Coronel José Bernardo de Medeiros: o homem e a rua

JOSÉ BERNARDO DE MEDEIROS nasceu no dia 20 de agosto de 1837 no município de São João do Sabugi (então pertencente ao município de Caicó), no estado do Rio Grande do Norte, filho de João Felipe de Medeiros e Joana Porfíria de Medeiros; neto paterno de João Garcia de Araújo e Maria Francisca de Medeiros; neto materno de Sebastião José de Medeiros e Maria Francisca do Espírito Santo. Faleceu em Caicó no dia 15 de janeiro de 1907, aos 69 anos.

Só aos onze anos de idade começou a frequentar a escola primária, passando aos 13 a estudar a clássica língua nacional, latim e francês com os mestres do interior, entre os quais o sacerdote caicoense Joaquim Félix de Medeiros que exerceu por muitos anos o magistério em São João do Sabugi. Foram estes os seus únicos estudos (João Alves de Melo, Natureza e História do Rio Grande do Norte, p. 549).

Inteligente, hábil, ponderado e criterioso, assumiria pouco a pouco posição de destaque no contexto político do Seridó. Foi subdelegado de polícia do então Distrito de Caicó (1859), administrador da Mesa de Rendas (1860), Vereador por 4 mandatos e Presidente da Câmara Municipal (1860), suplente de Juiz Municipal (1861), Coletor Provincial (1862), Tenente-Coronel Comandante de Batalhão da Guarda Nacional (1867) e, no mesmo ano, ficou conhecido como José Bernardo quando eleito pela primeira vez Deputado Provincial, cargo a que seria conduzido em seis legislaturas, também ali constituindo-se presidente: Presidiu a Assembléia Provincial nas sessões de 1883 e 1885, tendo sido deputado nos biênios de 1868-1869, 1878-1879, 1880-1881, 1882-1883, 1884-1885 e 1888-1889 (Tavares de Lira, História do Rio Grande do Norte, p. 335). Sua carreira política não é rápida, é contínua, segura, sem solução de continuidade.

Nomeado pelo Governo Imperial, duas vezes chegaria à vice-Presidência: Foi quarto vice-Presidente da Província em 1882 e segundo em 1884 (Tavares de Lira, op. cit., mesma página). Foi Senador por dois mandatos: 1890 a 1900 e de 1900 a 1907. Teve o mandato de 9 anos na Primeira Legislatura em virtude de ter sido o mais votado dentre os 3 Senadores eleitos.

Quando da Guerra do Paraguai, ofereceu-se ao Governo Imperial como voluntário, disposto a defender a Pátria (esta informação colhemos em João Alves de Melo, op. cit. p. 550). Aos 24 de setembro de 1865, José Bernardo de Medeiros dispunha-se a lutar na Guerra do Paraguai, atendo aos apelos do Dr. Olinto José Meira, Presidente da Província do Rio Grande do Norte. José Bernardo partiu para o Rio de Janeiro em companhia de parentes, conterrâneos e amigos, onde chegou a 29-12-1865. Mas, tendo o Governo Imperial dispensado o Batalhão de Voluntários do Seridó, o bravo caicoense retornou ao Rio Grande do Norte, a bordo do paquete ‘Tocantins’, desembarcando em Natal no dia 23 de janeiro de 1866.

José Bernardo foi Chefe do Partido Liberal do Sertão, Chefe Eleitoral e era um abolicionista atuante. Ficou ao lado de Glicério na cisão do PRF. Foi ainda Sócio-Fundador do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte.

Fundado em 29 de março de 1902, por um grupo de notáveis, teve ex-governadores, intelectuais e figuras proeminentes do Estado nos seus quadros, entre os quais José Bernardo.
José Bernardo.

Dele, disse Cascudo: Era o maior prestígio político do Seridó. Chefe liberal do sertão, cognominado pela oposição “Bispo do Seridó”, teve atuação destacada nos últimos anos da monarquia e primeiros da República (História do Rio Grande do Norte, p. 508). Faleceu na Fazenda “Solidão”, em Caicó, a 15 de janeiro de 1907.

FAMÍLIA

Casou-se em Caicó no ano de 1858 com PAULINA ENGRÁCIA FERNANDES, nascida em Caicó a 16 de abril de 1844 e falecida na mesma cidade no dia 11 de janeiro de 1893, aos 48 anos, filha de Joaquim Apolinar Pereira de Brito (sobrinho do Padre Francisco de Brito Guerra, Senador do Império) (V. “BRITO GUERRA, Pe. Francisco de”, Século XVIII) e Maria Isabel Fernandes; neta paterna de Joaquim de Santana Pereira e Maria Teresa das Mercês; neta materna de Cosme Damião Fernandes e Isabel Maria de Araújo. Foram pais de sete filhos:

