Os antigos mercados públicos de Natal

Os dois mercados existentes eram precários: o da Ribeira funcionava debaixo de uma velha Tatajubeira. O da Cidade Alta, à Rua Nova, sob “frondosas gameleiras”.

Ribeira

As resoluções municipais nos ajudam a conhecer que caminhos tomou a gestão da cidade nos anos de 1911 e 1912. No primeiro ano, a maioria das resoluções se destina à tarefa de renomear alguns logradouros da cidade, nos bairros de Cidade Nova, Cidade Alta e Alecrim.

Afora estas, merece destaque ainda a resolução de nº 145, de 17 de abril, que autoriza a Intendência a contratar, com quem melhores vantagens oferecesse, a construção e exploração de mais cinco mercados públicos na cidade, devendo dois deles localizar-se na Ribeira, bairro comercial por excelência; um no bairro de Cidade Nova; um no Alecrim e outro no Passo da Pátria (área pertencente à Cidade Alta).

Os mercados, pelo que conhecemos, nunca chegaram a ser construídos (exceção feita a um na Ribeira, edificado na gestão de Romualdo Galvão, entre 1914 e 1916), de modo que a cidade permaneceu sendo atendida, por alguns anos ainda, por um único mercado público, inaugurado em 1901.

Rio Branco

Em 28 de outubro de 1826, Antônio José de Souza Caldas requeria terras “na Rua Nova (atual Rio Branco), junto ao curral do açougue’, o que indicava a existência de um local de comercialização o de carnes. Naquela rua ainda existiu a Praça do Peixe, local onde posteriormente foi construído o Mercado Público da Cidade Alta.

O Curral do Açougue, a Praça do Peixe e as quitandas espalhadas pela antiga rua Nova, indicavam a vocação comercial daquele logradouro público.

Em 1860, na gestão do presidente José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, foi iniciada a construção do Mercado Público da Cidade Alta, localizado na atual Avenida Rio Branco, no mesmo local anteriormente ocupado pela Praça do Peixe. Devido à escassez de recursos, o prédio demorou 32 anos para ser erguido. Foi concluído e inaugurado, no dia 7 de fevereiro de 1892, durante o regime republicano. O local onde funcionou o referido mercado, cor responde ao mesmo hoje ocupado pela agência Centro do Banco do Brasil.

Antes da inauguração do Mercado Público, a Câmara alugava casas nos bairros da Ribeira e da Cidade Alta, para servirem de quitandas. Na esquina das atuais Rua João Pessoa e Avenida Rio Branco existia uma quitanda muito freqüentada.

O prédio do mercado teve uma existência efêmera, pois apenas 9 anos depois de sua inauguração, ele já estava em ruínas… sofreu então uma restauração, sendo reinaugurado, em 24 de novembro de 1901.

Na gestão do prefeito Gentil Ferreira de Souza, o velho mercado foi demolido, sendo construído outro prédio, mais amplo, no mesmo local. A população de Natal, que ainda não contava com os modernos recursos da “era da máquina”, no campo da conservação de alimentos, era conduzida a adquirir diariamente os gêneros alimentícios.

O Mercado Público tornou-se então um ponto de encontro, um local onde eram divulgados os acontecimentos da Cidade, em primeira mão. Ali comentavam se os assuntos mais diversos, políticos, sociais e, até mesmo, “os ridículos enredos provincianos’.

O mercado da Cidade Alta foi destruído por um incêndio, e nunca mais ali foi construído um novo mercado. Todavia, aquela área da Avenida Rio Branco nunca perdeu a sua vocação primitiva. Até hoje os vendedores ambulantes insistem em expor à venda gêneros alimentícios e artigos dos mais diversos, em suas calçadas.

Pesos, medidas e moedas utilizadas

As medidas e pesos usados na época eram a cuia, a vara e a libra.

As moedas eram o xenxém de 10 réis; dobrões de cobre de 20 e 40 réis; notas de 1$000 e 2$000; sendo que unidade era pataca, equivalente a dezesseis vinténs.

O que vendiam

Parece oportuno verificar o que comia e bebia o natalense há cem há anos passados: as frutas, os peixes, os doces, as bebidas, os pratos típicos. Nos dois mercados, além da feira no Passo da Pátria, encontravam-se várias frutas apanhadas nos sítios e matas em redor da cidade.

Umas abundantes ainda hoje. Outras, já raras. Por exemplo: eram e continuam abundantes, a mangaba, os cajus, cajaranas. Mas já não é fácil, nos mercados, frutas como a massaranduba, guabiraba, camboins, oitis, ingás de corda, como ele chamava. E outras que até desconhecemos, como as ubais e os guajerus.

Todavia, para colher essas frutas, havia que enfrentar os inimigos traçoeiros dos matos: as formigas de fogo, cobras nas moitas e vespas na galhada. As caças mais abundantes na época eram os jacus, inhambus, cotias e tatus.

Diz Lindolpho Câmara que não havia terra com maior abundância de peixes e crustáceos do que Natal daquela época. Trazidos pelas jangadas dos pescadores, enumeravam-se a cavala, o dentão, a cioba, o pargo, a pescada, a bicuda, o dourado, a corvina, o beijupirá e o cação.

Nas praias, através dos currais ou da pesca de arrastão, com tresmalhos ou tarrafas, estavam as tainhas, sardinhas, espadas, palombetas, galos, carapebas, carapicus, bagre, baiacu, agulhas e agulhões. Pescados nos mangues e recifes da Fortaleza, lembra os camarões, lagostas, lagostins, caranguejos, siris e aratus. Outras variedades eram os ouriços, ostras, mariscos, unhas de velho e polvos. De Ponta Negra, apesar da “longitude da travessia”, vinham os xaréus. Quanto à carne verde, o autor informa que eram abatidas duas rezes nos dias comuns e três, do sábado para o domingo e dias festivos, para toda população.

A venda dos peixes, nos mercados, era feita tradicionalmente anunciada pelo eco de um grande búzio, “soprado por sujeito de fôlego e que estrondava pela cidade silenciosa até os seus confins”.

Fontes:

Texto de Jeanne Nesi enviado por José Tarcísio de Medeiros via Natal de Ontem

Natal Não-Há-Tal: Aspectos da História da Cidade do Natal/  Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo; organização de João.  Gothardo Dantas Emerenciano. _ Natal: Departamento de Informação,  Pesquisa e Estatística, 2007

Legenda: O Mercado público da Ribeira estava localizado na rua Ferreira Chaves com a Almino Afonso, 126 (atual sede da STTU)  – de Manuel Dantas. Reproduzido de 380 anos de história fotográfica da cidade do Natal: 1579-1979, p 90. Foto: Dr. Manoel Dantas (fotógrafo viveu em Natal no período de 1900 até sua morte, em junho de 1924).
Imagem da inauguração do novo mercado da Cidade Alta. Fonte: A República, 1937
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