Natal, a cidade lagoa

Encravada em meio a um grande rio ao Norte, à imensidão do mar no lado Leste e cercada por um imenso cordão de dunas cobertas de vegetação, que a circundam ao Sul e a Oeste, encontra-se Natal, a Cidade dos Reis. Lugar onde se construiu uma das mais sólidas edificações coloniais brasileiras, a fortaleza dos Reis Magos, erguida, significativamente, sobre as águas do Potengi, dentro das águas do Atlântico, rodeada, durante a maré baixa, pelas alvas dunas de areia e margeada por densa vegetação de mangue.

Natal é uma pequena porção de terra de 170,298 km2 de extensão cercada por águas de várias salinidades em quase todos os seus lados. A leste, o Oceano Atlântico. Nos outros pontos, a intervalos irregulares e dividindo sua posse com Parnamirim, Macaíba e São Gonçalo do Amarante, lagoas, riachos, córregos, açudes e poças de lama produzidas tanto pela natureza como por uma ocupação humana não saneada.

Holandeses assim descreveram os lagos existentes em sua época de ocupação:

Possui considerável abundância d’água potável da melhor qualidade, notando-se uma lagoa ou poço na Carnaubinha, uma fonte d’água cristalina e dois fortes riachos perenes em Guarapes, além do caudaloso rio Pitimbu, que corre a menos de uma légua distante; o Cajupiranga não menos caudaloso, poucas braças mais longe, e entre ambos a formosíssima lagoa Parnamirim.

O relevo é caracterizado por dunas fixas e móveis de areia branca nua ou forrada pela mata atlântica, cada vez mais escassa quanto menos virgem. O mar é verde-opaco: correntes marinhas, areia revolta e plâncton turvam a sua limpidez. A luz é fulgurante, demasiada, e anuncia o sol quase desde as quatro horas da manhã, sumindo com ele pouco depois das dezoito horas.

Uma outra formação natural que favorecia o surgimento de conflitos eram as lagoas que circundavam a cidade. As lagoas, ou os acúmulos d’água, devem a sua existência em nosso meio natural à formação geológica dos terrenos onde está construída a Cidade do Natal. Segundo o geólogo Olavo Santos Júnior,

Toda a região é constituída por material de origem sedimentar de idade cenozóica e consistem na Formação Barreiras, Formação Potengi, Arenitos de Praia, Paleodunas ou Dunas Fixas, Dunas Recentes ou Móveis, Sedimentos Aluvionares e de Mangue e Sedimentos Praiais. Os sedimentos da Formação Barreiras consistem de camadas arenosas a conglomeráticas intercaladas com camadas areno-argilosas, depositadas em ambiente fluvial. A Formação Potengi é constituída por sedimentos de cor avermelhada predominantemente arenosa. Ocupa uma boa parte da superfície da região urbana de Natal. Esses sedimentos estão sobrepostos aos da Formação Barreiras (SANTOS JUNIOR, Olavo. Op. Cit.).

É devido a essa situação geológica que podemos constatar o afloramento de acúmulos d’agua, ou simplesmente a formação de lagoas, ao longo de todo o território da cidade. As inúmeras lagoas que afloravam à superfície do solo natalense não foram poupadas de avaliações negativas feitas por muitos profissionais médicos, avaliações essas que, em diversos momentos, elegiam as lagoas como sendo grandes vilãs da saúde pública e da higiene na cidade.

As lagoas em Natal, no início do século XX, tiveram vários usos, dentre os quais: o banho de crianças, de jovens e de pessoas comuns, o banho de animais de trabalho, a lavagem de roupa, a coleta da água para consumo doméstico e até a pesca do peixe miúdo. Essas lagoas foram, e ainda são, um misto de dádiva e castigo, lugar onde a população, especialmente a população pobre, se divertia, se higienizava, de onde tirava o “precioso líquido” para todos os usos; mas também era o lugar traiçoeiro onde alguns morriam por afogamento ao se aventurar no nado; um lugar propício a ser um criatório de mosquitos transmissores da malária ou da febre amarela, bem como um criatório de diversos tipos de verminoses.

A cidade de Natal teve o mar como uma espécie de berço. O fato que já constatamos de a cidade ser circundada por um vasto cordão de dunas, o que provocava, segundo alguns intelectuais natalenses do início do século XX, uma espécie de isolamento da cidade em relação ao resto do mundo, fez do mar de Natal a via de contato do mundo exterior com a pacata capital potiguar, especialmente quando se tornaram mais corriqueiras as viagens marítimas nos paquetes ou nos transatlânticos a vapor. Dessas viagens, os natalenses mais abastados traziam, além de bagagens, muitas novidades e muitas ideias que ao chegar à cidade promoviam inúmeras mudanças.

Nesse contexto, foi elaborado o já citado Plano Geral de Sistematização por meio da Resolução no. 304, de 22 de abril de 1929, de autoria do arquiteto Giacomo Palumbo, pensado para uma cidade com aproximadamente 100 mil habitantes (DANTAS, 1929c, p.01). Previa-se também: o aproveitamento dos monumentos históricos e belezas naturais da cidade; e a transformação de lagoas em piscinas públicas, como a de Manoel Felipe e a Lagoa Seca. Em todas as intervenções seria empregado o “estilo moderno” (DANTAS, 1998).

Em meados da década de 1940, Natal teve uma participação na Segunda Guerra Mundial, sediava uma base área norte-americana, que dava apoio às operações bélicas pelo Oceano Atlântico e também pelo norte da África. Isso resultou na expansão da cidade e no crescimento populacional. A atuação do Estado implementou alguns serviços urbanos que eram desprovidos que ficou sendo extremamente necessários no período. A partir dessa ocasião, a cidade começou a crescer cada vez mais e intensificou a concentração urbana em determinadas áreas da cidade de Natal.

Desse momento em diante, a cidade passou a ter um intenso crescimento populacional. Com isso, fez surgir novos bairros: Lagoa Nova, Nova Descoberta, Cidade da Esperança entre outros (CASCUDO, 1968).

A construção de uma natureza tipicamente natalense, forjando uma paisagem que somente pode ser encontrada em Natal, foi, com o passar do tempo, se concretizando em pedra e cal, mas também, e especialmente, em árvores, em dunas, em lagoas, em mares, em rios, em parques, em jardins.

MORROS DE AREIA

A imagem da natureza ameaçadora aparece inicialmente em editorial escrito no jornal “A Republica”, de 31 de março 1901, intitulado “Perigo Iminente”. No texto, defende-se a idéia de que os “morros de areia” que cercam a cidade, em especial aqueles que se encontram na região denominada de Areia Preta, “ameaçam parte desta capital” (Perigo Iminente. A República, 31 de março de 1901).

Naquele momento, em 1901, o que o editorial do jornal apontava como sendo o grande potenciador desse perigo era, exatamente, o uso que a população fazia das dunas. Ao afirmar que “o morro de Areia Preta está começando a desmoronar-se para o lado da cidade”, o jornalista assinala, a gravidade do problema. decidiu fixar as areias das dunas daquela região, uma providência que já havia sido reclamada anteriormente pela imprensa, como vimos acima. Com essa medida, o chamado “perigo iminente” se acabava, permitindo com isso a ocupação e o desenvolvimento do novo bairro de Natal, a Cidade Nova, que, a partir de então, estava livre do perigo de ser soterrado pelas areias das dunas.

Em dezembro de 1902, preocupada com a devastação dos morros, a imprensa denunciava que “vários individuos estavam barbaramente devastando os morros do Morcêgo e Areia Preta, abrindo roçados e queimando o matto” (Devastação dos morros. A República, 22 de dezembro de 1902.). Para evitar tamanha devastação, a Intendência Municipal mandou guardas e fiscais para prenderem os infratores, chegando a aprisionar um dos indivíduos encontrado em flagrante delito. Segundo o jornal “A República” tal ato era considerado uma infração escrita no código de posturas de Natal.

Em outubro do mesmo ano, o governador Alberto Maranhão, na companhia do presidente da Intendência municipal, Joaquim Manuel Teixeira de Moura, e do chefe interino da Comissão de Melhoramento do Porto, em visita à praia de Areia Preta,

Segundo o geólogo Patrick Hesp, dunas são formações arenosas vegetalizadas, ou não, formadas nos setores mais próximos do mar das faixas de pós-praia. Elas podem ser formadas em uma diversidade de ambientes litorâneos: na faixa de praia em mar aberto, baías semifechadas, estuários, lagos e lagoas e existem em praticamente todos os tipos de clima, desde as áreas tropicais a áreas de clima frio. Tais formações geológicas são denominadas por uma grande variedade de termos, tais como: dunas frontais, dunas embrionárias, cristas de retenção, cristas de praia, cordões de dunas paralelas ou dunas transversais, em Natal, convencionou-se, popularmente, chamar as formações dunares de “morros”. As dunas, geralmente, tomam formas de cristas convexas vegetalizadas, alinhadas paralelamente à faixa de praia, separadas entre elas por depressões côncavas (HESP, Patrick. A gênese de cristas de praias e dunas frontais. p. 119).

A citada palestra de Manoel Dantas, cujo título era “Natal daqui a cinquenta anos”, foi proferida no salão nobre do palácio do governo no dia 25 de março de 1909 e tratava-se de um pequeno ensaio ficcionista, em que o autor procurava retratar a Cidade do Natal no ano de 1959. Dantas imaginava uma cidade totalmente modificada representado-a, em seu texto, com uma natureza radicalmente vencida pela técnica, ou seja, a Natal da palestra de Dantas era uma cidade que havia sofrido uma forte ação humana sobre a natureza. Os morros de areia foi um tema recorrente na imprensa da cidade desde os primeiros anos do século XX.

Natal antiga – Centro – Em primeiro plano, a Praça Pe. João Maria. Em segundo plano os “Morros de Areia”
Plantação de vegetação para fixar as dunas no entorno da Cidade de Natal durante a Segunda Guerra Mundial Revista Life Hart Preston. Fonte: Google/Life

BALDO

Um outro espaço natural da cidade, que trouxe muita preocupação para as autoridades públicas foi o balneário do Baldo. O Baldo era uma lagoa natural que, com o tempo, tornou-se a represa d’água de consumo da cidade, para tal foi feita a construção de paredes no ano de 1877 que tinham por finalidade reter e acumular a água potável para posterior distribuição entre a população urbana. No início do século XX, Natal já contava com uma incipiente rede de distribuição de água e com uma empresa para prestação desse serviço, cuja represa para captação d’água era na localidade chamada “Oitizeiro”, lugar situado próximo ao Baldo, entre o “balneário” e o rio Potengi, um terreno alagadiço margeado por uma densa mata.

Terrenos de propriedade da ETFL, no Baldo. Fonte: Cicco, 1920.

Com o surgimento dessa outra represa para o acúmulo da água de consumo doméstico, a represa do Baldo passou a se tornar um concorrido espaço de encontros e de diversão, especialmente para os boêmios que iam para lá fazer serenatas e saraus poéticos. O lugar também era frequentado pelo povo pobre em geral que fazia daquele aprazível recanto da cidade o único balneário público existente em Natal, numa época em que o banho de mar era novidade e uma prática de poucos.

