Rua da Conceição

Fundada em 1599, a cidade dos Reis Magos, depois cidade de Natal, teve logo esse predicamento, mas não era uma povoação no sentido de que estava ocupada por moradores fixados. Considerada uma das ruas mais antigas de Natal a manter seu topônimo originário, este logradouro atualmente restringe-se a esquina da Ulisses Caldas e a Praça Padre João Maria, com antigas residências, apenas de um lado da rua.

Estrategicamente fundada no alto de uma colina, situação semelhante a diversas cidades colonizadas por portugueses, a cidade mais se constituía em um pequeno aldeamento. E assim se manteve por quase dois séculos, uma vez que seu isolamento em relação à capitania dificultou o adensamento e desenvolvimento econômico, não havendo, também, atrativos ou atividades que impulsionassem seu crescimento nesse meio tempo. A configuração inicial pouco ia além da rua que ligava as duas cruzes que limitavam a posse portuguesa, hoje Rua da Conceição, que controlava os acessos ao caminho do Forte, ao norte, e levava ao Rio de Beber Água, ao sul, formando um pequeno agrupamento de casas e uma Igreja. (CASCUDO, 1999, p.52).

Cartografia do cenário de fundação da cidade de Natal. Fonte: MIRANDA, 1999.

Abriga o museu Café Filho, a sede do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o IHGRN (Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte), a Assembléia Legislativa e o Palácio Potengi da Cultura.

Durante muitos anos a Cidade Alta era o único bairro de Natal. Na rua da Conceição desenvolvia-se praticamente todo o comércio da cidade. Nas últimas décadas do século XVII, Natal começou sua expansão atingindo o sítio da Ribeira, cujas construções se iniciaram nas atuais ruas Dr. Barata, Chile e General Glicério. No início do século XIX, as principais ruas da Ribeira eram a Câmara Cascudo, Chile e esplanada Silva Jardim.

Até o ano de 1700, existiam em Natal apenas duas ruas: a da Cadeia e aquela que era chamada O Caminho do Rio de Beber Água, hoje representado pelas ruas Santo Antônio e Conceição. Aquele rio de Beber Água era o antigo Rio Tiuru, Tissuru, da Cruz ou do Baldo.

Registro de concessão de terras, de 6 de agosto de 1791, refere-se à rua da Conceição atual, àquela época descrita como a “rua direita, que vai por detrás da matriz”. Em 1808 apareceu, pela primeira vez, a denominação da rua da Conceição, conforme documentação relativa a uma doação de terras, concedida pelo Senado da Câmara do Natal, em 14 de junho de 1808, a Antônia Rita.

Segundo Cascudo (2002, p. 18): Em princípios de 1808 já existe esse nome. Era pouco habitada até os primeiros lustros do século XIX. Ainda em 1834 havia um matagal espesso num dos lados. […]

Em data anterior a 1791, a atual rua da Conceição constituía-se apenas das cercas que limitavam os fundos dos terrenos, cujas frentes estavam voltadas para a rua da matriz. Existia também no lado do poente o Armazém Real da Capitania do Rio Grande, do qual ainda resta uma relíquia histórica: a parede de sua fachada posterior, construída em alvenaria de pedra e cal. Esse imóvel, de propriedade do IPHAN, é popularmente conhecido como casa do padre João Maria.

O capitão José Alexandre Gomes de Melo recebeu uma doação de terreno, em 21 de agosto de 1819, “para fazer casa no fundo da sua, em que mora, na rua da Palha”. A casa residencial já existente, onde morava José Alexandre foi o primeiro sobrado particular construído em Natal. O prédio chamado “sobradinho” ainda existe na rua da Conceição, encontrando-se tombado em nível nacional, nele funcionando o Museu Café Filho.

Em 1822, segundo informação de Pizarro e Araújo, existia o edifício da Fazenda Pública, na rua da Conceição, no mesmo local hoje ocupado pelo edifício do Palácio do Governo.

Durante cinquenta anos, Natal progrediu tão pouco que melhor seria dizer que não progrediu. De 1810 a 1860, raros melhoramentos. Em 1810, Koster descreve-a com 700 habitantes; a rua Grande, larga praça vestida de camapu e mata-pasto, com o orgulho administrativo da Câmara e da Cadeia acaçapada, o palácio rococó dos Capitães-Mores e as três igrejas: Matriz, S. Antônio e Rosário.

Delimitação do quadro da cidade, através da Lei Provincial nº 118, de 09.11.1844

Quatro ruas de poucas casas desembocavam na rua Grande. Anos depois é que se fechou o lado leste e a rua da Conceição abrigou o Governo e outros centros de poderio e papelório. Da Rosário, ao que depois de 1850 começou a ser rua do Comércio, se estendia o denso dos oitizeiros, sapotis e pitombas, o verde-claro imóvel das carrapateiras ramalhudas e das mangiriobas franzinas. Ao sul, margeando o risco do “caminho de beber”, embastia-se a mataria de gameleiras, pau-d’ arcos, aroeiras e pau-ferro.

Em 1859 a Cidade de Natal tinha de um lado, paralelo ao rio, as casinhas e cochicholos de palha. Da rua Grande, destronada pela rua da Conceição, partiam lances de moradas vaidosas em sua brancura e no chiste das janelarias largas e telhados em cauda de andorinha. São pontos da gente graúda: rua Grande, rua da Conceição, rua da Cruz, rua do Fogo, rua da Laranjeira, rua Nova… Nos domingos existem os lugares de passeio e de caça.

Em 1868 era publicado o ATLAS DO IMPÉRIO DO BRASIL, de autoria de Cândido Mendes de Almeida, no qual consta um mapa relativo à então província do Rio Grande do Norte. Encartadas no mesmo mapa, figuram uma planta de Natal e uma topografia do porto. Pesquisas procedidas nos levaram a determinar o ano de elaboração do mapa: 1864, quando a província era presidida pelo Dr. Olinto José Meira.

O mapa de 1864 também focaliza os prédios públicos, em número de onze: o Palácio do Governo, na Rua da Conceição, demolido em 1914 para ceder espaço à atual Praça Sete de Setembro; 2 – a Assembléia Provincial, que ocupava o 1º andar de um edifício (demolido em 1865), também na Rua da Conceição, no ponto hoje ocupado pelo Palácio Potengi; 3 – a Câmara Municipal, cujo prédio foi derrubado em 1911, localizada no terreno hoje correspondente à casa nº 604 da Praça André de Albuquerque; 4 – a Tesouraria da Fazenda, cujo edifício foi demolido em 1875. Ficava no local onde hoje existe o Memorial Câmara Cascudo; 5 – a Tesouraria Provincial, ocupando o andar térreo do edifício da então Assembléia Legislativa; 6 – a Alfândega, na atual Rua Chile, no local onde se encontra a Capitania dos Portos; 7 – o Atheneu, no mesmo ponto onde hoje existe a Secretaria Municipal de Finanças, na Avenida Junqueira Aires; 8 – o Quartel de Linha, demolido para construção do Colégio Winston Churchill, na atual Avenida Rio Branco; 9 – o Quartel do Corpo Policial, no mesmo terreno onde funcionou o Banco Nacional, na esquina da Rio Branco com a Rua João Pessoa; 10 – o Hospital Militar, onde hoje fica a Casa do Estudante, na antiga Rua Presidente Passos, atualmente Praça Cel. Lins Caldas; 11 – a Cadeia, que ocupava o andar térreo da então Câmara Municipal.

A continuação da Rua Santo Antônio, em direção à Ribeira, era representada pela Rua da Conceição, que principiava na Praça da Alegria, findando-se na atual Rua Ulisses Caldas. Descendo da Rua da Conceição para a Ribeira, havia a Rua do Aterro, também chamada de Rua da Cruz, a atual Avenida Junqueira Aires.

Em seguida aparece a Rua João Pessoa de hoje, que tinha um curto percurso: da atual Rio Branco à Praça da Alegria. Seguia-se-lhe uma outra travessa, hoje denominada Rua Cel. Cascudo, que também ligava a Rio Branco à Rua da Conceição. Ficava-lhe paralela, prolongando-se até as proximidades da Igreja do Rosário, uma outra travessa, hoje correspondente às ruas Ulisses Caldas e Dom Pedro I.

Ao leste das ruas de Santo Antônio e da Conceição, havia a antiga Rua da Palha, hoje correspondente às ruas Gonçalves Ledo e Vigário Bartolomeu.

UM ESPAÇO PIONEIRO DE MODERNIDADE EDUCACIONAL: Grupo Escolar “Augusto Severo” – Natal/RN (1908-13). Ana Zélia Maria Moreira. Figura 03 – Montagem do cenário de modernidade na Cidade Alta. Fonte: Elaboração da autora com imagens de Miranda (1981)

Por esta via também há registros de desfiles militares. Depois de aguardar por longas semanas o embarque para o sul do país, o 1º Corpo de Voluntários da Pátria do Rio Grande do Norte, formado por 463 homens, “distribuídos por 4 Companhias, sob o comando do tenente-coronel da Guarda Nacional, José da Costa Vilar”, embarcou no Jaguaribe, a 9 de junho de 1865, depois de desfilar pela rua da Palha (atual Vigário Bartolomeu), largo da Matriz, rua da Conceição, “donde partiu para o local do embarque que foi o cais da Alfândega, na rua do mesmo nome, atual rua Chile” (CÂMARA, 1998, p. 183-184). Cascudo apresenta outros dados: 2.197 norte-rio-grandenses foram enviados para os campos de batalha platinos, dos quais “500 perderam a vida na defesa da Pátria” (1984, p. 180).

Até o início deste século, a rua da Conceição era pouco habitada, nela ainda havendo terrenos desocupados. Segundo Câmara Cascudo, “em 1834 havia um matagal espesso num dos lados. Tão denso que escondeu durante duas horas, os assassinos do tenente-coronel José Leite do Pinho”. Em 1897 a Intendência Municipal realizou um recenseamento urbano. Joaquim Severino, o agente encarregado do censo da rua da Conceição, registrou a existência de 33 casas e 204 habitantes.

Rua da Conceição no bairro da cidade alta em 1913.
Rua da Conceição: Ilustração de Ricardo Souza Marques

AS ORIGENS DO TOPÔNIMO

Com o objetivo de instalar o parque do atual Palácio do Governo, foi derrubado, em 1908, um trecho da rua da Conceição. Em 1914, outro quarteirão foi demolido, a fim de ser construída a atual Praça 7 de Setembro. Uma das casas destruídas era conhecida como a “Casa do Nicho”, a antepenúltima à esquerda, antes da atual Ulisses Caldas”. Aquela casa apresentava, na parede de sua fachada principal, um nicho “fechado com portinhas de madeira. Abrigava um vulto de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da rua e origem do topônimo”.

A Casa do Nicho tornou-se um ponto de romarias, onde o povo parava para rezar, acender velas e pagar promessas. A edificação pertencia a Joaquim
Inácio Pereira (o 1º), passando posteriormente por herança, às mãos do seu filho homônimo, o Comendador e Vice-Cônsul de Portugual, Joaquim Inácio Pereira (o 2º).

Em meados do século XX, Luís da Câmara Cascudo localizou aquela imagem de Nossa Senhora da Conceição, em poder da viúva de Calixtrato Carrilho,
ldalina Pereira Carrilho. Assim Cascudo descreveu a imagem:

“É uma figura de 29 centímetros e meio de alto, esculpida em madeira, num relativo estado de conservação. Tem as mãos postas, os pés ocultos em
nuvens, de onde emergem cinco cabecinhas de anjos, encimando-a uma coroa de prata, já escura, de pobre lavor. É trabalho de influência itidamente portuguesa, denunciando a prestigiosa tradição dos santeiros de Braga, especialmente no manto ornamental, azul-e-oiro, no exterior e vermelho-e-oiro na parte interna. O manto não recobre a cabeça da imagem mas o faz um pano branco, com verso imitando brocado. Está com o pescoço nu, gola deitada e olhos de vidro’’.

É a Rua da Conceição um lugar de memória, que apesar das modificações no seu traçado, ainda guarda vestígio de uma época em que, com a atual Rua de Santo Antônio, era o caminho do Rio de Beber Água.

Rua da Conceição, esquina com a antiga Praça da Alegria – Atual Praça
Padre João Maria). Rua da Conceição na cidade alta em 1908. Foto: Bourgard. Fonte: Acervo IHG/RN.
Rua da Conceição, esquina com a antiga Praça da Alegria – Atual Praça
Padre João Maria). Foto: Acervo SEMURB.
Foto aérea da Rua da Conceição.
Rua da Conceição. Abriga o museu Café Filho, a antiga sede do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o IHGRN (Instituto Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Norte), a Assembleia Legislativa e o Palácio Potengi da Cultura. Existem registros de sua denominação desde 1808.

CAMINHO DO RIO DE BEBER ÁGUA

Primitivo caminho do Rio de Beber Água, segundo Cascudo (1999), neste rio, beberam as bocas do Brasil Colonial: índios, portugueses, franceses, holandeses e africanos pisaram o antigo chão desta rua. A Rua Santo Antônio é um dos logradouros mais antigos de Natal, como informa Medeiros Filho (1991, p. 70):

Até o ano de 1700, parece ter havido apenas duas ruas em Natal; a primeira corresponde à que fica defronte à Matriz, na atual Praça André de Albuquerque; a segunda o caminho do rio de beber água, às atuais ruas Santo Antônio e da Conceição.
[…]
O Rio de Beber Água, Rio da Cruz ou do Baldo provinha da atual Lagoa de Manuel Felipe, no bairro de Tirol. Em 1677, o sesmeiro Pedro da Costa Faleiro referia-se ao “benefício que faz na fonte, para que não falte água no verão”, certamente o baldo por ele construído no Rio de Beber Água.

Caminho de história, encontramos na rua Santo Antônio a Igreja do Galo, o antigo Passo Episcopal e o Museu de Artes Sacras. Lugares de memória, “documentos vivos” do passado da cidade de Câmara Cascudo.

INTERVENÇÕES URBANISTICAS

“As ruas de Natal foram se consolidando de forma a constituir uma trama viária típica de cidade colonial, com ruas estreitas, casas pequenas, construídas sobre os alinhamentos separação frontais e laterais dos lotes, sem qualquer entre o espaço privado e o público, e as calçadas como espaço das atividades de convivência e confraternização de vizinhança.” (Giovana Paiva de Oliveira).

Na rua da Conceição existiu um palácio, que serviu de sede ao Poder Executivo no período de 1862 a 1869, o qual foi demolido juntamente com outros prédios, para nos terrenos ser construída a Praça 7 de Setembro. Naquele velho palácio realizou-se um dos mais famosos bailes em Natal, no dia 2 de dezembro de 1868, em cuja ocasião foi servida, pela primeira vez na Cidade, bebida gelada. O gelo veio a Natal, embarcado desde o Recife.

O Presidente da Província, Pedro de Barros Cavalcanti de Albuquerque, deixou o Palácio de taipa e pedra da Rua da Conceição transferindo a residência presidencial e a secretaria do Governo, ou seja, a sede do Poder Executivo no dia 09 de julho de 1869, para o prédio n° 106, da então, rua do Comércio (atual Rua Chle), no bairro da Ribeira, permanecendo aí até 1902, q, quando o então governador Alberto Maranhão, transferiu-a para
o Palácio Potengi, na Praça 7 de Setembro. À época, o imóvel da Ribeira pertencia ao comerciante Domingos Henrique de Oliveira, sendo alugado ao Governo da Província por 2:000$000 (dois contos de réis) anuais, a partir de 25 de maio de 1869.

Com o objetivo de instalar o parque do atual Palácio do Governo, foi derrubado, em 1908, um trecho da rua da Conceição. Em 1914, durante a administração de Ferreira Chaves, outro quarteirão foi demolido, junto com ele uma das primeiras sedes do governo provincial para a construção da praça Sete de Setembro.

A atual Praça Sete de Setembro foi inaugurada em 1914. Antes, em seu lugar, havia uma quadra de casas com a frente para a Rua da Conceição, que ia da Rua Ulisses Caldas até a próxima esquina, em direção ao Palácio do Governo. Entre essas casas e o Palácio havia uma rua conhecida como Travessa do Tesouro. A bela fachada do prédio, antes escondida ficou, assim, visível a partir da nova praça. Ver CASCUDO, Luís da Câmara. Breve história do Palácio Potengi. Natal: Fundação José Augusto, 1978.

Segundo Cascudo (2002, p. 18): A construção da Praça Sete de Setembro, em 1914, desfigurou-a para sempre, derribando uma metade da rua. O parque do Palácio demoliu outro trecho. Hoje a Rua da Conceição possui apenas uma fila de edifícios, e está reduzida a um pequenino número, contados da esquina do Palácio do Governo até a Praça João Maria, antiga Praça da Alegria.com incríveis busca-pés.

O mesmo fim teve uma antiga residência dos capitães-mores situada na praça André de Albuquerque, demolida em 1930 (Souza (2008, p. 119).

No terceiro quartel do século XX, a rua da Conceição sofreu outra mutilação, perdeu outro quarteirão constituído de valioso casario colonial, para dar lugar ao imponente e moderno prédio da Assembleia Legislativa.

A Resolução nº. 304, de 6.4.1929, autorizou o prefeito a contratar o plano de sistematização da cidade, realizado o contrato com outro arquiteto italiano, Giacomo Palumbo, a 22 do mesmo mês, os serviços devendo estar concluídos no prazo de um ano, pagando a Prefeitura ao contratante a quantia de Rs 100.000$000. Em seu relatório de 30.1.1930, à Intendência Municipal, o Prefeito Omar O’Grady explica que “não se trata de um projeto de realização imediata”, mas apenas “do delineamento de um plano geral de previsão estabelecendo normas dentro das quais a cidade deverá sistematizar-se e estender-se”. Estava já projetada uma parte do plano, “compreendendo desde o Forte dos Reis Magos, ao norte, até a rua Jundiaí e seus prolongamentos, ao sul”

E esclarece:

“Partindo da rua Silva Jardim verificamos que o plano ao norte desta artéria representa projeto novo, sem preocupação de aproveitamento de arruamentos existentes, enquanto que a parte ao sul da referida rua representa mais ou menos aproveitamento do velho plano da cidade com as modificações imprescindíveis, algumas mesmo radicais, como por exemplo, o alargamento da Rua do Comércio para 12.m00, a construção de uma avenida de 16,m00 a partir da 22 Rua Silva Jardim conquistando terreno ao rio Potengi, o prolongamento da Avenida Tavares de Lira até à cota cinco, retificação dos alinhamentos das Ruas da Conceição e Coronel Bonifácio com o aproveitamento da atual Catedral, concordância da Praça João Maria com a Rua Pedro Soares e o alargamento do cruzamento desta rua com a Avenida Rio Branco”.

O Plano Palumbo foi elaborado em 1929, na gestão do prefeito Omar O’Grady

Em recente restauração empreendida na praça por detrás da igreja matriz, pela Prefeitura Municipal de Natal, o Caminho do Rio de Beber Água perdeu a sua principal característica, que era a ligação entre as ruas da Conceição e de Santo Antônio. O trecho foi fechado com o objetivo de ampliação da praça Padre João Maria. Uma pequena obra que prestou um grande desserviço à memória cultural da Cidade.

Atualmente a rua da Conceição está reduzida a um pequeno trecho. Nela destacam-se os prédios do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Norte, o Museu Café Filho, instalado no velho sobradinho e a casa onde hospedou-se o padre João Maria, quando chegou a Natal, para assumir a paróquia de Nossa Senhora da Apresentação.

Antiga sede do Poder Executiva na rua Chile. Hoje, recuperado com o projeto da Fundação José Augusto e os recursos da ECT (Empresa dos Correios e Telégrafos). Reproduzido do Jornal: “O Poti” 23/06/1996, p.17.
Com a transferência do governo para a Cidade Alta, após 1902, o Palácio da Cultura recebeu o referido nome. Reproduzido do CD ROM – 002, Natal 400 anos de história, turismo e emoção de NOBRE, Esdras Rebouças. Sonopress Rimo Indústria e Comércio Fonográfico. São Paulo.
Rua da Conceição tendo em primeiro plano o casario que foi demolido para construção do Palácio Potengi. Manifestação civil do cortejo de Pedro Velho. em dezembro de 1907.
Rua da conceição, Palácio Potengi, Mercado Público), ao fundo Mirante da Igreja Presbiteriana, 21°Batalhão de Caçadores. Foto: Bourgard. Fonte: Acervo IHG/RN.
Fundos do Palácio do Governo e Rua da Conceição.
JARDINS DO ANTIGO PALÁCIO DO GOVERNO (Vendo-se ao lado a Rua da Conceição, no bairro Ribeira). Foto: CD Rom Natal 400 Anos.
Rua da conceição, Palácio Potengi e a Igreja Presbiteriana Foto: Bourgard. Fonte: Acervo IHG/RN. Acervo SEMURB.

ILUMINAÇÃO PÚBLICA

De acordo com a matéria d’A Republica, era o momento de pensar em outras possibilidades que já viam sendo utilizada há algum tempo em outras capitais do país, e, ainda que possibilitassem o fornecimento de luz aos particulares (IMPORTANTE Melhoramento. A Republica, 12 de abril de 1900, p. 1.). Desde então se acumularam reivindicações para a introdução de um novo sistema de iluminação que atendesse também aos domicílios.

Tais reivindicações foram transformadas em esforços, a começar pela proposta da intendência municipal da capital ao governo do Estado, à época presidido por Augusto Tavares de Lyra, para contratação de um novo sistema de iluminação pública no trecho compreendido entre o Quartel do Batalhão de Segurança e a Praça André de Albuquerque. Para tanto, de acordo com os termos do contrato, assinado em 1904:

I – A Intendencia entregará ao Governo do Estado os postes, lampeões e os combustores actualmente utilisados nas ruas treze de maio, Praça da
Republica, Travessa Quintino Bocayuva, Rua Dr. Barata, Praça Augusto Severo, Avenida Junqueira Ayres, Praça Municipal, rua da Conceição, Travessa do Congresso e da Matriz e Praça André de Albuquerque, em numero de quarenta e seis para serem aproveitados na nova illuminação; (…) (RELATORIO de governo, proferido na Assembléia Legislativa pelo Sr. Dr. Augusto Tavares de Lyra, 1905).

O Governo contratou uma empresa privada para efetuar os serviços acordados com a Intendência do Município de Natal. No mesmo Relatório de governo, seguiram em anexo os dois contratos, o do Governo do Estado com a Intendência do Município e na sequência o contrato do Governo com os senhores Valle Miranda e Domingos Barros, proprietários da empresa de Melhoramentos de Natal. O Sr. Valle Miranda era genro de Fabrício Maranhão, usufruindo dos privilégios de possuir ligações familiares com a oligarquia dominante. Cf. SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte: 1889-1930. Brasília: Centro Gráfico do Senado. 1989.

Foi apresentado na Mensagem de Governo do mesmo ano, o contrato firmado entre o governo com a empresa de Iluminação a Gás Acetileno de Francisco Gomes e Domingos Barros, para a contratação do serviço de iluminação por gás acetileno, que viria a substituir o ineficaz uso do querosene. De acordo com o contrato, a iluminação (tanto pública quanto particular) compreenderia o trecho entre a Praça Andre de Albuquerque e o Quartel de Segurança, abrangendo a Rua Treze de Maio, Praça da República, Rua Doutor Barata, Praça Augusto Severo, Avenida Junqueira Aires, Rua da Conceição, Praça Municipal, travessa do Congresso e da matriz e a Praça Andre de Albuquerque. Os postes, de acordo com o contrato, guardariam a distância máxima de 30 metros uns dos outros e cada bico de luz teria a força de 15 velas.

vias atendidas pelo serviço de iluminação pública a acetileno nos bairros da Cidade Alta (direita) e Ribeira (esquerda), em 1905. Fonte: base cartográfica de 1924, editado pelos autores (baseado em Araújo, 2010).

Desse modo, redes técnicas de serviços urbanos passaram a ser citadas nos anúncios de venda e aluguel de imóveis publicados nos jornais. Como o aluguel de um sobrado a Rua da Conceição n. 19, o ambiente é descrito como de “vastas acomodações para grande família, todo caiado e pintado de novo, tendo luz elétrica, água encanada, bom banheiro, walt, do set, etc.” (ANNUNCIO – ALUGA-SE. A Republica. 8/11/1916, p. 2.).

BONDES

Logo se pensaria em articular essa porta com um serviço de “trilhos urbanos”. A lei nº 900, de 6 de março de 1884 concedia a João Avelino o privilégio de organizar o serviço, com carros movidos a vapor ou animais. A integração entre a ferrovia e os trilhos urbanos era uma constante nos projetos de instalação das estações. 31 O trajeto, fixado no artigo segundo, tinha como ponto de partida a estação da NNC – The Imperial Brazilian Natal and Nova Cruz Railway Company Limited, mas ainda não havia referência a qualquer logradouro em frente à estação:

Começariam nas proximidades dos armazéns da Ferrovia Natal a Nova Cruz (…), percorrendo a rua do Comércio, no Bairro da Ribeira, e voltando pela rua que ficava paralela a esta pelo lado do nascente. Seguia para o bairro alto pela rua da Conceição, praça da Alegria e terminaria na rua Nova, (…) no lugar denominado Quitanda (…) (CASCUDO, 1999, p. 308).

Apesar do otimismo e da receptividade ao novo meio de transporte, a implantação da ferrovia na cidade e sua integração com o porto, então localizado na rua do Commercio e misturado a uma série outros usos urbanos, não ocorreria totalmente sem conflitos.

REDAÇÕES E TIPOGRAFIAS

No final do século XIX, concentravam-se na rua da Conceição, os principais jornais natalenses. “Ali vibravam as grandes folhas que apaixonavam centenas de correligionários e enfureciam outras centenas adversas. Ali viveu A Situação, do Dr. Henrique Câmara, em 1877, O Correio de Natal, de João Carlos Wanderley, em 1878; A Liberdade, órgão do Partido Liberal, em 1885; O Nortista e o Diário de Natal, de Elias Souto, 1895; A Capital, em 1908, de Galdino Lima, Honório Carrilho e Juvenal Antunes e dezenas de jornaizinhos impressos nessas tipografias”. Existia ainda naquela rua, o Bilhar Americano, a Alfaiataria de Gabriel Narciso Aranha, o Armarinho de Manuel Joaquim da Costa Pinheiro e a Padaria Flor de Natal, além de várias casas residenciais.

A tipografia d’ A Republica foi comprada por Pedro Velho em 24 de dezembro de 1890, ao tipógrafo Luiz Carlos Lins Wanderley, e funcionou, inicialmente, na Rua da Conceição, número 2 (FERNANDES, Luis. Op. Cit. p. 29). A tipografia, em seus primeiros anos, reuniu nomes como Pedro Velho, Eloy de Souza, Augusto Tavares de Lyra, Manoel Dantas, Alberto Maranhão, Pedro Avelino, Juvenal Lamartine, Henrique Castriciano, Augusto Leite, entre outros (Ibid, p. 12.). A predominância da oficina do jornal A Republica a frente das publicações das obras dos literatos potiguares, pode reforçar o papel do Estado como aparelho promotor e possibilitador da vida literária e cultural na cidade do Natal durante o regime republicano, visando solucionar a dificuldade de publicações encontradas pelos literatos.

A redação do Le Monde Marche era mantida em um “bureau, um cubículo situado aos fundos do prédio então ocupado pela Chefatura da Polícia à Rua Conceição, número 44” (MELO, Pedro de Alcântara Pessoa de. Natal de ontem: figuras e fatos de minha geração. Op. Cit.p. 18.). Trata-se do mais expressivo grêmio literário no que diz respeito à longevidade da cidade do Natal (1894-1904). Como podemos perceber, constituiu-se em uma associação que durou dez anos. Êxito, até então inédito, na história literária da cidade do Natal.

Durante a sua constituição, o jornal A República teve sua sede em diversos pontos entre os bairros da Cidade Alta e Ribeira: sua primeira redação na Rua Visconde do Uruguai, nº 6 – depois passaria a se chamar Rua Doutor Barata – já que sua impressão acontecia na Rua da Conceição, nº 2, tipografia de João Carlos Wanderley que vende ao partido Republicano passando a ser sede e redação no mesmo endereço. Já ao fim de 1889 muda-se para Rua 13 de Maio, nº 51 – rua que depois passa a se chamar Frei Miguelinho, até ocupar o prédio na Av. Tavares de Lira.

As conversas faziam parte da dinâmica das redações. Vejamos como Pedro de Alcântara Pessoa Melo recorda os momentos de bate-papos entre os redatores da revista literária Oásis (1894), na Rua da Conceição, número não identificado:

Lembro-me salvo algum lapso de memória, de Alfredo Carvalho, Cornélio Leite, Cícero Moura, Hervêncio Mariano, João Câncio, Uldarico Cavalcanti, Aurélio Pinheiro, os irmãos Fernandes (Sebastião e Raul), Antônio Soares, Alcino Carneiro, Galdino Lima. Esse grupo, tôdas as tardes, se reunia no seu bureau – cubículo situado nos fundos do prédio ocupado pela Chefatura da Polícia, à rua Conceição. Mantinhamos ali nossa sede, nossa oficina tipográfica (3 caixas de tipos e um prelo manual) e nossa redação tudo isso nos custando o aluguel mensal de 10.000 réis. Nossas tertúlias se prolongavam até o anoitecer. Palestrava-se, discutia-se, trocavam-se ideias sobre vários assuntos, tudo num tom ameno, na mais estreita cordialidade (MELO, Pedro de Âlcantara Pessoa de. Op cit. p. 18).

O fragmento destacado acima é um pouco longo, mas merece a nossa atenção devido às ricas alusões contidas nele. Pedro Melo fez parte da redação da Oásis desde o ano de 1899 até 1904. O autor expôs suas memórias em uma conferência na Academia Norte Riograndense de Letras, em 1962. Pedro Melo recorda dos aspectos físicos da redação da revista Oásis.

O logradouro ainda estava sediada outros periódicos e tipografias: o Diário do Natal (1895 – 1905 / 1906-1913), Rua da Conceição, s/n, e a Tipografia Natalense/Diário do Natal (1895-1908) que Elias Sout mudou para Rua da Conceição, número 43, o para melhoria do seu jornal. Eram confeccionados os seguintes jornais: Oásis (1894-1904), O Íris (1897 – 1898), O Planeta (1896) e A urtiga (1898).

PALÁCIO POTENGI

Em meados do século XIX, funcionava naquele local a Assembleia Legislativa juntamente com a Tesouraria Provincial. Depois da proposta do Diretor de Obras públicas de demolir o sótão deste prédio e amplia-lo até a rua grande (hoje Praça André de Albuquerque), em 1866 o presidente Olintho José Meira resolveu destruí-lo para que fosse erguido um novo imóvel a fim de abrigar outros órgãos públicos (NESI, 2012).

A obra do atual Palácio Potengi, foi concluída em 17 de março de 1873, mesmo dia da sua inauguração. Em 10 de março de 1902, o mesmo prédio que serviu como sede ao Palácio do Tesouro, se tornou a nova sede do Governo (CASCUDO, 1999).

O prédio apresenta estilo neoclássico, contendo dois pavimentos com o partido e planta retangular, possui telhado de quatro águas, arrematado por platibanda corrida. Sua fachada contém uma simetria perfeita. Possui portada central, com três vãos em arcos plenos emoldurados por colunas e cunhais, ladeada por janelas de vergas retas. O Pavimento superior apresenta janelas rasgadas, com guarda- corpos de ferro, e na parede central uma sacada corrida, frontão triangular com brasão no tímpano. Atualmente o prédio funciona como Pinacoteca do Estado.

Palácio Potengi. Fonte: CD Natal, ontem e hoje (Arquivo HCUrb).

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO

Localizado na Rua da Conceição, é a mais antiga Instituição Cultural da Cidade e do Estado. De acordo com Jeanne Nesi (1999), sua construção data de 1906 e sua inauguração se deu em 1908. Além de abrigar o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, entre 1908 e 1933, também funcionou como sede do Tribunal de Justiça (GOSSON, 1998).

Com sua arquitetura neoclássica, a edificação caracteriza-se pelos frontões curvos e triangulares, pela platibanda e pela balaustrada arrematando o coroamento das paredes. Ainda destaca-se a escadaria lateral e o balaústre com 1,50m de altura sobre o qual a edificação ergueu-se, caracterizando-a como uma construção de porão alto.

Uma obra neoclássica importante é o prédio do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN. “É uma das mais significativas edificações que a cidade de Natal preserva” (NESI, 2012, p.96). Implantado no alinhamento da Rua da Conceição, o prédio apresenta um partido de planta retangular, fachadas com traços e características neoclássicas, com frontões curvos e triangulares – com uma distribuição que busca a simetria – platibanda com balaustrada, arrematando o coroamento das paredes e esquadrias em madeira e vidro. Uma das características marcantes à época da sua construção foi o acesso que se dá pelas laterais valorizado pelas escadarias que lhe dão imponência o nosso IHGRN (Figura 40), é a mais antiga
instituição cultural do Estado. Acha-se tombado pelo governo estadual, desde 30 de novembro de 1984 (NESI, 2012).

