Luto por Pedro Grilo
Foi com grande pesar que a comunidade do Fatos e Fotos de Natal Antiga recebeu a informação do falecimento nesta sexta-feira, dia 22/04/2022 do poeta e artista visual Pedro Grilo, aos 86 anos, por conta de problemas de saúde. O natalense estava internado nesta semana. O velório acontece na Pinacoteca do Estado.
Pedro Grilo era morador da rua Guanabara em Mãe Luiza. Foi membro da Academia de Trovas do RN, ocupando a cadeira 35. Integrou a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN e a União Brasileira de Trovadores. Pedro Grilo Neto, um borratelas que nos devolveu em tintas o encantamento da Natal antiga. Fica a nossa solidariedade aos familiares e demais amigos neste momento de partida.
Nesta postagem faremos uma homenagem a vida e obra de Pedro Grilo. O homem que deixa um legado cultural digno de registro.
Nas palavras de quem o conheceu e vive a cultura na capital potiguar, ele foi uma das pessoas mais originais que Natal já viu nascer. “Pessoal e intransferível”, definiu o fundador do Sebo Vermelho e amigo, Abimael Silva.
O artista nasceu na capital potiguar no dia 30 de setembro de 1936, frequentou a escola até o curso primário. Passou um período em Goianinha morando com a avó e, aos sete anos retornou à Natal, onde vive até hoje. Morou no Areal e atualmente na em Areia Preta, que ele chama de “Guanabara”.
Pedro Grilo Neto, filho de Pedro Grilo Filho e Lídia Gonçalves de Souza, nasceu em Natal, “na maternidade Januário Cicco, do Hospital Miguel Couto – já era chamada assim”, em 30 de setembro de 1936. Seu pai “trabalhava na Inspetoria de Polícia; que depois virou Detran. Era contador. Terminou tesoureiro do Detran. Mamãe cuidava da casa e fazia pastéis para vender.
“De colo, foi levado para a residência dos avós maternos, em Goianinha, área rural. “A primeira lembrança que eu tenho da minha vida é a de um rabequeiro, nosso vizinho mais próximo; a cem metros da casa do sítio da minha avó: Sítio Guariba, próximo ao Engenho de Bom Jardim. Meus avós paternos também tinham um sítio ali, o Boa Vista. O rabequeiro tocava no Boi de Reis. Eu gostava de passear a cavalo quando não estava nas horas duras da labuta, com meus primos, no roçado: feijão, milho, arroz; o gado. Tinha vacaria.”
ARTISTA PLÁSTICO
Para ganhar a vida, foi pintor de parede e de letreiros comerciais. Além disso, ficou conhecido por realizar obras plásticas. Se tornou um artista plástico produtivo, cujas as mais de 100 obras retratam a Natal antiga. Realizou inúmeras exposições no Estado com destaque para a mostra realizada em 2012 na Pinacoteca do Estado. A exposição intitulada “Grilo Borratela” buscou eternizar fotografias de uma cidade tranquila e de ruas arborizadas do início do século 20.
A ideia de retratar e eternizar Natal desde a sua fundação até os anos 1950, segundo o artista, começou quando um colega lhe apresentou umas quatro fotografias antigas do bairro das Rocas, com baixíssima definição e com a sugestão de que ele as imortalizasse em telas. “Elas estavam muito desbotadas, havia muitos clarões nelas”, conta Pedro. As lacunas visuais vieram a servir como impulso criativo para o artista buscar na imaginação uma Natal diferente, que ele vivenciou, e está presente em sua memória.
Pedro Grilo se considerava um “borrador de telas” dispensando o título de artista plástico. Afirmava que que não segue nenhuma escola: ” Não sou copiador de ninguém. Meu trabalho não é pior nem melhor do que os demais. É apenas uma questão de estilo próprio”.
Muitas das ruas e prédios pintados por Grilo já sofreram tantas modificações ou deterioração do tempo que alguns monumentos agora só figuram em suas telas: “Natal hoje está mutilada”, lamenta ele, continuando: “Alguns prédios nem existem mais. Por exemplo, o Beco da Quarentena; o Quartel do Batalhão, que fica em frente à Receita Federal, na Ribeira, está em ruínas; a Coluna Capitolina, não está mais no seu local de origem; o Canto do Mangue, que era uma praia linda, hoje sofreu modificações terríveis; a Capelinha (primeva) de Santos Reis, também não mais existe; o logradouro do Baldo não mais existem”, registra ele, admitindo-se um “saudosista” da Natal que ele viveu na mocidade.
