Banco do Natal

Em 1906, o grande acontecimento para o Estado e a capital parece mesmo ter sido a inauguração do Banco do Natal, ocorrida no começo daquele ano (A REPUBLICA, Natal, 18 jan. 1906.). Com o capital inicial de 200 contos de réis, a primeira instituição de crédito do Rio Grande do Norte prometia ser um agente financiador dos empreendimentos realizados na capital e no interior do Estado. Um comentarista com mais otimismo, após narrar a inauguração simples da instituição e prever para ela uma vida longa, deseja que o Banco trilhe o caminho do mais absoluto sucesso, de modo a tornar-se o mais poderoso rival do Banco da França (Id., Natal, 27 mar. 1906.). Não custava nada sonhar.

ANTECEDENTES

Nesses anos, que marcaram a passagem do século XIX para o século XX, Natal foi aos poucos se aparelhando com as inovações que, então, caracterizavam a vida moderna. Cabe registrar a criação, em Natal, da Junta Comercial (1900), do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (1902), da Sociedade Agrícola (1905), do Banco de Natal (1906) e, em 1909, do Liceu Industrial.

No plano cultural, o governador Alberto Maranhão (1901-1904 e 1908-1913) incentivava as letras e as artes, promovendo recitais, premiando autores e publicando livros. Nas primeiras décadas do século XX, a população de Natal teve um crescimento significativo, passando de 16.059 em 1900, para 30.696 em 1920. Ao longo desse período, foram implementadas diversas ações higienistas, que contribuíram de modo decisivo para melhorar as condições de vida da população de Natal, ainda muito precárias, conforme constatava Eloi de Souza.

A capital do Rio Grande do Norte consolida-se como pólo econômico – social hegemônico da região, na segunda metade do século XIX, (1877- 1897), a partir da grande exportação do algodão para o mercado externo. O algodão mocó recebeu o grande Prêmio na Exposição Nacional atingindo altos níveis de exportações na Segunda Guerra de Secessão e no finai do século XIX (1896 – 1905).

A Ribeira, cortada em xadrez de ruas, praças e avenidas, é o bairro do alto comércio, da Bolsa, dos grandes estabelecimentos bancários. O “Banco do Natal”, com o seu capital de mais de cem mil contos, pode construir, na avenida Tavares de Lira, um edifício soberbo que atesta a sua prosperidade.

FUNDAÇÃO

Nas primeiras décadas do século XX o bairro da A Ribeira era o centro comercial da cidade de Natal, onde se encontravam livrarias, lojas, outras casas comerciais, bancos e as sedes dos dois mais importantes jornais do período: A República e o Diário de Natal. O porto e a estação ferroviária tinham grande importância, uma vez que eram responsáveis pela exportação e importação dos produtos e pelo transporte de passageiros. Nesse bairro, localizavam-se ainda o Teatro Carlos Gomes (atual Alberto Maranhão), cinemas e sorveterias. A economia da cidade girava em torno do pequeno comércio (lojas, bares e cafés) e das exportações do algodão, açúcar, sal e da cera de carnaúba.

Cartão-postal da Rua Doutor Barata, sentido Pça. Augusto Severo, à direita a antiga agência do Banco do Natal, que por volta dos anos 1920 abrigou à livraria Cosmopolita. Era o local do comércio elitista da cidade, do Hotel Internacional e da Loja Rainha da Moda. Fonte: Miranda, 1981.
O Banco de Natal, posteriormente, BANDERN, foi erigido nesta rua. E com sua transferência para a sede própria, na esquina das atuais avenidas Duque de Caxias e Tavares de Lira, o local foi ocupado pela livraria Cosmopolita, tendo como proprietário Fortunato Aranha.
Doutor Barata na atualidade.

Iniciativa pioneira no Estado, fundado em 25 de março de 1906, no governo de Tavares de Lyra, o Banco de Natal, posteriormente transformado em BANDERN ( Banco do Estado do Rio Grande do Norte), foi fundado na rua Dr. Barata, nº 4 (NESI, 1994). Trata-se do mesmo local que depois foi ocupado pela Livraria Cosmolita, propriedade de Fortunato Aranha.

