Pedro Velho de Albuquerque Maranhão

Governador Pedro Velho (1856-1907) Fonte: (MIRANDA, 1981, p. 55)

No dia 27 de novembro ocorreu os 165 anos de nascimento de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, o chefe da propaganda republicana, o organizador das novas instituições, o seu primeiro governador eleito, o chefe da quase unanimidade do seu povo por 18 anos a fio, sem um minuto sequer de quebra ou apoucamento do seu prestígio que inabalável se conservou até ao dia de sua morte aos 9 de dezembro de 1907.

Médico, professor do Atheneu Norte-rio-grandense, abolicionista, fundou em 27 de janeiro de 1889 o partido Republicano do Rio Grande do Norte e em 1º de julho de 1889 fez circular o primeiro número do jornal “A REPÚBLICA” – órgão do PR. Foi deputado federal (1890 a 1893 e em 1896), governador em três períodos: 17/11/1889 – 6/12/1889, 19/9/1890 – 8/11/1890 e 28/2/1892 – 31/10/1895, senador da República (1897 a 1906 e de 1906 – 1907), sendo o chefe político mais poderoso do Rio Grande do Norte no início da República.

Origens

Pedro Velho descendia de nobre estirpe, de uma daquelas famílias ilustres que, desde o período colonial, por motivo de serem proprietários da terra uma, por motivo de maior cuidado com a educação dos seus componentes outras, sempre detiveram, através de muitos dos seus filhos, os postos de comando político e direção social. Os Albuquerque Maranhão foram, no nordeste, um dos ramos mais mais férteis dentre tais grupos familiares.

O Instituto Tavares de Lyra comemorou em 2019 os 160 anos da Casa Fabrício & Cia., em Guarapes, Macaíba/RN, com uma imagem feita no jardim direito que existia na casa grande, onde aparecem, em pé: Sérgio Luís Carlos de Albuquerque Maranhão, Joaquim Cipião, Pedro Avelino. Sentados: Petronila Pedroza, Pedro Velho, Débora Carolina, Amaro Barreto Filho, Adelino Maranhão e Augusto Severo, 1882.

No Rio Grande do Norte os Albuquerque surgiram e afirmaram varonilmente, através da história, com Jerônimo de Albuquerque, o seu primeiro capitão-mor, e com André de Albuquerque Maranhão, famoso na revolução republicana em 1817, duas figuras máximas na história do nosso estado, no período embrionário da formação da nacionalidade.

Nascido aos 27 de novembro de 1856, na Rua do Comércio, atual Rua Chile, n. 178 (Correios), no bairro da Ribeira, em Natal, filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e de Feliciana Maria da Silva Pedroza, esta filha de Fabrício Gomes Pedroza, senhor de engenho e grande comerciante em Macaíba e de Dona Luiza Pedroza. Era neto paterno de Izabel Cândida de Albuquerque Maranhão (de Nazaré da Mata/PE) e Pedro Velho do Rego Barreto e materno de Fabrício Gomes Pedroza (fundador da cidade de Macaíba e da Firma Fabrício & Cia., em Guarapes) e de Maria da Silva e Vasconcelos.

Rara fotografia do governador Pedro Velho e o filhos Sophia Eugenia Tavares de, Dalila Rosa Paes Barreto e Amaro Barreto Neto. Cerca de 1890. Fotografia feita no Rio de Janeiro por Cypriano e Silveira, fotógrafos da Casa Imperial, rua dos ourives, 34″ ( Fonte: Instituto Tavares de Lyra )

Foi o primogênito: seguir-se-iam Augusto Severo, Amaro Barreto Filho, Fabrício Maranhão e Inês Augusta.

Segundo Luís da Câmara Cascudo, Pedro Velho foi batizado na capela de Nossa Senhora da Conceição, no engenho Jundiaí, em Macaíba, aos 26 de junho de 1857, sendo padrinhos seus tios maternos Francisco Gomes Pedroza e Maria da Cruz Pedroza. Oficiou o ato o vigário Bartolomeu da Rocha Fagundes.

Formação

Sua meninice se desenvolveu entre os municípios de Natal, Macaíba e Canguaretama, notadamente no engenho Jundiaí e em Guarapes. Foi alfabetizado pelo professor Antônio Ferreira de Oliveira.

Estudou inicialmente em Natal, Ceará-Mirim e Guarapes; depois, começou o secundário em Recife, no Ginásio Pernambucano, e concluiu-o em Salvador, na Bahia, no famoso Colégio Abílio, dirigido pelo Barão de Macaúbas, passando, concluída a formação ginasial, a frequentar a Escola de Medicina daquela Província, da qual se transferiu no 4º ano para o Rio de Janeiro no terceiro ano acadêmico, interrompendo os estudos para viajar à Europa com vistas a tratamento de saúde.

Ao retornar, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e completou o período universitário, formando-se em 1881.

Foi casado com a sua tia materna Petronila Florinda Pedroza, filha do terceiro casamento de seu avô Fabrício Gomes Pedroza com a sua tia Luíza Florinda Barreto de Albuquerque Maranhão, irmã de Amaro Barreto. O casamento foi celebrado na então corte do Rio de Janeiro, aos 27 de abril de 1881 na matriz de São José, próxima ao Paço Imperial, conforme certidão que segue:

Aos vinte e sete de abril de mil oitocentos e oitenta e um, nesta Matriz, consta a provisão do Ilmo. Monsenhor Vigário Geral, da qual consta a dispensado impedimento de consanguinidade com segundo grau da linha transversal, cumpridas as exigências impostas, assisti ao Sacramento do matrimônio que, perante mim e as testemunhas bacharel Joaquim Jerônimo Fernandes da Cunha Filho, José Seabra e Cristiano C. Coutinho, celebraram, Juxta Tridentinum e Constituição do Bispado, Dr. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e Feliciana Maria da Silva Albuquerque, com Petronila Florinda Pedroza, filha de Fabrício Gomes Pedroza e Luíza Florinda Pedroza, ambos os contraentes naturais da província do Rio Grande do Norte e moradores nesta freguesia, de que se fez este assento. O Coadjutor Ignácio Ferreira Campelo. (Livro de casamentos da Freguesia de São José, n. 07, p. 145).

Conforme aponta a neta primogênita do casal, Sophia Augusta Tavares de Lyra, até a República – lutas, incertezas e filhos. Um após o outro:

F1. Sophia Eugênia Tavares de Lyra *Natal/RN 21/01/1882 +Rio de Janeiro/RJ 29/12/1964, casada em Natal/RN em 21/01/1902, com Augusto Tavares de Lyra, filho de Feliciano de Lyra Tavares e Maria Rosalina de Albuquerque Vasconcelos;

F2. Dalila Rosa Paes Barreto *Natal/RN 21/01/1883, casada aos 21/02/1903, com o primo paterno Sérgio Paes Barreto *Recife/PE 14/01/1879 +Rio de Janeiro/RJ 27/09/1962, filho de Juvino César Paes Barreto e Inês Augusta Maranhão Paes Barreto;

F3. Mário Amélio de Albuquerque Maranhão *Natal/RN 03/04/1884 +Natal/RN 21/11/1944, casado;

F4. Gastão Edgard de Albuquerque Maranhão *Natal/RN 26/09/1885 +Rio de Janeiro/RJ 25/08/1921, médico, casado no Rio de Janeiro/RJ 10/05/1913 com Josefina de Aguiar Maranhão *Rio de Janeiro/RJ 13/01, filha do Cel. Feliciano Benjamim de Souza Aguiar;

F5. Ernesto Frederico de Albuquerque Maranhão *Natal/RN 22/12/1886, oficial da inspetoria das estradas, casado em 22-12-1909 com Ana Dulce de Moura *1894 +1975;

F6. Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão Neto *Natal/RN 03/02/1888;

F7. Carlos Edgar de Albuquerque Maranhão *Natal/RN 30/03/1889;

F8. Carmem Maria de Albuquerque Maranhão *Natal/RN 10/04/1890;

F9. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão Filho *Natal/RN 01/08/1892 +Natal/RN 22/04/1911;

F10. Paulo Júlio de Albuquerque Maranhão *Natal/RN 28/06/1893, +Rio de Janeiro/RJ 05/09/1965, casado no Rio de Janeiro com Celina dos Reis Maranhão +Rio de Janeiro/RJ 18/01/1964;

F11. Camilo Flávio de Albuquerque Maranhão *Natal/RN 28/02/1895;

F12. Clóvis Nilo de Albuquerque Maranhão *Natal/RN 05/03/1896;

F13. Aurélio Túlio de Albuquerque Maranhão *Natal/RN 21/08/1900.

Foi aluno dos mais distintos, e, após brilhante defesa de tese em que versou o problema das condições patogênicas das palpitações do coração e dos meios de combatê-las, recebeu a sua carta de doutor em medicina em 1881. Retomou então a sua terra natal, onde, além do sacerdócio médico, passou a exercer o apostolado educacional.

Retornando ao Rio Grande do Norte, passou alguns meses em São José do Mipibu e, por fim, naquele mesmo ano de 1881, fixou-se definitivamente em Natal.

Fundou o Ginásio Norte-Riograndense, juntamente com os irmãos Amaro Barreto e Augusto Severo, que funcionou de 1882-1884, modelar estabelecimento de ensino secundário, diz um dos seus biógrafos, Tavares de Lyra e, mediante concurso, conseguiu a cadeira de História Geral e do Brasil no Ateneu Norte-Riograndense, o instituto oficial de ensino secundário que ainda hoje serve a formação espiritual da mocidade potiguar.

Passou a clinicar, a ensinar história no Atheneu, fundou o Ginásio Rio-grandense e, poucos anos depois, foi nomeado Inspetor da Saúde Pública (1885).

O primeiro pianista norte-rio-grandense a se destacar no Estado e fora dele foi Amaro Barreto (Filho). Irmão de Augusto Severo, Pedro Velho e Alberto Maranhão, políticos, e Joaquim Scipião, violinista, realizou seus dois primeiros recitais em Natal, em maio de 1890, apresentando-se depois em 1896 e 1906. Nesse ano de 1906 tornou-se professor do Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro. Retornou a Natal para recitais em 1910 e 1911.

Como professor, Pedro Velho não limitava a sua ação, como faz a generalidade dos que ensinam no Brasil, a ministrar as noções e o conhecimento da matéria de sua cadeira. Identificava-se com os seus alunos, assistia-os de perto, era um verdadeiro educador, compenetrado de que a sua função era alta e lhe cabia exercer verdadeira paternidade espiritual. A vida e os progressos dos seus discípulos vivamente o interessavam e eram por ele acompanhados com o maior carinho, e disso dá testemunho eloquente esta carta por ele dirigida em 17 de janeiro de 1883 ao Cel. Miguel Soares, pai do seu aluno, Theodulo Soares de Câmara, depois, e por sua vez, um grande educador com que o Rio Grande do Norte contou para a preparação mental e moral das gerações novas que se aprestavam para o serviço da terra:

Prezado patrício e amigo Sr. Miguel Soares,

Durante o passado ano escolar tive o prazer de dirigir o ensino literário e a educação moral de seu bom filho e caro discípulo meu, o menino Theodolo – um belo espírito e melhor coração.

Por sua constante aplicação ao trabalho e não menor, para seu exemplar proceder esse aluno soube merecer solidas simpatias, não só minhas, como de todo o corpo docente do Ginásio – Dispondo dos recursos intelectuais que possui, e aparelhado, como está pela compreensão já bastante lúcida do nosso sistema de ensino, o Theodolo pode bem fazer uma belíssima carreira literária – o que porém eu, amigável e sinceramente lembrar (e é este um dos motivos de minha carta) é que seria de máximo interesse para o aproveitamento do rapaz, que ele não perdesse as primeiras explicações, e para isso convém apresentá-lo a matrícula logo na abertura dos cursos, que terá lugar, segundo rezam os estatutos do colégio, no dia 02 de fevereiro próximo. P. e amigo obrigado. Dr. Pedro Velho.

Pedro Velho, pelo seu tipo físico, alto, forte, farta cabeleira, porte elegante, sempre muito bem vestido, e pela sua inteligência privilegiada e irradiante, inspirava simpatia a quantos dele se aproximavam, desde logo conquistados pela afabilidade do seu trato e pelo seu modo de ser como homem e como intelectual.

Espírito aberto às conquistas do progresso e da civilização, desde muito mo o deixou-se empolgar pelas ideias liberais que então despontavam no Brasil. Como era natural, em seu torrão natal alistou-se desde logo nas fileiras dos que pugnavam ela liberdade dos escravos, causa a que serviu na imprensa e na tribuna, com os recursos de uma veemente combatividade e de uma indormida pertinácia.

Republicano entusiasta, escrevia nos jornais, discursava, viajava pelo interior pregando suas convicções políticas. Criou a “Libertadora Norte-rio-grandense” (01.01.1888), dando coesão aos simpatizantes locais pelo regime, até então um tanto dispersos.

Os ideais do próprio republicanismo oficial de Pedro Velho Albuquerque Maranhão foram influenciados por correntes positivistas e evolucionistas. Segundo Almir Carvalho, existiram quatro correntes políticas no Rio Grande do Norte: o Reformismo monárquico conservador, que defendia uma reforma política e administrativa no sistema imperial, mantendo-se fiel à Monarquia; o Radicalismo liberal democrático, que aglutinavam a ala dos liberais norte-rio-grandense mais radicais que defendiam reformas para salvar a Monarquia e democratizá-la; o Republicanismo Romântico, sendo seus membros representantes do republicanismo mais puro “vindo da tradição revolucionária francesa do século XVIII”; e, por fim, o republicanismo oficial, corrente que aglutinou nomes como Pedro Velho e João Avelino //9CARVALHO, Almir Bueno. Nós, os regeneradores da pátria. Op. Cit. p.47-92.).

Segundo o historiador Almir Bueno, Pedro Velho soube adaptar suas crenças republicanas ao meio religioso em que vivia, aproximando-se assim de uma tradição republicana de liberdade de culto e respeito ao clero católico (BUENO, Almir. Visões da República. Op. Cit. p. 83.). Ao escrever acerca da fundação do Partido Republicano no Rio Grande do Norte, o historiador chama atenção para a presença de padres, vigários e outros representantes da Igreja Católica na sessão fundadora do partido, a exemplo do padre José Paulino de Andrade pertencente à diocese de Macaíba.

O chefe político Pedro Velho ainda fez uso de metáforas e analogias religiosas propagando a ideia da República em um meio majoritariamente católico, minimizando assim o impacto da proposta de separação entre Estado – Igreja. Parece-nos que as ideias evolucionistas dos homens de letras da cidade do Natal caminharam similarmente à orientação praticada por Pedro Velho Albuquerque Maranhão, em que era possível dialogar os princípios da filosofia das luzes com a religiosidade cristã.

Pedro Velho morava onde, hoje, se localiza a Escola Doméstica.

Partido Republicano

Convite original para sessão de fundação do Partido Republicano no RN, distribuído em 1889.Assinado por Pedro Velho, Hérmógenes Tinôco, João Avelino, Augusto Severo e João de Albuquerque Maranhão das Estivas.

De resto, o meio potiguar era propício a campanha redentora, que irrompia em todos os recantos da Província, em Mossoró, no Seridó, em Natal, por toda a parte. De tal eficiência foi o movimento, acelerado pela fundação da Sociedade Libertadora Norte-riograndense, em 19 de janeiro de 1888, a que com alma e ardor se filiou Pedro Velho, de tal eficiência foi o movimento emancipacionista, repito, que, ao se decretar em maio daquele ano, a extinção da nefasta instituição, já o Rio Grande do Norte não possuía senão pouco mais de três centenas de escravos. Mas Pedro Velho não podia se deter no caminho da sua marcha pelas públicas liberdades na vitória abolicionista. Passou a pelejar então por outra conquista a da instauração da República.

Antes mesmo da fundação do Partido Republicano norte-rio-grandense (27 de janeiro de 1889), Pedro Velho, instado por Tobias Monteiro, no mesmo mês de agosto da visita do conde D’Eu a Natal, “chefiar o republicanismo local” ao qual se filiou e assumiu a liderança em dezembro de 1888, constituindo-se num de seus principais próceres na província (BUENO, 2002, p. 66).

Tobias do Rego Monteiro, segundo Bueno (2002, p. 65), de importante e tradicional família norte-rio-grandense, era jornalista e funcionário público, radicado no Rio de Janeiro. Foi um dos incentivadores de Pedro Velho, de quem posteriormente divergiu e rompeu.

Imaginou e pôs em execução naquela hora dois instrumentos poderosíssimos: fundou um partido político e um jornal.

Eis aqui a ata de fundação do Partido Republicano, cuja primeira comissão diretora ou executiva coube a Pedro Velho presidir:

Às 12 horas do dia 27 de Janeiro de 1889, teve lugar nesta capital, na residência do cidadão João Avelino Pereira de Vasconcelos, a primeira reunião do partido republicano nesta província, após os movimentos revolucionários, tragicamente afogados no sangue dos patriotas de 1817 e 1824. Presentes muitos cidadãos, e achando-se sobre a mesa um grande numero de adesões de correligionários, que motivos poderosos impediram de comparecer á Capital, foi convidado para assumir a presidência da assembleia o Dr. João de Albuquerque Maranhão servindo-lhe de secretario o Rev. Vigário José Paulino de Andrade e o cidadão Juvêncio Tassino de Menezes.

Obtendo então a palavra o Dr. Pedro Velho expôs os fins da reunião e submeteu á aprovação dos cidadãos presentes as bases da lei orgânica do partido, as quais foram unanimemente aceitas.

Continuando, o orador lembrou a criação de um jornal ou revista que desse conta dos progressos do partido no país e especialmente que se mandasse tirar uma grande edição das obras de propaganda de Assis Brasil e Silva Jardim, para distribuição gratuita entre o povo, e animou os correligionários vindos do interior a que promovessem a criação de clubes locais em seus respectivos municípios. Passou então a fazer a leitura de um manifesto, cuja redação foi aprovada, resolvendo a assembleia que fosse mandado a impressão, afim de ser distribuído largamente na província.

Usaram ainda da palavra outros cidadãos, todos de acordo com as ideias emitidas pelo Dr. Pedro Velho.

Em seguida procedeu-se a duas eleições: a primeira tinha por fim constituir uma comissão executiva provisória, até que no Congresso do partido se nomeie o diretório anual.

Esta comissão ficou composta dos cidadãos seguintes: Dr. Pedro Velho, João Avelino Pereira de Vasconcelos, Dr. Hermógenes Joaquim Barbosa Tinoco, Dr. João de Albuquerque Maranhão, Vigário José Paulino de Andrade, Fabrício Gomes de Albuquerque Maranhão, José de Borja Nogueira e Costa, Antônio Minervino de Moura Soares e Manoel Onofre Pinheiro, os quais dentre si deverão escolher presidente, vice-presidente, tesoureiro e secretários.

A segunda eleição tinha por fim constituir a diretoria do Centro Republicano da capital, que ficou assim composta: Presidente Dr. Hermógenes Joaquim Barbosa Tinoco, Vice-presidente Manoel Pereira da Silva Veiga, tesoureiro Manoel Alves de Souza, 1º Secretario Benedito Ferreira da Silva, 2º Secretario José Joaquim das Chagas Junior.

Terminada a reunião, e fez entre os cidadãos presentes uma bolsa para ocorrer às despesas mais urgentes, telegrafando-se ao presidente do Conselho Federal do Rio de Janeiro sobre a reunião e seus resultados.

E para constar se lavrou a presente ata em que todos assinaram. João de Albuquerque Maranhão, presidente. Vigário José Paulino de Andrade, 1º Secretário Juvêncio Tassino Xavier de Menezes, 2º secretário.

O Partido Republicano foi fundado por Pedro Velho em 27 de janeiro de 1889. O local foi a residência do partidário João Avelino, onde funcionou posteriormente o “Grande Hotel”, que mais tarde se transformou no “Fórum da Justiça”, na Ribeira. Pedro Velho inscreveu no partido quase todos os familiares, destacando-se os irmãos Augusto Severo, Alberto, Fabrício, Joaquim e Adelino Maranhão.

O jornal, A República, fundado por Pedro Velho em 01 de julho de 1889, publicava matérias que atacavam a monarquia e enaltecia os ideais republicanos. Esse jornal era impresso na gráfica de João Carlos de Vasconcelos. As máquinas, compradas em Paris pelo engenheiro Ferro Cardoso, eram de dimensões reduzidas para a publicação do periódico.

De acordo com o saudoso Câmara Cascudo, a notícia da Proclamação da República chegou depois do meio dia do dia 15 de de novembro de 1889 no Rio Grande do Norte através de um telegrama enviado pelopotiguar José Leão Ferreira Souto à direção do Partido Republicano chefiado por Pedro Velho.

Brasileiros!
Está proclamada a República!
Povo, Exército, Armada, na mais patriótica e sublime confraternização, sacodem o jugo vergonhoso do Império e firmam os seus foros de cidadãos.
Purificou-se, enfim, o Continente Novo.
Hoje, de um a outro pólo, do Atlântico ao Pacífico, há uma só crença – a soberania popular – é a lei americana!
A alma nacional, inundada de júbilo, destitui o Império, a firmar-se na Capital Brasileira um governo provisório composto do grande Quintino Bocaiúva, do invicto General Deodoro da Fonseca e do ilustre publicista Aristides Lobo.
A república é a paz, a ordem, a tranqüilidade interna, a harmonia internacional, a civilização e o progresso.
Os ódios e os rancores partidários não cabem em corações cheios da onda redentora da Liberdade.
O Brasil em pouco tempo deu ao mundo dois grandes exemplos de civismo, que lhe conquistaram na História um lugar de honra, uma glória imortal.
13 de maio a 15 de novembro!
São na vida nacional os dois pontos de apoio da nossa futura evolução política, social e econômica.
Viva a República!
Viva a Pátria redimida!
Viva o Povo Norte-rio-grandense!
Viva o Governo Provisório!

Natal, 15 de novembro.
Dr. Pedro Velho.

Um dos textos da edição histórica de 1.º de Julho de 1889: Boletim D’aRepública. Departamento Estadual de Imprensa -. http://www.dei.rn.gov.br/Conteudo.asp?TRAN=ITEM&TARG=53991&ACT=&PAGE=&PARM=&LBL=NOT%CDCIA. Acesso em 04/12/2021.

O até então Presidente da Província, o tenente-coronel Antônio Ribeiro Dantas, mandou um emissário convidar o republicano para assumir o posto no palácio do governo, na Ribeira, mas Pedro Velho teve receio de apossar-se do cargo e consultou lideranças conservadoras e alguns liberais para coonestar seu ato solene em palácio, para desgosto de alguns republicanos de primeira hora, que ficaram à margem da consulta. Entre os dias 15,16 e 17 foram feitas intensas negociações entre as facções liberais e conservadoras, acerca da transição do poder.

O jornalista, abolicionista e médico Pedro Velho de Albuquerque Maranhão foi quem proclamou a República no Rio Grande do Norte, depois de ter recebido telegrama de Aristides Lobo, um dos principais articuladores da queda da monarquia que mais tarde seria ministro do Interior, autorizando-o a assumir o governo após a proclamação da República no Estado no dia 17 de novembro de 1889, o que foi feito solenemente num clima festivo. O ato anulou a pretensão dos membros do Partido Liberal de ficar a frente do Executivo da província, através de Antônio Basílio Ribeiro Dantas.

Pedro Velho finalmente viu coroada de êxito a sua luta em prol da proclamação da República, à frente de um grupo de idealistas que sonhava em derrubar a Monarquia para implantar a nova ordem vigente. Como veremos adiante, governou apenas até 6 de dezembro de 1889.

Antigo Palácio do Governo da rua Chile

Antigo Palácio do Governo da Rua Chile. Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.

Situado à Rua Chile, no bairro Ribeira, essa edificação tornou-se, em 1869, a 5ª sede do Poder Executivo do Rio Grande do Norte, desde a efetiva ocupação da antiga Capitania. O antigo Palácio do Governo foi residência oficial de 1870 a 1902 e palco da proclamação da República no Estado que, devido às dificuldades de comunicação da época, só se comemorou em 17 de novembro de 1889.

Nele também se realizou a posse do primeiro governador republicano, Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. Em 1902, o governo estadual foi transferido para o Palácio Potengi, na Praça 7 de Setembro, na Cidade Alta (CASCUDO, 1999).

Essa edificação foi construída em estilo neoclássico e, até o início do século XX, era o mais alto sobrado da cidade. (NESI, 1994). Após a transferência da sede do governo, o prédio da Rua Chile foi vendido.

No contexto da Segunda Guerra Mundial, funcionou no local o Wonder Bar, casa de diversão frequentada pelos americanos sediados na cidade (MELO, 1999). No período pós-guerra, o edifício foi ocupado, na parte térrea, por armazéns. Um dos quais pertencentes a Guilherme Lettieri, à época cônsul honorário da Itália em Natal, que comercializava secos e molhado (COSTA, 1995).

Depois de abrigar outros empreendimentos, ficou abandonado até ser doado pela empresa Pesca Alto Mar S.A. ao governo do Rio Grande do Norte que, por meio da Fundação José Augusto, restaurou o antigo palácio cuja cobertura estava totalmente destruída, o que comprometia a solidez das paredes e a estabilidade do prédio (NESI, 1994).

Governo provisório

Em Guarapes, Macaíba, Pedro Velho e Ferreira Chaves jogam gamão sob o olhar das mais altas autoridades potiguares.

Pedro Velho de Albuquerque Maranhão governou o Rio Grande do Norte em dois momentos: o primeiro (de 17 de novembro a 06 de dezembro de 1889), quando assumiu provisoriamente pouco após a proclamação da República, em substituição ao tenente-coronel Antônio Basílio Ribeiro Dantas; o segundo (de 28 de fevereiro de 1892 a 31 de outubro de 1895), quando foi eleito pelo Congresso Legislativo, em 1892.

Os dezenove dias em que esteve provisoriamente a frente dos destinos do estado do Rio Grande do Norte, Pedro Velho pouco pôde fazer. O historiador Rocha Pombo referindo-se ao governo de Pedro Velho, afirma: Durante os poucos dias de seu governo, revelou-se o Dr. Pedro Velho como homem público, dando provas de altas qualidades políticas e muito prudente, de grande tolerância, mas firme e enérgico, ponderado e seguro.

O período é marcado pelos atritos entre ele e os republicanos históricos, alijados que foram da equipe de governo. A equipe montada era composta por indivíduos da mais alta expressão política e cultural, mas que tinham como traço político marcante o anti-republicanismo.

Compôs uma equipe de aliança com representantes do Partido Liberal, excluindo os republicanos. Fato este que gerou grande descontentamento entre seus pares.

Composição: Exterior – José Moreira Brandão Castelo Branco; Interior – José Benardo de Medeiros; Justiça – Amintas José da Costa Barros; Agricultura, Comércio e Obras Públicas – João Avelino Pereira de Vasconcelos; Fazenda – Luiz Emídio; Guerra – Capitão Felipe Bezerra Cavalcanti; Marinha – Capitão Tenente Leôncio Rosa.

Como se vê, era um governo quase que de um país, pois havia secretários da Guerra, da Marinha e até do Exterior. Era um reflexo de certas ideias que vieram à tona nos primeiros dias do novo regime, para alguns de cujos dirigentes a federação implicava em uma dupla soberania – a da União e a dos Estados. Campos Sales, por exemplo, era adepto dessa doutrina.

Quando tentava acomodar republicanos na equipe de governo, Pedro Velho sofre um revés político. O constrangimento da nomeação de sua equipe de governo ocasionou em uma intervenção do governo federal que terminou com o primeiro governo de Pedro Velho que durou poucos dias.

Em 30 de novembro o governo provisório da República, por intermédio do ministro do Interior, Aristides Lobo, afastava-o do cargo e, para assumir o governo do Rio Grande do Norte, nomeava por parte do Governo Provisório Nacional o paulista de Piracicaba Adolfo Gordo que, a 7 de dezembro de 1889, se empossava na administração provisória Norte-riograndense.

Pedro Velho sentiu o golpe, mas não passou recibo e recebeu com festa o seu sucessor, dando a primeira prova de habilidade política e, mesmo fora do poder, continuou prestigiado no Estado, surgindo assim a primeira “raposa política” do Rio Grande do Norte. Além do charme pessoal, era um homem simpático e elegante. Pedro Velho consolidava, mesmo à margem do poder, sua liderança no Estado.

Em 10 de fevereiro de 1890, Adolpho Gordo deixara a governança do estado do Rio Grande do Norte. Diga-se de passagem, na instável república potiguar, comandada por Pedro Velho, o fato seria repetido oito vezes nos 15 primeiros meses do regime republicano.

À demissão de Pedro Velho seguiu-se um conturbado e instável período político, com o Rio Grande do Norte sendo dirigido, no curto espaço de tempo de dois anos e três meses (novembro de 1889 a fevereiro de 1892), por oito governadores e uma Junta Governativa. Governaram o Rio Grande do Norte, segundo Itamar de Souza (1989, p. 217-226), no período: Adolfo Gordo (30/nov/1889 a 08/fev/1890); Joaquim Xavier da Silveira (10/mar/1890 a 19/set/1890); João Gomes Ribeiro (08/nov/1890 a 06/dez/1890); Manuel do Nascimento Castro e Silva (07/dez/1890 a 03/mar/1981); Francisco de Amintas Barros (03/mar/1891 a 13/jun/1891); José Inácio Fernandes Barros (13/jun/1891 a 06/ago/1891); coronel Francisco de Oliveira (06/ago/1891 a 09/set/1891); Miguel Joaquim de Almeida Castro (09/set/1891 a 28/nov/1891); Junta Governativa (28/nov/1891 a 21/fev/1892), formada por pedrovelhistas: Cel. Francisco de Lima e Silva (presidente) Manuel do Nascimento Castro e Silva e Joaquim Ferreira Chaves. Ver, a respeito, SOUZA, Itamar de. A República Velha no Rio Grande do Norte, p. 297-308; e, também, BUENO, Almir de Carvalho. Visões da República: ideias e práticas políticas no Rio Grande do Norte (1880-1895).

