Expedição fotográfica no Forte dos Reis Magos

O nosso sócio fundador do Fatos e Fotos de Natal Antiga, jornalista Adriano Medeiros @adrianomedeiros10 , esteve no Forte dos Reis Magos na primeira expedição fotográfica do ano de 2023. Foi uma oportunidade de registrar esta edificação secular símbolo da Cidade do Natal e não por um acaso de nosso projeto sócio-cultural. Nas próximas postagens vamos mostrar fotos da fortificação que se encontra em excelente estado de conservação graças a recente restauração realizada pelo Governo do Estado, bem como mostrar fatos marcantes de sua história.

Se é para começar que seja do início. Para chegar ao Forte dos Reis Magos o único caminho existente é pela Avenida Praia do Forte. Nas imediações há umas barracas onde se compra desde artesanato a lanches. Bem que poderiam ser melhor estruturadas, mas fico imaginando se para isso não haveria empecilho dos órgãos ambientais ou de preservação histórica.

O fato que absolutamente ninguém se deu conta, além sócio participante do Fatos e Fotos e Fotos de Natal Antiga, é que esta região não é aproveitada na visita ao Forte. Trata-se uma região histórica precursora da edificação.

O Governador Geral Francisco de Sousa (1591-1602) pôs em marcha os planos para expulsar os franceses e apaziguar os índios. Para consolidar a conquista, deveria ser construída uma fortaleza. Para cumprir a missão foram escolhidos, por Carta Régia de 15 de março de 1597, o fidalgo português Manuel de Mascarenhas Homem, Capitão-mor de Pernambuco, e Feliciano Coelho, Capitão-mor da Paraíba, auxiliados pelos irmãos João e Jerônimo de Albuquerque, sobrinhos de Duarte Coelho, primeiro donatário da capitania de Pernambuco.

O Canto do Mangue é lugar de história, existem registros datados do século XVI que apontam esta região como sendo o local de desembarque dos portugueses, chefiados por Mascarenhas Homem. Os soldados marcharam para o local próximo àquele onde pretendiam erigir uma fortaleza.

Aliados dos franceses, os índios atacaram a expedição portuguesa próximo à foz do rio Potengi. A situação dos portugueses era muito difícil, devido ao número de baixas na tropa. Para melhor se defenderem, os portugueses ergueram “um entrincheiramento de varas de mangue traçadas e barro socado.

O formato circular, à moda indígena, a 6 de janeiro de 1598 (dia dos Santos Reis), enquanto se procedia à escolha do local definitivo para a fortificação ordenada pela Coroa: um recife, à entrada da barra, ilhado na maré alta e que, na vazante, permitia a comunicação com terra firme.

O acesso ao Forte dos Reis Magos é feito por uma passarela que margeia o Rio Potengi. Está bem preservada e cercada por mangue. Porém nem sempre foi assim. Há relatos dos holandeses em sua conquista da fortificação que existiam dunas nas imediações. O que é uma característica bastante comum para a região. O acesso se dava por embarcação na maré cheia e na seca este recurso era utilizado por uma praia que se formava após os arrecifes. Isso mostra o quanto o mar tem avançado na região.

Pois bem… Continuando nossa história… A fortificação até então improvisada ganhou o reforço de Francisco Dias de Paiva com uma urca com munições e provisões para o forte que se iniciava e, depois, de Feliciano Coelho, Capitão-mor da Paraíba, com muitos combatentes, possibilitou a manutenção da posição alcançada. Imediatamente Mascarenhas Homem, Capitão-mor de Pernambuco, foi ao encontro de Feliciano Coelho combinar a sistematização do trabalho, feito por equipes em dias alternados, enquanto outros grupos incursionavam pelas áreas próximas visando descobrir e desbaratar as aldeias dos potiguares. Dessas incursões participavam muitos índios, inaugurando na capitania do Rio Grande uma tática empregada pelo colonizador que se tornaria comum a partir de então: a utilização de indígenas para guerrear indígenas.