Fundado em fevereiro, o Banco deveria alavancar o progresso no Rio Grande do Norte e, especialmente em sua capital, financiando a realização de obras públicas e a instalação de serviços urbanos. Alguns dos personagens aqui estudados participaram de seu erguimento; poucos, porém, investiram tanto na construção do novo Banco como Olympio Tavares. Excetuando-se o Tesouro do Estado, com 250 ações, o Dr. Pedro Velho, com 110 (representando, porém, a si e mais doze menores, filhos seus e do irmão falecido, Augusto Severo) e a viúva Ignez Paes Barreto, com 75 ações, ninguém mais que o coronel Tavares possuía tantas ações do Banco: eram 50, que representavam um capital de 10 contos de réis (algo em torno de 15% de tudo que a Intendência previa gastar na capital para o ano de 1907, de acordo com a resolução n. 106/1906). Não à toa, seria eleito o primeiro presidente da instituição de crédito (A REPUBLICA, Natal, 06 fev. 1906).

Por sinal, como veremos ais adiante vários foram os personagens aqui tratados que participaram da fundação do Banco do Natal e foram seus sócios. A relação que temos é a seguinte: Antonio Joaquim Teixeira de Carvalho, agricultor, domiciliado em Cajupiranga, com uma ação; Olympio Tavares, comerciante residente em Natal, com 50 ações – um dos maiores acionistas; coronel Romualdo Lopes Galvão, comerciante residente em Natal, com 40 ações – também na lista dos maiores sócios; Coronel Joaquim Manoel, por si e como representante de cinco filhos menores, empregado público residente em Natal, com seis ações ao todo; tenente-coronel Francisco Cascudo, comerciante residente em Natal, com dez ações; Theodosio Paiva, empregado público residente em Natal, com cinco ações; Dr. Pedro Soares de Amorim, empregado público residente em Natal, com duas ações; Padre José de Calazans Pinheiro, empregado público residente em Natal, com mesmo número de ações; Dr. Manoel Dantas, empregado público residente em Natal, uma ação; Major José Mariano Pinto, empregado público residente em Natal, uma ação. De acordo com A REPUBLICA, Natal, 06 fev. 1906; 07 fev. 1906. Os nomes dos sócios vinham acompanhados de suas profissões, da maneira como reproduzimos acima.

A maioria dos acionistas do banco era das famílias Albuquerque Maranhão e Lyra. As bases para o seu funcionamento foram dadas no governo de Alberto Maranhão, como esclarece Itamar de Souza (1989, p. 233), lembrando que foi a criação do Banco do Recife, em 1900, que mobilizou as classes produtoras do estado para criar aqui no estado uma instituição bancária. Monteiro (2000), afirma que o banco fundado no Rio Grande do Norte tinha o objetivo de fornecer empréstimos de capital aos proprietários rurais, visando promover a economia agroexportadora do estado. Seu capital inicial foi formado com o dinheiro do Tesouro Estadual e de 133 acionistas privados. Dentre esses, “22 eram da família Albuquerque Maranhão e Lyra, os quais detinham 31,7% das ações” (MONTEIRO, 2000, 172-173).

Em seguida o Banco do Natal foi transferido para a rua Chile (antiga Rua do Comércio) em frente ao antigo “Wander Bar”. Era nesta via que se encontrava a Despensa Natalense localizada no n° 133. Nessa rua encontravam-se as maiores empresas comerciais, industriais e exportadoras que atuaram diretamente no processo de desenvolvimento da cidade, dentre elas a firma João Galvão e Cia que se dedicava ao ramo de tecidos no atacado, com venda em todo estado; a firma Gurgel Amaral e Cia, que atuava no ramo das representações de madeiras e artigos para agricultura; a empresa S. A. Whardon Pedrosa, que trabalhava com a compra, beneficiamento e exportação de algodão; a firma Tobias Palatinick e Irmãos proprietária da fabrica de mosaicos, e outros firmas importantes, além da Alfândega antes de ser transferida para o prédio na Rua Silva Jardim (ANDRADE, 1989: 42-52).