  1. THEMÍSTOCLES DE MEDEIROS NEWTON
  2. ERMELINDA
  3. CÂNDIDA OLINDINA DE MEDEIROS
  4. a – ESPERIDIÃO ELOY DE MEDEIROS
    4. b – EUTICIANO DE MEDEIROS
  5. JOAQUIM APOLINAR FERNANDES DE MEDEIROS
  6. JOSÉ BERNARDO DE MEDEIROS JÚNIOR
  7. MARIA CÂNDIDA DE MEDEIROS
THEMÍSTOCLES DE MEDEIROS NEWTON – Primeiro filho de José Bernardo de Medeiros e Paulina Engrácia Fernandes, nasceu em Caicó no dia 21 de dezembro de 1859. Casou-se em Caicó, no dia 13 de dezembro de 1880, com JOANA BELISA JÁCOME, nascida em 1864 e falecida em Caicó no dia 15 de março de 1891, aos 27 anos, filha de Luís Florêncio Jácome e Jesuína Teodulina da Porciúncula. Não tiveram descendência. Themístocles foi nomeado prefeito de Caicó em maio de 1891, permanecendo no cargo até 31 de dezembro de 1892.
THEMÍSTOCLES casou-se a 2ª.vez com ISAULINA.
CÂNDIDA OLINDINA DE MEDEIROS – A terceira dos filhos de José Bernardo de Medeiros e Paulina Engrácia Fernandes, nasceu em Caicó no ano em 11 de março de 1866. Não há registros de seu falecimento. asou-se na Matriz de Santana, em Caicó, no dia 27 de abril de 1882 com MANUEL AUGUSTO BEZERRA DE ARAÚJO, nascido em Acari/RN a 6 de fevereiro de 1861 e falecido no Rio de Janeiro a 5.12.1907, filho de Silvino Bezerra de Araújo Galvão e Maria Febrônia de Araújo; neto paterno de Cipriano Bezerra Galvão e Isabel Cândida de Jesus; neto materno de Cipriano Lopes Galvão e Ana Marcolina de Jesus.
Ainda encontramos a referência que morreu a 20 de dezembro de 1958, em Caicó, ESPERIDIÃO ELOY DE MEDEIROS – Quarto filho de José Bernardo de Medeiros e Paulina Engrácia Fernandes, gêmeo de Euticiano, nasceu no dia 17 de agosto de 1871, e faleceu em Natal no dia 20 de dezembro de 1958, aos 87 anos. Professor, jornalista, exerceu para vários anos o cargo de tabelião, na cidade do Caicó.

JOAQUIM APOLINAR FERNANDES DE MEDEIROS – Sexto filho de José Bernardo de Medeiros e Paulina Engrácia Fernandes, nascido em Caicó no dia 11 de março de 1873 (batizado na freguesia de Santana). Fez seus estudos superiores no Rio de Janeiro, onde diplomou-se em engenharia e exerceu vários cargos públicos, entre eles, o de administrador da Floresta da Tijuca. Casado com a Isolina Paladini, faleceu no Rio de Janeiro em 12 de novembro de 1936, aos 63 anos.

JOSÉ BERNARDO DE MEDEIROS JÚNIOR – Sétimo filho de José Bernardo de Medeiros e Paulina Engrácia Fernandes, nasceu em Caicó/RN no dia 2 de novembro de 1874 e faleceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no dia 6 de julho de 1954, aos 79 anos. Diplomado pela Faculdade de Direito do Recife, na turma de 1898, ingressando na magistratura, foi nomeado juiz da Comarca de Caçapava do Sul, no Rio Grande do Sul, onde, seguidamente ocupou a comarca de Bagé, no período de 1912 a 1922. Nesse último ano, foi removido para Porto Alegre, onde exerceu suas funções judicantes até aposentar-se em 1929. Foi casado com Clotilde de Barros Cachapuz.
MARIA CÂNDIDA DE MEDEIROS – A oitava e última dos filhos de José Bernardo de Medeiros e Paulina Engrácia Fernandes, nasceu em Caicó em 5 de fevereiro de 1878 e faleceu no em 28 de janeiro de 1962.

CARREIRA POLÍTICA

Deputado Provincial nos biênios de 1868-69, 78-79, 80-81, 82-83, 84-85 e 88-89, presidiu a Assembleia em 1883 e 1885. Quarto vice presidente da Província por nomeação imperial de 4 de novembro de 1882 (1882-1884) e segundo vice-presidente em 15 de junho de 1889.

Deputado provincial e senador do Rio Grande do Norte (1890-1907). Senador mais votado para a Constituinte Republicana. Reeleito em 1899.

No Senado Federal integrou a Comissão de Finanças e foi 2° Secretário da Mesa em 1897; 3° Suplente da Mesa em 1895; 5° Suplente da Mesa em 1896; 4° Suplente em 1898; 1° Suplente em 1900 e 4° Suplente em 1901.

Baixo, forte, moreno claro, bom conversador quando se dispunha, comumente silencioso, com a compostura de chefe tradicional, a hospitalidade dum sertanejo e a naturalidade de um simples, José Bernardo possuía a marca, o sinal oculto, a predestinação da ciência política, o fato das manobras, a orientação dos episódios. Toda a zona do Seridó recorda-lhe a figura impassível, os olhos imóveis e doces, a barba curta e densa, a polidez ininterrupta das maneiras, visíveis e proclamadas, do comprimento de cerimônia até no toque da mão que saudava, o acenar ou a saudação de respeito, retirando o eterno barrete de veludo negro, bordado a ouro.

Quando faleceu, em férias parlamentares, o sertão compreendeu ter perdido o primeiro e o último dos seus chefes de zona. Dele em diante o poder de um chefe circunscrever-se-ia ao seu município, com alternativas de influência e desprestígio oficial.

Sua história é a crônica do Partido Liberal no segundo Distrito. Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti nunca demorou na Província. Preferia manter os seus lugares tenentes, distribuidores de promessas e arautos de benefícios futuros. Eloy Castriciano de Souza teve esse posto no primeiro distrito, longo tempo. Era um homem de admiráveis recursos de estratégia partidária e ficou famoso seu combate contra o coronel Bonifácio soberano do Partido Conservador, para desalojá-lo do seu reduto que era a Câmara Municipal de Natal. Eloy venceu mas ficou esgotado. Morreu logo a seguir, 15 de janeiro de 1881. Substituiu-o outro lugar tenente. o bacharel Euclides Diocleciano de AIbuquerque, falecido a 1º de fevereiro de 1883. José Bernardo, a maior influência, recebeu o óleo da sagração. Os jornais adversários chamavam-no BISPO DO SERIDÓ, tendo em conta a gravidade natural e a circunspecção inata do meneur.

