Expedição fotográfica na Rua Princesa Isabel
O Fatos e Fotos de Natal Antiga realizou mais uma de suas expedições fotográficas. Desta vez o tema será a Rua Princesa Isabel. Mas porquê esta via em participar?
Trata-se de um logradouro que homenageia Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon e Bragança, popularmente nominada princesa Isabel, que entrou para a história ao sancionar em 1888 uma das mais emblemáticas normas brasileiras — a Lei Áurea. No centenário de sua morte, ocorrida em 14 de novembro de 1921, a personalidade isabelina reflete uma mulher extremamente religiosa (engajada, crente e fiel), espiritualizada, letrada, otimista, autoritária e que buscou o reconhecimento de que estava apta a reinar — o que aconteceu por três vezes ao assumir interinamente o comando do Império, em meio a períodos de grande agitação social e política.
Até aí tudo bem… Mas muitos vão estranhar esta parte da via tão desolada em comparação a trechos mais comerciais e, portanto, mais movimentados e conhecidos pelos natalenses. É justamente onde começa nossa aventura: o início da rua Princesa Isabel no sentido bairro da Ribeira para o centro de Natal.
Acompanhem para conhecer um pouco mais sobre esta que é uma das principais vias da cidade.
O mais interessante sobre a rua princesa Isabel é que historicamente ela se originou no trecho compreendido no Centro de Natal e ao longo do tempo foi sendo estendida em direção as proximidades do Canal do Baldo em uma extremidade e na outra em direção ao bairro da Ribeira. Porém, ao contrário de outras vias que tiveram muito sucesso em processos semelhantes, tais como avenida Junqueira Aires (atual Câmara Cascudo) e avenida Rio Branco (antiga rua Nova), a princesa Isabel não se desenvolveu de forma linear. Faltou planejamento urbano e investimentos durante muitos anos. O resultado? Vejam nas fotos…
O local de partida fica próximo a Delegacia da Polícia Civil – DEICOR em um cruzamento com a rua do saneamento (via esta que não tem seu logradouro atoa, pois foi aberta para este fim). Local de construções abandonadas e casórios bem humildes. Mas, na medida em que subimos a ladeira em direção ao Centro da cidade, o cenário vai mudando de figura… Vamos acompanhando as postagens…
Um fato histórico é que a princesa Isabel já teve várias denominações… Rua Alegre, Rua dos Tocos, Rua 13 de Maio.
Incrível como ainda se encontra casarios bem antigos na rua princesa Isabel em sua descida para o bairro da Ribeira.
Há registros de que em 1820 havia algumas casas espalhadas pela via. Uma destas resistências de n° 38, na Cidade Alta, serviu de ateliê para os irmãos e sócios Bougard que tanto contribuíram ao registro fotográfico de nossa cidade na desde a segunda metade do século XIX.
Exemplo de preservação da arquitetura com utilização comercial na rua princesa Isabel (cruzamento a rua Juvino Barreto).
Em 1916, Natal praticamente se resumia a Ribeira e Cidade Alta. Não existiam prédios de mais de três andares. Ruas tranquilas, gente sem pressa. Nesse cenário, “O Parafuso” era um pasquim “apimentado” que circulava em nossa capital. Ele retrata bem o provincianismo da cidade com 26.000 habitantes. Em sua edição DOMINGO, 16 de janeiro de 1916, nº 1, menciona: QUERIA VER A Rua 13 de maio calçada. (NR: Rua Princesa Isabel, hoje).Uma das diversões em 1920 para os rapazes era o jogo de bilhar na Rua 13 de Maio (atual Princesa Isabel), mas tinha o limite determinado pelos pais: apenas até a hora em que o acendedor de lampeões de rua viesse queimar o pavio dos candeeiros a querosene. O Bairro do Tirol era chamado de “Solidão”. Intendência Municipal é como se chamava a prefeitura. Boa parte da população já estava dormindo às 20 horas.
Existem registros que parte da Rua Princesa Isabel até 1963 não era calçada.
