A antiga fábrica de gelo de Natal

De acordo com Cascudo, a primeira vez que viram gelo em Natal foi em 2 de dezembro de 1868, por ocasião de um baile organizado para comemorar a volta do Partido Conservador ao Poder e a chegada do novo Presidente da Província, o Dr. Manuel José Marinho da Cunha. Em uma barcaça vinda de Recife trouxeram para o evento “frutas, melões, melancias, abacaxis, laranjas da Bahia, limão de cheiro. E, pela primeira vez na história, gelo. (CASCUDO, Luís da Câmara História da Cidade do Natal, p.243.) Foram desembarcadas em Natal dez arrobas de gelo.

Nunca se tinha visto gelo. Quem podia andar, foi ver, com os olhos que a terra há de comer”. O gelo, que foi a novidade admirada por curiosos dos preparativos daquele baile de 1868, por dois contos de réis, foi um dos objetivos dos investimentos realizados no setor elétrico em Natal. In. CASCUDO, Câmara. Acta Diurna – O Baile de 1868. A Republica. 01 Out.1939.

Na rua da Conceição existiu um palácio, que serviu de sede ao Poder Executivo no período de 1862 a 1869, o qual foi demolido juntamente com outros prédios, para nos terrenos ser construída a Praça 7 de Setembro. Naquele velho palácio realizou-se um dos mais famosos bailes em Natal, no dia 2 de dezembro de1868, em cuja ocasião foi servida, pela primeira vez na Cidade, bebida gelada. O gelo veio a Natal, embarcado desde o Recife.

Apesar de conhecido como antigo Palácio do Governo, esse foi o quinto prédio a funcionar como sede do poder municipal. Os anteriores, todos localizados na Cidade Alta, nas imediações da Praça André de Albuquerque, não existem mais. Construído antes de 1869, lá se hospedou no final do século XIX o Conde D’Eu, casado com a Princesa Isabel. Foi ainda neste palácio que Pedro Velho anunciou, da sacada, que havia sido proclamada a República no Brasil. Deixou de ser a sede do governo local em 1902, com a transferência para o Palácio Potengi, na Cidade Alta. Já na época da Segunda Guerra Mundial serviu como endereço para o Wonder Bar ou Bar Maravilha, o mais famoso ponto de encontro local, as querelas advindas pelas preferências das prostitutas levavam a brigas e confusões. O antigo Wander bar ou Wonder Bar era de propriedade do Dr.Lettieri, Vice-Cônsul da Itália.
Palácio Presidencial. Rua do Commercio, Ribeira – Rua Tarquínio de Souza – Rua Chile, antiga Rua da Praia. Detalhe de foto de Bruno Bourgard.

TRAVESSA VENEZUELA

Inauguração da primeira fábrica de gelo no bairro da Ribeira, na Travessa Venezuela, no dia 28 de janeiro de 1902 (ou em 28 de junho de 1902).

Por volta de 1870, instalou-se naquele logradouro público, o comerciante Antônio ldalino de Vasconcelos. Naturalmente a travessa ficou popularizada pela denominação de Beco do Antônio ldalino. Era uma via pública de grande movimento, pois todas as pessoas que desembarcavam no Cais Pedro de Barros, atual Cais da Tavares de Lira, para alcançar a rua Correa Teles, atual Dr. Barata, atravessavam obrigatoriamente o Beco do Antônio ldalino. A Intendência Municipal de Natal, que em 1888 reviu toda a nomenclatura urbana da Cidade, resolveu homenagear o farmacêutico Victor José de Medeiros, mudando o topônimo daquele logradouro para Travessa do Medeiros, através do decreto de 13 de fevereiro. O Conselho da Intendência Municipal de Natal, visando desenvolver uma política de boa vizinhança, resolveu rebatizar vários logradouros públicos da Cidade com os nomes de nações sul americanas que mantinham relações amigáveis com o Brasil. Então, pela resolução nº 74, de 15 de fevereiro de 1902, a Travessa do Medeiros teve a sua denominação oficialmente substituída por Travessa Venezuela.

Travessa Venezuela, no bairro da Ribeira, passa a chamar-se Aldo Parissot, conforme publicação do Diario Oficial do Municipio de Natal desta 2a feira, 14/03/2022 (a publicação da Lei Nº 7.286 no Diário Oficial do Município). Aldo foi um grande violinista Potiguar, professor nas melhores escolas de músicas dos Estados Unidos, logo, será uma grande homenagem a Parissot ter uma travessa com seu nome, reafirmando o nosso compromisso com a Cultura, Educação e Artes.