Foi ele a alma e o cérebro do Partido Liberal nas prolongadas ausências de Amaro Bezerra. Escolhia candidatos e preparava chapas. O chefe apenas queria saber os nomes e abençoava a corte fiel. Essa confiança habituou o sertanejo a portar-se como um verdadeiro orientador. Na derradeira eleição monárquica teve-se a prova que o príncipe podia tanto quanto o Rei.

Amaro comprometera-se a eleger pelo segundo distrito o dr. Francisco Luís de Gama Rosa e eleger-se pelo primeiro, feudo de sua exclusiva e inarredável influência. José Bernardo, ouvindo as simpatias sertanejas, indicara o dr. Miguel Joaquim de Almeida Castro, de origem norte-rio-grandense e que fora Deputado Provincial em 1858-59, 60-61, pelo segundo distrito. Amaro recusou homologar a escolha. Prometera ao visconde de Ouro Preto levar Gama Rosa pelo Rio Grande do Norte. Tinha nas mãos todos os elementos de luta. O Governo mandara presidir a Província por um correligionário fiel, Fausto Carlos Barreto. Amaro apresentou-se candidato pelos dois distritos. Eleito por ambos optaria pelo segundo e mandaria,
infalivelmente, Gama Rosa pelo primeiro. José Bernardo derrotou-o no segundo distrito com maioria alta, 886 contra 524. Foram a segundo escrutínio. Miguel Castro obteve 1.112 e Amaro Bezerra 662. Fora o mais renhido pleito de todos quanto a Província assistira. Dois candidatos liberais, três conservadores e dois republicanos tinham apelado para as urnas. Amaro Bezerra e Miguel Castro foram eleitos nessa derradeira eleição imperial, 31 de agosto de 1889. A 15 de novembro, quando estavam nas sessões preparatórias, o 15 de Novembro dispensava-se de salvar o Brasil fazendo leis e votando moções.

Quando veio a República os partidos estavam desorganizados. Amaro tivera cisões. Moreira Brandão era dissidente e com elementos. Os conservadores estavam divididos. Tarquínio, autônomo e sem chefe real e eleitorado saquarema do segundo distrito, depois que o Padre João Manuel vivara a República.

Pedro Velho aproximou-se do chefe sertanejo e nos primeiros dias da administração republicana José Bernardo figurou no secretariado com a pasta do Interior. Em 3 de dezembro lançava manifesto aderindo ao novo regime.

O outro grupo apoiador de Pedro Velho era o da Botica, a seção do conselheiro Tarquínio de Souza. Amaro Bezerra não perdeu tempo. Tomou posição e recomeçou a marcha. José Bernardo estava definitivamente separado dele. A nomeação de Antônio Basílio para 1º Vice e ele para 2º, em 15 de junho de 1889, exasperara seus amigos e o velho dominador sentira-se magoado com a preterição patente. A República veio tirar Antônio Basílio da frente da administração e recuar Amaro para Os bastidores. José Bernardo trouxe para Pedro Velho a segurança da sua agremiação disciplinada, sólida, entusiástica Acompanhou-o fielmente. Em 1891 ficou contra seu ex-protegido Miguel Castro que, com a bancada federal, apoiara Deodoro e se elegera Presidente do Estado contra Pedro Velho que votara em Prudente de Morais e sofria a reação do barão de Lucena. José Bernardo votara igualmente em Prudente e assinara o manifesto do Legislativo dissolvido pelo Generalíssimo.

Sua votação para o Senado comprovara a popularidade crescente do seu nome.

Mais votado, ficara com o mandato de nove anos.

Era, entretanto, fatal o rompimento entre os dois. Pessoalmente José Bernardo admirava Pedro Velho e reconhecia o direito incontestável que lhe assistia de dirigir a política norte-rio-grandense. Mas existiam os príncipes que gravitavam derredor do velho Rei sertanejo. As duas entourages detestavam-se cordialmente. A escolha de Augusto Severo para suceder ao irmão na Câmara desgostou Janúncio Nóbrega, expressão mais avançada dos históricos seridoenses. Nascimento Castro, que dirigira o Estado, fora Chefe de Polícia e membro da Junta Governativa com a deposição de Miguel Castro, novembro de 1891, era conscientemente o delfim. Foi outro a zangar-se. Todos Os preteridos, descontentes, insatisfeitos e esperançosos de postos e despojos na guerra, cercaram José Bernardo de queixas e de explicações que não primavam em serenidade e compreensão.

Podia-se explicar esse estado de espírito na própria memória pessoal que cada um tinha do poderio eleitoral de José Bernardo. Não se compreendia que ele cedesse a liderança dum Estado em que mandava a maior porção, a terra mais densa, o eleitorado mais decidido e pronto. Sacudir-se Pedro Velho de alguns lugares na representação federal seria passo inicial para a derribada. Janúncio Nóbrega apresentou-se candidato contra Augusto Severo. O Seridó deu dezoito votos a Augusto Severo e 1.187 a Janúncio. A Câmara dos Deputados anulou a eleição. Na renovação, o outro adversário de Augusto Severo foi Tobias do Rego Monteiro. Novamente o Seridó responde. Dá 461 votos a Augusto Severo contra os estridentes 2.457 atirados ao nome de Tobias Monteiro. As outras regiões, imunes do magnetismo, decidiram a questão mandando o futuro mártir do “Pax” para a Câmara dos Deputados. 1892-93 foram anos terríveis para Pedro Velho.

