A Feira da Tatajubeira
O desenvolvimento das feiras livres e a migração para determinadas regiões desde então lançaram novas bases para o desenvolvimento das cidades e, por conseguinte, do poder que devia representá-la, isto é, o poder municipal. A rota de abastecimento fluvial de Natal, pelo Rio Grande ou Salgado denota um processo de desenvolvimento da atividade comercial ao longo de seu trecho navegável, unindo Natal a pequenas localidades e entrepostos comerciais que vão se desenvolver graças, precisamente, à atividade comercial, à feira, à importação e exportação.
Por sua vez, o século XIX é marcado por uma maior atividade comercial, fruto do liberalismo econômico típico dessa centúria, que foi caracterizado na província do Rio Grande do Norte por várias ações que vão desde os incentivos fiscais do governo provincial para o desenvolvimento do comércio de exportação, pelo surgimento de uma classe tipicamente capitalista, com homens de negócio, a exemplo, entre outros, do comerciante Fabrício Gomes Pedrosa, pelo desenvolvimento da feira livre e das transações comerciais entre os núcleos urbanos, especialmente do litoral.
Antônio Bernardo de Passos foi o 20º presidente da província do Rio Grande do Norte, empossado a 24 de outubro de 1853. Permaneceu no cargo até 1º de abril de 1857. O presidente Passos defrontou-se com as maiores calamidades públicas vividas pela província: secas, assaltos, pestes, epidemia de cólera. Enfrentou-as todas, resolvendo tudo dentro das suas limitações, com simplicidade e bravura. Construiu também, o Cemitério do Alecrim, concluído em abril de 1856, além do Hospital de Caridade.
O presidente Passos enfrentou os comerciantes aproveitadores da desgraça alheia, combatendo a caristia causada pela fraca produção de alimentos nos anos de seca, especialmente em 1855. Criou as feiras públicas, dando-lhes isenção de impostos. Em 1956 houve a inauguração da feira pública criada pela Lei Provincial nº 74, de 11.11.1841.
Na primeira metade do século XIX, as feiras eram denominadas pela Câmara Municipal de ‘mercados’. Na cidade Alta, a feira ficava na Rua Nova, (atual Rio Branco) em baixo de uma gameleira e, na Ribeira ficava em uma velha tajubeira, na rua Frei Miguelinho. A feira da Cidade Alta foi criada com a resolução provincial n° 74, de 11 de novembro de 1841, para o consumo das mercadorias e venda de gêneros; porém tal resolução só foi cumprida a 06 de setembro de 1853, por iniciativa do Presidente da Província – Dr. Antônio Francisco Pereira de Carvalho. (NOBRE; Ferreira, apud. CAMARA, Lindolfo./ Breve história sobre a Província do Rio Grande do Norte, p. 16, 38.).
No Passo da Pátria funcionava até o início do século XX a principal feira da cidade. As Rocas recebiam parte significativa dos trabalhadores do porto e do comércio, do bairro vizinho da Ribeira.
Foi neste contexto que a mais antiga feira livre de Natal foi, talvez, a que se fazia debaixo de uma tatajubeira antiguíssima e frondosa. Ela existiu desde o século XIX, na Rua Frei Miguelinho, na Ribeira. Diariamente, vinham para ali pescadores e pequenos produtores rurais, d’aquém e d’além Potengi, vender seus produtos.
Existia na Rua Frei Miguelinho uma feira muito concorrida. Tinôco (1992, p. 51), em suas memórias, lembra que:
“Havia uma feirinha mais para o fim da Rua Frei Miguelinho chamada a feira da Tatajubeira. Tinha este nome porque existia uma grande tatajuba, a sombra da qual, sentavam-se os vendedores, homens e mulheres que procuravam aquele local com o fim de venderem suas mercadorias; […] era assim uma espécie de feirinha de emergência, por sinal bem concorrida”.