“A Praça Augusto Severo era um verdadeiro bosque e a ponte que nela tinha, não existe desde que construíram a antiga rodoviária. Tenho várias outras saudades: do Coreto, do Marco que ficava vizinho a ele, do chafariz, do tabuleiro da baiana e até mesmo de um pé de acácia que foi arrancado, que se enchia de uma cor dourada, no entardecer. Isso tudo guardei na memória e ainda hoje amo”, revela.
A exposição retratou detalhes de uma Natal que poucos conheceram ( da Fundação aos anos 50). Suas telas tem um colorido vibrante e misturam realismo com elementos da Arte Naif. Para fazê-las ampliou fotografias antigas e aplicou sobre elas espessas camadas de tintas de cores variadas – “gosto de cores” diz. Os quadros de bom tamanho, estão todos a venda e João Grilo sonha em encontrar uma empresa que compre toda a sua obra e doe para o Instituto Histórico e Geográfico do RN.
Também expôs algumas das suas telas no IFRN da Av. Rio Branco, Centro – Natal-RN, no mês em finais de março e início de abril de 2012.
Veja o vídeo abaixo e se encante com a Natal de Pedro Grilo ao som da Natal Provinciana de Alínio Rosa.
LITERATO
Desde cedo se destacou com os seus poemas. Se tornou autodidata começando a escrever aos quinze anos de idade.
Criou o jornal O Pitiguari no qual mostrou a sua produção e de outros autores potiguares. Lançou em 2000 o livro “Mel e Cicuta”, que exibe parte de sua obra literária e prosa e poesia. Foi membro efetivo da Academia de Trovas do RN, ocupando a cadeira 35. Integrou a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN, União Brasileira de Trovadores e do Poetas Del Mundo.
Foi membro da Academia de Trovas do RN, ocupando a cadeira 35 cujo patrono é Ponciano Barbosa. Integrou a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN e a União Brasileira de Trovadores. Era “venenosa como o que se encontra no Instituto Butantan”, descreveu Abimael Silva. O fundador do Sebo Vermelho sonha um dia publicar os poemas de Pedro Grilo. Tinha um grande conhecimento da história mundial.
No vasto salão do mar,
num perenal movimento,
as ondas de par em par,
bailam nos braços do vento…
Foguetório luminoso
a estrelejar-se, à distância,
faz recordar-me, saudoso,
o SÃO JOÃO da minha infância!
A trova que sintetiza
em seus versos a poesia,
é fonte que se eterniza,
jorrando sabedoria!
Lá no arcano da saudade,
num refulgente estelar,
há uma estrela de bondade:
– É o meu Pai a cintilar!
Para o negro inda é penosa
a moderna escravidão,
na senxala indecorosa
da soez segregação.
Trago n’alma juventude,
vigor e tagarelice,
vivendo com plenitude
minha garrida velhice.
No meu viver, diariamente,
a náusea que me angustia
é a fetidez graveolente
que exala da hipocrisia.
Adoro a mulher ordeira,
amorosa e delicada.
Mas, se é megera e grosseira,
distância desta danada…
A nostalgia me alcança
quando, branda, a tarde cai,
cravando-me a aguda lança
da saudade do meu pai.
PEDRO GRILO NETO nasceu em Natal, a 30 de setembro de 1936.
ORIGINALIDADE
Sempre impecavelmente vestido e criador de looks personalíssimos, poeta escatológico e satírico, artista plástico e cantor de óperas, Grilo é um tipo popular nos meios culturais da cidade.
A originalidade de Pedro Grilo estava nas suas obras e também nele próprio. O cajado na mão, o sombreiro na cabeça e a boêmia no coração fizeram dele uma figura inconfundível.
Amigo de longa data de Grilo, Abimael Silva lembra de uma ocasião quando se conheceram. Depois de uma noite de boêmia, ele foi deixar o artista em casa, já de madrugada, junto a um amigo. A primeira surpresa: a pintura de um olho gigante na fachada da casa, no bairro de Mãe Luiza, que chamava atenção de quem passava pelas redondezas. A segunda surpresa: Pedro Grilo acordou a esposa para que ela conhecesse seus novos amigos, e a conversa continuou.
MEMORIAS
Por conta de minhas travessuras, levei muita reguada na cabeça; bolo de palmatória nas mãos; ficava de joelhos sobre caroços de milho seco, atrás da porta da sala de aula. Só tirava 9 e 10, mas vivia de castigo. Quando aparecia qualquer coisa errada na escola, já diziam: é coisa de Pedro Grilo. Mas os professores gostavam de mim.