Para assegurar a posição conquistada, os portugueses iniciaram, a 06 de janeiro de 1598, a construção da Fortaleza dos Santos Reis, popularmente conhecida como Forte dos Reis Magos, erguido “a setecentos e cinqüenta metros da barra do Potengi, ilhado nas marés altas”. Somente em 24 de junho, dia de São João, “Jerônimo de Albuquerque recebeu solenemente o Forte, com o cerimonial da época, jurando defender e só entregar a praça aos delegados del-Rei”, afirma o folclorista Câmara Cascudo.

E a razão de tudo isto? Localização estratégica de nosso litoral até os dias de hoje, tanto para aviação quanto ao comércio marítimo. Um rio de águas calmas e profundas próximo a costa africana e o ponto mais ocidental das Américas para a Europa. Sem falar nos importantes recursos naturais importantes para aquela época, tais como o pau Brasil. Não é atoa que nossa Cidade do Natal já foi chamada de Rio Grande e todos que aqui nascem são intitulados de norte riograndense. Bela visão e de um pôr do sol digno de registro. Amo esta terra.

Vamos seguindo ao Forte ainda contando sobre seus primórdios… As suas características foram assim descritas por Câmara Cascudo:

“O forte se erguia, a setecentos e cinquenta metros da barra, em cima do arrecife, ilhado nas marés altas. É lugar melhor e mais lógico, anunciando e defendendo a cidade futura.”

A Fortaleza, ao mesmo tempo em que servia de sentinela ao longo da costa atlântica, impedia a entrada de intrusos rio adentro.

Na margem do Rio Potengi, de frente à Fortaleza dos Reis Magos, havia um porto de pescaria, muito bom, que pertenceu aos mais altos dignitários da capitania, pois “(…) é o melhor porto de pescaria que aqui há e está defronte da Fortaleza” (ANÔNIMO. O Treslado…1909). Segundo o relato, os soldados tinham autorização do governador geral para pescar nesse porto ao lado da Fortaleza dos Reis Magos, talvez como compensação ou complementação de seus magros soldos.

O Forte dos Reis Magos vai aos poucos se mostrando na bela paisagem. A edificação secular é sem dúvida alguma o maior patrimônio histórico de nossa terra. Belo e imponente merece nossa contemplação e respeito por todos que aqui habitaram e fizeram história.

A construção da Fortaleza, após a realização de acordos de paz que possibilitaram o relativo apaziguamento dos nativos, foi de fundamental importância para a conquista e ocupação da região Norte da outrora colônia lusitana na América.

Símbolo da colonização portuguesa em nosso litoral, a planta do novo forte, traçada no Reino em 1597, atribuída ao padre jesuíta Gaspar de Samperes (ou Gonçalves de Samperes), “mestre nas traças de engenharia na Espanha e Flandres” e discípulo do arquiteto militar italiano Giovanni Battista Antonelli, apresentava a forma clássica do forte marítimo seiscentista: um polígono estrelado, com o ângulo reentrante voltado para o Norte, construído em “taypa, estacada e area solta entulhada”.

As suas obras ficaram a cargo de seu primeiro comandante, Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1548-1618). No século XVI, era considerada a mais avançada concepção arquitetônica direcionada para o uso militar.

Foi feita originalmente em taipa (barro e varas), pois era uma fortificação provisória, com o mínimo de segurança para abrigar a gente da expedição, protegendo-a contra o inesperado ataque do gentio. Também não foi erguido no arrecife, porque construção daquele tipo não resistiria ao primeiro impacto das águas, pois a área adjacente fica totalmente coberta na maré cheia seis horas o cobre o mar, disse o sargento-mor Diogo de Campos. Simples paliçada, na praia, fora do alcance das marés.

“Feita a conquista, o capitão-mor construiu dois possantes fortes perto da cidade, à margem do rio, e solicitou de Pernambuco quarenta peças de ferro fundido, colocando vinte em cada forte”. (KNIVET, 1906, p. 241-243).

