o valor pago pela desapropriação fosse abaixo do mercado, a comparação demonstra como a quantia paga pelo governo visava beneficiar a viúva de Pedro Velho.), o que sugere que o governo estadual visou beneficiá-la (Em 1910, quando Alberto Maranhão ainda governava o Rio Grande do Norte, o governo estadual adquiriu o domínio útil do sítio Solidão, propriedade de Pedro Velho que foi herdada por Petronila e seu filho Carlos Maranhão. O sítio foi adquirido por 20 contos de réis (20:000.000), o que também indica que o governo estadual privilegiava os Maranhão com somas consideráveis de capital econômico, mesmo em prejuízo dos cofres públicos. Ver: A REPUBLICA, Natal, 13 abr. 1910.), mesmo em um cenário de rompimento político entre Ferreira Chaves, responsável pelo Executivo estadual no período, e os Albuquerque Maranhão. A transação pode revelar que, de fato, os laços entre o governo estadual e Petronila eram mais firmes e se sobrepunham às querelas políticas. No A Republica é possível encontrar diversas notas que reafirmam os laços entre Chaves e a família de Petronila. Em janeiro de 1902, por exemplo, Ferreira Chaves foi testemunha do casamento de Augusto Lyra com Shopia Maranhão, filho de Pedro Velho e Petronila, enlace que ocorreu na residência do casal (CONSORCIO. A Republica, Natal, 20 jan. 1902.).

Em um banquete realizado em fevereiro de 1910 em homenagem a Tavares de Lyra, Ferreira Chaves sentou-se junto a Ernesto Maranhão e Alberto Maranhão, respectivamente filho e cunhado de Petronila, erguendo um brinde em homenagem aos anfitriões, ocasião que certamente deve ter contado com a presença da viúva de Pedro Velho (DR. Tavares de Lyra. A Republica, Natal, 28 fev. 1910.). Banquetes como esses, em que Chaves partilhou a mesa com membros da rede dos Albuquerque Maranhão, foram recorrentes (Em março de 1910, por exemplo, o presidente da Intendência, Joaquim Moura, organizou um almoço íntimo que contou com a presença de Chaves e de Ernesto Maranhão, ver: ALMOÇO intimo. A Republica, Natal, 19 mar. 1910), entre várias ocasiões que demonstram a perpetuação dos laços (Em novembro de 1913, Alberto Maranhão compareceu em um evento no Teatro Carlos Gomes para homenagear Ferreira Chaves, ver: VARIAS. A Republica, Natal, 10 nov. 1913.), ainda que no ano de 1919 seja possível acompanhar no A Republica as respostas de Chaves contra as acusações que Alberto Maranhão fazia no jornal A Opinião (Certamente a troca de acusações refletia o rompimento político que se concretizou em 1919. O jornal A Opinião não foi encontrado ao longo da pesquisa. Como o A Republica era o periódico encarregado de publicar os atos oficiais do Partido Republicano Federal do Rio Grande do Norte, as matérias publicadas visavam rebater as acusações de Alberto, tais como: TARTUFOS. A Republica, Natal, 05 jun. 1919; SEM Comentário. A Republica,
Natal, 26 set. 1919; É MENTIRA. A Republica, Natal, 01 out. 1919; RECADOS. A Republica, Natal, 01 out. 1919. Na década de 1920, os Albuquerque Maranhão voltaram a se aproximar de Ferreira Chaves e formaram uma coligação contrária ao governo de José Augusto de Medeiros.).

Em outubro de 1919 o governo do estado, ainda na gestão de Ferreira Chaves, adquiriu o domínio útil de um lote de 98,83 m² aforado inicialmente por Henrique Castriciano de Souza na Cidade Alta. Nessa transferência, o governo pagou um conto de réis (1:000.000) ao foreiro alienante, uma transação, dada as dimensões do lote, bastante lucrativa para o foreiro alienante e, consequentemente para a municipalidade, que receberia um laudêmio significativo. Conforme já anunciado em outras partes desta tese, Henrique Castriciano foi figura de prestígio em Natal, e, em 1919, ocupava o cargo de vice-governador. Dessa maneira, apesar de ter boas relações com os Albuquerque Maranhão, participando do governo de Alberto Maranhão como secretário, Castriciano se manteve na gestão local mesmo com o rompimento entre Chaves e a rede de parentela dos Maranhão.

Petrópolis e Tirol Já algumas vivendas vinham varando a selva no prolongamento do antigo Caminho da Saúde, depois Rua Coronel Pedro Soares (hoje não sei que nome tem), a Betânia, a pretoria, a Quinta dos Cajuais, a Chácara de cascudo (está já construída por Herculano Ramos em bom estilo) a casa do Dr. João Chaves, a do major Miguel Seabra, José Pinto e outras anunciavam a preferência da região para residências, o que determinou também a Ferreira Chaves, construir a Vila Cincinato e a Pedro Velho a Solidão, onde depois mandei instalar o polígono de Tiro Deodoro. A denominação de Tirol, ao bairro, foi uma simples fantasia sem justificação real. Uma lembrança da província austríaca, qualquer coisa de reminiscência recalcada de leituras literárias, e nada mais.

Foto da sede da Intendência, tirada por Manoel Dantas na década de 1910.

LE MONDE MARCHE

A nesta época a revista Oásis ganhou um caráter exclusivamente literário. O número 122, por exemplo, publicado em 15 de julho de 1900, veiculou o poema de Sebastião Fernandes, Suicidas, o drama O Engeitado, de Henrique Castriciano e o conto As flores do passado de autoria de José de Abreu565. O mesmo número divulgava a ata da sessão da associação literária Le Monde Marche, ocorrida em 12 de julho do corrente ano, na residência de Alfredo Carvalho. A ata divulgava os nomes dos novos sócios do grêmio:

Senhorita Auta de Souza, senhorita Anna Lima, Doutor Alberto Maranhão, Doutor Manoel Segundo Wanderley, Doutor Hermogenes Tinoco, Doutor Ferreira Chaves, Doutor José Paulo Antunes, Doutor Manuel Dantas, Coronel Odilon Garcia, Coronel Elias Souto, Coronel Manuel Lins C. Sobrinho, Professor J. Tirbucio de C. Pinheiro, Professor Zozino de P. de O. Fernandes, Profeossor Joaquim M. T. de Moura, Professor Luiz de França Coelho, Pharmacêutico Ovidio Fernandes, Henrique Castriciano, José de Antônio de Viveiros e Augusto Wanderley (LE MONDE MARCHE. Oásis. Natal, 15 jul. 1900.).

Observemos três dos principais membros do grupo “Le Monde Marche”: Alfredo Carvalho, estudante do colégio O Atheneu em 1894, cargo na Mesa de Renda em Areia Branca (1905) e 3º escriturário do Tesouro do Estado em 191022 – mesmo ano que Antônio de Souza, Ferreira Chaves e Meira e Sá eram senadores do Estado; Uldarico Cavalcanti, “poeta, sai do estado para a Amazônia, onde se tornou romancista” (CASCUDO, 1998, p. 50); Aurélio Pinheiro, filho do professor e oficial da guarda nacional Onofre Pinheiro, foi escriturário do Tesouro em 1897 no qual “a arte ou as letras lhe foram apenas aquele inconsequente pecado capitoso da mocidade” (COSTA, 1949, p. 50); e Antônio Soares, magistrado e poeta nascido na cidade do Açu (GALVÃO, 1949, p. 92). Diferentemente dos membros do grêmio Polymathico, os jovens do “Le Monde Marche”, como identificamos, atuaram em ocupações profissionais distantes dos cargos políticos do grupo pedrovelhista.

No fim do século XIX, estávamos diante de uma população no qual, aproximadamente, 181.137 indivíduos (sendo 89.119 homens e 92.018 mulheres) eram analfabetos, de um total de cerca de 233.979 habitantes norte-rio-grandense. Contudo, ainda que os chefes políticos norte-rio-grandenses, entre eles Alberto Maranhão, Augusto Tavares de Lyra, Joaquim Ferreira Chaves, Antônio José de Melo e Souza e Juvenal Lamartine Farias tenham empreendidos esforços em suas gestões para criarem instituições educadoras que contribuíssem para a transformação e para o desenvolvimento da sociedade potiguar, o colégio secundarista Atheneu era considerado um caso a parte. A “égide ateniense”, assim denominada por Câmara Cascudo, não era aberta a todos os filhos da terra potiguar, uma vez que o seu programa curricular era destinado a formar exclusivamente os filhos dos homens de posse e de prestígio na capital norte-rio￾grandense, já que nem todos os potiguares dispunham de condições financeiras para matricular e manter seus filhos nessa instituição.

SPORT CLUB NATALENSE

O Sport Club Natalense, fundado na capital potiguar no ano de 1906. Três anos depois, o Sport Club seria a importante sede dos dois primeiros eventos realizados em homenagem ao distinto poeta potiguar, Segundo Wanderley. No último dia de janeiro do ano de 1909, Alberto Maranhão e outros ilustres membros da elite potiguar se reuniram no Teatro Carlos Gomes, com o intuito de buscar meios para comprar uma casa para os órfãos do pranteado vate rio-grandense. A primeira medida proposta pela comissão encarregada de alcançar o dito propósito, e acatada pelos que participaram da reunião, foi a realização de uma série de conferências, espetáculos e corridas no Sport-Club. Para as conferências foram inscritos Manuel Dantas, Eloy de Souza, Domingos Barros, Honório Carrilho e Henrique Castriciano. mais de 30 dias da primeira corrida, realizou-se uma outra, com os mesmos intuitos, contando com a participação do major José Pinto, além dos nomes já referidos. A REPUBLICA, Natal, 06 fev. 1909.