Papai era chamado à escola, eu escondia os bilhetes da diretoria. Dizia na escola que papai me dera uma surra, uns puxavantes de orelha e me botara de castigo; que pedia paciência aos professores, pois não tinha tempo para atender ao chamado. Uma vez, peguei uma foto do professor Clementino e levei para casa. Quadriqualizei uma cartolina e fiz o retrato dele, usando lápis 1 e 2, explorando as sombras. Eu tinha visto numa revista como se usava a técnica da quadriculização e já desenhava quadriqualizando. Aprendi sozinho. Ele ficou muito admirado e grato pelo presente; pela homenagem. Me elogiou bastante.Fim de ano, chamado à diretoria: “Seu Grilo, aproveitamento quase 10; comportamento, zero. A média dá abaixo de 5. O senhor está reprovado.
Ser piloto mercante ou caminhoneiro era o seu sonho. Em seu tempo de moço, frutas eram servidas como merendas, no intervalo das refeições principais, não como sobremesas. Uma ou outra família mais sofisticada as servia como saladas, encerrando as refeições.
Acrescenta cheio de si que é muito antipático, sobretudo quando se trata de depender de alguém; de políticos e de gestores, culturais, então, nem se fala. Ele não lhes dá o menor cabimento. Sou ainda mais antipático com essa laia. E quando se trata de depender de secretários de estado, eu não vou lá…
O Café São Luiz era originalmente aristocrático, segundo Grilo, que o frequenta desde a sua criação a pouco mais de seis décadas de muitos acontecimentos e circunstâncias. Até os anos de 1970 ele foi aristocrático; depois se tornou democrático e, desta fase em diante, virou bagunça. Houve, progressivamente, o afastamento da turma dos literatos, que foi substituída pela turma do futebol e dos jogadores de porrinha, até liberou geral e assimilou a turma dos maus caracteres e decaiu em baixo astral. Agora está se recuperando, foi repaginado em cafeteria e está atraindo novos e diferentes clientes. Em síntese, a fase de café literário já passou, mas continua um ponto de encontros e bate-papos.
Grilo, famoso por seu vocabulário preciosista, quando não já em desuso, é leitor contumaz de dicionários que, para ele, quanto mais velhos melhores. Nada de aurélios buarques de hollanda. Pelo menos é o que me parece. Gosta evidentemente de coisas raras e, mais ainda, de palavras em desuso. Mas só quando escreve, pois conversando as palavras saem-lhe com fluência e limpidez. Em Natal, andando pelas ruas sob um imenso chapelão de palha, é uma personagem popular que chama a atenção de todos por sua terrível elegância.
Sua peculiar elegância o inscreveria entre os três ou quatro dândis que Natal já teve e que, cada um em sua época e circulo social assombraram a cidade provinciana, como o jovem Luis da Câmara Cascudo, antecedido por uma personagem conhecida como “o Conde”, o próprio Grilo e o poeta Wellington Dantas, que há muito radicou-se em Brasília.
Ele recorda que em 1952 o seu pai, Pedro Grilo Filho, o presenteou com um terno de linho branco e desde então, passou a vestir só roupa branca, por gosto e capricho, um estilo que adotou até os anos de 1970, quando o linho branco praticamente desapareceu do comércio, ficando apenas o brim branco comum, que não lhe agradava como textura. Antigamente havia o HJ, o Taylor e o L 120, linhos brancos fabricados na Inglaterra. Com a escassez, veio o linho Brás Pérola, de qualidade inferior, mas mesmo assim ainda um bom linho, fabricado no Brasil. Para esta entrevista, no Café São Luiz, ele vestiu um terno azul marinho, uma camisa de algodão branca e um foulard estampado em estilo Optical Art, que dá um toque especial à indumentária, sapatos pretos bem engraxados e o seu inseparável chapelão de palha que lembra um sombrero mexicano.
O estilo é o homem. Sou espontâneo no vestir-me, diz com ar modesto. Não planejo nada. Não procuro ser diferente.