Em carta escrita pelo médico Antonio China, profissional da Inspetoria de Higiene do Estado, e publicada em primeira página no jornal “A República”, comunicou-se que, atendendo pedido à Inspetoria de Higiene do Município, ficava decidido “o arrasamento do ‘Baldo’”. O apelo para o arrasamento do balneário do Baldo, como se percebe, foi motivado por questões de saúde, no entanto o primeiro motivo alegado pelo médico Antonio China era, inegavelmente, o inconveniente moral que havia se tornado aquele espaço, até porque, como disse ele, o Baldo era a entrada principal da cidade, uma espécie de cartão de boas vindas aos visitantes, e que por isso não poderia se tornar um centro de imoralidades.

Nessa mesma carta, China afirmava ter pedido à Inspetoria Municipal de Higiene “a conservação das mattas e o asseio dos terrenos em que estas se acham, ao lado sul da fonte” (Questões de higiene. A República, 15 de junho de 1901). Terminava por reclamar de não ter ciência ainda das ações do governo municipal no sentido da conservação e de asseio daquele espaço, já que era perceptível a destruição das matas e o depósito de lixo na área.

O projeto de saneamento do Baldo em 1905 constou da diminuição do lago que se formava devido a recepção das águas vindas das lagoas de Manoel Felipe e Seca, da retirada da lama depositada no fundo do lago e consequente assepsia realizada com areia trazida das dunas, construção de paredões para represar as águas de forma que estas ficassem contidas em uma área menor que a existente anteriormente, construção de banheiros e de lugar para troca de roupa, e por fim uma casinhola para a guarda do espaço.

O balneário do Baldo continuou servindo à população como antes, sendo que com a reforma, com o lago menor e as proibições impostas para o banho e a lavagem de roupas, a sua importância foi pouco a pouco diminuindo, tendo ainda dois outros melhoramentos que provocaram, mais e mais, o desprestígio do famoso balneário do Baldo: a ampliação da rede de distribuição de água encanada e a construção de um balneário na praia da Ponta do Morcego, contratados pelo governador Alberto Maranhão junto à empresa Valle Miranda & Domingos Barros em 1910. A maioria dessas obras teve um maior impulso a partir do segundo governo de Alberto Maranhão, entre 1908 e 1913.

Na imagem acima, percebe-se a prática da lavagem de roupa, um dos usos que a população natalense fazia do Baldo, bem como de que a área era circundada por densa vegetação da forma que dizia Antonio China. Fonte: Como se Hygienizaria Natal.
Foto de João Galvão de 1930 mostrando a curva do Baldo, início da avenida Rio Branco, subida para a Cidade Alta para os que vinham do Alecrim. Fonte: Lyra, 2001, p.31.

Indo por outro caminho que não aquele traçado pelo discurso médico, o historiador Câmara Cascudo provocava uma discussão saudosista, buscando nos relatos de memória, e nas próprias lembranças, reconstituir o panorama natural da cidade. Cascudo criticava uma reforma no Baldo feita em 1896 e dirigida pelo médico Segundo Wanderley, então presidente interino da Inspetoria da Saúde Pública, que havia apresentado um plano de saneamento para a cidade, no qual constava o arrasamento da represa.

Para ele, o balneário do Baldo era de grande utilidade pública e que digno de melhor sorte, se prestaria a todo o uso e emprego que a população quisesse lhe dar. Nesse sentido, para Cascudo o extermínio do balneário do Baldo era um erro, pois, com isso, a cidade deixaria de possuir um lugar aprazível.

A partir do que vimos, podemos afirmar que a região do Baldo foi, desde o começo do século XX, um espaço de conflito dentro da cidade, um lugar onde os interesses de higiene e salubridade, como defendiam médicos e parte da elite, deveriam ser levados em conta; ao mesmo tempo, um lugar de uso coletivo, onde os pobres de Natal encontravam a água para consumo doméstico, o banho e o lazer; e também o “lago aprazível”, em que poetas e seresteiros iam, às noites de luar ou nos dias ensolarados, gozar e cantar as belezas do lugar.

A região do Baldo, espaço espremido entre a Cidade Alta e o Alecrim, um antigo balneário da cidade, foi descrito por Januário Cicco como um dos lugares mais insalubres da capital potiguar, no entanto, diferentemente dos higienistas anteriores, ele não propôs o seu total arrasamento, mas sim:

Um pequeno trabalho de hidrographia sanitaria, estabelecendo uma galeria subterranea com a capacidade necessaria para conduzir essa agua aos terrenos do Oitizeiro e evitando a sua infiltração pelos mananciais visinhos, teria ainda o interesse de aterrar o Baldo, correndo as aguas pelo dreno subterrâneo, acabando deste modo fonte de tantas moléstias (CICCO, Januário. Op. Cit. p. 32.).

Mais adiante, Januário Cicco faz um breve relato sobre o mangue do rio Potengi, que se desenvolve ao término do córrego do Baldo, e, estabelecendo idêntico diagnóstico ao que é feito em relação às lagoas, propõe o mesmo receituário para o mangue, pois segundo ele “a mistura de agua doce à salgada do mangal que margina toda aquella parte da cidade presta-se admiravelmente à procriação de larvas de anophelinas, e d’ahi a indicação para se beneficiar aquella zona paludosa” (CICCO, Januário. Op. Cit. p. 32.).

A fonte pública do Baldo… e os animais dividindo o consumo com os homens Fonte: Cicco, 1920.

Em Natal, no início do século XX, as ideias médicas e as proposições dos profissionais da saúde pública se amalgamavam nesse contexto profuso de concepções no qual vivia a medicina, estabelecendo uma relação contrastante entre o pensamento científico e a materialização desse pensamento, com o intuito único de transformar a cidade num espaço permeado pela salubridade, em outras palavras, transformar Natal num lugar bom para se viver (Ver: VIANA, Helder do N. Op. Cit.).

O Baldo – na zona intermediária entre a Cidade Alta e o Alecrim – permanecia, na avaliação de Cicco, como um foco de doenças do aparelho gastro-intestinal, onde proliferavam mosquitos transmissores da malária. Apesar de ser uma das fontes principais da cidade, as formas tradicionais de uso do espaço público a condenavam: “Nessa lagôa dão de beber ao gado leiteiro, banha-se gente do povo, lava-se roupa e se refrescam os animaes de serviço”.

Após uma análise minuciosa de cada bairro, discutindo as especificidades endêmicas, as condições nosográficas e os problemas que eram gerais à cidade, Cicco proporia uma série de medidas em prol da sua salubridade. A circulação das águas, dos fluidos, era tomado como imperativo, seguindo a tradição higienista que continuou na engenharia sanitária, (Cf. Andrade, 1992.) partindo daí a condenação das lagoas e fontes como “perigosas a vida collectiva”, (Cicco, 1920, p.11.) mesmo na Cidade Nova (Petrópolis e Tirol), o bairro que avaliava como o mais salubre e aprazível da capital. Contudo, a solução definitiva para o problema da saúde das cidades, de qualquer cidade com mais de dois mil habitantes, e não apenas de Natal, estava na construção de uma rede de esgotos eficiente e na educação (higiênica, moral, profissional) do povo.

Nesse sentido, apresentaria as discussões estabelecidas pela equipe técnica em relação as duas novas fontes consideradas mais viáveis: as lagoas do Jiqui e do Pitimbu. Optaria pela primeira não só pela melhor qualidade e maior quantidade de água (1.413.505 m3 , ou mais de 50 vezes o volume necessário para comportar a previsão de crescimento demográfico) ou pela sua distância dos centros habitacionais e da linha férrea (considerados elementos poluidores), mas principalmente pela maior eficiência e economia que a construção da adutora que levaria a água da lagoa ao reservatório central na Cidade Alta permitiria: de baixa pressão, era possível utilizar materiais mais econômicos em vários trechos da adutora (Cf. CSN, 1924, p.03-09.).

O reservatório de água da cidade era localizado, como vimos, no Baldo, um misto de balneário público, lugar de diversão e reservatório de água potável. Posteriormente, o reservatório passou a ser no lugar chamado “Oitizeiro” à jusante do balneário do Baldo. Tais reservatórios eram alimentados pelas águas do riacho do Baldo, antigo “rio de beber água”, tendo o dito riacho duas fontes alimentadoras que eram a sua nascente no bairro do Alecrim, a oeste e a Lagoa de Manoel Filipe no bairro de Tirol.

O balneário do Baldo e o sítio do Oitizeiro eram localizados em uma depressão topográfica, que era o ponto de demarcação do limite noroeste da cidade. Como era hábito à época os cemitérios, os matadouros públicos e os depósitos de lixo eram construídos fora dos limites da cidade. No caso de Natal, esses equipamentos urbanos foram construídos nas proximidades do Baldo. É de se imaginar que a água consumida na cidade tinha, no mínimo, uma qualidade duvidosa.

Foto do Oitizeiro, onde localizava-se o terreno da Empresa Tracção Força e Luz; atualmente Avenida do
Contorno, a Avenida do Saneamento projetada e executada pelo Escritório Saturnino de Brito a partir da ideia original contida no plano de saneamento e extensão de Henrique de Novaes. Fonte: Lyra, 2001, p.53.

CAMPINA DA RIBEIRA

Depois da “ladeira” (muito tempo após, rua da Cruz) a Campina guardava, perene e seguro, o grande pântano alimentado pelas marés. Havia uma pontezinha. Era um quadrado imenso, desolado, silencioso.

Corria de sul a leste, o canavial cerrado; após, com bruscos trechos de areia lodosa, o coqueiral, espanando palmas até as encostas de Areal e Rocas. Cercadas, pelas dunas e pelos coqueiros, cinqüenta ou cem casas tímidas e espaçadas anunciavam a cidade. Gameleiras, tatajubeiras, mungubeiras davam o lugar das prosas. Era a Ribeira, pequena, triste, atufada em brejos, circundada de lagoas, de atoleiros, de pântanos. Era o alvo das rajadas do cólera e bexigas. Lugar enfim onde moravam a pobreza, a indigência e a miséria – gritava, em 1850, João Carlos Wanderley no relatório à Assembleia.

O Potengi invadia, lambendo as pedras das calçadas, as ruas enfileiradas. Vez por outra, terrenos alagados cediam e as construções vinham abaixo. Em 1869, é que o Dr. Pedro de Barros Cavalcanti de Albuquerque mandou fazer um anteparo. Dez anos depois, o Dr. Rodrigo Lobato Marcondes Machado informava sobre o serviço do cais – importante melhoramento empreendido no intuito de repelir as marés que ameaçam avassalar os terrenos e as casas…

Com Manuel Ribeiro da Silva Lisboa a cidade do Natal não tinha aspecto pomposo. As ruas em miserável estado, sem calçamento e entulhadas de areia; sem água, sem iluminação, sem cadeia e sem nada, declarava Parrudo. Novas ruas iam aparecendo no Bairro Alto – Cidade – como era chamado. O primeiro médico, Dr. José Bento Pereira da Costa, é de 1842.

O mapa de Natal de 1864, presente no “Atlas do Império do Brasil”, é o primeiro registro gráfico conhecido em que a cidade deixa de ser indicada apenas como um apenso esquemático aos elementos importantes aos interesses da navegação e defesa territorial da costa brasileira. Além da trama urbana e da massa edilícia representadas, aparece, elemento dominante inconteste na representação bi-dimensional da cidade, a mefítica da lagoa na Campina da Ribeira. Dividindo os dois núcleos iniciais de ocupação da cidade – os bairros da Ribeira e da Cidade Alta –, tornava-lhe mais difícil a comunicação e a circulação, quando da cheia das marés ou com as chuvas, e aumentava o terror miasmático à putrefação, à exalação de vapores e, principalmente, à estagnação das águas e dos ares, tornando-se campo propício, dir-se-ia, para o desenvolvimento e irrupção das epidemias (Wanderley, 1851, p.13.).