Augusto Tavares de Lyra é uma figura solar no universo histórico potiguar. Nomeia uma avenida no bairro da Ribeira, em Natal; um bairro residencial em Macaíba, avenidas no Rio de Janeiro (Flamengo, Botafogo, Jardim Botânico e Laranjeiras), São Paulo e Bahia. É patrono da principal condecoração da prefeitura de Macaíba e do mérito eleitoral no Tribunal Regional Eleitoral do RN. Patrono do Fórum de Macaíba, onde também é nome de Grêmio estudantil no Colégio Estadual “Dr. Severiano”. Não obstante ter sido historiador, escritor e político de renome nacional. Foi Doutor em Direito pela faculdade do Rio de Janeiro, em 1915, na qual foi empossado professor. Após sua formatura, abriu escritório em Natal, na rua 13 de maio (Princesa Isabel) e foi redator do Jornal A República, onde assinava a coluna Em vários tons, onde já em 1893, Tavares de Lyra defendia a reforma educacional e a formação do professor.
Casario na esquina da rua princesa Isabel com a rua Juvino Barreto. Muito bem conservado.
Em meados dos anos 1960 eram disputadas várias peladas para a Praia do Forte. Eventualmente também organizadas na Rua Princesa Isabel. O interessante é que na época eram chamadas de “futebol de poeira” porque não existia campo gramado para a prática do esporte.
Belíssima residência na Rua Juvino Barreto. Muito bem conservada. Parabéns aos proprietários. Sigamos com nossa expedição fotográfica pela rua Princesa Isabel.
A partir deste trecho compreendido entre as ruas Juvino Barreto e a Rua Correia Teles , a rua Princesa Isabel é asfaltada em toda sua extensão. Casas antigas abandonadas e surgem os primeiros estabelecimentos comerciais.
Ivone Freire, hoje proprietária do excelente Restaurante “Talher”, costumava cantar músicas dos Beatles na casa em que morava na Rua Princesa Isabel juntamente com Marcos e outros jovens apreciadores da novidade musical nos anos 60. Ela foi a primeira garota natalense a possuir uma guitarra. Tomando conhecimento do impasse ocorrido, simplesmente emprestou a sua guitarra para utilização pelos Gênios. Era uma guitarra Giannini, modelo Gemini II, com alavanca, a mais moderna existente em Natal. E, mais uma vez, “4 em Romanos e 1 em inglês” se fez presente.
Os ensaios da banda “Os Gênios” na Rua Princesa Isabel precisavam ser feitos com janelas fechadas porque a aglomeração de curiosos já era grande.
Entre as ruas Correia Teles e a Auta de Souza, a Rua Princesa Isabel já conta com trânsito bem intenso. Os casebres antigos estão espaçados, porém em bom estado de conservação. As atividades comerciais bem visíveis. A via está viva!
O aformoseamento das vias urbanas de Natal despertou o desejo da população no sentido de que outras ruas da cidade fossem também agraciadas com tais medidas. É o que mostra um comentário de um leitor do jornal “A República”, ao tratar sobre as obras de melhoramento e aformoseamento pelas quais passava a cidade, em especial, as ruas mais importantes, e ao se referir à Rua 13 de Maio, atual Rua Princesa Isabel, dizia que caso aquela rua fosse alvo dos melhoramentos necessários como calçamento, arborização e fornecimento de luz, estaria ela a fazer “bellissimo paralello com a elegante avenida ‘Rio Branco’” (Varias. A República, 06 de maio de 1910).
Entre as ruas Auta de Souza e a Ulisses Caudas, A Rua Princesa Isabel ganha aspecto comercial. Seus edifícios e casas mais antigos estão modificados para atender a necessidade de lojas e demais empreendimentos.
No livro O Meu Governo, Juvenal Lamartine faz um espécie de relatório das ações realizadas durante seu tempo no governo do Estado, tendo sido impedido de escrever o relatório oficial, por ter sido deposto e exilado após a revolução de 1930 no Brasil. Dentre as ações realizadas, o ex-governador destaca as melhorias dos serviços urbanos, como reparos “geraes no prédio da sub-estação da rua 13 de Maio” (LAMERTINE, Juvenal. O Meu Governo. P. 14.).
Na Rua Ulisses Caldas outros pontos que marcaram Natal na década de 1960: a Loja da Borracha (na esquina com Princesa Isabel) e, na diagonal dessa, as “Casas Araújo”. Interessante como existiam muitos sapateiros em Natal até meados dos anos 1960, eram dois na nossa região: Nicácio Barroca na Rua Auta de Souza e um outro na Rua Princesa Isabel.
Cruzamento das ruas Ulisses Caldas e a Rua Princesa Isabel. Um dos mais movimentados da Cidade de Natal e igualmente dos mais históricos. Vejam que por trás das fachadas das lojas existem toda uma arquitetura antiga dos prédios.