Já para a primeira corrida do ano de 1909, realizada na pista do citado Club, foram “convocados” o coronel Joaquim Manoel e Fabricio Maranhão para porem seus cavalos no páreo, entre outros. Participaram, ainda, da organização desse primeiro evento em homenagem a Segundo Wanderley o senador Ferreira Chaves, os coronéis Francisco Cascudo e Olympio Tavares e o Dr. Manoel Dantas. A REPUBLICA, Natal, 06 fev. 1909. Passados pouco mais de 30 dias da primeira corrida, realizou-se uma outra, com os mesmos intuitos, contando com a participação do major José Pinto, além dos nomes já referidos. Id., Natal, 13 mar. 1909.

CANUDOS DO RN

Um momento dramático do seu governo foi o crescimento, em 1898, do movimento messiânico na Serra de João do Vale (município de Campo Grande), que desorganizava a vida produtiva naquela região, tendo em vista os sertanejos abandonarem os seus afazeres para acompanhar o agricultor místico Joaquim Ramalho. Itamar de Souza (1989, p. 230) descreve os detalhes da origem daquele movimento, uma espécie de Canudos norte-rio-grandense:

Atendendo às solicitações dos fazendeiros, comerciantes e lideranças políticas da região, Ferreira Chaves nomeou o tenente Francisco Cascudo para combater os fanáticos. Em agosto o tenente Cascudo chegou a Campo Grande e, após entendimentos com as lideranças locais, saiu com a tropa em busca dos beatos, os quais prenderam sem grande resistência. Joaquim Ramalho e seu auxiliar, de nome Sabino, entregaram-se. Os seus “discípulos” debandaram, pondo fim ao movimento messiânico que durara aproximadamente dois anos. O tenente Cascudo praticamente não teve resistência, prendeu os líderes do movimento e os encaminhou para a delegacia de Mossoró (SOUZA, 1989, p. 230)

Ante a proximidade política, já em 1892, Francisco Cascudo foi nomeado pelo então governador Pedro Velho para o Batalhão de Segurança do Estado. Pedro Velho governou o Rio Grande do Norte entre 28 de fevereiro de 1892 e 25 de março de 1896. Cf. MACHADO, João Batista. Perfil da República no Rio Grande do Norte (1889-2003). Natal: Departamento Estadual de Imprensa, 2000.

Anos mais tarde, as relações pessoais entre a família Cascudo e o sistema de poder oligárquico dos Albuquerque Maranhão havia se estreitado ainda mais. Quando do nascimento de Luís da Câmara Cascudo, em 30 de dezembro de 1898, Francisco Cascudo escolheu como padrinhos de batismo de seu filho o governador e a primeira-dama do Estado do Rio Grande do Norte naquele momento, Joaquim Ferreira Chaves e Alexandrina Chaves. Joaquim Ferreira Chaves Filho governou o Rio Grande do Norte por dois mandatos: o primeiro entre 25 de março de 1896 e 25 de março de 1900 e o segundo entre 01 de janeiro de 1914 e 01 de janeiro de 1920. Cf. Id., Ibid.

Aos vinte sete de maio de mil oitocentos e noventa e nove, na Capella do Bom Jesus das Dores Baptizei solenemente Luiz nascido aos trinta de dezembro do ano passado, filho legítimo de Francisco Justino d’Oliveira Cascudo e D. Anna Maria da Câmara. Padrinhos Dr. Joaquim Ferreira Chaves e D. Alexandrina Barreto Ferreira Chaves. Do que faço e assigno este termo.
O Parocho João Maria C de Britto

Já em 1900, o agora tenente Francisco Cascudo pediu exoneração da atividade militar para se dedicar ao comércio. Aproveitando-se das habilidades adquiridas durante o período em que mascateava pelo interior do Rio Grande do Norte, o pai de Cascudinho fundou em Natal o estabelecimento comercial “O Profeta”. CASCUDO, Luís da Câmara. O tempo e eu: confidências e proposições. 3. ed. Natal: Ed. da UFRN, 2008. (Câmara Cascudo: memória e biografias). p. 43.

PORTO

A galeota Natal, foi responsável por buscar Pedro Velho. À bordo desta embarcação, o senador daria uma volta pelo porto, passando pela draga, onde estava o chefe da comissão de melhoramentos do porto, o engenheiro Pereira Simões. Ao desembarcar no cais, o senador, junto ao governador Ferreira Chaves, foi recepcionado por parte da população, que o aclamou soltando pequenos foguetes. Uma marcha, formada por Pedro Velho, Ferreira Chaves e algumas figuras políticas importantes da capital, seguiu pelas ruas do comércio e pela travessa da Alfândega. O fotografo Bruno Bougard, acompanhou a marcha, fotografando o viajante e sua comitiva de recepção. Ao passar pelo sobrado onde funcionava a comissão de melhoramentos, na Rua do Comércio, localizada no bairro da Ribeira, o fotógrafo registrou em sua câmara algumas jovens senhoritas atirando confete das janelas do referido sobrado. O destino final da caminhada era a casa do senador, que abrigava os mais importantes chefes políticos da capital, para festejar sua chegada. A partir desta festa de recepção a Pedro Velho, podemos extrair algumas informações importantes sobre o porto de Natal, no início do século XX, de modo a compreender um pouco de sua estrutura durante a primeira fase das suas obras de melhoramento.

Apesar de terem sido rodeadas por atrasos e denúncias referentes ao desvio de recursos importantes destinados aos serviços de melhoramento, ponto já discutido em nosso primeiro capítulo, as intervenções promovidas pelo estado sobre o porto permitiram na primeira década do século XX, o acesso de navios de maior porte na região portuária. Em 1870, segundo o relatório do presidente de província da época 78 embarcações haviam conseguido desembarcar em Natal. Em 1900, no governo de Ferreira Chaves, sete anos depois do início das obras do porto, 152 embarcações haviam conseguido atracar em algum dos pontos de embarque e desembarque espalhados na cidade. Sobre esses dados da entrada de navios em Natal no Império e na República, ver: CUNHA, Silvino Elvidio Carneiro da. Relatório apresentado á Assemblea Legislativa do Rio Grande do Norte. Recife, Typ. do Jornal do Recife, 1870. p. 31, e CHAVES, Joaquim Ferreira. Mensagem dirigida ao congresso legislativo do Estado Rio Grande do Norte. Typ. do jornal A República, 1900. Navios como o planeta, do Lloyd Brasileiro, que mesmo sendo pequeno se comparado a outras embarcações dessa companhia de navegação, foi recebido com grande entusiasmo por parte da população natalense em 1902, como relataria o jornal A República.

A galeota Natal, foi responsável por buscar Pedro Velho, Galeota é o nome dado a um barco comprido, também a remo e a vela. Ver: em . Acesso em: 28 jan. 2015. À bordo desta embarcação, o senador daria uma volta pelo porto, passando pela draga, onde estava o chefe da comissão de melhoramentos do porto, o engenheiro Pereira Simões. Ao desembarcar no cais, o senador, junto ao governador Ferreira Chaves, foi recepcionado por parte da população, que o aclamou soltando pequenos foguetes. Uma marcha, formada por Pedro Velho, Ferreira Chaves e algumas figuras políticas importantes da capital, seguiu pelas ruas do comércio e pela travessa da Alfândega. O fotografo Bruno Bougard, acompanhou a marcha, fotografando o viajante e sua comitiva de recepção. Ao passar pelo sobrado onde funcionava a comissão de melhoramentos, na Rua do Comércio, localizada no bairro da Ribeira, o fotógrafo registrou em sua câmara algumas jovens senhoritas atirando confete das janelas do referido sobrado. O destino final da caminhada era a casa do senador, que abrigava os mais importantes chefes políticos da capital, para festejar sua chegada.

Esperando o governador eleito Ferreira Chaves no cais da Avenida Tavares de Lyra Foto Manoel Dantas, 1913 Colorizada
Recepção a Ferreira Chaves [1913]
Fotografia da loja Casa Moderna, em frente ao cais da Tavares de Lyra. Fonte: Arquivo Particular de Willian Galvão.
Recepção da chegada de Ferreira Chaves em 1913 para assumir o Governo do Rio Grande do Norte

PARQUE FERROVIÁRIO

Depois da instalação do Parque ferroviário da Great Western, o espaço anteriormente ocupado pelo alagadiço irá se revestir de outros sentidos. A referência da praça não é mais o rio, mas sim a estação central da Natal-Nova Cruz, na mensagem do Governador Joaquim Ferreira Chaves:

Por mais de uma vez as mensagens do governo têm trazido ao vosso conhecimento a conveniencia de melhorar, tanto no sentido do aformoseamento como da salubridade publica, a grande praça que demora em frente á estação central da ferro-via de Natal a Nova-Cruz.” (Mensagem do Governador Joaquim Ferreira Chaves, 14 de Julho de 1898).

