O bairro das Quintas
O bairro das Quintas é um bairro popular localizado na Zona Oeste de Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte. Foi oficializado bairro em 30 de Setembro de 1947, pela lei 251, e mantém seus limites atuais desde 1994.
Origens
O Brasil ainda era Colônia portuguesa quando Antônio da Gama Luna e Maria Borges receberam em 1717, como doação do Império, uma grande porção de terras devolutas às margens do Rio Potengi.
Antigo caminho de Natal para Macaíba, as Quintas era uma região de sítios e fazendas. Lugar de granjeiros, margeando o rio Potengi, cortado pelo riacho das Quintas ou rio das lavadeiras, as Quintas tem seus limites “confundidos” com o do velho e bom Alecrim.
Seu nome deriva do século XVIII, quando a região fértil antigo caminho entre Natal e Macaíba era formada por sítios e granjas e a sede da propriedade do casal ficou conhecida como “Quinta Velha” – em Portugal, a palavra “quinta” significa “casa de campo com terreno para plantio”.
Essa é uma das versões para a origem do nome das Quintas, bairro tradicional da zona Oeste da cidade que comemora 304 anos de história em 2021.
A outra versão, também histórica e igualmente considerada pelo moradores do bairro, remete aos idos de 1731 quando a administração da localidade passou para as mãos do capitão lusitano Pedro Novoa: como as famílias que arrendaram as terras não dispunham de dinheiro, ele institui o antigo formato de arrendamento que previa o pagamento com a quinta parte do que era produzido.
As Quintas, recorremos a Cascudo (1999), era também lugar de festas compridas e gostosas como cana-de-açúcar. O bairro Quintas foi criado oficialmente, em fins da década de 1940, durante a administração do Prefeito Sylvio Pedroza. Neste período, o local recebeu um dos primeiros calçamentos, que compreendia a Rua Nova, a Rua Mário Negócio, até a Rua dos Pêgas, integrando-as com a Avenida 12, até o Alecrim.
Sobre as Quintas escreveu Fernando de Oliveira em artigo para o jornal A Ordem: “As Quintas é um dos bairros mais habitados de Natal. Lá reside toda uma população constituída, em geral, de famílias pobres que ganham a vida vendendo produtos caseiros aqui na cidade ou lavam a roupa dos mais afortunados. As ruas – por ser um bairro muito distante, não tem calçamento e a poeira levantada pelos veículos que vão e que vem tinge a cara das casas de uma cor cinzenta ou amarelo de barro”.(A ORDEM, 08/01/1948, p.4)
Ainda de acordo com o citado autor havia muitas deficiências naquele pedaço vivo de Natal. Entretanto, alguma coisa já se fazia para melhorar a habitação daquela gente boa, tanto assim que a prefeitura já estava mandando encostar material para a construção de casas populares naquele bairro.
Na época, existia uma linha de ônibus que retornava em frente ao mercado e um galpão também foi construído para venda de produtos trazidos de Extremoz como bolos e grude e uma feira livre acontecia do sábado para o domingo. Por mais de 20 anos, as Quintas constituíram o limite da cidade ao Norte, onde havia a “corrente”, local de parada obrigatória de veículos para inspeção dos guardas da fiscalização estadual. A região era popularmente conhecida como “Quintas Profundas”.
O professor Luiz da Câmara Cascudo (1898-1986), em um de seus escritos, afirmou que o bairro “surgiu no caminho que ia para Macaíba e o Seridó, num prolongamento do Alecrim”. Até os dias de hoje a linha do trem serve como limite entre os dois bairros, mas na época os Guarapes ainda não existia e as Quintas encostava no município de Macaíba.
No passado, a região foi um entreposto comercial próspero e dos mais importantes do Rio Grande do Norte: o porto construído pelo comerciante paraibano Fabrício Gomes Pedroza (1809-1872), que se instalou na região com a família no Casarão dos Guarapes (hoje em ruínas), chegou a exportar couro, algodão, açúcar e cereais para outras partes do Brasil e Europa.
Conforme CASTRO (2007, p.983): “por mais de 20 anos, Quintas foi o limite da cidade ao norte, onde havia a “corrente”, local de parada obrigatória de veículos para inspeção dos guardas da fiscalização estadual. Era popularmente conhecida como “Quintas profundas”.
O Bairro sediou o primeiro matadouro de Natal (onde hoje fica a sede da empresa de limpeza pública, a Urbana). Também sediou o Cinema São José e uma amplificadora (sistema de som instalado em diversas ruas que divulgava as manifestações da cultura popular).
Cultura
“O bairro tem tradição. Além do passado comercial, foi nas Quintas que surgiram as primeiras escolas de samba e as primeiras quadrilhas juninas de Natal. Também tínhamos muitos grupos de cultura popular: boi de reis, bambelô, pastoril, marujada, joão redondo”, disse o ator e diretor de teatro Costa Filho.