Primeiro mapa conhecido de Natal (em que deixa de ser mero apenso gráfico à descrição da costa e da barra de entrada), elaborado em 1864 e presente no Atlas do Império do Brasil, de Candido Mendes de Almeida (1868). À esquerda a Cidade Alta (o vazio era a chamada Rua Grande, depois Praça André de Albuquerque) e à direita a Ribeira; a separar os dois bairros, a miasmática Campina da Ribeira. Fonte: Acervo Olavo de Medeiros Filho.
Hoje me deparei com essa foto de O Malho de 3 junho de 1905. Seria o Salgado da Campina da Ribeira, onde hoje está a Praça Augusto Severo? Os registros históricos nos dizem que, nesse ano, os retirantes da seca estavam trabalhando no aterro da área, mas a paisagem me parece tão diferente! Alguém identifica a paisagem?

Localizada no bairro da Ribeira, no Largo do Teatro Carlos Gomes, atual Teatro Alberto Maranhão, a antiga Praça da República era considerada um dos logradouros mais insalubres da cidade, especialmente em quadras invernosas, pois devido a sua situação topográfica, num nível abaixo da Cidade Alta, as águas das chuvas escoavam do bairro alto e se acumulavam na dita praça provocando o surgimento de lagoas nos seus arredores e, para completar, Existiam também os alagamentos constantes devido ao movimento da maré.

Um outro artigo do jornal “A República” retomou a discussão sobre a questão da insalubridade aliada ao problema da água estagnada, sob o título “é com o fiscal”, o articulista relatava sobre as chuvas ocorridas por aquela época em Natal, primeiros meses de 1902, e expunha que, devido a um bom inverno, formaram-se inúmeras lagoas nas ruas do bairro da Ribeira, acúmulos de água esses que estavam sendo um verdadeiro transtorno para a população do bairro e, por isso, era pedido alguma resolução por parte do poder público em torno do problema.

Procurando fazer uma defesa das reclamações feitas pela população, calcando-as em um conteúdo científico, o articulista escrevia: “como não ignora-se, as aguas empoçadas expostas ao sol por seis, oito ou mais dias, são uma excellente fábrica de microbios, e o cheiro que exhalam, é por demais insuportável” (É com o fiscal. A República, 26 de abril de 1902.). Ao término do artigo, é dito que o fiscal do segundo distrito, capitão Anacleto Ferreira, prestaria um relevante serviço à população daquele bairro se acabasse com “taes fócos de infecção”. Percebe-se, nesse texto, notadamente, a convicção do jornalista de que as águas estagnadas e o cheiro exalado dessas águas seriam verdadeiros focos de doenças. E mesmo utilizando a palavra “microbio”, a linha da defesa científica estava à luz da teoria dos miasmas.

No capítulo sobre a topografia de Natal e sua geografia médica, Januário Cicco (CICCO, Januário. Op. Cit. p. 15.) faz uma apresentação minuciosa sobre os bairros da cidade, as dificuldades sanitárias existentes bairro a bairro e propõe as resoluções para por fim a esses problemas. Dentre as questões mais problemáticas para a saúde pública em Natal, ele aponta: os alagamentos constantes na “Cidade Baixa”, ou seja, Ribeira e Rocas, as águas acumuladas nas lagoas, a região alagada do Baldo, a presença do cemitério no meio urbano, a contaminação do lençol freático, a presença do matadouro público muito próximo ao centro urbano e o destino do lixo.

Convencido da teoria microbiana, bem como de que esses microorganismos se desenvolvem e se propagam, preferencialmente, em ambientes úmidos e na água, Januário Cicco propôs à administração pública municipal uma gama de intervenções que, na opinião dele, resultaria numa cidade mais sadia e melhor de se viver. Ao tratar das condições de alagamento do bairro da Ribeira e das Rocas durante o inverno, ele propôs a construção de construir galerias pluviais e aterrar, com a areia das dunas que as circundavam, todas as lagoas existentes naquela localidade, nivelando assim o terreno e proporcionando maior conforto e salubridade para a população daquela parte da cidade. Sobre a localização e os efeitos nocivos promovidos pelas lagoas, ele propõe novamente o aterramento.

Vista do bairro das Rocas. Fonte: Cicco, 1920.

Um outro artigo do jornal “A República” retomou a discussão sobre a questão da insalubridade aliada ao problema da água estagnada, sob o título “é com o fiscal”, o articulista relatava sobre as chuvas ocorridas por aquela época em Natal, primeiros meses de 1902, e expunha que, devido a um bom inverno, formaram-se inúmeras lagoas nas ruas do bairro da Ribeira, acúmulos de água esses que estavam sendo um verdadeiro transtorno para a população do bairro e, por isso, era pedido alguma resolução por parte do poder público em torno do problema. Procurando fazer uma defesa das reclamações feitas pela população, calcando-as em um conteúdo científico, o articulista escrevia: “como não ignora-se, as aguas empoçadas expostas ao sol por seis, oito ou mais dias, são uma excellente fábrica de microbios, e o cheiro que exhalam, é por demais insuportável” (É com o fiscal. A República, 26 de abril de 1902.). Ao término do artigo, é dito que o fiscal do segundo distrito, capitão Anacleto Ferreira, prestaria um relevante serviço à população daquele bairro se acabasse com “taes fócos de infecção”.

Compreendido como um caso de falta de asseio e de limpeza pública, as lagoas e os acúmulos de água nos períodos de chuva eram constantemente alvos da fúria dos aterramentos. A idéia de que a água era o mais importante veículo de proliferação dos agentes patogênicos de diferentes tipos de enfermidades, alimentava essa necessidade de por fim às lagoas e aos alagadiços formados em épocas chuvosas. Os aterramentos eram, em geral, feitos pelos poderes públicos, a partir de indicações dos inspetores de higiene e de reclamações veiculadas pela imprensa e atribuídas à população.

No dia 26 de abril, foi noticiado que “continuam a cahir bôas chuvas nesta capital”. No mesmo dia, era veiculada uma reclamação atribuída aos moradores do bairro da Ribeira, afirmando o articulista que o jornal tinha “recebido diversas reclamações, no sentido da Intendencia mandar exgottar ou coisa que o valha, diversas lagoas que ficam em muitas ruas da Ribeira, após as chuvas” (É com o fiscal. A República, 26 de abril de 1902).

Entre os anos de 1904 e 1905, a Praça Augusto Severo sofreu uma reforma radical que tornaria o referido logradouro em um dos espaços mais agradáveis e saudáveis da cidade. A obra de saneamento e aformoseamento da praça foi confiada ao arquiteto Herculano Ramos, que planejou a construção de um espaço que fosse capaz de arejar o local, tornando o clima mais ameno e o ar mais salutar.

cartão-postal da década de 1910 cujo tema era a Praça Augusto Severo e o seu jardim público pitoresco, projetado e construído sob a direção do arquiteto Herculano Ramos; ao lado do Teatro Carlos Gomes, compôs um dos principais loci de novas sociabilidades de Natal na Primeira República. Fonte: Acervo Diário de Natal.
Pormenor da Praça Augusto Severo em cartão-postal da década de 1910. Fonte: Acervo Diário de Natal.

O contrato com a empresa de melhoramentos Valle Miranda & Domingos Barros previa uma rede de esgoto para a cidade “com a depuração biologica, aerobia e anaerobia das aguas, antes de serem lançadas ao rio ou aproveitadas para a cultura dos campos” (Mensagem governamental apresentada pelo presidente do estado do Rio Grande do Norte Alberto Maranhão em 01 de novembro de 1910). A implantação desse rigoroso sistema de esgoto pensado em 1910 não se efetivou naquela época, mas favoreceu a que os profissionais médicos reforçassem ainda mais a importância do saneamento para a cidade.

Panorâmica dos bairros da Ribeira e Rocas, c. 1910s. onte: Lyra, 2001, p.24.
“Panorama da Barra Dunas e ponte da Estrada de ferro central”; postal sem identificação; possivelmente dos anos 1910. Fonte: Lyra, 2001, p.58.

No ano de 1920 Januário Cicco dizia que uma população qualquer maior de dois mil habitantes, e á época Natal tinha vinte e dois mil segundo os dados com os quais ele trabalhava, “não póde viver sem as garantias de uma rêde de exgôtos, e a nossa lastimosa tolerancia merece bem a punição de assombrados pela carencia de hygiene em Natal” (CICCO, Januário. Op. Cit. p. 39).

Em 1924 o governador José Augusto através do decreto nº. 231 de 26 de abril criou a Comissão de Saneamento de Natal cuja direção ficou a cargo do engenheiro Henrique Novaes, que depois de minucioso estudo entregou ao governador um projeto de saneamento da cidade tendo como principais pontos: um novo sistema de abastecimento de água e um sistema de esgoto para a Cidade Alta e a Ribeira que poderia também receber dejetos da Cidade Nova e de parte do Alecrim390. No ano de 1925 José Augusto ratificava a importância do projeto apresentado por Henrique Novaes no ano anterior, sem, no entanto, obter apoio necessário para a implementação o referido projeto.

Do planejamento de Novaes somente o problema do abastecimento de água teve uma resolução mais eficaz, sendo transferido o reservatório da cidade para o lugar chamado Jiqui, ao Sul da cidade, ficando o balneário do Baldo ainda servindo para uma boa parcela da população que não tinha acesso ao serviço de água encanada. Ficando ainda por fazer o saneamento da cidade.

“Natal – vista da torre da Inspectoria F. O. Contra as Seccas”. Fonte: CSN, 1924.
Comissão visita obras de saneamento nos arredores da cidade Autor desconhecido (Acervo IHG/RN).

LAGOA TIURU

A documentação manuscrita do período da ocupação holandesa do Rio Grande (1633-1654) confirma vigorosamente a existência perto da aldeia de Natal e do Forte dos Reis Magos passa um rio conhecido por rio da cruz que nasce de um pequeno lago no Rio Grande (NEUHOF apud MOURA, 1986, p. 107).

A Lagoa é retratada em uma antiga estampa de autor não identificado, Veroveringe van Rio Grande in Brasil, ou a “conquista do Rio Grande no Brasil” pelos holandeses, em 1633. A Fortaleza dos Reis Magos está visivelmente superdimensionada. Há um acampamento holandês e uma edificação por trás das dunas próximas à fortaleza. Navios holandeses estão fundeados na foz do Rio Potengi e no mar; tropas avançam em direção à fortaleza, por meio de dois caminhos, um dos quais passando perto da cidade. Entre a fortaleza e a cidade se localiza um córrego ou afluente do Potengi, com sua nascente numa lagoa; sobre o córrego há uma ponte, que faz parte de um dos caminhos utilizados pelas tropas holandesas se dirigindo à fortaleza.

Planta do Forte do Rio Grande e arredores, gravura holandesa contemporânea da conquista da capitania (1633).