Cruzamento da Rua do Comércio (atual Rua Chile) com a Av. Tavares de Lira, no final da década de 20. No prédio que sediou o Banco do Natal posteriormente, funcionou o Hotel Internacional, que pertenceu a Milcíades Bandeira, José de Carvalho, Theodorico Bezerra e Guilherme Lettieri. Era um hotel bastante frequentado, que mantinha um bar de intenso movimento, com afluência de industriais, comerciantes, políticos, fazendeiros etc.

OBRAS

Em suas Notas inocentes, o sr. Inocêncio, cujo nome não fazia jus à personalidade, inicia o ano usando toda sua acidez e ironia para criticar os líderes da oposição, Augusto Leopoldo Raposo da Câmara e Elias Souto, que apareciam em alguns de seus textos como verdadeiros loucos incapazes de compreender o significado das obras realizadas pelo Governo na capital.

Em março de 1906, esse personagem anuncia que o governo planejava mais um “hospital, penitenciaria, dous grupos escolares, forum, notariado e
archivo publico, ampliação do Atheneu, residencia official para o chefe do Estado e, talvez, o Lyceu de artes e officios, tendo jà de tudo as plantas com o custo de execução”, obras que, provavelmente, contavam com o aporte financeiro do Banco do Natal. E ainda havia mais: a Intendência estava muito perto de preparar um novo paço municipal na Avenida Junqueira Ayres. Algumas dessas obras foram realizadas naquele mesmo ano de 1906, como a ampliação do Atheneu e a residência oficial do governo do Estado. Mas na sua última previsão o sr. Inocêncio passou longe do acerto.

SALVAÇÃO

Juvenal Lamartine foi eleito em 1928 para um mandato de quatro anos para o Governo do Estado. Porém, a Revolução de 1930 encerrou abruptamente o seu mandato, cortando-o pela metade. Segundo Itamar de Souza (1989, p. 250-251), Juvenal Lamartine foi, juntamente com Alberto Maranhão, o governador mais criativo do Rio Grande do Norte durante a República Velha.

Na área financeira, salvou o Banco do Natal (nome que ele mudou para Banco do Rio Grande do Norte) da falência. Expandiu o banco em direção ao interior, através da abertura de agências nos principais municípios do estado.

SEDE PRÓPRIA

Em janeiro 1939 foi construída a primeira sede própria do Banco de Natal em um prédio situado na esquina das atuais avenidas Duque de Caxias e Tavares de Lira. Foi nesta fase que recebeu o novo nome: Banco do Rio Grande do Norte.

O projeto de construção do Banco foi confiado ao prefeito da Capital, o engenheiro Gentil Ferreira de Souza. À época da sua construção, constituía-se uma das mais belas e sólidas edificações de Natal. Apresentava partido de planta retangular desenvolvido em três pavimentos, com cobertura arrematada por platibanda com balaústres.

Uma marquise separa o segundo pavimento do terceiro, apoiada em colunas com capitéis. Na avaliação de Nesi (1994) este prédio, de grande valor arquitetônico e expressiva importância histórica foi, na época de sua construção, uma das mais belas edificações de Natal.

É interessante ressaltar que as fontes informaram que, nesse período, quase todas as grandes obras de construção civil, de médio e grande porte, públicas ou privadas, ficavam sob a responsabilidade do Prefeito em exercício, o Engenheiro Gentil Ferreira de Souza. Este era o engenheiro responsável, proprietário de uma construtora, que executava as construções públicas e privadas, independente da existência de concorrências públicas (INAUGURA-SE…, 1939, p.12). Na maioria das obras que receberam a cobertura do Jornal A República, os jornalistas ressaltavam sua autoria sobre a execução do projeto, assim como sua responsabilidade técnica pela construção dos edifícios.

“O edifício do Banco do Rio Grande do Norte marcou o período em que Joaquim Victor de Holanda, pernambucano radicado em Natal, formado no Liceu de Artes e Ofício de Pernambuco e que era considerado especialista em “fachadas ornamentais, ambientação e esculturas” (CARDOSO, 2000, p.399) esteve associado ao engenheiro Gentil Ferreira e, a partir dele, diversas edificações passaram a apresentar fachadas ornamentadas e elaboradas esteticamente In: CARDOSO, Rejane (Coord.). Op. Cit.

Segundo Cardoso, este técnico foi o responsável pelo desenho da fachada do Edifício do Banco do Rio Grande do Norte, assim como de outros que foram construídos na cidade. Até a execução do Banco do Rio Grande do Norte, Holanda trabalhava em parceria com o Prefeito, e a partir dele, tornaram-se sócios da maioria das construções que se fazia na cidade, inclusive das militares. Esta sociedade baseava se na divisão das responsabilidades exigidas por cada empreendimento, porém, em se tratando de execuções estruturais de maior porte, a experiência de Holanda era notadamente superior.

O especialista pernambucano trazia de sua vida profissional anterior, na cidade do Recife, capital do Estado de Pernambuco, a participação na construção de vários edifícios, especialmente da Praça da Justiça. O fato pode ser considerado como um indício de que as elites políticas naturalmente mantinham o poder sobre os registros que eram publicados no Jornal A República. O periódico divulgava suas ações de maneira parcial, valorizando a competência política de seus representantes em detrimento do reconhecimento do trabalho intelectual ou técnico de seus intelectuais e profissionais especializados, assim como de pessoas que não faziam parte do grupo.

Entre os edifícios construídos pelo poder público, o Banco do Rio Grande do Norte era o mais importante. Tornou-se “um dos prédios mais bonitos da cidade” (FRANÇA, 1939a, p.12), só sendo superado pelo edifício do Grande Hotel.

A única modificação verificada naquele prédio, foi a retirada de um belo frontão curvilíneo que valorizava sobremaneira o seu pórtico de entrada. O Banco foi extinto e, posteriormente, o prédio foi reinaugurado como Central do Cidadão. Atualmente, este prédio encontra-se desocupado.

INAUGURAÇÃO

Banco do Rio Grande do Norte achava-se otimamente instalado com a inauguração do seu novo, artístico e confortável prédio, edificado a Avenida Tavares de Lira, esquina com a a Avenida Nísia Floresta (atual Avenida Duque de Caxias).

Segundo o jornal A Ordem a inauguração ocorreu em 14/01/1939 as 15h00 com a presença de numerosas pessoas do comércio, autoridades e famílias, além de representantes da imprensa.

Deu a benção do novo edifício o bispo diocesano Dom Marcolino Dantas, dirigindo após palavras de congratulações pelo belo melhoramento que vinha aumentar os encantos da nossa terra. Salientou ainda o espírito progressista do Interventor federal, Rafael Fernandes e do prefeito Gentil ferreira, elogiando o esforço da atual administração daquele estabelecimento bancário.

O presidente do BANDERN fez em seguida um estudo histórico das atividades do Banco desde sua fundação em 1906, explicando a norma em relação aos interesses do estabelecimento e aos seus clientes. A agradeceu o apoio que lhe tem dado o governo, de ordem material e moral.Tocou durante a festa a banda de música da Força Pública.A partir do dia 16/01/1939 os serviços passariam a funcionar no novo edifício.

A construção do prédio obedeceu a direção técnica do prefeito Gentil Ferreira, que era engenheiro também, sendo despendido na obra, incluindo o mobiliário, 239:000$.O mobiliário com as divisórias e balcões, era todo novo,sendo executado pela Casa Holanda, do Recife e custou 57:000$.

No andar térreo funcionaria a contabilidade, caixas, sala de espera, gabinetes do diretor-presidente e do diretor-gerente, portaria, vestiário para homens e senhoras (banheiros) e a casa forte (cofre), que foi construída obedecendo aos modernos requisitos da arquitetura.

No 1º andar funcionariam a contabilidade interna e o salão de reunião dos acionistas, já no 2º andar ficaria o arquivo.