O Governador, lamentando a falta absoluta de prédios próprios para as repartições públicas, vê ali o espaço ideal para estabelecer as principais edificações públicas da cidade, colocando-as no lado oriental da praça e fornecendo um cenário de civilização para quem chegasse de trem em Natal:

Pareceu-me, entretanto, opportuno que simultaneamente com esse trabalho se iniciasse a construcção de edificios publicos que formasse o lado oriental da praça, tanto mais quanto o Thesouro depende annualmente não pequena quantia em alugueres para as repartições estaduaes, como sejam o palacio do Governo e a chefatura de policia. E faltando em absoluto a esta capital diversões publicas, tão necessarias á vida social, constituindo mesmo o especial cuidado de todos os governos, projectei a construcção de uma casa de espetaculos, embora modesta, trabalho a que já dei começo e que conto levar a cabo com maxima economia, não excedendo talvez de 30:000$ o custo total do edificio. (Mensagem do Governador Joaquim Ferreira Chaves, 14 de Julho de 1898)

As obras ferroviárias, em conjunto com as demais melhorias que vinham sendo desenvolvidas na cidade, faziam proliferar, destarte, o número de postos de trabalhos para a população operária. O contexto de desenvolvimento urbano gerado durante a gestão de Alberto Maranhão frente ao Governo do Estado permitiu – além do aumento no número de empregos – também a proliferação de instituições de instrução, tais como as escolas de marinheiros e de artífices e o consequente aumento de salários. Esse fator se torna um mote na campanha em prol da candidatura de Ferreira Chaves ao Governo do Estado pelo periódico que representa os interesses da situação – “A República” –, reivindicando o apoio das classes operárias. Ao relatar o emprego do operariado nas novas obras, o referido periódico afirma:

É debalde que os adversários pregam contra a evidencia dos factos, procurando demonstrar que a nossa terra não tem progredido, quando por toda parte há os mais evidentes signaes de uma laboriosa actividade, seja de iniciativa de seus habitantes, ou do governo nas muitas obras em construcção, relativas a viacção terrestre pela construcção de estradas de ferro e de rodagem, e ao problema das secas, nas obras atacadas para o fim de attenuar e mesmo resolver os effeitos dessa inominável calamidade (VARIAS, A Republica, Natal, ano 25, n.19, 24 jan. 1913a, p. 01).

Retrocedendo para o período de implantação do parque ferroviário e da construção da ponte, no dia 20 de abril de 1916 é inaugurada a ponte sobre o Potengi. A inauguração contou com a presença de várias autoridades, inclusive do Governador do Estado, Joaquim Ferreira Chaves, e nessa ocasião um trem cruzou a ponte, comprovando, assim, a “solidez da obra realizada” (SOUZA, 2008, p. 788). Em 11 de julho de 1916, é anunciado o balizamento dos cilindros tombados sobre a ponte do Potengi, sob responsabilidade da Companhia de Viação e Construções, da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte. O balizamento, segundo reportagem do periódico “A República”, consiste na fixação de hastes de ferro nos cilindros da ponte por meio de braçadeiras, cuja função é o de permitir aos cilindros uma maior resistência às correntezas. Por convenção da Superintendência de Navegação as partes superiores das hastes apresentariam cones pretos para demarcação de obstruções permanentes. A fixação das hastes basicamente representava um reforço às estruturas da ponte em relação à força da correnteza do rio.

Termo de inauguração do balisamento fixo dos dois cylindros tombados sob a ponte Potengy. Aos 11 dias de Julho de 1916, entes na Capitania do Porto do Estado do Rio Grande do Norte, os abaixo assignados partiram ás onze horas em lancha especial, cedida pela Companhia de Viação e Construcções da E.F. Central deste Estado, com destino á ponte Potengy, afim de ser inaugurado o balisamento fixo dos dois cylindros tombados sob a dita ponte. Alli chegados o sr. Capitão de corveta Emmanuel Gomes Braga, Capitão do Porto, declarou inaugurado o mesmo balisamento que foi feito sob as expensas da “The Cleveland and Engeneering
Company Ltd.” mas sob a suas fiscalisação e direcção pela importância de 3.600$000 recebida do sr. dr. Manoel Dantas representante da mesma Companhia (
O BALLIZAMENTO dos cylindros tombados sob a ponte do Potengy. A Republica, Natal, ano 28, 11 jun. 1916., p. 01).

No ano posterior – 1917 – é inaugurado o complexo ferroviário da Estrada de Ferro Central. A inauguração de ambas essas estruturas permitiram a chegada dos trens dessa ferrovia diretamente à capital, bem como a sua integração com o porto. A construção do parque demandou o aterro de parte dos alagadiços entre a Ribeira e as Rocas e as obras de melhoramentos portuárias, pela proximidade com o parque, tiveram grande parte do seu material transportado pelas locomotivas da Central. Contudo, embora a evolução urbana proporcionada pela inauguração dessas obras seja comemorada largamente pelos meios de imprensa da cidade, os “efeitos negativos” são logo sentidos e comunicados por esses mesmos órgãos. Às imediações das estradas de ferro, especialmente nas áreas intersticiais entre a ferrovia e o rio, são atraídas populações pobres, tanto em virtude da circunvizinhança aos mecanismos ferroviários – atraindo população operária – como em razão da conveniência proporcionada pela proximidade em relação à utilização dos serviços. No caso específico do Passo da Pátria houve uma segmentação daquela população residente, intensificando a sua característica de baixo poder aquisitivo. O “estrangulamento” daquela aglomeração se dá, sobretudo, devido ao aspecto do sítio enclausurado entre o rio e o terreno alto do bairro da Cidade Alta.

No fim de sua administração, o governador Ferreira Chaves reforçaria esse argumento, defendendo a construção imediata de um prolongamento da Estrada de Ferro de Mossoró a Alexandria, que até então era dificultado pela concessão feita à empresa Viação e Construções:

Um dos mais valiosos servições que o governo da União poderia prestar não só ao nosso, como aos outros Estados do Nordeste, seria a construcção do prolongamento da Estrada de Ferro de Mossoró em demanda do alto sertão; pois alem de ser essa estrada de um valor economico incomparavel para a prosperidade de toda a região, viriam os trabalhos no momento presente soccorer grande numero de compatriotas necessitados.
Tornando-se porem obstaculo á realização desse grande commettimento a concessão feita pelo Rio Grande do Norte a uma empresa particular, que só com immensas difficuldades e delongas poderia prosseguir actualmente a construcção, o governador do Estado renunciou officialmente, por termo assignado perante o Ministro da Viação, aos direitos que lhe cabiam pelo contracto com aquella empresa, ficando assim o da União [sic] livre de qualquer compromisso para construir a estrada como entender mais conveniente aos interesses nacionaes. (…)
(Mensagem do Governador Ferreira Chaves de 1º de Novembro de 1919, p. 13)

Rocas vista da torre da Inspetoria Federal de Obras contra as Secas. Na fotografia aparecem as habitações concedidas pela Comissão de Melhoramentos do porto de Natal à população pobre da cidade. Notar o alinhamento das casas e da vegetação nos quintais. As ruas continuam com certa regularidade até a área conhecida como “Limpa”. Em primeiro plano temos as Oficinas de Marcenaria da EFCRGN com alguns vagões em manutenção, o local de abastecimento das locomotivas com a Caixa-d’água e a Carvoeira (plataforma de onde era colocado o carvão para abastecer a locomotiva). Notar que o alagado ainda não havia sido aterrado, apenas a parte relativa às instalações do parque ferroviário. A fotografia foi tirada da torre da Estação, que na ocasião abrigava a sede da Inspetoria Federal de Obras contra as secas – IFOCS. Fonte: NOVAES, Henrique de. Comissão de saneamento de Natal – Relatório de Abril de 1924. (Banco de Imagens HCURB/UFRN)As Rocas em vista da torre da IFOCS. Fonte: Acervo HCUrb. Nota: Detalhe para o alagadiço ainda não aterrado, separando a comunidade do parque. Pode-se ver na imagem as oficinas de marcenaria e a caixa d’água.
Postal das Obras de implatação da ponte de atracação da EFCRGN e da “Barra Dunas”. A interação entre as obras portuárias e ferroviárias na modificação da paisagem é visível nesse postal do início do século XX. Essa ponte seria o futuro atracadouro do porto de Natal, cujos armazéns seriam consrtuídos apenas em 1928, no local do alagadiço onde estão atracadas pequenas embarcações. Já a “Barra Dunas” é a fileira de casas das Rocas que permitiram a fixação das dunas da Limpa. Nesse postal, que pretende propagandear as obras da Estrada de Ferro e da Comissão de Melhoramentos do Porto de Natal, os casebres dos retirantes aparecem como uma importante obra modernizadora da engenharia portuária e não como uma ocupação insalubre e indesejada.

BONDE

A nova mudança de direção nos serviços elétricos e de bondes da capital prenuncia o que poderíamos classificar como “segundo momento de modernização”, pelo qual Natal passará nesses primeiros anos da década de 1910. Em janeiro de 1913 chega à cidade o senador Ferreira Chaves, a bordo do paquete Bahia, candidato ao Governo do Estado e representante da oligarquia Albuquerque Maranhão. O senador, em discurso aos representantes da elite e imprensa potiguares, traça um panorama dos melhoramentos efetuados no Rio Grande do Norte durante a gestão de Alberto Maranhão, seu partidário (VOLTANDO ao assumpto, A Republica, Natal, ano 25, n.24, 31 jan. 1913.). São relatados os melhoramentos efetuados na capital e em relação aos transportes no estado e é enfatizada a necessidade de acentuar os investimentos iniciados no tocante à educação, dotando o Rio Grande do Norte de mais instituições de ensino. Ferreira Chaves em seu discurso enaltece as modificações vividas por Natal nos últimos anos, ressaltando, sobretudo, a inserção da nova infraestrutura urbana e das novas edificações.

