O natalense foi forjado entre a “paz e guerra”
A Fortaleza dos Reis Magos, construção iniciada em 6 de janeiro de 1598, significou o marco definitivo do domínio Português. Vencidos os confrontos iniciais com os Potiguara, foi fundada a Cidade de Natal, no dia 25 de dezembro de 1599. Nasceu no alto, onde hoje se localiza a Praça André de Albuquerque. Cascudo (1999, p. 51), em sua História da Cidade do Natal, descreve os limites iniciais da cidade:
O chão elevado e firme à margem direita do rio que os portugueses chamavam Rio Grande
e os potiguares o Potengi compreende o pequeno platô da colina que sobe pela rua
Junqueira Aires e desce pela avenida Rio Branco até o Baldo, praça Carlos Gomes. A
demarcação foi feita com os cruzeiros de posse tão comuns. Uma cruz no monte […] A
cruz ficara chantada no lado esquerdo da elevação […] [atual Praça das Mães] A Cruz do
Sul fincou-se no declive do Baldo, margem de um córrego […] o velho Rio da Bica, Rio de
Beber […]
Sem passar pelo estágio de vila, a cidade de Natal vivenciou momentos de encontros e desencontros. Expulsos os franceses, vieram os holandeses e a conquista da Fortaleza dos Reis Magos, transformando a cidade em Nova Amsterdã. O domínio holandês foi caracterizado por intensos conflitos, ocorrendo violentos massacres em Cunhaú e Uruaçu. Apesar destes acontecimentos é importante ressaltar a aliança entre indígenas e holandeses. A historiadora Monteiro (2000, p. 42) aponta dois fatores determinantes na preferência indígena, pelo batavo em relação ao português:
Em primeiro lugar, é preciso considerar que, do ponto de vista indígena, frente à
necessidade de viver com os invasores, fossem eles portugueses ou holandeses, aos
indígenas cabia a decisão política da aliança que lhes parecesse menos danosa ao seu
povo e à sua cultura. Em segundo lugar, enquanto a vivência com os portugueses havia
implicado até então em massacres e na escravização indígena, os holandeses
reconheceram e garantiram, oficialmente, o direito dos índios à liberdade.
Confirma deste modo, a ausência de “traidores” nestes primeiros anos de colonização. Os povos nativos habitantes do litoral e interior norte-rio-grandense se posicionaram conforme suas conveniências, o que estava em foco era a sobrevivência de suas tradições. Mas, a “locomotiva” européia fez da terra potiguar lugar de criação bovina e a expansão chega ao sertão. É bem verdade que a resistência indígena fez eclodir uma das maiores guerras, acontecidas em solo brasileiro. A Guerra dos Bárbaros, foco de defesa e reação, dos tapuias à presença dos brancos de além mar.
O natalense foi forjado neste processo de “paz e guerra”, entre indígenas, europeus e africanos. Seus gestos, hábitos e culinária resultam deste caldeirão cultural.
Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.
Legenda: Nova et Accurata Tabula, elaborado por Joan Blaeu em 1640. Neste mapa existe a indicação dos grupos potiguares e tapuyas na capitania do Rio Grande. Joan Blaeu – 1640. Fonte: MAPAS Históricos. Abril Cultural São Paulo, 1973. Mapa 40.