Há outra estampa do período holandês, intitulada Afbeelding van Tfort opRio Grande ende Belegeringhe, publicada no livro do geógrafo holandês Joannes de Laet, em 1644 (LAET, 1912, p. 340-341), que também ilustra o cerco da fortaleza, mas difere levemente da estampa. O riacho entre a fortaleza e a cidade que tem como nascente uma lagoa é denominado, no livro de Laet, de “rio da cruz” (kruy’s rivier); um caminho, e não dois, liga a cidade – chamada de “aldeia dos portugueses” (het dorp van de portugezen) – à fortaleza, antes denominada de Forte Três Reis, agora Forte Ceulen.

Veroveringe van Rio Grande in Brasil (1633). Estampa completa e recorte ampliado. Seção de Mapoteca e Iconografia do Ministério das Relações Exteriores no Rio de Janeiro, sob a notação: VEROVERINGE VAN RIO GRANDE IN BRASIL (1633).

Nosso interesse se resume à cidade do Natal e o seu entorno, e nesse sentido reproduzimos aqui o mapa de Marcgraf, de 1647, no trecho que envolve a região de Natal e seu entorno. As informações que a autora colheu são exatamente as mesmas do mapa de Joan Blaeu, de 1665, reprodução daquele.

Praefectura de Paraiba, et Rio Grande (1647, c. 1665). Mapa completo e recorte ampliado. BLAEU, Joan. Praefectura de Paraiba, et Rio Grande. Atlas Maior … Amsterdam, 1665. David Rumsey Historical Map Collection.

Há informações aparentemente desencontradas no que tange ao riacho que parece nascer num lago e desembocar no Rio Potengi, mas que são dissipadas numa análise mais cuidadosa. No mapa de 1633, ele está ao norte da cidade, entre esta e a fortaleza; no mapa de 1665, aparece um riacho ao sul de Natal, que também é atravessado por um caminho e que também parece nascer numa lagoa, chamada de Tiuru. Acreditamos que os dois mapas não estão mostrando o mesmo riacho nem a mesma lagoa, pois tudo indica que o núcleo urbano inicial da cidade, que se situava (e se situa) em terreno elevado, estava de certa forma delimitado por dois riachos, um ao norte, outro ao sul, ambos nascendo em lagoas distintas e desaguando no Rio Potengi.

Johan Neuhof se referiu ao riacho e lagoa ao norte da cidade, ao afirmar, como vimos, que “perto da aldeia de Natal e do forte dos Reis Magos passa um rio conhecido por rio da cruz, que nasce de um pequeno lago no Rio Grande”. É o que se apresenta na Figura 4. Na estampa de Joannes de Laet, à qual nos referimos sem reproduzi-la aqui, esse riacho também se apresenta na mesma situação e recebe a mesma denominação.

Quanto ao riacho ao sul da cidade de então, bem como a sua nascente na lagoa Tiuru ambos são, em termos locacionais, muito coerentes com vestígios atuais da cidade.

A lagoa pode muito bem ser a atual lagoa Manuel Felipe e o riacho foi fonte de água para a população de Natal. Para ele se dirigiam os moradores da cidade tomando o “caminho de beber”, origem da atual Rua Santo Antônio. O riacho é atualmente o canal do Baldo. Esse riacho ficava mais perto da cidade do que o riacho do norte, e deve ter sido mais utilizado como fonte de água potável. Aparentemente, o historiador Olavo de Medeiros Filho teve alguma hesitação em relação a essa questão, pois associou o riacho e a lagoa ao riacho ao sul da cidade e à lagoa Manuel Felipe (MEDEIROS FILHO, 1991, p. 65) – o que não poderia ser porque aqueles se situavam ao norte e estes ao sul da cidade. Em outro trabalho, ele concluiu corretamente – pois desta feita é coerente com o mapa de 1633 – que esse mesmo “rio da cruz”, era um riacho localizado ao norte de Natal, não mais existente. Nascia na lagoa do Jacó e cortava “os trechos finais das avenidas Januário Cicco e Engenheiro Hildebrando de Góis, no bairro das Rocas” (MEDEIROS FILHO, 2007, p. 34).

É certo que havia uma área alagadiça situada ao norte de Natal, em direção à fortaleza. Sobre essa área o capitão-mor João de Barros Braga mandou construir, em 1733 ou 1734, uma ponte de mais de 60 braças, ou 132 metros ao norte da cidade (TEIXEIRA, 2009, p. 241)29, demonstrando, aliás, que o eixo de crescimento urbano demandava o bairro da Ribeira, ao norte, em direção à Fortaleza dos Reis Magos, desde pelo menos o século XVIII. Um mapa de Natal, publicado em 1868 (MENDES, 1868, p. 43), bastante conhecido, mostra claramente essa área alagadiça entre os dois bairros mais antigos de Natal, a Cidade Alta, onde ela se iniciou, e a Ribeira. Contudo, não podemos afirmar com certeza se essa área alagadiça corresponde ao riacho e à lagoa.

LAGOA DO JACÓ

João Teixeira ALBERNAZ, o velho, “cosmógrafo do Rei de Portugal com carta patente para exercer o ofício de mestre construtor de cartas de marear e de instrumentos astronômicos”, viveu no período de 1602 a 1666. É de sua autoria um mapa intitulado RIO GRANDE, publicado em 1631, o qual se encontra na mapoteca do Itamaraty, no Rio de Janeiro.

Certamente o mapa foi baseado em um rascunho, de autoria de desenhista anônimo, elaborado por volta do ano de 1614. No mapa de Albernaz acham-se representados diversos aspectos natalenses, compreendendo a área que vai da barra do Rio Grande ao atual Rio do Baldo.

Depois do riacho que provinha da atual Lagoa do Jacó, cujo despejo ocorre no chamado Canto do Mangue, há referências a “Casas de Mangues”. O espaço hoje correspondente à Praça Augusto Severo, no bairro da Ribeira, aparece sob a denominação de “Campina Rasa”, limitado por dois riachos paralelos, afluentes do Potengi.

Depois da Cidade, o mapa refere-se ao “Ribeiro de água doce, de que bebe a cidade”. Trata-se do atual Rio do Baldo, cujas águas serviam à população natalense, até o início deste século. O mesmo provém da atual Lagoa de Manuel Filipe, no Tirol.

O historiador Olavo Medeitos conta que “O topônimo Lagoa do Jacó já é encontrado em documento sesmarial de 1731”. De Cascudo, existe texto em que descreve Jacob Rabi: No tempo da dominação holandesa vivia na cidade do Natal um judeu-alemão de nome Jacob Rabi. Morando nas proximidades do castelo de Keulen (Fortaleza dos Reis Magos), conseguira a estima dos Tapuias. Sobre estes mantinha grande domínio. Ele era casado com uma índia, e daí talvez a razão maior de seu prestígio. Rico, Jacob Rabi – de uma riqueza adquirida à custa de morticínios e rapinagens, como diz Rocha Pombo. Inteligente: “Suas notas registrando a vida íntima dos Janduís são depoimento precioso para a etnografia dessa tribo e o grande Marcgrave aproveitou-as num trabalho. Sabia desculpar-se e defender-se com eloquência, culpando sempre os seus bravios pupilos cariris” (Câmara Cascudo – “História do Rio Grande do Norte” – 1955, pag. 85).

Por outro lado, Câmara Cascudo, falando da ocupação de Petrópolis diz que o Monte Petrópolis “pertencia, em sua parte norte, à mesma propriedade, Sítio do Jacob, nos limites da Ribeira, onde havia a lagoa do Jacob, assim chamada por ter sido do suíço Jacob Graff nas eras de 1860.”

O mesmo Jacob Graff que pediu aforamento da área da Igreja do Bom Jesus até a área onde tinha a lagoa. E por isso ficou sendo chamada lagoa do Jacó em referencia a Jacob Graff. No seu tempo não existam casas de morada naquela região. 

A Lagoa do Jacó existiu até os anos 40, quando foi aterrada. Está registrada em mapas holandeses da época da ocupação. De lá partia, em direção ao Potengi, o Rio dos Urubus, também devidamente registrado nesses mapas.

A ilustração mostra bem “O caminho da Fortaleza” contornando a Lagoa do Jacó. No mapa holandês da época da ocupação, o caminho é feito passando por uma ponte sobre o rio dos urubus, que nascia na lagoa e desaguava no Potengi. Lagoa do Jacó é topônimo mais recente, de meados para fins dos 1800s. Os registros contam que os holandeses marcharam por terra para a tomada do forte que viria a ser o Castelo Ceulen, passaram por essa ponte. A visão desta Natal de Emanoel não contempla a ponte, que estaria mais à direita da concepção. o caminho contornando a lagoa também existiu.
Lagoa do Jacó – O proprietário da área era o Sr. Luzinal Ribeiro, pai do conhecido locutor Ademir Ribeiro. Luzinal tinha, no local, uma vacaria. Suas melhores leiteiras, subiam, todos os dias, manhã cedo, para um terreno baldio existente quase ao final da rua Felipe Camarão (hoje ocupado pela Associação de Imprensa) e lá tomei, levado por meu pai muito “leite ao pé da vaca”. Para “vitaminar” a grossa espuma do copo (de alumínio), Othoniel acrescentava uma colher de Toddy e dois ou três pingos de conhaque francês…
Até bem pouco (anos 30), Natal era isso: Sonho do Futuro. Tinha até a Lagoa do Jacó, nas Rocas. Foto de 1931
Em 18 de julho de 1976, o jornal O Poti, da capital natalense, traz matéria que noticia o asfaltamento de toda a Avenida Circular, na orla, e mostra foto da praia do Forte com caminhões sendo carregados com as areias que ali se acumulam aos montes, sopradas do mar para a praia, um fenômeno bem característico da vida da cidade: o sopro que vem do mar, carregado da areia formadora das nossas dunas.
Dizia a matéria que as areias estavam sendo transportadas para o Jacó, utilizadas no aterro da lagoa, Lagoa do Jacó, desaparecida da paisagem das Rocas dos nossos dias.
Olha aí a Lagoa do Jacó, ainda não existia o Colégio Padre Monte!
Lagoa do Jacó, 1935 – Rocas. Foto feita por forças americanas dois dias depois de estourada a insurreição comunista de novembro em Natal.
Lagoa do Jacó em foto aérea de 1931 e mesma área depois do aterro.
Esta foto foi tirada do Graff Zeppelin.
A Lagoa do Jacó em uma de suas últimas fotos.
Aqui, a Lagoa do Jacó já não mais existe. Foi aterrada. Já teve. O prédio do IPASE, canto central, direita da foto, já aparece importante. Foi o primeiro edifício construído na Cidade dos Reis.
Foto é do bairro das Rocas aonde era a antiga lagoa do Jacó. Da rede ferroviária . servia para ser colocar o resíduos dos carvão utilizada na época. Hoje e conhecida como vila ferroviária. A foto foi feita a partir da torre da Estação Central, então sede do IFOCS (DNOCS, hoje).
Rocas, 1934. O porto recém inaugurado, o mangue, o canto do mangue, o braço de rio que invadia a terra até onde hoje é a feira e surgiria o mercado, o hospital dos pescadores da Z-4… A lagoa do Jacó lá adiante, por trás da Estação Central nunca usada como tal (IFOCS), vizinha da rotunda e da caixa d’água de ferro do parque ferroviário… A coluna Capitolina em frente ao casario pobre de residências de porta e janela. A igreja da Sagrada Família inaugurada em 26.

LAGOA MANOEL FELIPE

Das lagoas existentes em Natal, a mais famosa delas é a Lagoa de Manoel Filipe, localizada no bairro de Tirol e sobrevivente aos aterramentos, prática comum em Natal, que, amparada em discursos médicos, higiênicos, urbanísticos e econômicos, puseram fim a inúmeras delas, as quais, a partir de tal intervenção, deixaram de fazer parte da paisagem da cidade.