Sempre a arte e a cultura fizeram parte de sua vida. Na infância, eu desenhava a paisagem de Natal, encantado com o que via. Meu pai, funcionário da Segurança Pública, era Inspetor de trânsito e desenhava umas letras bonitas em sacos de mantimentos. Isso me estimulou. Passei a desenhar. Morávamos, nessa época, na Rua Campos Pinto, onde havia uma bodega e me ofereci para abrir um nome na fachada e o dono aceitou, depois de apreciar o desenho que eu fizera. A partir daí não parei mais. Passei a pintar todo tipo de placas, pára-choques para automóveis e, depois, para o Rabecão da Segurança Pública, letreiros em ônibus, fachadas de lojas. Tomei conta da cidade e, abrindo letreiros, ganhei muito dinheiro.
Fui menino nas Rocas num tempo em que havia ali grandes árvores. Natal era arborizadíssima. Os quintais eram cheios de fruteiras. Ainda há um resquício dessa Natal antiga, neste bairro da Cidade Alta, nas imediações do bar de Zé Reeira. Havia árvores plantas nos dois lados das ruas e as copas dessas árvores, enlaçando-se no alto, formavam grandes túneis ou corredores vegetais. A Praça Augusto Severo, arborizada com oitizeiros, era um bosque. O Colégio Marista foi construído em meio a um bosque, a famosa Matinha, de rica memória. As ruas eram arborizadas com fícus, oitizeiros e mungubeiras, até que alguém teve a ideia de acabar com elas. Havia uma mata imensa em Lagoa Seca. Do Baldo até lá era um mangueiral só. O riacho do Baldo era um fio d´água cristalina que cortava a Avenida Rio Branco e desaguava no Oitizeiro, onde é hoje a sede da Companhia Energética do Rio Grande do Norte, Cosern, seguindo mais adiante até juntar-se às águas do rio Potengi. Alimentava a lagoa de Manoel Felipe, que em tempos recuados teve uns roçados às suas margens. Era um lugar bucólico e aprazível. Rapaz, fazia-se muitas serenatas em Natal. Sempre a música fez parte do gosto dos natalenses.
Durante a guerra, Natal não tinha calçamento nos subúrbios. Os americanos andavam a cavalo nas periferias ou de Jeep. Andava-se em Natal a qualquer hora do dia ou da noite sem que houvesse assaltos. As ocorrências criminosas eram de pequena monta, não assustavam como agora. A gente ia das Rocas à Praça do Jangadeiro, ou da Jangada como alguns chamam, a pé, sem correr riscos. O que caracterizava as festas populares? Não havia confusão. Tudo transcorria na maior paz. Não havia transporte regular. Em 1948 o prefeito Silvio Pedrosa calçou a Avenida Circular…
Nos anos de 1960 passei a frequentar a Confeitaria Cysne, onde se reunia a boemia natalense da época. Pertencia a três irmãos, Múcio, Aldemar e Rossini, oriundos de Taipu e do Ceará-Mirim. Eram irmãos do padre Ruy Miranda, que foi vigário no Ceará-Mirim por uma vida inteira. Eu era amigo de Luís de Barros e, quando aparecia na Cysne, ele me convidava a sentar à sua mesa. Estávamos lá, a bem da verdade, todos os dias. O professor Saturnino; Evaristo de Souza que ás vezes se fazia acompanhar de seu filho, Nilberto; Mário Vilar de Melo; o grão-mestre Armando Fagundes; o engenheiro Roberto Freire., com quem fiz grandes farras e era tão desmantelado quanto eu; eram habitués ainda, Luís Tavares e o doutor Mariano Coelho. Era um a turma boa danada. Depois, foram morrendo um a um… Restei aqui para contar a história.
O Granada Bar foi durante algum tempo uma extensão da Confeitaria Cysne, que fechava às 22 horas e a gente se deslocava para o Granada, que cerrava suas portas aí por volta das 2 horas da manhã, quando, em algumas ocasiões, íamos tomar a saideira no bar do Grande Hotel, na Ribeira. O senador Luis de Barros e Roberto Freire compartilhavam os serviços de um mesmo motorista, Cancão.
Casado – e bem casado, como gosta de frisar – com a mesma mulher há 59 anos, a quem chama de “a doce Francisca”, Grilo enaltece-lhe o companheirismo e o fato de ser a mesma uma natalense da gema, nascida, como nasceu, na antiga rua da Salgadeira, depois chamada da Misericórdia, onde se abatiam todas as reses e animais consumidos na cidade inteira. O casal tem quatro filhos, três machos e uma fêmea, além de quatro netos. Há muitos anos vivem em Mãe Luiza, bairro que surgiu sobre dunas, de onde se descortina uma das mais belas paisagens e vive uma população de trabalhadores, alguns com alma de artista.