Nessa fase atribulada, o Estado teve sete governadores e uma junta governativa. Com seu prestígio, Pedro Velho de Albuquerque Maranhão conseguiu, por intermédio do jurista Amaro Cavalcanti, que o paulista Joaquim Xavier Silveira Júnior fosse nomeado governador e ele, vice- governador, por indicação de Aristides Lobo, Ministro do Interior.

Começaria agora a sua arrancada rumo ao poder. Tendo assumido o cargo provisoriamente nesse período, publicou decreto beneficiando, em relação ao imposto de exportação, a firma de fiação e tecelagem do cunhado Juvino Barreto. No dia 28 de fevereiro de 1892, Pedro Velho é eleito indiretamente pelo Congresso Estadual governador do Estado, cujo mandato se estendeu até 25 de março de 1896. No discurso de posse disse a frase que marcaria seu governo: “Promovam o progresso que garantirei a ordem”.

A população do município de Natal, segundo recenseamento de 1890, era de 18 299 habitantes (Mensagem dirigida ao Congresso Legislativo do Rio Grande do Norte pelo Dr. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, Governador do Estado por occasião de abrir-se a 2° sessão ordinária da 1ª legislatura em 14 de julho de 1893. Natal: Typologia d’A República, 1893). No mesmo ano, a população de Natal era de 13 725 habitantes, segundo CASCUDO, Luis da Câmara. História da cidade do Natal. 2 ed. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira; Brasília : INL; Natal: UFRN, 1980, p. 76.

Consolidação no poder

Casa construída por Amaro Barreto, em Natal e que ficou para o filho Pedro Velho.

Para deputado federal, os liderados de Pedro Velho também fizeram maioria nas eleições parlamentares. A oposição foi praticamente aniquilada no estado. Aquela eleição praticamente reafirmou o que se configurava desde o final da década de 1880, com a consolidação do Partido Republicano como a mais forte agremiação partidária do Rio Grande do Norte e a confirmação do prestígio político e eleitoral de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, eleito pelo voto direto deputado federal.

No pleito de 1890, que elegeria os constituintes federais, Pedro Velho deu o primeiro passo para consolidar a sua liderança, reunindo os vários núcleos republicanos do estado. Num trabalho politicamente bem urdido, Pedro Velho reuniu quase todas as grandes lideranças políticas do estado
no Partido Republicano. Foram lançados como candidatos ao Senado: o líder seridoense José Bernardo de Medeiros, Amaro Cavalcanti e um parente de Pedro Velho, José Pedro de Oliveira Galvão.

Respaldado pela Assembléia Constituinte da República de 1889, Pedro Velho é eleito governador do Estado para o exercício de 1892 a 1895, tendo como vice Silvino Bezerra de Araújo Galvão, ambos representantes de chefes políticos do Litoral e do Seridó do Estado, ligados à produção do açúcar e do algodão, respectivamente, a 28 de fevereiro de 1892, Presidente do Rio Grande do Norte, pelo Congresso Estadual. Há de se ressaltar, porém, que os redutos eleitorais restringiam-se a alguns municípios da região litorânea, por onde se espalhavam seus familiares. O grande contingente eleitoral encontrava-se no sertão do Seridó e oeste do estado. E no final do século XIX, 95% da população norte-rio-grandense era interiorana, o que demonstra o imprescindível apoio dos caciques municipais a Pedro Velho (MARIZ; SUASSUNA, 2002, p. 204).

Nesta conformação, percebe-se claramente a representação política em consonância com a representação econômica do Estado. A República na provincia potiguar nascia tranquilamente, como se fosse a transmissão formal de cargo de um partido a outro, de acordo com a praxe imperial e não uma mudança radial de um regime político por outro, por definição, totalmente diferente (BUENO, 1995, p. 111).

A aliança com os caciques do interior, José Bernardo (Seridó) e Francisco Gurgel (Mossoró), sofreu um pequeno abalo quando, em abril de 1892, o grupo seridoense abriu uma dissidência no Partido Republicano do Rio Grande do Norte ao se aproximar do presidente Floriano Peixoto, o que
manteve Pedro Velho, presidente do estado, sob constante ameaça de deposição armada (BUENO, 2002, p. 130).

Apesar de ter montado a primeira máquina oligárquica no Rio Grande do Norte, Pedro Velho não a fez sem percalços, como mostra Almir Bueno (2002, p. 160-162), descrevendo os atritos entre o chefe da oligarquia Albuquerque Maranhão e José Bernardo, principal líder político seridoense, motivado pela insistência do chefe do clã Maranhão em indicar o irmão Augusto Severo para concorrer à Câmara Federal, nas eleições de 22 de maio de 1892.

Inconformado com a atitude, José Bernardo solicitava ao governador Pedro Velho o cumprimento de compromissos e exigia “lealdade e gratidão para com correligionários tão fiéis como os do Seridó, sem os quais Pedro Velho não teria sido eleito”. Como o governador ignorou o pedido e insistiu na indicação do irmão, Janúncio da Nóbrega interpretou o gesto “como sendo ‘a primeira manifestação de oligarca que se fazia na República, com deturpação de princípios republicanos’, precipitando o rompimento, que José Bernardo não pôde mais evitar”, desgastando a imagem de Pedro Velho e isolando-o politicamente no estado e em nível nacional até o final do seu mandato.

A sua administração cabia dificílima tarefa, qual a de dar os lineamentos do novo arcabouço político, traçando os rumos a seguir sob a nova ordem institucional. Não tardou muito que as dissenções partidárias surgissem, dessa vez sob a chefia do Senador José Bernardo. No início dessas divergências em 20 de março de 1892, Pedro velho escreveu a José Bernardo, no intuito evidente de encontrar fórmula a meios de evitar a separação:

Gabinete do Governador do Estado do Rio Grande do Norte

José Bernardo,

Você estava hemorroidário como os diabos, quando escreveu a sua carta de 5, sobre certas minudências políticas conversaremos aqui (pois eu conto que você virá até o dia 15 ou 20 de abril), e confio que concordaremos em gênero, numero e grau, como sempre. Não convém andar às tontas, nem violentamente. Atos que achei feitos você bem vê, com o seu tino de velho experiente, que não posso nem devo desfazer, senão de acordo.

Os novos espero que ficarão direitinhos. Não como aliados, mas como soldados decididos do partido. Esteve comigo o Gurgel: não me pareceu presumido, antes muito razoável. E, aqui para nós, seu Zé, nós precisamos do homem, sob pena de sermos forçados a fazer uma política artificial em certos municípios, o que não é nem prudente, nem democrático. Isto sem falar na sua expressão: fazer do ladrão, fiel…Antônio Joaquim é o dono de São Miguel, onde não se arredará uma palha sem audiência dele.

O velho Luís Manuel é o mesmo homem de Caraúbas; uns atritos que encontrei hão de dissipar-se.

Para o Triunfo não tenho feito nada senão pelos Jacomes.

No Patu os nossos amigos serão considerados.

Somente Agostinho, (que aliás eu muito estimo) pode magoar-se com a entrada dos outros; mas você conhece aquele inferno de Pau dos Ferros e avalia da tortura que me tem custado.

O T. Gomes já deve saber que foi nomeado promotor. Não o fiz juiz municipal porque já havia declarado que não nomearia nenhum. Até o Manuel José Pinto, que sofreu por nossa causa, ficou sem Santana; mas demiti um irmão o Alberto, que encontrei promotor da Macaíba, para acomodá-lo.

O Ovídio é realmente cacete; mas tem escrito e telegrafado. A malandrice de não vir para o congresso é antiga. Você tem teiró (aliás justificado) com o cidadão da Picada.

Conto, sobre organização do estado, preparar as coisas de maneira que no 1º de julho (2º semestre do ano) entre a máquina toda a funcionar: magistratura (cuja lei não estará preparada antes da sua passagem; intendências (que espero sejam eleitos a 31 de maio); juízes de paz; novo corpo de segurança; instrução reformada.

Agora entramos no capítulo grave da minha substituição no Congresso.

O meu candidato, o candidato natural do partido era o Manoel de Castro. Mas, chegando aqui, consultei o Fernando Lobo, que me respondeu, há dias, dizendo que Nascimento estava incompatível.

Então, pensando maduramente, e passando em revista o nosso pessoal, lembrei-me do Manoel, e, por ora, tenho nele fixadas as minhas vistas. Estava nisto, preparando-me para fazer consultas prévias, antes de apresentá-lo, quando ontem recebi, por telegrama, as instruções que juntas lhe remeto. Urge, portanto resolvermos, e é por isso que lhe peço a sua opinião. Entre outros escreverei também ao Gurgel, que (a propósito) dizem ter renunciado a vice governança por pretender substituir-me…

A minha carta a ele é delicada, mostrando certa confiança, lembrando o Manoel Dantas e fazendo umas considerações sobre capacidade intelectual, confiança, dedicação ao partido requeridas do meu substituto na Câmara, considerações que o porão em embaraços, se ele quisesse responder-me pedindo o logar.

Enfim esperemos, tendo a prudência, que não exclui a firmeza.

Um único a quem comuniquei a minha lembrança, fez-me ver que parecia muito Silvino. Mas convenci-o da sem razão, fazendo-o concordar em que o correligionarismo é um conceito mais alto do que o parentesco, para os verdadeiros políticos.

Se V. tem melhor ideia, me transmita com urgência, até com urgência, até pelo telégrafo. Talvez haja candidatura mais convincente; e, com franqueza não encontrei. E vamos liquidar este caso, para que eu possa marcar o dia da eleição. Um abraço

Natal, 20-03-1892

Do amigo, P. Velho.

Não obstante, o rompimento se verificou. Nada conseguiu evitá-lo e durou cinco anos. De resto, tais divergências eram inevitáveis. É que José Bernardo vinha de uma retumbante vitória eleitoral, na última eleição da monarquia, vitória que, o sagrara chefe de extraordinário prestigio.

Outro fator que desgastou politicamente Pedro Velho foi, segundo Mariz e Suassuna (2002, p. 210), a eleição que renovaria um terço do Senado em 1893. Segundo os autores, o presidente Floriano Peixoto apoiava como candidato Amaro Cavalcanti, político de sua confiança, de grande saber jurídico e financeiro e que se destacava nas grandes discussões (…) pela competência. O chefe do governo estadual indicou e elegeu Almino Álvares Afonso para a vaga do senado. Esse seu comportamento político fez com que passasse a ser apontado como oligarca, ocasionou o desentendimento e rompimento com o bloco do Seridó, liderado por José Bernardo de Medeiros.

Criou o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, através da Lei de nº. 12, de 9 de junho de 1892 e instalado em 1º de julho de 1892.

Com a eleição de Pedro Velho pelo Congresso Legislativo, crescia o poder de pressão da família Albuquerque Maranhão e começava no estado uma campanha de nepotismo sem precedentes. Pedro Velho conseguiu a indicação e, depois, a eleição do irmão Augusto Severo para deputado federal; nomeou seu irmão Alberto Maranhão Secretário do Governo; seu primo João Lira Tavares foi nomeado Chefe dos Correios no estado. Mas também não há dúvida, é fato, que a eleição de Pedro Velho permitiu ao estado do Rio Grande do Norte gozar uma certa estabilidade política.

O Legislativo estadual era dominado pela oligarquia Albuquerque Maranhão. Nas eleições para o Senado e Câmara Federal, os Albuquerque Maranhão elegeram a maioria dos representantes do estado àquelas casas legislativas. Demonstrando uma considerável força política no cenário nacional, a oligarquia Albuquerque Maranhão conseguiu a nomeação de Amaro Cavalcanti como Ministro da Fazenda do governo de Prudente de Morais.

A eleição de Pedro Velho representou a consolidação da máquina oligárquica que dominou o Rio Grande do Norte durante toda a República Velha. O vice-presidente de Pedro Velho era Silvino Bezerra de Araújo Galvão, irmão do coronel José Bezerra, principal chefe político do Seridó. Lembramos que durante a República Velha o Rio Grande do Norte foi chefiado pelos Albuquerque Maranhão e, posteriormente, pelos Bezerra de Medeiros.

Segundo Souza (1989, p. 226-227), a marca do governo Pedro Velho não foi a realização de obras materiais, e sim “a organização em todos os setores” da atividade do estado, implementando uma série de medidas como o estabelecimento do Corpo Militar de Segurança e a Guarda Republicana, a regularização do processo eleitoral, a regulamentação da instrução primária e secundária; instituiu o Serviço Sanitário do Estado, aumentou a arrecadação, regulamentou o Batalhão de Segurança e a Secretaria do Governo, consolidou a legislação sobre o governo e a divisão dos municípios, organizou a legislação sobre as terras, instalou o Tribunal de Justiça e instituiu o montepio dos funcionários estaduais (pedra fundamental da previdência social no Rio Grande do Norte).

Consolidação econômica

Mas se é fato que Pedro Velho foi o “Organizador do Estado Republicano”, no dizer de Cascudo (Apud SOUZA, 1989, p. 227), é igualmente verdadeiro que foi Pedro Velho quem liderou politicamente um grupo que deturpou e subverteu os ideais republicanos, arraigando a “corrupção inerente à prática oligárquica”, através de medidas que beneficiavam somente ao seu grupo político, notadamente à sua família.

Neste âmbito de atuação como vice-governador, segundo Oliveira (2000), as ações de governo ganham destaques pelas medidas em favor da oligarquia Maranhão. Assim é que, logo em maio de 1890 – início da sua gestão como vice-governador-, o então governador Xavier da Silveira assina o Decreto nº 26, isentando o pagamento de direitos de exportação dos produtos da Fábrica de Fiação e Tecidos de Natal, pertencente a Juvino Barreto, cunhado de Pedro Velho. Outro exemplo foi a contratação do Jornal “A República”, para publicação de todos os atos oficiais, por um preço bem superior ao que era habitualmente cobrado. Também a contratação de empresa de seu pai, Amaro Barreto, para abrir a estrada Natal-Macaiba, sem concorrêra pública.

Um outro beneficio, também por Decreto n°51, foi dado através a concessão a Augusto Severo de Albuquerque Maranhão (e a outros amigos) por 50 anos, para construir uma estrada de ferro de Areia Branca a Luiz Gomes. Nesta oportunidade, Pedro Velho assumia provisoriamente o Governo do Estado, por afastamento do governador Xavier da Silveira.

Foi Pedro Velho, por exemplo, quem conseguiu a aprovação de um decreto de 1890, elevando a 10% o imposto de importação de açúcar, nacional ou estrangeiro, favorecendo a produção açucareira dos engenhos dos Albuquerque Maranhão, na medida em que dificultou a concorrência que lhes podia ser feita pelo produto importado.

A família, porém, não descuidou da parte de seus negócios que diziam respeito ao comércio: no mesmo ano, o governo contratou Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão, pai de Pedro Velho, para a construção de uma estrada, com mão-de-obra de retirantes da seca de 1889-90, que, partindo da capital, dirigia-se à Casa Comercial fundada por seu avô e administrada por seus descendentes, em Macaíba. Nem mesmo o sal escapou: Adelino Maranhão, irmão de Pedro Velho, conseguiu tornar-se o arrematador do imposto sobre esse produto (MONTEIRO, 2000, p. 168).

Intendência dos favorecidos

Foto da sede da Intendência tirada por Manuel Dantas na década de 1910. À direita da imagem vê-se o prédio da farmácia torres. Na década de 1920, esse sede, modesta que m suas formas, dará lugar a um prédio mais importante, de estilo eclético, que ainda hoje sedia a prefeitura da cidade.

O art. 5º do decreto n. 8/1890 não não era uma “armadilha” criada por Pedro Velho, para manter todos os municípios sob o jugo do governo do Estado. Mas, como já apontamos, não era o caso. O artigo em questão é uma reprodução daquele de mesmo número presente no decreto federal n. 50-a do governo provisório da República. Aqui, no Rio Grande do Norte, até onde temos notícia, os expedientes autorizados pelo artigo em questão nunca foram utilizados. Nem era preciso.

Mas não era apenas pelas práticas eleitorais da época que o Executivo estadual e a direção do PRF conseguiam fazer valer suas vontades, seus desejos, no Conselho de Intendência de Natal. Para além delas, havia os laços de amizade e parentescos que ligavam os membros do governo do Estado aos intendentes. Basta lembrar que o primeiro presidente da Intendência da capital, o coronel Fabrício Gomes Pedroza, era tio de Pedro Velho; o segundo, João Avelino Pereira de Vasconcellos, que passou curto período à frente da edilidade, era primo do diretor do PRF.

Fabrício Gomes Pedroza, ou Fabrício II, primeiro presidente da Intendência de Natal (1892-1895), estava entre esses homens. Tio de Pedro Velho, Pedroza herdou do pai homônimo um verdadeiro império na região de Coité (hoje Macaíba; à época, ainda ligada ao município de São Gonçalo), a Casa de Guarapes.

Assume o segundo Conselho de Intendência o capitão João Avelino Pereira de Vasconcellos (1837-1922). A maioria das informações que temos sobre ele vem também de Câmara Cascudo. Segundo o citado autor, João Avelino integra o grupo dos republicanos históricos; teria convencido seu primo, Pedro Velho, a aderir à causa republicana. Em sua casa, o Partido Republicano do Rio Grande do Norte foi fundado.

Assumiu o governo do município em seu lugar o então vice-presidente da Intendência, coronel Olympio Tavares, que era casado com a d. Amélia Áurea de A. Maranhão, irmã de Pedro Velho. No ano de 1900, o coronel Joaquim Manoel assume a presidência do Conselho, mantendo-se nele até o ano de 1913. Para não perder a “tradição”, o coronel Joaquim Manoel também tinha fortes laços com a família Albuquerque Maranhão: suas duas filhas chegaram a casar-se com o bacharel Ernesto Maranhão, filho de Pedro Velho; ele mesmo, o coronel “Quincas” Moura, contraiu segundas núpcias com Terceira Lyra, irmã de Tavares de Lyra, o qual era, por sua vez, genro do já tantas vezes referido chefe do PRF no Rio Grande do Norte.

A partir do ano de 1891, com a criação da Intendência Municipal de Natal, o Conselho funcionou no velho casarão de linhas coloniais, sede da Intendência Municipal até 1922, pois neste ano o prédio foi demolido para edificar a atual sede da Prefeitura Municipal de Natal, localizada na rua Ulisses Caldas, 81, Cidade Alta. Ao longo de sua história a Câmara Municipal de Natal funcionou em diversos locais da cidade. Há que se notar o seu constante deslocamento físico, pois ela não tem uma sede própria desde os primórdios administrativos da cidade.

Olympio Tavares (1860-1923) assumiu a Intendência ainda quando compunha o segundo Conselho, formado em 1895. O coronel Tavares foi presidente da Junta Comercial do Estado durante o período de 1899 a 1901, e entre 1905 e 1908, ocupando o cargo de deputado do Congresso Legislativo do Rio Grande do Norte, o qual manteve até o ano de 1912. O prestígio para exercer este cargo de confiança veio, possivelmente, de sua relação com o Dr. Pedro Velho, visto ter se casado em 1886, com dona Amélia Áurea, irmã de Pedro Velho. Não se pode anular, porém, a força que tinha como comerciante local; poucos alcançaram, neste ponto, prestígio parecido.

O ano de 1906 marca, como já vimos, a fundação do Banco do Natal. E o coronel Olympio Tavares terá posição de destaque na criação da primeira instituição de crédito do Estado. Excetuando-se o Tesouro do Estado, com 250 ações, o Dr. Pedro Velho, com 110 (representando, porém, a si e mais doze menores, filhos seus e do irmão falecido, Augusto Severo) e a viúva Ignez Paes Barreto, com 75 ações, ninguém mais que o coronel Tavares possuía tantas ações do Banco: eram 50, que representavam um capital de 10 contos de réis (algo em torno de 15% de tudo que a Intendência previa gastar na capital para o ano de 1907, de acordo com a resolução n. 106/1906). Não à toa, seria eleito o primeiro presidente da instituição de crédito (A REPUBLICA, Natal, 06 fev. 1906.).

Outra relevante instituição local em que os nossos personagens puderam se encontrar foi a Associação Comercial do Estado do Rio Grande do Norte. Em dezembro de 1906, a associação se reúne e estabelece novos estatutos, além de uma nova diretoria, tudo acompanhado pelo senador Pedro Velho, presente na reunião que definiu novos rumos para a citada sociedade (A REPUBLICA, Natal, 17 dez. 1906).

Fica claro que, diante da conjuntura exposta, o ideal de autonomia municipal, expresso na primeira Constituição nacional republicana, era letra morta. O Diario do Natal, não poucas vezes, refere-se ao coronel Joaquim Manoel, homem que por mais tempo esteve à frente da Intendência, como um “bom discípulo”, um fiel aliado de Pedro Velho, que governava, segundo o mesmo jornal, a seu talante a Intendência e o Governo do Estado.

A Constituição estadual de 1891, todavia, ainda dava ao governador do Estado poderes significativos frente aos Conselhos Municipais. Essa Constituição foi substituída pela promulgada pelo Congresso Legislativo Estadual – cujos membros haviam sido eleitos em maio daquele ano – em 21 de julho. Lembremos que nessa época, Pedro Velho, que com sua força política já havia afastado dois governadores “forasteiros”, caíra no ostracismo por apoiar Prudente de Morais nas eleições indiretas para a presidência da República e não o vencedor Deodoro da Fonseca.

Como bem sabemos, Deodoro, com sua intransigência – e talvez também saudoso dos tempos imperiais e do poder Moderador –, teve significativas dificuldades para se relacionar com o Congresso Nacional. Acabou por renunciar em 23 de novembro de 1891, abrindo espaço, assim, para que Pedro Velho seguisse adiante com seu projeto de consolidação do poder de seu grupo familiar.

Cinco dias após a renúncia do Marechal, o governador deodorista Miguel Castro foi deposto por movimento liderado por Pedro Velho e José Bernardo. Formou-se uma Junta Governativa provisória, que guardou o lugar de Pedro Velho, eleito em 31 de janeiro de 1892.

O primeiro ato da Junta Governativa foi a dissolução do Congresso Legislativo. Para o jornal e os aliados dos Albuquerque Maranhão, a República potiguar começara em 28 de novembro de 1891, como bem aponta o historiador Almir Bueno. Levando isso à risca, Pedro Velho, sem oposições significativas, comandou a construção de uma nova Constituição para o estado, a qual ficou conhecida como a Constituição de Pedro Velho, seu “dono”.

São conhecidas as causas das mudanças de rumo de alguns dos personagens descontentes, como é o caso de Alexandre O’Grady, que, após pertencer à Intendência, entre 1896 e 1898, não ocupou mais cargos políticos, descontente que ficou com os descaminhos da república no Rio Grande do Norte, sob o comando de Pedro Velho (CASCUDO, Luís da Câmara. O livro das velhas figuras. v. 3, p. 90).

Uma matéria publicada em fevereiro de 1905, por exemplo, trata com entusiasmo da vinda de uma comissão americana para Natal, a qual já havia atravessado outros portos e cidades ao longo do Brasil. A comissão, acompanhada do agente consular H. Green, visitou o governador Alberto Maranhão e o dr. Pedro Velho, sendo recebidos por eles com toda a cordialidade e uma saborosa taça de champagne. Os kodaks, que haviam se admirado com a representação do Brasil na exposição de St. Louis (1904), com todo senso prático que possuíam, queriam ampliar seus negócios
com esse país. Em Natal, visitaram os principais pontos da cidade, saindo, de acordo com a matéria, com uma impressão muito boa (A REPUBLICA, Natal, 10 fev. 1905.).

Romualdo Galvão assume em 1906 a vice-presidência da Associação Promotora de Melhoramentos de Natal, a qual tinha à frente Juvino Barreto, cunhado de Pedro Velho.

Nova ordem

A administração do governador Pedro Velho (1892-95) tornou-se conhecida pela habilidade nas articulações políticas, que tiveram essencialmente um caráter mais de organização do Estado republicano do que de intervenção no espaço público. Em seu governo ele não construiu nem um quilômetro de estrada e nem um prédio escolar. Preocupou-se fundamentalmente com a organização do Estado em todos os setores da sua atividade, por isso ficou consagrado na opinião pública como organizador do Estado Republicano (CASCUDO, 1984, p.127).

Pedro Velho, por sua vez, era o líder de toda a propaganda republicana, o governador do Estado, o representante legítimo do pensamento novo, e, como se sabe, as direções partidárias só comportam um condutor e chefe. Mas o dissídio durou pouco mais de um quatriênio, quando, por volta de 1898, ocorreu a cisão do Partido Republicano Federal, com o rompimento de Glicério com o governo Prudente de Morais, José Bernardo e Pedro Velho ficaram ao lado de Glicério. Foi o passo decisivo para a união na política estadual, que em breve se deu, voltando os dois chefes potiguares à harmonia dos dias iniciais da República.

Em banquete oferecido a José Bernardo em Natal, em janeiro de 1901, Pedro Velho dizia:

É certo que num trecho da jornada as vicissitudes da vida partidária bifurcaram o caminho e os nossos rumos divergiram. Mas, por mim o afirmo e creio bem que no coração de José Bernardo a impressão será idêntica – se o desgosto da temporária separação foi cruel e amarga, o íntimo júbilo com que novamente nos demos as mãos, para prosseguir em nossa tarefa de leais servidores do Rio Grande do Norte, constitui o melhor penhor e o mais sólido cimento da nossa união presente e futura!

As famílias de Pedro Velho e Tavares de Lyra em viagem do Rio para Natal. Foto de Manoel Dantas.

Volto ao Governo de Pedro Velho para dizer que do ponto de vista da economia da ex-Província, transformada em estado autônomo, pouco foi a ele possível fazer: é que os recursos financeiros eram parcos, diminutos, insignificantes. Indiscutível é também que foram lançados com firmeza os alicerces sobre os quais devia assentar a organização local republicana e que o poder público, sob a direção do chefe da propaganda republicana, se conduziu sempre com serenidade e segurança, gerando um ambiente de harmonia e de paz social.

É dever salientar que, mesmo sem ser governador, Pedro Velho, enquanto existiu, influiu decisivamente nas administrações de seus correligionários, trazendo-lhes não só apoio e prestígio, como também ideias novas e progressistas.

É assim de sua iniciativa o plano de remodelação da Capital do Estado, que a ela deu um aspecto da cidade nova.

Desembarque de Pedro Velho no caes Tavares de Lyra. Foto Manoel Dantas.

A vida parlamentar de Pedro Velho não foi das mais intensas. Dela participava mais como condutor político, agindo nos bastidores do que como participante dos debates de plenário.

Não lhe faltavam dotes oratórios, mas o que ele representava antes de tudo era uma força de direção e de comando.

Por lhe reconhecerem essas qualidades excepcionais é que os mais prestigiosos chefes republicanos iam pedir-lhe o conselho, o aviso, a ajuda nas horas mais difíceis dos conciliábulos partidários: Quintino Bocaiuva, Glicério, Manoel Vitorino, Pinheiro Machado, todos dele se aproximavam nos momentos das grandes resoluções, porque sabiam que as suas sugestões eram inspiradas sempre em um idealismo sadio e puro, firmados, como bem disse Tavares de Lyra: na sua fortaleza moral, na firmeza dos seus princípios, no seu devotamento às ideias, na sua lealdade aos amigos.

Não satisfeito com a resolução pacifica sobre a demarcação das fronteiras com o estado do Ceará, o ex-governador do estado, Pedro Velho, convidou o grande jurista baiano Rui Barbosa (auxiliado por Tavares de Lyra) para defender a causa norterio-grandense, a qual obteve êxito, como atestaram as decisões do juiz Augusto Petrônio. Estava definitivamente resolvida a questão de limites entre Rio Grande do Norte e Ceará.

Médico

Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, médico formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1881 (embora tenha estudado os quatro primeiros anos na Faculdade da Bahia), e jornalista, foi um dos principais agitadores e articuladores republicanos no Rio Grande do Norte, um dos fundadores do jornal A República, governador do estado entre 1892 e 1896, deputado federal e senador até 1907, ano do seu falecimento, e principal líder político da chamada “oligarquia Albuquerque Maranhão”; o poder político do seu grupo familiar à frente do governo estadual perduraria de 1892 até 1913 (Cf. Oliveira, 1999, e Souza, 1989).

Na crônica “Médicos de Natal” (CASCUDO, Luís da Câmara. O livro das velhas figuras, v. VII, p. 22.), o historiador Câmara Cascudo diz que em Natal nos últimos anos do Império existia cerca de seis médicos, que em sua maioria eram profissionais liberais e, quando necessário, em épocas de endemias ou epidemias, assumiam, via contrato, o papel de agente público. Dentre esses médicos encontrava-se o líder republicano Pedro Velho, o poeta e teatrólogo Segundo Wanderley, Henrique Câmara, Luís Carlos Lins Wanderley e o Dr. Antunes. Todos possuindo a sua clínica particular para atender as pessoas mais abastadas da sociedade natalense e ao mesmo tempo atuando deficitariamente nos órgãos do governo, quando este os solicitava

Para aperfeiçoar e ordenar as questões relativas à higiene e à fiscalização do saneamento, principalmente das habitações, foi criada pelo governador Pedro Velho (1892-1896), por meio da Lei no. 14, de 11 de junho de 1892, a primeira Repartição Sanitária do Estado, a Inspectoria de Hygiene Pública (RIO GRANDE DO NORTE, 1896, p.25-28). Ao inspetor de higiene foi reservada uma posição privilegiada na tomada de decisões relativas ao saneamento da cidade, podendo indicar e/ou balizar as ações do Presidente da Intendência Municipal nesse sentido. Devia apenas ao governador do estado a prestação de contas de suas ações, por meio dos relatórios anuais. Essa autonomia permitiria mais tarde a arbitrariedade no combate a certas tipologias habitacionais populares, como se irá averiguar adiante.