Se houve, de fato, duas fortificações à margem do rio, o que provavelmente nunca saberemos de fato, então uma delas deixou de existir há muito tempo.

O entorno do Forte dos Reis Magos tem um dos mais belos panoramas da Cidade do Natal.

A cidade de Natal foi fundada a 25 de dezembro de 1599. O ato de fundação ocorreu no lugar em que hoje se encontra a Praça André de Albuquerque. O Brasil estava sob domínio espanhol. Porém, antes da fundação de Natal, os colonos agruparam-se próximos à “Fortaleza dos Santos Reis” para melhor se defenderem dos índios, originando uma pequena povoação, posteriormente chamada de “Cidade dos Reis”.

A continuidade da conquista, agora em direção ao norte, passou então a contar com a presença de soldados portugueses seguros no Forte dos Reis Magos como um posto avançado, que garantiria um contingente militar disponível e melhor posicionado, assim como o repouso e o fornecimento de água e mantimentos para as expedições saídas da Paraíba e Pernambuco.

Apesar de ser posto de sentinela avançada da colonização portuguesa no Brasil, Natal não passava de um pequeno povoado, com pouco mais de uma centena de habitantes, excluindose os moradores da Fortaleza dos Reis, tendo, em 1607, “vinte e cinco moradores e cerca de oitenta nos arredores, pescando, caçando e plantando roçarias, ajudados pela escravaria vermelha e negra”. A indiada e seus descendentes miscigenados eram maioria, e os bancos eram tão poucos “que, em 1609, apenas existiam em Natal duas mulheres alvas”.

É a forma clássica do Forte marítimo, afetando o modelo do polígono estrelado. O tenalhão abica para o norte, mirando a boca da barra, avançando os dois salientes, raios da estrela. No final, a gola termina por dois baluartes. O da destra, na curvatura, oculta o portão, entrada única, ainda defendida por um cofre de franqueamento, para quatro atiradores e, sobre postos à cortina ou gola, os caminhos de ronda e uma banqueta de mosquetaria. Com sessenta e quatro metros de comprimento, perímetro de duzentos e quarenta, frente e gola

de sessenta metros. Construída a fortificação, realizou-se, em 24 de junho de 1598, a primeira missa no território da capitania. A celebração foi oficiada pelos padres jesuítas Gaspar de Samperes e Francisco Lemos e pelos freis João de São Miguel e Bernardino das Neves.

De 1633 a 1654, durante o domínio holandês sobre a Capitania do Rio Grande, foram alterados, o topônimo da cidade, modificado para Nova Amsterdã, e da Fortaleza dos Reis Magos, símbolo da conquista portuguesa nos trópicos. “Em vez de Santos Reis, aclamam o Castelo de Ceulen [ou Keulen]”. A denominação era “uma homenagem ao General Mathias Von Keulen, alto conselheiro da Companhia das Índias Ocidentais e que fizera parte da expedição vitoriosa”. Tais mudanças, entretanto, foram efêmeras. Quando os holandeses foram expulsos do Brasil, as tradicionais denominações lusitanas são retomadas.

Na segunda década do século XVII, a fortificação recebeu aditamentos, responsáveis por sua configuração atual, sob a direção de Francisco de Frias de Mesquita, à época, engenheiro-mor do Estado do Brasil. Em Capítulos de História Colonial Capistrano de Abreu, um dos ícones da historiografia nacional, registra a importância da Fortaleza ao afirmar que “à sua sombra medrou o que é hoje a cidade de Natal”. Não obstante, a formação da cidade ocorreu a alguns quilômetros da Fortaleza. Nesse sentido, existe relativo consenso na historiografia norte-rio-grandense acerca de que a região elevada onde atualmente encontra-se a Praça André de Albuquerque, no centro do bairro Cidade Alta, corresponde ao núcleo do sítio histórico de Natal.

Lugar onde se construiu uma das mais sólidas edificações coloniais brasileiras, a fortaleza dos Reis Magos, erguida, significativamente, sobre as águas do Potengi, dentro das águas do Atlântico, rodeada, durante a maré baixa, pelas alvas dunas de areia e margeada por densa vegetação de mangue.