O seridoense José Bernardo de Medeiros foi eleito a 22 de fevereiro de 1892, a vice-governador, pela Assembléia Legislativa, juntamente com o Dr. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, que fora confirmado no governo do Rio Grande do Norte.

A coligação oposicionista nunca operou sem o nome que era uma garantia de seriedade e de honra. José Bernardo andava no meio daquele vendável com o ar de quem cumpre um custoso dever inútil. Mas a política federal desuniria os adversários de Pedro Velho. Oliveira Galvão, Miguel Castro e Antônio Garcia eram furiosos anti-florianistas. Amaro Cavalcanti morria na defesa do Ditador. O próprio segundo candidato à deputação, Tobias Monteiro, sofrera prisão por não aplaudir na imprensa a técnica de Floriano Peixoto promover a felicidade da Pátria. José Bernardo aproximava-se, lentamente, de Floriano, com o efeito da companhia, também simpatizante, de Francisco Glicério e Campos Sales. Amaro Cavalcanti não podia admitir
que Miguel Castro e seus amigos influíssem em Natal dada sua oposição frenética. O vínculo que imobilizara tantos espíritos diversos rompeu-se. Castro ficou com Antônio García e os fiés de Natal, com o “Rio Grande do Norte”, pedindo semanalmente o inferno para Floriano. José Bernardo e Miguel Castro, pela segunda, desavieram-se, publicando cartas explicativas da desunião.

Aos 15 de setembro de 1890, nas eleições realizadas nesta data, o coronel José Bernardo de Medeiros e o Dr. Amaro Cavalcanti, ambos caicoenses, foram eleitos senadores pelo Estado do Rio Grande do Norte à Assembléia Nacional Constituinte, obtendo, respectivamente, 7.752 e 7.445 votos.

Faleceu a 4 de fevereiro de 1893, em Caicó a senhora Paulina Engrácia de Medeiros, esposa do coronel José Bernardo de Medeiros, homem de grande prestígio político no Seridó, no final da Monarquia e nos primeiros anos do regime republicano, que eleito senador, representou o Rio Grande do Norte no Senado da República.

Na eleição de 1º de março de 1894 os horizontes já se aclaravam. A oposição norte-rio-grandense votou em Ruy Barbosa e José Paes de Carvalho para presidente vice presidente da República, Castro, Tobias Monteiro e José Gervásio de Amorim Garcia (irmão de Antônio que não se quis candidatar à reeleição) apresentaram chapa para deputados. Marcos Cavalcanti para o Senado. Amara Cavalcanti, indicado, teve pouco mais de mil votos. Pedro Velho elegeu toda a sua chapa e passou, num passe darmas à onipotência de Floriano Peixoto, Almino Afonso da Câmara para o Senado. O nome sugerido por Floriano é Amaro Cavalcanti que tentou a eleição pela oposição. Pedro Velho, isto é, o governo, votara em Prudente de Morais e Manuel Vitorino. José Bernardo igualmente. Era a posição de soldado que se amuam mas combatem numa trincheira comum. Constituía apenas uma perspectiva de conciliação mas demorou a verificar-se pelo alongamento em escaramuças e guerrilhas.

Em outubro de 1894 Janúncio da Nóbrega e Manuel Dantas fundavam “O Estado”, folha de oposição e sede de resistência. O coronel Virgínio Napoleão Ramos, comandante do 34.0 Batalhão, estava sendo cercado pelas solicitações amistosas dos mais afoítos anti-pedrovelhistas. Virgínio, amando o mel e temendo as abelhas, avançava vagarosamente antevendo a defesa desesperada de Pedro Velho que preparava batalhões patrióticos e arregimentava amigos. Misteriosamente recebia armas e munições do Rio de Janeiro.

O trabalho junto ao coronel Virgínio, para depor Pedro Velho, ganhava terreno. José Bernardo salvou todas essas vidas que a política fanatizara. Telegrafou a Manuel Dantas dizendo que Floriano não daria posse a Prudente de Morais, presidente eleito. As tropas aclama-lo-iam ditador. Pedro Velho declarara que não ficaria um minuto no governo sem a Canstituição que uma Ditadura destruia por sua própria ação catalítica. Assumiria o vice-governador, Silvino Bezerra, sagro de Manuel Dantas e um das grandes eleitores de José Bernardo.

Mas Prudente de Marais assumiu…

No Estado os homens foram chegando à fala. Augusto Severo contou a história de Virgínio Ramos ao Coronel Gabino Besouro que recebera um telegrama de felicitações de Virgínio quando se dera sua deposição em Alagoas. Gabino conseguiu a transferência de Virgínio para o Mato Grosso e telegrafou, felicitando-o.

A mão forte de Pedro Velho caia continuamente sobre a região. Absorvia as atividades, burlando as manobras dos roitelets incapazes de grandes golpes.

A formação partidária que resistiria até 1913 teve ai a estrutura básica, o vigamento mais farte. A tática de prestigiar os dissidentes locais para que enfrentassem o antigo soberano foi uma das especialidades. Mas a recordação do chefe, que tantas vitórias comandara, soldada em aço vivo a solidariedade da região seridoense.

Em fins de 1897 já se entendiam amistosamente. Dois Reis se compreendem sempre quando um deles está disposto a não ser o executivo.

Pedro Velho recebeu uma delegação de seridoenses ilustres que propuseram acordo. Manuel Dantas era uma das expressões conciliatórias do momento, de tão benéficas e fecundas consequências.

O paulista Campos Sales, a 19 de março de 1898, poucos dias depois de eleito Presidente da República, endereçou uma carta ao senador caicoense José Bernardo, na qual esboça claramente o seu pensamento político e o interesse de instituir a ‘política dos governadores’.