Nesse período, em Natal, a população não havia adquirido com frequência o costume do cultivo de hortas caseiras. A compra de alimentos era feita em feiras livres; não havia geladeiras para a conservação dos produtos perecíveis, sendo uma prática cotidiana da população à ida constante, quase diária, à feira.
No início dos 1900′s, com 13 mil habitantes, Natal era cidade tão pequena que os que a visitavam gracejavam: “Natal? Não há tal!”. Vindo da esquerda da lagoa de Manoel Felipe, o riacho Tissuru ganhava águas sobradas desta e seguia rumo à cruz do Baldo, Bica, dando de beber à povoação que dormitava à direita, em claros habitada até o topo da duna, Cidade Alta, e seguia descendo, até proximidades da feira da Tatajubeira, na campina da Ribeira, adjacências do porto novo, esplanada que começava a trazer desenvolvimento para a pequena capital. Eduardo Alexandre Garcia
O QUE COMIA E BEBIA O NATALENSE EM 1872
Parece oportuno verificar o que comia e bebia o natalense há cem há anos passados: as frutas, os peixes, os doces, as bebidas, os pratos típicos. Nos dois mercados, além da feira no Passo da Pátria, encontravam-se várias frutas apanhadas nos sítios e matas em redor da cidade.
Umas abundantes ainda hoje. Outras, já raras. Por exemplo: eram e continuam abundantes, a mangaba, os cajus, cajaranas. Mas já não é fácil, nos mercados, frutas como a massaranduba, guabiraba, camboins, oitis, ingás de corda, como ele chamava. E outras que até desconhecemos, como as ubais e os guajerus.
Todavia, para colher essas frutas, havia que enfrentar os inimigos traçoeiros dos matos: as formigas de fogo, cobras nas moitas e vespas na galhada. As caças mais abundantes na época eram os jacus, inhambus, cotias e tatus.
Diz Lindolpho Câmara que não havia terra com maior abundância de peixes e crustáceos do que Natal daquela época. Trazidos pelas jangadas dos pescadores, enumeravam-se a cavala, o dentão, a cioba, o pargo, a pescada, a bicuda, o dourado, a corvina, o beijupirá e o cação.
Nas praias, através dos currais ou da pesca de arrastão, com tresmalhos ou tarrafas, estavam as tainhas, sardinhas, espadas, palombetas, galos, carapebas, carapicus, bagre, baiacu, agulhas e agulhões. Pescados nos mangues e recifes da Fortaleza, lembra os camarões, lagostas, lagostins, caranguejos, siris e aratus. Outras variedades eram os ouriços, ostras, mariscos, unhas de velho e polvos. De Ponta Negra, apesar da “longitude da travessia”, vinham os xaréus. Quanto à carne verde, o autor informa que eram abatidas duas rezes nos dias comuns e três, do sábado para o domingo e dias festivos, para toda população.
A venda dos peixes, nos mercados, era feita tradicionalmente anunciada pelo eco de um grande búzio, “soprado por sujeito de fôlego e que estrondava pela cidade silenciosa até os seus confins”.
OS MERCADOS: CUSTO DE VIDA
Eram dois os mercados públicos, onde toda a gente se abastecia dos generos nativos, em feiras livres; — um, na Ribeira, que funccionava debaixo da fronde copada de uma velha Tatajubeira, viçosa e alegre, escondendo os séculos de sua existência; — outro, na Cidade Alta, á rua Nova, ao abrigo de frondosas gamelleiras, que conheci toda a vida.
Nessas feiras encontravam-se todos os productos da pequena lavoura, — farinha de mandioca, milho, feijão, batatas doces, inhames, macacheira, verduras, hortaliças, còcos, rapaduras, doces seccos, todas as fructas, bananas, laranjas, goiabas, maracujás, cajus, pitombas, pinhas ou fructas do Conde e outros generos alimentícios de preparo das quitandeiras, como cuscús, mungusá, bolo de milho, tapiocas, grudes de gomma, beijús, angú de milho, e outras especies de que se alimentava a população.