Comecei a pesquisar a arquitetura e os logradouros de Natal antiga acidentalmente. Não fazia parte de minhas cogitações, até que um dia um amigo das Rocas, de nome João, me ofereceu quatro fotos daquele bairro onde vivi a infância e mocidade e estudei na escola particular do professor João das Velhas, um negro idoso, mas ainda bem duro e cheio de vida, que, por uma dessas estranhas coincidências não tinha velha nenhuma, pelo menos que soubéssemos. Era sacristão da Igreja São João. De posse dessas fotos de Natal antiga, já quase sem nenhuma nitidez, nebulosas e de contornos indefinidos, senti-me desafiado a recompô-las. Pintei assim os quatro primeiros quadros dessa coleção que se aproxima das duzentas obras. Todas, recriação de lugares e construções que desapareceram ou se acham atualmente desfiguradas pela incúria dos governantes sem amor à história. Como gosto muito de História, senti-me animado fazendo essa reconstituição que resultou num trabalho ao mesmo tempo didático e documental, que, entanto, não tem despertado o interesse das instituições nem dos que se dizem gestores culturais.
O começo não foi fácil para Grilo, que se deparou com a dificuldade de acesso a informações e acervos fotográficos relativos à Natal, cidade que não cuida bem do seu patrimônio cultural nem respeita os artistas, uma queixa praticamente generalizada. Estava nessa luta quando tive a informação de que havia um acervo fotográfico na Central Ferroviária. Procurei-os, e soube lá que o acervo havia sido transferido para o Recife. Porém, insistindo nessa busca, apareceu alguém com a informação que havia ficado um disquete com as peças dessa coleção. Obtive uma cópia e a partir daí me apliquei na realização desse conjunto de pinturas que, quando expostas, como o foi na Pinacoteca do Estado, por iniciativa de Jorge Antonio, desperta sempre um grande interesse do público que fica encantado e surpreso com a cidade antiga. Quem parece não gostar são as instituições, que viram as costas para os artistas da terra e se afadigam em prestigiar o que vem de fora. E, na medida em que pintava esses quadros, eu tinha a convicção de que fazia uma coisa original e relevante para a História e para as novas gerações, que podem se encontrar com uma Natal que não existe mais. Meu desejo seria o de deixar um legado a Natal. Como lhe disse em uma certa ocasião, anos atrás, quando expus esse trabalho na Pinacoteca. Se não houver interesse por parte de alguma instituição cultural da cidade, na aquisição dessa coleção de quadros, pretendo incinerá-los em praça pública, para chamar a atenção de todos para o descaso e a indiferença com que somos tratados, aqui, os que se dedicam a produzir uma obra cultural digna das futuras gerações.
Grilo cultiva a Trova e a Glosa como gêneros literários de sua preferência. Pertence à Academia Potiguar de Trovas, uma instituição que conheceu dias melhores e que atualmente mal se reúne. Há muita rivalidade e inveja na Academia de Trovas, que começou a existir em 1964, como Clube dos Poetas e foi evoluindo. Dela participou Cascudinho, que sempre incentivou a cultura local. Lá, tive muitos atritos e os trovadores costumavam me apodar de birrento e chato. Cheguei a ser vitima das piores agressões morais, mas o tempo dilui os erros e nem todo mundo é bom até o fim da vida. Toda a vida gostei de ler e escrever Décimas. Escrevi já para mais de 1.000, afora as que se perderam. Depois é que enveredei pela Trova.
A Décima – ou Glosa – é uma reportagem. Ela sempre conta ou comenta um fato. É, nesse aspecto, uma composição jornalística, pois reporta um fato da vida cotidiana. Doutor Mariano Coelho, meu companheiro de boemia, era exímio glosador. Publicou ainda em vida um grosso volume que reuniu sua produção no gênero, hoje um livro que não é encontrável em parte alguma. Uma verdadeira raridade. A glosa, originalmente, é o vilancete espanhol. Neste, o Mote – que estabelece o tema – constituem os dois versos finais. Porém, no Assu, os poetas inverteram a ordem e o Mote passou a ser publicado no inicio da glosa. A forma que eu cultivo é a que foi estabelecida pelos poetas açuenses. É uma narrativa de fatos e ocorrências com esse formato que difere do vilancete que remonta a uma velha tradição. Com a decadência cultural do Assu, Caicó tornou-se o centro da glosa no Rio Grande do Norte. Há um grupo de glosadores e trovadores, no Caicó, muito atuante. Considero Edson Peres um bom trovador. Há, na glosa, uma vertente que não me agrada, que é a da glosa escatológica. Aprecio aquele gênero de glosa que contém algum laivo filosófico. Moysés Sesyom, radicado no Assu, mas oriundo do Caicó, foi um grande glosador e glosou, preferencialmente, em termos escatológicos. Dele se conta que era doido por uma mulher que era cortesã de ricos no Assu e ele, um soldado de polícia sifilítico, não conseguiu subir em sua cama.