Em 1899 não se discutiu a reeleição de José Bernardo.

Impunha-se pela honradez de sua atitude e acima de tudo pela inestimável tradição de caráter e dignidade pessoal de candidato.

Homem de inteligência pronta de íntimo agudo.

José Bernardo teve poucas letras. Conversava fluentemente. Seus manifestos saíram de Janúncio ou de Diógenes da Nóbrega, confarme o segundo me afirmou. Liam para o velho chefe ouvir. Raramente alterava um período que lhe parecia ambíguo. Perguntava sinônimos e assinava o documento. Foi uma linda figura serena, vivendo para mandar, dispondo de tudo e de todos em seis municípios ricos e morreu paupérrimo. Honestidade típica e alta que não necessita registro nos jornais e rebôo de rádio para que exista e constitua parte integrante e essencial duma das mais simpáticas e nobres expressões políticas do Rio Grande do Norte.

Faleceu a 15 de janeiro de 1907, na fazenda Solidão, município de Caicó, o coronel José Bernardo de Medeiros, no pleno exercício de seu mandato como senador da República. Caicoense dos mais ilustres, antigo líder do Partido Liberal, no Império, foi um dos primeiros políticos seridoenses a manifestar apoio à República.

José Bernardo foi um homem “que a nada se poupou a fim de servir à causa do seu partido, um des­prendido e desinteressado, preocupado exclusivamente com o bem de sua terra e a paz do seu povo, na defesa de cujos interesses se colocou sempre coma maior altivez e hombridade”.

A RUA

O logradouro da Rua é uma homenagem póstuma feita em 1908 pela Intendência do Natal ao Coronel José Bernardo falecido em 15 de janeiro de 1907. A via tem seu inicio no sentido Centro / Alecrim na praça Almirante Tamandaré até a esquina com a Rua Ver. José Sotero quando segue com outra denominação: Rua Fonseca e Silva. Trata-se de uma das principais vias de ligação entre o Alecrim e a Cidade Alta sendo portanto o essencial para o deslocamento de pessoas e mercadorias por esta região que é uma das mais importantes capital potiguar. Local de comércio, empresas e instituições sindicais desde a formação da cidade e em particular do bairro tem uma rica história para contar.

Como era hábito à época os cemitérios, os matadouros públicos e os depósitos de lixo eram construídos fora dos limites da cidade. No caso de Natal, esses equipamentos urbanos foram construídos nas proximidades do Baldo. O cemitério havia sido construído em meados do século XIX, no subúrbio, no lugar denominado Alecrim, na subida do Baldo, em direção a oeste, o matadouro público era localizado às margens do rio Potengi, próximo à desembocadura do córrego do Baldo, e o depósito de lixo da cidade ficava entre esses dois equipamentos urbanos. É de se imaginar que a água consumida na cidade tinha, no mínimo, uma qualidade duvidosa.

A perspectiva de tornar o clima da cidade mais arejado favoreceu com que outras praças, mesmo pequenas, fossem alvos dos chamados melhoramentos, recebendo especialmente o plantio de árvores, um ajardinamento adequado e bancos nos quais as pessoas pudessem se acomodar para refrescar-se do calor ou descansar. De forma que pequenos espaços como a Praça da Alegria localizada por trás da igreja matriz de Nossa Senhora da Apresentação, a Praça Leão XIII sito no largo da igreja do Bom Jesus das Dores no bairro da Ribeira, a Praça Pedro Américo instalada em frente à igreja de São Pedro no Alecrim, e as praças da Cidade Nova, Pedro Velho (pracinha) e Pio X, foram se tornando, pouco a pouco, lugares apropriados para o encontro, o passeio, as conversas e o remanso, onde as pessoas iam procurar se esquecer do tempo e dos problemas, um lugar aonde o que poderia perturbar era o cantar dos pássaros e o passar dos ventos por entre as folhas do arvoredo.

Pela Resolução n.54, promulgada em janeiro de 1902, a área urbana de Natal foi definida como “área limitada por uma linha que, partindo da Fortaleza da barra, pela margem direita do rio Salgado até o porto Refoles, dahi se dirige, na direcção leste, á ponte da ‘Areia-preta’ passando pelo ‘Lazaretto da Piedade’ e Lagoa de Manuel Fellipe” (A REPUBLICA, Natal, 03 jan.1902.).

Em 1904, a extensa Resolução n.92 também dedicou um de seus títulos a circunscrever o patrimônio territorial da urbe. A referida lei destacava a divisão da capital em área urbana e subúrbios, apontando como limites da área urbana a margem direita do Rio Potengi até o Refoles, incluindo “o edifício da Fabrica de Sabão e uma linha que deste ponto se dirija á Rua do Alecrim, passando ao sul do Lazareto da Piedade, seguindo pela referida rua, barragem do Baldo, rua Ceará-Mirim, avenida Oitava e estrada da Areia Preta” (A REPUBLICA, Natal, 14 maio-14 jun. 1904).

ALECRIM EM RESOLUÇÕES DA INTENDÊNCIA, 1908

“A antiga rua do Alecrim passará de ora avante a denominar-se rua “Coronel Estevam.”

Art. 3º Denominar-se-á Avenida “Senador José Bernardo” o trecho da antiga estrada de rodagem que vai do Baldo até a praça “Pedro Américo”.

Art. 4º – O trecho dessa mesma estrada, que vai da praça “Pedro Américo” até os limites do perímetro da capital, terá a denominação de rua “General Fonseca e Silva”.

Art. 5° Chamar-se-á a avenida “Almirante Alexandrino”, a que vai do Refoles até fazer ângulo com a avenida oitava (A República, 11 de agosto de 1908).