Primitivo caminho do Rio de Beber Água, segundo Cascudo (1999), neste rio, beberam as bocas do Brasil Colonial: índios, portugueses, franceses, holandeses e africanos pisaram o antigo chão desta rua. A Rua Santo Antônio é um dos logradouros mais antigos de Natal, como informa Medeiros Filho (1991, p. 70):

Até o ano de 1700, parece ter havido apenas duas ruas em Natal; a primeira corresponde à que fica defronte à Matriz, na atual Praça André de Albuquerque; a segunda o caminho do rio de beber água, às atuais ruas Santo Antônio e da Conceição. […]

O Rio de Beber Água, Rio da Cruz ou do Baldo provinha da atual Lagoa de Manuel Felipe, no bairro de Tirol. Em 1677, o sesmeiro Pedro da Costa Faleiro referia-se ao “benefício que faz na fonte, para que não falte água no verão”, certamente o baldo por ele construído no Rio de Beber Água.

Os cronistas portugueses e holandeses são unânimes em afirmar que o desembarque de parte das tropas invasoras, da Capitania do Rio Grande, foi efetivado em PONTA NEGRA, aos 8 de dezembro de 1633, com a finalidade de cercar o Forte dos Reis Magos, uma parte das tropas neerlandesas penetrou no rio Potengi, sob o comando de Jan Cornelissen lichthart. Outros combatentes, em número de 600 homens comandados pelo tenentecoronel Balthasar Bymae e representando seis companhias, desembarcaram de suas naus para outras embarcações menores, dirigindo-se à terra firme, ou mais precisamente à Ponta Negra, de onde procurariam se reunir àquelas outras tropas já desembarcadas no Potengi.

Pela descrição, verificamos que os flamengos estavam à procura do precioso liquido. Pelas nossas deduções, caminhavam eles em direção à atual lagoa de Manuel Filipe, talvez por um caminho correspondente às atuais avenidas Nilo Peçanha e Prudente de Morais. A referida lagoa dista cerca de 3,8 km daquela praia, onde ocorrera o desembarque das tropas. Como somente atingiram a lagoa após duas horas de marcha, constatamos a lentidão do seu deslocamento. À época, a lagoa formava um riacho chamado TIURU, correspondente ao atual riacho do Baldo.

Duas gravuras de procedência holandesa, intituladas VEROVINGE VAN RIO GRANDE IN BRASIL ANNO 1633 e AFBEELDINGHE VAN T´FORT OP RIO GRANDE ENDE BELEGERINGHE, nos mostram uma certa ponte, existente sobre um riacho provindo da atual Lagoa do Jacó. Tal riacho corta os trechos finais das avenidas Januário Cicco e Engº Hildebrando de Góis, no bairro das Rocas.

O grosso da esquadra flamenga achava-se ancorada em um ponto, à margem direita do Potengi, no local onde desembocava um certo riacho provindo da atual lagoa do Jacó, no porto hoje denominado de Canto do Mangue.

Detalhe de mapa mostrando como foi a tomada de Natal em 1633 por tropas holandesas. Mostra a Lagoa do Jacó, Rocas, e ponte sobre o Rio dos Urubus, que desaguava nas proximidades do hoje Canto do Mangue.

Os nomes de logradouros e ruas foram quase todos mudados, o que é lamentável, pois eram muito mais bonitos do que os atuais. Há referência a uma lagoa de José ou João Felipe, e que deve ser a atual lagoa de Manoel Felipe.

A lagoa de Manoel Filipe deve o fato de ter sido poupada de aterramentos, como apontamos anteriormente, a sua localização, mas também a ocasião de ser ela um dos alimentadores da fonte do Baldo, onde estava o reservatório d’água da cidade e para onde as águas da lagoa afluíam em época de chuva.

Em setembro de 1902, a lagoa de Manoel Felipe foi visitada e vistoriada pelo coronel Joaquim Manoel, presidente da Intendência, acompanhado pelo major Raymundo Filgueira, fiscal do 1° Distrito. No relato feito pelas autoridades municipais verificou-se que as águas da lagoa estavam “completamente estagnadas, devendo, quanto antes, ser prohibida a lavagem de gente e de animaes” (Lagôa de Manoel Filipe. A Republica, 27 de setembro de 1902).

Para evitar as condições de estagnação e a contaminação das águas e melhorar o aspecto da paisagem da lagoa, a Intendência decidiu por “mandar cercar a lagoa deixando apenas a parte necessária para o bebedouro público” (Idem). Em agosto de 1903 é a vez do Governo do Estado pedir, através de ofício à Intendência Municipal, uma maior atenção à Lagoa de Manoel Filipe.

Segundo o documento oficial, era pedido ao presidente da Intendência Municipal mandar “apresentar duas praças do batalhão de segurança” (A Republica, 08 de agosto de 1903), que estava sob o comando do mesmo, a fim de ficar em prontidão na lagoa de Manoel Filipe para que se proibisse a lavagem de roupa e o banho. Tal proibição devia-se ao motivo de ser a lagoa uma das fontes alimentadoras de água para o reservatório d’água da cidade, tendo assim, essa medida, um sentido médico-higienista.

Em julho do mesmo ano, o jornal “A República” trouxe uma nota na qual escrevia sobre o fato de querer a população que morava próximo a Lagoa de Manoel Felipe mudar o nome desta para Lago de Genazareth, o motivo se devia ao fato de que a região sul da Cidade Nova, onde estava a lagoa, era conhecida como Palestina e todos os topônimos daquela área tinham nomes relacionados ao lugar sagrado: Galiléia, Jericó, Hefrate, Bethel, dentre outros.

No início do século XX a cidade tinha passado durante as últimas três décadas por um crescimento ínfimo, apresentando somente um bairro a mais que o constatado na década de 1880, e mesmo assim, esse ainda estava em vias de implantação, tendo sido criado apenas dois anos antes.

Para exercer a formulação das plantas, o alinhamento das edificações e dos terrenos e a fiscalização das obras, foi instituído pelo governo municipal o cargo de auxiliar técnico, que só poderia ser exercido por profissionais engenheiros ou agrimensores (RESOLUÇÃO No. 54, 30/04/1904, Art.15)

Também por essa Resolução, foi delimitado e subdividido o patrimônio territorial do município de Natal. Segundo ela, a capital estaria dividida em três bairros (Ribeira, Cidade Alta e Cidade Nova), podendo o governo estadual, a partir de então, cobrar anualmente o imposto – foro por metro quadrado de superfície – pelo uso dos terrenos concebidos por aforamento. Essa disposição veio para complementar o Regulamento elaborado em 1893 e facilitar o trabalho da Inspectoria de Hygiene Pública e da Polícia Sanitária no controle e fiscalização do cumprimento dos Códigos de Posturas. O perímetro da cidade ficou sendo da “(…) linha do sul, da Lagoa Manuel Felippe, estendendo-se pelo curso da corrente do Baldo, até chegar ao rio Potengi” (A REPÚBLICA, 29/09/1904, p.01).

A versão da repulsa do natalense pelas árvores foi ratificada no relatório enviado pelo Intendente Joaquim Teixeira de Moura que dizia ser a arborização um assunto que até então não se tornava possível atender “não tanto pelo custo do plantio, como pelos embaraços da conservação. Os nossos costumes em vergonhoso atraso toleram a damnificação de plantas decorativas e refrigerantes como causa inocente e divertida”. Nesse mesmo relatório o intendente dizia que para proteger os poucos patrimônios vegetais existentes na cidade havia decidido cercar a “matinha do Baldo e (…) um vasto terreno, que orla a area urbana, pelo lado do sul, incluindo as lagôas Manoel Fellipe e Secca” (Relatório Apresentado pelo intendente Joaquim Manuel Teixeira de Moura à intendência da cidade do Natal eleita para o Triênio 1905-1907, em 1 de janeiro de 1905).

O urbanista João Maurício Fernandes de Miranda, em “Evolução Urbana de Natal em 400 anos – 1599/1999” apresenta através de diversos decretos, a força da expansão imobiliária nas áreas de reservas verdes. Miranda (1999) lembra o Plano Urbanístico de Desenvolvimento de Natal, que indicava a criação de um Parque Municipal. Infelizmente o poder imobiliário, podou a cidade de ter, no centro, um espaço com vegetação natural, local ideal para atividades ao ar livre. Com baixíssima taxa de ocupação, a área poderia ter sido preservada para implantação de um parque desde a avenida Alexandrino de Alencar com a Lagoa Seca, que hoje dá nome ao bairro, lagoa de Manuel Felipe – Cidade da Criança – e o canal do Baldo[…] (MIRANDA, 1999,p.83).

Lagoa Manoel Felipe à direita, limite da cidade na década de 1900. Cartão Postal Antigo Natal/RN do Quartel Policia e Lagoa Manoel Felipe nos anos 60.

De acordo com as pesquisadoras Ana Rachel Baracho e Angela Lúcia Ferreira, o Escritório de Saturnino Brito elaborou o plano em 1935, construiu a rede de esgotamento sanitário e o abastecimento de água em Natal e, a partir de 1939, passou a administrar o serviço, num modelo de gestão contratada onde era remunerado sobre um percentual do total arrecadado com o serviço prestado. O sistema projetado compreendia uma extensão de 62 quilômetros. Entre 1935 e 1939 haviam sido inauguradas obras como a da Praça 7 de Setembro, instalações em Lagoa Nova (onde hoje é o Centro Administrativo), Lagoa Manoel Felipe e sistema do atual Bosque dos Namorados.

A partir de 1940, com a escassez de recursos públicos para investimentos na modernização do espaço, observa-se que a prioridade do governo passou a ser os bairros de Petrópolis e Tirol, em detrimento do Alecrim.

Algumas das intervenções realizadas eram mesmo questionáveis, tendo em vista a necessidade de infra-estrutura que o restante da cidade demandava. Em Petrópolis, as obras diminuíram a dimensão da Praça Pedro Velho, revitalizaram seus canteiros com um projeto paisagístico, tanques com espelhos de água, cultivo de vitórias-régias, plantas ornamentais e grades de proteção (FRANÇA, Aderbal). Os lagos da Pracinha. A República, Natal, 19 Jul. 1940). No Tirol, foi dada continuidade à urbanização da Lagoa Manoel Felipe.

A Lagoa Manoel Felipe, que antes estava perdida e abandonada no meio do bairro do Tirol, nesse momento tornou-se um Parque Municipal, conforme havia sido projetado pelo Plano Geral de Obras. A iniciativa conseguiu o apoio do setor econômico, que contribuiu financeiramente para a plantação de árvores, organização do espaço livre, instalação de equipamentos apropriados a uma área de lazer e transferência de espécies de animais adaptáveis àquele ambiente (FRANÇA, Aderbal. No Parque de Manuel Felipe. A República, Natal, 22 set. 1940).

Plano Geral de Obras, elaborado pelo escritório Saturnino de Brito, inaugurou obras de saneamento em 1939.
São poucos os que ainda chamam o lugar de Lagoa de Manoel Felipe. Manoel Felipe, nem Cascudo soube dar origem. Foi um morador dos arredores da lagoa. “Não sendo sesmeiro, teria comprado a terra e nela residido para que seu nome recordasse, contemporaneamente, uma existência sem vestígios na micro-história da cidade do Natal (Diário de Natal, 14 de março de 1962, p.3)”, cita Itamar de Souza em sua Nova História de Natal.