A governadora Fátima Bezerra foi às redes sociais para lamentar a perda do artista: “Vá em paz grande poeta e artista visual Pedro Grilo. Nosso reconhecimento por todas as contribuições à cultura do RN”, escreveu.
O secretário de Cultura de Natal, Dácio Galvão, foi outro que se solidarizou. “Pedro Grilo fez parte de uma geração de poetas e artistas visuais que durante várias décadas marcaram sua posição no cenário cultural da cidade, fortemente nos anos 1970. Podemos dizer sem medo de errar que a cidade perde um dos seus ícones representativos”, afirmou Galvão.
SAÚDE DELICADA
Apesar da vestimenta elegante de sempre, basta um zoom para constatarmos, através do olhar, que o nosso amado poeta Pedro Grilo não estava bem. Aos 86 anos, precisamos compreender que ele já não era mais o jovem menino desbravador das aventuras de outrora.
No dia 08/02/22, Grilo passou o dia no Hospital dos Pescadores para tentar resolver problemas de saúde, que precisam ser investigados para que ele possa continuar vivendo com a qualidade de vida que as condições econômicas e de saúde lhe permitem. Grilo é patrimônio cultural.
FONTES:
A CIDADE E AS CORES DE PEDRO GRILO -ARTISTA PLÁSTICO POTIGUAR – Vento Nordeste – https://papjerimum.blogspot.com/2012/04/um-blog-nostalgico-nao-poderia-deixar.html – Acesso em 23/04/2022.
A NOITE DE GLORINHA OLIVEIRA E PEDRO GRILO NO IFRN – Blog de Moacir Soares – https://moacirsoares.wordpress.com/2012/04/02/a-noite-de-glorinha-oliveira-e-pedro-grilo-no-ifrn/ – Acesso em 23/04/2022.
Arte potiguar perde o artista Pedro Grilo – Tribuna do Norte – http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/arte-potiguar-perde-o-artista-pedro-grilo/536967 – Acesso em 23/04/2022.
Cores de Grilo – Tribuna do Norte – http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/cores-de-grilo/218610 – Acesso em 23//04/2022.
Elegância tem nome e sobrenome – Navegos: Porque navegar é preciso. – https://www.navegos.com.br/elegancia-tem-nome-e-sobrenome/ – Acesso em 23/04/2022.
Exposição do artista Grilo Borratela – Núcleo de Arte e Cultura da UFRN – http://nac.ufrn.br/nac/?p=3354 – Acesso em 23/04/2022.
Literatura potiguar em luto: morrem em Natal os poetas Pedro Grilo e o mossoroense Francisco Obery Rodrigues – Difusora:fala do povo – https://difusoramossoro.com.br/literatura-potiguar-em-luto-morrem-em-natal-os-poetas-pedro-grilo-e-o-mossoroense-francisco-obery-rodrigues/ – Acesso em 23/04/2022.
Morre Pedro Grilo, poeta e artista visual potiguar, aos 86 anos – Tribuna do Norte – http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/morre-pedro-grilo-poeta-e-artista-visual-potiguar-aos-86-anos/536923 – Acesso 23/04/02022.
Natal retratada em telas de Pedro Grilo na Pinacoteca do RN – Anote RN – http://www.anotern.com.br/2013/04/natal-retratada-em-telas-de-pedro-grilo.html – Acesso em 23/04/2022.
Pedro Grilo Neto – Natal – Falando de Trova – https://falandodetrova.com.br/pedrogrilo – Acesso em 23/04/2022.
Poeta e artista visual Pedro Grilo morre em Natal aos 86 anos – Saiba Mais> agência de reportagem – https://www.saibamais.jor.br/poeta-e-artista-visual-pedro-grilo-morre-em-natal-aos-86-anos/ – Acesso em 23/04/2022.
Poeta Pedro Grilo precisa de cuidados – Papo Cultura – https://papocultura.com.br/pedro-grilo-patrimonio-vivo/ – Acesso em 23/04/2022.
Recanto das Letras – Pedro Grilo – https://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=81879 – Acesso em 23/04/2022.