A edificação militar histórica é administrada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Símbolo da colonização portuguesa, a Fortaleza dos Reis Magos é, atualmente, nosso principal monumento histórico e recebe anualmente milhares de visitantes. Entretanto, o desenvolvimento da cidade ocorreu em uma área relativamente distante da Fortaleza. Segundo os historiadores, o plano elevado onde atualmente encontra-se a Praça André de Albuquerque, no centro da Cidade Alta, é o núcleo do sítio histórico urbano de Natal.

Para compreender o Forte dos Reis Magos é preciso ter um olhar conforme a sua necessidade de criação e manutenção histórica, ou seja, sua natureza militar. Sob este prisma é uma fortificação muito bem elaborada.

Tem três portões para acesso e um único acesso que possui um compartimento para despachar óleo quente sobre os invasores que conseguissem chegar perto e adentrar no forte.

Os portões são guarnecidos por janelas laterais que auxiliam na proteção em todos os pavimentos.

Sem passar pelo estágio de vila, a cidade de Natal vivenciou momentos de encontros e desencontros. Expulsos os franceses, vieram os holandeses e a conquista da Fortaleza dos Reis Magos, transformando a cidade em Nova Amsterdã.

No contexto da segunda das Invasões holandesas do Brasil (1630-1654), a “Memória” de 20 de Maio de 1630, oferecida aos dirigentes da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais (WOC) de Pernambuco por Adriaen Verdonck, refere-se a esta praça:

“Da cidade do Rio Grande [Natal] ao forte chamado os Três Reis Magos há apenas a distância duma pequena meia milha [c. 2 quilômetros], e esse forte é o melhor que existe em toda a costa do Brasil, pois é muito sólido e belo… e com a maré cheia o forte fica todo cercado d’água, de modo que ninguém dele pode sair nem nele pode entrar.”

Após uma primeira tentativa de assalto por Vandenbourg, frustrada em Dezembro de 1631, em Dezembro de 1633 inicia-se nova invasão neerlandesa: vindos do Recife em quinze navios, uma tropa de 800 soldados desembarca na Ponta Negra sob o comando do Tenente-coronel Byma, cercando o forte numa operação combinada terrestre e naval.

A organização do espaço é complexa porém muito bem aproveitada com janelas e portas que faz com que cada compartimento seja defendido e ao mesmo tempo defenda a fortificação como um todo diante de uma possível invasão interna. Neste caso combate teria que ser realizado por compartimento o que traria muitas baixas ao invasor o que jamais aconteceu em toda história da edificação.

Hoje são espaços formidáveis para apresentações culturais como exposição de quadros. Neste quesito ainda acho que poderia ser melhor aproveitado.

No centro do Forte você encontra uma pequena capela apresentando vãos em arco pleno. Sobre o teto desta fica um local secreto onde eram armazenados os armamentos e munições na época dos colonizadores. Um toque arte no meio dos compartimentos militares.

O atual forte apresenta planta poligonal irregular, erguido em alvenaria de pedra e cal. Em torno do terrapleno, ao abrigo das muralhas, encontram-se dispostas a Casa de Comando, os Quartéis e os Depósitos; ao centro, ergue-se uma edificação de planta quadrangular, em dois pavimentos:

no pavimento inferior, situa-se a Capela, apresentando vãos em arco pleno;

no superior, acedido externamente por uma escada em dois lances e através de uma porta de verga reta, dispõe-se a Casa da Pólvora, coberta por uma cúpula piramidal. Nos vértices desta pirâmide, cunhais, cornija e pináculo completam o conjunto.

No terrapleno abre-se, ainda, a Cisterna.

O Forte foi construído com uma forma semelhante a uma estrela. Toda a estrutura é feita de alvenaria, cal e pedra, e contém diversos depósitos de suprimentos e armamentos.

O local abriga uma réplica do Marco de Touros, que é o monumento colonial mais antigo do país.