Grande parte dos alimentos de que necessitavam eram importados durante a Segunda Guerra Mundial, transportados por navios e aviões até a Base, porém estavam comprando grandes propriedades e destinando-as para a criação de gado leiteiro e de corte, assim como para a plantação de cereais e de árvores frutíferas. Um parque da cidade, por exemplo, a Lagoa Manoel Felipe, foi transformada em aviário para produção de galetos em grande escala.

O Rio de Beber Água, Rio da Cruz ou do Baldo provinha da atual Lagoa de Manuel Felipe, no bairro de Tirol. Em 1677, o sesmeiro Pedro da Costa Faleiro referia-se ao “benefício que faz na fonte, para que não falte água no verão”, certamente o baldo por ele construído no Rio de Beber Água.Antigo caminho do Rio de Beber Água (atual Rua Santo Antônio). Medeiros Filho (1991, p. 70). Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.
Foto do Parque da Lagoa Manoel Felipe. Fonte: HIDROESB. Acervo: HCURB/UFRN.
LAGOA MANUEL FELIPE (ANOS 30): No Tirol, encontra-se a Lagoa Manuel Felipe (antes conhecida como Lagoa dos Calafanges e era considerado um lugar ótimo para pic-nics mas, que posteriormente foi proibida a realização dos mesmos pelo “governador da cidade”. Já era referida, em documentos de 1646, como um pequeno lago de onde nascia o Rio da Cruz, depois chamado de Rio do Baldo, afluente do Potengi, conforme atesta Olavo Medeiros Filho em seu livro Terra Natalense. A origem do topônimo liga-se ao proprietário das terras onde a lagoa se encontra. Atualmente, a Lagoa Manuel Felipe abriga a Cidade da Criança, espaço cultural e de lazer, destinado, preferencialmente, ao público infantil.
Lagoa Manoel Felipe – Hoje dentro da Cidade da Criança – A lagoa é lugar citado em texto de 1743. Segundo Cascudo, o “licenciado Francisco Alves Bastos era proprietário da região. O registro da ‘data’ é de 15 de junho de 1743, e o peticionário recebeu quatrocentas braças de comprido e outras tantas de comprimento pelo Rio de Beber Água acima, compreendendo uma lagoa.” Essa Lagoa é a futuramente chamada Lagoa de Manoel Felipe, assim já conhecida nos primeiros anos do surgimento do bairro do Tirol, onde hoje está inserida, entre as avenidas Prudente de Morais e Rodrigues Alves.
Uma nota não assinada em A República da época diz que os moradores dali “resolveram denominar a Lagoa de Manoel Felippe por Lago de Genezareth”. Isso indica que a Lagoa de Manoel Felipe já era assim chamada e que a tentativa de mudar seu nome não vingou, já que, embora quase no esquecimento, permanece até hoje.
LAGOA DE MANOEL FELIPE (Bairro Tirol). Foto: Jaeci E. Galvão. Aparece em mapa holandês dos tempos da ocupação (1633/1654), junto a outras duas lagoas, supostamente as que até bem pouco tempo eram chamadas Lagoa Seca (Tirol) e Lagoa do Enforcado (Alecrim), ambas aterradas pelo crescimento da cidade rumo Sul. No mapa, que não lhe dá nome, é mostrada como nascente do Rio Tiuru.
LAGOA DE MANOEL FELIPE. (Bairro Tirol). Foto: Jaeci E. Galvão. No mapa holandês, que não lhe dá nome, é mostrada como nascente do Rio Tiuru. Desse rio, é que Natal, desde a sua fundação em 25 de dezembro de 1599, abasteceu-se de água por décadas, mais de três séculos. Rio de tanta importância para a existência da cidade, que era chamado rio de Beber Água. Foi em busca da água do rio de Beber Água, que surgiu o Caminho do Rio de Beber Água, que foi juntando casinholas em suas margens, até se tornar a Rua do Caminho do Rio de Beber Água, que viria a ser chamada, muito depois, Rua de Santo Antônio, depois que nela foi construída a Igreja de Santo Antônio dos Militares, inaugurada em agosto de 1766, segunda rua da cidade.
Lagoa Manuel Felipe (1958) – O Rio Tiuru ou Tissuru, como também era chamado, nasce na Lagoa Seca, mais a Sul, que corre para o norte e toma o oeste quando se encontra com as águas sobradas da Lagoa de Manoel Felipe a caminho do Potengi. Rio permanente, que mesmo aterrada a Lagoa Seca e conduzidas suas sobras de água através de manilhas enterradas, ainda vive com seus tintins, carás, piabas, muçus, mas sem seus jacarés.
Estátua do casal de estudantes que eram do Grupo Escolar Augusto Severo. No livro intitulado “Natal que eu vi”, Lauro Pinto conta que existiam ali duas
lindíssimas estatuas de bronze, vindas da França, representando um casal de estudantes. Eles ornamentaram o grupo escolar por mais de 50 anos. A estátua masculina indicava a ala dos meninos e a outra a seção feminina. Posteriormente foram levadas para praça Pedro Velho, depois para a lagoa Manoel Felipe e atualmente se encontram no colégio Estadual
Wiston Churchill no bairro da cidade Alta (PINTO, 1971, p. 20). Sobre a peregrinação das estátuas, que correu de mão em mão ele brinca: “como sofrem crianças com Madrasta…”
No Bairro Tirol, encontra-se a Lagoa Manuel Felipe, antes conhecida como Lagoa dos Calafanges. Atualmente, a Lagoa Manuel Felipe abriga a Cidade da Criança, espaço cultural e de lazer, destinado, preferencialmente, ao público infantil.
Lagoa Manoel Felipe, onde hoje é a Cidade da Criança, em Natal, em foto bem antiga, conforme os detalhes. Quem souber o período aproximado da imagem, pode informar. Foto de autor não identificado.

BAIRROS LAGOAS

Muitos dos bairros de Natal tem sua origem em lagoas. vejamos:

LAGOA AZUL: bairro Lagoa Azul teve seus limites definidos pela Lei nº 4.328, de 05 de abril de 1993. A ocupação desta região foi intensificada a partir da década de 1980 com a construção dos conjuntos habitacionais: Nova Natal, Gramoré, Cidade Praia e Eldorado. Além dos conjuntos habitacionais, este bairro é formado por diversos loteamentos e a comunidade do Gramorezinho. Conforme o pesquisador Manoel Procópio de Moura Júnior (NATAL, 2008), o bairro surgiu em uma área próxima a várias lagoas, inclusive uma denominada de Lagoa Azul, justificando, assim, seu nome.

O bairro de Lagoa Azul, um dos mais novos bairros de Natal, começou desta forma. Localizado no extremo norte da cidade, ele tem em sua origem histórias de superação de uma porção da população natalense que foi transferida para dois conjuntos habitacionais, o Nova Natal e o Gramoré. Ambos foram criados pelas políticas públicas voltadas para promoção de melhores condições de moradia, que tinham por responsável na Zona Norte da cidade a Companhia de Habitação do Rio Grande do Norte (COOHAB), em um contexto que tomava o “Outro lado do Rio” como uma área propícia para tal tipo de empreendimento, pois havia grande oferta de terrenos extensos e baratos.
LAGOA AZUL (Bairro Lagoa Azul). Foto: Acervo SEMURB.
LAGOA AZUL (Bairro Lagoa Azul). Foto: Acervo SEMURB

PAJUÇARA: O nome é proveniente de Ipajuçara, que no idioma indígena significa lagoa da palmeira juçara (juraça em Tupi significa espinhosa). Em 1987, foi construído o Conjunto Pajuçara I e II, iniciando assim a primeira ocupação do bairro que foi oficializado com o nome do Conjunto.

Segundo Cascudo (1968, p.109): “Lugar na margem esquerda do Rio Potengi, diante da cidade do Natal. De ipajuçara, lagoa da palmeira Juçara […] Denomina comumente locais de lagoas e alagadiços”. A ocupação e formação do bairro Pajuçara, ocorreu principalmente a partir da década de 1990, quando aconteceu a construção de diversos conjuntos habitacionais. Existem registros, deste topônimo, datados de meados do século XVIII. Conforme Medeiros Filho (1991, p.93), em uma carta de doação de 05/06/1731 a senhora Joana de Freitas recebeu por título uma área da “Redinha até a Pajuçara”.

Conjunto Pajuçara.

IGAPÓ: Antiga Aldeia Velha, terra dos índios potiguara, hoje Igapó. Segundo Cascudo (1968, p.91) este nome significa água que invade, enchente, alagado. Não há registro sobre os motivos da mudança do antigo topônimo, como informa Souza (2008).

Lugar de resistência indígena, nesta região os potiguara liderados por Potiguaçu (O Camarão Grande) entraram em confronto com os lusos – europeus. Em meados de 1599, foi celebrado, na cidade de Filipéia (atual João Pessoa) um tratado de paz entre os Potiguara e os Portugueses. A aldeia do Camarão Grande (Aldeia Velha) foi a primeira a ter chantada uma cruz. Conforme Lopes (2003, p.33), “a cruz seria o símbolo da paz entre índios e portugueses, e que sob a sua sombra estariam ‘protegidos’ da morte e escravidão impostos pelos portugueses […]”.

RIBEIRA: Ribeira velha de guerra, tantas vezes cantada em prosa e verso. Terra de canguleiro, rivais dos xarias, dos tempos de outrora. A Ribeira, parte baixa da cidade, nasceu no caminho entre a Cidade Alta (núcleo inicial de Natal) e a Fortaleza dos Reis Magos. Quanto a origem do topônimo, recorremos a Cascudo (1999, p.149):

Ribeira porque a Praça Augusto Severo era campina alagada pelas marés do Potengi. As águas lavavam os pés dos morros. Onde está o teatro Carlos Gomes (atual Teatro Alberto Maranhão) tomava se banho salgado em fins do século XIX.

A Ribeira era um lugar de comércio e residências. Muitas gerações nasceram e cresceram, assistindo a terra de canguleiros vencer o alagadiço e transformou-se em centro econômico e político. A Cidade baixa era o “point” de Natal de início do século XX.

Bairro importante no desenvolvimento da cidade, a Ribeira a partir, principalmente, da construção do Porto de Natal, consolida-se como centro comercial. Estabeleceu em suas ruas as principais empresas exportadoras e importadoras, as grandes lojas e órgãos públicos, inclusive o Palácio do Governo, situado na antiga rua do comércio, hoje Rua Chile.

LAGOA NOVA: O Bairro Lagoa Nova, hoje região nobre da capital potiguar, era no passado “caminho de ligação entre o centro de Natal e a base aérea de Parnamirim Field”, estrada construída durante a Segunda Guerra Mundial, quando a cidade foi batizada de Trampolim da Vitória. Sua ocupação, como das demais regiões “periféricas”, ganhou um novo rumo com a instalação da base americana em solo norte-riograndense. Deste modo, em 30 de setembro de 1947, o prefeito Sylvio Pedroza edita a Lei n° 251, estava, então, criado o bairro Lagoa Nova.