EMPRESA DE ILUMINAÇÃO A GÁS ACETILENO

Em 1905, a iluminação pública de Natal se dava por meio de lampiões abastecidos com querosene, responsabilidade da Empresa de Iluminação a Gás Acetileno, de propriedade de Francisco Valle de Miranda e Domingos Barros(CASCUDO, Câmara. História da Cidade do Natal. Op. cit., p.283.). Somente nesse ano iniciou-se o processo de iluminação a gás acetileno.

Em maio de 1905, tem-se denúncias a respeito da qualidade do serviço de iluminação a gás acetileno, pois a fumaça estava escapando dos bicos, produzindo enxaquecas, tosses e indigestões. Tem-se ainda mais reclamações sobre lampiões que permaneciam apagados.

No ano seguinte, a nova fábrica de gelo permitiu ao Café Natal acrescentar em seu cardápio sorvetes e frios. (CAFÉ natalense. A Republica, Natal, 7 abr. 1906) Para atrair a presença dos jovens, foram acrescentadas às atrações regulares dos cafés os frenéticos ritmos dos anos vinte como o jazz, o fox-trot, e até mesmo o tango, que movimentavam as pistas de dança dos cafés nos finais de semana. Nos cafés também tomaram lugar os famosos chás dançantes. A reunião, comumente chamada de Thédansante, transformou o chá da tarde numa verdadeira festa.(BAR america. A Republica, Natal, 19 mar. 1929; CAFÉ Tyrol, A Republica, Natal, 2 ago. 1924).

EMPRESA DE MELHORAMENTOS DE NATAL

Em 1908, a Empresa de Iluminação a Gás Acetileno mudou de denominação, passando a chamar-se Empresa de Melhoramentos de Natal, uma vez que começou a cuidar não apenas dos serviços de iluminação, mas também do transporte urbano, com a introdução dos bondes a tração animal (ARRAIS, Raimundo; ANDRADE, Alenuska; MARINHO, Márcia. O corpo e a alma da cidade. Op. cit., p.98.). Somente no ano de 1911, os serviços públicos de eletricidade foram inaugurados (CASCUDO, Câmara. História da Cidade do Natal. Op. cit., p. 282-283.).

Em outubro de 1908, o periódico oposicionista mencionava a necessidade de fiscalização em relação ao serviço de iluminação, uma vez que era rara a “rua em que durante a noite não se encontram combustores apagados”.

Segundo Oliveira (1998), o empréstimo externo que viabilizou a empreitada do governo estadual, foi concedido pelo Congresso Legislativo Estadual, em 18 de novembro de 1909, mediante Lei nº 270a, , com os banqueiros franceses Perles Frères, Eugène Vasseur e o Banco Sindical Francês, no valor de 350.000 libras esterlinas, equivalente a 5 mil contos de réis, amortizáveis em 37 anos. Como garantias, o governo apresentou as rendas oriundas do imposto sobre exportação do sal e dos serviços urbanos efetuados em Natal. Vale destacar que o Estado concluiu o pagamento da dívida desse empréstimo em 1954. Com a liberação desses recursos, o governo do Estado passou a realizar contratação de obras e serviços, dentre as quais em 1910:

Com a Empresa de Melhoramentos de Natal, de propriedade de Valle Miranda & Domingos Barros(genro de Fabrício Maranhão, irmão do governador), para a execução dos serviços de iluminação e bondes elétricos, abastecimento de água, coleta de lixo, construção de uma usina elétrica, rede telefônica, fábrica de gelo e de cerâmica, dentre outros serviços.

O memorialista Cláudio Galvão relata que o maestro Waldemar de Almeida, em seu tempo de estudante, uma pista sobre a localização deuma Fábrica de Gelo por volta da primeira década do século XX:

“Uma pequena turma me acompanhava. Tudo o que eu dizia, achavam graça… ninguém discordava de mim… Naquele instante, com cinco mil-réis bem trocados no bolso e já perto do pátio do mercado, onde os garapeiros estacionavam perto da fábrica de gelo gritavam “está geladinha de doer”, não era boa política discordar do colega que ia pagar o caldo de cana.”

CINEMA POLYTHEAMA

No dia 02.10.1911 foram inaugurados a energia elétrica e os bondes elétricos. Nesse mesmo ano, dia 08 de dezembro, foi inaugurado o Cinema Polytheama, o primeiro de Natal, pertencente ao sr. Petronilo Gomes de Paiva. Ficava a princípio na Rua do Comercio, sendo transferido em 1915 para um elegante prédio na Praça Augusto Severo.

O Polytheama, além da sala de projeção, oferecia salas de jogos, serviço de bar e uma sorveteria. Era frequentado por um público seleto, mulheres vestidas à moda de Paris, homens de ternos, chapéus e bengalas. Não importava o calor da cidade.

Quem já ouviu a expressão “vamos tomar um poli ?” Ela é própria dessa época e usada para se fazer um convite para tomar (chupar) um picolé servido em taça, especialidade da sorveteria do Polytheama. Com o tempo a palavra “poli” passou a ter uso recorrente para referir-se a um picolé caseiro em forma de cubo, congelado em caçambas de gelo de refrigeradores domésticos e servidos espetados em palito.

Cine Polythema na Praça Augusto Severo – “O Polytheama, um dos primeiros cinemas da cidade, oferecia em sua estrutura além da sala de projeção, salas de jogos, serviço de bar, sorveteria e palco para apresentações teatrais”

EMPRESA TRAÇÃO FORÇA E LUZ ELÉTRICA DE NATAL

No ano de 1913 tem-se nova mudança: a Empresa de Melhoramentos de Natal foi substituída pela Empresa Tração Força e Luz Elétrica de Natal, de Alfredo Solon, que passou a ser responsável também pelo fornecimento de serviços como água, coleta, incineração de lixo, fábrica de gelo e serviços de telefonia (ARRAIS, Raimundo; ANDRADE, Alenuska; MARINHO, Márcia. O corpo e a alma da cidade. Op. cit., p.100). É válido lembrar que, a partir de 1910, os serviços de luz, água, esgoto, tração e limpeza públicas da capital passaram a ser responsabilidade da esfera estadual (RIO GRANDE DO NORTE. Lei n. 216 de 28 de fevereiro de 1910. Actos Legislativos e Decretos do governo(1910). Natal: Typographia do A Republica, 1911.). Mesmo diante das transformações nos serviços de iluminação, as reclamações continuaram, mas diminuíram de frequência.

Capa do contrato com a empresa Tração, Força e Luz Elétrica de Natal.
Fonte: Acervo do Centro Norte Rio-grandense, Rio de Janeiro.

Desse modo, os serviços urbanos de Natal eram realizados sob o regime de concessão a empresas privadas, ao mesmo tempo em que as empresas concessionárias mantinham-se sob a proteção do governo, dependendo de incentivos e verbas governamentais para realização dos melhoramentos (A Republica, n.239, 1916.). Esses incentivos eram previstos nos termos do contrato com a empresa, de acordo com a décima nona cláusula: “ficam os cessionários isentos de todos os impostos estaduaes e municipaes de qualquer especie, presentes ou futuros sobre a industria de concessão”. Enquanto as obrigações do governo foram descritas na vigésima cláusula: desapropriar, por utilidade pública, terrenos necessários; pedir isenção de impostos aduaneiros e garantir a demais vantagens concedidas por lei aos serviços estaduais e municipais (GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. Contrato para a Luz, Força, tracção, Águas, Exgottos, Telephones etc. São Paulo: Siqueira, Nagel & Comp. 1913. p. 9.).

Essa empresa utilizaria, por arrendamento do Estado, a infra-estrutura montada pela concessionária anterior, composta por obras e terrenos de propriedade do Estado, como, por exemplo, as redes distribuição de água de coleta dos esgotos, os trilhos das linhas do bonde já assentados, dois carros motores, um carro-motor de carga, um carro reboque, um carro funerário, e rede aérea para distribuição de eletricidade. A usina chegou
às mãos da T. F. e Luz de Natal com

Dois motores a gaz pobre, de duzentos e vinte cavallos cada motor; dois dynamos de corrente continua de sessenta KW cada: dois dynamos de corrente continua de setenta e cinco KW cada, com fabrica de gelo; – câmara figorifica, fabrica de ceramica e de todos os terrenos do Baldo, Bica e sítio adquirido para instalação da usina (GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. Contrato para a Luz, Força, tracção, Águas, Exgottos, Telephones etc. São Paulo: Siqueira, Nagel & Comp. 1913. p. 9.).

Maquinário da Empresa Força e Luz. Entre as engrenagens o operário aparece pequeno entre as engrenagens da usina. Fonte: Solar João Galvão de Medeiros.

Uma comparação das melhorias na infra-estrutura entre diferentes serviços urbanos no intervalo entre 1912 e 1916 nos dá a dimensão das ações empreendidas no período. Dentre as mudanças estava a realização de reformas na Usina do Oitizeiro, o que possibilitou que se dispensasse o uso do gás acetileno para realizar a iluminação da cidade (Elaborado com base em matéria do Jornal A Republica, n° 269, 1916.):

Em abril de 1919, moradores reclamaram da iluminação da avenida Deodoro e da rua Coronel Bonifácio, no bairro Cidade Alta, destacando a existência de várias lâmpadas inutilizadas. Ressaltava-se a importância de solucionar o problema de iluminação nas referidas avenidas, já que elas eram “frequentemente transitadas pelo bonds”, entre outras matérias. Ver: BILHETE postal. A Republica, Natal, 20 maio 1905; ILLUMINAÇÃO publica. A Republica, Natal, 24 maio 1905; ILLUMINAÇÃO publica. Diario do Natal, Natal, 15 out. 1908; VARIAS. A Republica, Natal, 3 abr. 1919.

O contrato assinado com o Governo do Estado (GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. Contrato para a Luz, Força, tracção, Águas, Exgottos, Telephones etc. São Paulo: Siqueira, Nagel & Comp. 1913. p. 9.) previa o tempo de exploração dos serviços urbanos em até cinquenta anos, porém a empresa esteve à frente dos serviços apenas por sete anos, entre os anos de 1913 e 1920. As melhorias empreendidas por essa empresa foram poucas e a população estampava sua insatisfação em contínuas queixas publicadas nos jornais locais, acusando problemas em relação aos serviços prestados pela empresa. Essa insatisfação culminou na abertura de nova concorrência para empresas que tivessem interesses em assumir os serviços de água, luz e telefone da capital. Na época, o governador José Antônio de Melo e Souza informou n’A Republica a abertura da concorrência:

faiz-se publico que, por acto desta data o sr. Governador resolveu prorrogar por mais sessenta dias o praso, fixado por edital de 6 de Abril ultimo para a apresentação de propostas ao contracto dos serviços urbanos de viação, illuminação publica e particular, abastecimento d”água, telephones, remoção de lixo, esgottos e fabricas de gelo, conforme as bases que se acham nesta Secretaria á disposição dos interessados(SOUZA, Antônio J. de Mello e. EDITAIS. A Republica, 25 de novembro de 1921, p. 1.).

As crescentes dificuldades financeiras do estado e do município impediam, justificava se, o pleno restabelecimento do fornecimento dos serviços. O tráfego dos bondes era cada vez mais irregular e, por vezes, nem mesmo acontecia. Ao longo de 1921, o governo estadual tentou, sem sucesso, a contratação de uma nova empresa concessionária (para os serviços urbanos de viação, iluminação pública e particular, telefonia, abastecimento d’água, remoção de lixo, drenagem das águas pluviais e fábrica de gelo) por meio dos reiterados editais de concorrência pública. Por fim, decidiu abrir um crédito extraordinário de 600 contos de réis por meio do decreto n.º 150, de 8 de setembro de 1921, encaminhado ad referendum do congresso legislativo, com o intuito de viabilizar a operação dos serviços básicos por parte da administração pública, reparando a maquinaria da usina elétrica e adquirindo o material necessário – fios de transmissão de energia, dormentes, motores e carros novos – à normalização do tráfego dos bondes. (“Editais”, A República, Natal, n.145, p.2, 08 jul. 1921; Mello e Souza (Mensagem de Governo do RN), 1921, p.32-33.).

Companhia Força e Luz.

As mudanças na cidade não se encerraram na substituição da iluminação dos espaços públicos da cidade: o trilho do bonde e os postes de energia elétrica levavam consigo o ar de progresso às ruas da cidade, compondo uma paisagem que se fazia onipresente em meio à estrutura urbana ainda colonial. Contudo, a insuficiência do sistema para sustentar a demanda, a limitação dos recursos, a falta de mercado consumidor, as dificuldades de manutenção, dentre outros fatores, marcam um processo de crise que atravessou os anos 1910, pondo em xeque os elementos de modernidade, o que culminaria na interrupção da concessão dos serviços urbanos junto à Empresa Tração, Força e Luz, em 1920.

