A primitiva assistência médico-hospitalar da cidade do Natal

A identificação do hospital como lugar de morte, metáfora comum para expressar o insucesso da assistência hospitalar em Natal, costumava sair da boca dos próprios médicos:


Aquele hospital era o único existente na capital, e, naquele tempo, somente ia para o hospital quem estava desenganado de tudo, e era
somente aquela gente de baixíssima condição social e econômica. Aquilo era um depósito de todas as espécies citológicas: iam tuberculosos, iam doentes, doentes cardíacos, doentes de displasias nutricionais, toda essa coisa. E aquilo era a antecâmara da morte.


A caracterização acima foi dada pelo médico Onofre Lopes ao primitivo Hospital de Caridade, criado em 1855, em Natal. Arrastando-se por toda a segunda metade do século XIX, esse nosocômio fora alvo constante das críticas dos presidentes de província, que solicitavam frequentemente ajuda orçamentária do Governo para melhorar o quadro de abandono e penúria em que se encontrava o Hospital de Caridade.


Chão de cimento, umidade excessiva, poucos leitos e quadro reduzido de médicos e enfermeiros eram apenas alguns dos principais problemas enfrentados pela instituição. Resultado: o governador Augusto Tavares de Lyra decretou o seu fechamento em 1906.


Três anos mais tarde, agora no mandato de Alberto Maranhão, inaugurou-se outro edifício hospitalar, o Hospital de Caridade Juvino Barreto, que estaria sob a responsabilidade do médico Januário Cicco. Neste novo espaço trabalhariam por dezessete anos, além do referido médico, as servidoras da Ordem das Filhas de Santana (cinco ao todo) e o médico “prático” José Lucas do Nascimento. São alguns contornos da primitiva assistência médico-hospitalar da cidade do Natal. É a ela que consagraremos nosso esforço de pesquisa, centrando-nos no estudo daquilo que chamaremos de “segunda experiência hospitalocêntrica”: o Hospital de Caridade Juvino Barreto,
focalizando-o entre os anos de 1909, data de sua inauguração, e 1927, quando a sua administração passou para as mãos da recém-criada Sociedade de Assistência Hospitalar (SAH), associação particular de médicos criada pelo doutor Januário Cicco com a finalidade de melhorar o funcionamento do hospital.


Este espaço hospitalar, que hoje recebe o nome de Hospital Onofre Lopes, representava no começo do século XX, na cidade do Natal, a construção de uma experiência “moderna” na relação do Estado com a população, dos administradores da cidade com os seus habitantes: a saúde como princípio fundamental da conservação e reprodução da força de trabalho.

Legenda: A assistência médico-hospitalar na capital do Rio Grande do Norte, no principio do século passado era prestada unicamente no Hospital de Caridade, chamado de Salgadeira, no lugar onde hoje funciona a Casa do Estudante. Em 1910 foi instalado a Escola de Aprendizes Artífices de Natal no dia 1º de janeiro de 1910 no prédio do antigo Hospital da Caridade, na Cidade Alta, atual Casa do Estudante.

Fonte: Sair curado para a vida e para o bem: diagramas, linhas e dispersão de forças no complexus nosoespacial do Hospital de Caridade Juvino Barreto (1909-1927) / Rodrigo Otávio da Silva. – 2012.

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