A assunção do cargo de governador por Ferreira Chaves em 1914 – bem como a gestão do Coronel Joaquim Manoel Teixeira de Moura à frente da Intendência Municipal – viria, apesar das dificuldades com os bondes, trazer uma nova onda de melhoramentos a Natal. Entre os principais benefícios implantados nesse ano se encontra a construção de um novo prédio para a Intendência – a se localizar no mesmo local –, o novo matadouro – no Porto do Padre –, o novo cemitério – a se localizar na margem oriental da Avenida Coronel Estevam – e a pavimentação da Rua Cabugi, interligando a Praça André de Albuquerque com o Passo da Pátria (POÇOS Tubulares…, A Republica, Natal, ano 26, n.122, 4 jun. 1914). Novamente o desenvolvimento viário das linhas bonde à Cidade Nova é apontado como elemento dinamizador da ocupação do bairro dentro desse novo ciclo de modernização urbana.

Em setembro de 1915 o A Republica publicou outra reclamação dos moradores de Petrópolis, que estavam revoltados pela atitude da Empresa Tração Força e Luz. Essa empresa tinha reduzido o número de bondes que atendiam a região do monte. A matéria ainda lembrava à referida empresa que na região, além da casa do governador Ferreira Chaves, existiam dois estabelecimentos de assistência pública, a Casa de Detenção e o Colégio Imaculada Conceição, além de moradores que trabalhavam em outras áreas da cidade e tinham seus afazeres prejudicados por essa diminuição de transporte. A nota também reclamava da demora dos bondes, que faziam o trajeto até a Praia de Areia Preta gastando 45 minutos, tempo “mais que suficiente para alguém de boas pernas fazer a viagem de ida e volta áquella praia”, VARIAS. A Republica, Natal, 06 set. 1915.p.2.
.

Em 1916 a concessão dos serviços elétricos em Natal muda novamente de mãos, apesar de a empresa concessionária continuar se chamando Tração, Força e Luz, os acionários dessa nova empresa não foram identificados pela pesquisa. Em 02 de dezembro de 1916 é publicada em “A República” uma comunicação de A. de San Juan, novo engenheiro chefe da Empresa de Tração, Força e Luz, ao governador Ferreira Chaves acerca da situação do equipamento herdado pela Empresa Tração, Força e Luz e os melhoramentos efetuados depois. Entre as melhorias empreendidas cabe destacar a compra de novos geradores com potência bem superior tanto para iluminação pública, como para alimentar os bondes em circulação, além da expansão das linhas de tramways pela cidade. Esses trabalhos haviam sido iniciados na gestão anterior, em março de 1915.

Os bondes, como citado por Ferreira Chaves, constituíam um ponto nevrálgico nesse processo de intervenção na cidade. Eles materializavam de certa forma o simbolismo de progresso tão almejado, sobretudo, quando são citados como os meios “ainda não logrados pelos habitantes de capitaes litoraneas maiores e de Estados mais ricos” (op. Cit.). O bonde passa a ser parte do cotidiano do natalense. O quadro de horários de trânsito dos veículos em suas respectivas linhas é publicado diariamente nos jornais. As principais avenidas da cidade passam a ter como elemento caracterizante o deslocamento dos bondes, tanto esteticamente nas fotografias e cartões-postais da cidade, como em relação ao constante movimento, imprimindo um novo ritmo a essas artérias. Os serviços de implementação das linhas férreas dos veículos nas ruas também geram problemas – como já mencionado anteriormente – em relação ao acúmulo de detritos nas vias, como por exemplo, na Avenida Tavares de Lyra, No dia 14 de abril de 1917 essa avenida passaria a abrigar a primeira agência do Banco do Brasil em Natal, uma das mais movimentadas da cidade, defronte ao Cais Tavares de Lyra.

Em resposta ao diagnóstico presente no relatório elaborado pela comissão, o governador Ferreira Chaves requisita à Empresa uma série de medidas reformatórias, entre elas: substituição dos fios condutores mal conservados, conservação e asseio dos bondes, restabelecimento do bonde do circuito central – fora de uso então (EMPREZA Tracção, Força e Luz, A Republica, Natal, ano 28, n.278, 20 dez. 1917b.). Embora, no dia 29 de dezembro de 1917 tenha sido publicada em “A República” uma resposta às reivindicações do governador por parte da Empresa Tração, Força e Luz comunicando que os reparos já haviam sido iniciados – inclusive a volta da circulação do bonde do circuito central – (EMPREZA Tracção, Força e Luz, A Republica, Natal, ano 28, n.278, 29 dez. 1917c.), não é isso que se constata, quando em janeiro de 1918 é emitido um ofício pelo gabinete da governadoria reclamando as providências ainda não efetuadas pela Tração, Força e Luz. O ofício determina, destarte, que a Empresa teria até o prazo estipulado de trinta dias para a adequação das condições dos bondes em tráfego e para por em circulação o bonde do circuito central – Ribeira/Cidade Alta (A REPUBLICA, Natal, ano 30, 9 jan. 1918a). Esses melhoramentos apenas viriam a ser efetuados nos meses posteriores.

Os veículos e as linhas depois de passarem pelas intervenções prometidas voltam a funcionar de maneira relativamente satisfatória. As linhas passando em frente às estações das estradas de ferro da Great Western, na Praça Augusto Severo, e da E. F. Central, na Esplanada Silva Jardim, faziam a integração entre o transporte interurbano com o intra-urbano, como demonstra o fragmento que noticia a chegada do governador Ferreira Chaves pela ferrovia.

S. exa. o desembargador Ferreira Chaves, acompanhado de sua exma. família, regressou hontem, em trem especial da E.F. Central, da sua fazenda “Santa Cruz”, onde estava passando a temporada de inverno. À estação da estrada de ferro compareceram a dar-lhe boas vindas, todos os chefes de serviço, altas autoridades, civis e militares, grande numero de amigos particulares, funcionários, chefes políticos e representantes de todas as classes […]. Durante o desembarque, tocou a banda de musica do Batalhão de Segurança e em bond especial seguiram muitos amigos até a Villa Cincinato (VARIAS, A Republica, Natal, ano 30, n.117, 27 maio 1918, p. 01).

Além dos melhoramentos materiais já mencionados na administração de Ferreira Chaves, outros também se faziam sentir tanto em relação à organização territorial do estado – como a continuidade do prolongamento da Central – como a nível intra-urbano com a ligação da estrada com a Estação Central nas Rocas e a construção do cais (A REPUBLICA, Natal, ano 30, n.167, 29 jul. 1918d.). Apesar de todo o avanço nas diversas áreas, a crítica à situação dos serviços da Tração Força e Luz retorna com veemência.

O governador argumenta que os problemas nesses serviços decorrem do contrato firmado no governo passado e da eclosão da Primeira Guerra. O próprio periódico “A República”, defensor dos interesses da situação, não pode evitar as críticas ao estado lamentável do transporte por bondes em Natal.

Arriscamo-nos, então, a transmitir a s. excia. uma censura, a única que ouvimos contra o governo. Tratava-se dos serviços da viação urbana, telephones, agua, luz e esgoto, a cargo da Empreza “Tracção, Força e Luz”, cujas faltas eram atribuídas – apressamonos a dizer, a deffeitos do contracto firmado com o governo anterior (A REPUBLICA, Natal, ano 30, n.167, 29 jul. 1918d., p. 01).

No fim daquele ano de 1918, as matérias voltam a repercutir a situação econômica do Estado e da municipalidade. Em fins de agosto, A Republica trata do empréstimo realizado a um banco francês no ano de 1910. Conforme afirma Juvenal Lamartine, ainda na década de 1930 o pagamento desse empréstimo onerava significativamente os cofres públicos do estado. Ver: LAMARTINE, Juvenal. O Meu Governo, p. 10-12. A situação financeira do Estado era bastante delicada. Segundo dados apresentados no jornal, no governo Alberto Maranhão haviam sido despendidos apenas com a amortização da dívida um valor aproximado
de novecentos contos de réis; na administração de Ferreira Chaves, os valores gastos para essa ação foram de aproximadamente 1.800 contos. Os empréstimos realizados pelo Estado à Companhia Industrial e à Empreza Tracção, Força e Luz rendiam anualmente cerca de 234 contos, de modo que, fazendo rápidas contas, chegava-se ao deficit, passados nove anos da realização dos empréstimos, de aproximadamente 620 contos de réis.

Em maio de 1922 é noticiada a encomenda de quatro novos carros de bondes por parte do Governo do Estado à Companhia Edificadora do Rio de Janeiro. Nesse ínterim a Usina do Oitizeiro passa a receber reparos após a rescisão do contrato com a Tração, Força e Luz, enquanto que os serviços nas linhas de bonde iam sendo realizados em vários trechos (VARIAS, A Republica, Natal, ano 34, n.40, 17 fev. 1922a.). Nesse momento, a falta de circulação dos bondes infligia um sério problema ao deslocamento e o movimento dos trabalhadores na capital, cuja população atingira oficialmente em 1920, segundo a Diretoria Geral de Estatística, o número de 30.696 habitantes. Proliferavam também na cidade nesse momento as agremiações operárias, como o Centro Operário Natalense, com sede no Alecrim (RECENSEAMENTO de 1920, A Republica, Natal, ano 34, n.124, 7 jun. 1922.).

O empréstimo contraído pelo governo para os serviços urbanos da capital totalizam o total de 509 contos, com dedução de 10% de impostos, ou seja, 458 contos aproximadamente (SERVIÇOS Urbanos da capital, A Republica, Natal, ano 34, n.259, 24 nov 1922.). Falta dinheiro para empreender todas as reformas necessárias, entre elas a da compra de um novo motor elétrico para alimentação, o que obriga o governo a empreender uma série de reformas no antigo equipamento da usina elétrica. A fala do governador Ferreira Chaves transcrita abaixo demonstra como essa dificuldade foi contornada pelo governo.