Fundada no Bairro das Quintas a Escola de Samba ‘Grêmio Recreativo Escola de Samba Imperadores do Samba’, em 25 de setembro. Iniciativa do carnavalesco ‘Rubens Pessoa’, ex-fotógrafo profissional e aposentado da Assessoria de Imprensa do Governo do Estado. A citada ‘Escola’ durante sua existência foi campeã em diversas oportunidades. A mesma tinha em seus quadros a mais famosa baiana de nossas Escolas, a saudosa – ‘Mamãe Dolores’.
A citada agremiação é oriunda de outra Escola – ‘Pioneiros do Samba’, também fundada pelo incansável – ‘Rubens Pessoa’. Apesar da crise financeira no país, da inflação dos produtos carnavalescos e da proibição da então Igreja, o nosso carnaval de 1954, foi filmado pelo que se sabe pela primeira vez, embora não se saiba aonde esteja este histórico filme.
Ele recorda que “um dos palhoções do programa ‘De pé no chão também se aprende’, do prefeito Djalma Maranhão (1915-1971), funcionou aqui na Rua dos Pêgas, no mesmo local onde hoje é a Escola Municipal Ferreira Itajubá”.
Ex-aluno aluno e assistente do saudoso teatrólogo Jesiel Figueiredo (1938-1994), Costa Filho busca apoio para realizar um Auto alusivo aos 300 anos das Quintas no mês de dezembro. “Infelizmente a violência reduziu muito a vida noturna e cultural do bairro, pelo menos ficou o costume de, no fim da tarde, as pessoas irem conversar na calçada apreciando o pôr do sol. O Auto é justamente para relembrar essas tradições, e apresentar a cultura do bairro às novas gerações”, valorizou o artista, nascido e criado nas Quintas, e herdeiro do finado seu Aprígio, um sanfoneiro popular na comunidade que ajudou a fundar a Rua Nações Unidas ainda na década de 1940.
Riacho das Quintas
Na Avenida das Lavadeiras existe um pequeno riacho que corta o meio da avenida, próximo do conjunto Novo Horizonte, conhecido pela população como a Favela do Japão. Pouca gente sabe, que este pequeno rio faz parte da história do bairro das Quintas.
De acordo com os historiadores potiguares, os holandeses quando invadiram o Rio Grande do Norte montaram um povoado, chamada Keysers Croon, onde fica as Quintas. Em 1647, o holandês George Macgrave publica um mapa que mostra registros de um rio chamado Cunhacima, que provavelmente seria o Riacho das Quintas.
O Rio das Lavadeiras, como também é conhecido, conecta-se ao Rio Potengi através do manguezal. Além das Quintas, ele está conectado com os bairros de Bom Pastor e Bairro Nordeste. Alguns trechos do rio apresentam pequenos “olheiros”, que são nascentes d’água que afloram no percurso do riacho.
O rio das Quintas, atualmente divide os bairros das Quintas com o Bom Pastor. Esse mesmo rio que mencionado por Cascudo: […] O riozinho humilde, rio de Pedro Nevoa no século XVIII, rio das Quintas no século XIX e XX. O bairro das Quintas começou a surgir como localidade habitacional no final do século XVIII, sendo um pequeno e disperso bairro que se encontra no caminho do sertão, na pista das estradas que levam ao Seridó e Oeste, por Macaíba (CASCUDO, 1980, p. 237- 238).
Até os dias atuais, os mais antigos do bairro relatam que a comunidade do Bom Pastor tinha o nome de “Baixa da Égua”, devido ao próprio Rio das Quintas, que era usado pela população das localidades próximas ao rio e como também viajantes, ao fazerem seu itinerário com destino à cidade de Macaíba, para dar de beber, lavar os seus animais quadrúpedes, como éguas, jumentos e cavalos. Também atribuía esse nome, “Baixa da Égua” devido à distância da comunidade do Bom Pastor em relação ao centro da cidade do Natal e seus moradores oriundos do interior do estado, pequena população que vivia as margens do Rio das Quintas.
As águas do próprio rio, que na época não estavam contaminadas, eram aproveitadas também pelas lavadeiras (senhoras donas de casa), que lavavam roupas para outras famílias de bairros próximos ao centro da cidade. Até o início dos anos de 1960 a comunidade do Bom Pastor resumia-se a essas pessoas que se alojavam as margens do “riozinho” chamado assim por Cascudo (1980), com uma ponte sendo construída pertencente ao bairro das Quintas.
No final da década de 1990, foi construído um canal sobre o rio para evitar que a água transborde e atinja as casas próximas. Em anos anteriores, o canal acabou transbordando e preocupando a população.
Hoje, o riacho é um problema sério para os moradores devido ao acúmulo de lixo, forte odor e recebimento de ligações clandestinas de esgoto dos bairros da zona Oeste da capital do Rio Grande do Norte, tornando o lugar vítima dos inconvenientes advindos da poluição.