As escolhas de casos relativas à prática cirúrgica no HCJB também têm ligação com a formação generalista do médico à época. Câmara Cascudo, no seu livro de memórias Pequeno manual do doente aprendiz, falava que “Antigamente não havia especialista, mas o médico bom para determinadas enfermidades. Médico bom para as febres era o Doutor Celso Augusto Santiago Caldas (1858-1927), Pedro Velho era bom para os partos e doutor Paulo Antunes para o estômago, empacho, dor incausada, ventosidade” (CASCUDO, Câmara. Pequeno manual do doente aprendiz: notas e maginações, p.87.)

Na segunda metade do século XIX, o então Inspetor de Hygiene Pública do Rio Grande do Norte, o médico Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, apontava a Cidade Alta, na época um dos dois únicos bairros existentes na cidade do Natal, como o lugar mais apropriado para se viver, pois se situava na região altaneira da urbe, recebendo, por isso, as contribuições do ar puro de origem marinha:

“A cidade do Natal, principalmente a parte denominada Cidade Alta ocupa uma situação topográfica altamente vantajosa, no ponto de vista da higiene. Constante e largamente lavada pelas vivificantes correntes do ar marítimo, sem focos naturais de infecção, dispondo hoje do grande melhoramento de ter água canalizada, em chafarizes e nas casas particulares, o que lhe falta depende, como dissemos, da incúria da população, e pode reduzir-se a dois pontos capitais: – melhor alimentação e mais asseio. […]. No que diz respeito a asseio podemos afirmar que não há nenhum, como provam imundas esterqueiras, em ruas e travessas de trânsito público, onde, aos raios ardentes do sol de estio, entram em rápida decomposição, viciando a atmosfera e exalando um cheiro insuportável, detritos vegetais de toda natureza”.

Cascudo, 1947, p.210-211.

Logo no início do governo de Pedro Velho (1892-1896) seria criada a “Inspectoria de Hygiene Publica”, cujas atribuições incluíam a “fiscalização do saneamento das localidades e das habitações” e “a inspeção de escolas, repartições públicas, fábricas, estabelecimentos de empresas, oficinas, hospitais, lazaretos, hospícios, prisões, quartéis, estabelecimentos de caridade e beneficência, arsenais, asilos e quaisquer habitações coletivas, públicas ou particulares”. Nos anos seguintes seriam acrescidas à legislação sanitarista as atribuições e a abrangência da ação do inspetor de higiene, do médico ajudante, dos delegados sanitários e demais funcionários, as multas e punições às infrações ao código sanitário e o serviço da
polícia sanitária, proposições e ações que começariam a mudar um espaço urbano indistinto socialmente, onde ricos e pobres conviviam contiguamente.

Em junho de 1893, Juvêncio Odorico de Matos, Inspetor de Higiene Pública e Diretor do Hospital de Caridade (os cargos passaram a ser acumulados a partir de 11 de junho de 1892, conforme a Lei nº 14), comentou em seu Relatório as condições materiais do nosocômio hospitalar:

São pobres salas orladas de umas camas de ferro desconjuntadas ou de uns dilacerados e miseráveis leitos de lona, as célebres camas-devento, sem nenhum conforto e insuficientemente providas de roupa, as enfermarias, com o seu pavimento mal cimentado e as suas lúgubres paredes alcatruadas, mais parecem antecâmaras da morte ( RIO GRANDE DO NORTE. Mensagem do governador Dr. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão e relatórios apresentados pelos Chefes das repartições publicas Estadoaes do Rio Grande do Norte. Natal: Typ. D’A República, 1893. Saneamento, 14 de junho de 1893, p.3.).

Na mensagem do governador Pedro Velho, em 1893, o próprio governo do estado reconhece o caos em que Natal se encontra e a urgência em investir nos melhoramentos urbanos para a cidade: “Não temos escolas, não temos prisões, não temos estradas, e apenas umas casas e terras imprestáveis, […]/ Em tais condições parece que é tempo de providenciardes no sentido de dotar o Estado de alguns melhoramentos em relação a obras públicas, …” (idem).

No ano de 1896, dez anos após diplomar-se na faculdade de Medicina da Bahia, Manoel Segundo Wanderley, na condição de presidente Interino da Inspetoria de Saúde Pública durante a gestão de Pedro Velho, apresentou um plano de saneamento para a cidade de Natal.

Ainda em 1905, foi editada e publicada no jornal A República, a Resolução no. 92, que reafirmava as portarias e especificações para residências implementadas no ano anterior, ressaltando ainda mais o caráter excludente e embelezador da legislação empregada na época, utilizando-se da cobrança de altas multas pelo não cumprimento dos artigos.

Vista parcial do bairro da Ribeira. Casas da Silva e Jardim no canto inferior direito, na década de 1940. Fonte: JAECI, 2006.

Nesse contexto, a partir de 1892, as ações públicas no sentido de alterar estética e higienicamente as edificações, sobretudo as habitações, foram ordenadas principalmente pelos Regulamentos da recém criada Inspetoria de Higiene e pelas Resoluções da Intendência Municipal (Códigos de Postura). Voltaramse, essencialmente: à proibição da construção de cortiços e habitações em taipa e madeira; ao nivelamento e rebaixamento de calçadas das edificações; à ligação das moradias às novas redes de água e esgotos; às especificações de recuos; às intervenções nas fachadas (elevação da altura e construção de platibandas) e no interior das residências (especificação da altura do pé-direito, do número e dimensões de portas e janelas, das áreas dos cômodos, dos revestimentos, de foros e pisos, etc.); e acerca do tipo de fechamento dos terrenos (proibição das cercas de madeira e determinação da altura dos muros). Obras que muitas vezes a população foi forçada a realizar, dentro do prazo especificado pelos órgãos competentes, sob pena de elevadas multas.

A obrigatoriedade do cumprimento das disposições estatais sem, muitas vezes, levar em consideração o poder aquisitivo da população, ocasionou a saída de diversas famílias carentes – sem condições de arcarem com as despesas que seriam desprendidas para a adequação de suas residências
aos preceitos estéticos e higiênicos estabelecidos – para os arrabaldes da cidade ou para ocupações irregulares nas proximidades do centro. Somava-se a essa população, o massivo número de retirantes na capital77, reflexo da seca de 1888/1889, em busca de trabalho e habitação, resultando no primeiro momento de agravamento da crise habitacional em Natal no período estudado.

Diante dessa conjuntura, a Intendência Municipal, em 1892, formulou a primeira medida no sentido de conceber alternativas de moradia à população mísera e necessitada e promover a expansão de Natal incentivando a ocupação das áreas periféricas próximas ao núcleo consolidado da cidade. Essa ação correspondia à reserva de terreno para aforamento nas proximidades da área portuária e de um dos maiores bairros da cidade, a Ribeira, numa localidade denominada Silva Jardim.

Tratava-se provavelmente da mesma localidade para onde foram transferidas as vivendeiras e os mocambos dois anos antes. Essa área seria loteada em terrenos com “60 palmos sobre 100”, a serem oferecidos à população de baixa renda por doação, para a construção de residências populares (A REPÚBLICA, 16/07/1892, p.06).

Em contrapartida, diversas críticas foram direcionadas a alguns dos Códigos de Posturas, sobretudo, àqueles referentes à cobrança de taxa sobre biqueiras e degraus das residências. Requeria-se a revogação dessas disposições, uma vez que grande parte da população atingida por elas se afigurava de origem pobre. O fato era que a “quase totalidade” das casas de biqueiras era de taipa, não se prestando “para os encanamentos internos para esgottos” (LEI…, 11/12/1906, p.01), o que tornava a lei “inexeqüível e absurda” . O senador Pedro Velho, deve mandar sustar a execução da lei n. 106 nesta parte. (LEI…, 11/12/1906, p.01).

Em 12 de setembro de 1909, inaugurava-se finalmente o novo estabelecimento hospitalar do Estado. A localização espacial do Hospital de Caridade Juvino Barreto era singular: repousava sobre um Monte, região altaneira da cidade, e situado nas proximidades da Praia de Areia Preta, beira-mar bastante conhecida pela elite natalense da época.

A casa de campo de Alberto Maranhão era de “veraneio”. Em 14 de outubro de 1905, o Diário do Natal publica, sob o título de Dia a dia: Pobre Rio Grande do Norte IV, um artigo que comenta sobre as vantagens do vento marinho para a saúde da população:

Na arte de arranjar benemerência, ninguém melhor maneja a política que o senador Pedro Velho, e nessa especialidade fazem justiça todos, inclusive os seus mais intimo engossadores. Promovem o bem público e… inventam uma cidade nova. A idéia é bella e se lhe reconhece o que seja de genial. A nossa cidade, além de velha feia, comprimia já a população em bairros apertados e mal servidos da higyene da natureza. Precisava a população natalense de respirar o ar saturado dos alcalóides marinhos de que é portadora a viação que vem das praias do Morcego e Areia Preta.

(Dia a dia: Pobre Rio Grande do Norte IV. Diário do Natal, Natal, 14 de out.1905.)

Era um recanto habitado por pescadores. Na época do chefe político Pedro Velho, os governadores, que costumavam passear a cavalo naquela área, já utilizavam a toponímia de Cidade Nova para identificar a região (CASCUDO, Câmara. História da cidade do Natal, p.435-436.).

Opinião não compartilhada pelo Diário do Natal em matéria do dia 14 de setembro de 1909. Nela, o articulista relatou o evento de forma fria e irônica:

Já temos praça Pedro velho, monumento Pedro velho, Vila Pedro Velho, Praça Augusto Severo, Vila Augusto Severo, Avenida Augusto Lira, Avenida Alberto Maranhão, Avenida Amaro Barreto, avenida Juvino Barreto, e agora, mais Hospital Juvino Barreto e Enfermaria Santo Alberto e Santa Inez.
Oh! gente vaidosa!

(MEDEIROS, Tarcísio de. Ontem, Hospital do Monte, hoje Hospital “Miguel Couto”, p.43).

Tavares de Lyra, genro de Pedro Velho, também será homenageado, emprestando o nome à praça e Cais situados em frente à Rua do Comércio,
na Ribeira. O Diario do Natal, jornal de oposição, não perderá a oportunidade de criticar a ação da Intendência. Em matéria intitulada Como elles são… afimará que a iniciativa de mudança do nome do Cais, antes chamado Deodoro da Fonseca, foi de Pedro Velho (DIARIO DO NATAL, Natal, 08 jan. 1905.).

A República

Sede do A República na Av. Tavares de Lira por Manoel Dantas. A Avenida Rio Branco e a Rua 21 de Março aparecem como localidades preferidas para o estabelecimento das redações na topografia da cidade do Natal. Outras redações concentravam-se no bairro da Ribeira. Na imagem abaixo podemos observar o prédio de redação do jornal A Republica. A redação do jornal oficial do estado estava localizada no bairro da Ribeira, na esquina da Avenida Tavares de Lira com a Rua Frei Miguelinho (nomes de ruas que persistem até os dias atuais), em frente à mercearia Paulista. Fonte: Foto de Manuel Dantas. A foto encontra-se em MIRANDA, João Maurício Fernandes de. 380 anos de História fotográfica da cidade de Natal (1599 – 1979). Natal: EDUFRN, 1981. p. 32.

Cidade de quatro diários, com imprensa desde 1832, passa às vezes sem outro órgão além de “A REPÚBLICA”, veterana, sisuda e acolhedora, fundada em 1889, na monarquia. Seu fundador, Pedro Velho, era professor de História no Ateneu e inspetor de saúde. Os monarquistas não o demitiram mas, quando se viu Governo, nunca esqueceu de arredar dos empregos quem pensava às avessas.

A Republica consistiu no suporte material fundado por Pedro Velho de Albuquerque Maranhão para servir de divulgador das ideias republicanas no Estado no ano de 1889. O primeiro número de A Republica circulou no dia 1º de Julho de 1889. Até a proclamação da República, espalharam-se vinte edições, todas à segunda-feira, ao preço inicial de cem réis.

O jornal A Republica possuía oficina e redação própria e contava com a colaboração de personagens notáveis ligadas ao grupo Albuquerque Maranhão.

João Avelino Pereira Vasconcelos (1837-1922), um dos fundadores e membro do Partido Republicano do Rio Grande do Norte, escreveu a José Leão solicitando a compra de um prelo na cidade do Rio de Janeiro. José Leão, por sua vez, arriscou um pedido ao engenheiro Daniel Pedro Ferro Cardoso (1837-1899), natalense, republicano e arquiteto famoso na capital federal. Ferro Cardoso, em resposta, prometeu enviar um prelo de Paris (CASCUDO, Luís da Câmara. A vida de Pedro Velho. Op. Cit. p. 48.).O aparelho francês possibilitaria a produção do periódico desejado pelos membros do Partido Republicano no estado.

O arquiteto Ferro Cardoso cumpriu com a sua palavra. O republicano da capital federal enviou um prelo de proporções pequenas (0,27cm x 0,22cm) que, nas palavras de Luís da Câmara Cascudo, era “apreciável para um jornalzinho colegial, mas jamais para um órgão de partido com pretensões à vitória eleitoral” (Ibid, p. 49). Desiludidos, João Avelino e Pedro Velho recorreram a Luiz Carlos Lins Wanderley, dono da tipografia do Correio do Natal.

Ano 1897\Edição 00173.

Foi por meio da notabilidade de sua oficina tipográfica, que Luiz Carlos Wanderley iniciou a sua relação com o jovem Pedro Velho. Em 1º de julho de 1889, João Avelino e Pedro Velho de Albuquerque Maranhão encomendaram impressão do jornal A Republica, periódico do partido republicano emergente no Rio Grande do Norte, à Luiz Carlos Wanderley. Nos meses prestes à instalação definitiva do regime republicano no estado, o jornal Correio do Natal divulgou, a pedido de Pedro Velho, um boletim informando ao povo que a República havia sido proclamada (CASCUDO, Luís da Câmara. Vida de Pedro Velho. Natal: EDUFRN, 2008. (Coleção Câmara Cascudo: biografias). p. 50-52)

A tipografia d’ A Republica foi comprada por Pedro Velho em 24 de dezembro de 1890, ao tipógrafo Luiz Carlos Lins Wanderley, e funcionou, inicialmente, na Rua da Conceição, número 2 (FERNANDES, Luis. Op. Cit. p. 29.). A tipografia, em seus primeiros anos, reuniu nomes como Pedro Velho, Eloy de Souza, Augusto Tavares de Lyra, Manoel Dantas, Alberto Maranhão, Pedro Avelino, Juvenal Lamartine, Henrique Castriciano, Augusto Leite, entre outros (Ibid, p. 12).

Luiz Carlos Wanderley produziu as primeiras edições do jornal A Republica na mesma oficina onde produzia o seu jornal Correio do Natal. De acordo com Itamar de Souza, Pedro Velho e João Avelino encomendaram ao dono do Correio do Natal a impressão do A Republica e venderam os quatro primeiros números por cem (100) mil réis. Até a Proclamação da República, 15 de novembro, o jornal pôs em circulação mais de dezesseis (16) números. Pedro Velho foi diretor do jornal A Republica de 1889-1907.

Luiz Carlos Wanderley foi o primeiro impressor do jornal A Republica (1889) e formou o aprendiz José Alcino Carneiro, que trabalhou na tipografia do jornal ao lado de outro importante tipógrafo da cidade Augusto Leite.

José Alcino Carneiro, já com 15 anos, trabalhou como aprendiz de tipógrafo com o operário açusense Luiz Carlos Wanderley nas oficinas do jornal O Correio de Natal (1888). Luiz Carlos Wanderley foi o primeiro impressor do jornal A Republica, no ano de 1889. No início, José Alcino trabalhou com seu mestre atuando como “pombo-correio” da tipografia. Enviando as “provas tipográficas” para a revisão exercida por Pedro Velho, fundador do mencionado jornal. José Alcino trabalhou como tipógrafo de A Republica até 22 de abril de 1908 ainda chegou a participar do grêmio literário Le Monde Marche, ocupando o cargo de redator da revista literária Oasis do ano de 1898 ao ano de 1903. Consultar: A Imprensa do RN tem história para contar…. Suplemento Nós, do RN. Diário Oficial do estado do Rio Grande do Norte. Ano II. Nº 22. Setembro, 2006. Disponível em: . Acesso em: 10 de janeiro de 2013.

Os redatores dos jornais, voltavam-se para questões importantes em seus artigos, e ao que refere-se à instrução pública, Manoel Dantas desenvolveu em seus artigos no periódico “A República” sua visão profunda a respeito da instrução do Rio Grande do Norte, analisando-a a partir de diferentes aspectos, desde as condições precárias a que encontravam-se alguns grupos escolares, o atraso do salário dos professores, até a análise da importância da educação para o sertanejo que era ativo e inteligente, bastava ter o incentivo e oportunidade para aprender.

Augusto César Leite (1863-1921) atuou como gráfico, na função de distribuir e de lavrar de tipos. Era conhecido como “o homem dos sete instrumentos, aquele que harmonizara as deficiências da precária e dificultosa aparelhagem do velho prelo e das gastas caixas de tipos, compradas por Pedro Velho ao experiente Wanderley” (CASCUDO, Luís da Câmara. Actas Diurnas. O primeiro tipógrafo. A Republica. Natal, 01 jul. 1959.).

Se as tipografias eram ambientes de produção, de trabalho, também abrigaram as prosas entre os frequentadores das oficinas. As oficinas consistiram em recintos em que até “Pedro Velho, mesmo deputado, governador, senador da República, gostava de ir dar uma prosa nas oficinas”(CASCUDO, Luís da Câmara. Actas diurnas. A Republica. Natal, 01 jul. 1959.). Em uma alusão às constantes visitas às oficinas tipográficas do jornal A Republica, o coronel José Pinto ficou conhecido como “homem de imprensa”(A REPUBLICA. Natal, 30 jun. 1911.).

Com a chegada de Pedro Velho ao poder no cargo de governador do estado, A Republica constituiu-se como o principal porta-voz do governo, o jornal oficial do estado do Rio Grande do Norte. Consequentemente, as produções veiculadas no periódico eram de autorias dos intelectuais participantes ou simpatizantes ao grupo familiar de Pedro Velho Albuquerque Maranhão.

Interior da oficina tipográfica do jornal A Republica. Fonte: acervo particular de Willian Pinheiro.

Nos primeiros anos de sua fundação, A Republica funcionava como uma empresa privada de Pedro Velho. Contudo, nessa época (1889), o membro e fundador do Partido Republicano, Pedro Velho, conseguiu que o governo do Estado, na gestão de Adolfo Gordo (6 de dezembro de 1889 a 8 de fevereiro de 1890), contratasse o periódico do partido, por uma quantia de 1:200$000. A partir do contrato realizado entre governo e o A Republica, Pedro Velho conseguiu que todos os atos oficiais da administração pública fossem impressos no jornal do partido republicano. O jornal A Republica destacou-se na história da imprensa no Rio Grande do Norte como periódico que, por vezes, serviu de porta-voz para o grupo dirigente político do estado.

Para o órgão oficial do estado, os governos de 1889 até a mencionada data de 1891 foram considerados um prolongamento do regime monárquico. Evidentemente que o jornal A Republica apresentaria essa visão, já que foi em 28 de novembro de 1891 que a Junta Constituinte realizou a transição que levou definitivamente Pedro Velho Albuquerque Maranhão ao poder executivo estadual como governador eleito indiretamente pelo Congresso Legislativo. Portanto, constatação de Antônio Marinho indica que a vida literária jpa efervescia na capital potiguar antes mesmo da ascensão do grupo político e familiar Albuquerque Maranhão na esfera estadual do Rio Grande do Norte.

Imagem da oficina tipográfica do jornal A Republica, também localizado na Avenida Tavares de Lira – próximo à redação do mesmo jornal. Fonte: Foto Bruno Bourgard.Acervo: MIRANDA, João Maurício Fernandes de. 380 anos de História foto – gráfica da cidade de Natal (1599 – 1979). Natal/RN: EDUFRN, 1981. p. 34.

Em pouco tempo se tornou o órgão oficial do governo republicano, mesmo sendo parte no início órgão do grupo partidário privado, que se aproveitou da circunstância do seu fundador e diretor estar no poder – Pedro Velho Albuquerque Maranhão, primeiro governador do Rio Grande do Norte – para negociar seu favorecimento, o jogo de interesse que incorporou o jornal ao patrimônio o estado, “[…] desde o início incluía na primeira página a “Parte Oficial” e os “Atos Oficiais”, com seções e colunas específicas: “Tesouro”, “Polícia”, “Instrução Pública”, “Editais”. Eram publicadas sempre as mensagens anuais dos Presidentes da Província (ou Governadores do Estado).”

A utilização do jornal “A Republica”, órgão oficial do Partido Republicano, de sua propriedade, foi decisivo na construção da liderança de Pedro Velho, consequentemente na de sua oligarquia, como em todo o domínio político e econômico do Estado.

Augusto Severo passou a escrever artigos para o jornal A República, antimonárquico, do irmão Pedro Velho, e projetou um dirigível que incorporava ideias revolucionárias, o Potyguarania, o qual, porém, nunca chegou a ser construído.

Fundado em julho de 1889, como instrumento de propaganda do partido republicano local, logo tornou-se “Órgão dos poderes do Estado” e diário matinal onde trabalharam e escreveram diversos intelectuais e políticos locais proeminentes na Primeira República, como Pedro Velho, Alberto Maranhão, Juvenal Lamartine, Manoel Dantas e Câmara Cascudo; no final da década de 1920, era o único periódico de circulação diária no estado.

João Sizenando Pinheiro, ou como era conhecido “Major” Sizenando, natural de Santana do Matos (RN), folheando o jornal “A República” ao lado um amigo não identificado, Natal, 1926. Foto do acervo da família Rossiter Pinheiro.

Em 20 de março de 1931, mudou-se para o endereço definitivo, o prédio da Av. Junqueira Aires, 355, prédio que foi construído em 1895 por Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão, em 1907 com o falecimento de Pedro Velho – fundador do jornal – o prédio foi vendido ao estado, passando a sediar o jornal. Essa mudança de espaço permitiu uma ampliação técnica da sua produção, onde passou a publicar fotografias com mais regularidade. A epígrafe no cabeçalho sempre difundiu as mudanças de discurso no jornal, de 1933 a 1944 se escrevia “Órgão Oficial do Estado”, reprimindo a palavra “poderes” de anteriormente, se especula uma forma de definir frente aos acontecimentos nacionais explicitados ao longo da pesquisa com o controle da imprensa pelo Estado.

Durante o final do século XIX e início do século XX, alguns nomes de literatos norterio-grandenses passaram pelas páginas do jornal oficial do estado: Henrique Castriciano, Segundo Wanderley, Urbano Hermilio, Antônio José de Melo e Souza, Francisco de Palma, Auta de Souza, Celestino Wanderley, Pedro Avelino, Pinto de Abreu, Eloy de Souza, Ezequiel Wanderley. O jornal também contemplou publicações de homens de letras de fora do estado, entre eles: Rodrigues de Carvalho, Olavo Bilac, Tobias Barreto, Raimundo Correia, entre outros.

antiga avenida Junqueira Aires, atual Avenida Câmara Cascudo no início do século XX. A foto mostra em primeiro plano a casa de Pedro Velho, que foi sede do jornal A República e hoje sede do Departamento de Imprensa Estadual que pública o diário oficial do RN.

Entre os redatores do periódico durante alguns anos da República Velha (1891-1900), encontramos nomes importantes e, de certo modo, familiares a esta pesquisa: Pedro Velho (pseudônimo Nemo), Nascimento Castro, Ferreira Chaves, Alberto Maranhão e Braz Melo, durante o ano de 1891; Pedro Velho, Ferreira Chaves, Alberto Maranhão e Antônio Souza, em 1892; Ferreira Chaves, Alberto Maranhão, Pedro Velho, Eloy de Souza e Augusto Tavares de Lira, de 1892 a 1895; Pedro Velho, Eloy de Souza, Alberto Maranhão e Manuel Dantas, no ano de 1897; em 1898, Alberto Maranhão, Manuel Dantas, Pedro Avelino e Juvenal Lamartine; no ano de 1899, Antônio Souza, Alberto Maranhão, Pedro Avelino, Juvenal Lamartine e Manuel Dantas; em 1900, Antônio Souza, Juvenal Lamartine, Pedro Avelino e Manuel Dantas. Entre 1900 a 1930, alguns desses nomes se repetiram na redação do A Republica. Induzimos tais indivíduos como “nomes familiares”, devido à ligação desses intelectuais com o grupo político e familiar Albuquerque Maranhão.

– MUSEU DA IMPRENSA OFICIAL DO RN – Funciona nos limites entre a Ribeira e a Cidade Alta, nas antigas dependências do jornal A República. Fundado por Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, o jornal nasceu para ser “porta voz” dos republicanos, tempos depois transformou no órgão oficial do governo do estado. O acervo do museu expõe as origens e a evolução da imprensa oficial do Rio Grande do Norte. O visitante pode conhecer antigas tecnologias. Lugar de memória, este é o Museu da Imprensa oficial do Rio Grande do Norte.

As palavras de Silvino Bezerra podem indicar que as relações sociais interferiam nos contratos de pessoas para compor a redação do periódico de Pedro Velho, uma vez que os auxiliares de redação em 1900 foram retirados de uma roda de amigos frequentada por Manuel Dantas e pelo gerente do A Republica, José Pinto.

Quando nos debruçamos acerca da história da imprensa do Rio Grande do Norte, durante as duas primeiras décadas do regime republicano (mais precisamente de 1896 a 1908), nos deparamos com debates políticos travados, constantemente, entre o jornal A Republica e o Diário do Natal. Enquanto o primeiro jornal correspondia, a partir do ano de 1896, ao veículo midiático representante do governo estadual, o Diário do Natal constituía a voz da oposição ao governo da situação (liderado por Pedro Velho e seus filiados).

O jornal oficial do estado cessou as réplicas direcionadas às provocações do Diário do Natal. A última ocasião em que o jornal de Pedro Velho fez referência à polêmica foi na publicação de 15 de março de 1900 (HENRIQUE CASTRICIANO. A Republica. Natal, 15 mar. 1900.)

Não obstante, o jornal A Republica foi o fiel veículo utilizado pelo grupo político Albuquerque Maranhão quando este se manteve a frente da gestão estadual.

Circulou na segunda-feira, a 1º de julho de 1889. Seu último nº curculou na quarta-feira, dia 27 de fevereiro de 1997. A Republica até hoje, ainda continua sendo a maior fonte de pesquisa do Estado do Rio Grande do Norte. No Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte dispõe de todos os números desse conceituado e importantíssimo órgão de comunicação de nosso estado, que nunca deveria ter sido extinto. Em suas páginas o Norte-rio-grandense pode encontrar muitos fatos históricos, antes e depois de sua fundação.

Literato

Na valorização da política na primeira década do regime republicano, fins do século XIX, há uma continuidade do que diz respeito a pouca valorização atribuída aos indivíduos que produziam literatura. Antônio José de Melo e Souza escreveu, em 1899, sobre os aspectos da vida potiguar. Segundo esse autor, o potiguar não tinha “outras aspirações que não seja possuir alguma coisa e ser alguém na política”145. Logo, em uma cidade em que todos aspiravam a carreiras políticas, a literatura na cidade do Natal era ocupação para meninos, para jovens.

Era passatempo. Coisa séria mesmo era fazer política. No entanto, tivemos na cidade do Natal um considerável número de homens de letras: literatos-políticos. Antônio Marinho acrescenta em sua crítica a existência de chacotas e de ridicularizações direcionadas aos homens de letras da cidade. Em 31de dezembro de 1892, Henrique Castriciano de Souza também alertou para a supervalorização da carreira política e das reprovações atribuídas àqueles que cultivavam o gosto pelas letras.

Observando as considerações acima de Henrique Castriciano, percebemos que o literato mencionou alguns “espíritos de merecimento”, ou seja, homens escolhidos pelo escritor como nomes representativos do desenvolvimento da literatura potiguar, entre eles Pedro Velho Albuquerque Maranhão. Henrique Castriciano escreveu no jornal A República uma coluna acerca da literatura potiguar sob o pseudônimo Mário do Vale. Conferir: VALE, Mário do. Sobre a nossa literatura. A Republica. Natal, 31 dez.

De acordo com Luís da Câmara Cascudo, os republicanos históricos se comprometeram com a proteção da literatura, dando continuidade a “tradição literária” que, segundo o autor, foi iniciada por Pedro Velho de Albuquerque Maranhão356. Na opinião de Câmara Cascudo, os sucessores de Pedro Velho que mantiveram a “tradição literária” foram: “Alberto Maranhão, mecenas; Antônio José de Melo e Souza, romancista; Augusto Tavares de Lyra, historiador; Joaquim Ferreira Chaves, de menor acuidade letrada mais fiel a dois poetas imprevistos, Stecchetti e Castro Alves” (CASCUDO, Luís da Câmara. Nosso amigo Castriciano (1874-1947). Op. Cit. p. 42.). Ou seja, homens que, de certa forma, possuíam algum tipo de relação com as letras.

No caso estudado da cidade do Natal, verificamos que a prática do mecenato estava associada não a uma personalidade, mas ao Estado. Percebemos que os sujeitos políticos (Pedro Velho, Alberto Maranhão, entre outros) mudavam, contudo as práticas de apadrinhamento persistiam na dinâmica do campo literário potiguar.