A Avenida Oitava é a Hermes da Fonseca

……………………..

Art. 2° – A antiga rua do Alecrim passará de ora avante a denominar-se rua “Coronel Estevam”;

Art. 3º – Revogam-se as disposições em contrário. Sala de Sessões da Intendência Municipal de Natal, 10 de agosto de 1908. Joaquim Manoel Teixeira de Moura – Presidente (A República, 11 de agosto de 1908, p. 2).

Em 1908, a Resolução n.120 determinou que o limite da área urbana de Natal do lado sul seria a avenida Almirante Alexandrino. A referida lei destacou que o limite imposto pela Resolução n.92, da Rua do Alecrim (Com a Resolução n.120, a Rua do Alecrim passou a denominar-se rua Coronel Estevam. O documento ainda destacou que estava atendendo a um “dever cívico”, prestando homenagem ao cidadão que “abriu a primeira estrada que poz esta capital em comunicação terrestre com a cidade de Macahyba, o qual foi o coronel Estevam José Barboza de Moura”. Ver: A REPUBLICA, Natal, 11 ago. 1908.) à avenida Oitava, formava uma linha quebrada e deixava de fora do perímetro urbano um “bairro que já está se edificando”. Nesse sentido, a nova lei municipal instituiu como limite da região urbana a “linha que parte do Refoles, até a avenida oitava, que constitue a nova avenida ‘Almirante Alexandrino’” (A REPUBLICA, Natal, 11 ago. 1908.) . Abaixo segue uma representação desses limites mencionados pelas resoluções:

Limites sul aproximados da zona urbana de Natal. Elaboração da autora sobre Planta cadastral e topográfica elaborada por Henrique de Novaes em 1924.

O bairro Alecrim foi criado oficialmente em 1911, antes disso, conforme foi constatado nas matérias de jornais e no registro das cartas de aforamento, boa parte do que seria o quarto bairro de Natal correspondia ao bairro Cidade Alta e outra parte integrava a região suburbana. Sobre a denominação do bairro, tem-se duas versões, uma delas fazia referência a uma antiga moradora da região que costumava enfeitar com ramos de alecrim os caixões de crianças que eram levadas para o sepultamento no Cemitério. A outra versão liga o nome do bairro à abundância do “alecrim-de campo e também da vassourinha” na área. O Alecrim, por possuir “acesso para o sertão por Macaíba, ficou sendo o bairro sertanejo, tendo sítios que pareciam fazendas, vacarias, feiras, simplicidade de vida, roupa e atividades”.

Em 1911, a Empresa de Melhoramentos do Natal, propriedade de Vale Miranda e Domingos Barros, passou a oferecer o serviço de bondes elétricos, ampliando os trilhos até o bairro Alecrim, na altura do Asilo de Alienados, passando a rua Sílvio Pélico (MEDEIROS, Gabriel Leopoldino Paulo de. A Cidade Interligada. Op. cit., p.118-131.).

No ano de 1912 haviam cinco bondes elétricos em tráfego. O tráfego do sistema de transporte elétrico respeitava os seguintes trajetos: a primeira linha ligava os bairros Cidade Alta e Ribeira, a segunda linha ligava a Cidade Alta ao bairro Cidade Nova, dando acesso à praia de Areia Preta; outra linha estendia-se até o Alecrim, bairro que, à época, era um local de moradias modestas e não era conhecido oficialmente como bairro da cidade (ARRAIS, Raimundo. ANDRADE, Alenuska. MARINHOS, Márcia. O corpo e a alma da cidade. Op. Cit. p. 108-110.). As melhorias do transporte público na cidade do Natal possibilitaram o encurtamento das distancias dos espaços, bem como a expansão, a ordenação e o progresso da pequena capital norte-rio-grandense.

Em 1919, o então governador Ferreira Chaves elencou uma série de medidas implementadas em seu governo para amenizar os problemas gerados pela seca de 1919. Uma das medidas foi a construção no Alecrim de um “barracão para abrigo dos que não tivessem outro pouso, permanecendo ali actualmente mais de cem pessôas socorridas pela solidariedade humana, á qual o governo não tem sido alheio”. O A Republica também destacou a existência de um barracão no Alecrim, denominado no jornal como “Barracão dos Escoteiros”. A prática de esquadrinhamento do espaço perpetuava-se. Os barracões, em 1919, não seriam construídos nos bairros centrais da capital, como ocorreu em 1904. Com a diferenciação espacial da capital mais consolidada, era preciso abrigar essa população no bairro Alecrim, que foi oficializado como bairro da capital desde 1911. Ver: RIO GRANDE DO NORTE. Mensagem apresentada pelo governador Joaquim Ferreira Chaves (1919). Disponível em: . Acesso em: 26 jan. 2017. p.13; VARIAS. A Republica, Natal, 13 set. 1919; VARIAS. A Republica, Natal, 11 out. 1919.

Observemos a cidade do Natal no ano de 1919: os bondes elétricos trafegando pela cidade e conectando os bairros Alecrim e Cidade Alta; a exibição de espetáculos assistidos no Teatro Carlos Gomes; o advento dos cinemas fixos Royal Cinema e Polytheama; a consolidação plena do telégrafo e o desenvolvimento da imprensa na cidade, viabilizando a rápida comunicação e a difusão das novidades; e a frequência aos demais espaços de reuniões sociais, como os cafés, os bilhares e os clubes esportivos (ARRAIS, Raimundo et. all. O corpo e a alma da cidade: Natal entre 1900 e 1930. Natal: EDUFRN, 2008. p. 127). Temos aqui uma cidade em transformação.