Não podendo, como disse, fazer a encommenda do novo motor a vapor, que a commissão de engenharia julgava imprescindível para assegurar a regularidade dos serviços dos bondes, encommendei, em começo de Janeiro, todas as peças necessárias para a restauração completa de um dos motores existentes, projectando, logo que estas chegassem e verificassem o resultado, encomendar as do outro. A casa fornecedora, que é representante da fabrica alleman, pediu um praso de 4 a 5 meses para a entrega no porto de Hamburgo, e dez meses depois esse material ainda não chegou, apesar das reiteradas solicitações para apressar a remessa. Os bondes, quatro apenas, porque não havia recurso para maior numero, e porque espero reparar os motores dos antigos, estão comprados e pagos, inclusive o frete do Rio de Janeiro, onde foram adquiridos, para aqui: as linhas de trilhos, que foi preciso reconstruir inteiramente, estão em grande parte promptas, mas sem material há pouco referido nada é possível fazer (SERVIÇOS Urbanos da capital, A Republica, Natal, ano 34, n.259, 24 nov 1922., p. 01).

Poste elétrico na Avenida Junqueira Aires em 1914.
A Avenida Tavares de Lira em duas perspectivas. Pode-se ver os postes de alimentação da viação elétrica e as linhas dos bondes. Na imagem da direita, vê-se o obelisco comemorativo ao fundo, demarcando o Cais Tavares de Lira.

PRESIDENTE DE HONRA

Por resolução de 11 de fevereiro de 1916, e em virtude do convite dirigido pelo Instituto Histórico, Arqueológico de Pernambuco, o Instituto Histórico resolveu fazer-se representar nas festas do dia 6 de março, em Recife, em comemoração ao centenário da Revolução de 1817. E nessa mesma ocasião foi nomeado presidente de honra de todas as solenidades do centenário de Miguelinho o Governador do Estado, o Desembargador Joaquim Ferreira Chaves (Rev. IHGRN, N°. 1, v. XV, ano 1917; N°. 2, v. XV, ano 1917; 10).

No dia 6 de março, data comemorativa do advento da Revolução Pernambucana de 1817, que estava se firmando como referencial no calendário republicano, o IHGRN realiza uma sessão solene no Palácio do Governo, sob a presidência do Governador Ferreira Chaves; e nesse mesmo dia, o Governo do Estado, por meio de um “decreto especial”, declarou feriado estadual “mandando fazer prelecções nas escolas, hastear o pavilhão brazileiro e illuminar as fachadas dos edifícios públicos, em signal de gala pela celebração do 1° centenário da Revolução”.166 Na ocasião da sessão, que reuniu no Palácio do Governo funcionários públicos, representantes do clero, corporações civis e militares, associações literárias e artísticas além de estabelecimentos de ensino e membros da impressa, (Rev. IHGRN, N°. 1, v. XV, ano 1917; N°. 2, v. XV, ano 1917;11.) discursou, na condição de orador oficial, o membro do IHGRN, o Dr. Eloy de Souza.

No dia 10 de junho, as comemorações tiveram início com o programa das festas esportivas. A primeira delas foi a “Grande regata do Centenário”, patrocinada pelo
Instituto Histórico e Geográfico, na qual tomaram parte o Centro Náutico Potengy, o Sport Club de Natal, a Escola de Aprendizes Marinheiros e os marítimos da Alfandega e da Capitania do Porto. (Rev. IHGRN, vol XV, n° 1 e 2, 1917; 67.) Na ocasião, o desembargador Ferreira Chaves, governador do Estado e presidente de honra das festas do Centenário, marcou presença a bordo da lancha oficial, e da mesma forma, a diretoria e os demais membros do IHGRN, destacando-se aí uma comissão especialmente designada para fiscalizar o evento, se fizeram presentes a bordo da lancha “Affonso Barata”.(idem).

Fechando o dia 11 de junho, véspera das comemorações centrais do centenário, e assim também fechando o que denominamos nesse tópico de “preparativos e prelúdios”, temos a conferência já referendada do padre Dr. Ignacio de Almeida, realizada na sessão extraordinária do Centro Cívico Literário “Frei Miguelinho”, no Palácio do Governo. Conferência esta que se destaca para nós por dois motivos: por ter reunido os elementos estruturantes das comemorações, uma vez que lá se encontravam o desembargador Ferreira Chaves, o Dr. Henrique Castriciano, o vice-governador, Monsenhor Alfredo Pegado, governador geral do Bispado, o presidente e demais membros da Diretoria e sócios do Instituto Histórico (Rev. 1917; 73-74); e por ter sido o discurso do convidada paraibano, Dr. Ignacio de Almeida, às vésperas do dia 12, mais um exemplo da estruturação e da construção dessa memória republicana a partir da dramatização dos eventos que envolviam a Revolução de 1817, destacando-se a partir daí as figuras de André de Albuquerque e Frei Miguelinho, notadamente este último, pelos motivos que já destacamos e pelos que ainda vamos destacar.

Na presença do desembargador Ferreira Chaves, presidente de honra das festividades, do presidente do Instituto Histórico, das diversas associações, escolas e da
população em geral, às sete horas da manhã, o Monsenhor Alfredo Pegado, acompanhado pelo cônego Estevam Dantas – membro do IHGRN –, celebrou a missa
campal em altar erguido à frente do então edifício da Comissão de Melhoramentos do Porto (Rev. IHGRN, vol. XV, n° 1 e 2,1917; 80).

Durante o trajeto, a procissão se deteve em alguns lugares pré-estabelecidos para que fossem proferidos discursos laudatórios em homenagem àquele momento
comemorativo. Discursaram no transcorrer do cortejo: logo ao início do préstito o Dr. Mysés Soares, do edifício da Comissão de Melhoramento do Porto; em seguida o tenente Deolindo Lima, do edifício da Associação dos Empregados do Comércio; seguido do Dr. João Soares, da residência do Sr. Robert Vance; o major Ezequiel Wanderlei, do edifício do Atheneu Norte Rio-grandense; e, por fim, do Dr. Oscar Brandão, de uma das Varandas do Palácio do Governo. De uma das janelas do mesmo palácio o desembargador Ferreira Chaves assistia ao desfilar do préstito (Rev. IHGRN, vol. XV, n° 1 e 2, 1917; 83).

Num plano amplo, a foto dá conta do momento exato em que o carro triunfal chega ao final da Rui Frei Miguelinho, que é tomada em sua extensão pelo cortejo. A mobilização da cidade, estimulada pelo IHGRN e veiculada do jornal oficial, pode ser deduzida na foto pelas portas fechadas dos estabelecimentos comerciais. Em uma das esquinas, nas varandas de um sobrado, pessoas assistem ao desfile cívico. Na Av. Tavares de Lira, uma grande poça d‟água, marca da chuva que naquela manhã obrigara a transferência do desfile para a tarde.

De qualquer forma, no dia 27 de junho de 1917, no Palácio do Governo, Parreiras assina um contrato com o Governo do Estado do Rio Grande do Norte, na pessoa do desembargador Joaquim Ferreira Chaves (presidente de honra, como destacamos, das comemorações do centenário de Miguelinho), para a execução de uma
tela que representasse Frei Miguelinho Perante o Tribunal da Bahia, em 1817.

Como descriminava a cláusula II do contrato desse quadro, como já destacamos, a execução definitiva só poderia se dar mediante o envio de outro croquis para que sobre este se deliberasse e se propusesse os devidos ajustes. Pois bem, no dia 15 de dezembro de 1917, em telegrama, o Governador do Estado, Joaquim Ferreira Chaves, remete ao Presidente do Instituto Histórico e Geográfico um ofício, contento um memorial acompanhado de croquis (entre os quais acreditamos que estaria esse terceiro), que haviam sido enviados pelo artista de Paris, para que uma comissão ali eleita aprovasse os mesmo dando o aval para a execução definitiva da obra.

Da chegada do quadro nos dá notícia o jornal “A República” de 20 de junho de 1919 (precisamente dois anos depois da primeira nota que dava notícia da presença do artista na cidade). 313 É anunciada a presença no salão nobre do Palácio do Governo do “imponente” quadro encomendado pelo Governo ao pintor Antônio Parreiras e que representava Frei Miguelinho diante do tribunal. Nessa nota é reproduzido um trecho de uma matéria publicada no jornal o “Paiz”, do Rio de Janeiro, na edição referente a 29 de maio daquele ano, no qual temos:

Por encomenda dos drs. Ferreira Chaves, governador do Estado do Rio Grande do Norte e Camillo de Hollanda, presidente do Estado da Parahyba, o pintor patrício Antonio Parreiras executou duas grandes telas que seguem agora para o norte. Vimos estes dois quadros no atelier do artista, onde havia grande numero de pessoas a apreciarem os trabalhos. […] O que poderíamos dizer tratando-se de um quadro de Parreiras e de um quadro histórico? Já estamos habituados a ver em cada um que elle pinta, um trabalho cheio de perfeição – extremamente trabalhado, cuidadosamente documentado, uma verdadeira página da nossa história (A República 20 de junho de 1919. Ano, XXXI, N° 134. p. 1.).

Pintura de autoria de Antônio Parreiras: Julgamento de Frei Miguelinho – 1918 – óleo sobre tela – 159cm X 250cm – Pinacoteca do Estado do Rio Grande do Norte. (Acervo do Governo).