Na cidade do Natal, a solidariedade parental ultrapassa os laços de sangue daqueles que compunham a família Albuquerque Maranhão. Às redes de parentela incorporavam-se os laços de amizades, de conchavos políticos e de compadrio. O compadrio que emanava do Estado para com os intelectuais potiguares era uma forma de promoção social. No entanto, o mecenato era uma via de mão dupla. Se por um lado, o Estado fornecia ajuda e proteção para os homens de letras, por intermédio da Lei número 145, das consagrações a associaçõesliterárias e do recrutamento para cargos públicos, por outro lado, esses intelectuais forneciam, em troca, apoio político e homenagens ao seu mecena. Para exemplificar como se davam tais homenagens, citamos:

Chamam-te mau: eu sei a cauda disso
Também outrora os péssimos ateus
Lá no Calvário proclamaram Cristo
Jesus de Nazaré, rei dos Judeus….
E o insulto cruel de tanta gente
Por entre as urzes de montanha em flor,
Aquela frase lívida, tremente,
Não conseguiu matar o Redentor.
Assim a infâmia rude, traiçoeira
Que só vive a rugir na podridão,
Não manchará tu’alma sobranceira,
Erna do mal, vazia de traição. (…)
Inda recordo agora a lama escura
Onde um governo tétrico jazia:
Tenho nojo daquela sepultura
Em que a luz da razão apodrecia.
Quando escuto o gemido retumbante
As cruciantes dores do Passado
Traduzindo o soluço agonizante
De um ideal morrendo asfixiado.
Quando comparo o teu governo puro
Ao vil governo que invaia a fome,
Ouço, de longe, o brado do Futuro,
Falar bem alto, abençoar teu nome.
E na santa altitude em que te vemos.

Amando o Povo e desdenhando o crime,
Sim! Permite que nós te proclamemos,
‘PEDRO – impoluto, nobre, sublime…

CASTRICIANO, Henrique. Ao Pedro Velho. A Republica. Natal, 04 mar. 1893.

O poema reproduzido acima reflete uma ode ao chefe político estadual Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. A exaltação ao político, que era governador na época (1892-1896), estampou a primeira página do jornal oficial do Estado, e foi escrita pelo poeta Henrique Castriciano de Souza. Nas palavras acima, o poeta anuncia Pedro Velho como o redentor do Rio Grande do Norte.

No decorrer do poema, o intelectual faz alusão ao governo estadual caracterizado como “fúnebre”, cujo o estado vivia sobre uma inconstante administração estadual. De acordo com José Antônio Spinelli, o inicio do regime republicano no Rio Grande do Norte foi marcado por governos perenes, temporários, administrado por indivíduos vindo de fora do estado, até 1892, quando Pedro Velho, chefe do partido republicano, foi eleito governador (SPINELLI, José Antônio. Op. Cit. p. 33-37.).

Educação

Evento cívico na antiga sede do Atheneu na Avenida Junqueira Aires.

A segunda Escola Normal foi criada já no período republicano pelo governador provisório Adolpho Gordo pelo decreto no 8 de fevereiro de 1890, mas nunca funcionou. A terceira Escola Normal foi criada pelo presidente da província Pedro Velho pelo decreto de 30 de abril de 1892, só chegou a se instalar em 1896 e era exclusivamente masculina, contava com as disciplinas do colégio Atheneu acrescida de Moral, Sociologia e Pedagogia ministradas por Dr. Thomaz Gomes e depois por Manoel Dantas.

No Rio Grande do Norte, as primeiras discussões e legislação instituídas acerca da educação começaram através do decreto nº 18 de 30 de setembro de 1892. O Governador do Estado e também líder do Partido Republicano, Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, depois de três anos da Proclamação, colocou em desuso a legislação de 1887, referente ao ensino (Decreto nº 32 de 11 de janeiro de 1887), alegando que essa não correspondia mais as necessidades educacionais e não condizia com os progressos da Pedagogia Moderna.

O Decreto nº 18 de 30 de setembro de 1892, era destinado a todos os graus de instrução existentes no Estado, a saber, o primário, secundário e profissional. Distribuía como deveria ser organizado o ensino público através dos diversos cargos de fiscalização, sendo reservado ao Conselho Literário13 no Parágrafo 4º, “estudar, discutir, fiscalizar tudo que for referente a organização do ensino público, à construção de casas para a escola, mobília e material escolar.

Em1896 foi estabelecido na capital a terceira Escola Normal. A instituição de caráter exclusivamente masculino, erguida durante a gestão de Pedro
Velho Albuquerque Maranhão, diplomou cinco professores no ano de 1901. No ano seguinte, a instituição normalista do chefe político republicano extinguiu-se por falta de alunos (NAGLE, Jorge. A educação na Primeira República. IN: FAUSTO, Boris (Org). História Geral da Civilização
Brasileira III – O Brasil Republicano. 2. Sociedade e Instituições (1889-1930). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.A, 1990. Cap. 7. p. 270-272).

A campanha para a reativação da biblioteca foi veiculada no jornal A Republica no ano de 1892, quando Antônio de Souza foi nomeado diretor da Instrução Pública e, consequentemente, diretor do colégio Atheneu Norte-riograndense pelo dirigente político Pedro Velho Albuquerque Maranhão.

A atuação do Grêmio Literário Natalense foi além da discussão acerca de literatura. Os alunos que estavam à frente da associação, entre eles Juvenal Lamartine, participaram da primeira greve estudantil no Rio Grande do Norte. Segundo Marta Maria de Araújo, a greve foi deflagrada após o convite realizado pelo governador Pedro Velho ao desembargador José Clímaco do Espírito Santo para que o último assumisse o cargo de vice-diretor do colégio secundarista. No entanto, o desembargador, que também ocupava o cargo de diretor no Atheneu (iInfelizmente não conseguimos identificar qual era a disciplina ministrada pelo desembargador José Clímaco Espírito Santos enquanto professor do Atheneu.) não possuía a simpatia dos alunos que, nas palavras de Martha Araújo, o apelidavam de “desembargador papa-ovo”, além de considerarem “as aulas do professor Espírito Santo demasiadamente fracas” (ARAÚJO, Marta Maria Apud CARTA ABERTA – O NOSSO PROTESTO. O Nortista. Natal, 11 out. 1893. Op. Cit. p. 317.). A situação acarretou na recusa do professor ao cargo, proclamando este que só retornaria ao colégio se a ordem fosse mantida por Pedro Velho.

Como resposta, o chefe político republicano ordenou que um número de quarenta (40) praças do Corpo de Segurança cercasse o Atheneu para impedir os xingamentos dos alunos direcionados ao professor desembargador. Os alunos do Atheneu, em resposta ao governador Pedro Velho, organizaram um ato de manifestação que foi repreendida pelo dirigente estadual político resultando na ordem de Pedro Velho no fechamento do colégio secundarista (Idem.). O curioso fato nos conduz a perceber as participações ativas de estudantes, não apenas na fundação de grêmios e de jornais, mas, sobretudo, nas decisões sobre o futuro da própria escola como um todo a ponto de se oporem a escolha do vice-diretor da instituição, feita, naquela época, por meio de nomeações. A preocupação e a ação desses jovens literatos iam, portanto, para além da literatura.

A profissionalização dos potiguares graduados em Direito consistia nos cargos públicos e, em algumas vezes, políticos no Rio Grande do Norte. Como exemplo, mencionamos o caso clássico ocorrido entre o bacharel Eloy de Souza e o governador do estado, na época, de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. Na ocasião, quando Pedro Velho despediu-se do jovem Eloy de Souza, que partia para cursar a ciência jurídica no Recife, o pretendente a governador disse: “liquida essa coisa de bacharelice, que preciso de ti no Rio Grande do Norte!” (SOUZA, Eloy de. Memórias. Natal: Senado Federal/DF e Instituto Pró-Memória de Macaíba/RN, 2008. 2. ed. p. 295.). De fato, Eloy de Souza liquidou o curso e graduando-se apenas em Ciências Sociais no ano de 1894. Ainda no mesmo ano, o intelectual retornou a Natal, onde iniciou sua atuação política.

A lei estadual n. 131de 13 de setembro de 1899, tornando municipais as cadeiras de instrução primária criadas ou vacantes, abriu para o ensino público uma nova era de desprestígio e de calamidades: foi o mais profundo golpe vibrado na depauperada e rotineira aparelhagem do ensino popular, em nosso Estado. Inspiraram-na, é certo, elevados e nobres intuitos, por isso que, segundo o <> de 15 de Junho 1899, do Dr. Manoel Dantas, o Dr. Pedro Velho fizera experiência de um sistema misto de instrução: estadual e municipal. Os resultados dizia ele, tem sido satisfatórios. Os municípios compreenderam que são mais particularmente interessados na difusão do ensino, de modo que existem já no Estado 48 escolas municipais, com uma matrícula de 1920 alunos.

As autoras Paiva e Medeiros Neta (2015) apontam ainda para o decreto nº174, de 05 de março de 1908 que assinala a data da criação do primeiro grupo escolar do Estado do Rio Grande do Norte, situado no bairro da Ribeira em Natal, denominado como: Grupo Escolar Augusto Severo, homenageando assim uma figura apontada como heroica da aviação norte-riograndense e irmão do ex-governador Pedro Velho.

Se, por um lado, os intelectuais passaram pela Escola Normal de Natal na condição de aluno, por outro também fizeram parte do quadro de membros da instituição por intermédio da ocupação do cargo de professores. Esse foi o caso do próprio Francisco Ivo Cavalcanti e de Nestor dos Santos Lima, este último sendo professor da Escola Normal de Natal e diretor da mesma instituição no ano de 1920.

Quando esses docentes formados pela escola normalista não atuavam na referida instituição, muitos deles partiam para lecionar nas demais instituições primárias dispersas pela capital norte-rio-grandense, entre elas o Grupo Escolar Pedro Velho e o Grupo Escolar Augusto Severo. De acordo com Ezequiel Wanderley, o professor José Rodrigues Filho foi lente e diretor do Grupo Escola Pedro Velho (1910), também atuando como professor do Grupo Escola Augusto Severo na década de 1920. Consultar: WANDERLEY, Ezequiel. Op. Cit. p. 49.

Francisco Pinto de Abreu, diretor e professor de matemática da Escola Normal de Natal – 1908

Sobre os diretores do início do século XX, um levantamento feito por Lima (1921), entre 1908 e 1910 a Escola Normal de Natal teve como diretores Francisco Pinto de Abreu, Alfredo de Barros, Calazans Pinheiro, Theodulo Camara e uma segunda gestão de Pinto de Abreu.

Nessa época o primeiro diretor da Escola Normal foi Francisco Pinto de Abreu, que naquele mesmo ano de 1908 já era diretor do Atheneu Rio Grandense, uma vez que a Escola Normal de Natal inicialmente funcionava no mesmo prédio. Francisco Pinto de Abreu nasceu na Paraíba, na cidade de Campina Grande, no dia 25 de novembro de 1869. Formou-se bacharel em direito pela Faculdade de Direito do Recife, em 1892. Veio para o Rio Grande do Norte em 1895, convidado por Augusto Tavares de Lyra, sendo indicado pelo amigo ao governador Pedro Velho que o nomeou diretor da Instrução Pública Estadual e do Atheneu.

Ezequiel Wanderley (1871-1933) ocupou cargos de administrador de Mesa de Renda, na Tesouraria do Estado, foi procurador fiscal, diretor do Banco de Natal e presidente do ilustre Natal Clube. Ainda atuou como colaborador assíduo do jornal oficial do partido de Pedro Velho, A Republica.

Na visão de Manoel Dantas, desde o Primeiro Governador, Pedro Velho e o então presidente de Província em 1921, Antônio de Souza, refletiam a constante preocupação com o combate à seca e a elevação do nível intelectual do povo do Rio Grande do Norte através da instrução. Esse discurso permaneceu, portanto, desde o início da República em 1889 até 1921, ou seja, trinta e dois anos e o problema ainda não havia sido solucionado.

Natal republicana progressista oligárquica

Nos primeiros anos da República, o governo do Rio Grande do Norte acabou se firmando de modo absoluto nas mãos de uma liderança, sendo Pedro Velho o nome mais significativo da políticanorte-riograndense, nos primeiros anos do regime republicano. Pedro Velho foi o fundador do Partido Republicano do Rio Grande do Norte, o que o levou a assumir pela primeira vez o poder do Estado, em 1889. E desde então permaneceu liderando a opinião pública do Estado através de um esquema de apadrinhamentos e nepotismos, que ficou conhecido na historiografia norteriograndense como a Oligarquia Albuquerque Maranhão.

No Rio Grande do Norte, a Oligarquia dos Albuquerque Maranhão, representativa da burguesia agro-comercial do Estado, dominou a política por vinte e oito anos (1890-1918). Tinha como figura central Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, descendente de figuras de destaque na vida da província, como Jerônimo de Albuquerque Maranhão, primeiro capitão-mor da capitania do Rio Grande, e André de Albuquerque, membro da liderança na revolução republicana de 1817.

O domínio oligárquico dos Albuquerque Maranhão, desde o início, se estendia em toda a rede do poder do Estado, por muitos anos, da Intendência à representação do Rio Grande do Norte no Senado. Fabrício Gomes de Albuquerque Maranhão, irmão de Pedro Velho, exerceu o cargo de Presidente da Assembléia (antigo Congresso Legislativo Estadual) por 16 anos, de 1897 a 1913. Também, durante 20 anos (1893 a 1913), foi presidente da Intendência de Canguaretama, onde era senhor de engenho.

Pedro Velho era um dos intelectuais norte-rio-grandenses, cujas ideias eram próximas às liberais, que despontavam no Brasil. Neste aspecto, inclui-se a abordagem de Oliveira (2000, p.30), quando destaca “que a decadência do regime imperial e as influências das ideias liberais, inspiradoras do movimento abolicionista, possibilitaram a emergência de uma casta de políticos intelectualizados”.

Pelos registros de Monteiro (2002, p.210), a atuação de Pedro Velho foi marcante no partido republicano e nas administrações do Estado, com significativo número de seus familiares, “… juntamente com cinco irmãos, além de dois primos e descendentes da secular família dos Albuquerque Maranhão, somando 114 pessoas”.

Aqueles que lideraram a instauração do novo regime no Rio Grande do Norte defendiam, de qualquer modo, que a República, desde seu alvorecer, trazia algo de novo, de distinto que se ligava a esse desejo de progresso, de construção de uma nova cidade. Em boa medida, no discurso desses homens e, em especial de Pedro Velho, agora o Rio Grande do Norte seria administrado pelos seus filhos e não mais por forasteiros pouco ou nada preocupados com o progresso das terras potiguares.

Com esta máxima, João Avelino Pereira de Vasconcelos, segundo presidente da Intendência da capital, não aguentou as fortes interferências de seu primo, Pedro Velho, na gestão municipal, abandonando cedo o cargo para o qual havia sido indicado. Desencantou-se com o novo regime e desistiu de vez da vida pública.

Outros, ainda, amavam os tempos do Império, desejavam o seu retorno, a volta de Dom Pedro II, um imperador esclarecido. Associavam ao antigo regime os ideais de honestidade, moralidade, decência, que não viam nos tempos republicanos. Entre esses homens estava o coronel Elias Souto, proprietário do Diario do Natal, principal líder da oposição. Elias Souto não deixaria de admitir, porém, que a cidade em que vivia passava por transformações importantes e que seu progresso material era visível.

Muitos lembrariam, quanto a isso, que o Rio Grande do Norte, no período da Primeira República, foi administrado por duas distintas oligarquias: os Albuquerque Maranhão, que se fragilizaram com a morte do seu líder, Pedro Velho, no ano de 1907, sempre lembrado como fundador da República no Estado, e perderam o fôlego na campanha eleitoral de 1913; e a Oligarquia do Seridó, que ganhou espaço no segundo governo de Ferreira Chaves, iniciado em 1914, para só sair do poder com o movimento de 1930.

Mesmo que o desenvolvimento literário do Rio Grande do Norte tenha ocorrido a partir de 1889, Pedro Velho de Albuquerque Maranhão só assumiu o governo estadual em 1895, dando início à extensa época de domínio do grupo familiar nas instâncias estadual e municipal do Rio Grande do Norte. A consolidação do domínio Albuquerque Maranhão no Rio Grande do Norte apenas ocorreu em 1895, com a sucessão de Ferreira Chaves no poder estadual, visto que esse foi eleito a partir das articulações políticas promovidas elo grupo de Pedro Velho. Para mais informações acerca da construção do regime republicano no Rio Grande do Norte, ver: BUENO, Almir de Carvalho. Da proclamação da República à eleição de Pedro Velho (1889-1892). In: _. Visões da República: idéias e práticas políticas no Rio Grande do Norte (1880-1895). Natal/RN: EDUFRN, 2002. p.103-136.

Faziam parte do seleto grupo: Antônio José de Melo e Souza atuou como senador (1908-1920), governador (1907 – 1908), deputado estadual (1892), procurador da República (1895 a 1899), redator d’ A Republica entre os anos de 1899 a 1907. Alberto Maranhão, irmão de Pedro Velho, atuou como governador (1900-1904), deputado federal (1904-1908), deputado federal (1915-1929). Francisco Meira e Sá, por sua vez, atuou no cargo de desembargador (e presidente) do Superior Tribunal de Justiça e senador (1907-1910) pelo Rio Grande do Norte (Para maiores informações, sobre as três personalidades mencionadas, consultar: PEIXOTO, Renato Amado. Verbete. In: Abreu, Alzira de. (org.) Dicionário Histórico-Biográfico brasileiro da Primeira República. Rio de Janeiro/RJ: editora da Fundação Getúlio Vargas, 2012. p. 145; p. 204; p. 301.).

O escritor Henrique Castriciano ocupou cargos de secretário do governo de Alberto Maranhão (1900), vice-governador de Ferreira Chaves (1913), e, ainda, presidente do Congresso Legislativo. Seu irmão, Eloy de Souza, chegou a ocupar os cargos de deputado estadual (1895 a 1897), deputado federal (1897 a 1889, 1900 a 1911, e 1912 a 1914) e senador (1914 a 1921). Já Manoel Dantas era bacharel em direito, juiz, jornalista e presidente da intendência em Natal (1923), indivíduo que também cultivou fortes laços com os representantes do grupo político dirigente (Para mais esclarecimentos, ver: GURGEL, Tarcísio. Belle Époque na esquina: o que se passou na República das letras potiguar. Natal/RN: Editora do autor, 2008.).

As relações de poder continuara nas relações nupciais. Por exemplo, além do perfil de grande comerciante e proprietário local, outros fatores que levaram o coronel Joaquim Manoel a presidir cinco Conselhos de Intendência da capital potiguar. Podemos dizer, sem receio, que o coronel Quincas era um homem muito bem relacionado na sociedade potiguar do início do século XX. Joaquim Manoel contraiu primeiras núpcias com Justina Brandão, irmã de Alexandre O’Grady, republicano histórico que fez parte do 2º Conselho de Intendência. Em 1911, casou-se com Terceira Lyra, irmã de Tavares de Lyra, o qual era genro de Pedro Velho. Suas filhas, Nanete Moura e, em seguida, Anna Dulce Moura, casaram se com Ernesto Maranhão, filho do já referido Pedro Velho.

O grupo político dos Albuquerque aranhão permanece no poder até meados dos anos 1920, quando outros grupos políticos ganham força política e econômica em virtude do rápido enriquecimento da região do Seridó, graças à exportação do algodão.

O crescimento da cotonicultura potiguar foi responsável pela mudança do eixo político no estado. As eleições para a governança estadual, em 1919, foi o momento em que a oligarquia Albuquerque Maranhão cedeu espaço para os representantes dos Bezerra de Medeiros. Naquele ano, Ferreira Chaves, nascido politicamente pelas mãos de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, elegeu como seu sucessor Antônio José de Melo e Souza. Esse fato abriu espaço, posteriormente, para a ascensão política de José Augusto Bezerra de Medeiros, filho de um produtor de um produtor de algodão e governador do estado na década de 1920.

Alberto Maranhão

Governador Alberto Maranhão Fonte: (MIRANDA, 1981)

Entre os membros pertencentes à oligarquia Albuquerque Maranhão, além de Pedro Velho, devemos aqui destacar Alberto Maranhão.

Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão nasceu em Macaíba-RN, em 1872, e faleceu em Angra dos Reis-RJ, em 1944; formou-se bacharel em Direito pela Faculdade de Pernambuco, a exemplo de quase todos os representantes da elite política e intelectual local, foi promotor público de Macaíba, secretário de estado entre 1892 e 1895, procurador geral do estado até 1900, quando assumiu o seu primeiro mandato como governador; foi ainda diretor do jornal A República e deputado federal, entre 1904 e 1908 (Cf. Oliveira, G., 1999, p.112-113).

Alberto Maranhão, filho de Dona Feliciana e de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão, chegou ao alto posto estadual graças às articulações de seu irmão Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. Na ocasião, para a eleição do irmão Alberto Maranhão (1900), Pedro Velho conseguiu modificar a Constituição Estadual reduzindo para 25 anos a idade mínima para o acesso ao cargo de chefe político estadual. Caso contrário, Alberto Maranhão jamais poderia ter sucedido o ex-governador Joaquim Ferreira Chaves na gestão estadual do ano de 1900.

Num golpe de casuísmo político, típico do sistema oligárquico, a Constituição Estadual, que impedia a candidatura de menores de 35 anos para a Presidência ou Vice-Presidência do estado, foi reformada para permitir a candidatura de Alberto Maranhão, então com 26 anos. A Assembléia Legislativa, presidida por Fabrício Gomes de Albuquerque Maranhão, irmão de Pedro Velho, alterou o artigo 28, 4o parágrafo, da Constituição Estadual, que não permitia a eleição de menores de 35 anos de idade para Presidente ou Vice-Presidente do Estado, abrindo o caminho para a candidatura de Alberto Maranhão que tinha à época 26 anos de idade.

Beneficiado pela alteração constitucional de 1898 (que diminuiu de 35 para 25 a idade mínima para alguém se candidatar a Presidente do estado), Alberto Maranhão foi eleito Presidente do Rio Grande do Norte. A mudança veio a beneficiar, também, posteriormente a Tavares de Lyra, candidato à sucessão de Alberto Maranhão.

Alberto Maranhão governou o estado do Rio Grande do Norte de 1900 a 1904. No ano de 1908, o jovem político foi reeleito para suceder Augusto Tavares de Lyra (genro de Pedro Velho) para um mandato de dois anos, em que a Constituição Estadual fora mais uma vez modificada ampliando o período governamental de quatro para seis anos de mandato. Para maiores informações sobre as formação do estado republicano no Rio Grande do Norte, consultar: SPINELLI, José Antonio. Coronéis e oligarquias no Rio Grande do Norte (Primeira República) e outros estudos. Natal: EDUFRN, 2010. p. 37-39.

Como governador ele foi o mais dedicado à transformação da capital do Rio Grande do Norte na cidade elegida e almejada pelas elites locais. Governador por duas vezes (1900-1904/ 1908-1913), Alberto Maranhão liderou o Partido Republicano após a morte de Pedro Velho, em 1907.

Alberto Maranhão (irmão de Pedro Velho), o primeiro governador eleito pelo voto direto. Eram evidentes as marcas desse domínio político, levando o grupo a permanecer no poder, sem oposição, até 1913. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão faleceu no dia 09 de dezembro de 1907, na vigência do mandato de Antônio de Souza, seu irmão Alberto Maranhão assume a liderança da oligarquia até 1913.

Alberto Maranhão assumiu o leme da oligarquia.

A família Albuquerque Maranhão faz-se presente na administração estadual novamente com Alberto Maranhão, que governou o estado de março de 1908 a dezembro de 1913. Livre da tutela de Pedro Velho, realizou um governo pleno de realizações do ponto de vista administrativo, como enfatiza Medeiros (1973, p. 151), associando à imagem de Alberto Maranhão realizações sócio-culturais, nas áreas da saúde e educação públicas.

Foram cinco mandatos para o governo do Estado, no período de 1890 a 1913, sob o domínio da oligarquia Maranhão. Após o governo de Pedro Velho (1892-96), o pernambucano Joaquim Ferreira Chaves Filho foi eleito pelo voto aberto para o mandato de 1896-1900; o terceiro governo exerceu Alberto Maranhão (1900-04); o quarto, Augusto Tavares de Lyra de 1904-06, substituído por Antonio José de Melo e Souza, eleito, em 1907, para complementar o mandato deste último, que assumira o cargo de Ministro da Justiça; e o quinto governo foi de Alberto Maranhão (1908-13).

Este último, por suas realizações, foi considerado o maior governo da primeira República no Rio Grande do Norte, com significativas transformações no cenário urbano da capital do Estado. Diante do exposto, entende-se que necessário se faz descrever como transcorreu em Natal, particularmente no bairro da Ribeira, o processo de embelezamento urbano.

O governador Alberto Maranhão, em sua primeira gestão estadual (1900-1904), ganhou o título de mecenas do Rio Grande do Norte”, graças ao seu destaque no que diz respeito ao impulso que deu às artes e à cultura354. Entre as suas feitorias, estão: a inauguração do teatro Carlos Gomes – hoje denominado Teatro Alberto Maranhão; a lei número 145, de 06 de agosto de 1900; a fundação do Conservatório de Música e o Derby Club. Alberto Maranhão ainda se dedicou a outras realizações em seu segundo mandato (1908 -1914) como, por exemplo, “implantou a luz elétrica em Natal, e posteriormente os bondes elétricos; realizou uma reforma na educação; inaugurou a Escola Normal de Natal e instalou o Palácio do Governo na Praça Sete de Setembro” (CARDOSO, Rejane (Org.). 400 nomes de Natal. Op. Cit. p. 33-34.).

Ferreira Chaves

JOAQUIM FERREIRA CHAVES – 1º governador do RN eleito pelo voto direto(voto popular), no pleito estadual de 1895. Mandato: 25 de março de 1896 a 25 de março de 1900

Em 1895 foi realizada, no Rio Grande do Norte, a primeira eleição direta que escolheria o chefe do Executivo estadual. Escolhido por Pedro Velho, o desembargador Ferreira Chaves venceu com facilidade a eleição e, como fiel aliado da família Albuquerque Maranhão, continuou a obra do seu padrinho político, ou seja, continuou com a política de favorecimento do grupo político ao qual pertencia.

Em 1895 foi realizada, no Rio Grande do Norte, a primeira eleição direta que escolheria o chefe do Executivo estadual. Escolhido por Pedro Velho, o desembargador Ferreira Chaves venceu com facilidade a eleição e, como fiel aliado da família Albuquerque Maranhão, continuou a obra do seu padrinho político, ou seja, continuou com a política de favorecimento do grupo político ao qual pertencia.

O apoio de Pedro Velho foi de grande importância para assegurar a vitória de Ferreira Chaves sobre o oposicionista José Moreira Brandão Castelo Branco. Segundo Mariz e Suassuna (2002, p. 211), a indicação de Ferreira Chaves pelo Partido Republicano do Rio Grande do Norte para governar o estado contrariava “os anseios dos chefes municipais que esperavam a indicação de um nome da região sertaneja”. Como retribuição, o seu governo, que se estendeu de 1896 a 1900, participou de todos os conchavos montados por Pedro Velho.

Augusto Severo

Augusto Severo de Albuquerque Maranhão

Irmão de Pedro Velho. Em 1882, devido ou a problemas de saúde, ou a um romance não aceito por sua família, retornou de Recife a Natal e passou a lecionar matemática no Ginásio Norte-Rio-Grandense, de propriedade de seu irmão Pedro Velho, acumulando a função de vice-diretor.

Em 1889, passou a escrever artigos para o jornal A República, antimonárquico, do irmão Pedro Velho, e projetou um dirigível que incorporava ideias revolucionárias, o Potyguarania, o qual, porém, nunca chegou a ser construído.

Em 1892 Augusto Severo abandonou de vez a carreira comercial para dedicar-se à política, onde lhe estava reservado o mais honroso papel. Eleito deputado ao Congresso constituinte que organizou o Estado, teve, em 1893, de preencher a vaga aberta na Câmara dos Deputados Federais pela eleição do Dr. Pedro Velho para o cargo de governador do Estado do Rio Grande do Norte. Tudo sem abandonar a aerostação.

Em 12 de maio de 1902, Augusto Severo, o irmão de Pedro Velho e Alberto Maranhão, descendente da tradicional família que após a proclamação da República dominou a política estadual por mais de duas décadas, morreu em acidente aéreo com o balão Pax, dirigível por ele concebido, em Paris. No mesmo acidente faleceu o mecânico Sachet. Por coincidência, embarcado para o Rio de Janeiro neste mesmo paquete, faleceu em 1906 no porto do Recife, o Senador Pedro Velho, seu irmão mais velho.

Este monumento está localizado no bairro Ribeira, na praça que tem o nome do homenageado. Inaugurada em 15 de novembro de 1905, sob os auspícios do então governador Tavares de Lyra, a praça recebeu, em 1913, a estátua em bronze de Augusto Severo de Albuquerque Maranhão (ONOFRE JR., 1998).

A escultura constitui uma reverência ao pioneirismo do inventivo potiguar nascido em Macaíba, município da atual Região Metropolitana de Natal, em 11 de janeiro de 1864. Descendente da tradicional família que após a proclamação da República dominou a política estadual por mais de duas décadas (BUENO, 2002) – era irmão de Pedro Velho e Alberto Maranhão – Augusto Severo notabilizouse por sua contribuição aos primórdios da aviação mundial.

Assim como Santos Dumont e outros pioneiros, Augusto Severo almejou conquistar os céus com as suas invenções. O cenário para essa ousadia seria Paris cujo glamour, à época, atraía inventores e aeronautas de todo o mundo.

Este monumento está localizado no bairro Ribeira, na praça que tem o nome do homenageado. Inaugurada em 15 de novembro de 1905, sob os auspícios do então governador Tavares de Lyra, a
praça recebeu, em 1913, a estátua em bronze de Augusto Severo de Albuquerque Maranhão.

Em 12 de maio de 1902, na Cidade Luz, seus propósitos desvaneceram com o desastre do balão Pax, dirigível por ele concebido (ONOFRE JR., 1998). No mesmo acidente faleceu o mecânico Sachet. O registro de uma rua com o seu nome, no bairro Ribeira, reverencia a memória do companheiro de Augusto Severo nas origens dos feitos aeronáuticos.