Eram vendidos a peso, por medida e a olho.
A medida de capacidade era a cuia, a linear — a vara, a de peso, a libra.
A moeda divisionária, — o xenxen de 10 réis, o dobrão de cobre de 20 e 40 réis, a nota papel de 1$000 e 2$000.
A unidade era a pataca (dezeseis vinténs).
Com uma pataca, as famílias obtinham grande parte das suas refeições diarias. Compravam uma libra de carne verde por 4 vinténs, uma cuia de farinha de mandioca por 2 vinténs, uma cuia de feijão verde, em grão, 2 vinténs; na bagem, em molho, dez réis; verduras-couve, alface, maxixes, quiabos, gerimús ou aboboras, alho, 2 vinténs; banha de porco, 2 vinténs, cebolas, cebolinhas, tomates, ortelã e pimentas, 2 vinténs.
Essa pataca, de tamanho valor acquisitivo, não era facil ganhal-a.
Naquelle tempo, tudo era barato, menos o dinheiro .
Lindolpho Camara
in MEMORIAS E DEVANEIOS
REVOLTA DOS PESOS E DAS MEDIDAS
Em 1862 uma nova legislação determinava que no Brasil o sistema de pesos e medidas então em uso seria substituído por um novo sistema, que só entrou em vigor em 1872, com a promulgação de um decreto do Imperador D. Pedro II em 18 de setembro. Mesmo com a implantação do nosso sistema de pesos e medidas, permaneceram em uso os sistemas tradicionais de medidas expressas em palmos, jardas, polegadas ou côvados, e o peso das mercadorias calculado em libras e arrobas, convivendo com uma grande variedade de outros pesos e medidas, tais como a braça, a légua, o feixe, o grão, a onça, o quintal e muitos outros padrões, aos quais a população estava acostumada porque vinham sendo utilizados desde muitas gerações. A tentativa de implantação do novo sistema provocou revolta em vários lugares, com os revoltosos quebrando as “medidas” fornecidas pelo poder público municipal e usadas pelos comerciantes. Os revoltosos cresceram em número, espalhando-se por mais de setenta localidades nordestinas, invadindo as Câmaras e destruindo as medidas e os editais.
Diversos motivos determinaram o descontentamento da população. Uma delas foi a cobrança de taxas para o aluguel e aferição dos novos padrões do sistema métrico – balanças, pesos e vasilha de medidas. A lei que os criara proibia a utilização dos antigos padrões, e os seus substitutos deveriam ser alugados ou comprados na Câmara Municipal, o que fez os comerciantes acrescentarem ao preço das mercadorias o valor do aluguel ou da compra dos padrões, encarecendo ainda mais os produtos. Outra razão foi a criação do chamado “imposto do chão”, cobrado dos feirantes que expunham no chão da feira as mercadorias que pretendiam vender. E uma terceira, o estabelecimento das novas regras de recrutamento, sobre as quais se dizia que não escapariam do “voluntariado” militar nem as pessoas de posses. Por todas essas razões o número de revoltosos cresceu de forma acelerada, já que era engrossada por comerciantes, por proprietários de imóveis, por pequenos agricultores cuja receita dependia da venda semanal de sua produção na feira, e também por consumidores que se sentiam diretamente atingidos em virtude da elevação de preços dos produtos que precisavam adquirir. A luta contra a sistemática inovadora se estendeu a municípios das províncias de Pernambuco, Pará, Alagoas e Rio Grande do Norte. Neste último, das treze vilas rebeladas, cerca de cinco eram da região do Seridó: Acari, Currais Novos, Flores, Jardim e Príncipe.