No século XIX, as serenatas tiveram a sua grande época na cidade de Natal. A prática de serenatas foi possível devido ao desenvolvimento das modinhas no Rio Grande do Norte. As modinhas eram poemas musicados, isto é, obras compostas de melodias e de poesia. As serenatas eram urbanas. Em uma atmosfera de descontração, desenrolaram-se pelas ruas do Fogo – atual Rua Padre Pinto –, dos Tocos – atual Avenida Princesa Isabel – e no Beco Novo – atual Rua Voluntários da Pátria. Portanto, as serenatas eram as práticas desenvolvidas, pelos homens da cidade, das modinhas nas ruas natalenses.
O Grande Ponto foi, durante a década de 1950, a mais destacada área de sociabilidade natalense. O crescimento do comércio na Cidade Alta atraía a população que caminhava pelas calçadas dos estabelecimentos, provocando um intenso movimento de pessoas pelos principais logradouros do bairro, a Rua João Pessoa, a Avenida Rio Branco e a Rua Princesa Isabel. Uma variedade de confeitarias, cafés e bares fazia parte do cenário do Grande Ponto, a exemplo da Confeitaria Helvetica, do Bar e Confeitaria Cisne, do Granada Bar e Confeitaria, do Bar e Café Expresso, do Restaurante Prato de Ouro, do Bar Dia e Noite e do posto de degustação do Café São Luís.
Por sua vez entre as ruas Ulisses Caldas e a Coronel Cascudo, a Rua Princesa Isabel tem seu entorno tomado por prédios em geral reformados ou construídos após a década 60. Este trecho da via é uma das mais antigas da Cidade de Natal.
As gameleiras da Rua dos Tocos tinham uma folhagem muito densa. Pelo diâmetro dos seus troncos podia-se bem calcular a idade. Deviam ter sido plantadas nos meados do século XIX. Tamanho e grossura eram admiráveis. Em 1910, os carrascos da Intendência, a golpes de machado, sacrificaram as árvores que davam sombra e frutos aos moradores da rua. Os tocos deixados na rua, decerto deram o antigo nome ao lugar. Compôs a “Dança e canção da Rua dos Tocos”, datada de Recife, 12 de junho de 195(8? – último algarismo ilegível na partitura).
O cruzamento da Rua Princesa Isabel com a Rua João Pessoa é uma das mais movimentadas e históricas da Cidade Natal. O centro comercial ainda remanescente da Cidade Alta está no entorno desta no entorno desta região.
Esse processo de construção do espaço se situa em uma margem de tempo que vai da década de 1950 até a década de 1980. A escolha do primeiro marco temporal deu-se pelo São Luiz ter sido fundado em 01 de fevereiro de 1953, na esquina da Rua João Pessoa com a Princesa Isabel no Bairro da Cidade Alta em Natal.
Foi fundado para servir como ponto de degustação para o café produzido na Torrefação e Moagem São Luiz de propriedade de Luiz Eugênio Ferreira Veiga Filho. A escolha do local para a fundação se relaciona a um momento da história da cidade em que o bairro da Cidade Alta concentrava os principais pontos de comércio, lazer e sociabilidade da cidade como bares, praças, clubes, cafés e cinemas.
O Café São Luiz estava localizado no que se compreende como “Grande Ponto”, ponto central da Cidade do Natal da década de 1950 e 1960. A Cidade Alta se tratava de um bairro asseado, urbanizado e com infraestrutura que favorecia sua frequência. Era no bairro que os sujeitos se encontravam, trocavam experiências e iam também ao encontro do lazer e dos prazeres do paladar. Além dos prazeres, frequentar o bairro era uma utilidade, tendo em vista que aglutinava o aparelho burocrático, as sedes bancárias, bem como as sedes de instituições e de procedimentos de saúde.
O Café São Luiz, inaugurado em 1953, mudou-se em 1959, para a Avenida Princesa Isabel. Para Moacyr de Góes, o Café São Luiz e a Confeitaria Cisne tinham públicos cativos.
As pessoas, políticos, funcionários públicos, profissionais liberais, estudantes, etc., batem papo, comentam notícias do dia, entre um cafezinho e outro tomado no Café São Luiz, a alguns passos, na Rua Princesa Isabel.