TEATRO CARLOS GOMES

Atendendo ao pedido da sociedade natalense, o governador Ferreira Chaves inicia as obras de um teatro para esta capital que pudesse receber vários espetáculos, concertos, entre outros, afim de promover mais lazer para o povo, como consta na mensagem do governo de 1899:

CHAVES, Joaquim Ferreira. Mensagem dirigida ao Congresso Legislativo do Estado do RN em 14 de julho de 1899. Natal, Typ. d’A República, 1900. Julgando attender ao imperioso reclamo, fiz iniciar o anno passado, como vos annunciei, a construcção de um theatro nesta capital./ Não tive […], o proposito de dotar a capital com uma destas construcções grandiosas que attestassem as maravilhas do genio artistico; modesta casa de espectaculos que respeitasse, quanto possivel, os principios de hygiene e offerecesse a indispensavel segurança, […] em consequencia da crise financeira […], não se tenha podido imprimir mais rigoroso impulso ás obras iniciadas […]”(p.10). (p.11), Mensagem de 1899 (14 jul. 1899).

Em 1898, na campina da Ribeira, no Governo de Ferreira Chaves, teve início a construção do Teatro “Carlos Gomes”, com planta arquitetural do engenheiro José de
Barredo, tipo chalé, bem à moda, com: “Í8m, 30 de largura e 78m, 60 de extensão, três Portas de entrada, jardim interno, botequim, toalete, camarotes, frisas, palco, salão para cenografia, etc.,” sob a orientação do major Teodósio Paiva.

O edifício, na parte interna, além de todas as dependências necessárias a uma casa de espetáculos, contava ainda com magnífico jardim, circundado de varandas, com 20 metros de comprimentos e 11m10 de largura. A sala de espetáculo media 13m50 de extensão por 11m10 de largura, isto sem falar nos espaços reservados aos camarotes. O palco, media 14m50 de extensão por 18m50 de largura. Existia também, numa dependência assobradada, por trás da caixa, um grande Salão para ensaios com 16m90 por 12m30 e, sob o Salão, sete camarins no pavimento térreo, cada um com 6m30 por 2m75.

No Auditório, além das galerias laterais, uma única ordem de camarotes, com 11 de cada lado, sendo 5 em frente ao palco e mais 6 camarotes de segunda ordem. No tablado, que separava os camarotes das galerias correspondente a cada coluna, escudos decorativos, cercados de louros, com os nomes de Calderon, Shakespeare, Manzoni, Victor Hugo, Goethe, Alencar, Garret, Wagner, Massenet, Verdi, F. von Suppé e Bach. A boca do palco, com 8m30 de largura era formada por um enorme arco, em cujas pilastras grandes do proscênio, que sustentavam o arco, via-se o retrato do Maestro Carlos Gomes e ao centro tinha, nas impostas, sobre o capitel, coroas de louros representando o Drama e a Opera e para encimar a fachada principal veio de Paris uma cópia da famosa estátua, a “Arte”, de Mathurin Moreau.

O primeiro prédio construído para receber o teatro foi projetado pelo engenheiro José de Berredo e teve suas obras iniciadas em 1898, porém, o evento de inauguração só aconteceu no dia 24 de março de 1904. Construído na antiga campina da Ribeira, em forma de um chalé, a edificação apresentava uma composição clássica, com três portas encimadas por bandeirolas em arco pleno, enquadradas por colunas e encimada por um frontão triangular (NESI, 2012).

Está situado na Praça Augusto Severo, na Ribeira. Teve sua construção iniciada em 1898, no governo de Joaquim Ferreira Chaves, que o denominou Teatro Carlos Gomes. A inauguração se deu em 24 de março de 1904. Em 1912, durante o segundo mandato do governador Dr. Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão, teatro foi reinaugurado após uma reforma que o transformou em casa de luxo, dotada de espelhos e lustres de cristal.

Teatro Carlos Gomes, na época da construção. Fonte: CD Natal, ontem e hoje (Arquivo HCUrb).
Fachada do Teatro Carlos Gomes depois da construção Fonte: Ceres Knoll (1999).

Continha três portas de entrada, jardim interno, botequim, toalete, camarotes, frisas, palco, salão para cenografia, etc. Para encimar a fachada, veio de Paris uma réplica da famosa estátua “A Arte” de Mathurin Moreau, esta existente até hoje (Figura 47). Nesta primeira fase do teatro apenas a decoração ficou a cargo de H. Ramos (CASCUDO, 1999).

Do antigo edifício do teatro percebe-se as portas de entrada simétricas, sendo o caixilho fixo em forma de arco pleno; o frontão triangular, eclético, e de poucos ornamentos na fachada. Percebe-se também, que sua concepção foi inspirada nos teatros jardins, onde tinha um grande pátio antecedendo a chegada na sala de espetáculos.

Vista do largo do teatro mostrando um panorama do antigo teatro Carlos Gomes
Fonte: Acervo do HCurb

Alberto Maranhão assumiu o governo do Rio Grande do Norte em 1900. Fez uma administração medíocre e fútil, não realizando praticamente nada de importante, praticando um nepotismo nefasto e promovendo festas no Palácio do Governo (Palácio Potengi). As poucas obras públicas realizadas eram feitas sem concorrência, e quase sempre contratadas pelo arquiteto Herculano Ramos e pelo major Theodósio Paiva, funcionário do Tesouro. A única obra de relevância no seu governo foi a conclusão do Teatro Carlos Gomes (Teatro Alberto Maranhão), iniciada na gestão de Ferreira Chaves, inaugurado “no dia 24 de março de 1904, véspera do término do seu mandato”. O material utilizado para a sua construção “era fornecido por Fabrício Gomes de Albuquerque Maranhão, irmão do governador” (SOUZA, 1989, p. 231-232).

Na mensagem do governo apresentada por Alberto Maranhão ao passar o governo do estado para o Dr. Augusto Tavares de Lyra, no dia 25 de março de 1904, curiosamente um dia após a inauguração do teatro, o então governador expõe a importância que tinha o grandioso empreendimento oferecido à cidade, mas ressalta as necessidades existentes do local:

Como indispensável complemento a essa bela construção, cômoda e elegante, perfeitamente adaptada ao nosso clima, impõe-se a drenagem e ajardinamento da Praça Augusto Severo. Para isso, certamente, aproveitareis a planta e desenhos já oferecidos ao administrador pelo Dr. Herculano Ramos, podendo, com facilidade, de acordo com as indicações ali contidas, possuir dentro em breve a nossa capital uma boa praça pública, formosa e saneada, Mensagem do governo, 25 de março de 1904. Arquivo próprio HCUrb.

Para Henrique Castriciano, o edifício ficou com todas as acomodações necessárias a um teatro moderno (SIMONINI, 2010). É provável que a escolha do formato chalé na primeira fase da construção do teatro, provém da influência da arquitetura eclética carioca, estilo esse bastante encontrado no quartel do século XIX, porém considerado ultrapassado no início do século XX (KNOLL, 1999).

O prédio foi totalmente reformado em 1910, após, apenas, seis anos da sua inauguração. Alegando as estruturas do teatro estarem em péssimas condições. Em seu segundo mandato, Alberto Maranhão contrata o arquiteto Herculano Ramos para avaliar as estruturas que pudessem ser aproveitadas e iniciar uma reforma remodelando totalmente os traços antigos existentes. A ideia do governador era de ter um teatro moderno que pudesse atrair personalidades nacionais e internacionais. No dia 19 de julho de 1912 aconteceu a reinauguração do teatro (NASCIMENTO e tal, 2016).

O governador que deixava havia trazido para Natal uma falange de musicistas de boa qualidade. Alberto Maranhão não compreendia a vida sem a música. No período de seu governo, as artes tiveram a maior atenção do grande administrador. Convidava pianistas, violinistas, regentes de orquestra para Natal e oferecia-lhes situação digna e capaz de fixá-los na cidade. Fundou uma escola de música. A Eschola de Musica, que funcionava nas dependências do Teatro Carlos Gomes foi instalada em 1908 e desativada no início do governo Ferreira Chaves.

Teatro Carlos Gomes, 1910 (Atual Alberto Maranhão). Fonte: CD Natal, ontem e hoje (Arquivo HCUrb)
Teatro Alberto Maranhão. Foto: Esdras Rebouças Nobre.
O teatro foi inicialmente projetado por José de Berredo (engenheiro) e teve suas obras iniciadas em 1898, durante o governo Ferreira Chaves. Foi inaugurado no ano de 1904, no primeiro governo de Alberto Maranhão. dois dias antes que Augusto Tavares de Lyra assumisse o governo. Com a festa inaugural intitulada Grande festival de Caridade, pretendia-se arrecadar vestimentas e dinheiro destinados às vítimas da seca que estavam instaladas na cidade. Estiveram diretamente envolvidos na montagem do espetáculo o dramaturgo Segundo Wanderley e Henrique Castriciano, autor dos versos de A Promessa que, segundo o redator do jornal A Republica, foram, na noite inaugural, encenados “por creanças das nossas principais famílias.”

CENTENÁRIO DA INDEPENDENCIA

O paranaense José Francisco da Rocha Pombo também publicou uma obra com propósito semelhante ao de Lyra. A História do Estado do Rio Grande do Norte escrita por Pombo, e publicada em 1922, foi fruto da encomenda do então governador Ferreira Chaves quando da visita do paranaense à capital norte-riograndense em 1917. O então governador encomendou a obra para as comemorações do centenário da Independência de 1922. Assim como Lyra, Pombo enalteceu a ação de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão na implementação do governo republicano no estado, ver: POMBO, José Francisco da Rocha. História do Estado do Rio Grande do Norte. Edição comemorativa do centenário da Independência, 1822-1922. Rio de Janeiro: Anuário do Brasil; Porto: Renascença Portuguesa, 1922.