Primeiro marco de posse de terra firmado pelos portugueses no território brasileiro, o Marco de Touros foi transferido do Forte dos Reis Magos em 2021 para o Museu Câmara Cascudo na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) para ser melhor condicionado. O monumento em forma de coluna estava guardado na Fortaleza dos Reis Magos – outro patrimônio histórico.

Antes de chegar ao Museu, no entanto, o marco já ficou exposto em duas capelas e em 1969 foi transferido para o forte dos Reis Magos. Mas desde 2018 não é visto pelo público. Durante todos esses anos, ele sofreu um processo de desgaste natural do tempo e também a interferência humana.

O objeto tombado em 1962 pelo Iphan, remonta aos primeiros anos de ocupação portuguesa no território brasileiro. A pedra calcária com 1,62 de altura e 30 cm de largura, foi esculpida e em uma de suas faces possui a cruz da Ordem de Cristo e o escudo português em relevo.

Segundo alguns historiadores, ele teria sido deixado em solo potiguar onde hoje é a Praia do Marco, no município de Touros, no ano de 1501 para atestar o direito de posse de Portugal no local que seria o primeiro ponto da costa brasileira delimitado na terra recém-descoberta. O marco é considerado pelos historiadores como o principal monumento histórico Potiguar.

O Forte dos Reis Magos pertence ao Patrimônio da União, tendo sido administrado pelo Governo do Estado do RN, representado pela Fundação José Augusto, até o ano de 2013, quando passou a ser administrado pelo IPHAN, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, até 2018. Atualmente, a gestão do Forte retornou para a Fundação José Augusto.

Nas dependências do Forte dos Reis Magos há uma importante exposição dos artefatos encontrados nesta fortificação. Trata-se de um importante trabalho arqueológico que resgatou peças de cerâmicas destinadas para a concertação de alimentos e armazenamento de água, pratos, utensílios de uso pessoal como cachimbos e munição.

Ainda registro de manequins com indumentárias da época muito bem acabados. Só tenho uma crítica a fazer sobre os mesmos: se era uma representação da época aleatória não precisa de identificação, mas se está destinado a representar um personagem histórico precisar ser identificado.

Os povos originários, para mencionar a expressão da moda, estão bem representados no forte com a exposição de adornos, utensílios e painéis que contam a história dos povos indígenas que habitavam o litoral potiguar.

Lá você tem guias credenciados para ensinar ainda mais sobre o local. Para grupos grandes, a administração do Forte orienta o agendamento da visita.

Janelas para o passado. Um olhar atento sobre as áreas de circulação e ventilação mostram que não foram construídas aleatoriamente. Além manter a circulação de ar e garantir a iluminação solar nas dependências tem uma forte conotação na defesa, pois as mesmas garantem visão privilegiada para o pátio em diferentes ângulos.

Não foi construído banheiro da forma que conhecemos no Forte. O local que era habitação de capitães e soldados tinha apenas um espaço rudimentar reservado para tais necessidade e os dejetos eram jogados no rio.

Hoje parte das dependências foram convertidas em banheiros e demais dependências administrativas do Forte.

Algumas das acomodações do forte podemos verificar que não havia muito conforto aos seus residentes. Também constatamos alguns dos materiais que compuseram suas estruturas muito solidificadas. Pedras dos arrecifes e tijolos cozidos estão entre os materiais. A impressão que fica é que foram utilizando aquilo que lhes estava disponível para o momento.

As únicas passagens de grande envergadura são as duas escadarias para a área superior da fortificação. Deduzo que eram necessárias para que rapidamente a guarnição pudesse transitar e garantir a presença na defesa externa caso fosse necessário.

Nesta postagem na parte superior do forte chamo atenção para o piso todo original. A altura do piso para a muralha diz muito sobre a estatura da guarnição para aquela época. Tinham no máximo 1,70m uma vez que existem corredores rebaixados do piso em relação a altura da parede interna.

A muralha é bastante expeça e capaz de suportar diversos tiros de canhão para aquela época.

Ainda sobre o piso vemos batentes próximo as laterais internas das muralhas para poder posicionar os defensores com visão privilegiada para o lado externo do forte.

Os corredores são largos de modo a garantir a circulação dos defensores nas mais diferentes localidades da fortificação.

Os cortes na muralha oferecem abertura suficiente para posicionar os canhões e armamentos pessoais na defesa do forte nas mais diferentes posições da muralha. Cada abertura uma janela para a deslumbrante natureza do mar, do Rio e da Cidade do Natal.

Sobre esta fortaleza sob domínio holandês, o Conde Maurício de Nassau (1604-1679), no “Breve Discurso”, datado de 14 de Janeiro de 1638, sob o tópico “Fortificações”, reporta:

“(…) o Castelo Keulen, no Rio Grande, situado sobre o arrecife de pedra na entrada da barra.

E como de maré cheia este forte fica cercado de água, e tem que resistir ao embate do mar, está um pouco danificado na parte inferior, o que se reparará, construindo-se de pedra e cal uma nova base.

O “Relatório sobre o estado das Capitanias conquistadas no Brasil”, de autoria de Adriaen van der Dussen, datado de 4 de Abril de 1640, complementa, atribuindo-lhe a Companhia do Capitão Bijler, com um efetivo de 88 homens:

“(…) o Castelo Keulen no Rio Grande; foi construído próximo do mar, além das dunas, em um arrecife, a um tiro de mosquete da barra.

BARLÉU (1974) transcreve a informação: “No Rio Grande o forte de Keulen está a cavaleiro do mar, muito bem amparado pela sua posição e construção, e por dez canhões de bronze e dezesseis de ferro.”.

Os canhões são originais. O madeiramento é apenas uma representação. As peças de artilharia já foram retiradas do forte, porém foram repostas. Explico:

Durante o mandato de Sílvio Pedroza, em homenagem ao 350º aniversário da cidade, foi erigido o Monumento à Cidade, de 1946, que recolocou o pelourinho na praça André de Albuquerque na Cidade Alta, sob orientação de Câmara Cascudo (que era o assessor de assuntos culturais da prefeitura). O monumento tratava-se do pelourinho rodeado por canhões retirados do Forte dos Reis Magos.

O retorno do pelourinho desagradou boa parte da população da cidade. Cartas foram recebidas pelo prefeito e a Câmara Municipal fez uma sessão em desagrado ao monumento. O argumento era que o pelourinho era um símbolo de poder colonial, que era contrário aos princípios republicanos, por isso, não deveria estar de pé no centro da cidade. Câmara Cascudo, em resposta, escreveu uma série de artigos nos jornais da cidade, defendendo o monumento e explicando o simbolismo do pelourinho como instituição administrativa.

O pelourinho natalense ficava nos arredores da praça André de Albuquerque. E foi motivo de grandes discussões. Durante os primeiros anos da república, ele foi retirado por representar o poder colonial e “escondido” num sala no Forte dos Reis Magos.

Eram as peças mais antigas da história potiguar e, segundo Cascudo, isso deveria ser visto pelos natalenses. Porém na década de 1950, nova reforma, retirou o monumento da praça e foi substituído por uma estela em homenagem aos Mártires de 1817, os mártires da república. O pelourinho potiguar acabou sendo destruído nesta remoção e um monumento em homenagem a libertação de escravos foi colocada no seu lugar original ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.

As dependências do forte serviram como prisão política para os implicados na Revolução Pernambucana de 1817. Entre eles destacou-se o seu líder no Rio Grande do Norte, André de Albuquerque, que faleceu em uma das suas celas, vítima de ferimento, naquele mesmo ano.

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) o forte esteve guarnecido por uma Bateria Independente de Artilharia de Costa.

Em 28 de maio de 1930 num momento importante para a história de Natal, ocorreu a passagem do dirigível Graf Zeppelin LZ-127 por Natal, sobrevoando durante 12 minutos toda a cidade, em especial a orla marítima, o Forte dos Reis Magos e lançando uma coroa de flores sobre a estátua de Augusto Severo, norte-rio-grandense precursor e mártir da aviação. Na coroa estava escrito “Homenagem da Alemanha ao Brasil na pessoa do seu filho Augusto Severo”

A cidade do Natal sofreu, novamente, um distanciamento do Rio Potengi desde o final da Segunda Guerra Mundial. A ausência de uma política de valorização tanto histórico-paisagística quanto ambiental do próprio rio é, ao mesmo tempo, causa e efeito do processo de crescimento da cidade. Com efeito, o rio pode ser visualizado pelo habitante de Natal em alguns raros pontos privilegiados da cidade, como na Pedra do Rosário, no Canto do Mangue, nas imediações da Fortaleza dos Reis Magos ou na Rampa – neste último quase sempre por pessoas de maior poder aquisitivo, por ser um espaço fechado.

O Forte já abrigou o primeiro farol da Cidade do Natal. Ficava no lado externo perto da muralha próxima ao Rio Potengi na “boca da barra”. Existe um marco decorativo fixado pela Marinha do Brasil mostrando o local. Existem registros de farol na edificação datados de 1872.

Poucos notam e ainda mais entendem. Esta estrutura na parede virada ao lado do rio Potengi próximo a passarela de acesso para a entrada do forte é o sistema de içamento de mercadorias. Só era utilizado na maré cheia. Me informaram que ali também eram expelidos nos dejetos da guarnição do forte. Esta combinação de atividades não deveria ser das mais agradáveis.

Chama a atenção a sala do comando. Umas estruturas na parede semelhantes a prateleiras deveriam ter diversas serventias que vai desde guarnecer mantimentos, capelas, munições até objetos pessoais. O único local que aguardou um certo conforto no forte. O piso é de madeira.

Na segunda década do século XVII, a fortificação recebeu aditamentos, responsáveis por sua configuração atual, sob a direção de Francisco de Frias de Mesquita, à época, engenheiro-mor do Estado do Brasil. Em Capítulos de História Colonial Capistrano de Abreu, um dos ícones da historiografia nacional, registra a importância da Fortaleza ao afirmar que “à sua sombra medrou o que é hoje a cidade de Natal”. Não obstante, a formação da cidade ocorreu a alguns quilômetros da Fortaleza. Nesse sentido, existe relativo consenso na historiografia norte-rio-grandense acerca de que a região elevada onde atualmente encontra-se a Praça André de Albuquerque, no centro do bairro Cidade Alta, corresponde ao núcleo do sítio histórico de Natal.

Vale a pena mostrar o emaranhado sistema de defesa do portão do forte. O sistema de defesa consistia de janelas laterais, três portões e lançamento pelo teto de óleo fervendo sobre os invasores. Era o local mais bem defendido da fortificação.

Na segunda metade do século XX em um esforço de integrar a Fortaleza dos Reis Magos para a nascente infraestrutura turística de Natal foi construída uma ponte para que pedestres pudessem acessar as dependemos da fortificação histórica. Hoje suas fundações estão parcialmente vistas em suas extremidades. Uma próxima a edificação e a outra no envolta a mato na Avenida do Forte. Em recente pesquisa mostrei que o motivo de sua degradação foi a falta de manutenção.

Bom… Espero que tenham curtido. Vou me despedir desta primeira expedição fotográfica de 2023 com alguma delas paisagens desta visita ao Forte dos Reis Magos.

Ficou uma bela impressão da edificação. Um ano após a sua reinauguração notei que já precisa de uma manutenção preventiva ou corretiva. As exposições também precisam ser aproveitadas.

Nada que desabone o passeio que recomendo a todos. Ser ou estar natalense é visitar e preservar o forte.

Forte abraço para todos! Estamos juntos! Até a próxima!

Adriano Medeiros @adrianomedeiros10

Sócio Fundador do Fatos e Fotos de Natal Antiga

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administrador

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