REPARTIÇÃO SERVIÇOS URBANOS

Em 1921 o governador Antônio José de Melo e Souza visando atender o interesse público criou a “Repartição Serviços Urbanos” com a missão de gerir a prestação dos serviços de: bonde, coleta de lixo, produção / conservação / venda de gelo, geração e distribuição de energia elétrica e telefonia. Dessa forma os serviços públicos foram estatizados em Natal.

Diretamente subordinada ao Tesouro do Estado e confiada ao engenheiro Ulysses Carneiro Leão, essa Repartição atuou à frente dos serviços urbanos durante toda década de 1920. As verbas originadas da arrecadação das tarifas, de transporte urbano, de distribuição de água, coleta de lixo e fornecimento de eletricidade passaram à administração do governo, que tornou mais rígido o sistema de cobranças das taxas, alegando que a inadimplência tornava difícil a realização das reformas necessárias.

No início do ano de 1925, essa Repartição iniciou a reorganização dos serviços urbanos para aumentar a capacidade energética da usina, melhorar a distribuição e esticar a linha de bonde. De acordo, relatório do primeiro ano de governo de José Augusto, para essa reorganização dos serviços realizou-se um balanço patrimonial da usina, oficina e escritório para se prevê as melhorias e recursos necessários. De acordo com o texto do relatório:

Foram tambem iniciados os serviços de reforma da fabrica de gelo e secção de telephones, os quaes serão ampliados em condições de melhor
servir ao publico.

A torre do lado esquerdo era de saída dos fios telefônicos da “Repartição de Serviços Urbanos” que cuidava de energia elétrica, telefonia, lixo, gelo e ” quebrava o galho” ajudando na funerária para os pobres. Avenida Tavares de Lyra, Ribeira O prédio mais escuro era sede do Banco do Brasil, esquina com a Rua Doutor Barata.

A reorganização dos serviços, agora dirigidos por uma comissão de engenheiros estabelecida pelo governo estadual, se estendeu até 1924 – e compõe a terceira parte. Por fim, o artigo discute a expansão dos serviços baseados na eletricidade até o final da década de 1920, o que demandou o aumento da capacidade da Usina Elétrica do Oitizeiro e mostraria os limites para a ação estatal no financiamento da expansão do fornecimento de energia elétrica. Foi nesse contexto, marcado também nacionalmente pelo impulso à industrialização, que a American and Foreign Power Country – AMFORP – se instalaria no Rio Grande do Norte e, no caso de Natal, assumiria os serviços urbanos a partir de 1930, ampliando a partir de então as bases materiais de fornecimento de energia elétrica e, em consequência, viabilizando um novo ciclo de modernização urbana.

Um dos casarões mais polêmicos do bairro da Ribeira tem início no século XX na Rua das Virgens (atual Rua Câmara Cascudo) n°184, no local Guglielmo Lettiere, um imigrante Italiano, construiu a sua casa em meados de 1910, uma das mais bonitas do bairro. Guglielmo tinha um senso para o comércio e vendeu de quase tudo, de ferro velho até gelo. Sendo a sua fábrica de gelo, fundada em 1930, a primeira do ramo na cidade. Ficando conhecido pelo seu empreendimento comercial de maior sucesso o chamado de Cantina Lettiere.

Em 1938, foi nomeado cônsul de seu país de origem no Rio Grande do Norte e sua casa passou a funcionar como consulado em Natal. A sua admiração pelo primeiro ministro da Itália e líder do Partido Nacional Fascista, Benito Mussolini, e por Adolf Hitler, chanceler alemão, fez com que o italiano construísse no cômodo superior de sua casa, no piso, com mosaicos uma grande suástica nazista. Enquanto isso o piso do salão inferior era composto por pequenos ladrilhos também com suásticas.

Guglielmo tinha um contato próximo com o folclorista e historiador potiguar Câmara Cascudo. O italiano e Cascudo se aproximaram por terem interesses em comum. Segundo o historiador e o atual proprietário do prédio, Leonardo Barata, em um artigo publicado no Substantivo Plural, ambos nutriam admiração pelo regime nazi-fascista, que crescia em poder durante a década de 1930 na Europa.