RUA FERREIRA CHAVES

A atual Rua Ferreira Chaves está localizada no bairro da Ribeira, entre as ruas 15 de novembro e Nísia Floresta, no trecho compreendido entre as ruas Frei Miguelinho e Almino Afonso. Um antigo mapa de Natal, datado de 1864, apresenta a Ribeira, que se estendia até a atual rua Ferreira Chaves e Beco da Quarentena. Daí por diante existiam apenas sítios. A rua Ferreira Chaves surgiu sob a denominação de rua de João Guedes, topônimo que sobreviveu por pouco tempo. O decreto municipal de 13 de fevereiro de 1888 mudou-lhe o nome para Rua Formosa.

Rua Dr. Ferreira Chaves – Ribeira – Início do século XX

Em 1868 era publicado o ATLAS DO IMPÉRIO DO BRASIL, de autoria de Cândido Mendes de Almeida, no qual consta um mapa relativo à então província do Rio Grande do Norte. Encartadas no mesmo mapa, figuram uma planta de Natal e uma topografia do porto1. Pesquisas procedidas nos levaram a determinar o ano de elaboração do mapa: 1864, quando a província era presidida pelo Dr. Olinto José Meira. Paralela à Rua do Comércio ficava a atual Rua Dr. Barata, que se prolongava pela presente Rua Frei Miguelinho, que anteriormente correspondia à Rua da Tatujubeira. Esta ia até o Beco da Quarentena e Rua Ferreira Chaves (atuais). A Dr. Barata e a Frei Miguelinho eram cortadas pelas atuais travessas Argentina, Venezuela e duas outras, que as comunicavam com a Rua do Comércio. Um quarteirão foi mutilado, por ocasião da abertura da atual Avenida Tavares de Lira, obra concluída em 1919.

Mapa da cidade do Natal elaborado em 1864 – Atlas do Império do Brasil – Cândido Mendes de Almeida, 1868.

Em 1897, a Intendência Municipal realizou um censo na Cidade. Os recenseadores Francisco Palma e Carvalho Rios registraram 50 casas com 239 habitantes, na Rua Formosa. Em 22 de março de 1899, a resolução municipal nº 35 mudou a denominação da rua para Ferreira Chaves, permanecendo ela com esta designação até os dias atuais.

A mudança do topônimo representou uma homenagem prestada ao então presidente do Estado do Rio Grande do Norte, Joaquim Ferreira Chaves, eleito para o cargo através do voto popular e direto, pela primeira vez no regime republicano.

Em um mapa relativo à Cidade do Natal, desenhado na 7ª década do século XIX, figura a antiga Rua da Campina, cuja extensão principiava na atual rua José Alexandre Garcia, prolongando-se até a rua que hoje recebe a denominação de Ferreira Chaves. O bairro da Ribeira terminava na atual Rua Ferreira Chaves e no Beco da Quarentena. A partir destes logradouros públicos, havia diversos sítios, cortados pelo chamado Caminho para a Fortaleza.

As casas de meretrício possuíam bares e quartos, nos quais o sexo pago era consumido. Além disso, constituíam residências para as mulheres que trabalhavam na casa, a exemplo do Wonder Bar, situado na Rua Chile, nº. 106; da Pensão Ideal, na Rua Almino Afonso, de Dona Nena; do Arpérge, na Rua Chile com a entrada na Travessa Venezuela, nº. 36, pertencente a Dona Francisquinha Edite da Silva; a 13 de maio na Almino Afonso, a Pensão Rosa de Ouro, na Almino Afonso com a Ferreira Chaves, nº. 158, de D. Maria Rosa; a Pensão Alabamba, de Zefa Paula, na Rua Ferreira Chaves, de frente à antiga sede da Delegacia de Roubos e Furtos; e a Pensão 15 de Novembro.

As pessoas que quizerem nos auxiliar na grande festa em que noticioso O Parafuso em 16 de janeiro de 1916 completou “um anno de uma vida toda moral, podem mandar deixar na Rua Ferreira Chaves, vis-a-vis com o mercado, a que tem placa com o nome da Rua, o peru, pato, capão, gallinha, guiné, o diabo enfim”.

ANTIGO MERCADO PÚBLICO (Bairro Ribeira) Foto: Dr. Manoel Dantas (fotógrafo viveu em Natal no período de 1900 até sua morte, em junho de 1924). O Mercado público da Ribeira estava localizado na rua Ferreira Chaves com a Almino Afonso, 126 (atual sede da STTU) – de Manuel Dantas. Reproduzido de 380 anos de história fotográfica da cidade do Natal: 1579-1979, p 90.
O edifico Quinho: No dia 31/08/1946 as 15h00 foi solenemente inaugurado e dada a benção do majestoso Edifício Quinho, situado a Avenida Duque de Caxias, 80, esquina da rua Ferreira Chaves, no bairro da Ribeira na capital potiguar.

NOVO PLANO

O que Natal apresenta actualmente é a ligação dos tres “blocos” iniciaes com a teia de aranha das ruas irracionaes. Depois da André de Albuquerque, descendo para o rio, a tortuosidade das ruas lembra um delirio de linhas convulsas. São as paralellas Paula Barros e Presidente Ramos e a da Misericordia, riscos á doida, quebrados, tortos, alinhando filas de casas que parecem ter sido fixadas á murro. É a obliquidade da rua Ferreira Chaves. A incrivel sinuosidade da Felippe Camarão, o desmantelo da do Commercio (que Sampaio Correia pediu como remediu um phosphoro e duas latas de kerozene), o angulo agudo formado pela Felippe Camarão com a da Boa Vista findando na montanha russa da Bicco-da-Telha, são os exemplos dos caminhos tremulos e indecizos das cidades doentes de colloração esthetica.

Rua do Commercio. Terá o mesmo comprimento. Será corrigida. Soffre duas deflexões, duas passagens obrigadas na Tavares de Lyra e Ferreira Chaves que hoje não vem até o rio. Corre a Commercio desde a Central até a Praticagem. Dahi em diante seguirá com outro nome, numa outra avenida que figurará na cidade novissima das Dunas. Terá, quando corrigida, uma praça-caes que servirá para as pequenas embarcações. Onde é a velha Alfandega. Os quarteirões da Commercio serão cinco, em tamanho decrescente. Trez travessas communicarão com o rio. Actualmente a Commmercio não tem sinão o inutil e esquecido caes do Palacio. Uma outra praçuela ajardinada cahirá sobre o eixo da Ferreira Chaves. Ficará a Commercio com seis accessos para o Potengy. E pequenos parques á beira rio.

Avenida Sachet será uma caracteristica de belleza simples e de amplidão magnifica. Virá desde a Junqueira Ayres, cortará o parque Augusto Severo fazendo triangulos rectos e isoseles, atravessa a Tavares de Lyra, Nysia Floresta, Ferreira Chaves, 15 de Novembro (por que se mudou o nome de Triumpho?) e irá em recta até a Silva Jardim. Como a Frei Miguelinho e Commercio a Sachet fixar-se-ha numa immensa avenida contornante que abraçará Natal.

Perpendicular a rua Duque de Caxias, está localizada a Esplanada Silva Jardim, fronteira com dos bairros da Ribeira e das Rocas, aberta em data posterior ao ano de 1868, quando ocorreu a expansão do bairro da Ribeira. É importante notificar que o bairro da Ribeira terminava na atual rua Ferreira Chaves e no Beco da Quarentena conforme um mapa da cidade do Natal desenhado na sétima década do século passado.

A Tavares de Lyra continuara com seus 22 metros até a cota 5, passando à direita da praça que isolará egreja Bom Jesus e terminará num local reservado para monumento. As ruas Nysia Floresta e Ferreira Chaves subirão até a avenida Deodoro.

CASCUDO, Luís da Câmara. O Novo plano da Cidade – I – A Cidade. A República, Natal, n.247, p.01, 30 out. 1929.

Finalizando, relacionamos nomes de logradouros dos bairros da Cidade Alta e Ribeira e seus antigos topônimos: Rua Ferreira Chaves (Rua de João Guedes, Rua Formosa, Rua da Tamarineira).

Rua Ferreira Chaves: Renata Freire Costa

FONTES SEGUNDÁRIAS:

CASCUDO, Luís da Câmara. História da Cidade de Natal. Edição comemorativa do centenário de nascimento de Luís da Câmara Cascudo (1998), do IV centenário da construção da Fortaleza dos Reis Magos (1998) e da fundação da Cidade de Natal (1999). Natal: IHGRN, 1999.

CASCUDO, Luís da Câmara. Uldarico Cavalcanti. In: __. Alma Patrícia: crítica literária. 2ª Ed. Natal/RN: Fundação José Augusto, 1998.

COSTA, Américo de Oliveira. Aurélio Pinheiro: tentativa de estudo crítico e biográfico. Revista da Academia Norte Rio-grandense de Letras. Ano XVII. Número 07. 22 de Dezembro de 1949.

FERREIRA CHAVES, Joaquim. Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo em 01 de Novembro de 1916. Natal,1916.

FERREIRA CHAVES, Joaquim. Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo em 01 de Novembro de 1917. Natal, 1917.

FERREIRA CHAVES, Joaquim. Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo em 01 de Novembro de 1918. Natal, Typ. d’A República, 1918.

FERREIRA CHAVES, Joaquim. Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo em 01 de Novembro de 1919. Natal, Typographia Comercial J. Pinto e Cia., 1919.

GALVÃO, Hélio. Antônio Soares, poeta e historiador. Revista da Academia Norte Riograndense de Letras. Ano XVII. Número 07. 22 de Dezembro de 1949.

MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à História do Rio Grande do Norte. Natal: EDUFRN, 2000.

KNOLL, Ceres Madruga. A influência da arquitetura eclética no Teatro Alberto Maranhão. Trabalho da disciplina História e Teoria da Arquitetura II. 1999. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

NESI, Jeanne F.L. Natal monumental. Natal: IPHAN-RN, 2012.

SOUZA, Itamar de. História de Natal. 2ª Ed. Natal: Departamento Estadual de Imprensa, 2008.

SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte 1889-1930. Brasília: Senado Federal, 1989.

SPINELLI, José Antônio. Getúlio Vargas e a oligarquia potiguar – 1930-35. Natal: EDUFRN, 1996

SUASSUNA, Luiz Eduardo B.; MARIZ, Marlene da Silva. História do Rio Grande do Norte colonial (1597/1822). Natal: Natal Editora, 1997.

WANDERLEY, Sandoval. Minha luta política (1920-1951). Natal, 1954.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS:

1918 – QUANDO A GRIPE ESPANHOLA ATACOU NATAL. TOK DE HISTÓRIA. https://tokdehistoria.com.br/2011/03/19/1918-quando-a-gripe-espanhola-atacou-natal/. ACESSO EM 02/06/2024.

Augusto Tavares de Lyra em vários tons / Francisco Anderson Tavares de Lyra Silva. – Natal, RN, 2012. 146 f.

(POR)ENTRE PEDRA E TELA: a construção de uma memória republicana (Natal – 1906-1919) / DIEGO SOUZA DE PAIVA. – Natal, 2011.

“Em cada esquina um poeta, em cada rua um jornal”: a vida intelectual natalense (1889-1930) / Maiara Juliana Gonçalves da Silva. – Natal, RN, 2014.

Caminhos de Natal / Jeanne Fonseca Leite Nesi ; ilustrações, Urban Sketchers Natal. – Dados eletrônicos (1 arquivo PDF). – 2. ed. – Natal, RN : IPHAN, 2020.

Caminhos que estruturam cidades: redes técnicas de transporte sobre trilhos e a conformação intra-urbana de Natal / Gabriel Leopoldino Paulo de Medeiros. – Natal, RN, 2011.

Cantos de bar: sociabilidades e boemia na cidade de Natal (1946-1960) /Viltany Oliveira Freitas. – 2013.

Capítulos de história do Rio Grande do Norte / Bruno Balbino da Costa, Saul Estevam Fernandes ; projeto gráfico, diagramação e capa Charles Bamam Medeiros de Souza; revisão textual Rodrigo Luiz Silva Pessoa. – Natal: IFRN, 2019.

CIDADE, TERRA E JOGO SOCIAL: APROPRIAÇÃO E USO DO PATRIMÔNIO FUNDIÁRIO NATALENSE E SEU IMPACTO NAS REDES DE PODER LOCAIS (1903-1929) / GABRIELA FERNANDES DE SIQUEIRA. – FORTALEZA, 2019.

Centelhas de uma cidade turística nos cartões-postais de Jaeci Galvão (1940-1980) / Sylvana Kelly Marques da Silva. – Natal, RN, 2013.

Do ancoradouro à sala de espera: as obras de melhoramento do porto e a construção de uma Natal moderna (1893-1913) – Natal, 2015.

Dos bondes ao Hippie Drive-in [recurso eletrônico]: fragmentos do cotidiano da cidade do Natal/ Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro. – Natal, RN: EDUFRN, 2017.

Dos caminhos de água aos caminhos de ferro: a construção da hegemonia de Natal através das vias de transporte (1820-1920) / Wagner do Nascimento Rodrigues. – Natal, RN, 2006. 180 f.

Educar para o lar, educar para a vida : cultura escolar e modernidade educacional na Escola Doméstica de Natal (1914-1945) / Andréa Gabriel F. Rodrigues. – Natal, 2007.

Entre a ordem e o progresso: a escola de aprendizes artífices de Natal e a formação de cidadãos uteis (1909-1937) / Renato Marinho Brandão Santos. – João Pessoa/PB : IFPB, 2019.

Letras e Poder: o microcosmo literário na cidade de Natal (1894-1900) / Maiara Juliana Gonçalves da Silva. – Rev. Hist. UEG – Porangatu, v.2, n.1, p.262-277, jan./jul. 2013.

Linhas convulsas e tortuosas retificações: transformações urbanas em Natalnos anos 1920 / george Alexandre Ferreira Dantas. — São Carlos, 2003.

HABITAÇÃO SOCIAL: ORIGENS E PRODUÇÃO. (NATAL, 1889-1964) / CALIANE CHRISTIE OLIVEIRA DE ALMEIDA. – SÃO CARLOS, SETEMBRO, 2007.

Historia do estado do Rio Grande do Norte / Rocha Pombo. – Natal: EDUFRN, 2019.

História do Rio Grande do Norte / Sérgio Luiz Bezerra Trindade. – Natal: Editora do IFRN, 2010.

Itep encontra registro da 1ª identidade feita no RN; documento de 1918 tem digitais do primeiro governador eleito por voto aberto no estado. G1. https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2019/03/19/itep-encontra-registro-da-1a-identidade-feita-no-rn-documento-de-1918-tem-digitais-do-primeiro-governador-eleito-por-voto-aberto-no-estado.ghtml. aCESSO EM 02/06/2024.

Joaquim Ferreira Chaves. Wikipédia. https://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Ferreira_Chaves. Acesso em 2024.

Luís Natal ou Câmara Cascudo: Luís Natal ou Câmara Cascudo: o autor da cidade e o espaço como autoria o autor da cidade e o espaço como autoria / Francisco Firmino Sales Neto. – Natal/RN, 2009.

Memória minha comunidade: Alecrim / Carmen M. O. Alveal, Raimundo P. A. Arrais, Luciano F. D. Capistrano, Gabriela F. de Siqueira, Gustavo G. de L. Silva e Thaiany S. Silva – Natal: SEMURB, 2011.

NASCIMENTO, Ana Matilde Vasconcelos e tal. O Teatro Alberto Maranhão como espaço de história e cultura. XVI Seminário de Pesquisa do Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2016.

Natal Não-Há-Tal: Aspectos da História da Cidade do Natal/Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo; organização de João. Gothardo Dantas Emerenciano. _ Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2007.

Natal: história, cultura e turismo / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal: DIPE – SEMURB, 2008.

Natal também civiliza-se: sociabilidade, lazer e esporte na Belle Époque Natalense (1900-1930) / Márcia Maria Fonseca Marinho. – Natal, RN, 2008.

Natal, outra cidade! [recurso eletrônico] : o papel da Intendência Municipal no desenvolvimento de uma nova ordem urbana na cidade de Natal (1904-1929) / Renato Marinho Brandão Santos. – Natal, RN : EDUFRN, 2018.

O alvissareiro : a Natal antiga e a nova Natal nas crônicas cascudianas de 1940-1950 / Carlos Magno dos Santos Souto. — Recife: O Autor, 2009.

O nosso maestro: biografia de Waldemar de Almeda/ Claudio Galvão. – Natal: EDUFRN, 2019.

O rio Potengi e a cidade do Natal em cinco tempos históricos. Aproximações e distanciamentos / Rubenilson B. Teixeira. – Revista franco-brasilera de geografia. 23 | 2015, Número 23.

Ordenamento Urbano de Natal: do Plano Polidrelli ao Plano Diretor 2007 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2007.

Por uma “Cidade Nova”: apropriação e uso do solo urbano no terceiro bairro de Natal (1901-1929) / Gabriela Fernandes de Siqueira. – Natal, RN, 2014.

SAIR CURADO PARA A VIDA E PARA O BEM: diagrama, linhas e dispersão de forças no complexus nosoespacial do Hospital de Caridade Juvino Barreto (1909-1927) / RODRIGO OTÁVIO DA SILVA. – NATAL, 2012.

UM ARTÍFICE MINEIRO PELO PAÍS: Formação, trajetória e produção do arquiteto Herculano Ramos em Natal / Débora Youchoubel Pereira de Araújo Luna. – NATAL/RN, 2016.

Um espaço pioneiro de modernidade educacional: Grupo Escolar “Augusto Severo” – Natal/RN (1908-13). Ana Zélia Maria Moreira. – Natal, RN, 2005.

UM SÉCULO DE CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTÓRIA DO TEATRO NA CIDADE DO NATAL: 1840-1940 / ÂNGELA MARIA DE CARVALHO MELO. – NATAL, 1999.

Uma requalificação urbana em Santos Reis / Ivana Gonçalves Soares. – Natal, 2018.

Loja Virtual do Fatos e Fotos de Natal Antiga

administrador

O Fatos e Fotos de Natal Antiga é uma empresa de direito privado dedicada ao desenvolvimento da pesquisa e a divulgação histórica da Cidade de Natal. Para tanto é mantida através de seus sócios apoiadores/assinantes seja pelo pagamento de anuidades, pela compra de seus produtos vendidos em sua loja virtual ou serviços na realização de eventos. Temos como diferencial o contato e a utilização das mais diversas referências como fontes de pesquisa, sejam elas historiadores, escritores e professores, bem como pessoas comuns com suas histórias de vida, com as suas respectivas publicações e registros orais. Diante da diversidade de assuntos no mais restrito compromisso com os fatos históricos conforme se apresentam em pouco mais de um ano conquistamos mais de 26 mil seguidores em nossas redes sociais o que atesta nossa seriedade, compromisso e zelo com o conteúdo divulgado e com o nosso público.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *