Café, Bar e Bilhar Cova da Onça
O Café, Bar e Bilhar Cova da Onça foi inaugurado no dia 1° de novembro de 1916, na Travessa Venezuela, por iniciativa de Anaximandro de Souza, com o objetivo de oferecer aos clientes o jogo de bilhar e comercializar artigos de mercearia e café. Em 1931, a casa comercial situada à Avenida Tavares de Lira, 40, e travessa Venezuela, 39 e 41, pertencia aos irmãos Leonel Leite e Diomedes Leite, contratantes de uma sociedade cuja razão social era denominada Leite & Irmão, tendo por finalidade[…] o negócio de exploração de café, bebidas nacionais e estrangeiras e outros negócios que lhe convenham no seu estabelecimento denominado ‘COVA DA ONÇA’ ( RIO GRANDE DO NORTE (Estado). Junta Comercial. Contrato de registro de sociedade e firma assinados por Leonel Leite e Diomedes Leite. Natal, 1931, s/p.).
Em 1935, a sociedade entre os irmãos Diomedes Leite e Leonel Leite foi encerrada. O negócio passou, então, a ser administrado apenas por Leonel Leite.
O Café, Bar e Bilhar Cova da Onça teve importância nos anos de 1930 como um espaço de reuniões políticas. O bar era um recinto em que se reuniam os membros do Partido Popular, onde os partidários discutiam política, redigiam minutas de telegramas, confabulavam e traçavam estratégias para as próximas eleições.
O estabelecimento foi palco de conflitos sangrentos, a exemplo do ocorrido no dia 29 de outubro de 1935: o Partido Popular fazia oposição à administração de Mário Câmara, que governava o estado do Rio Grande do Norte; o interventor tinha o apoio de João Café Filho, esse, à frente da Guarda Civil desde 1932, ano de sua criação; o tumulto consistiu em um tiroteio envolvendo a Guarda Civil e os políticos e partidários do Partido Popular, em decorrência do embarque de Mário Câmara, que deixara a Interventoria do estado para que o governador eleito pela Assembleia Constituinte Estadual de 1934, Rafael Fernandes Gurjão, do Partido Popular, assumisse a administração do Rio Grande do Norte ( Cf. PINTO, 1971, p. 31-33.).
O conflito, político e sangrento, não foi um fato isolado. Outros embates motivados por política ocorreram no bairro da Ribeira. Um desses ocorreu no contexto da Revolução de 1930, quando a Aliança Liberal realizou comícios em várias capitais do Brasil, resultando em muitos tumultos nas ruas. Na cidade de Natal, o comício realizou-se em fevereiro de 1930, em frente à Estação Ferroviária, no bairro da Ribeira, terminando em tiroteios e mortes ( Cf. MONTEIRO, 2000, p. 190.).
Das sete às dezoito horas, os bares da cidade de Natal ofereciam café, queijos, sucos e lanches. Os fregueses dirigiam-se aos estabelecimentos para conversar a respeito de assuntos comerciais, temas políticos e os últimos fatos ocorridos no mundo e na cidade de Natal. A assiduidade era de indivíduos da elite, homens e mulheres, acompanhadas de seus pais e esposos, dispostos a fazerem um lanche e vivenciarem momentos de descontração ou tratarem com amigos algum assunto de interesse particular. À noite, os cafés tornavam-se espaços
boêmios.
Os cafés mencionados até o presente momento, a exemplo do Café Chile e o Café Cova da Onça, eram lugares requintados, que exigiam um comportamento contido, sem exageros na bebida. Segundo Guimarães, em 1926, o Café Cova da Onça e o Bar Antártica recebiam, no período diurno, o Governador do estado do Rio Grande do Norte, José Augusto, o Diretor do Departamento de Segurança Pública, Adauto Câmara, o Desembargador Felipe Guerra e o Coronel Francisco Cascudo, rico comerciante e dono de sortido armazém no bairro da Ribeira. Mas, à noite, os cafés transformavam-se em espaços destinados às tertúlias literárias.
Os frequentadores dos cafés (Chile, Cova da Onça) e do Bar Antártica eram membros da elite natalense que adotavam um comportamento contido, sem exageros na bebida. Os habitués se reuniam nesses estabelecimentos priorizando mais a conversa do que o consumo de bebidas. O cronista afirma que os fregueses desses bares e cafés não eram farristas, e sim buscavam tais lugares a fim de participarem de reuniões literárias. Notamos a preocupação do cronista em descrever a boemia natalense dentro dos padrões da ordem, excluindo de sua literatura os possíveis conflitos que existiam nos ambientes dos cafés e bares da cidade.
Durante anos a fio, durante décadas, acompanhando a vida cotidiana dos cafés e a vida noturna e agitada de alegria e de vibração de Natal daquela época, ardente de orgias esplêndidas, que de orgia só possuía o nome – porque eram mais serões literários do que ―farras‖ – jamais vi uma briga, ou um desentendimento mais sério ( GUIMARÃES, 1999, p. 147.).
Segundo Guimarães, os frequentadores dos cafés (Chile, Cova da Onça) e do Bar Antártica eram membros da elite natalense que adotavam um comportamento contido, sem exageros na bebida. Os habitués se reuniam nesses estabelecimentos priorizando mais a conversa do que o consumo de bebidas. O cronista afirma que os fregueses desses bares e cafés não eram farristas, e sim buscavam tais lugares a fim de participarem de reuniões literárias. Notamos a preocupação do cronista em descrever a boemia natalense dentro dos padrões da ordem, excluindo de sua literatura os possíveis conflitos que existiam nos ambientes dos cafés e bares da cidade. ―Conversava-se, comentava-se, declamava-se, contava-se histórias, anedotas, davam-se adivinhações, bebia-se, comia-se tudo dentro de um ambiente festivo de amizade e de confiança ( GUIMARÃES, 1999, p. 147.). Nos textos memorialistas, as desordens ocorriam nos subúrbios, onde a presença de boêmios, populares e vadios era constante.
Cantos de bar: sociabilidades e boemia na cidade de Natal (1946-1960) /Viltany Oliveira Freitas. – 2013.
PINTO, Lauro. Natal que eu vi. Natal: Imprensa Universitária, 1971.
MONTEIRO, Denise Mattos. Introdução à História do Rio Grande do Norte. Natal: EDUFRN, 2000.
GUIMARÃES, João Amorim. Natal do meu tempo: crônica da cidade do Natal. Natal: Departamento de Imprensa, 1952 (Organização, introdução e notas de Humberto Hermenegildo de Araújo, 1999).