Considerando inaugurado o prédio, o Interventor Federal Rafael Fernandes, disse que o fazia com muita satisfação, pois desde o começo do seu governo tomou consigo mesmo o compromisso de dar ao Banco do Rio Grande do Norte o prestigio de que necessitava e a sua administração a mais ampla autonomia para o cabal desempenho das suas funções. Cumprimentou os dirigentes daquela casa bancária pela inauguração de sua nova sede, índice de prosperidade e de esforço bem dirigido.

Seguiu-se no pavimento superior a aposição dos retratos de Pedro Velho, Tavares de Lira e Rafael Fernandes, discursando durante a cerimônia o secretário geral do estado, Aldo Fernandes que se reportou a cada uma dos homenageados. (A ORDEM, 15/01/1939, p.1).

Foto anterior a construção da sede do Banco do Natal na avenida Duque de Caxias em 1939. Notem que o terreno na esquerda ainda está sem construção aparente.
Cruzamento das Av. Duque de Caxias com a Av. Tavares de Lira
Avenida Duque de Caxias na Ribeira. Mesmo com bondes circulando movidos a eletricidade. Os jumentos e cavalos ainda se fazia uso entre as massas. Os prédios no lado esquerdo foi construído para sede do Bandern, também foi sede do Procon, hoje em abandono, e do lado direito o prédio onde hoje sedia a Defensoria Pública do RN (prédio original não existe mais). Em primeiro plano um escoteiro prática muito valorizada e difundida na cidade naquela época. Ano? Década de 50 máximo.
Passagem do bonde em sua entrada pela Avenida Tavares de Lira. Passagem era cara para época daí a ocorrência do uso de jumentos em plena capital potiguar.
Em primeiro plano vemos na esquina da Avenida Duque de Caxias com a Avenida Tavares de Lira a antiga sede do Bandern que depois funcionou na sede do Procom.
Os desfiles militares da Segunda Guerra Mundial eram uma atração a parte para os moradores Natal. Neste vemos o registro do fotógrafo da Revista Time, Hart Preston, em 1941, na Ribeira. Notem que pela ângulo da foto ele fez alguns registros do alto do Grande Hotel. Vemos em destaque a Duque de Caxias e a Tavares de Lira.

DECADÊNCIA

Na década de 50 os bancos do estado do Rio Grande do Norte estabeleceram suas sedes no bairro da Ribeira. Vale ressaltar que a desde o dia 14 de abril de 1917 a Avenida Tavares de Lira passaria a abrigar a primeira agência do Banco do Brasil em Natal. O bairro ainda abrigou a Cooperativa Central de Crédito Norte Riograndense Ltda situava-se na Rua Doutor Barata, nº. 208. O Banco do Povo S.A. possuía sua sede na Avenida Duque de Caxias, nº. 106. O Banco do Rio Grande do Norte estabelecia-se na Avenida Tavares de Lira, nº. 109. A Caixa Econômica Federal encontrava-se na Avenida Duque de Caxias, nº. 124. Os bares e os cafés dessa esquina eram prolongamentos dos escritórios de corretores, negociantes, políticos e funcionários das repartições públicas, a exemplo dos bancos, situados no bairro da Ribeira.

Os bares e os cafés eram espaços que assumiram uma função que ia além do fornecimento de lanches, refeições e bebidas. Os frequentadores desses bares e cafés eram homens que buscavam esses espaços para se estabelecer socialmente e defender seus interesses particulares.

Considerado o segundo bairro formado na história da cidade, a Ribeira foi durante determinado período a mais importante área de Natal, “onde se concentrava o comércio mais variado […] empresas e bancos” (COSTA, 1995, p.80). Contudo, a partir do final da década de 1940, entrou em paulatino declínio.

Em 1974 é criado pelo governo estadual o Banco de Desenvolvimento do RN (BANDERN), para, em parceria com a SUDENE, tratar de projetos e de políticas de incentivo à indústria e ao comércio norte-rio-grandense. O BANDERN teve suas origens vinculadas ao Banco do Natal.

No prédio do antigo BANDERN funcionou o Palácio da Cidadania. Edificação também abrigou o PROCON, órgão de defesa do consumidor.

Foto do Banco do Rio Grande do Norte. Fonte: Jornal A República, 14 jan. 1938, p.12.
Foto da Avenida Duque de Caxias (Década de 1950). Acervo: Jaeci Emerenciano. Fonte: DVD Álbum Fotos Natal de Ontem.
Mapa do Bairro da Ribeira – Pontos de referências do ano 1939. Fonte: SEMURB/PMN.
Antiga Sede do BANDERN (atual PROCON). Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.

ACIONISTAS

OLYMPIO TAVARES (1860-1923): presidiu a Intendência de Natal entre 1897 e 1901 e, em 1906, tornou-se o primeiro presidente do Banco do Natal. Coronel Olympio Tavares, que era casado com a d. Amélia Áurea de A. Maranhão, irmã de Pedro Velho. Olympio Tavares assumiu a Intendência ainda quando compunha o segundo Conselho, formado em 1895. Foi eleito pelos seus pares para exercer o cargo de vice-presidente da instituição, mas, o nome de João Avelino desaparece logo nas primeiras resoluções publicadas em 1896, e não mais volta a aparecer. Assumindo a presidência do Conselho ainda nesse ano, o coronel Olympio Tavares permanecerá no cargo na gestão seguinte, entre os anos de 1899 e 1901. Mais um coronel, mais um grande comerciante local. A história se repete.

Olympio Tavares era dono da firma Tavares & Comp., bastante lembrada nos jornais no período aqui estudado. Em 1905, na Parte Oficial d’A Republica, vemos que a firma do coronel Tavares forneceu ao governo do Estado “diversos objectos”. Não são incomuns os despachos na Parte Oficial do dito jornal autorizando pagamentos de objetos e serviços fornecidos por firmas comandadas por intendentes. Neste período, a firma de Tavares parece ter tido crescimento acentuado, recebendo em seguida um novo sócio, o sr. Antonio Martins (A REPUBLICA, Natal, 09 mar. 1905. Não conseguimos informações sobre esse novo sócio.)

O ano de 1906 marca, como já vimos, a fundação do Banco do Natal. E o coronel Olympio Tavares terá posição de destaque na criação da primeira instituição de crédito do Estado.

Olímpio Tavares

ROMUALDO GALVÃO: foi presidente da Intendência de Mossoró entre os anos de 1892 e 1895 e de Natal de 1914 a 1916. Em 1906, ele aparece como um dos maiores sócios do Banco do Natal, empreendimento que contou com o apoio maciço do Governo do Estado. Nesse mesmo ano, assume a vice-presidência da Associação Promotora de Melhoramentos de Natal, a qual tinha à frente Juvino Barreto, cunhado de Pedro Velho. Em 1908, assume o cargo de deputado do Congresso estadual do Rio Grande do Norte e, nesse mesmo ano, torna-se o primeiro presidente da Companhia Ferro-Carril do Natal, responsável pela implantação dos bondes na cidade, contando também com financiamento do Governo do Estado. Em 1909, é eleito presidente da Associação Comercial do Rio Grande do Norte.

A Galvão & C., chefiada por esse coronel, será uma das firmas de maior prestígio na capital potiguar. Em 1905 e nos anos seguintes, vemos que a firma funciona como banco, no Estado do Rio Grande do Norte, d’A Equitativa (A REPUBLICA, Natal, 02 jan. 1905.), sociedade de seguros mútuos sobre a vida reconhecida em todo o país. Manoel Dantas, que também fazia parte de outra sociedade da mesma espécie, a Previdente Natalense, na qual era o representante d’A Equitativa no estado. A firma de Romualdo Galvão era, ainda, dona da Loja Novo Mundo, que vendia fazendas e outros artigos do dia a dia (Id., Natal, 24 abr. 1905.). Neste mesmo ano de 1905, a Galvão & C. irá incorporar todo o ativo e passivo da Fontes & C.(Id., Natal, 01 abr. 1905.) (que pertencia, então a Antonio M. Fontes), em mais um processo de “fusão” envolvendo uma firma ligada a um personagem da Intendência.

Romualdo Galvão.