Até o ano de 1901 nada havia sido efetivamente realizado na Praça da República e a chegada de mais um inverno piorava a situação, com a formação de alagadiços. Para piorar, a falta de educação da população, a partir do depósito de lixo e dejetos nas valas que drenavam as águas pluviais tornava a situação ainda mais crítica (A REPUBLICA, 1901, p. 01).

Ruas e logradouros adjacentes, tais como o largo do Bom Jesus e as ruas de Santo Amaro e da Campina, se tornavam “inabitáveis”, como eram descritos nesses períodos por alguns periódicos. Entre esses argumentos, os jornais em circulação chegavam a citar o fato de que uma intervenção na Praça da República significaria um beneficiamento das próprias elites políticas e intelectual, já que ou residiam ou se hospedavam em suas adjacências. Em frente à Estação central da Estrada de Ferro de Natal á Nova Cruz; (as casas do actual governador do Estado Dr. Pedro Velho, e do governador eleito dr. Chaves Filho).

Somente em 1904 o Governador Augusto Tavares de Lyra irá concretizar as reformas idealizadas pelas elites administrativas de Natal. O novo nome do logradouro, antes denominado Praça da República (1901), agora representava um personagem local, Augusto Severo, o protótipo do indivíduo cosmopolita e integrado às principais inovações tecnológicas de seu tempo. Era a referência mais adequada à praça, já que se esperava associar o local à modernidade de uma urbe civilizada do inicio do século XX. Augusto Severo era irmão de Pedro Velho – a incontestável liderança política da região – e morreu em 12 de maio de 1902 quando tentava pilotar seu próprio dirigível em Paris. A idéia de “porta” da cidade para a praça, aliás, presta-se bem ao nome que lhe foi dado, uma vez que se tratava de um pioneiro da aviação, ou seja, um ultramoderno meio de transporte. O antigo aeroporto de Natal situado em Parnamirim também tinha o nome desse personagem.

Junqueira Aires

Junqueira Ares

Pedro Velho se relacionara com Junqueira Aires desde os bancos acadêmicos, um cursando a Faculdade de Medicina e o outro a Escola Politécnica da Corte. Formados, tomaram rumos diferentes: Pedro Velho voltou para sua província, foi clínico abalizado, professor ilustre, propagandista ardoroso da abolição, evangelizador, convencido do credo democrático e, depois de 15 de novembro de 1889, a figura máxima da história republicana norte-riograndense; Junqueira Aires envolveu-se nas lutas acirradas dos partidos em sua terra natal e, graças ao tradicional prestígio de sua família e aos seus merecimentos excepcionais, entrava, aos vinte e cinco anos, para a última Câmara conservadora do Império, onde revelou, desde começo, seus altos dotes de orador.

Em 1892, no governo do marechal Floriano Peixoto (1891-1894), Junqueira Aires foi nomeado engenheiro fiscal da Estrada de Ferro de Nova Cruz, no Rio Grande do Norte, com grande satisfação de Pedro Velho, que, – seu velho admirador e amigo, – tudo fez para atraí-lo ao grêmio de seus correligionários.

Relutando a princípio, cedeu aos poucos de seus primitivos propósitos e começou a colaborar nas gazetas partidárias, onde seus artigos se destacavam, em regra, pelas galas e louçanias do estilo. Depois de seu ingresso na imprensa, foi completa sua identificação com o situacionismo estadual, em cujas festividades os mais retumbantes aplausos coroavam suas orações quentes e vibrantes.

Pouco antes de deixar o estado para assumir o posto de engenheiro fiscal dos engenhos centrais de Pernambuco, aceitou o convite de Pedro Velho, então governador do Rio Grande do Norte (1892-1896), para candidatar-se a deputado federal na legislatura 1894-1896 fora da chapa do partido. Esse expediente foi arquitetado por Pedro Velho para disputar a vaga oferecida aos oposicionistas.

Segundo Luís da Câmara Cascudo, Junqueira Aires foi escolhido por ser bom orador, qualidade que então fazia falta para defender as causas do estado no Congresso. Em outubro de 1893, deviam efetuar-se as eleições gerais para a renovação do terço do Senado e da Câmara dos Deputados, tendo Pedro Velho lhe oferecido um lugar na chapa oficial. Recusou.

Pedro Velho insistiu; e, em fins de agosto, conseguiu vencer suas resistências. Mas já então era discutível sua elegibilidade por ser funcionário demissível.

Uma noite, – seriam dez horas, – mandou-me um recado para ir ao Palácio. Fui. Encontrei-o só. Expôs-me em reserva as combinações de bastidores em andamento para a escolha de nossos candidatos ao Congresso Nacional.

O partido havia resolvido que a chapa seria assim composta: Almino Affonso para o Senado; Augusto Severo, Junqueira Aires e Francisco Gurgel para a Câmara dos Deputados. Eu disputaria o quarto lugar extra-chapa. Esta combinação, porém, tinha de ser alterada em conseqüência das dúvidas que haviam surgido no tocante à eleição de Junqueira. Eu substituí-lo-ia na chapa e ele seria votado no rodisio.

Se a incompatibilidade suscitada não prevalecesse, o que pensava sucederia, de vez que eram técnicas as funções que ele exercia e a lei se referia a funcionários administrativos, faríamos sem dificuldades os quatros Deputados. Se, ao contrário, viesse a prevalecer, precisaríamos de uma vaga para ele, que não podia ficar fora da representação.

Nesta hipótese esperava que eu abrisse oportunamente essa vaga. Era um serviço que me pedia. E acrescentou: conheço-te bem e sei que posso contar contigo. Não se enganou, respondi-lhe eu. Disponha de meu nome, como quiser e entender. Resultado: minha inclusão na chapa.

Eleito deputado pelo Rio Grande do Norte, Junqueira Aires bateu-se contra o adiamento da sessão legislativa em 1894 e passou a denunciar as manobras de José Bernardo de Medeiros para depor Pedro Velho do governo do estado.

Depois de empossado de sua cadeira de deputado, Junqueira Aires só voltou uma vez a Natal, – em fevereiro de 1896. – Extraordinárias as manifestações de regozijo com que foi recebido. Entre outras, um banquete realizado a 21 daquele mês, em que Pedro Velho, – como ele mestre e senhor da palavra, – o saudou em primorosa oração, a que respondeu entoando um hino de louvor à terra norte-riograndense, que lhe restituíra, com a fé dos eleitos, os mais nobres estímulos nas intensas competições da vida pública.

Ao voltar a Natal em 1896 para as comemorações do fim do mandato de Pedro Velho, quando foi o orador oficial do Partido Republicano, sentiu os sintomas do que foi diagnosticado como anemia cerebral. Decidiram então transportá-lo de volta para o Rio de Janeiro, onde não conseguiu chegar. Faleceu em Recife, em meio à viagem, na companhia de Pedro Velho, no dia 10 de maio de 1896.

Relações cascudianas

Rua Senador José Bonifácio, mais conhecida por rua das Virgens, em Natal. Fotografia do início do século XX. Fonte: WRIGHT, Marie Robinson. Rio Grande do Norte. In:___. The new Brazil: its resources and attractions historical, descriptive and industrial. 2. ed. rev. e amp. Philadelphia: George Barrie & sons, 1907. p. 440. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – Natal-Rio Grande do Norte.

As primeiras relações de Cascudinho com a cidade do Natal, evidentemente, foram mediadas pela posição social de seus pais, Francisco Justino de Oliveira Cascudo e Ana Maria da Câmara Pimenta. Oriundos do interior do Rio Grande do Norte, mais precisamente da vila de Campo Grande, o casal se transferiu para Natal por volta do início da década de 1890 e logo estabeleceu relações de amizade com o grupo político que administrava o governo e regulava a economia local: a família Albuquerque Maranhão.

Naquela época, recém implantada a República no Brasil, este grupo familiar liderado pela figura de Pedro Velho dirigia os diversos segmentos da sociedade local, designando cargos a serem implantados e indicando pessoas para exercê-los. Articular-se a essa família era necessário para aqueles que desejavam estarem presentes nas esferas de decisão da cidade.

Infância elitizada Ante essa proximidade política, já em 1892, Francisco Cascudo foi nomeado pelo então governador Pedro Velho para o Batalhão de Segurança do Estado. Anos mais tarde, as relações pessoais entre a família Cascudo e o sistema de poder oligárquico dos Albuquerque Maranhão havia se estreitado ainda mais.

Quando do nascimento de Luís da Câmara Cascudo, em 30 de dezembro de 1898, Francisco Cascudo escolheu como padrinhos de batismo de seu filho o governador e a primeira-dama do Estado do Rio Grande do Norte naquele momento, Joaquim Ferreira Chaves e Alexandrina Chaves. Já em 1900, o agora tenente Francisco Cascudo pediu exoneração da atividade militar para se dedicar ao comércio.

Um momento dramático no governo de Ferreira Chaves foi o crescimento, em 1898, do movimento messiânico na Serra de João do Vale (município de Campo Grande), que desorganizava a vida produtiva naquela região, tendo em vista os sertanejos abandonarem os seus afazeres para acompanhar o agricultor místico Joaquim Ramalho. Itamar de Souza (1989, p. 230) descreve os detalhes da origem daquele movimento, uma espécie de Canudos norte-rio-grandense

Atendendo às solicitações dos fazendeiros, comerciantes e lideranças políticas da região, Ferreira Chaves nomeou o tenente Francisco Cascudo para combater os fanáticos. Em agosto o tenente Cascudo chegou a Campo Grande e, após entendimentos com as lideranças locais, saiu com a tropa em busca dos beatos, os quais prenderam sem grande resistência. Joaquim Ramalho e seu auxiliar, de nome Sabino, entregaram-se. Os seus discípulos” debandaram, pondo fim ao movimento messiânico que durara aproximadamente dois anos. O tenente Cascudo praticamente não teve resistência, prendeu os líderes do movimento e os encaminhou para a delegacia de Mossoró (SOUZA, 1989, p. 230).

O pai do escritor, coronel Francisco Cascudo, cultivou um laço de amizade com o chefe político Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. O próprio Cascudo narra a primeira lembrança do encontro pessoal com Pedro Velho no ano de 1907. As relações descritas por Câmara Cascudo demonstra que a família Cascudo, de considerável importância na cidade, manteve laços com, pelo menos, três governadores do Rio Grande do Norte, o que atesta uma aproximação entre a família Cascudo e a rede política Albuquerque Maranhão (CASCUDO, Luís da Câmara. O tempo e eu: confidências e proposições. Op. Cit. p. 43. e SALES NETO, Francisco Firmino. Luís Natal ou Câmara Cascudo: de autor a autor da cidade do Natal. Campina Grande: EDUFCG, 2013. p. 50-54.).

Aproveitando-se das habilidades adquiridas durante o período em que mascateava pelo interior do Rio Grande do Norte, o pai de Cascudinho fundou em Natal o estabelecimento comercial “O Profeta”. Segundo a historiadora Denise Mattos Monteiro, foi através do comércio que a família Cascudo adquiriu sua riqueza financeira.

Principalmente por ter sido beneficiada com o monopólio da comercialização da carne verde em Natal, exclusividade concedida no segundo mandato do governador Alberto Maranhão. As relações de Francisco Cascudo com Pedro Velho, Joaquim Ferreira Chaves e Alberto Maranhão nos mostram como o lugar social do nascimento de Câmara Cascudo foi bastante privilegiado, uma vez que seus progenitores estavam articulados à rede política que geria a vida pública no Rio Grande do Norte.

O próprio Câmara Cascudo relata sobre a sua biblioteca composta por uma “excelente literatura da França e Portugal”, localizada em sua residência, conhecida como Principado do Tirol, era uma extensa e confortável propriedade com mobiliário pertencente a Pedro Velho Albuquerque Maranhão e constituída de uma sala de visitas, de dois salões de jantar e de uma ampla biblioteca “com sala própria, poltronas e uma rede fagueira” 9CASCUDO, Luís da Câmara. Nosso Amigo Castriciano: 1874-1947. Natal: EDUFRN, 2008. p. 40-42.).

Tavares de Lyra

Augusto Tavares de Lyra.

A preocupação da elite governante em transformar Natal numa cidade moderna não estava isenta de críticas. O jornal Diário do Natal, inúmeras vezes, questionava as decisões do governo com relação às obras de melhoramento. Em suas reportagens, os jornalistas do Diário do Natal geralmente punham em questão a origem do dinheiro responsável pela execução das obras e a necessidade de prosseguir com elas frente a outras urgências do Estado, como o combate à seca.

O Diário do Natal, principal jornal oposicionista, crítico feroz de Pedro Velho e seus parentes e correligionários “que o sucederam no Governo do Estado, aos quais não dava tréguas, imputando-lhes violentas acusações” noticiou na forma de versos satíricos a chegada de Tavares de Lyra: “Sim, senhor, eis que chega o Lyra / Do Alberto sucessor / Terceiro da dinastia / Do oligarca Senador. / Vão assim os oligarcas / Uns nos outros se encanando / E os destinos da terra / De uma vez avassalando” (FERREIRA, 1992, p. 35).

Exemplo da posição dos jornalistas do Diário do Natal pode ser encontrado num artigo sobre as obras públicas de aterro e ajardinamento da Praça Augusto Severo em 1904. Nesse artigo a oposição critica a postura do governador Tavares de Lyra, que agiria somente em função dos interesses dos seus pares, a mando do seu sogro, Pedro Velho:

S. Excia. faz o que quer e bem entende no interesse de sua oligarchia; á seu sabor do seu sogro decreta os impostos e gasta as rendas publicas, sem a menor attenção, nem cavaco as contribuintes. Manda fazer um jardim publico, obra de luxo, de elevado custo, sem que para isso tenha a menor autorização do poder legislativo, porque vive s. exc. em absoluta e permanente dictadura financeira.

GOVERNO urso. Diário do Natal, Natal, 14 jul. 1904.

Apesar da postura crítica, os jornalistas do Diario do Natal não eram contrários aos ‘melhoramentos’ implementados em Natal. Afinal, a chegada do progresso à capital do Estado era clamada por toda a elite letrada do período.

Homem de vasta cultura, Tavares de Lyra tinha um lastro intelectual considerável quando assumiu o governo do estado. Deixou uma vasta bibliografia, aproximadamente uns “cinqüenta trabalhos publicados, entre os quais se destacam importantes obras de História, com a História do Rio Grande do Norte, considerada seu caro-chefe” (SOUZA, 1989, 233-234).

Henrique Castriciano

Henrique Castriciano.

No ano de 1892, Henrique Castriciano foi convidado por Pedro Velho, aos 17 anos, para estrear no jornal A Republica. O escritor estreou nas páginas do A Republica com Soneto, escrito em memória do cadete Júlio Borges assassinado em Pernambuco (CASTRICIANO, Henrique. A Republica. Natal, 06 fev. 1892.).

Henrique Castriciano é o grande expoente de escritor colaborador do jornal A Republica. O literato possui centenas de escritos publicados no periódico de 1892 até a década de 1920, variando de poemas a palestras, críticas literárias, artigos, crônicas. Além das contribuições financeiras, o literato obteve a consagração, a fama, e a oportunidade de ver seu nome ao lado de nomes célebres como o próprio Pedro Velho, e outros escritores renomados, tais como Manoel Segundo Wanderley, Rodrigues de Carvalho, Francisco de Palma, entre outros.

O jovem escritor divulgou os seus poemas no jornal de considerável importância, e de páginas consagradoras, na imprensa potiguar no fim do século XIX. No mesmo ano, Pedro Velho autorizou a publicação do primeiro livro de Henrique, Iriações, nas tipografias do jornal oficial. Segundo seu biografista, Luís da Câmara Cascudo, “sem formação e desejo, sem mentalidade e forma, Henrique ficou sendo político-partidário, um pedro-velhista” (CASCUDO, Luís da Câmara. Nosso amigo Castriciano (1874-1947). p. 53-54.).

Alguns anos depois, o poeta Castriciano iniciou a sua carreira política participando, definitivamente, das instâncias políticas administradas pelo grupo situacionista Albuquerque Maranhão. Em março de 1900, o poeta assumiu a secretaria de governo na gestão do governador Alberto Maranhão, irmão de Pedro Velho, na qual teve grande destaque com a elaboração e a sanção da Lei número 145, como já mencionamos. Henrique Castriciano prosseguiu com o seu cargo de secretário do governo durante a administração estadual do genro de Pedro Velho, Augusto Tavares de Lyra (1904-1906). Entre os anos de 1904 e 1908, o escritor graduou-se no curso jurídico, obtendo o título de bacharel em Ciência Jurídicas e Sociais no dia 22 de dezembro de 1908.

No ano de 1910, Henrique Castriciano acumulava as funções de secretário de governo, na segunda gestão de Alberto Maranhão (1908-1914) e de procurador Geral do Estado no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte. A sua carreira política teve de ser pausada em detrimento da realização de um projeto encabeçado pelo intelectual: o ensino feminino no Rio Grande do Norte. Para isso, o governo do estado financiou a sua viagem à Europa em 1913.

Ao retornar da Europa, Henrique continuou ocupando notáveis cargos políticos. Foi eleito deputado estadual e, posteriormente, vice-governador. Entre os anos de 1915 e 1924, o poeta tornou-se vice-governador das gestões estadual de Joaquim Ferreira Chaves de Melo e de Antônio José de Melo e Souza. Na opinião de Câmara Cascudo, o “clima literário” no Palácio do Governo, isto é, a afeição dos administradores estaduais pelas letras, foi indispensável para que Henrique Castriciano fosse eleito vice-governador, uma vez que o poeta não tinha eleitores e nem sabia conquistá-los.

A condição de literato de Henrique Castriciano foi decisiva para a obtenção de seu cargo político ao lado dos dois governadores.
Apesar de suas ilustres atuações no cenário político, ano de 1924, o consagrado poeta estava desempregado. Para Câmara Cascudo,
até morrer, vinte e três anos depois, nada receber da administração local. José Augusto Bezerra de Medeiros e seu sucessor Juvenal Lamartine
afastaram-no de qualquer pretensão. Os delegados da revolução de outubro de 1930, ignoraram-no. (CASCUDO, Luís da Câmara. Nosso amigo Castriciano (1874-1947). p. 70.).

A decadência da carreira de Henrique Castriciano acompanhou o declínio do grupo político e familiar Albuquerque Maranhão. A eleição de Joaquim Ferreira Chaves para o cargo de governador do Rio Grande do Norte, em 14 de setembro de 1913, deu início ao afastamento do controle político mantido até então por aquele grupo.

Plano Polidrelli (1901-1904)

Vista parcial da Praia de Areia Preta. Foto: Manoel Dantas. Fonte: Natal Ontem e Hoje SEMURB.

Ainda no século XIX, o governador e médico Pedro Velho, que governou o Rio Grande do Norte nos anos 1892-96, defendia a construção de um terceiro bairro em Natal e que o mesmo fosse denominado de Cidade Nova. A proposta era que o novo bairro fosse construído no cume das dunas que ficavam ao Sul da cidade, longe, portanto, da Cidade do Natal da época da monarquia, e topograficamente mais elevada.

Expandir Natal era uma necessidade. Segundo Câmara Cascudo, desde o governo de Pedro Velho (1892-1896), já existiam planos (esboços) de expansão da cidade com a criação de novos bairros.

O Governador Pedro Velho, passeando de cavalo nas redondezas da Cidade Alta, atual bairro de Petrópolis, chamava aquela região de Cidade Nova, o que era alvo de gargalhadas dos natalenses. Ninguém acreditava que Natal cresceria até o fim do mundo.

Vejamos o que diz nosso historiador maior: Em fins do século XIX a Cidade Alta findava no sitio Cucuí, lado direito da rua Ulisses Caldas… Daí em diante era capoeira, mato ralo mas contínuo até os morros. Corriam picadas abertas, levando às moradas disseminadas numa área extensa e o caminho para o Morcego, hoje Praia do Meio. Areia Preta ficava no fim do mundo e os raros visitantes daquele recanto habitado por pescadores iam a cavalo, com os ares displicentes de quem viaja valentemente. Caçava-se por aí aos domingos (CASCUDO, 1999, p. 351).

Antes de iniciar a apresentação de um novo tempo, convida a plateia a se encontrarem num lugar denominado “Perigo Iminente”, dramatizado e metaforizado, coloca para os ouvintes uma imagem que lhes era familiar e que havia sido construída historicamente: tratava-se das dunas circunvizinhas ao bairro símbolo do moderno, o Cidade Nova, cujas condições de implantação e prescrições urbanísticas foram estabelecidas pela Resolução nº 55 de 30 de dezembro de 1901.

Os primeiros anos do século XX foram caracterizados pela consolidação do regime republicano e o fortalecimento das oligarquias nas províncias. Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, passado o período inicial de instabilidade política, inaugurou uma das mais duradouras oligarquias que este estado conheceu. Por mais de 25 anos, a oligarquia Maranhão esteve à frente do Poder Político no Rio Grande do Norte.

Apesar dos desencontros na implantação da República, o fim do Império provocou uma maior participação dos governos provinciais nas verbas públicas. Este fato contribuiu para a modernização das capitais e segundo Monteiro (2000, p.168):

No caso de Natal, essa modernização pôde contar ainda com outros recursos, como aqueles enviados pelo governo federal com o objetivo de combater os efeitos das secas. Foi o que ocorreu na seca de 1903 1904. Com a verba recebida e a utilização da mão-de-obra de milhares de retirantes que se concentravam na capital, adiantou-se a construção da Praça Augusto Severo, na Ribeira, foram calçadas várias ruas e abertas avenidas que iriam originar a então chamada Cidade Nova , os atuais bairros de Tirol e Petrópolis.

Até o final do século XIX Natal tinha dois bairros: Cidade Alta e Ribeira. A Cidade Alta, indo em direção aos morros, tinha o seu limite em um sítio localizado na confluência das atuais Ulisses Caldas e Deodoro, local do antigo Colégio da Imaculada Conceição (CIC).

Os mais abastados da cidade, buscando outros ares, se dirigiram para esta área, onde construíram suas chácaras para descanso e veraneio. Estas propriedades tinham nomes diferenciados, tais como “Betânia”, “Solidão”, “Senegal”, “Pretória”, “Covadonga”, “Quinta dos Cajuais” e outros. Um destes proprietários era o ex-governador e líder político Pedro Velho, que denominava a região como Cidade Nova e sonhava com a expansão de Natal nesta direção. Master-plan (1901-1904). Fonte: SEMURB.

Daí em diante, indo para os morros em frente, ou para qualquer dos lados, um em direção à praia, outro no sentido oposto, tudo era capoeira, um mato ralo e contínuo. Para chegar às praias, longes e desabitadas, era preciso ir de cavalo por entre as picadas abertas nesse matagal.

Os morros eram procurados pelos caçadores de final de semana. Para o outro lado, sentido sul, atravessavam-se sítios e poucas moradias , até chegar onde hoje está o Aero Clube do Rio Grande do Norte.

Andando a cavalo por toda essa área, Pedro Velho, quando foi governador entre 1892 e 1896, teve a ideia de puxar a cidade para aqueles lados, mas faltaram-lhe recursos técnicos e sobretudo financeiros. Ele chamava de “Cidade Nova” toda aquela área a ser incorporada à cidade.

O sonho de Pedro Velho começou a materializar-se na gestão do intendente (prefeito) Joaquim Manoel Teixeira de Moura, o Quincas Moura, entre 1898 e 1909. Pela Resolução n. 55, de 30.12.1901, ele criou o terceiro bairro de Natal, a que denominou de CIDADE NOVA, uma homenagem ao idealizador Pedro Velho. O plano foi concluído três anos depois, superfície aproximada de 1.648.510 m², subdividida em sessenta quarteirões, planejada pelo arquiteto Antônio Polidrelli. Constituía-se de avenidas e ruas transversais; as avenidas com trinta metros de largura, todas em direção a 36 graus de S SO, as ruas com vinte.

A Cidade Nova, com suas avenidas e seus parques sombreados, é o bairro da aristocracia, a cidade artística, onde a riqueza impressiona pelo luxo e o bom gosto das construções. Ao centro desse bairro, a praça Pedro Velho – o cérebro para onde convergem as manifestações da vida urbana – é dominada por uma estátua colossal do Gênio, subjugando com uma mão firme a hidra do mal e apontando com a outra para uma placa de cristal onde o Destino escreve esta legenda: – Façam o progresso que eu mantenho a ordem.

Abaixo documento transcrito sobre o registro da Cidade Nova (Tirol/Petrópolis) e seus logradouros. Intendencia Municipal

Resolução n. 55A Intendencia Municipal do Natal

Resolve:

Art. 1º – Terá denominação de Cidade Nova a parte da area urbana que demora a leste da linha formada pelo prolongamento norte-sul do muro que limita, pelo nascente, a chacara de propriedade do dr. Santos;

Art. 2º – A Cidade Nova compreenderá, desde já, de acordo com a respectiva planta archivada na secretaria, quatro avenidas paralleslas, com as denominações de Deodoro, Floriano, Prudente de Moraes e Campos Salles, cortadas por seis ruas com os nomes de Seridó, Potengy, Trairy, Mipibú, Mossoró e Assú e duas praças, denominadas Pedro Velho e Municipal. A avenida que partindo da Praça Pedro Velho, se dirige, no rumo norte, para as dunas, terá o nome de Alberto Maranhão;

Art. 3º – Os concessionarios dos terrenos aforados e os dos que a contar do 1º de janeiro proximo, forem requeridos, deverão, no prazo improrogavel de doze meses contados da pesente data para os primeiros e do dia da concessão, para os segundos, fechal-os por muros ou cercas sendo-lhes concedidos trez annnos para a respectiva edificação.

# 1º – Todas as esquinas das praças, avenidas e ruas serão em curvas de dois metros de raio;

# 2º – Aos requerentes de concessões de terrenos nos diversos quarteirões da Cidade Nova não poderão ser dados em aforamento mais de trinta metros de frente para as avenidas, praças e ruas, e metade de fundo respectivo, salvo se já tiverem petição pendente de despacho;

# 3º – Os predios que forem construidos na Cidade Nova, deverão ser distanciados uns dos outros, pelo menos cinco metros;

Art 4º – A inobservancia do disposto no art. antecedente e seus paragraphos importa a caducidade de concessão;

Art. 5º – Revogam-se as disposições em contrario.

Salas das Sessões, em 30 de Dezembro de 1901,

Joaquim Manuel T. de Moura

Theodosio Paiva

Pedro Avelino

Raymundo Bezerra da Costa

Fortunato Rufino Aranha

Conforme

O secretario

Joaquim Severino da Silva

___________________________________________

A Praça Municipal de que trata a Resolução é a área onde hoje está a Catedral Metropolitana de Natal.

Intendencia Municipal

Resolução n. 55

A Intendencia Municipal do Natal

Resolve:

Art. 1º – Terá denominação de Cidade Nova a parte da area urbana que demora a leste da linha formada pelo prolongamento norte-sul do muro que limita, pelo nascente, a chacara de propriedade do dr. Santos;

Art. 2º – A Cidade Nova compreenderá, desde já, de acordo com a respectiva planta archivada na secretaria, quatro avenidas paralleslas, com as denominações de Deodoro, Floriano, Prudente de Moraes e Campos Salles, cortadas por seis ruas com os nomes de Seridó, Potengy, Trairy, Mipibú, Mossoró e Assú e duas praças, denominadas Pedro Velho e Municipal. A avenida que partindo da Praça Pedro Velho, se dirige, no rumo norte, para as dunas, terá o nome de Alberto Maranhão;

Art. 3º – Os concessionarios dos terrenos aforados e os dos que a contar do 1º de janeiro proximo, forem requeridos, deverão, no prazo improrogavel de doze meses contados da pesente data para os primeiros e do dia da concessão, para os segundos, fechal-os por muros ou cercas sendo-lhes concedidos trez annnos para a respectiva edificação.

# 1º – Todas as esquinas das praças, avenidas e ruas serão em curvas de dois metros de raio;

# 2º – Aos requerentes de concessões de terrenos nos diversos quarteirões da Cidade Nova não poderão ser dados em aforamento mais de trinta metros de frente para as avenidas, praças e ruas, e metade de fundo respectivo, salvo se já tiverem petição pendente de despacho;

# 3º – Os predios que forem construidos na Cidade Nova, deverão ser distanciados uns dos outros, pelo menos cinco metros;

Art 4º – A inobservancia do disposto no art. antecedente e seus paragraphos importa a caducidade de concessão;Art. 5º – Revogam-se as disposições em contrario.

Salas das Sessões, em 30 de Dezembro de 1901,

Joaquim Manuel T. de MouraTheodosio Paiva

Pedro Avelino

Raymundo Bezerra da Costa

Fortunato Rufino Aranha

Conforme

O secretario

Joaquim Severino da Silva

__________________________

A Praça Municipal de que trata a Resolução é a área onde hoje está a Catedral Metropolitana de Natal.

Apesar dos desencontros na implantação da República, o fim do Império provocou uma maior participação dos governos provinciais nas verbas públicas. Este fato contribuiu para a modernização das capitais e segundo Monteiro (2000, p.168):

No caso de Natal, essa modernização pôde contar ainda com outros recursos, como aqueles enviados pelo governo federal com o objetivo de combater os efeitos das secas. Foi o que ocorreu na seca de 1903 1904. Com a verba recebida e a utilização da mão-de-obra de milhares de retirantes que se concentravam na capital, adiantou-se a construção da Praça Augusto Severo, na Ribeira, foram calçadas várias ruas e abertas avenidas que iriam originar a então chamada Cidade Nova , os atuais bairros de Tirol e Petrópolis.

Vista aérea da cidade. Apresenta a delimitação de Natal em 1599 e a expansão com o Plano Polidrelli (adaptação Aslan). Base cartográfica 2006. Fonte: SEMURB.

O nome do agrimensor Antônio Polidrelli apareceu associado ao projeto, do novo bairro, somente a partir de 1904, desde então ficou conhecido como Plano Polidrelli.