Em 1920, Cidade Alta continuava concentrando a maior parte das habitações e Cidade Nova ainda apresentava um crescimento lento, e a maioria da população habitava o bairro Alecrim. Na gestão de O’Grady as linhas de bonde também foram ampliadas. Em 1926 a linha do Alecrim foi prolongada até a região suburbana de Lagoa Seca, em um percurso de 2.600 metros que percorreria a avenida Alexandrino de Alencar. Para Gabriel de Medeiros, essa medida representava a vetorização do crescimento de Natal pela Alexandrino de Alencar, desafogando as áreas às margens do rio Potengi (Entrevista concedida ao periódico O Jornal e reproduzida no A Republica, ver: PROGRESSOS duma capital nortista. A Republica, Natal, 29 nov. 1928.).

Em Natal, a Companhia Força e Luz do Nordeste do Brasil – CFLNB em seu primeiro dia na administração dos serviços urbanos, em 14 de dezembro de 1929, inaugurou um novo transporte público, com a utilização de “auto-onnibus” para 30 passageiros, descrito pela empresa como mais confortável e que provisoriamente faria as linhas Petrópolis, Tirol e Alecrim (COMPANHIA Força e Luz Nordeste do Brasil – A inauguração dos seus auto-onnibus. A Republica. 14 de dezembro de 1929, p. 1.).

O final da década de 30 do século XX pode ser caracterizado como um momento de aprofundamento e de consolidação de transformações urbanas
significativas na Cidade do Natal. Por meio das fontes pesquisadas, particularmente as crônicas de Danilo, inferiu-se que as elites administrativas dividiam a cidade em área urbana, suburbana e periferia. Para estas, a área urbana compreendia os bairros de Cidade Alta e Ribeira; a área suburbana, os bairros de Tirol e Petrópolis; e a periferia, o bairro do Alecrim e Rocas, os povoados e as pequenas aglomerações que eram chamadas Passo da Pátria, Quintas, Guarapes e as praias da Redinha e Areia Preta. Nesse período ocorreu segundo Dantas :

[…] o arremate das ações higienizadoras sobre a cidade que se desenrolaram desde meados do século XIX até a década de 1930, e que foram retomadas e incorporadas na concepção do Plano Geral de Obras, elaborado e implementado pelo Escritório Saturnino de Brito, entre 1935 e 1939 (DANTAS, Ana Caroline de C. L. Sanitarismo e planejamento urbano: a trajetória das propostas urbanísticas para Natal entre 1935 e 1969. 2003. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2003, p.74).

Mapa do Bairro do Alecrim – Pontos de referências do ano 1939. Fonte: SEMURB/PMN.
Nota: Elaboração do autor sobre base atual da cidade.

No entanto, a cidade viveu nos anos de 1940 um intenso crescimento demográfico, o que fomentou um processo de desterritorialização de outros espaços da cidade. Nesse período ocorreu a consolidação do Plano de Cidade Nova, que compreendia os bairros de Tirol e Petrópolis (praticado pela elite) e do bairro do Alecrim (praticado pelas classes populares). A partir de então, percebe-se, uma estratificação social dos espaços na capital potiguar. Uma vez que, inicialmente, a cidade contava com dois bairros: Cidade Alta e Ribeira, e, neles, interagiam todas as classes sociais.

“No final do século passado [séc. XIX] até os anos vinte foi se desenhando o primeiro esboço da distribuição sócio-espacial da população na cidade. Os grupos de rendas mais altas habitavam a Ribeira e, principalmente, a Cidade Alta. Os trabalhadores e a população pobre em geral, em sua maior parte, estavam localizados nas aldeias de pescadores ou se dispersavam em assentamentos periféricos, sobretudo nas Rocas. O bairro do Alecrim, ainda em processo de formação, abrigava então viajantes, camponeses e operários ligados às estradas de ferro” (SANTOS, 1998, p. 33).

Os bairros do Alecrim e Rocas, e as demais ocupações que existiam fora da área central da cidade – Refoles, Guarita, Passo da Pátria, Baldo, Quintas, Barro Vermelho, Guarapes – eram chamados de “bairros exteriores”. Estes foram se constituindo isolados e espontaneamente, sempre segregados do centro e com pouco investimento dos governos. Em grande parte, o assentamento dessa população fora da área central foi estimulado e definido por ações das administrações que se sucederam, as quais, desde o início do século XX, editavam uma legislação restritiva que tinha por objetivo “limpar o centro” e impedir legalmente que a população pobre se instalasse nas suas proximidades.

A partir de 1940, com a escassez de recursos públicos para investimentos na modernização do espaço, observa-se que a prioridade do governo passou a ser os bairros de Petrópolis e Tirol, em detrimento do Alecrim.

