A primeira regata de Natal
Em Natal, as práticas esportivas começam a receber atenção dos intelectuais na década de 1890. No artigo escrito pelo redator d’A Republica, que assinava S., sobre as atividades esportivas no Estado, reclama-se das formas de diversão escolhidas pelos seus jovens conterrâneos, que preferiam passar noites em claro, enclausurados nos apertados salões, “respirando pó e fumo de cigarro e charuto, além de outras emanações” em vez de caírem nas águas do rio Potengi na prática da natação ou remo, a exemplo do que acontecia nos rios das grandes cidades da Europa.
O cronista ressentia-se da falta de “clubs de rapazes congregados ao fim, tão digno o que mais for, de divertir-se robustecendo os músculos, exercitando os orgãos, armazenando saúde”, e sugeria que moços natalenses seguissem o exemplo do Rio de Janeiro, que por estar em maior contato com os estrangeiros, já havia aderido às práticas esportivas vencendo a “natural indolência característica dos climas quentes” (DIVERSÕES populares. A Republica, Natal, 27 abr. 1897).
Em 1897, quase um mês depois da publicação do artigo de S., foi anunciada no jornal A Republica a realização da primeira regata da cidade (REGATA, A Republica, Natal, 18 maio. 1897). Nessa regata, além da participação de atletas profissionais, estavam presente amadores. Até a década de 1910, a maioria das regatas organizadas na cidade não se destinava a grupos de atletas profissionais, nem mesmo aos sócios de clubes oficiais, o que mostrava o caráter informal
dessas competições.
A realização da regata, além de divertir os participantes amadores e profissionais, divertia também as pessoas que se reuniam na beira do cais ou em pequenas embarcações às margens do rio a fim de assistirem às competições. Quando essas passaram a ocorrer no espaço público, deram margem a uma outra forma de sociabilidade, que não a exercida pelos competidores.
As pessoas que se encontravam à beira do cais assistiam, sem sequer levantar um músculo, às competições esportivas nas quais se destacavam os remadores. Esses espectadores são motivados por uma outra lógica, que era a lógica da ação e da saúde que movia os atletas: era a lógica do espetáculo. O esporte para os espectadores, que participam da cena, assistindo, torcendo, viria a se tornar entretenimento. A regata triunfou na cidade por conseguir unir os ideais de força e saúde, característicos da modernidade, com a boa aceitação do público.
AO MAR GENTE MOÇA!: O ESPORTE COMO MEIO DE INSERÇÃO DA MODERNIDADE NA CIDADE DE NATAL por Márcia Maria Fonseca Marinho