A MASSADA DO CANGULEIRO
O periódico “O Caixeiro”, de 30 de novembro de 1879, nos remete para algumas informações sobre o estado das duas primeiras feiras de Natal a avenida Rio Branco na Cidade Alta e a outra na Tatajubeira, no bairro da Ribeira. A falta de investimentos públicos nos remete a dizer que não se tratavam de espaços físicos constituídos e sim um local de aglomeração de comerciantes e consumidores em locais insalubres.
A FALTA DE CARNE VERDE
Ironicamente, o gado que sobrava nas ruas da cidade faltava no mercado público propriamente dito. Nenhum outro tema é tão recorrente no primeiro semestre de 1911 quanto o da falta de carnes verdes no mercado da cidade. São diversas as matérias nesse período reclamando sobre o não cumprimento do contrato estabelecido entre a Intendência e os fornecedores do produto e pedindo maior fiscalização dessa instituição no mercado e nas feiras da cidade. Em uma dessas matérias, A Republica, com algum tom de indignação, cobra medidas mais enérgicas do coronel Joaquim Manoel:
Decididamente, continuamos mal com o contracto de carnes verdes. Raro é o dia em que não nos chega uma reclamação contra elle. Ora é a falta de carne, ora é o mau serviço dos carniceiros. Debalde, surgem os protestos dos consumidores. Ninguem se move, não ha nada que faça cessar os constantes abusos.
Queremos crêr que o laborioso Presidente da Intendencia, a quem incumbe zelar pela bôa execução das clausulas do contracto, ainda não se dignou de lançar as suas vistas para o Mercado Publico, nestes ultimos dias.
Só assim se comprehende a desordem que reina alli nos diversos talhos de carne verde. […] (A REPUBLICA, Natal, 31 mar. 1911.).
O tom da reclamação parece até ter espantado o Diario, que se refere à matéria d’A Republica como uma “acusação solene” ao presidente da Intendência (DIARIO DO NATAL, Natal, 01 abr. 1911). O fato é que a cobrança realizada por este periódico surtiu algum efeito, tendo em vista que, no dia seguinte ao de sua publicação, o coronel Joaquim Manoel, acompanhado de seu secretário, Arthur D. Mangabeira, e do fiscal geral, compareceu ao mercado público para verificar se a quantidade de carne com a qual o estabelecimento vinha sendo abastecido estava em acordo com o previsto no contrato, bem como tomar as devidas providências para que os consumidores fossem atendidos com a máxima presteza pelos talhadores.
No ano de 1915, A Republica deixa de publicar o material de expediente da Intendência. Trata-se de um ano crítico para a pesquisa. O expediente da Intendência passa a ser publicado n’A Imprensa, mas não encontramos o ano de 1915 desse jornal nos arquivos públicos locais. Ao mesmo tempo, a oposição silenciou-se, visto que sua imprensa oposição fora esmagada no ano anterior. Com isso, são reduzidas as fontes que temos para analisarmos a gestão municipal em 1915.
Em consequência, vemos poucas matérias desse periódico sobre a gestão municipal. De destaque mesmo, notamos apenas a cobertura da inauguração do novo mercado da Ribeira, melhoramento reclamado a tempo pelo bairro comercial da cidade, que não mais podia suportar, segundo o jornal, o desagradável aspecto da feira da Tatajubeira, que ocorria em suas ruas. A obra parece ter sido a mais importante realizada pela Intendência nesse ano. Por outro lado, a rotina de reclamações a respeito dos serviços urbanos, em especial da coleta de lixo, continuava intensa.
O MERCADO DA RIBEIRA
As resoluções municipais nos ajudam a conhecer que caminhos tomou a gestão da cidade nos anos de 1911 e 1912. No primeiro ano, a maioria das resoluções se destina à tarefa de renomear alguns logradouros da cidade, nos bairros de Cidade Nova, Cidade Alta e Alecrim.
Afora estas, merece destaque ainda a resolução de nº 145, de 17 de abril, que autoriza a Intendência a contratar, com quem melhores vantagens oferecesse, a construção e exploração de mais cinco mercados públicos na cidade, devendo dois deles localizar-se na Ribeira, bairro comercial por excelência; um no bairro de Cidade Nova; um no Alecrim e outro no Passo da Pátria (área pertencente à Cidade Alta).