No livro 400 nomes de Natal, há uma referência dizendo que o IHGRN também seria de autoria do Herculano, contudo essa informação não foi confirmada. O que podemos inferir é que há possibilidade de ter sido o Herculano o projetista desta edificação já que o governador da época era Alberto Maranhão, no qual era um admirador do arquiteto e a quem lhe incumbiu várias construções em Natal. Como o IHGRN fora construído na mesma época em que Herculano ainda estava por aqui, pode ser de fato que tenha sido projeto seu. Mas, reiteramos, que esta informação não é absoluta.

Tombado, como Patrimônio Histórico, no âmbito estadual desde 1984 esta edificação é guardiã da memória potiguar. Em seu acervo, encontram-se coleções de jornais, revistas e mapas e uma biblioteca com cerca de 25.000 volumes. Dentre as obras ali existentes destaca-se uma edição de Os Lusíadas (1720), uma coleção do Diário das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa (9º vol. De 1821-1823) e o único exemplar ainda existente da 1ª História do Rio Grande do Norte, de Ferreira Nobre, edição de 1877.

Aberto a visitação pública, funciona de 8h às 12h e das 14h às 17h. Pautando, nestes cem anos de história como lugar de pesquisa e estudo da história norte-rio-grandense. Lugar de história e guardiã da memória Potiguar, este é o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

O prédio do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN.
O prédio do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN. Foto: João Galvão.
Instituto Histórico e Geográfico do RN. Foto: Esdras Rebouças Nobre.
Instituto Histórico geográfico do Rio Grande do Norte. Fonte: CD Natal, ontem e hoje (Arquivo HCUrb)
Instituto Histórico e Geográfico do RN – IHGRN. Construído em 1906, o atual prédio do Instituto Histórico e Geográfico do RN está localizado na Rua da Conceição nº 622, abrigando a mais antiga instituição cultural do Estado – fundado em 1902 – cujo acervo bibliográfico e documental é de inestimável valor.

MUSEU CAFÉ FILHO – SOBRADINHO

Localizado na Rua da Conceição, ao lado do Palácio Potengi, a construção datada de 1820 é representante do modelo da residência de famílias abastadas da época com suas janelas em guilhotina, portas em pinho de riga e telhado bastante inclinado.

Além da residência do Capitão-mor da província, o Sobradinho já exerceu diversas atividades como: fábrica de macarrão, carpintaria, sindicato geral dos trabalhadores, sede da Cooperativa de Crédito Norte-rio-grandense, Congregação Mariana e Museu de Arte e História. Atualmente, o prédio abriga o Museu Café Filho. Homenagem ao único potiguar a ocupar a Presidência da República.

O Museu Café Filho é lugar de memória da Capital Potiguar.

Museu Café Filho – Sobradinho. Foto: Esdras Rebouças Nobre.

ANTIGA CASA DO PADRE JOÃO MARIA (ANTIGA SEDE DO IPHAN/RN)

A antiga residência do Padre João Maria está localizada à Rua da Conceição, nº 603, no bairro Cidade Alta. A edificação fora adaptada para moradia, uma vez que sua construção data do século XVII. No local funcionou, neste período, o Armazém Real da Capitania do Rio Grande. Em 1881 o Padre João Maria, considerado santo por parte dos católicos locais, morou na referida casa quando era pároco da Igreja de Nossa Senhora da Apresentação. (NESI, 1994).

Na concepção de Nesi (1994), essa edificação possui expressivo valor histórico e arquitetônico. A casa apresenta partido de planta retangular, desenvolvido em um único pavimento. A fachada do prédio apresenta traços e características neoclássicas, possuindo platibanda com cornija e ornatos de massa.

Quando o imóvel foi adquirido pela Fundação Pró-Memória, do governo federal, ocorreu sua restauração em parceria com a Fundação José Augusto, entidade vinculada ao governo estadual, e ali foi instalado o escritório da Secretaria do Patrimônio Histórico Artístico Nacional / Pró-memória.

Sua reinauguração, com essa nova atribuição, ocorreu em 28 de março de1986. Tombado a nível estadual desde 1990, o prédio abriga hoje a sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, e promove a realização de eventos culturais, como exposições de artes e lançamentos de livros (NESI, 1994).

Antiga Casa do Padre João Maria (atual sede do IPHAN/RN). Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.
RUA DA CONCEIÇÃO – BAIRRO CIDADE ALTA – Foto: Esdras Rebouças Nobre

MORADORES ILUSTRES

A família Cascudo enfrentou uma grave crise financeira no final da década de 1920 e início dos anos de 1930. Isso resultou na falência da loja comercial que possuíam e na perda da propriedade da chácara do Tirol onde moravam. De imediato, em fins de 1932, toda a família se transferiu para uma primeira moradia na avenida Junqueira Aires e, em 1937, mudou-se para uma casa na rua da Conceição, ambas localizadas no bairro da Cidade Alta.

É importante frisar que a casa da avenida Junqueira Aires, onde a família Cascudo morou entre 1932 e 1937, não era ainda o sobradinho, mas uma construção vizinha, com o número 393. Por sua vez, a casa da rua da Conceição, onde essa família residiu entre 1937 e 1946, estava situada de frente à praça Sete de Setembro, local onde foi erguido o atual prédio da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte.

Com o nome de Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio Grande do Norte, o atual Hospital Infantil Varela Santiago foi criado em 1917, quando o médico Manoel Varela Santiago Sobrinho (Touros, RN, 28/04/1885-Natal, 15/07/1977) passou a atender gratuitamente a crianças carentes, em uma sala de sua residência, na Rua da Conceição, onde tinha seu consultório. Trecho hoje ocupado pela Assembleia Legislativa do Estado. GALVÃO, Claudio. Varela Santiago – um apóstolo entre nós. Natal, 2017.

NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

O desenvolvimento da Cidade de Natal ocorreu de forma inexpressiva, ao ponto de durante muito tempo, ser correto afirmar “Natal não há tal”. Neste sentido a instalação da base aérea norteamericana é responsável por um grande crescimento da expansão urbana da Capital Potiguar. Segundo Mariz e Suassuna (2002, p. 327), Natal:

Mesmo sendo uma cidade pequena, contava com entidades científicas como o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, localizado na Rua da Conceição, 622, a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, o Aero-Club do Rio Grande do Norte, localizado na Av. Hermes da Fonseca, onze clubes esportivos, três jornais – A República, A Ordem e o Diário (18-09-1939) – e o Grande Hotel, único hotel em Natal na época, que pertencia ao Estado mas fora arrendado a Theodorico Bezerra.

FONTES PRIMÁRIAS:

ARAÚJO, Gizele T. Luzes na cidade: considerações sobre a introdução do sistema de iluminação pública em Natal (1905-1911). Monografia, 2010 (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Depto de Arquitetura, UFRN, Natal, 2010.

CASCUDO, Luiz da Câmara. História da Cidade do Natal. 3. ed. Natal: IHG/RN, 1999.

CASCUDO, Luís da Câmara. História do Rio Grande do Norte. 2 ed. Natal: Fundação José Augusto; Rio de Janeiro: Achiamé, 1984.

Caminhos de Natal / Jeanne Fonseca Leite Nesi ; ilustrações, Urban Sketchers Natal. – Dados eletrônicos (1 arquivo PDF). – 2. ed. – Natal, RN : IPHAN, 2020.

FERNANDES, Luiz. A Imprensa periódica no Rio Grande do Norte (1832 a 1908). Fundação José Augusto: Sebo Vermelho, 1998. p. 22-25.

GOSSON, Eduardo Antônio. história do Poder Judiciário do Rio Grande do norte. Natal: Departamento Estadual de Imprensa, 1998.

ILUMINA-SE A CIDADE: NOTAS SOBRE A FORMAÇÃO DO SISTEMA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA EM NATAL (1911-1930). George Alexandre Ferreira Dantas, Barbara Gondim Lambert Moreira e Ítalo Dantas de Araújo Maia. Simposio Internacional Globalización, innovación y construcción de redes técnicas urbanas em América y Europa, 1890-1930, Brazilian Traction, Barcelona Traction y otros conclomerados financieros y técnicos. Universidad de Barcelona, Facultad de Geografia e Historia, 23-26 de eberi 2012.

MARIZ, Marlene da Silva; SUASSUNA, Luiz Eduardo Brandão. História do Rio Grande do Norte. Natal: Sebo Vermelho, 2002.

MELO, Pedro de Alcântara Pessoa de. Natal de ontem: figuras e fatos de minha geração. Natal: Sebo Vermelho, 2006.

MIRANDA, João Maurício Fernandes de. Evolução urbana de Natal em 400 anos: 1599-1999. Vol. VII. Natal: Iarte, 1999.

NESI, Jeanne Fonseca Leite. . Natal: Fundação José Augusto; APEC, 1994.

NESI, Jeanne F.L. Natal monumental. Natal: IPHAN-RN, 2012.

SOUZA, Itamar de. Nova história de Natal. 2. ed. rev. e atual. Natal: Departamento Estadual de Imprensa, 2008.

FONTES:

“Em cada esquina um poeta, em cada rua um jornal”: a vida intelectual natalense (1889-1930) / Maiara Juliana Gonçalves da Silva. – Natal, RN, 2014.

A eletricidade chega à cidade: inovação técnica e a vida urbana em Natal (1911-1940) / Alenuska Kelly Guimarães Andrade. – 2009.

A MODERNIZAÇÃO DA CIDADE DO NATAL: O AFORMOSEAMENTO DO BAIRRO DA RIBEIRA (1899-1920). / LÍDIA MAIA NETA. – NATAL/Dez/2000.

Anuário Natal 2007 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2008.

Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.

Dos caminhos de água aos caminhos de ferro: a construção da hegemonia de Natal através das vias de transporte (1820-1920) / Wagner do Nascimento Rodrigues. – Natal, RN, 2006. 180 f.

História do estado do Rio Grande do Norte / Rocha Pombo. – Natal: EDUFRN, 2019.

Luís Natal ou Câmara Cascudo: Luís Natal ou Câmara Cascudo: o autor da cidade e o espaço como autoria o autor da cidade e o espaço como autoria. Francisco Firmino Sales Neto. Natal/RN. 2009.

Natal: história, cultura e turismo / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal: DIPE – SEMURB, 2008.

Natal Não-Há-Tal: Aspectos da História da Cidade do Natal/ Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo; organização de João. Gothardo Dantas Emerenciano. _ Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2007.

Natal ontem e hoje / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal (RN): Departamento de Informação Pesquisa e Estatística, 2006.

O Estado Novo no controle da informação cotidiana: o caso da cidade de Natal (1941-1943) a partir do jornal “A República” / Fernanda Carla da Silva Costa. – João Pessoa, 2019.

O Lugar do Patrimônio Urbano na Dinâmica da Cidade Natal-RN / Sara Cibele Rego de Medeiros – Salvador, 2017.

O nosso maestro: biografia de Waldemar de Almeida / Cláudio Galvão. – Natal: EDUFRN, 2019.

UM ARTÍFICE MINEIRO PELO PAÍS: Formação, trajetória e produção do arquiteto Herculano Ramos em Natal / Débora Youchoubel Pereira de Araújo Luna. – Natal, RN, 2016.

Um espaço pioneiro de modernidade educacional: Grupo Escolar “Augusto Severo” – Natal/RN (1908-13). Ana Zélia Maria Moreira. – Natal, RN, 2005.

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