Atualmente, o pequeno rio possui diversas irregularidades ambientais e urbanísticas no local, como o despejo de esgoto in natura nas águas; cercas de estacas de concreto quebradas; estruturas construídas na margem do riacho e acúmulos de lixo depositado nos arredores.
Até o momento, a Prefeitura do Natal ou a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) não criou medidas ou algum plano para que este rio fosse despoluído, apesar das inúmeras denúncias feitas pela Promotoria do Meio Ambiente, órgão do Ministério Público do Rio Grande do Norte.
Igreja das Quintas
A capela do bairro das Quintas em Natal tem seu inicio em 06/06/1947 quando se reuniu a Sociedade Recreativa Progressiva das Quintas para tratar da construção da capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a qual segundo o jornal A Ordem: “ compareceu grande número de sócios, senhoras e senhoritas daquele próspero subúrbio da Capital”.(A ORDEM, 14/06/1947, p.2).
Em 17/08/1951 o jornal A Ordem registrou que estava sentada a última porta da capela das Quintas, obra que o Pe. Eimar Monteiro, Arthur Vilar e outros resolveram levar a peito e estavam concluindo.
De acordo com o referido jornal o terreno para a construção da capela das Quintas foi doado por Alfredo Edeltrudes, onde ali se foi erguendo a capela de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro que muito bem faria aquela região das Quintas e Carrasco (atual Dix Sept Rosado).
Os empreendedores da construção da capela das Quintas começaram então a levar adiante a campanha do mosaico para o piso da igrejinha que assim começaria brevemente a funcionar em caráter público (A ORDEM, 17/08/1951, p.1).
Em 1958 já estava listada no rol das igrejas da capital potiguar, sinal de que já havia sido inaugurada anteriormente.
A paróquia de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, segundo consta no site da Arquidiocese de Natal, foi criada em 12/09/1969, tendo sido por muitos anos administrada pelo Pe. Thiago Theisen, sacerdote de origem belga, que desenvolveu intensa e duradoura atividade social nos subúrbios de Natal entre os anos de 1960/1980.
Números
24.996 pessoas moram nas Quintas de acordo com o anuário 2016 publicado pela Prefeitura
7.929 domicílios particulares foram contabilizados pelo IBGE no Censo 2010 no bairro
248,54 hectares é o tamanho da área ocupada pelas Quintas, que faz fronteira ao norte com o Rio Potengi, ao sul com os bairros Dix-Sept Rosado e Bom Pastor; ao leste com o Alecrim; e à oeste com o Bairro Nordeste
17 Escolas públicas e particulares
4 unidades de saúde
3 quadras esportivas
2 feiras livres
Referências bibliográficas:
ANUÁRIO NATAL 2014 / Organizado por: Carlos Eduardo Pereira da Hora, Fernando Antonio Carneiro de Medeiros. – Natal : SEMURB, 2014.
CASCUDO, Luís da Câmara. O livro das velhas figuras. Natal: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, 1976 (v.2).
CASTRO, Paulo Venturele de Paiva. Aspectos históricos do bairro. In: NATAL. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. Conheça Melhor Nossa Cidade. Natal: SEMURB, 2007.p.1094 – 1124.
Fontes de consulta:
Wikipédia via Conheça Seu Bairro – Prefeitura do Natal em https://pt.wikipedia.org/wiki/Quintas_(Natal). Acesso no dia 01/09/2021
Tribuna do Norte – Quintas, 300 anos de povoamento em http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/quintas-300-anos-de-povoamento/391047 . Acesso em 01/09/2021
Câmara Municipal de Natal – Sessão Solene homenageia o 302º aniversário do bairro das Quintas – https://www.cmnat.rn.gov.br/noticias/1385/sesso-solene-homenageia-o-302-aniversrio-do-bairro-das-quintas. Acesso em 01/09/2021
Blog Brechando – O Que É O Riacho Das Quintas? – https://brechando.com/2016/04/o-que-e-o-riacho-das-quintas/ Acesso em 01/09/2021
Gutenberg Costa – Pedagogo, folclorista e pesquisador do carnaval natalense.
Crônicas taipuenses – A CAPELA DAS QUINTAS – https://cronicastaipuenses.blogspot.com/2021/06/a-capela-das-quintas.html. Acesso em 01/09/2021
Gostaria de saber qual era o endereço em que estava localizado no Bairro das Quintas o “Observatório Astronômico das Quintas” pertencente ao Professor Roque José da Silva. Desde já lhes agradeço pelo eventual fornecimento dessa informação.
Gostaria de saber o endereço em que residia o Professor Roque José da Silva. Na residência dele no bairro das Quintas estava instalado um telescópio astronômico que era utilizado Pela ANRA – Associação Norte Riograndense de Astronomia. O Professor Roque José da Silva foi um ilustre e mui capacitado Professor tanto do Ateneu Norte-Riograndense como do Ginásio Natal.
OK. Meu e-mail é o seguinte: soaresfilhomel@gmail.com