Os mercados, pelo que conhecemos, nunca chegaram a ser construídos (exceção feita a um na Ribeira, edificado na gestão de Romualdo Galvão, entre 1914 e 1916), de modo que a cidade permaneceu sendo atendida, por alguns anos ainda, por um único mercado público, inaugurado em 1901.
Consciente de que a população da Ribeira não podia continuar se abastecendo na Feira da Tatajubeira, onde não havia as mínimas condições de higiene, o presidente da Intendência, coronel Romualdo Lopes Galvão, resolveu construir um mercado de ferro, que foi erguido no quarteirão n.° 15 do bairro da Ribeira, na avenida Almino Afonso, fazendo esquina com a rua Ferreira Chaves. No dia 25 de fevereiro de 1914, na sessão “Várias”, o jornal A República publicou a seguinte matéria sobre este mercado:
“Em 1923, no relatório que apresentou ao Conselho de Intendência Municipal, o vice-presidente da Intendência, em exercício, o farmacêutico Joaquim Ignácio Torres, afirmava que o “mercado de ferro que em 1915 foi inaugurado na Ribeira, tinha sido pela administração anterior entregue à Higiene Federal para nele funcionar um posto de assistência médica, com toda a sua instalação” (TORRES, 1923, p. . Com a entrega do prédio do mercado à saúde pública, renasceu a Feira da Tatajubeira a partir de março de 1924 por determinação do presidente da Intendência, Cel. José Lagreca. A finalidade desta restauração era o barateamento do custo de vida. Para isso, ficaram livres de impostos e de sujeira os produtos vendidos à sombra da velha tatajubeira, mercê da fiscalização municipal (A República, 29 de março de1924).
Na segunda vez que governou Natal (de 30 de outubro de 1935 a 03 de janeiro de 1942), o prefeito Gentil Ferreira de Souza fez muito calçamento a paralelepípedo no bairro da Ribeira. Neste período, ele calçou as ruas Chile, Frei Miguelinho, 15 de Novembro, Almino Afonso, Ferreira Chaves, Aureliano, a avenida Duque de Caxias e a travessa Bom Jesus (A República, 29 de outubro de 1941). Onde havia calçamento antigo, feito de pedra preta, tosca, irregular, ele substituiu por calçamento a paralelepípedo. Com o calçamento da rua Frei Miguelinho e da avenida Almino Afonso, acabou-se a Feira da Tatajubeira. Para substituí-Ia, Gentil Ferreira construiu o mercado da Ribeira, no mesmo local, onde existiu anteriormente o Mercado de Ferro, construído por Romualdo Lopes Galvão. No dia 7 de setembro de 1940, Gentil Ferreira lançou a pedra fundamental deste novo mercado. O novo prédio, dividido em três amplos compartimentos, oferecia 41 locais de comércio para os locatários. Em janeiro de 1941, ele já estava pronto (A República, 09 de janeiro de 1941).
Com a decadência da Ribeira ao longo dos anos 60, a população ali residente foi diminuindo e, consequentemente, o movimento comercial de alimentos. Anos depois, o mercado da Ribeira foi transformado em repartição da Prefeitura.
Texto de Itamar de Souza, Nova História de Natal – Enviado por José Tarcísio de Medeiros
Os bondes são a história da integração de uma Natal nascente. Eles percorriam a ainda nem tão velha Ribeira partindo do Canto, onde se faziam embarcações de pequeno porte, na Esplanada, limite da cidade; tomavam a Frei Miguelinho, antes chamada Treze de Maio, residencial, onde tinha a feira da Tatajubeira; tomavam à esquerda na avenida Tavares de Lyra ganhando prédios de até três pisos; mais adiante deparavam-se com a bela praça Leão XIII, e; na avenida Sachet, antes rua da Floresta, hoje Duque de Caxias, tomavam o rumo da cidade do Alto.