Passo importante na organização da ocupação do solo, o de Polidrelli foi o responsável pela implantação do padrão de avenidas largas para Natal. As futuras intervenções urbanísticas espelharam-se, na intervenção de 1901-1904. Cascudo, denominou de ave de arribação, o agrimensor Antônio Polidrelli:

Em 1904, o master-plan da Cidade Nova estava concluído, ampliando as medidas de Joaquim Manuel, em fins de 1901. O relatório do secretário do Governo, H. Castriciano, datado de 14 de junho de 1904, já fixa os dois bairros quase no aspecto dos nossos dias. Oito avenidas paralelas, com 30 metros de largura, comprimento entre 650 (Avenida Alberto Maranhão) a 5.261 (a Avenida Oitava) e quatorze ruas enxadrezando a Cidade Nova. A superfície aproximada ia a 1.648.510 metros quadrados, com sessenta quarteirões. O técnico era um agrimensor italiano, Antonio Polidrelli, ave de arribação que espalhou muita utilidade.

Em sua fase inicial, o Plano Polidrelli (Master Plan) previa a abertura de largas avenidas entre as atuais Deodoro e Campos Sales, cortadas por ruas transversais e duas praças. A implantação do plano foi concluída em 1904, com 8 largas avenidas paralelas, cortadas por 14 ruas, formando um xadrez de 60 quarteirões.

Pelo decreto, a área do novo bairro abrangia todas as terras desocupadas e também ocupadas por vivendas, granjas, sítios e quintais, tendo como limites, de um lado o bairro da Ribeira, no sítio que pertencia ao senhor Jacob Graff, onde havia uma lagoa (Lagoa do Jacó). Do outro lado, as áreas que iam até o Aero Clube.

No livro “Nova história de Natal” (2008, pág. 383), do professor Itamar de Souza mostra que nesta resolução, no bairro de Cidade Nova, existiriam quatro avenidas, cortadas por seis ruas e duas praças, sendo uma delas a Praça Pedro Velho. Segundo o documento, no seu inciso segundo, havia terrenos que poderiam ser dados em concessão, mas que não podiam passar de trinta metros de frente.

O problema era que na nova área de expansão da elite natalense, que vivia o auge da sua “Belle Epoque”, já existiam moradores. Eram os representantes das camadas sociais mais pobres da cidade. Gente que havia fugido das secas no interior e estavam na “periferia”, nos ”matos do Belo Monte”, talvez para não se misturar com o que Natal tinha de “bom”, seja lá o que fosse.

Para a região eram levados os excluídos de Natal. Pessoas que sofriam de doenças como varíola e só contavam com a ajuda do quase santo Padre João Maria para sobreviver. Mas a cidade precisava crescer. Cabia a maior autoridade municipal seguir nos planos e os “mocambos”, “casinholas” e “ranchos” teriam de sair.

O jornal “A Republica” da época, órgão oficial do governo estadual, que neste período estava nas mãos de Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão, muito pouco divulgou do drama que ocorreu na região. Mas aqui e acolá é possível perceber que a coisa não foi tão simples.

Naquele longínquo ano, a Praça Pedro Velho era um grande espaço aberto, muito maior do que conhecemos atualmente. Praticamente sem nenhuma estrutura e ainda existiam casas humildes na área destinada ao espaço público.

Vista aérea do Bairro Petrópolis. Foto: Jaeci E. Galvão. Fonte: Natal Ontem e Hoje SEMURB.

Por outro lado, o restante das terras pertenciam a grandes proprietários que teriam suas glebas valorizadas. Para o lado leste, o Sítio Senegal, pertencente ao intendente Quincas Moura, era o maior deles. Na parte alta, já perto da praia, chamada de ‘O Monte”, ficavam as casas de veraneio de famílias importantes, como a do governador Alberto Maranhão.

Para o lado sul, a Cidade Nova incorporaria uma zona de muitos sítios e poucas vivendas, geralmente mais humildes. Na área havia uma lagoa muito procurada para piqueniques de final de semana (Lagoa Manoel Felipe).Independente aos protestos, o intendente Joaquim Manoel deu início ao processo de urbanização do novo bairro. Ele contratou os serviços do engenheiro italiano António Polidrelli, que elaborou um plano urbanístico, chamado de “Master Plan”, fundamental para a modernização da cidade.

Como era previsto, a Cidade Nova foi ocupada por famílias mais abastadas, ansiosas em morar na parte moderna da cidade, com ruas largas e bem traçadas, fugindo das ruas estreitas e insalubres da Cidade Alta e Ribeira. As famílias pobres que moravam no local foram desalojadas e deslocadas para as áreas das praias, morros e zonas periféricas da cidade. Para os críticos do Master Plan, ele foi o primeiro muro de exclusão da cidade.

O ato de criação do novo bairro gerou uma onda de protestos na cidade, em defesa das famílias pobres que residiam nessas áreas e que seriam desalojadas para pontos distantes de seus locais de trabalho, a praia (Praia do Meio), beira do rio (Passo da Pátria) ou morros. Por isso, o novo bairro passou a ser chamado pelos opositores à sua criação de “Cidade das Lágrimas”.

A criação do Bairro Cidade Nova não aconteceu sem que vozes discordantes fossem ecoadas, oposicionistas chamavam o novo bairro de Cidade das Lágrimas. Um dos opositores mais tenaz ao projeto era o jornalista Elias Souto. Incansável fundador de jornais Souto terá destacada participação na oposição à oligarquia Maranhão.

Na verdade, a propalada ideia de cidade moderna, com a criação do terceiro bairro, escondia o desejo, por parte das elites, de construir o muro da exclusão.

Um exemplo disto foi presença de barracões nos terrenos projetados para o novo bairro gerou alguns conflitos entre os antigos moradores e o governo. Numa nota sobre os planos de ajardinamento da praça Pedro Velho, na Cidade Nova, o jornalista mencionou que além do ajardinamento o governo havia mandado “também retirar uns três ou quatro casebres que, não sabemos por que motivo ainda afeiam o centro daquela praça”. A nota nos faz crer que por mais arbitraria que tenha sido a decisão do governo de expropriar os antigos moradores houve resistência (A REPUBLICA, Natal. 18 jun. 1903).

O Diário do Natal também demonstrava sua opinião nas reportagens da folha, no que diz respeito ao processo, encabeçado pelo governo, de desapropriação das moradias instaladas no futuro bairro da Cidade Nova. As reportagens, sempre em tom dramático, mostravam a violenta ação de tomada dos espaços ocupados pelos barracões, que aconteciam, segundo o jornal, sem que os moradores recebessem qualquer tipo de indenização. Em virtude de tal drama os redatores do Diário do Natal apelidaram o novo bairro de Cidade das Lágrimas, pois o novo bairro teria nascido das lágrimas dos desabrigados (SERVIÇO de cabra cega. Diário do Natal, Natal, 10 abr.1904).

Vista aérea do Bairro Petrópolis (Vendo-se, da esquerda para a direita, o Atheneu e a antiga sede do ABC F.C ). Foto: Jaeci E. Galvão.

Conforme Ferreira e Dantas:

[…] Em Natal, é sintomático que a primeira grande intervenção urbana a inaugurar o século XX seja o projeto de expansão da cidade através do novo bairro, chamado Cidade Nova , nova e radicalmente oposta à cidade colonial, com suas ruas largas em retícula, facilitando a penetração dos ventos dominantes, com exigências de recuos para insolação e ventilação das habitações. É também sintomático que para tanto tenha sido necessária a remoção e expulsão de mais de trezentas cabanas e choupanas para a abertura desse novo espaço de morar das elites, afastado da insalubridade da cidade antiga […].

A cidade em transformação construía seu perfil urbano, lembremos que era início do século XX, em pleno alvorecer da República. A elite, antes monarquista agora republicana, buscava consolidar seu poder político e econômico adaptando-se a nova realidade brasileira. O modelo de cidade, desejado, era aquele que melhor expressasse os novos tempos. Segundo o professor Pedro de Lima, estudioso das intervenções urbanas ocorridas em Natal ao longo do tempo, a criação do terceiro bairro da cidade tem o viés da segregação social:

A Cidade Nova se constituiu em uma dupla solução para o desejo de autosegregação das classes dominantes locais. Por um lado, o Plano Polidrelli superaria o antigo desenho irregular originário da cidade colonial, onde as classes conviviam, praticamente, no mesmo espaço ou guardando uma certa contiguidade. Por outro lado, serviria como refúgio, onde as classes dominantes poderiam se proteger do contato com as péssimas condições ambientais e das epidemias que, então, grassavam pela cidade.

Nesta época respirava-se progresso , Natal tinha de ser colocada no trilho da história, o que implicaria nas transformações decorrentes das intervenções urbanas. A vila colonial precisava passar por uma transformação ou reconstrução, de acordo com o tempo presente. Deveria ter um novo olhar sobre a cidade de Poty. O moderno, neste sentido, justificava qualquer ação urbana patrocinada pela elite local. A ascensão da República representou o novo, o moderno transformou-se em:

[…] mote dos discursos e das práticas que, de forma acerba e explícita com a ascensão da República, proporiam a superação da imagem de atraso e da estrutura da velha e insignificante, como se afirmava, aldeia colonial e a construção da cidade moderna. Com efeito, esse seria o eixo central das normativas e das propostas de transformação do espaço urbano de Natal até o início da década de 1920.É interessante observar que a preocupação do poder público não era o de fazer uma ordenação do espaço urbano. Na verdade, a finalidade era a de embelezar a cidade, acompanhando a tendência dos grandes centros como, por exemplo, São Paulo e Rio de Janeiro. Esta falta de um zoneamento numa perspectiva, digamos, funcional da cidade, não retira do Plano de Polidrelli o mérito de ter sido o pioneiro a se referir ao planejamento urbano, de acordo com Lima (2001, p.41):

[…] introduziu-se na Natal provinciana do início do século, e de forma inaugural, a ideia de se elaborar um plano para acompanhar a expansão da cidade …(e, com isso, criou-se a base para o futuro desenvolvimento de um mercado de terras urbanas).

[…] o Plano Polidrelli estabeleceu um padrão espacial para a cidade situada à margem direita do rio Potengi, constituído por um conjunto de eixos viários paralelos e perpendiculares, definidos no sentido norte-sul e leste-oeste, respectivamente. E definiu, desde 1901, a forma predominante de estruturação da cidade de Natal.

A Cidade Nova, que surgiu do Plano Polidrelli, é, então, o modelo seguido pelas futuras intervenções urbanas. Como já foi dito por Câmara Cascudo, uma ave de arribação passou por Natal e espalhou muita utilidade. Esta ave era o agrimensor Antônio Polidrelli.

As praças Pedro Velho e Pio X foram arborizadas e ajardinadas e alguns importantes equipamentos públicos, como o Hospital Juvino Barreto, instalados no bairro. O trajeto dos bondes seria prolongado até a Cidade Nova, no final de 1908, passando pelas atuais avenidas João Pessoa e Jundiaí, se estendendo à Avenida Hermes da Fonseca, onde se localizava a então residência do ex-governador Pedro Velho Albuquerque Maranhão, o sítio “Solidão”.

Novamente o desenvolvimento viário das linhas bonde à Cidade Nova é apontado como elemento dinamizador da ocupação do bairro dentro desse novo ciclo de modernização urbana.

A’ todas as reformas realizadas sobrelevasse a construcção da Cidade Nova, com suas bellas avenidas e ruas arejadas, no local que era outr’ora um matagal sombrio e semeado de cabanas. A abertura de poços tubulares e o desenvolvimento da viação electrica trarão, como consequência, o povoamento desse bairro pittoresco, que muito bem merecia o nome de Petropolis, para relembrar aquele que o delineou – o senador Pedro Velho (POÇO S…, 1914, p. 02).

Esta é a Cidade Memória, viva nas fotos do ontem e do hoje representa-se, deste modo, a evolução urbana da Cidade de Natal. Cumpriu a profecia do homem de sete instrumentos, Dr.Manoel Dantas.

Ontem e o hoje da Rua da Conceição vista a partir da torre da igreja matriz no centro de Natal.

O’ tu, cidade bendita, que soubeste viver sob osudário de areia, sem blasfemar a vida;

O’ tu, que escreveste a primeira epopéia dacoragem guerreira de Felipe Camarão;

O’ tu, que engendraste a alma forte deMiguelinho e o espírito varonil de André de Albuquerque;

O’ tu, que presidiste a eclosão da atividade industrial de Juvino Barreto e da caridade cristã de João Maria;

Tu foste o berço onde se aninhou o sonho alado de Severo e a Crisálida donde partiu o gênio criador de Pedro Velho;

Tu, que Auta de Souza purificou com aprece imaculada de seus versos e Segundo Wanderley enalteceu com arroubos de sua inspiração;

Surge et ambula!

Manoel Dantas

Inspirado em Pedro Velho, o governador de então Alberto Maranhão (1900-1903 e 1908-1913) recordaria, em carta endereçada a Câmara Cascudo, as razões da Cidade Nova: a imperial Petrópolis fluminense denominou o antigo Belmonte, o Tirol “foi uma simples fantasia sem justificação real. Uma lembrança da província austríaca, qualquer coisa de reminiscência recalcada de leituras literárias, e nada mais” (Alberto Maranhão (em carta da década de 1930 ou 40) apud Cascudo, 1947, p. 351-357.).

Esse momento significou também o fim desse primeiro ciclo de reformas urbanas e o início de uma “crise” urbana – uma série de representações que procuraram tematizar os significados da perda e da não continuidade do processo de modernização – que perduraria até o início da década de 1920, o que se explica, mas não se esgota, pela história política e econômica local.

Várias razões podem ser evocadas para explicar este processo. Desde a perda de coesão e capacidade de articulação política da “oligarquia” dos Albuquerque e Maranhão após mais de duas décadas à frente do poder estadual, principalmente depois do falecimento do seu principal líder, o médico Pedro Velho.

Desvios

PRAÇA AUGUSTO SEVERO (Bairro Ribeira) Foto: Autor Desconhecido. mostra a difícil vida os retirantes da seca que perambulavam pelas ruas da cidade no início do século XX.

Em 1904, com a continuidade da seca que se prolongava desde 1902, uma grande multidão de retirantes se concentrou em Natal, fugindo da paupérie que assolava o interior, de plantações e rebanhos dizimados, da morte pela fome, procurando as mínimas condições de trabalho que fossem na capital, onde os recursos cada vez mais se concentravam, com as obras de melhoramentos do porto, de abertura e alargamento de ruas, de “aformoseamento” do espaço urbano. Em telegrama ao então presidente da República Rodrigues Alves, o governador Tavares de Lyra – que seria ministro de Viação e Obras Públicas no final da década de 1910, ao qual a IOCS estava subordinada – descreve a situação calamitosa em que se encontrava o estado:”

Pelas estradas, misturadas aos bandos de famintos, notam-se já famílias de antiga representação social, que dispunham de relativa fortuna, aniquiladas pela seca. São inúmeros os furtos pelos campos, sendo já numerosos os assaltos a casas de comércio e residências. Não resta mais nenhuma esperança de inverno. […]. Espetáculo da nudez e fome, mesmo na capital, urgentíssimo. Nesta cidade, alem do pessoal aproveitado nos trabalhos da estrada do Ceará-Mirim e de milhares que aguardam passagem, […], vagam pelas ruas outros milhares de indigentes sem abrigo nem pão, esmolando da caridade dos habitantes. […]. Começam a aparecer casos de disenteria e varíola”.

“Nos três últimos meses emigraram 6.564 famintos, só pelo porto desta capital; e muitos milhares esmolando pelas ruas, aguardam o ensejo de embarcar, descrentes de qualquer socorro. Aqui, como no interior, repetem-se diariamente inúmeros óbitos por inanição. Queira vossa excelência [o Presidente da República Rodrigues Alves] caridosamente atender a súplica de um estado inteiro, vitimado por uma calamidade que abateu todas as suas energias, reduzindo assustadoramente sua população pela expatriação e pela fome e aniquilando todas as suas forças produtoras. ” (Mensagem de Governo do RN – gov. Augusto Tavares de Lyra, 1904, p. 12-13, 18).

Calcula-se que estavam em Natal, neste ano, um número superior a 15 mil retirantes, em um período cuja população fixa era pouco mais de 20 mil habitantes (há o registro de uma população de 16.056 hab., em 1899, e 23.121, em 1907).10 Tal fato, segundo o relatório do inspetor de higiene, agravou ainda mais a débil situação sanitária da cidade: “sem o serviço regular de limpeza pública, sem esgotos, sem calçamento, sem arborização adequada, com a edificação mal orientada e defeituosa, servida por quintais construídos de faxina e latrinas à superfície do solo, a nossa capital será constante presa dos assaltos morbígenos de origens diferentes.”

Fotografia feita por Bruno Bougard em 1904. Imagem que demonstra vários retirantes em manifestação no bairro Cidade Alta.

A Praça Augusto Severo tinha recebido, durante a grande seca do início do século XX, mais de 15 mil de retirantes, em uma época que a população de Natal não ultrapassava 12 mil “almas”. Os “barracões” montados na praça haviam deixado lembranças no mínimo aterradoras: saques, epidemias, mortes, violências, deportações, desespero e fome.

Os retirantes chegam mesmo a tentar invadir a casa do governador Tavares de Lyra em um episódio que ficou registrado pelas lentes do fotógrafo Bruno Bougard. Das sacadas e das calçadas os observadores se distinguem dos revoltosos.

Nesse momento, nas margens da rua, o poder “civilizador” militar, representado pelo soldado isolado e distante, parece impotente ante esse fenômeno. Na rua, externando a face mais violenta da fome, os homens aglomeram-se na porta do governador para exigir providências. As mulheres, crianças e idosos afastam-se do confronto direto e no primeiro plano exibem para o fotógrafo outra violência.

Como fantasmas, seus corpos vagueiam pelas ruas da cidade, ostentando ainda alguns objetos, fragmentos gastos de antigas fortunas. Posses e identidades ficaram para trás, a seca destruiu tudo, só restou o desespero e a fome. Esta foto fez parte do acervo particular do ex-ministro e ex-governador Augusto Tavares de Lyra.

A preocupação com esse tom deve ter se tornado mais intensa entre os anos de 1902 e 1904, período marcado por fortes secas que atingiram todo o sertão do Rio Grande do Norte. Inúmeras matérias publicadas no ano de 1904, tanto n’A Republica, quanto no Diario de Elias Souto, apresentam o drama dos sertanejos que fugiam de sua terra e vinham para a capital, quando não tomavam rumos ainda mais distantes, indo normalmente parar no extremo norte da nação.

O jornal A Republica dá-nos conta de que, no primeiro semestre de 1904, ao menos 15 mil pessoas saíram de suas cidades para trabalhar em obras na capital do Estado, carregando e quebrando pedras, em troca de salário e alguma alimentação. Ao todo o governo federal, à época comandado por Rodrigues Alves, liberou, em três parcelas, um crédito total de 175:000$000 (cento e setenta e cinco contos de réis) para auxílio aos flagelados, o qual foi essencialmente gasto em obras públicas, provocando a revolta do líder oposicionista, o coronel Elias Souto.

Uma comissão (a Comissão Central de Socorros Públicos) foi formada pelo Governo do Estado para a organização dos trabalhos dos flagelados, contando com os nomes de Francisco Cascudo e do então presidente da Intendência, o “eterno” coronel Joaquim Manoel Teixeira de Moura, ficando aquele responsável pelo alistamento dos homens e este, pelo das mulheres. O coronel “Quincas” Moura, como era chamado pelo seu amigo Manoel Dantas, recebeu entre os meses de maio e junho de 1904, pelas nossas rápidas contas, a considerável quantia de 1:126$000 (um conto, cento e vinte e seis mil réis), para ajuda aos flagelados. Não temos notícia de quanto o coronel Cascudo recebeu pela sua atuação como membro da comissão e responsável pela alimentação fornecida para os retirantes. Mas em maio daquele ano, ele recebeu a vultosa quantia de 10:692$870 pela mobília do Teatro Carlos Gomes. De onde teria saído tal valor?

Contando com o valor de dois contos e quinhentos mil réis doados pela Prefeitura da Capital federal298, à época sob o comando de Pereira Passos, os cofres do governo do Rio Grande do Norte receberam ao todo 177:500$000 (cento e setenta e sete contos e quinhentos mil réis), gastos em compra de sementes, passagens aos retirantes e auxílios dirigidos à Comissão Central, responsável por agrupar os retirantes que seriam destinados à construção de obras na capital (SOCORROS Publicos. A REPUBLICA, Natal, 03 jun. 1904).

Fotografia de 1904, feita por Bruno Bougard, destacando um grande número de retirantes da seca nas proximidades do Teatro Carlos Gomes, em Natal.

Era através do Diário do Natal que se exteriorizavam as críticas mais ferrenhas ao governo do Estado. Entre as principais imputações feitas a Pedro Velho e seus apadrinhados estavam as acusações de nepotismo, tanto em relação a contratação dos funcionários quanto na contratação das empresas prestadoras de serviços ao Estado. Exemplo disso está na nota do Diário do Natal de 1904, ao comentar que os recursos federais de combate à seca estavam sendo desviados pelo governo para a execução de obras públicas na capital. Para o redator do Diário do Natal, “as obras públicas do estado foram feitas com o mesmo dinheiro, não se empregando nellas nenhum dos flagellados pela fome, mas somente pessoas apariguadas ao governo” (SECCA do norte. Diário do Natal, Natal, 13 set. 1904.).

Para onde teria ido o dinheiro oferecido pelo governo federal ao governo do Estado? O coronel Elias Souto, sempre com a língua afiada, apresenta uma sugestão na coluna DIA A DIA, do seu Diario do Natal:

E uma cousa singular: todos os calçamentos de praças e ruas feitos são em torno, ou derredor das casas do dr. Pedro Velho, genros, irmãos e sobrinhos; as estradas calçadas dão para as chacaras desses mesmos felizardos, e até uma casa se construiu, com os dinheiros publicos, no muro da casa dos filhos do Augusto Severo, disendo-se que servirá para alojar a guarda de pessoa do dr. Augusto Lyra. […] (DIA a dia. As Obras Publicas. DIARIO DO NATAL, Natal, 09 fev. 1905.).

Assim, a verba destinada para o socorro aos flagelados teria sido aproveitada em algumas custosas obras na capital do Estado. Mas não em toda a cidade, certamente. Matérias do jornal Carioca Diario da Manhan, partindo de denúncias anônimas, também afirmavam que parte significativa do dinheiro destinado ao socorro aos flagelados estava sendo desviada.

Lembremos que à frente do Partido Republicano Federal e dos negócios públicos do Estado, estava a centralizadora figura de Pedro Velho, administrando por conta própria a capital, nada deixando ao coronel Joaquim Moura, segundo relata o ardiloso coronel Elias Souto, em análise ao que se havia passado em 1904 no campo da política.

O primeiro relatório trienal foi lido no ano de 1902, dez anos após a formação do primeiro Conselho eleito. Até então, os Conselhos entravam e saíam prestando contas apenas ao Partido que lhes indicava e, especialmente, ao chefe Pedro Velho.

Perfil

Por ser essa a personalidade de Pedro Velho é que Alcindo Guanabara dele pôde dizer com verdade e justiça, ao traçar o seu perfil, quando do seu falecimento em 1907:

Eu o conheci em fases diversas desse período difícil e doloroso da consolidação da República. Para geração de hoje, isso já é a história… Posso, pois, dar a essa geração um depoimento instruído pela observação, pela experiência e pela ação comum.

E este depoimento, para ser exato, há de ser a glorificação daquelas virtudes superiores, que são a lealdade, o devotamento, o respeito pelos companheiros, a afirmação incessante de um caráter límpido como o cristal da rocha.

O terreno que então pisávamos era vacilante e inseguro.

Como na natureza, onde todas as forcas se debatem, todos os cataclismas se produzem, irrompem vulcões, desviam-se rios e surgem correntes, cruza os ares o raio e céu e terra se contorcem convulsos antes que o terreno se firme, adquira solidez, cubra-se de relva verde e permita a vida, assim no mundo político esses cataclismas que são as revoluções conturbam o meio, anarquizam os sentimentos, geram o despotismo, semeiam a desordem, e todos que nele se envolvem ou são colhidos por eles lutam braço a braço e corpo a corpo com todas as forças em rebeldia até que a ordem se restabeleça, a autoridade se afirme e a liberdade saneie a atmosfera.

Nessas horas de luta impessoal o caráter se reavigora; a coragem, a energia, o desprendimento, a abnegação são as armas de combate e o preço da vitória.

Todas concorriam no nosso saudoso amigo: sempre o vi inacessível às sugestões, superior ao aliciamento, firme nos seus propósitos, fiel aos seus ideais, como às suas amizades, e dominado desse fogo que nos arde no peito e que nos leva a não ter desfalecimentos no empenho de revigorar a autoridade e de assegurar a liberdade para que triunfem os preceitos morais e sociais por cujo amor afrontamos as tempestades da política.

Brando no trato, suave na palavra, eminentemente simpático, um olhar penetrante que a miopia tornava mais agudo, uma cabeleira abundante que lhe dava o traço da energia e da decisão pronta, o Senador Pedro Velho temperava a rigidez do caráter com essa feição de bonomia, que tanto atrai e seduz.

Era pessoalmente charmeur.

O trato intimo com ele nunca deixara o travo da banalidade: pontilhava a conversa de observações pessoais, deixava infiltrar-se nela o muito que sabia e derramava em torno de si essa bondade, que era, em seu coração um oceano.(…) Esse homem teve até o último dia de sua vida a paixão do trabalho, a luta pelas suas convicções, o respeito pelos seus companheiros, a energia necessária para defender sem fraquezas o seu pensamento, a sua fé e a sua obra.

Não foi um destruidor cedo e apaixonado. Não esquecia as palavras do pensador francês, que disse um dia, com admirável sabedoria, que, se para derrubar um carvalho de nossas florestas não era preciso mais do que um pulso e um quarto de hora, para substituí-lo era preciso um século…

Pedro Velho era realmente um condutor de homens, era um chefe.

E por que assim era, e por que assim realmente foi, é que conseguiu ser, por 18 anos consecutivos, desde a proclamação da República até o dia de sua morte, o chefe invencível das hostes republicanas no Rio Grande do Norte. Nunca houve em qualquer época da história daquele estado da Federação, um homem que gozasse de tanto prestígio.

Ainda 12 dias antes do seu falecimento, a totalidade dos municípios em que se repartia administrativa e politicamente manda a Pedro Velho através de suas entidades a seguinte e comovedora homenagem de solidariedade e de estima:

Exmo. Sr. Senador Pedro Velho de Albuquerque Maranhão.

É a vez do povo do Rio Grande do Norte, pelo órgão das suas municipalidades, que vem trazer a Vª Excª n’esta modesta mensagem, as mais afetuosas expressões do seu aplauso.

Numa data que, preciosa para a família, tornou-se pela força natural das coisas, preciosa para o Estado inteiro, partem de todos os extremos d’este, de Natal a S. Miguel e de Macau Jardim, os votos de nosso afeto com as homenagens da nossa admiração.

E nem é tanto ao chefe político incomparável, cuja habilidade e carinho quase têm feito dum partido uma família e cuja influência poderosa e benéfica todos sentimos para harmonizar a força e para fortalecer a união que nos desvanece, não e somente ao chefe que se dirigem hoje àquelas homenagens e aqueles votos, sobretudo ao organizador do estado ao indefesso batalhador republicano a que principalmente deve o Rio Grande do Norte o seu desenvolvimento e o seu prestigio no seio da federação, é ao lúcido espírito que entre nos tem concebido e realizado tantos melhoramentos, que essas manifestações mais especialmente se dirigem.

É ao organizador do Estado que os seus trinta e sete municípios rendem a homenagem de inaugurar na sala das sessões dos seus edis como hoje inauguram todos, um modesto quadro que, pondo-lhes ante os olhos a efígie de um grande trabalhador e de um grande patriota, anime-os no trabalho e fortaleça-os no patriotismo.

Que esta sincera e espontânea manifestação dos nossos aplausos, por tal meio expressa, traga a Vª Excia. a certeza da nossa gratidão, já que os valiosíssimos serviços que há prestado não são d’aqueles que se poderiam pagar com outra moeda.

Deus dê ainda a Vª Excia. muitos e felizes dias para a fortuna de sua família, para regozijo de seus amigos e para o bem e o progresso do Rio Grande do Norte.

27 de Novembro de 1907.

Assinaram o documento todos os presidentes das 37 intendências do Rio Grande do Norte. Pelo que fica exposto, e documentadamente comprovado, até aquele ano, jamais qualquer outro homem público dentre quantos contou o Rio Grande do Norte para o serviço de sua direção dispôs de tanta força, e por tão longo espaço de tempo.

Mas de onde decorria ou decorreu todo o prestígio de Pedro Velho, ouvido e acatado pelos chefes nacionais pela totalidade do Rio Grande do Norte, isso durante 18 anos sem intermitências? Passo a palavra a José Augusto Bezerra de Medeiros, que assim se expressa:

Responderei que de um conjunto de qualidades excepcionais, todas elas repousando sobre uma grande e sólida base moral:

a – De uma grande inteligência, feita de claridades e alicerçadas em boa cultura.

b – De um raro dom da palavra que fez com que o maior dos nossos oradores, Ruy Barbosa, ouvindo-o em uma saudação feita de improviso, classificasse-o de “admirável orador” e falasse na sua “maravilhosa eloquência”.

c – De um idealismo que nunca o abandonou e fez com que se entregasse de corço e alma a todas as grandes causas liberais que, em sua época, agitaram e empolgaram o país, como e o caso da propaganda abolicionista e o da evangelização republicana.

d – Do seu apego, do seu acendrado amor ao seu pequeno Estado natal, o Rio Grande do Norte, cujos rumos políticos orientou sempre pelo caminho mais digno e mais livre, pouco se preocupando com o êxito ou com a derrota, na convicção inabalável de que só a verdade e a justiça devem interessar ao autêntico homem público, ao servidor da coletividade.

Acrescento ainda a sua fidelidade aos compromissos assumidos e à palavra empenhada, de que é irrefragável demonstração esta carta escrita ao Senador José Bernardo de Medeiros em 9 de fevereiro de 1898:

Natal, 9-02-1898.

Outro assumpto, confidencial e melindroso.

Você conhece melhor do que ninguém como eu pensava sobre candidaturas á presidência da republica. Antes da cisão sempre pensei no Campos Salles e continuo a pensar, como também no Rosa como demonstração de boa vontade aos neo-quinzenovembristas.

Acresce que, quanto ao primeiro as impressões que dele tinha como governo eram as mais gratas. Quando eu não passava de um debutante em política, sempre me atendeu e procurou servir; e fe-lo, estou certo, por considerar-me, como em verdade me reputo, um bom, leal e esforçado amigo da república. Senti não poder conversar com ele, quando estive ultimamente no Rio.

Dada a cisão (Não me arre endo no que respeita ao Prudente: não foi amigo como cem e está sendo inimigo como 500) um candidato de acordo com Pinheiro, Vitorino e outros passou a ser o Julio. Lembra-se como falei claro e firme ao Glicério, que me parecia estar marombando.

Acho que o C. Salles é, por muitos títulos, capaz de governar honrada e dignamente o Brasil; vejo com lástima a miséria de certos safardanas que procuram bajular o eminente paulista sem o estimar nem comungar com o seu progresso; reconheço que a eleição do Lauro, em que nunca podemos acreditar, vai ser uma fiasqueira ridícula – mas repugna-me em absoluto desonrar compromissos buscando protestos, sem fundamento sério e digno para um tal proceder.

Não fui patrono da candidatura do Lauro como outros que já o deixarão no mato sem cachorro; confesso mesmo na intimidade que ainda o não achava adulto para o cargo; aborreci-me com a trapalhada da convenção,mas assinei.

Os homens políticos que têm responsabilidade e algum valor intrínseco não podem ser saltimbancos; do contrario ninguém, em tempo a algum poderá confiar neles. São os meus velhos moldes de aldeia, e ainda os reputo os melhores.

Estou longe do centro político; o nosso P.R.F. Já me cheira a partido em debandada, embora o P.R. também se me afigure inviável; não pude trocar com Pinheiro, cuja estima e solidariedade tanto aprecio, uma só palavra depois de solto; acho-me enfim sob a impressão exclusiva de proceder de um modo que me não morda a consciência, deixando de cumprir uma palavra empenhada, muito embora outros o não façam.

Ótimo e nada desairoso seria que o Lauro, diante do quase abandono em que se acha, desistisse de uma candidatura, que nunca despertou entusiasmos e que já agora e fraquíssima.

Enfim, logo que receber esta, telegrafe informando-me do que souber.

Os nossos amigos todos firmes e cada vez mais disciplinados.

Augusto Tavares de Lyra, presente, manda-lhe lembranças.

Do prezado amigo

Pedro Velho.

Chegada ao Rio de Janeiro. Ao lado o genro Tavares de Lyra e o irmão Alberto Maranhão.

Eloy de Souza, discípulo e amigo de Pedro Velho, define muito bem o chefe na fidelidade a sua palavra: nunca ninguém disse Pedro Velho deu a palavra de honra, – mas apenas – Pedro Velho deu a palavra.

De sua impecável probidade pessoal de que é atestado a pobreza de bens materiais em que sempre se debateu e de que e uma afirmação esse trecho de carta que em 05 de outubro de 1901, dirigia ao seu amigo, Senador José Bernardo:

Vou solicitar da sua velha amizade um pequeno obsequio meio reservado. Sabe bem que eu não posso dar dote a Sophia; mas desejaria dar-lhe, no dia do casamento uns cobres modestos, para os alfinetes do 1º ano de casada. Para isto resolvi obter umas notas novas de cada um dos bilhetes do Tesouro atualmente circulação, e lembrei-me de você para executar o modesto plano. Do meu ultimo subsidio a receber ai, que espero em Deus seja a 32 de Dezembro, retire o que for preciso para arranjar uma nota de 500$, uma de 200$, uma de 100$ até 500 reis e remeta-me as ditas notas novinhas para eu dar à noiva. Perdoe-me este aborrecimento. Mas Você, também muito extremoso com os seus filhos, compreende essas coisas.

Sempre,

P. Velho.

Invulgar sua verve, espirituoso, espontâneo, natural nas frases, diz Cascudo; (…) Seria um dos raros políticos capaz de falar sobre música sem que a sombra de Beethoven estremecesse de pavor(História do Rio Grande do Norte, p. 216). Era leitor de Eça de Queiroz e Camilo Castelo Branco, tendo sido um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e uma das principais personalidades do Estado, no contexto político.

O Dr. Pinto de Abreu, então orador do Instituto, assim se pronunciou em sua memória: O homem cuja perda o Estado inteiro deplora, era uma figura de soberbo destaque entre os modernos guiadores do mundo…

Em resumo: Fulgurante inteligência, boa cultura, rara eloquência, sadio idealismo, devotamento por seu rincão natal, fidelidade à palavra empenhada e aos compromisso políticos, impecável probidade pessoal – eis que caracterizou Pedro Velho e eis o segredo de seu prestígio que jamais conheceu ocaso.

Visita Presidencial

Em 1906, o recém-eleito Presidente fará uma excursão pelo país para escutar as administrações locais e favorecer um clima harmônico entre as diversas regiões do país. No dia 11 de junho desse ano o presidente e sua comitiva chegaram a Natal, tendo sido “decorada interna e externamente” a Estação da Great Western. (A República, 9 de Junho de 1906, p. 1) Não só o prédio recebeu atenção, “as ruas do contorno do Jardim Publico e o trecho que vai até à casa do senador Pedro Velho serão caprichosamente embandeirados.” O cenário se completava com o asteamento da bandeira nacional em todos os prédios públicos estaduais (cuja maioria ficava na praça e no trajeto decorado) e o melhoramento da iluminação da cidade.

Outro problema que parecia ganhar nova resolução era o da iluminação pública. Não que as autoridades competentes tivessem, finalmente, resolvido atender aos apelos veiculados nos jornais. A questão era outra: a vinda do presidente eleito da República, o sr. Affonso Pena, ao Estado do Rio Grande do Norte. Não seria bom que o eminente estadista mineiro, ao percorrer as ruas da capital potiguar, tivesse alguma dificuldade de enxergar os melhoramentos materiais realizados pelo governo do Estado e pela Intendência Municipal. Pensando nisso, o senhor Valle Miranda, gerente da empresa de iluminação pública, tratou de mandar substituir, sob ordens do governo do Estado, os bicos de todos os lampiões por outros de maior intensidade (A REPUBLICA, Natal, 11 jun. 1906).

Como registra Câmara Cascudo, o empreendedor Juvino Barreto iluminara sua fábrica de tecidos com luz elétrica – em 1882. O mesmo Juvino Barreto seria o responsável por levar a fiação elétrica de sua fábrica até a residência do Senador Pedro Velho, em junho de 1906, por ocasião da recepção ao então Presidente da República, Afonso Pena (Cascudo, 1999 [1947], p.283.).

Outras mudanças realizadas por conta da visita do estadista – que foi acompanhada por Manoel Dantas, representando a imprensa local, Thodosio Paiva, administrador das obras públicas, e o presidente coronel Joaquim Manoel – não foram sentidas pelo restante da população. Falamos daquelas que foram realizadas no casarão de Pedro Velho, que recebeu nova pintura e móveis de luxo trazidos da capital federal. Ao todo se gastou, segundo A Republica, 30 contos de réis na recepção e hospedagem do presidente eleito da República, desmentindo informação do Diario de que a quantia gasta teria sido o dobro do expresso no jornal do Partido Republicano Federal no Rio Grande do Norte (DIARIO DO NATAL, Natal, 28 jun. 1906.).

As atenções antes eram voltadas para o porto e a ladeira Passo da Pátria que conectavam a cidade através do centro alto da cidade, no século XIX, passaram para a praça Augsuto Severo, onde a estação de trem protagonizava esse novo pórtico, o que veio a modificar sensivelmente a noção de centralidade dentro do espaço urbano de Natal.

O presidente Afonso Penna vinha também para inaugurar a primeira parte do trajeto da Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte. Essa ferrovia tinha o objetivo de ajudar a integração da cidade com as áreas assoladas pelas secas. Parte desses recursos, originalmente destinados ao combate desse flagelo, também foram usados para reformar e embelezar Natal.

Vale salientar a importância desses investimentos da Inspetoria de Obras contra as Secas (IOCS) no estado, um órgão federal ligado ao ministério da Viação e Obras Públicas, que a princípio atendia exclusivamente o Rio Grande do Norte. As obras tinham objetivo de atender as áreas mais atacadas pelo mal, mas acabaram se concentrando no litoral oriental, a sede do poder da elite administrativa. A construção da centralidade de Natal continuará a acontecer, nos anos seguintes, através de um sistema de integração regional que terá respaldos diretos no interior da cidade, com a construção de outro grande parque ferroviário na capital.

Com a saída de Augusto Tavares de Lyra do Ministério da Viação e Obras Públicas em 1918 e o enfraquecimento da oligarquia local comandada por Pedro Velho, os motivos reais da construção da ferrovia pareciam vir à tona. O prosseguimento das obras, apesar do custo elevadíssimo da construção, a tentativa de boicote da Estrada de Ferro de Mossoró e o deslocamento do parque ferroviário de Ceará-Mirim para Natal não eram atos isolados. Nesses primeiros anos da república velha, os interesses da política local se encontraram com os da política nacional de investimentos preferenciais nas capitais, iniciados com a formação das comissões de melhoramentos dos portos.

O parque ferroviário da Esplanada Silva Jardim será o grande marco dessa política territorial em Natal. Foi um projeto ambicioso, com recursos federais, que organizava e integrava o transporte ferroviário e o marítimo, muito diferente do antigo parque da Natal-Nova Cruz.

Entretanto, essa centralidade em Natal não era ainda tão clara no período e ela será em grande parte construída por uma oligarquia que ascendia ao poder no início do regime republicano. Sua atuação será feita no sentido de direcionar os investimentos federais para o litoral oriental, local dos seus interesses e sede dos seus negócios. Essa rede de poderes chegou a ter representantes até no âmbito federal, com a nomeação de Augusto Tavares de Lyra para ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas. Chefiada pelo médico Pedro Velho, essa oligarquia será composta em sua maioria por comerciantes ou profissionais liberais, algo bastante peculiar à implantação do regime republicano no Rio Grande do Norte (BUENO, 2002).

O projeto do parque da EFCRGN articularia o transporte ferroviário com o portuário numa mesma unidade e estenderia o controle de fluxos, característico do transporte sobre trilhos, ao novo porto. Esse projeto, formulado pelo poder republicano central, nem sempre estará em consonância com os interesses da elite local, já que grupo de Pedro Velho não tinha afinidades com o poder central republicano. Havia conflitos já na época da implantação da Comissão de Melhoramento do Porto de Natal e era comum empreender perseguições a funcionários federais por suspeita de espionagem. (BUENO, 2002).

A oligarquia comandada por Pedro Velho caía em 1920 e um novo poder ascendia no sertão, mudando significativamente o eixo dos investimentos. Fechava-se o ciclo das estradas de ferro e iniciava-se a construção de estradas de rodagem integrando o interior do estado, onde o “ouro branco” ditava as novas regras da economia no estado.

Falecimento

Navio em que morreu Pedro Velho.

Pedro Velho faleceu repentinamente em seu camarote no paquete Brasil, ancorado no porto do Recife. Assistiram-lhe a morte Manoel Dantas e Domingos Barros. Segue a transcrição do óbito, lavrado um ano depois.

Eça armada em uma igreja como lembrança do falecimento de Pedro Velho.

Número 3.141. Aos 18 dias do mês de dezembro de 1908 no meu cartório compareceu o Bacharel Sérgio Paes Barreto e disse que no dia 09 de dezembro de 1907, às seis horas e quinze minutos da tarde faleceu de síncope cardíaca seu sogro, o Senador Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, natural do estado do Rio Grande do Norte, com cinquenta e um anos de idade, de profissão médica, casado com dona Petronila Florinda de Albuquerque Maranhão, de cujo matrimônio deixou onze filhos, de nomes: Sophia Tavares de Lyra, Dalila Paes Barreto, Mário Barreto de Albuquerque Maranhão, Gastão Edgard de Albuquerque Maranhão, Ernesto Frederico de Albuquerque Maranhão, estes maiores, Carlos Eduardo de Albuquerque Maranhão, Pedro Velho Filho de Albuquerque Maranhão, Paulo Júlio de Albuquerque Maranhão, Camilo Flávio de Albuquerque Maranhão, Clóvis Nilo de Albuquerque Maranhão e Aurélio Túlio de Albuquerque Maranhão, menores. Disse mais ele, declarante, que o finado é filho legítimo de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e de dona Feliciana de Albuquerque Maranhão, já falecidos, e que o óbito do referido seu sogro foi verificado pelo doutor Martins Costa no Necrotério Público na freguesia da Boa Vista. Segundo Distrito Municipal do Recife, para onde foi removido a fim de ser embalsamado e transportado para o estado do Rio Grande do Norte e ser ali inumado no Cemitério Público da capital: que finalmente o referido óbito deu-se a bordo do paquete nacional Brasil, de onde foi removido. Este termo foi lavrado em virtude de uma petição e despacho na mesma exarado pelo doutor Joaquim dos Santos Lessa Júnior, juiz deste distrito, na qual ele declarante pedia fosse o presente termo, tendo junto a mesma petição o atestado passado pelo referido doutor Martins Costa, cujo teor do despacho é o seguinte: Registre-se. Recife, 18/12/1908. Lessa Júnior. E para constar lavrei o presente, em que assino com o declarante. Eu, Antônio Augusto da Câmara, escrivão o escrevi. O escrivão Antônio Augusto da Câmara. Sérgio Paes Barreto. (Livro de Registro de Óbitos do Segundo Distrito do Recife/PE, n. 39, p. 186v).

Nas residências da família inicia-se uma verdadeira romaria da dor. As pessoas vão, pouco a pouco, apresentando aos familiares as expressões de seu pesar. O comércio cerra as portas em luto. Todos as repartições públicas, consulados e associações culturais hasteiam bandeiras a meio mastro. Nas igrejas, os sinos começam a dobrar finados. Pedro Velho foi velado no salão nobre nos dias 12 e 13 de dezembro de 1907” (NESI, 1994, p.60) no palacete da Assembleia Legislativa – antiga sede da OAB.

O corpo de Pedro Velho foi sepultado no jazigo de seu cunhado Juvino César Paes Barreto. Seus restos mortais foram retirados de lá quando do falecimento de sua irmã Inês Maranhão Paes Barreto. Segundo Cascudo, “puseram os ossos de Pedro Velho em um jazigo sem lápide, o grande nome riscado descuidosamente no barro sem caiação”. Foi então que Câmara cascudo publicou um artigo intitulado: onde anda Pedro Velho? A família então sepultou os restos mortais numa parede da sacristia da antiga Sé. Em 1936 os deputados Cincinato Galvão Ferreira Chaves e Pedro de Alcântara Matos solicitaram, através de projeto de lei, a construção de um mausoléu para Pedro Velho no cemitério do Alecrim.

Imagens do velório e cortejo de Pedro Velho. Fotos de Manoel Dantas.
Jazigo de Pedro Velho no cemitério do Alecrim. Foto: Anderson Tavares de Lyra.

Finalmente, dentro das comemorações pela passagem dos cinquenta anos de fundação do jornal A República, a 01 de julho de 1939, o monsenhor Alfredo Pegado celebrou missa diante dos restos mortais de Pedro velho, então depositados numa urna funerária, que, ao final, foram conduzidos pelo Interventor Rafael Fernandes, Eloy de Souza, Virgílio Dantas e Juvenal Lamartine até uma carreta, puxada pelos escoteiros, até o cemitério Alecrim.

Um exemplo de esquecimento no cemitério do Alecrim é o mausoléu de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. Esse homem foi um homem público influente em fins do século XIX e início do século XX no Rio Grande do Norte. Além de criar o partido republicano criou também o jornal A República, e seu mausoléu encontra-se abandonado por não existir mais nenhum membro da família que more em Natal ou na região, para cuidar e manter a enorme sepultura que tem a forma de um templo romano. Tal túmulo não possui aforamento por ter sido construído pelo governo do estado e talvez por isso não exista nenhum familiar interessado em manter e cuidar do jazigo.

“É o que eles sempre fazem livros, fazem história; Câmara Cascudo, Henrique Castriciano, Pedro Velho, Padre João Maria, que eles fazem muita história em cima disso. Aqui esteve um historiador, que eu já disse até a você, ele esteve aqui e fez o sentido de cada um desses túmulos. Por isso eu digo, a história do cemitério do Alecrim está morrendo, está pedindo socorro”. Raimundo Francelino da Silva

As primeiras fotos que podem ser identificadas de Manuel Dantas são de 1907 por ocasião do serviço fúnebre do então governador do Estado, Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. Em uma das fotos (a seguir), Manoel Dantas acompanha o cortejo tanto na cidade do Recife – uma vez que o governador faleceu durante o trajeto marítimo entre a capital potiguar e a pernambucana – quanto na chegada do corpo em Natal onde foi sepultado.

Legado

Apesar de médico, coube-lhe organizar e reorganizar juridicamente o Estado, dotando-o de uma estrutura administrativa compatível com os novos tempos, após a proclamação da República. Seu grande mérito como administrador foi implantar essa tarefa indispensável ao surgimento do novo Estado.

A partir do seu governo, Pedro Velho, com astúcia e habilidade política, implantou no Rio Grande do Norte a chamada oligarquia “Albuquerque Maranhão”, que ficou no poder por mais de 20 anos. O proclamador da República no Rio Grande do Norte foi também deputado federal e senador da República. Era o líder maior do que se convencionou chamar de oligarquia “Albuquerque Maranhão”.

Em um de seus primeiros livros, intitulado Histórias que o tempo leva…, publicado em 1924, o autor relembra esse susto como uma das três experiências vividas na sua infância que permaneceram nítidas em sua memória. O evento rememorado pelo autor deu-se num período em que ele começou a “ver o mundo e temer a Deus”. Sobre essa fase de sua vida escreveu guardar “tres recordações vivas, tão nitidas e reaes, que o tempo, cada vez mais, as limpa e grava em minha memória: o holophote, o cinema e Pedro Velho” (CASCUDO, Luis da C. Histórias que o tempo leva… São Paulo: Monteiro Lobato & Co., 1924. [Coleção Mossoroense, série C, v. 757, 1991, p. 217 – 226.]).

As três referências, as quais se relacionam com transformações que estavam acontecendo na cidade naquele início de século, constroem a imagem de um mundo em transformação, invadido por inovações técnicas, por novas sociabilidades e por um novo regime político. O médico Pedro Velho esteve à frente da política do Estado de 1892 até sua morte em 1907, fundou o Partido Republicano no Rio Grande do Norte em 1889 e foi chefe da oligarquia que comandou os rumos do Estado até 1914 255 . Os dois outros “personagens” de suas lembranças são inovações técnicas operadas por eletricidade: o cinema e o holofote.

Lívio Alves Araújo de Oliveira. Foto de Evaldo Gomes.

A partir daí só veio gente de grande importância histórica na família: chefes de governo, médicos, jornalistas, empresários, advogados.E as homenagens a essa família estão por toda parte na cidade de Natal hoje em dia: na Praça Pedro Velho, no teatro Alberto Maranhão, na Praça André de Albuquerque, na Rua e no aeroporto Augusto Severo e etc. Até mesmo nos nomes de cidades como Pedro Velho e a antiga Augusto Severo, hoje Campo Grande.

A imagem de cidade moderna desenhada por Manoel Dantas em sua conferência Natal d’aqui a cincoenta annos é seletiva. Mas a Natal moderna criada por Dantas é, de maneira impressionante, vazia. Ela não tem efetiva vida cívica e nem a expressão da diversidade que marca a vida moderna. Seu centro cívico leva o nome daquele que foi eleito o fundador da República potiguar, Pedro Velho, e o lema que Manuel Dantas recorda, associando vida social e evolução material, estampa claramente a orientação da modernidade natalense do período: “Façam o progresso que eu mantenho a ordem”. DANTAS, Manoel. Natal d’aqui ha cincoenta annos, p. 21. A ideia a respeito da representação de uma Natal moderna feita por Dantas está desenvolvida em: ARRAIS, Raimundo. Manoel Dantas e as invocações do futuro (dig.), 2012.

É patrono da cadeira nº 15 da Academia Norte-Riograndense de Letras hoje ocupada por Lívio Alves Araújo de Oliveira (graduado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1991); Possui pós-graduação em Direito pela EAGU e UnB; Cursando Mestrado em Direito Constitucional pela UFRN; e membro do Instituto Histórico e Geográfico do estado do Rio Grande do Norte).

Praça Pedro Velho

Em cumprimento à política urbanizadora de Portugal, do século XVI, os donatários e seus seguidores assentaram numerosas povoações, vilas e cidades ao longo da costa atlântica brasileira (SOUSA, 1976; CASCUDO, 1999):

“A cidade começava à margem direita do rio Potengi, extendia-se até a atual Praça André de Albuquerque e caminhava em direção à Praça Pedro Velho (atual Praça Cívica). Incluía, ainda, nas suas dimensões primitivas, os atuais bairros de Petrópolis e Tirol” (SOUSA, 1976, p. 16).

Aspecto da Praça Pedro Velho quando de sua criação em 1901. Foto: Manoel Dantas

Mais conhecida como Praça Cívica, é uma praça localizada no bairro de Petrópolis, na cidade de Natal, capital do estado Rio Grande do Norte. O bairro de Cidade Nova (Petrópolis e Tirol) e a praça Pedro Velho foram criados por meio da resolução n. 55, de 30 de dezembro de 1901, editada pelo presidente da Intendência municipal do Natal, coronel Joaquim Manoel Teixeira de Moura.

Os primeiros campos de peladas na cidade eram: na Praça André de Albuquerque e a “Campina” na Praça Pedro Velho cortado por diversos caminhos de pedestres. Posteriormente, surgiu de forma mais organizada o primeiro campo com arquibancadas na Rua Potengi, localizado onde hoje funciona a Biblioteca Pública Câmara Cascudo, ao lado do Atheneu.

As resoluções são documentos úteis para ajudar a conjeturar sobre a origem das ruas
numeradas do bairro Alecrim. A Resolução n.85, publicada no jornal A República em 09 de
outubro de 1903, denomina e delimita as ruas e avenidas do novo bairro Cidade Nova. O texto
dessa Resolução já apresentava, no seu artigo 2º, avenidas designadas por números.
Resolução n.85 (…)Art. 2º – As avenidas, a partir do poente nos limites da “Cidade Alta” e “Ribeira” denominar-se-ão: “Deodoro, Floriano”, “Prudente de Moraes”, que, a partir do angulo noroeste da “Praça Pedro Velho”, tomará o nome de “Alberto Maranhão”, “Campos Salles”, “Rodrigues Alves”, “Setima” e “Oitava” (grifo nosso); as ruas, a começar do Sul, nas extremas da area urbana, denominar-se-ão: “Ceará-mirim”, “Maxaranguape”, Apody”, “Jundiahy”, “Assù”, “Mipibú”, “Mossoró”, “Trahiry”, “Seridó”, “Golandim”, “Garatubá”, Santos Reis” e Dimas; e as praças “Pedro Velho” e “Pio X” (…) (A REPUBLICA, Natal, 09 out.1903).

Em junho de 1903, foi notificado que a Intendência Municipal, aproveitando o período invernoso, cogitava fazer a arborização da Praça Pedro Velho. O projeto de arborização da “pracinha da Cidade Nova” foi alvo de Algumas notas do Jornal “A República”, pois, segundo os jornalistas e alguns leitores, havia três casas construídas de taipa e muito velhas, prontas para serem derrubadas. No mesmo dia foi transcrita uma carta, dirigida à redação do jornal, de um suposto leitor, na qual eram pedidas providências ao Presidente da Intendência Municipal, Joaquim Manoel Teixeira de Moura,

No sentido de serem retirados umas casinhas de taipa que ainda existem no meio da Praça Pedro Velho, na Cidade Nova porque ditas casinhas nem servem mais decentemente para a commodidade dos seus donos, e são um perigo para a hygiene e os bons costumes (Cidade Nova. A República, 02 de junho de 1903.).

Tempo depois, o jornal “A República” continuou a peleja para a retirada das casas no meio da Praça Pedro Velho. No artigo de título: “Vadios”, o jornal narrou o seguinte episódio:

Esta noite, houve uma algazarra infernal, de incomodar a vasinhança, num casebre em ruínas, existente no meio da Praça Pedro Velho (…). Nesse casebre reune-se às noites e aos domingos uma sucia de vadios, que levam o tempo a incomodar a visinhança (Vadios. A Republica, 18 de junho de 1903.).

É por volta de 1910 que a prática do futebol começou a ser efetivada em Natal, com a definição de espaços específicos para a realização das partidas. Um dos primeiros locais dessa prática foi a Praça Pedro Velho no bairro da Cidade Nova. Em 11 de maio do mesmo ano, foi notificado que, sob a direção dos sr. Nizario Gurgel e Alberto Roselli, haviam começado “os serviços de aperfeiçoamento do ground da praça ‘Pedro Velho’ assentamentos de goals, etc”.

Monumento à Pedro Velho, cuja base original foi substituída por placas de mármore. Observa-se o
brasão do Rio Grande do Norte, hoje desaparecido.

Com a criação do Natal Foot-ball Club, tornou-se comum a realização de treinos, de torneios e de competições semanais entre os dois times existentes, atividades essas que eram bastante concorridas, havendo sempre a presença de um atento público no campo de futebol da Praça Pedro Velho. É importante notificar o fato de que os dois times de futebol (Potyguar Foot-ball Club) usavam o mesmo lugar, a Praça Pedro Velho, tanto para as competições quanto para as atividades de treinamento, como nos mostra o jornal “A República”, de 09 de agosto de 1910, em uma pequena matéria cujo título era “notas esportivas”.

Apesar dos esportes, em especial o futebol, terem caído no gosto da juventude e passarem a ser praticados tanto pela elite no Gound ou no Field da Praça Pedro Velho, quanto pelas classes mais populares, usando estas os espaços possíveis de serem usados é o futebol alvo de críticas por parte de moradores da cidade. Tais críticas tinham a tônica de negação no que diz respeito à cessão do espaço para as atividades futebolísticas, pois tais atividades comprometiam a tranquilidade privada.

Os campos eram chamados grounds e se localizavam nas principais praças da cidade: André de Albuquerque, Pio X e Pedro Velho.

Para a elite natalense do início do século XX, nada era mais importante do que procurar copiar em Natal um espaço que, mesmo de forma diminuta, se assemelhasse ao “mundo civilizado europeu”. No caso particular de Natal, esse espaço era o bairro da Cidade Nova, que, como já vimos, o seu Plano previa a construção de duas praças, a Praça Municipal, depois chamada de Praça Pio X, e a Praça Pedro Velho, também conhecida como Praça Cívica.

Para a prática de referido esporte, foi construído no bairro da Cidade Nova, um dos lugares mais saudáveis da cidade, o graund ou field , ou seja, o campo de futebol, na Praça Pedro Velho, também chamada de pracinha, para onde afluíam os jovens da elite natalense, que em busca de diversão e saúde, se apropriavam do espaço promovendo treinamentos e competições, que eram realizados especialmente na parte da manhã, logo cedo, ou nos finais de tarde, tendo as referidas atividades sempre um público cativo que acompanhava atentamente o desempenho dos footballers.

Área onde posteriormente foi construída a Praça Pedro Velho em 1907. Acervo de José Estácio de Aquino Filho.

Os primeiros registros datam de 1924. Durante os anos de 1910 e 1920, a praça Pedro Velho foi bastante utilizada para realização de partidas de futebol. Segundo Câmara Cascudo, nesse período, a praça era apenas um tabuleiro de relva, amplo, entre a Vila Cincinato – antiga residência do governador e atual Escola Estadual Felipe Guerra – e a vila Pretória – residência do escritor seridoense Manoel Dantas.

É por volta de 1910 que a prática do futebol começou a ser efetivada em Natal, com a definição de espaços específicos para a realização das partidas. Um dos primeiros locais dessa prática foi a Praça Pedro Velho no bairro da Cidade Nova. Em 11 de maio do mesmo ano, foi notificado que, sob a direção dos sr. Nizario Gurgel e Alberto Roselli, haviam começado “os serviços de aperfeiçoamento do ground da praça ‘Pedro Velho’ assentamentos de goals, etc”. O campo estava sendo organizado para a realização de um torneio em homenagem ao dia 13 de Maio, segundo o jornal “A República”, na parte da manhã seria realizado um ensaio, o treinamento, e na parte da tarde haveria a realização do match, o jogo. Segundo o articulista o troneio do dia 13 de maio ia “despertando grande interesse dos amantes do sport, esse torneio dos jovens footballers” (Notas esportivas. A República 11 de maio de 1910).

Praça Pedro Velho era um imenso descampado o que favorecia a prática do futebol.

Na sua edição de 4 de maio de 1910 A REPÚBLICA divulgou a seguinte notícia, primeiro registro sobre a criação de um CLUBE DE FOOT BALL.

Dizia a notícia: “Sabemos que um numeroso grupo de distintos moços da nossa sociedade trata da fundação de um Club de Foot Ball. No vasto GROUND da Praça Pedro Velho tem havido diversos MATCHES de ensaio, notando-se grande entusiasmo por parte dos jogadores.

”Quem escreveu esta primeira notícia foi Salomão Filgueira. Quem me contou a história foi Alberto Roselli e a notícia encontrei-a n“A REPÚBLICA” de 1910, ano dos primeiros jogos disputados.