No antenúltimo trecho de nossa expedição fotográfica vamos mostrar o espaço entre a Rua João Pessoa e a Rua Professor Zuza. Neste percurso, a Rua Princesa Isabel começa a descer a ladeira em direção as imediações do Canal do Baldo. A atividade comercial começa a diminuir. Os prédios mais antigos começam a estar mais visíveis.
Na via ocorriam também os eventos relativos à leitura como a Semana do Livro Espírita promovida em comemoração aos 93 anos do lançamento de O livro dos Espíritos. As comemorações ocorreram na Sede da União da Mocidade Espírita Norte Rio-grandense na Avenida Princesa Isabel, 627, com uma exposição de revistas, livros e jornais espíritas (A REPÚBLICA, 12.04.1950: 1).
Além das movimentações religiosas, tomavam as ruas do bairro às movimentações políticas. Em maio de 1950 a Avenida Princesa Isabel serviu de palco para um comício da União Democrática Nacional em prol da candidatura do Deputado Manoel Varella para suceder ao governador José Varella. O comício foi realizado em frente à sede do partido na mesma avenida (A REPÚBLICA, 21.05.1950: . Palco de tantas intervenções políticas a Cidade Alta agitou-se na disputa pelo governo do Estado nas eleições de 1960 entre Aluísio Alves e Djalma Marinho. De acordo com João Batista Machado a campanha de Aluísio para governador do Rio Grande do Norte em 1960 teria sido iniciada nas ruas do bairro, início organizado por um movimento estudantil que saíra pelas ruas em comício.
Na penúltima fase da expedição vamos mostrar o trecho da Rua Princesa Isabel entre a Rua Professor Zuza e a Rua Apodi. Nesta parte da via temos como destaque o IFRN e o Espaço Cultural Ruy Pereira.
No início da década de 1980 um projeto da Prefeitura acirrou os ânimos entre lojistas, camelôs e a população, o projeto compreendia a construção de um calçadão que seria instalado na Rua João Pessoa até a Rua Felipe Camarão, incorporando também a Praça Kennedy. A Rua Princesa Isabel compreenderia o trecho dos cruzamentos com a Rua Ulisses Caldas até a Rua General Osório. Além desses trechos o calçadão incluiria a Rua Coronel Cascudo, da Deodoro até a Rua José Ivo (DIÁRIO, 05.01.1985: 5). O receio em relação à invasão dos camelôs no calçadão que seria construído pela Prefeitura, fez com que muitos comerciantes se posicionassem contra a obra.
Apesar de todas as discussões, o calçadão foi finalizado em 28 de outubro de 1988, durante a gestão do Prefeito Garibaldi Alves Filho. O espaço contava com caixas para a instalação de engraxates, telefones públicos, ajardinamento, bancos e boxes para informações turísticas. O calçadão foi finalizado, com o passar dos anos ocorreu o que muitos temiam, a invasão do espaço pelo comércio informal.
Última parte da expedição fotográfica pela Rua Princesa Isabel no espaço compreendido entre a a Rua Apodi e a Avenida Deodoro da Fonseca. Vemos novamente vários casarios na medida em que o comércio e a movimentação diminuíram significativamente.
As críticas à concepção de “habitações esteticamente inadequadas ao progresso da cidade”, perduravam nesse na década de 50. Eram recorrentes as publicações que abordavam esta temática e que requeriam uma atitude enérgica por parte da Prefeitura:(…) venho (…) endereçar (…) a minha estranheza pelo fato de se estar construindo na rua João Pessoa, esquina da Princesa Isabel, um grande casarão que só poderia ser plantado numa dessas povoações do interior, (…). Não póde entrar na cabeça de ninguém que, diante do progresso de Natal, seja permitida a edificação de tão teratológico projeto. A fachada do prédio (…), é construida de um paredão lambido, com umas portas baixas, desengonçada, sem ao menos uma marquise para disfarçar o horror. E (…) com agravente de estar sendo construido por um engenheiro da prefeitura …(…). (A. Z…, 08/02/1952, p.04).
Existia uma casa na principal Isabel, 759 que tinha uma fonte com cabeça de leão que jogava água em uma concha , e duas escadas ( uma de cada lado ) , além de no primeiro andar uma espécie de sala com meia parede redonda, com a parte superior em vidro.
Eu literalmente sonhava em comprar aquela casa e restaurar , deixando-a original , mas infelizmente não tive condições e a mesma acabou sendo vendida e totalmente descaracterizada.
Até hj procuro por alguma foto da fachada original dela e nunca achei 🙁