AS MEMORIAS DA TATAJUBEIRA
Bem no meio da Rua Frei Miguelinho, em frente à Rua Ferreira Chaves, existia um largo, em cujo centro encontrava-se uma grande Tatajubeira, que por mãos criminosas foi impiedosamente sacrificada.
O local era conhecido como Tatajuba e, aí, à sombra daquela árvore, funcionava uma permanente feira, onde se encontrava de tudo, para uma pequena refeição.
Eu mesmo morava em uma república, nas imediações, junto ao meu irmão Felipe, Francisco Femandes Costa (Chico Feio) e outros, e éramos assíduos frequentadores daquele local, onde encontrávamos milho assado e cozido, tapioca, pamonhas, cuscuz, peixes fritos, frutas em geral, finalmente tudo necessário a quem estava necessitando para uma ligeira refeição.
Com a derrubada da Tatajubeira, construíram no local um prédio onde se instalou o Sr. Oswaldo Guedes de Figueiredo, com um armazém de estivas, ali ficando vários anos.
O desaparecimento daquela árvore recebeu o protesto de quem tinha os seus pequenos negócios ali e de quem residia nas adjacências, que muito sentiram com a falta daquela feirinha, que tanto serviço prestava.
A FEIRA DA TATAJUBEIRA
Júlio César de Andrade
“Não há hoje em Natal um só dos nossos bisavós que nos diga quatro palavras acerca da infância dessa árvore que ora serve de casa de mercado ao mais comercial e ao mais movimentado bairro desta cidade, que é a primeira do Estado.
Segundo os cálculos, a árvore conta mais de duzentos anos de vida e, por sua sombra benfazeja, passaram gerações de proletários e de boêmios, uns que junto a seu tronco encostavam a descansar das fadigas do trabalho, outros, amigos do ócio e do álcool que, em noite de luar, cantavam ali canções nostálgicas ao som do violão sugestivo.
Antes de ser como é hoje, casa de mercado de uma cidade fantasticamente progressiva, foi, como nos dizem os velhos pescadores, oficina de carpinteiro onde se construíam as quatro jangadas que se lançavam, a cada ano, nas águas mansas do Potengi.
Ainda em nossos dias, ela tem na sua crosta rugosa os golpes antigos da enxó e dos machados dos operários, que nela experimentavam o aço da ferramenta. Nesses dias remotíssimos em que havia grandes selvas na avenida de hoje, a veneranda tatajubeira era ainda moça e bem amada e não tinha, por conseguinte, sofrido o castigo da lama que ora a invade.
Se for em dia de chuva especialmente, ele (o forasteiro) passará forçosamente pela Tatajubeira – essa cloaca onde alguns quitandeiros vendem peixes, carnes e verduras.
O estado desse local é mais próprio para um estábulo do que para um lugar em que se faça uma feira. O lamaçal que ali se forma com a menor chuva entedia, causa nojo e faz pensar que habitamos um brejo sem que haja a menor autoridade higiênica ou municipal que tome a iniciativa.”
(A República, 1912).
Artigo citado por Itamar de Souza em sua Nova História de Natal.
A ÁRVORE
Nome cientifico: Maclura tinctoria
Família: Moraceae
Nomes populares: Tatajuba, Taúba.
Onde é encontrada: Encontrada com freqüência na região, normalmente em áreas degradadas e pastagens.
Características: Árvore de pequeno a médio porte, entre 7 e 12 metros de altura, com muitos espinhos. Folhas simples, margens serreadas. Flores em cachos como uma espiga, não vistosas. Fruto redondo, 1,5 cm, superfície irregular, de cor verde mesmo quando maduro.
Tem uma polpa clara que envolve as sementes, de sabor adocicado. Sementes de 0,1 cm. Raramente apresenta frutos.
