Natal em 1940: onde está a população? E os serviços urbanos? E o abastecimento?
A coluna “Sociais” do “A República”, com o título de “Quantos habitantes tem Natal?”, questionou o pós recenseamento do Rio Grande do Norte em setembro de 1940, com então 54 000 mil habitantes, sendo o 17º menos populoso do Brasil, o que fez despertar tão questão sobre Natal:
O nosso território deve ter ganho muita gente. O movimento está visível a olho nú. Não é necessário esmiuçar por inquéritos nem métodos científicos. Uma prova desse andamento demográfico é a inferiodade crescente das coisas que se serve a população e ficaram estacionadas. O exemplo mais á vontade é o de serviço de transporte urbanos e depois, si não parecesse instável, o de hospedagem. Outros surgem á primeira observação o do abastamento, com preços aumentado dia a dia, juros que só são percebidos pelos ganham pouco, a capacidade, em plenitude dos Mercados Públicos, feitos para um futuro longinquo, e aumento das construções residenciais, o desenvolvimento progressivo dos bairros, a fração adventícia que se avoluma. (A REPÙBLICA, 1942).
Isso deixou evidente os problemas que Natal começa a sofrer nesse período, com a expansão do seu território e o aumento populacional, que estavam acontecendo sem controle e sem organização, haja vista que o transporte público de outrora, dos bondes, já não dava conta, principalmente em horários que o operário deixava suas tarefas, o fim do expediente em agências e repartições públicas, o que se refletia na vida cotidiana da população menos abastada, a quem tivemos menos acesso a informações históricas sobre.
A exemplo das questões inerentes ao desenvolvimento urbano, pode-se citar o abastecimento de água e energia elétrica que implicaram em mudanças marcantes. Pedreira (2015, p. 31) diz que “[…] mesmo entre pessoas de famílias abastadas é recorrente a lembrança dos transtornos de quando ainda não havia água encanada”, o fornecimento em abundância de excelente água potável fora viabilizado também pela existência de lençóis freáticos baixos e de reservatórios de água que vinham das dunas próximas (SMITH JR, 1992):
[…] eu era pequeno e me lembro bem de uma espécie de sala de banho como reservatório de água, do lado de fora da casa e a gente tomava banho de cuia. Assim como também as privadas ficavam numa casa própria, separada dos cômodos da casa, fora do corpo da casa, e dentro tinha urinol em cada quarto ( Entrevista a Flávia Pedreira (2015)).
O que aconteceu nesse momento dos anos 1940, acabou sendo confundido posteriormente como um tempo de modernizações e mudanças: O fato de a cidade ter expandido seus limites geográficos principalmente a partir do marco beligerante mundial acaba sendo confundido com uma total ausência de medidas “modernizantes” anteriores, desde aquelas que foram sendo implementadas pelos poderes públicos visando à alteração e ampliação dos traçados urbanísticos, saneamento e melhora de transportes, até a institucionalização dos serviços de segurança pública e reaparelhamento policial, ainda das primeiras décadas do século passado. (PEDREIRA, 2015, p 47).
Havia a necessidade de expansão de serviços básicos, afinal a população se tornava cada vez maior e menos abastada, o que deixava evidente a pobreza, no jornal “A Ordem”, em 20 de janeiro de 1943, já saia um apelo a Cia. Força e Luz para luz elétrica aos pobres, as dificuldades para aquisição do querosene e com seus preços cada dia mais altos:
Está provado que, hoje, está mais barato o consumo de luz elétrica do que o de querosene. E só não se multiplica as instalações nas casas dos pobres porque o custa da instalação, como seja, o preço do fio e demais material elétrico, as taxas e cauções da Cia. de Luz tornam por demais onerosa a iniciativa. (A ORDEM, 1943).
O jornal foi a voz do integralismo no estado, responsável por difusão do anticomunismo, com nomes como Câmara Cascudo. Ver mais no trabalho de dissertação: LEIRIAS, Daniela Araújo. “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”: o anticomunismo católico e a formação da identidade e da espacialidade norte-rio-grandense (1934-1937). Mestrado (Dissertação em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2016.
Como já dito aqui por meio de Ferreira (2017) se tornava cada dia pior o acesso a combustíveis e seus afins com o cerceamento do governo no acesso dos combustíveis por meio marítimo por consequência dos ataques. A mesma matéria do jornal continuou a dizer “O recenseamento de 1940 veio provar que grande número de casas de nossa capital não tem iluminação elétrica. Hoje, com o aumento enorme da população, mais numerosos devem elas ser”, isso vem do apelo da igreja católica, do qual era produzido esse periódico.
Ainda assim, Smith Jr (1992, p. 82) descreve Natal de tal forma:
Este era um excelente exemplo dos extremos existentes no Brasil, de um modo geral, e, em Natal, em particular, naquela época. Os ricos eram a minoria e os pobres, consequentemente, a maioria. Embora o custo de vida fosse baixo, comparado aos padrões dos Estados Unidos, a qualidade de vida das massas estava abaixo dos níveis de subsistência. A Refeição comum dos pobres consistia de carne seca, feijão, arroz e farinha de mandioca, que ocasionalmente era completada com peixe, fruta, queijo, aves domésticas, ovos e rapadura (um bloco de açúcar bruto). Consequente, a má nutrição era comum nas classes humildes. A tuberculose era bastante disseminada […].
O Estado Novo no controle da informação cotidiana: o caso da cidade de Natal (1941-1943) a partir do jornal “A República” / Fernanda Carla da Silva Costa. – João Pessoa, 2019.