O Oitizeiro do Baldo, em registro do alemão Bruno Bougard. Gostava de fotografar pessoas e, curiosamente, se inserir na foto: ele é o homem de trajetos elegantes no centro da imagem. O Fato e a Foto reporta como a Cel. José Bernardo segue exatamente o contorno da extrata carroçável de 1904-6.
“Em abril de 1892, de volta do Rio Grande do Sul, onde estive todo o ano de 1891, passando a residir na rua Padre Pinto, antiga do Fogo, comprei acima do Baldo, na margem da estrada (hoje rua principal) que dá acesso ao cemitério e saída geral da cidade para o interior, no local em que hoje se acha a padaria, à esquerda de quem sobe a referida estrada (transformada em rua mestra), um rancho de palha de coqueiro, num terreno tido como terra de ninguém… do Estado.” Reinaldo Lourival. In Nova História de Natal, de Itamar de Sousa.
Vista da Rua Coronel José Bernardo a partir da subida da Rua Nova (Atual Avenida Rio Branco). No primeiro plano o Canal do Baldo ainda sem viaduto. Ao fundo a torre da Igreja de São Pedro no Bairro do Alecrim. O ano é desconhecido, mas a autoria por indicação dos participantes do grupo é de Joeci Galvão.
Descida da Igreja São Pedro (Rua Coronel José Bernardo) dobrando na Rio Branco. Provavelmente o registro foi feito na década de 60 ou anterior.
O Baldo- Rua Coronel José Bernardes onde pode se ver o Sindicato dos motoristas à direita e Igreja São Pedro ao fundo – foto de Jaeci. Ano???
Cartão-postal: Jaeci Galvão. O Riacho do Baldo. Avia é a Cel. José Bernardo. Década de 1950. Fonte, acervo particular: José Valério Cavalcanti. Série Ambrosiana. A paisagem conhecida por Baldo é um exemplo da natureza encoberta por diversas intervenções humanas. O “Baldo” é segundo Cascudo (1980), uma antiga zona alagada de um riacho, de mangues e pântanos, onde foi instalada uma fonte que durante muito tempo serviu para o abastecimento de água da população.
Logo após o Baldo a Av. Rio Branco segue como Cel. José Bernardo. Foto: Luiz Grevy.
RUA CORONEL JOSÉ BERNARDES (Bairro Alecrim) Foto: Jaeci E. Galvão. Ao fundo o Canal do Baldo. Notem que ainda sem o viaduto que hoje domina a paisagem deste espaço urbano.
Registro fotográfico do Canal do Baldo feito pelo pernambucano Luiz Grevy da Silva também registrou pessoas e lugares de Natal entre 1944 e início dos anos 1980. Deixou para posteridade o seu acervo, porém foi totalmente perdido por falta de um acondicionamento adequado. “Sobrou só as fotos da família, o resto foi todo perdido: negativos e cópias em papel. Não ficou nada!”, disse Marconi Grevy, filho do fotógrafo. Um dos trabalhos preservados está esta imagem feita a partir da Avenida Deodoro da Fonseca vemos a Rua Olinto Meira na esquerda, a Praça Almirante Marquês de Tamandaré e a direita Rua Coronel José Bernardo. Algumas casas no lado superior da praça ainda estão inacreditavelmente preservadas. testemunhos ainda erguidos das transformações da cidade ao longo dos anos.
Praça “Alberto Gomes” – Baldo
Visão da Igreja São Pedro no Alecrim no ano de sua fundação em 1917 tendo em primeiro plano da Rua Cel. José Bernardo.
Para ir à Cidade Alta, bastava descer a ladeira da rua Coronel José Bernardo, passar pela praça Tamandaré, pelo Sindicato dos Motoristas, tudo no Baldo, e subir a avenida Rio Branco, Princesa Isabel ou Deodoro.
Imagem anterior a década de 60 da praça Almirante Tamandaré no Alecrim. É perceptível os trilhos dos bondes que linterligavam o bairro ao centro de Natal. Ao fundo nota-se a torre da igreja de São Pedro. O prédio à direita hoje funciona o Sintro (Sindicato dos Rodoviários) que na época não havia ainda o primeiro andar. Autor desconhecido.
Praça almirante Tamandaré nos anos 60 concebida como parte o plano da Prefeitura de Natal de dotar com mais serviços e intra-estrutura urbana ao Alecrim, já tido naquela época como o bairro mais populoso da Cidade. A praça fica na confluência da Rua Cel. José Bernardo com a Rua Olinto Meira.
A praça Almirante Tamandaré no primeiro plano e a rua Cel. José Bernardo e a Av. Rio Branco ao fundo.

FONTES SECUNDÁRIAS:

CÂMARA CASCUDO, Luís da. Uma História da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte. Natal-RN, Fundação José Augusto, 1972. (págs.
391-398).

A CASA PRÓPRIA: SONHO OU REALIDADE? Um olhar sobre os conjuntos habitacionais em Natal / SARA RAQUEL FERNANDES QUEIROZ DE MEDEIROS — NATAL – RN, 2007.

A CIDADE E A GUERRA: A VISÃO DAS ELITES SOBRE AS TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO DA CIDADE DO NATAL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL / GIOVANA PAIVA DE OLIVEIRA. — RECIFE – PE, 2008.

A CONSTRUÇÃO DA NATUREZA SAUDÁVEL: NATAL 1900-1930 / ENOQUE GONÇALVES VIEIRA. — NATAL / 2008.

A eletricidade chega à cidade: inovação técnica e a vida urbana em Natal (1911-1940) / Alenuska Kelly Guimarães Andrade. – 2009.

CIDADE, TERRA E JOGO SOCIAL: APROPRIAÇÃO E USO DO PATRIMÔNIO FUNDIÁRIO NATALENSE E SEU IMPACTO NAS REDES DE PODER LOCAIS (1903-1929) / GABRIELA FERNANDES DE SIQUEIRA. — FORTALEZA, 2019.

Figuras de Destaque. Fundação José Augusto. http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/secretaria_extraordinaria_de_cultura/DOC/DOC000000000113555.PDF. Acesso en 21/02/2023.

MAIA, Agaciel da Silva. Parlamentares do Rio Grande do Norte: Senadores do Império à República / Agaciel da Silva Maia; prefácio de José Sarney. Brasília: Senado Federal, 2002. (págs. 98-100).

O BAIRRO DA RIBEIRA COMO UM PALIMPSESTO: dinâmicas urbanas na Cidade de Natal (1920-1960) / Anna Gabriella de Souza Cordeiro. — Natal-RN, Julho de 2012.

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One thought on “Coronel José Bernardo de Medeiros: o homem e a rua

  • 1 de janeiro de 2024 em 9:51 pm
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