JOSÉ LAGRECA: Eleito para o décimo primeiro Conselho em 1922, torna-se presidente da instituição pelo voto dos seus pares, certamente favorecido pela alta posição que à época possuía na sociedade natalense. Exercia, simultaneamente, o importante cargo de diretor -presidente do Banco de Natal, tendo em vista que o exercício da presidência da Intendência de Natal era gratuita. O comerciante e coronel José Lagreca, outro homem bem-sucedido nos negócios. Mas resolve renunciar à presidência do Conselho e ao cargo de intendente ainda no final daquele ano, alegando que não dispunha “ de tempo, por accumulo de outros affazeres, para exercer, como desejava e lhe cumpria, o honroso mandato” que lhe fora confiado. Renunciou alegando falta de tempo para cumprir as funções de presidente da Intendência de Natal, que tinham de conviver com as atividades do homem de negócios e dirigente do Banco do estado.

QUINCAS MOURA: E o coronel Quincas Moura também tinha os seus investimentos guardados em outro lugar, que não a Fazenda Santo Estevam. Em 1906, será um dos nomes a fundar o Banco do Natal, primeira instituição de crédito formada no Estado, sendo logo eleito para compor o Conselho Fiscal da dita instituição (permaneceu nesse conselho ao menos até 1921. Ver A REPUBLICA, Natal, 21 mar. 1921.). O coronel Moura terá, representando a si e a seus cinco filhos, seis ações do banco (Id., Natal, 18 jan. 1906; 16 fev. 1906. Cada ação valia 200$000 (A REPUBLICA, Natal, 27 nov. 1905). O coronel Joaquim Manoel permanecerá no Conselho fiscal ao menos até 1911 (A REPUBLICA, Natal, 17 fev. 1911).). Um outro grande investimento que realizou foi no nascente bairro de Cidade Nova com aquisição de terrenos e construção civil.

Joaquim Manoel Teixeira de Moura

CALAZANS PINHEIRO: ex-intendente Padre José de Calazans Pinheiro – outro proprietário de terrenos e prédios na cidade, e também acionista do Banco do Natal –, pertencia a loja maçônica 21 de Março.

THEODOSIO PAIVA: Major Theodosio Paiva (1858-1926) foi presidente da Intendência entre os anos de 1917 e 1922, chefiando, pois, dois Conselhos consecutivos. De início, uma advertência: não confundir este com Theodosio Ribeiro Paiva. A semelhança nos nomes, associada ao fato de ambos terem trabalhado no Tesouro do Estado, aquele como administrador de obras públicas, este como 1º escriturário da Alfândega, diretor do almoxarifado geral do Estado, administrador da mesa de rendas federais de Areia Branca; e de terem também pertencido à Guarda Nacional (Theodosio Ribeiro, chamemos assim, era capitão da dita corporação), fizeram-nos crer que os dois se tratavam de um só. O engano foi se desfazendo na medida em que encontramos matérias e notas de jornal que apresentavam os dois nomes juntos, caso do texto que contém a lista dos acionistas do Banco do Natal, e da matéria que narra a missa de trigésimo dia de Manuel Dantas, na qual os dois se fizeram presentes (A REPUBLICA, Natal, 06 fev. 1906; 07 fev. 1906; 15 jul. 1924).

É ainda o major Theodosio mais um dos personagens a fazer parte da fundação do Banco do Natal. Possuía desse banco cinco ações, num valor total de um conto de réis. Não chegou, porém, a ocupar cargo de direção na instituição, como os coronéis Joaquim Manoel, Romualdo Galvão, Olympio Tavares e José Lagreca (os dois últimos presidentes).

É ainda o major Theodosio mais um dos personagens a fazer parte da fundação do Banco do Natal.

FRANCISCO CASCUDO: As atividades comerciais de Francisco Cascudo e a sua influência política na cidade consolidaram a elevada posição econômica de sua família. Nos jornais locais daquela época encontramos referências a ele como representante comercial na cidade de variados produtos, fornecendo mercadorias ao Estado, participando de eventos oficiais do governo do Rio Grande do Norte e hospedando representantes políticos, comerciantes e escritores de todo o país na Vila Cascudo. Some-se a isso o fato de seu nome constar entre os acionistas do Banco do Natal, entidade que promovia a economia agroexportadora e pagava o funcionalismo público locais.