Utilidades: Pioneira e rústica, é recomendada para reflorestamentos. Fruto muito procurado pela fauna. Pode ser comido também pelo homem, quando encontrados. É considerada como tendo características medicinais (antiinflamatório).
Época de floração e frutificação: Floresce em Setembro. Frutos maduros de Dezembro a Janeiro.
Fonte: https://www.arvores.brasil.nom.br/new/tatajuba/index.htm
EVOCAÇÃO DA CIDADE DO NATAL
Por José bezerra Gomes (1911-1982)
Cidade do já teve, de boêmios seresteiros,
que não alcancei…
Lourival Açuceça (Lorênio),
o poeta ferreira Itajubá,
regressando, de manhã, cedinho,
das últimas noitadas,
cheias de serenatas,
lapinhas e pastoris,
vestido de fraque, segundo dizem,
com uma enfieira de caranguejo
dependurada no dedo da mão,
ali na antiga feira da Tatajubeira…
Onde estão os teus vendedores de vendagens?
– rolete de cana…
– tapioca de coco…
– cuscuz de milho…
– bolo de pé de moleque…
E os teus turcos prestamistas?
Que se foram das Rocas e do alecrim,
com os seus baús de miudeza,
para a Rua das lojas
da Ribeira, Cidade Alta…
Cadê o teu Porto do Padre?
de-frente do Paço da Pátria,
com os teus canoeiros,
com os teus boteiros,
com as tuas negras louceiras
lá de Barreiros…
– urinóis…
– xícaras…
– mealheiros…
Tudo era feito de barro…
Em todas as bodegas,
para todos os paladares,
bastavam dois vinténs de meladinha,
com parede de camarão…
Nos domingo, dias santos,
apanhava-se caju, madurinho,
no tempo das matas ensombradas
das Quintas e do Goitizeiro,
com muita fartura de
– cajá…
– mangaba…
– pitomba…
FONTES SECUNDÁRIAS:
TINÔCO, Lair. Tempo de saudade. Natal: Fundação José Augusto, 1992
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
A MODERNIZAÇÃO DA CIDADE DO NATAL: O AFORMOSEAMENTO DO BAIRRO DA RIBEIRA (1899-1920) / LÍDIA MAIA NETA. – NATAL/Dez/2000.
Anuário Natal 2009 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2009.
Anuário Natal 2007 / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal (RN): Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2008.
Caminhos de Natal / Jeanne Fonseca Leite Nesi ; ilustrações, Urban Sketchers Natal. – Dados eletrônicos (1 arquivo PDF). – 2. ed. – Natal, RN : IPHAN, 2020.
Educar para o lar, educar para a vida: cultura escolar e modernidade educacional na Escola Domestica (19914-1945) / Andréa Gabriel F. Rodrigues. – Natal, 2007.
História do Rio Grande do Norte / Sérgio Luiz Bezerra Trindade. – Natal: Editora do IFRN, 2010.
Natal, outra cidade! [recurso eletrônico] : o papel da Intendência Municipal no desenvolvimento de uma nova ordem urbana na cidade de Natal (1904-1929) / Renato Marinho Brandão Santos. – Natal, RN : EDUFRN, 2018.
Natal: história, cultura e turismo / Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. – Natal: DIPE – SEMURB, 2008.
Natal Não-Há-Tal: Aspectos da História da Cidade do Natal/ Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo; organização de João. Gothardo Dantas Emerenciano. _ Natal: Departamento de Informação, Pesquisa e Estatística, 2007.
O poder municipal e as casas de câmara e cadeia: semelhanças e especificidades do caso potiguar / Rubenilson Brazão Teixeira. – Natal, RN : EDUFRN , 2012.
O rio Potengi e a cidade do Natal em cinco tempos históricos. Aproximações e distanciamentos. / Rubenilson B. Texeira. – Revista franco-brasilera de geografia 23 | 2015. Número 23.