Sua amizade era tão forte que usando sua influência e importância, em uma das visitas que Cascudo fez a casa de Letierre, o potiguar recebeu uma medalha Rei Humberto, uma honraria das mais altas condecorações do regime fascista. Além disto Cascudo fez parte da Ação Integralista Brasileira, movimento de extrema direita simpatizante do fascismo, tendo sido chefe regional durante algum tempo. Contudo após os horrores cometidos pelo nazismo e fascismo vieram a público, Cascudo e muitos outros ligados a Ação Integralista ficaram desacreditados com os regimes e o abandonaram, diferente do Guglielmo.

A sua simpatia pelo regime nazista e a sua ligação com a Itália fascista, gerou desconfianças e após um período de investigações encabeçado pelos norte-americanos foi julgado pelo Tribunal de Segurança Nacional em 25 de junho de 1942 acusado de espionagem, e em dezembro do mesmo ano foi condenado a 14 anos de prisão. Contudo não teve que esperar mais do que uma década para ser solto, sua liberdade veio após o fim da guerra, já que o presidente Getúlio Vargas concedeu anistia aos presos políticos. Guglielmo veio a falecer 13 anos mais tarde, em 1958, em decorrência de problemas do coração e sua família optou por vender o seu imóvel à Bolsa de Valores de Natal no ano seguinte. Por mais inusitado que pareça durante a década de 1960 existia uma bolsa de valores em cada estado brasileiro e a do Rio Grande do Norte era sediada em Natal. Alguns anos mais tarde a Bolsa de Valores foi desativada e a propriedade foi comprada pelo comerciante Sinval Moreira Dias que estabeleceu no local uma oficina de placas.

Interessado pela história do prédio, o historiador Leonardo Barata comprou a propriedade, onde estava funcionando a oficina. Barata passou meses trabalhando no processo de recuperação do imóvel preservando a arquitetura original e, em 2011, o Consulado Bar foi inaugurado, mantendo as suásticas nazistas presente no ambiente, com o intuito de preservar a memória do local. Hoje a controversa história do imóvel compõe um dos ingredientes para os frequentadores do bar. Com o fim do empreendimento atualmente encontra-se sem uso comercial aparente.

A movimentação cultural da Rua Chile existiu desde o começo do século XX, dando “uma esfriada” apenas entre os anos 70 e 80, até ressurgir em 1996. “Foi um período que a rua serviu apenas para oficinas, peixarias, fábricas de gelo…”, diz, frisando a importância que a Rua teve na visibilidade às bandas de Rock autoral da cidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

A eletricidade chega à cidade: inovação técnica e a vida urbana em Natal (1911-1940) / Alenuska Kelly Guimarães Andrade. – 2009.

CASCUDO, Luís da Câmara, História da Cidade do Natal. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980.

CIDADE, TERRA E JOGO SOCIAL: APROPRIAÇÃO E USO DO PATRIMÔNIO FUNDIÁRIO NATALENSE E SEU IMPACTO NAS REDES DE PODER LOCAIS (1903-1929) / GABRIELA FERNANDES DE SIQUEIRA. – FORTALEZA, 2019.

A MODERNIZAÇÃO DA CIDADE DO NATAL: O AFORMOSEAMENTO DO BAIRRO DA RIBEIRA (1899-1920) / LÍDIA MAIA NETA. – NATAL/Dez/2000.

Anuário Natal 2007 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2008.

Caminhos de Natal / Jeanne Fonseca Leite Nesi ; ilustrações, Urban Sketchers Natal. – Dados eletrônicos (1 arquivo PDF). – 2. ed. – Natal, RN : IPHAN, 2020.

Linhas convulsas e tortuosas retificações e tortuosas retificações Transformações urbanas em Natal nos anos 1920 / George Alexandre Ferreira Dantas. – São Carlos, 2003.

Natal Não-Há-Tal: Aspectos da História da Cidade do Natal/Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo; organização de João. Gothardo Dantas Emerenciano. _ Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2007.

Natal também civiliza-se: sociabilidade, lazer e esporte na Belle Époque Natalense (1900-1930) / Márcia Maria Fonseca Marinho. – Natal, RN, 2008.

O nosso maestro: biografia de Waldemar de Almeida / Cláudio Galvão. – Natal: EDUFRN, 2019.

Um espaço pioneiro de modernidade educacional: Grupo Escolar “Augusto Severo” – Natal/RN (1908-13). Ana Zélia Maria Moreira. – Natal, RN, 2005.

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