Terra distante , vista por natalenses dos anos 1960, como “longe” de tudo”. Mas a marcha expansionista, em parte, acelerada no pós-guerra, modifica a paisagem de Lagoa Nova. Assim: […] onde anteriormente predominava a existência de granjas, sítios e casas de campo, foram construídos conjuntos habitacionais, o Estádio Machadão, o Centro Administrativo do Estado, o Campus Universitário da UFRN, a CEASA, palácios e numerosas residências de elevado padrão. (SOUZA, 2008,p.601). O bairro Lagoa Nova, é parte da história da terra chamada Natal.

Na região de Lagoa Nova, próxima aos Shoppings e anterior a eles, podemos citar a implantação do Campus da UFRN, obra iniciada em 1972, e inaugurada em 1979, e a obra da maior arena esportiva do estado, projetada desde fins da década de 1960, o Machadão. O estádio foi aberto ao público em 1972 e foi concluído em 1975.

A Universidade foi criada pelo Governador Dinarte Mariz em 1958. Tinha seus cursos espalhados por diferentes prédios da cidade. A Universidade foi federalizada durante o governo de Juscelino Kubitschek em 1960. Em 1967-1968 o governo brasileiro inspirou-se no modelo educacional norte-americano e concentrou os cursos em uma única área (SOUZA, 2008: 616-617).

A Universidade surgida na Segunda metade da década 1950, passou então, a possuir um lugar de concentração de seus diversos cursos. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte, nestes 50 anos de existência se constituiu na principal instituição de ensino e pesquisa da terra potiguar. Lugar de saber, este é o Campus da UFRN.

FACULDADE DE ODONTOLOGIA (Bairro Lagoa Nova). Foto: Autor Desconhecido.
CONSTRUÇÃO DO ESTÁDIO “CASTELÃO” (Atual “Machadão” – Bairro Lagoa Nova). Foto: Jaeci E. Galvão.
Lagoa Nova no início da década de 1980: um grande descampado sem nenhum arranha-céu. Arquivo TN
Construção do Conjunto habitacional Lagoa Nova II em 1975. Esse conjunto fica exatamente atrás da CEASA. Ao fundo nota-se a caixa de água da Caern que marca a região. Foto: Wagner Silva
Campus da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.
Figura 46 – Av. Prudente de Morais, próximo ao cruzamento com a Av. Nascimento de Castro, Bairro Lagoa Nova (década de 1980). Foto: Acervo “A República”.

Pitimbu, segundo Câmara Cascudo, significa na língua indígena, água nascente, rio manadouro de camarão. É o nome do rio que corre em seu território, vindo de Parnamirim, formador da Lagoa do Jiqui. Este nome aparece em documentos datados do século XVII. O bairro herdou o nome do rio.

BARRO VERMELHO: Criado, em 5 de abril de 1993, com a promulgação da Lei 4.327, a partir do desmembramento do bairro de Lagoa Seca. Apesar de ser um bairro novo, o Barro Vermelho, aparece com este topônimo em documentos do fim do século XVIII. O historiador Olavo de Medeiros Filho, em Terra Natalense, faz o seguinte registro:

23.07.1787 – Favorecido, o Alferes Antônio José Barbosa, terras, pegando das testadas dos sítios de Barro Vermelho, até as nascenças da Lagoa Seca, que serão duzentas braças, pouco mais ou menos, deste comprimento, e de largura, pegando a estrada real, que corre do Barro Vermelho até a estrada da Picada […]. (MEDEIROS FILHO,1991, p.140).

Verifica, então, a antiguidade deste topônimo. Uma curiosidade são as diversas lendas referentes a esta localidade. Uma delas conta a existência de vozes celebrando uma missa, ouvida por quem passasse a noite por entre a mata existente no antigo Morro Branco.

LAGOA SECA: No início do século passado, no terreno de Lagoa Seca, havia plantas silvestres vacarias e sítios e era um dos arrabaldes mais visitados pelo natalense. A partir de 1920, foi se formando uma aglomeração em torno da Lagoa Seca que ficava em uma das esquinas formadas pelas atuais avenidas, Prudente de Morais e Alexandrino de Alencar. Seu sangradouro encontrava-se no Riacho do Baldo, que por sua vez, provinha da Lagoa Manuel Felipe. Este aglomerado da lagoa seca transformou-se no bairro, cujo nome foi conservado.

Em Terra Natalense, o historiador Olavo de Medeiros Filho, cita uma vasta documentação referente a expansão urbana de Natal, a partir das concessões das datas. Através da pesquisa do insigne membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, é possível construir o passado desta cidade Natal.

Lagoa Seca, por exemplo, aparece em data de 4 de abril 1719, diz o documento: a paragem a que chamavam a Lagoa Seca…cem braças de terra de comprido e cinquenta de largo, começando da dita Lagoa Seca para a parte do Morro Branco […] (apud MEDEIROS FILHO,1991, p.83). Lagoa Seca que originou este topônimo, localizava-se no atual cruzamento da Avenida Alexandrino de Alencar com a Avenida Prudente de Morais.

No setor público, no entanto, as ações ficaram restritas ao plano do discurso, às propostas de concepção do bairro operário, inclusas no Plano Geral de Obras de Saneamento do engenheiro Henrique de Novaes, em 1924. Na prática, pode-se citar a criação e capacitação, em 1927, do bairro de Lagoa Nova, situado na periferia da cidade e destinado a abrigar “toda gente pobre”.

Em 1924, em um levantamento da cidade realizado pelo engenheiro Henrique de Novaes, a linha contorna o parque por trás dos casebres de Santos Reis, sobe em direção ao bairro da Cidade Nova e cruzando a rua Manoel Dantas e Nilo Pençanha, seguindo em linha reta pela avenida Campos Sales. A linha férrea continua descendo na altura da lagoa da atual Cidade da Criança, acompanhando o curso do riacho do Baldo para finalmente se integrar à linha na beira rio. Esse projeto será retomado em 1939, quando a Segunda Guerra estoura. Com a instalação da Base Naval no Alecrim, proíbe-se que as linhas férreas cruzem áreas militares.

Planta organizada pelo engenheiro Henrique de Novaes para os serviços de saneamento de Natal em 1924 (Detalhe). Notar linha tracejada partindo da esplanada Silva Jardim, descendo pelas Rocas, subindo pela Cidade Nova e descendo paralela ao riacho do Baldo. O transporte ferroviário ainda era um elemento urbano importante e se misturava ao tecido da cidade. Fonte: Biblioteca Municipal Mário de Andrade. Acervo de George A. F. Dantas

Nesse contexto, seguiram-se inaugurações, reformas, ampliação da rede de fornecimento de energia e das linhas do bonde. As ações realizadas esticaram a linha de bondes do Alecrim, “atingindo um percurso de 1500 metros”, até o bairro de Lagoa Secca (LINHA DE BONDES: TYROL- LAGÔA SECCA. A Republica, 10 de fevereiro de 1926, p. 1.)

Em 1926, o governador José Augusto Bezerra de Medeiros ampliou a linha de bonde até Lagoa Seca, transferindo o ponto final para o trecho localizado no cruzamento da Rua Amaro Barreto com a Avenida Presidente Bandeira. Os bondes começavam a circular por volta das 5 horas da manhã, indo até Lagoa Seca e retornando para a Ribeira (CARVALHO, 2004, p. 63).

A iniciativa é louvada pela imprensa local como obra imprescindível para a população residente em Lagoa Seca, citando também o fato de que as ruas da localidade, pelo fato de não serem pavimentadas, não ofereciam um acesso cômodo aos veículos automotores. A viação do bonde permite aos habitantes de Lagoa Seca uma maior mobilidade e favorece o seu deslocamento ao centro da cidade.

Entretanto, embora o benefício fosse real, é reivindicada pelos órgãos de imprensa a diminuição no valor das tarifas do bonde, especialmente no caso do novo ramal à Lagoa Seca, cuja população residente à época era formada majoritariamente por extratos mais pobres da sociedade natalense. O custo relativo ao número de viagens diárias necessárias ao deslocamento da população do bairro, cuja característica operária a torna dependente desse sistema para ir e vir ao local de trabalho, segundo o articulista do “Diário de Natal”, pesaria significativamente no orçamento das famílias e, por isso, era de grande urgência a redução do valor da passagem do bonde.

A linha de bonde à Lagoa Seca representava, portanto, um elemento de integração da população que residia nessa fração urbana. O acesso dessas pessoas à cidade se tornaria intrinsecamente vinculado ao bonde – pelo menos até a intensificação do processo de pavimentação das vias e popularização dos autobus como sistema de transporte público em Natal. Outro fator vinculado à inauguração da linha até Lagoa Seca seria a vetorização do crescimento da cidade. A linha direcionaria o adensamento urbano na área atendida, desafogando as áreas às margens do Potengi, ocupadas ostensivamente em momento anterior. A zona correspondente ao bairro de Lagoa Seca era também vista como uma área salubre e com grande potencial de valorização futura.

Fonte: Acervo HCUrb. Nota: Elaboração do autor sobre o mapa do Plano de Sistematização de Henrique de Novaes para Natal, de 1924. Cidade Nova destacada em laranja. Destaque para a linha até Lagoa Seca (em vermelho), inaugurada em 1926.

É importante perceber que os novos carros, classificados pela imprensa como mais “confortáveis” e “modernos”, são destinados às linhas de transporte das áreas mais centrais e de população mais favorecida – os bairros da Ribeira, Cidade Alta, Petrópolis e Tirol –, até mesmo em virtude do preço da passagem, mais elevado. Essa constatação demonstra como o bonde, o transporte que continuava a atender as zonas do Alecrim e Lagoa Seca, mudava a sua condição, agora sendo visto como um transporte das massas operárias.

Os problemas na linha de bondes do Alecrim prejudicavam consideravelmente a população que residia naquele bairro, assim como, em Lagoa Seca, uma vez que o bonde ainda representava o principal vetor de comunicação dessas áreas com o restante da cidade em termos de deslocamento das massas. Os últimos bondes que saiam em direção a essas localidades, partiam do Natal-Clube por volta das 23 horas, portanto, os últimos em relação aos demais, embora os seus usuários fossem os que mais necessitavam do serviço.

Em fins de 1935, o problema da moradia urbana em Natal ainda era intimamente associado ao “mau gosto” das fachadas das residências (COMO…, 15/03/1936, p.01). O artigo refere-se, principalmente, às residências edificadas nos bairros das Rocas e Lagoa Seca, apontadas como os bairros dos “mucambos” da cidade.

Em 15 de março de 1936 é publicada em “A Republica” uma reportagem especificando as condições de vida na capital natalense e as diferenças entre os seus bairros que, segundo o autor do artigo, teriam características distintas entre si. Os bairros então reconhecidos como parte da zona urbana eram: Rocas, Ribeira, Cidade Alta, Alecrim, Lagoa Seca, Tirol e Petropólis. As Rocas são caracterizadas como residência das classes mais pobres e de pescadores. O Alecrim corresponde à antiga área da pobreza, então favorecida pelos melhoramentos urbanos e pelo comércio. Lagoa Seca corresponderia ao local onde se situavam os currais da cidade, também denominada de “sertão em miniatura”. Em contraponto, Tirol e Petropólis seriam os bairros elegantes, onde residências “modernas” estavam sendo construídas (COMO…, 1936, p. 01).

Paralelamente à ação desses órgãos e para solucionar o problema de moradia dos migrantes e da população pobre da cidade, a municipalidade criou loteamentos em terrenos na região periférica da cidade e construiu em um amplo terreno localizado no “subúrbio de Lagoa Seca” um “abrigo definitivo” onde essa população encontraria moradia, toda a assistência médica, alimentícia e vestimentas necessárias, além de encaminhamentos para empregos (O PROBLEMA…, 04/04/1943, p.03).