As competições entre os times do Potyguar Foot-ball Club e o Natal Foot-ball Club eram noticiadas como um importante evento e sempre era informado que o time mais preparado físico e tecnicamente era o que obtinha a vitória. Na “nota esportiva” do jornal “A República”, de 24 de agosto de 1910, nos é narrado a realização de um “match”, como eram chamadas as partidas oficiais entre os dois times.

Aspecto da Praça Pedro Velho nos anos 40.

A competição foi realizada dia 21, no domingo, ocasião em que o Potyguar Foot-ball Club sagrou-se vitorioso. Na nota, o articulista apontava o time do “Potyguar” como superior naquele jogo, usando expressões como “o team do Potyguar composto de poderosos footballers”, “é com a superioridade do Potyguar que termina o primeiro half-time”, “todos os jogadores do Potyguar estavam bem ensaiados” (Notas esportivas. A República 24 de agosto de 1910).

Recorte de fotografia aérea do bairro de Petrópolis em 1953. Aqui a praça Pedro Velho ainda aparece com Parque Infantil, localizado no lado leste da praça. No lado oposto aparece as duas quadras de esportes. Entre elas, o Bar “Avião”. Fotógrafo: Luiz Grevy

O uso de termos estrangeiros garantia, na compreensão de muitos, a ligação sócio cultural entre os jovens natalenses e os jovens europeus. Como é de se observar, o futebol era uma das atividades esportivas mais praticadas em Natal no início do século XX e, inegavelmente, isso se devia em muito às idéias de asseio e saúde do corpo, idéias essas que eram pregadas pela medicina da época e por pedagogos como Henrique Castriciano.

Cartão Postal da Praça Pedro Velho Natal/RN
Localizada no Bairro de Petrópolis, também é conhecida como Praça Cívica. Inaugurada em 24 de outubro de 1937, no governo do, então prefeito, Gentil Ferreira.

O ABC e o rival AMÉRICA FOOT BALL nasceram ambos em 1915. Doze anos depois do “bate-bola” na Praça André de Albuquerque. Passado algum tempo o outro local favorito e que se tornou quase privativo, anos e anos, foi a PRAÇA PEDRO VELHO em Petrópolis, então deserta e plana.

Ainda recordo, bem vivamente, a Praça da Igreja Nova ou seja Praça Pio X, servindo de campo para ensaios dos “americanos” cuja sede era, realmente no Beco Novo, na casa dos “meninos” do Dr. Homem de Siqueira.

Os nossos cronistas esportivos bem podiam iniciar e divulgar uma pesquisa sobre a História do nossos desportos. Já contando mais de meio século a nossa atividade esportiva está esperando os seus historiadores indispensáveis. Para eles ofereço esta nota inicial…(19/02/1959) CÂMARA CASCUDO, 1976, p. 118-119.

Praça Pedro Velho. Veja que o nome na foto está Espaço no lugar da Praça

Os eventos esportivos tem continuidade no dia 11 de junho, com a partida comemorativa de Futebol. Esta foi realizada no “ground” da Praça Pedro Velho e opôs as equipes do America F.C e do Potyguar F.C, sob o patrocínio do Instituto Histórico e Geográfico. O vencedor na ocasião foi o Potyguar, pelo placar de 1X0, com o gol marcado pelo “in side left” José Tavares. 184 Terminada a partida, o membro do Instituto, Nestor de Lima, representando essa instituição, conferiu aos vencedores as medalhas de prata com inscrições comemorativas da ocasião. (Rev. IHGRN, vol XV, n° 1 e 2, 1917; 71).

Segundo o jornalista Everaldo Lopes, o governador Juvenal Lamartine foi convidado em fevereiro de 1928 para dar o “pontapé inicial” de uma partida na Praça Pedro Velho e ficou penalizado com a pobreza das instalações do campo. Daí surgiu a decisão de construir um estádio.

Antiga Praça Pedro Velho, no coração de Natal, bairro de Petrópolis. Vejam a beleza da Arquitetura das casas. Uma estética que se perdeu com o advento modernista. Na Rua Potengi e adjacências há reminiscências dessa Arquitetura. Vale a pena doutrinar o olhar para contemplar obras de arte que resistem ao homem e ao tempo.

O Estádio Juvenal Lamartine foi inaugurado em setembro de 1928. Na solenidade de inauguração a elite natalense compareceu em peso. Os homens com chapéus de palhinha e as mulheres com vestidos longos e chapéus com grandes abas.

A definição do local onde a Praça Pedro Velho seria erguida ocorreu em 1929, por meio de um segundo plano de urbanização da cidade, o qual era chamado de “Plano de Sistematização”, desenvolvido pelo arquiteto Giácomo Palumbo. Durante a administração do Prefeito Gentil Ferreira de Souza, ocorreu uma mudança no referido plano de urbanização da cidade, referente ao espaço ondeseria construída a Praça Pedro Velho (OLIVEIRA; DANTAS, 2003).

Praça Pedro Velho mais conhecida como Praça Cívica em Natal em 1937.

No dia do estudante o transporte de bonde era gratuito e os jovens aproveitavam o dia todo para passear pela cidade. Nesses dias havia retretas nas Praças André de Albuquerque e Pedro Velho.

Sabe-se que a praça foi inaugurada no dia 24 de outubro de 1937 pelo então prefeito engenheiro Gentil Ferreira de Souza e que fora projetada para ter quatro quarteirões, porém, antes de iniciar as obras, baixou o Ato n. 35, de 05 de março de 1936, que alterou o Plano de Sistematização de Natal, elaborado pelo arquiteto Giácomo Palumbo, reduziu-a para dois quarteirões.

A Praça Pedro Velho, que ocupava uma grande área, foi reduzida em 1936, criando-se duas partes separadas por uma artéria para o acesso de veículos. Esta artéria, criada através do Ato nº 35, do Prefeito Gentil Ferreira, foi identificada no Ato como “Nova Rua”. As duas partes da praça dividida tiveram a seguinte destinação. Uma foi reservada para a construção de residências. A outra foi ajardinada com quadras esportivas separadas por uma construção onde se localizava um bar e sorveteria conhecido por “avião”, além de um parque infantil com apetrechos para exercícios e diversões. A praça passou a ser o local preferido para a realização de retretas e festas públicas.

O ato de remodelação dividiu ao meio o antigo e espaçoso terreno, sendo loteado e vendido uma das partes. Finalmente, com parte do dinheiro arrecadado com a venda dos lotes, foi construída e embelezada a praça, depois de 36 anos de sua criação.

Nas imediações existia um grande sítio, conhecido por “Quinta dos Cajuais”. A Quinta dos Cajuais correspondia à quadra que tinha à frente a Rua Seridó, atrás a Rua Manoel Dantas e as laterais davam para as avenidas Floriano Peixoto e Nilo Peçanha. Em frente ficava a Praça Pedro Velho que posteriormente foi reduzida em seu tamanho original. A parte em frente à Quinta dos Cajuais tornou-se uma quadra residencial.

A prática esportiva um pouco mais organizada ocorreu nas quadras da Praça Pedro Velho.
Existiam duas quadras descobertas separadas por uma lanchonete em forma de avião, no local onde posteriormente foi construído o Palácio dos Esportes. Minha mãe nos levava até as tais quadras onde jogávamos com uma bola de borracha (novidade pra gente que só conhecia a bola de meia).

A partir do dia 24 de outubro de 1937, foi inaugurada sem o monumento em homenagem ao patrono e ficou conhecida como a pracinha, na qual se encontrava quatro lagos artificiais de onde se retirava água para cuidar dos canteiros.

A praça transformou-se num local de encontros dos natalenses e logradouro preferido pararealização de eventos culturais. Durante a II Guerra e nos anos seguintes, era o centro da vida cultural e ponto de encontro da cidade.

A Praça Pedro Velho, inaugurada em 1937 pelo prefeito Gentil Ferreira, era o ponto de encontro principal da cidade, os pés de “fícus” eram pequenos, muito bem podados em forma de coelhos, gatos, cachorros etc. Lá circulavam os melhores fotógrafos da cidade, principalmente aos sábados e domingos. A pracinha era toda mosaicada e tinha um pequeno coreto onde as bandas militares faziam retretas. Seus tanques com tartarugas eram atrações especiais para a garotada. Havia também um parque (onde hoje tem uma estrutura para acompanhar as paradas de 7 de Setembro) com gangorras e balanços.

A primeira rádio do estado é fundada em 1941, a Rádio Educadora de Natal – REN. Esse empreendimento foi subsidiado por Carlos Lama e Caros Farache, fruto que partiu da Casa Carlos Lemos, comércio que vendia entre outras mercadorias, aparelhos RCV Victos e Vitrolas, onde durante o fim de 1930 e começo dos anos 1940, criou um processo adaptativo da população com o rádio, fazendo demonstrações dos rádios em locais públicos como a sorveteria que servia de ponto de encontro no centro da cidade e na praça Pedro Velho ponto de concentração da parte nova e moderna
da cidade.

Seus tanques com tartarugas eram atrações especiais para a garotada. Havia também um parque (onde hoje tem uma estrutura para acompanhar as paradas de 7 de Setembro) com gangorras e balanços. Existiam duas quadras descobertas separadas por uma lanchonete em forma de avião, no local onde posteriormente foi construído o Palácio dos Esportes. O parque tinha horário restrito de funcionamento, que ia das 16h às 18h. Provavelmente todo natalense de classe média nascido nos anos 1950 ainda guarda fotos de infância com a família tiradas na Praça Pedro Velho, uma recordação marcante.

Praça Pedro Velho, anos 40!

O prefeito Gentil Ferreira de Souza, na Interventoria Rafael Fernandes, também muito fez nesse sentido, como se constata dos seguintes informes, além do que realizou no triênio anterior (1939-1941): As praças “Pedro Velho”, “7 de Setembro”, “André de Albuquerque” e “João Maria” foram totalmente remodeladas, cujos pisos, de pedra irregulares, foram substituídos. Novos jardins surgiram na cidade, como sejam os das praças “Pedro Velho”,”7 de Setembro”, “Augusto Severo” e “André de Albuquerque” , embora a sua conservação esteja a exigir melhores cuidados por parte da Prefeitura.

Provavelmente todo natalense de classe média nascido nos anos 1950 ainda guarda fotos de infância com a família tiradas na Praça Pedro Velho, uma recordação marcante.

O trabalho de José Seabra de Melo, que na época fazia fotografias na Praça Pedro Velho e tinha uma grande clientela, também serviu de inspiração e incentivo:

(…) naquela época foi ele quem inventou a fotografia na praça. É tanto que faziam filas para tirar retratos, àquelas árvores feito coelhinhos e cavalinhos… E minha mãe sabia que eu não era muito chegado as letras,
fez eu comprar uma máquina e daí me tornar um fotógrafo seguidor daquele Seabra. (Jaeci Emerenciano Galvão. Em: TAVARES, 2011.).

Mesmo pertencendo a duas famílias de tradição ele foi fotógrafo lambe-lambe na Praça Pedro Velho (Francisco Lira, depoimento de 25/06/2012.). Lira refere-se ao período em que Jaeci, como a maioria dos fotógrafos da cidade, iniciou sua carreira percorrendo o colégio Atheneu e a Praça Pedro Velho, atual Praça Cívica. Nesse espaço captava imagens de famílias em passeio, de casal de namorados e jovens que queriam registrar seus momentos de lazer.

Inaugurada em 24 de outubro de 1937, logo transformou-se num dos lugares mais frequentados pelos natalenses. Originalmente denominada de Praça Pedro Velho, ficou conhecida como Praça Cívica, quando as Forças Armadas passaram a realizar o desfile cívico militar de 7 de setembro naquele logradouro.

A praça possui o nome Pedro Velho, em homenagem ao primeiro governador do estado. No local onde hoje é a praça, existe um busto em homenagem a Pedro Velho. O monumento, no entanto, permaneceu no Square Pedro Velho, na Avenida Junqueira Ayres (hoje, Avenida Câmara Cascudo). Somente no ano de 1954, durante o governo de Sílvio Pedroza – sobrinho-neto de Pedro Velho – o monumento foi transferido para a Praça, em Petrópolis.

Desfile do Jardim de Infância Modelo com faixa saudando as Forças Armadas, Praça Pedro Velho, 6 de setembro de 1970. À direita, de gravata, J. Sizenando aguarda a passagem do filho Newton

Seu patrono, foi a figura chave do Movimento Republicano no Rio Grande do Norte. Membro de uma das famílias tradicionais do estado tem antepassados ilustres como Jerônimo de Albuquerque, primeiro capitão-mor da Fortaleza dos Reis Magos e André de Albuquerque, líder do movimento de 1817.

Professor de História do Atheneu Norte-Rio-Grandense, Diógenes da Cunha Lima (1999) lembra a preocupação do educador, Pedro Velho, que escreve cartas para os pais e os alunos, praticando, já naquele tempo, uma “Pedagogia da Presença”. Em 1969, em pleno governo militar, foi transferido para o local atual o monumento de Pedro Velho.

Estátua do casal de estudantes que eram do Grupo Escolar Augusto Severo

Desde esta data, o desfile cívico-militar acontece na Avenida Prudente de Morais, passando em frente a um palanque na praça, para as autoridades civis, militares e religiosas. Restaurada recentemente, recebeu nova iluminação transformando-se num bom convite para passear a noite, conta ainda com uma boa arborização, lugar ideal para quem procura um refúgio do sol ou apenas deseja descansar um pouco.

Os desfiles carnavalescos aconteciam primeiramente na praça Pedro Velho e passaram para a Av. 2 (ou Presidente Bandeira) no ano de 1981, durante a gestão de José Agripino (1979-1982). Posteriormente, foram transferidos para a Avenida Duque de Caxias (no bairro Ribeira), onde acontecem até hoje.

A arborização era feita com pés de fícus e outras árvores de grande porte. Também foram instalados parques infantis compostos de carrossel, balanços e trapézio. Compunham ainda a praça quadras de vôlei e basquete.

No dia 27 de dezembro de 1963, o prefeito Djalma Maranhão inaugurou o Palácio dos Esportes, utilizando o espaço das antigas quadras. O Ginásio Djalma Maranhão conhecido como Palácio dos Esportes, está situado na Praça Cívica (Praça Pedro Velho), no bairro de Petrópolis. Construído durante a administração do Prefeito Djalma Maranhão, era à época de sua inaugurada, 1963, o único espaço de cidade capaz de concentrar um maior número de pessoas.

Palácio dos Esportes – Djalma Maranhão. Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.

Palco de atividade políticas, religiosas, culturais e educativas (aulões), sua fachada ostenta o nome do idealizador do maior Programa de Alfabetização, até então já realizado no Brasil, intitulado “De pé no chão também se aprende a ler” (GURGEL, 1999). Homenagem, justa, do Prefeito Djalma Maranhão, esportista, jornalista, político, homem de imensa sensibilidade humana. Grande incentivador do esporte amador, quando jovem lutou boxe. Também notabilizou-se pela realização dos festivais de cultural, os folguedos populares nos bairros e feiras de livros. Hoje o Palácio dos Esportes, após algumas reformas, tem capacidade para acomodar quatro mil pessoas.

Com a cassação do prefeito Agnelo Alves, em maio de 1969, assume a prefeitura o vice-prefeito, Ernane Alves da Silveira, que governou até 15 de abril de 1971. O prefeito informado da situação precária da praça, resolveu executar um novo projeto traçado pelos engenheiros da prefeitura. Logo que se deu publicidade sobre a existência do projeto surgiu na imprensa natalense a expressão “Praça Cívica”, numa clara tentativa de substituir o nome da praça.

Praça Pedro Velho, no Bairro Petrópolis (1982). Foto: Acervo “A República”

Segundo análise do professor Itamar de Souza, em seu livro Nova História de Natal, tal mudança se justificava da seguinte forma:

Praça Cívica (Praça Pedro Velho).Foto: arquivo da SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.

“Naquela época, o regime militar estava no auge. Os militares apelavam muito para o civismo, o amor à pátria, como forma de legitimar o seu poder. Eles cassaram os direitos políticos do então prefeito Agnelo Alves (…) afastando-o do cargo e colocou, no seu lugar, o vice, Ernani Alves da Silveira. Este governou a cidade sob a pressão dos militares. Sem dúvida, a expressão – “Praça Cívica” – foi resultante deste contexto político”.

A opinião publica reagiu a tentativa de mudança do nome da praça, o que provocou uma declaração do então secretário de Serviços Urbanos José Guará, no dia 10 de julho de 1969, afirmando que o nome oficial da praça permaneceria Pedro Velho, “numa justa homenagem ao grande homem público do nosso estado”.

Continua sua análise o professor Itamar de Souza: “Realmente, o nome antigo deste logradouro permaneceu. Apesar de pressionado pelos militares, o prefeito Ernani da Silveira nunca assinou um ato mudando o nome para Praça Cívica. Esta nova denominação foi, apenas, uma onda da impressa, fazendo eco ao desejo dos militares”.

Assim, com base no que foi exposto, cabe a nós continuar o legado histórico, tradicional e legítimo e designar a Praça como deve ser: Praça Pedro Velho.

Antigo Square Pedro Velho

Situada na atual avenida Câmara Cascudo, ocupa o outrora limite norte do perímetro urbano da cidade, demarcado por um cruzeiro, quando da sua fundação em 1599. Daí a antiga denominação de rua da Cruz, para o logradouro na qual está localizada.

Câmara Cascudo nos informa os limites iniciais da cidade:

A demarcação foi feita com os cruzeiros de posse, tão comuns. Uma cruz no norte, […] A cruz ficara chantada no lado esquerdo da elevação, […] começando do square Pedro Velho. A cruz do sul fincou-se no declive do Baldo, margem de um córrego…, o velho Rio da Bica, Rio de Beber, …É a Santa Cruz da Bica, guardados os fragmentos dentro do Cruzeiro que está erguido na praçuela lateral (CASCUDO, 1999, p. 52).

A Praça das Mães Martha Salem, que era chamada até 1960 de Praça Pedro Velho (não confundir com a Praça Pedro Velho no bairro de Petrópolis, também em Natal), é uma pequena praça localizada entre os bairros da Ribeira e Cidade Alta.

Praça das Mães. Foto: Bruno Albuquerque. Fonte: Acervo SEMURE

A Praça das Mães foi construída em 1909, com o nome de Praça Pedro Velho que era o irmão do então governador do estado Alberto Maranhão. Muitas histórias dão origem ao nome da praça. A mais difundida delas é que a praça possui o nome de Praça das Mães devido as mães que esperavam seus filhos nela durante a Segunda Grande Guerra, nos anos de 1939 a 1945. Porém, nem todos os historiadores concordam com essa história.

Antiga Square Pedro Velho. Foto: João Galvão. Fonte: Acervo IHG/RN
Foto aérea da Praça das Mães

A praça das Mães foi inaugurada em 1960, na administração do prefeito José Pinto Freire, já em 1968 durante a administração do prefeito Agnelo Alves, a praça passou por uma reforma.

Segundo o historiador e escritor Itamar de Souza, a homenagem as mães partiu do então prefeito da capital José Pinto Freire, que inaugurou a praça oficialmente. Segundo Souza, no local “havia um busto, feito em mármore claro elaborado pelo artista plástico Dorian Gray: uma mulher com um filho no colo. Além de bancos, luminárias, jardins etc”.

Em 1968, o monumento foi trocado por outro, também de Dorian Gray, feito em mosaico. Nas imagens, há uma mãe que amamenta o filho e protege os filhos. Uma alusão ao nome da praça.

Praça das Mães (antiga Square Pedro Velho). Situada na atual Avenida Câmara Cascudo, ocupa o outrora limite norte do perímetro urbano da cidade, demarcado por um cruzeiro, quando da sua fundação em Daí a antiga denominação de Rua da Cruz, para o logradouro no qual está localizada.

O historiador Souza (2008, p.161), em seu livro “Nova História de Natal” , lembra que esta homenagem às mães nasceu de um projeto do vereador Cícero Mendonça e também informa que a autoria do painel instalado naquele logradouro é do artista natalense Darian Gray. O painel em azulejo apresenta uma mãe com o filho nos braços. A praça das mães, antigo Square Pedro Velho, é lugar de memória da Cidade de Câmara Cascudo.

Em1911 a cidade de Natal, possuía 28.477 habitantes e vivenciava diversas intervenções urbanas. Governava o Rio Grande do Norte, Alberto Maranhão, o mecenas potiguar, responsável pela grande reforma do Teatro, à época, Carlos Gomes, e a urbanização da Praça da República, hoje Praça Augusto Severo. O serviço de bondes elétricos, a iluminação pública, o embelezamento das principais vias, exemplo da antiga avenida Junqueira Aires, instalação de um relógio importado de Paris, a Balaustrada com postes ornamentais ao longo do trecho compreendido entre a antiga Square Pedro Velho, Escola Atheneu, Igreja Presbiteriana, antigo Congresso Legislativo, foram algumas de suas
obras. Tudo no esforço de colocar a urbe, de dunas, rio e mar nos trilhos da modernidade.

Bonde no antigo Square Pedro Velho, atual Largo Junqueira Aires, Bairro Cidade Alta. Foto: Autor desconhecido (Acervo IHG/RN).

A “luz copiosa” e “abundante”, embora praticamente dobrasse o sistema existente naquela época, não era tão espraiado quanto fazia crer o entusiasmo de muitos. Os quatrocentos focos eram compostos por lâmpadas de filamento metálico, com luminância de 25 velas (os focos de acetileno produziam 15 velas). Duzentos aproveitavam os postes já existentes; os duzentos novos seriam afixados em postes de madeira. A indicação oficial era que fossem locados “pelas ruas mais afastadas e pelos arrabaldes, conforme indicação do Governo”. Alguns locais específicos e de maior interesse ou movimento receberiam focos mais potentes, de até 100 velas, como na Avenida Tavares de Lira, na Praça Pedro Velho, em frente ao Edifício do Congresso, e nas Praças Augusto Severo e André de Albuquerque. Além do espaço público, a iluminação também deveria se estender aos edifícios públicos e às demandas particulares. Por força de contrato, a Empresa de Melhoramentos era responsável pela iluminação em eventos especiais e festividades (Araújo, 2010.).

“[…] para homenagear o irmão primogénito, instalou no local onde hoje está a Praça das Mães, a herma de Pedro Velho, tendo abaixo, em um dos seus lados, uma figura feminina em atitude de admiração, talvez a alegria da cidade a reverenciá-lo. Esse conjunto escultórico encontra-se instalado na PraçaPedro Velho, logradouro que a Revolução de 1964 passou a denominar Praca Civica, nome que permanece até hoje.”

Sonia Othon (OTHON, 2006, p. 126-127)
Avenida Junqueira Aires, com detalhe para o relógio movido à eletricidade e suas luminárias. Na sequência, a balaustrada. Fonte: CD Natal 400 anos. O edifício situado em frente ao relógio, projetado pelo arquiteto Herculano Ramos para ser o Palácio do Congresso, foi construído em 1907; ao lado esquerdo do edifício, foi construído o Square Pedro Velho. No lugar havia uma fonte de água com repuxo, um gramado, estátua de Pedro Velho, oitos bancos duplos e uma arborização feita com aglaias, árvores nativas da Ásia e da Oceania, aclimatadas no Brasil. O local foi considerado pela impressa como “deslumbrante” após a chegada do “relógio e o gradil tão justamente famoso pelos seus 103 metros de cumprimento”, um “recanto aprazibilíssimo” capaz de provocar a “sensação que os grandes artistas experimentam ao contemplar as suas obras primas” (AINDA OS MELHORAMENTOS. Diário do Natal, 6 out. 1911.). Naquele trecho da linha de bonde o habitante da cidade podia admirar os edifícios modernos, o square Pedro Velho, a balaustrada e seus candelabros brilhantes com a luz artificial e o relógio que uniformizava o horário em Natal.

O cronista Danilo descreveu a Praça Pedro Velho como um refúgio das atividades cotidianas, afirmando que o local seria ainda mais atrativo e belo “Se tivesse, para melhor sedução da vista, a tremula alegria de fontes luminosas” (DANILO. Mais bancos tem a Pracinha…(sociais). A Republica, 5 mai. 1939, p. 12.). O jornal é o grande meio de comunicação da época, principal difusor dos padrões estéticos e de comportamento desse momento. Danilo, ao pedir uma fonte luminosa com o argumento de que a sua presença tornaria o lugar mais atraente, opina sobre a capacidade embelezadora desse equipamento, que para ele levaria as pessoas a freqüentar a praça, motivando novos hábitos citadinos.

Nos jardins e praças se realizariam os pic-nics, os passeios, algumas atividades esportivas e de divertimento. A população precisava ser educada para usar adequadamente esses espaços. Nos jornais locais há denúncias do mau uso e destruição desses locais. O tudo aquillo devia ser usado á vontade, à revelia, sem disciplina, sem fiscalização, sem controle nenhum. Veio o primeiro aborrecimento, o segundo, o terceiro, e continuou a série de pequenos conflitos no parque da Praça Pedro Velho. Resultado: o que deveria servir de divertimento tornou-se fonte de desgostos” (DANILO. Não destruam …. (SOCIAES). A Republica, s/d).

Numa matéria, publicada em 1936, são feitos relatos sobre as reformas que estavam sendo iniciadas no ‘square’ Pedro Velho, na praça 7 de setembro, no Jardim Augusto Severo e na praça André de Albuquerque, afirmando-se que a prefeitura contava com “o povo para zelar o que é seu” e trazendo reclamações de que “desocupados guerreiem os nossos jardins, quebrando os bancos, arrancando criminosamente as roseiras, pisando a grama e devastando as árvores” (A Republica. Natal e os seus problemas urbanos. 22 de março de 1936, p. 01 e 02) . As denúncias, nos jornais, sobretudo, revelavam o que era e o que não era adequado ao viver urbano.

Os espaços públicos iluminados foram também transformados em espaços de sociabilidade noturna. A iluminação com uso de eletricidade utilizada nas praças e jardins manteve-se como atração nesses espaços décadas depois de sua chegada à capital norte-riograndense. Em matéria d’A Republica de 1939, a Praça Pedro Velho, conhecida como pracinha, é mencionada pelo cronista Danilo como “ponto de diversões públicas” que possuía um “aspecto de modernismo e de elegância” (DANILO. Mais bancos tem a pracinha…. (sociais). A Republica. Natal, 05 de maio de 1939. p. 12). Na pracinha, iluminada à luz elétrica, durante as “noites palpita um pouco da nossa vida social (…) quase sempre os bancos eram poucos”, nesse espaço as pessoas “cançadas da vida quotidiana” fugiam da monotonia (DANILO. Mais bancos tem a pracinha…. (sociais). A Republica. Natal, 05 de maio de 1939. p. 12).

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A eletricidade chega à cidade: inovação técnica e a vida urbana em Natal (1911-1940) / Alenuska Kelly Guimarães Andrade. – 2009.

Anuário Natal 2007 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2008.

A memória nas fotografias estereoscópicas: Notas iniciais sobre a trajetória plural de Manoel Dantas. PASSOS, Renata Luz. NOBRE, Itamar de Morais. Trabalho a ser apresentado ao GT de História da Mídia Impressa, XII Encontro Nacional de História da Mídia, 2019.

Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.

ANUÁRIO NATAL 2013 / Organizado por: Carlos Eduardo Pereira da Hora, Fernando Antonio Carneiro de Medeiros, Luciano Fábio Dantas Capistrano. – Natal : SEMURB, 2013.

Caminhos que estruturam cidades: redes técnicas de transporte sobre trilhos e a conformação intra-urbana de Natal / Gabriel Leopoldino Paulo de Medeiros. – Natal, RN, 2011.

Cantos de bar: sociabilidades e boemia na cidade de Natal (1946-1960) /Viltany Oliveira Freitas. – 2013.

Centelhas de uma cidade turística nos cartões-postais de Jaeci Galvão (1940-1980) / Sylvana Kelly Marques da Silva. – Natal, RN, 2013.

DOS CAMINHOS DE ÁGUA AOS CAMINHOS DE FERRO. A construção da hegemonia de Natal através das vias de comunicação (1820-1920). Wagner do Nascimento Rodrigues. Natal.2006

Dos bondes ao Hippie Drive-in [recurso eletrônico]: fragmentos do cotidiano da cidade do Natal/ Carlos e Fred Sizenando Rossiter Pinheiro. – Natal, RN: EDUFRN, 2017

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Habitação Social: origens e produção (Natal, 1889-1964). Caliane Christie Oliveira de Almeida. SÃO CARLOS. SETEMBRO, 2007

História do Rio Grande do Norte / Sérgio Luiz Bezerra Trindade. – Natal: Editora do IFRN, 2010.

História e Cultura do Rio Grande do Norte via acervo de Eduardo Alexandre Garcia

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Memória minha comunidade: Alecrim / Carmen M. O. Alveal, Raimundo P. A. Arrais, Luciano F. D. Capistrano, Gabriela F. de Siqueira, Gustavo G. de L. Silva e Thaiany S. Silva – Natal: SEMURB, 2011.

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SAIR CURADO PARA A VIDA E PARA O BEM: diagramas, linhas e dispersão de forças no complexus nosoespacial do Hospital de Caridade Juvino Barreto (1909-1927). RODRIGO OTÁVIO DA SILVA. NATAL. 2012.

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One thought on “Pedro Velho de Albuquerque Maranhão

  • 12 de outubro de 2023 em 5:26 pm
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    Moro no município de Pedro Velho -RN, li a matéria e não vi nenhuma menção ao município. Eu estava procurando saber o motivo pelo qual deram ao município o nome do 1° governador Pedro de Albuquerque Maranhão. De início, o nome aqui era Vila Nova de Cuitezeiras, devido aos pés de cuités existentes e Vila Nova após a enchente do rio Curimataú devastar a antiga vila. Restaram apenas as ruínas da igreja de Santa Rita ainda existente e uma árvore conhecida samaumeira conhecida popularmente por “pau grande”. Caso tenha informações nesse sentido, gostaria que acrescentasse no texto e me enviasse para o email cvm.08@hotmail.com. grato.

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