De acordo com Thadeu Villar de Lemos, biógrafo do pai de Cascudinho, Francisco Cascudo foi ainda deputado estadual, presidente da Associação Comercial de Natal e da Junta Comercial do Rio Grande do Norte, de modo que “em todos os problemas políticos e sociais de Natal, a opinião do Coronel Cascudo era indispensável”.

Francisco Cascudo

JORGE BARRETO: Jorge Barreto de Albuquerque Maranhão foi presidente da Junta Comercial do RN e do Banco do Natal. Ele é comumente confundido como sendo irmão ou filho de Alberto Maranhão, quando, na verdade, era sobrinho. O comerciante Jorge Barreto era filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão Filho e de Louise Antoinette de Craine (TAVARES, 2009). Ele é ex-proprietário do palacete da Viúva Machado” o espaço adquirido em 1920 por Manoel Machado.

EZEQUIEL WANDERLEY: Ezequiel Wanderley (1871-1933) ocupou cargos de administrador de Mesa de Renda, na Tesouraria do Estado, foi procurador fiscal, diretor do Banco de Natal e presidente do ilustre Natal Clube. Ainda atuou como colaborador assíduo do jornal oficial do partido de Pedro Velho, A Republica.

FONTES PRIMÁRIAS:

ANDRADE, Júlio César de. Comerciantes e Firmas da Ribeira (1924-1989). Natal: Fundação José Augusto, 1989.

BANCO do Natal – Relatório da diretoria. Natal: Tipografia d’A República: Tipografia Comercial J. Pinto & C., 1909-1920.

CARDOSO, Rejane (Coord.). Quatrocentos nomes de Natal. Natal: Prefeitura Municipal do Natal, 2000.

COSTA, Homero de Oliveira. A insurreição comunista de 1935: Natal, o primeiro ato da tragédia. Natal: Ensaio; Cooperativa Cultural universitária, 1995.

“Em cada esquina um poeta, em cada rua um jornal”: a vida intelectual natalense (1889-1930) / Maiara Juliana Gonçalves da Silva. – Natal, RN, 2014.

FRANÇA, Aderbal. Novo aspecto. A República, Natal, p. 12, 17 jan. 1939a.

INAUGURA-SE hoje o novo edifício do Banco do Rio Grande do Norte. A República, Natal, p. 12, 14 jan. 1939.

LEMOS, Thadeu Villar de. O coronel Cascudo. p. 8.

MIRANDA, João Maurício Fernandes de. 380 anos de história foto – gráfica da cidade de Natal 1599 – 1979. Natal, UFRN. ed. Universitária, 1981.

MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à História do Rio Grande do Norte. Natal: EDUFRN, 2000.

NESI, Jeanne Fonseca Leite. Natal Monumental. Natal: Fundação José Augusto,1994.

SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte (1889-1930). Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1989.

TAVARES, Anderson. Jorge Barreto de Albuquerque Maranhão. BLOG: História e Genealogia. Disponível em: http://www.historiaegenealogia.com/2009/10/jorgebarreto-de-albuquerque-maranhao.html. Acesso em: 25/05/2011.

BIBLIOGRAFIA:

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Luís Natal ou Câmara Cascudo Luís Natal ou Câmara Cascudo ou Câmara Cascudo: o autor da cidade e o espaço como autoria e o espaço como autoria. Francisco Firmino Sales Neto. Natal/RN. 2009.

Natal: história, cultura e turismo / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal: DIPE – SEMURB, 2008.

Natal, outra cidade! [recurso eletrônico] : o papel da Intendência Municipal no desenvolvimento de uma nova ordem urbana na cidade de Natal (1904-1929) / Renato Marinho Brandão Santos. – Natal, RN : EDUFRN, 2018.

Natal Não-Há-Tal: Aspectos da História da Cidade do Natal/ Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo; organização de João. Gothardo Dantas Emerenciano. _ Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2007.

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