Em 1941-1942 tinha Natal 200 logradouros Públicos: Lagoa Seca continha duas avenidas que vão até o “Carrasco”, duas ruas e a estrada “São José”, que abrange o Tirol, o Alecrim e o Carrasco.

A grande maioria das casas encontra-se localizada no bairro do Alecrim, enquanto os demais registros apontam o bairro de Lagoa Seca. A maior parte dos financiamentos, cerca de 90% deles, data das décadas de 1940 e 1950, principalmente dos anos de 1946 e 1958 (coincidindo com os picos da produção dos Institutos de Aposentadorias e Pensões – IAPs na cidade), sendo 13,04% dos financiamentos foram concedidos na década de 1950.

As iniciativas individuais de hortas residenciais tiveram êxito na capital em 1943 como uma das iniciativas do esforço produtivo para atender a demanda local durante a Segunda Guerra Mundial, particularmente nas proximidades da Lagoa Seca:

Sob árvores antigas, descemos até a lagoa que muita gente desconhece. As lavadeiras estendiam nas suas margens as peças batidas no afã cotidiano. Enquanto subia por todos os lados o panorama verde, num quadro em que a natureza pródiga caprichou. […]. Plena produção, ao lado de exuberantes sementeiras, folhas e frutos se confundiam, cada espécie nos longos limites dos seus terrenos (FRANÇA. Aderbal. Cultivando o solo. A República. Natal, 20 ago. 1943i., p.6).

O bonde elétrico era o principal transporte coletivo na cidade na época da Segunda Guerra Mundial, a linha mais extensa percorria o eixo Lagoa Seca – Alecrim – Cidade Alta – Ribeira, duas outras linhas ligavam a Ribeira até os Bairros de Petrópolis (limite na Avenida Getúlio Vargas) e Tirol (Quartel do 16º RI) sempre passando pela Cidade Alta. Os bondes estavam abarrotados de soldados americanos.

Em meados de 1943, os primeiros investimentos da Batalha da Produção começaram a ser colhidos e distribuídos. Destes, os primeiros que surgiram vieram da horta cultivada na Lagoa do Jiquí, dos aviários instalados na Lagoa Manoel Felipe e da pocilga construída em Parnamirim, próximo às Bases Aéreas. Suas produções foram destinadas prioritariamente para as bases militares e seu excedente distribuído nos mercados da capital. Apesar de insuficiente, o pouco que foi distribuído nos mercados supriu parcialmente as necessidades alimentares de parte da população (INAUGURAÇÃO de melhoramentos em Jiqui. A República. Natal, 29 abr. 1944; INAUGURADA as instalações do Aviário do Jiqui: o ato teve a presença do Interventor Fernandes Dantas – Também inaugurada a pocilga – As solenidades. Jornal A República. Natal, 03 maio. 1944; FRANÇA. Aderbal. Nunca mais voltaram. A República. Natal, 27 jun. 1943f.).

A Lagoa Seca era uma pequena lagoa situada na periferia do bairro do Alecrim. As terras foram preparadas sem alardes e quando sua produção se tornou conhecida resolveu momentaneamente a carestia da cidade.

As linhas de ônibus entraram em serviço pelo Decreto número 415, de 24 de janeiro de 1929, inicialmente com dois veículos (CASCUDO, 2010, p. 384). Depois da guerra, essas linhas tinham aumentado para 12 linhas, servindo toda a cidade. Três delas estendiam- até o Alecrim, todas saindo do Grande Ponto, na Cidade Alta: uma linha percorria a Avenida Rio Branco e chegava à Amaro Barreto, até o posto da Quintas; outra, passava pela Amaro Barreto e Presidente Bandeira até Lagoa Seca; e uma terceira chegava até a rua Amaro Barreto e dali terminava seu percurso na Feira do Carrasco (SERVIÇO DE ÔNIBUS…, 1946).

O bairro Lagoa Seca nasceu oficialmente da Lei nº 251 de 30 de novembro de 1947, governava o município, o Dr. Sylvio Piza Pedroza.

Av. Romualdo Galvão, limite entre os Bairros Tirol e Lagoa Seca (1981). Foto: Acervo “A República”

A cidade do Natal, no ano de 1959, continha uma população de aproximadamente 167.202 habitantes distribuídos em doze bairros – Santos Reis, Rocas, Ribeira, Cidade Alta, Petrópolis, Tirol, Alecrim, Lagoa Seca, Lagoa Nova, Dix-Sept Rosado, Quintas e Mãe Luiza – Natal apresentava insuficiência urbanística caracterizada pela modéstia das edificações, precariedade da malha viária, transportes coletivos obsoletos e, sobretudo, ausência de indústrias.

PONTA NEGRA: No meio físico analisamos o dano sofrido pela zona costeira de Ponta Negra, que de alguma forma interferem na qualidade de vida dos seus moradores, trabalhadores e frequentadores, verificando a modificação da paisagem costeira, que sofre com processos erosivos, com a poluição das águas superficiais e aquíferos, pelos resíduos sólidos, pela degradação das dunas (compactação do solo – construção de ruas e avenidas, de residências, de comércio) e pelo assoreamento das lagoas que existem no entorno da área.

ZPA-03: Área entre o Rio Pitimbu e Avenida dos Caiapós (Conjunto Habitacional Cidade Satélite – Regulamentada pela Lei Municipal Nº 5.273, de 20 de junho de 2001) – Parte da bacia hidrográfica do Rio Pitimbu, com solo fértil nas margens, caracterizadas por feições de terraços e vertentes com dunas sobrepostas. Dentre outras funções, destaca-se o suprimento de água doce para a Lagoa do Jiqui.

ZPA-05: Ecossistema de dunas fixas e lagoas do Bairro de Ponta Negra (Região de Lagoinha – Regulamentada pelaLei Municipal Nº 5.665, de 21 de junho de 2004) – Complexo de dunas e lagoas com desenvolvimento de vegetação com espécies predominantes de formação de tabuleiro litorâneo e espécies da Mata Atlântica. Este ecossistema constitui umas das principais áreas de recarga dos aqüíferos – (águas subterrâneas).

ZPA-09: Ecossistema de lagoas e dunas ao longo do Rio Doce – Ambiente de potencial paisagístico e turístico, compreendendo o sistema de dunas e lagoas associado ao vale do rio Doce. Além das funções de perenização do rio e de recarga dos aquíferos, este complexo é utilizado em atividades agrícolas.

As lagoas na Grande Natal:

LAGOA DO JIQUI

A bacia do Rio Pirangi está inserida numa área de 460 km2, equivalente a 0,9% do território estadual, abrangendo o rio Pium, Pitimbu e a lagoa do Jiqui. O Rio Pium é um dos afluentes principais da bacia do Rio Pirangi. Ele tem suas nascentes em São José de Mipibu e suas águas abastecem a lagoa do Pium em Nísia Floresta.

Um dos afluentes importantes desta bacia é o Rio Pitimbu, que nasce no Distrito de Lamarão no Município de Macaíba, drenando suas águas para o Município de Parnamirim, onde acumulará, principalmente, suas águas na lagoa do Jiqui. A manutenção dessa bacia é essencial para o abastecimento d’água das regiões administrativas Sul, Leste e Oeste do Natal, o que corresponde a 30% do abastecimento da capital e do Município de Parnamirim.

Antiga “Avenida do Jiqui”, cruzamento com a Av. das Alagoas, imediações do Conjunto Jiqui (década de 1980). Foto: Acervo “A República”.
Vista aérea da Lagoa do Jiqui – Acervo SEMURB

LAGOA DE EXTREMOZ

Ocupa uma área territorial de 388 Km2, equivalente a 0,7% do estado, abrangendo seis municípios: Taipu, Ielmo Marinho, Ceará–Mirim, São Gonçalo do Amarante, Extremoz e Natal. A bacia é composta pelos rios Guajiru (nascentes em Ielmo Marinho e São Gonçalo do Amarante) e Mudo (nascentes em Taipu e Ielmo Marinho), os quais abastecem a Lagoa de Extremoz, drenando suas águas no município de Ceará–Mirim. A desembocadura da lagoa de Extremoz forma o Rio Doce e, esse divide os territórios de Extremoz e Natal, indo desaguar no estuário do Rio Potengi. Graças ao grande volume de água da Lagoa de Extremoz, 70% da população da zona norte é beneficiada com abastecimento de água.

Vista aérea da Lagoa de Extremoz. Acervo SEMURB

FONTES:

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CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal. Natal: EDUFRN, 2010.

CASCUDO, Luís da Câmara. Nomes da terra: história, geografia e toponímia do Rio Grande do Norte. Natal: Fundação José Augusto, 1968.

CICCO, Januário. Como se higienzaria Natal: algumas considerações sobre o seu saneamento. In: LIMA, Pedro de. Saneamento e urbanização em Natal: Januário Cicco, 1920. Natal: Sebo vermelho, 2003.

LAET, Joannes. História ou anais dos feitos da Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais desde o seu começo até o fim do ano de 1636. Livros VIII-X. In: Anais da Biblioteca Nacional, 1916, v. XXXVIII.

LOPES, Fátima Martins. Índios, colonos e missionários na colonização da Capitania do Rio Grande. Mossoró: Fundação Vingt-Um Rosado; Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, 2003.

LYRA, Carlos. Natal através do tempo. Natal: Sebo Vermelho, 2001.

MEDEIROS FILHO, Olavo de. Aconteceu na capitania do Rio Grande. Natal: Departamento Estadual de Imprensa, 1997.

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MENDES, Cândido. Atlas do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Lithographia do Instituto Philomathico, 1868.

PINTO, Laudo. Natal que eu vi. Natal: Imprensa Universitária, 1971. 71 p.

SANTOS JUNIOR, Olavo. Características geotécnicas dos solos da região de natalrn. http://www.ufrn.br/sites/producao_ct/sec1_1.html- 07/07/2007

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WANDERLEY, João C. Relatorio apresentado a Assemblea Legislativa Provincial do Rio Grande do Norte. Pernambuco: Typographia de M. F. de Faria, 1851. 27 p.

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A eletricidade chega à cidade: inovação técnica e a vida urbana em Natal (1911-1940) / Alenuska Kelly Guimarães Andrade. – 2009.

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A palavra sobreposta: imagens contemporâneas da Segunda Guerra em Natal / Josimey Costa. – 2. ed. – Natal, RN: EDUFRN, 2015.

Além das xícaras: a construção do Café São Luiz como lugar de memória em Natal (1950-1980)/ Augusto Bernardino de Medeiros – Natal, RN, 2013

Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.

Anuário Natal 2007 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2008.

ANUÁRIO NATAL 2013 / Organizado por: Carlos Eduardo Pereira da Hora, Fernando Antonio Carneiro de Medeiros, Luciano Fábio Dantas Capistrano. – Natal : SEMURB, 2013.

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Dos bondes ao Hippie Drive-in [recurso eletrônico]: fragmentos do cotidiano da cidade do Natal/ Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro. – Natal, RN: EDUFRN, 2017.

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UM ARTÍFICE MINEIRO PELO PAÍS: Formação, trajetória e produção do arquiteto Herculano Ramos em Natal / Débora Youchoubel Pereira de Araújo Luna. – Natal, RN, 2016.

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